Vacina contra a Varíola dos Macacos

Como a varíola dos macacos é transmitida? Epidemiologista explica
Professora da Texas A&M University conta que surto atual é um pouco incomum diante dos anteriores e que enfermidade não é infecção sexualmente transmissível (IST); entenda
- REBECCA SB FISCHER/THE CONVERSATION
A varíola dos macacos é causada por um vírus que, apesar de surtos periódicos, não se espalha facilmente de pessoa para pessoa e historicamente não estimulou longas cadeias de transmissão dentro das comunidades. Agora, muitos pesquisadores ficam coçando a cabeça sobre por que a doença parece estar se propagando tão prontamente e de forma não convencional no atual surto global.
O vírus da varíola dos macacos geralmente se espalha através do contato direto com secreções respiratórias, como muco ou saliva, ou lesões na pele. Os estragos na pele tradicionalmente aparecem logo após a infecção como uma erupção cutânea – pequenas espinhas ou pápulas redondas no rosto, mãos ou genitália.
Essas lesões também podem aparecer dentro da boca, olhos e outras partes do corpo que produzem muco. Elas podem durar várias semanas e ser uma fonte de vírus antes de estarem totalmente curadas. Outros sintomas geralmente incluem febre, linfonodos inchados, fadiga e dor de cabeça.
Sou epidemiologista que estuda doenças infecciosas emergentes causadoras de surtos, epidemias e pandemias. Compreender o que se sabe atualmente sobre como a varíola dos macacos é transmitida e as maneiras de proteger a si mesmo e outras pessoas da infecção pode ajudar a reduzir a propagação do vírus.
Como este surto é diferente dos anteriores?
A atual epidemia de varíola dos macacos é um pouco incomum em alguns aspectos.Primeiro, o seu alcance, com mais de 25 mil casos em todo o mundo no início de agosto e em países onde o vírus nunca apareceu, diferenciando a situação dos surtos anteriores. A doença é endêmica em áreas específicas na África central e ocidental, onde há ocorrências esporadicamente e os surtos são geralmente contidos e rapidamente desaparecem.
No surto atual, a disseminação global foi rápida. Homens jovens, principalmente com idades entre 18 e 44 anos, representam a maioria dos casos, e mais de 97% se identificam como homens que fazem sexo com homens. Alguns eventos de superdisseminação associados a viagens aéreas, encontros internacionais e encontros sexuais com múltiplos parceiros contribuíram para a transmissão precoce do vírus.
Em segundo lugar, a forma como os sintomas estão aparecendo pode facilitar a disseminação entre pessoas que ainda não sabem que estão infectadas. A maioria dos pacientes relatou queixas leves sem febre ou linfonodos inchados, questões que geralmente aparecem antes que uma erupção cutânea seja visível.
Embora a maioria das pessoas desenvolva lesões na pele, muitas relataram ter apenas uma única pápula que muitas vezes estava obscurecida dentro de uma área da mucosa, como dentro da boca, garganta ou reto, tornando mais difícil a detecção.
Várias pessoas não relataram nenhum sintoma. As infecções assintomáticas são mais propensas a não serem diagnosticadas e relatadas do que aquelas com sintomas. Mas ainda não se sabe como os indivíduos assintomáticos podem estar contribuindo para a disseminação ou quantos casos assintomáticos podem não terem sido detectados até agora.
Quem está em risco de contrair a doença?
Para a maioria das pessoas, a chance de contrair varíola é atualmente baixa. Qualquer pessoa que tenha contato prolongado e próximo com uma pessoa infectada está em risco, incluindo parceiros, pais, filhos ou irmãos, entre outros. Os locais de transmissão mais comuns são dentro de residências ou estabelecimentos de saúde.
Por causa da transmissão sustentada dentro da comunidade de homens que fazem sexo com homens, eles são considerados um grupo de risco, e recomendações direcionadas podem ajudar a alocar recursos e limitar a transmissão. Embora a varíola esteja se espalhando principalmente entre esse grupo, isso não significa que o vírus permanecerá confinado ou que não saltará para outras redes sociais. O vírus em si não considera idade, gênero, etnia ou orientação sexual. Leia mais in Revista Galileu
Leia na BBC News:
- Como se transmite e quais são os sintomas da varíola dos macacos
Qual o perfil dos infectados pela varíola dos macacos e como isso pode mudar com avanço da doença
Atualmente, no Brasil, mais de 2.200 casos de varíola dos macacos foram considerados, segundo o Ministério de Saúde. O Estado de São é o com mais registro da doença, em 1.636, seguido pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Paraná e Goiás. Na semana passada, o boletim apontava 1.962 casos suspeitos, 38 prováveis e um óbito.