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27
Dez18

Temos um novo regime: generais de fala mansa e coturnos em marcha

Talis Andrade

generais governo militar.jpg

 

por Mario Vitor Santos

 

O regime da Constituição cidadã de 1988 entra em coma neste 1 de janeiro com a posse de um presidente fascista, inimigo dos pobres, racista, ignorante, desumano, preconceituoso e fraudulento. As formas de atuação política terão que se adaptar. Os conflitos não vão fluir "normalmente", como supõem os publicitários do bolsonarismo, que é no que se tornou a grande mídia. Ele não serão mais resolvidos pelos canais democráticos como foram nas últimas décadas.

Os meios tradicionais de comunicação, por suas convicções e em busca desesperada da sobrevivência, já aderiram à propaganda do novo regime. O mantra entre eles é o da esperança. Esperam o respeito à Constituição. Esperam o crescimento da economia. Esperam o combate à corrupção. Os que veem o regime de 64 como sendo uma “ditabranda”, termo cunhado pela Folha de S.Paulo anos atrás, agora erguem-se altaneiros da esperança, como explicitou o editor executivo do jornal, Sérgio Dávila.

Convocam alegres para a cerimônia de posse de Bolsonaro sem ocultar o entusiasmo que emana em cada título, na escolha de fotos a destacar e nas nuances pouco sutis do conjunto das edições: como está o semblante do presidente? Sua excelência está suficientemente presidencial?

Esses publicitários alinham-se ao cortejo que se assume como um culto de fiéis lobotomizados adeptos do culto à ordem do "mito" e à sua "verdade", cimento de uma horda irmanada na disciplina no suposto amor à pátria e à família, numa verdadeira giornata particolare regida pelo ritmo dos coturnos.

A Justiça partidarizada voluntaria-se na vanguarda da destruição de todas as ilusões sobre a existência de um regime de garantias democráticas e garantia de direitos. A Constituição é anulada. As investigações prosseguem ao sabor das conveniências. Os militares herdam com crescente apetite o poder a eles oferecido. Não disfarçam a ânsia de defender o legado de graves violações de direitos humanos que marcaram para sempre o regime da ditadura de 64. Ameaçam mergulhar a fama dessas instituições em nova e talvez ainda mais grave espiral de insanidades. Entre os que fecham os olhos a essa ordem infame há quem se ache no direito de exigir autocrítica do PT, partido que no poder jamais afrontou as liberdades.

(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

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Enquanto isso, especialistas da mídia procuram dar como certo que o novo governo será obrigado a se conformar as regras. Segundo eles, a democracia é forte. Não haverá ditabranda, ditadura, nem o governo será de extrema-direita, mas sensato e equilibrado. Afainam-se em samalaleques enquanto deixam entrever a crença de que os militares, profissionais serão a parcela saudável da nova ordem. Os ministros militares poluem o ambiente com suas mentiras pacificadoras ao passo que na prática o Judiciário já se transformou numa sucursal da ordem da caserna. O Alto Comando do Exército não esconde que tutela o STF em afronta aberta à Constituição. São generais, apavorados diante da Lei e da força de um líder popular preso para não ser o vitorioso na eleição que coroou o governante mais infame do planeta. Quem propaga a normalização da nova ordem e da sequência de eventos golpistas que levou a ela é ainda pior do que os que pisoteiam diretamente a Constituição.

Os propagandistas da bondade dos fardados de fala mansa insistem que essa gente sensata irá se conter, respeitosa, diante da força das leis e da soberania constitucional dos outros poderes. Fazem isso mesmo diante da evidência de que o regime já mudou. A velha ordem ditatorial de 64 ficou adormecida por 33 anos de saudável democracia, aguardando a oportunidade de sua volta que, como no caso da recidiva de muitas doenças, ameaça ser mais letal.

É um engano pensar que será possível agir a partir das velhas rotinas no novo momento. É vital estar preparado para encarar os desafios que se apresentam, adaptando-se às mudanças.

O regime já mudou porque os regramentos mais fundamentais foram abalados. Bolsonaro serve a um ultraliberalismo que é um câncer social. Destrói as relações civilizadas, a começar pelo acesso e regras que garantem o trabalho.O país ameaça ser tragado pela barbárie social mais atrasada. O lado do trabalhador está sob massacre para beneficiar os proprietários e os ricos. Tornou-se sinônimo de crime defender direitos do trabalhador. Mesmo a palavra trabalhador passou a ser vista com reservas.

Engendram-se estratagemas fraudulentos para criminalizar o dissenso. Criminalizar os sindicatos, o PT, a esquerda e talvez até a mídia e parcelas do Judiciário, as minorias, o Ministério Público, os ambientalistas. Serão punidas todas as instituições que insistirem em ser independentes, os ativistas comprometidos com causas banidas.

Será preciso desmascarar os novos donos do poder a todo custo. Adaptar-se aos novos tempos. Não aceitar os assassinatos, as violências, as ameaças. Responder à altura a todos os massacres com que se apronta o novo regime, em instalação desde meses antes de 1 de janeiro.

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