Publicado originalmente em 'El País'
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Precisamos que Zema retire de nossas serras as pás mineradoras e o projeto político que representa e que nos faz colônia
por Dimas Antônio de Souza
O lema “Tira o pé da nossa serra!” combate a exploração privada de algo que entendemos por coletivo. Nesse sentido, se distancia da essência do zemismo, assim como do bolsonarismo, que é a apologia ao individual, ao lucro privado, em detrimento ao coletivo.
Não por menos, a obra em curso do governador vem sendo as privatizações ou as concessões dos parques e reservas naturais de nosso Estado para a exploração privada, inicialmente pelo turismo e, num futuro não muito distante, para as mineradoras.
“Minas são muitas”, mas, na cabeça nada poética de Zema, elas podem aumentar ainda muito mais. Segundo o Diagnóstico do Setor Mineral de 2020, a pretensão é que o setor minerador “se torne um alicerce do desenvolvimento sustentável do Estado”.
Acontece que, desde o Brasil colônia, as Minas Gerais vem sendo um território de extração de riquezas naturais não renováveis. Minas responde por 53% da produção brasileira de minério de ferro e 29% de minérios em geral, além de ser o maior produtor de ouro, zinco, fosfato e deter 75% da produção mundial de nióbio.
Existem mais de 300 minas em operação no Estado, sendo que, 40 das 100 maiores minas do Brasil estão em Minas Gerais. Um modelo de economia que cresce para atender aos interesses de poucos, pouquíssimos, e que deixa atrás de si um rastro de destruição.
De acordo com a Agência Pública, seis mil empresas mineradoras não recolhem tributos no país, e o volume dos débitos irregulares chegava a R$ 8,6 bilhões. Em Minas Gerais, apenas a Itaminas teria um passivo tributário superior a R$ 555 milhões e as empresas de exploração aurífera deviam irregularmente R$ 47,9 milhões.
Do ponto de vista do trabalho, a vulnerabilidade e os altos índices de acidentes seguidos de morte, são marcas registradas do setor. Além da exposição direta dessas pessoas às condições naturais e de produção dos sítios minerários, com a ocorrência de doenças como a silicose e o câncer de pele.
Do ponto de vista da sustentabilidade, o discurso é mais enganoso, sendo visível a destruição promovida pelas empresas, o que culminou nos crimes provocados pela Samarco e pela Vale S.A em Mariana e em Brumadinho.
Faturamento bilionário para centenas de empresas, perdas e riscos incalculáveis para milhares de pessoas. Esse é mesmo um modelo insustentável, ao contrário do que apregoam os governantes de antes e de hoje.
Precisamos que Zema retire de nossas serras as pás mineradoras e o projeto político que representa e que nos faz eternamente colônia.
Que vivam a Serra do Curral e todos os parques e montanhas de Minas!
Deputado pede esclarecimentos ao governador no prazo de 48 horas após declaração contra as ações do governo Lula para evitar o terrorismo bolsonarista. Flavio Dino responde a Zena
Líder do PT na Câmara, o deputado federal Reginaldo Lopes (MG) pediu nesta terça-feira (17) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que determine ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), esclarecimento após o chefe do Executivo mineiro acusar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de falta de iniciativa para punir os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) envolvidos nos atos terroristas em Brasília (DF), no último dia 8, quando eles invadiram o Congresso, o Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF).
A peça, também assinada pelo novo líder eleito do partido, deputado Zeca Dirceu, pede esclarecimentos ao governador, no prazo de 48 horas, de acordo com informações publicadas nesta terça pelo jornal O Tempo.
O governador cada vez mais essência e aparência da Cássia Kis, a rezadeira dos acampamentos militares, sempre gritando "Selva" com a esposa do golpista Villas Boas, segundo a nota dos parlamentares, fez "uma afirmação torpe, reprovável, caluniosa, incompatível com a dignidade e estatura de quem governa um dos maiores e mais importantes Estado da Federação, na medida em que, entre outras aleivosias, tenta responsabilizar as próprias vítimas do ataque, que teriam, por suas autoridades e comportamentos, feito 'vista grossa' para permitir e viabilizar o resultado criminoso ocorrido, na dimensão por todas conhecida".
Um golpe, previsto para ser sangrento, com a explosão de uma bomba em um caminhão tanque, repleto de querosene, na noite véspera de Natal.
Outro membro do PT, o deputado federal Rogério Correia (MG) criticou a postura do governador.
Dino denuncia o terrorismo de explodir caminhão tanque de querosene em Brasília, na noite do Natal
O ministro da Justiça do governo Lula, Flávio Dino, chamou de "terrorismo" a tentativa de explodir um caminhão-tanque na última semana do governo de Jair Bolsonaro, investigada pela polícia de Brasília.
O caso aconteceu no sábado (24). O caminhão estava próximo ao aeroporto de Brasília, quando o motorista denunciou à polícia a presença de um artefato explosivo, que depois foi detonado.
Na noite de Natal, o criminoso que montou o artefato foi preso pela Polícia Civil do Distrito Federal.
A Justiça do Distrito Federal aceitou a denúncia contra três pessoas acusadas de envolvimento.
À época, a Polícia Militar foi acionada após o motorista do caminhão perceber o objeto estranho no veículo e alertou policiais na área. A decisão do juiz Osvaldo Tovani, da 8ª Vara Criminal de Brasília, é da primeira instância e atende denúncia do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), a partir das investigações da Polícia Civil.
Segundo a denúncia, George Washington Oliveira de Sousa, Alan Diego dos Santos Rodrigues e Welligton Macedo de Souza montaram o artefato e entregaram o material para que fosse colocado no caminhão de combustível por Wellington Macedo de Souza.
Os réus vão responder na Justiça pelo crime de explosão, quando se expõe “a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos”. A pena é de 3 a 6 anos de prisão e multa.
No entanto, o Ministério Público considera que é preciso aumentar a pena em 1/3, já que o crime foi cometido tendo como alvo depósito de
Já as acusações de atos de terrorismo vão ser enviadas para a Justiça Federal, instância competente para analisar se estão configurados crimes contra o Estado Democrático de Direito.
Os investigadores dizem que o plano foi feito no acampamento montando em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, por onde passaram bolsonaristas radicais com ideias golpistas.
Segundo a investigação, a ideia inicial dos criminosos era que o explosivo fosse colocado próximo a um poste, para prejudicar a distribuição de energia elétrica na capital. De última hora, a decisão mudou e o objeto foi colocado no caminhão de combustível, carregado de querosene de aviação.
“O objetivo dos denunciados era cometer infrações penais que pudessem causar comoção social a fim de que houvesse intervenção militar e decretação de Estado de Sítio”, afirma a denúncia.
“Já em Brasília-DF, em frente ao Quartel General, em 23/12/2022, George, Alan e Wellington e outros manifestantes não identificados, elaboraram o plano de utilização de artefato explosivo para detonação em lugares públicos”, completa o documento.
Ainda segundo a denúncia, a Polícia Civil afirma que horas após a identificação do explosivo, Alan e George se falaram por uma ligação de aplicativo de mensagens e trocaram imagens do explosivo. A partir da análise de geolocalização, foi possível identificar que um carro que seria da esposa de Wellington também circulou pelos arredores do aeroporto no dia.
A Justiça também atendeu ao pedido de MP de enviar a parte da investigação sobre organização criminosa para a Procuradoria-Geral da República, para que o caso seja analisado no âmbito da Operação Nero, que investiga os atos de vandalismo do dia 12 de dezembro em Brasília.
George Washington de Oliveira Sousa, durante audiência de custódia realizada no dia 26/12
Flávio Dino responde a Zema: 'Fica feio se colocar como sub-Bolsonaro'
por Ana Mendonça
O ministro da Justiça, Flávio Dino, respondeu o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que acusou o governo federal de fazer “vista grossa” aos ataques terroristas às sedes dos Três Poderes. Para Dino, “fica feio se colocar como um sub-Bolsonaro”
O ministro ainda chamou o governador mineiro de “candidato” e classificou como “deplorável” sua fala afagando terroristas. A declaração foi dada em entrevista exclusiva ao programa Fórum Onze e Meia, da TV Fórum.
“Me espanta que o governador Zema tente vestir a roupa do Bolsonaro. Não cabe nele... É preciso que ele tenha algum amigo sincero que diga a ele... Primeiro porque Minas Gerais é a terra de Tiradentes, de Tancredo Neves, é a terra da democracia... Então não é possível que um governador de modo vil se alinhe à extrema direita para proteger terrorista”, disse.
Para Dino, “fica feio” porque Zema foi um dos governadores presentes na reunião com Lula depois dos ataques terroristas. “E por que que não falou? Por que ele não perguntou a mim, que estava lá? Por que não perguntou ao presidente da República, que estava lá? Seria mais decente do que falar posteriormente”, seguiu.
“Um apelo que eu faço ao governador: num momento grave é preciso ter ponderação. Imagine se alguém tivesse dito no dia seguinte à tragédia de Brumadinho que ele sabia e deixou acontecer para poder ganhar dinheiro? Como ele se sentiria? Isso parece aquela história do estupro, que uma mulher é estuprada e ao mesmo tempo é acusada de ser a culpada porque estava de vestido curto... Nós não somos agentes do que aconteceu. Nós somos vítimas... Não é vitimização, nós somos vítimas”, continuou o ministro de Lula.
Em seguida, o ministro insinuou que as declarações de Zema foram feitas por uma possível candidatura em 2026. “Eleição tem em 2026. Agora não acho que seja adequado o candidato querer se colocar na agenda sendo uma espécie de sub-Bolsonaro, fica feio... Acho que é deplorável esse tipo de coisa acontecer”, disparou o ministro.
por Ribamar Fonseca
Aconteceu o que já era previsto: o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro está de mudança para os Estados Unidos, onde receberá o prêmio pela sua atuação na Lava-Jato em favor dos interesses norte-americanos e em detrimento dos interesses do Brasil. Moro já havia sido premiado, com uma breve passagem pelo Ministério da Justiça, por ter dado decisiva contribuição para a eleição de Bolsonaro ao impedir o ex-presidente Lula de concorrer à sucessão presidencial em 2018. Agora, depois de frustradas suas manobras para disputar o Palácio do Planalto, chegou a vez de receber a recompensa por ter destruído as maiores empresas de construção civil do país em benefício das empresas estadunidenses, além de fragilizar a Petrobrás para viabilizar a sua entrega, junto com o pré-sal, para as multinacionais norte-americanas. Ao aceitar o emprego nos Estados Unidos o ex-juiz escancarou a sua atuação na Lava-Jato como agente do Tio Sam e, por isso, deveria ser julgado por alta traição ao Brasil.
A cada dia fica mais evidente não apenas a traição de Moro, mas de todos os integrantes da Lava-Jato, na tarefa de prejudicar os interesses nacionais em favor dos Estados Unidos. Além das denúncias feitas pelo site The Intercept, na série de publicações que ficou conhecida como Vaza-Jato, o próprio Ministério da Justiça confirmou recentemente que a parceria entre a operação de Curitiba e o Departamento de Justiça norte-americano, que culminou com a prisão de Lula e a falência da Odebrecht e OAS, se desenvolveu de maneira clandestina, ilegal, sem obedecer a legislação brasileira. Só isso já seria suficiente para punir exemplarmente todos os membros da força-tarefa, mas ao contrário do esperado o próprio Supremo Tribunal Federal, que endossou as decisões da Lava-Jato, sequer julga a suspeição do ex-juiz, cuja ação vem sendo escandalosamente procrastinada há tempos pelo ministro Gilmar Mendes, o mesmo que revela impressionante agilidade para beneficiar o réu, quando este é tucano.
Na verdade, ninguém pode alegar desconhecimento das criminosas ações da Lava-Jato, especialmente em relação à condenação do ex-presidente Lula, denunciadas diariamente por renomados juristas nacionais e internacionais, além de jornalistas independentes. Moro, Dallagnol e cia. até hoje continuam impunes, inclusive afrontando a Procuradoria Geral da República, ao se recusarem a compartilhar dados com ela, e o próprio STF, ao se negar a fornecer à defesa de Lula cópias dos documentos relativos à participação de outros países no processo que culminou com a prisão do ex-presidente, mesmo com o fornecimento autorizado pela Suprema Corte. Acreditando-se um poder independente, sem um superior, a Lava-Jato não obedece a ninguém, provavelmente por imaginar-se garantida por ministros do Supremo, entre eles o seu atual presidente, Luiz Fux, considerado homem de confiança da operação. Fux, aliás, parece confirmar essa confiança ao afirmar que “o Supremo jamais permitirá a desconstrução da Lava-Jato”.
Atuando em parceria com a Rede Globo, de cujo acasalamento nasceu Jair Messias Bolsonaro, a Lava-Jato tornou-se um poder paralelo, com jurisdição em todo o país, temida inclusive pela própria Suprema Corte, cujas decisões eram frequentemente questionadas pelo super-juiz Sergio Moro. Eles ignoravam a legislação e a própria Constituição, fazendo suas próprias leis, eliminando a exigência de provas para condenar alguém, especialmente petistas. Lula, por exemplo, foi condenado por Moro sob a acusação de ter sido beneficiado com obras no triplex do Guarujá, mesmo sem nenhuma prova de que o apartamento fosse dele. O ex-juiz só precisou das suas próprias convicções, o que foi aceito sem discussões pelos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª. Região. Na verdade, até hoje não existe nenhuma acusação de que o ex-presidente tenha desviado um único centavo dos cofres públicos: nos casos do triplex e do sitio de Atibaia ele foi acusado de ter sido “beneficiado” com obras, mesmo tendo provado que nenhum dos imóveis era dele.
Apesar disso, com a valiosa ajuda da Globo, Moro conseguiu convencer muita gente, inclusive da própria Justiça e das Forças Armadas, que era o paladino do combate à corrupção e que Lula e o PT eram corruptos, o que repercutiu negativamente nas eleições municipais deste ano com o encolhimento do petismo, que não conseguiu eleger nenhum prefeito de capital. A parceria Globo-Moro criminalizou a política, a esquerda e especialmente o petismo, abrindo caminho para a extrema direita e permitindo aventuras como a de Bolsonaro, Doria, Witzel, Zema e outros desconhecidos. A vitória de Bruno Covas em São Paulo ainda é reflexo desse clima criado pela emissora dos Marinho e o ex-juiz de Curitiba. A classe política, sobretudo as esquerdas, precisam ainda de algum tempo para superar os estragos, construindo novas estratégias de atuação de acordo com os novos tempos. E nessa tarefa Guilherme Boulos surge como o grande líder, com a indispensável contribuição da experiência e liderança de Lula. É preciso que as esquerdas se reorganizem para, em 2022, virar essa página negra bolsonarista de nossa História.
É imperioso, no entanto, fazer justiça a Bolsonaro por ter prestado dois grandes serviços ao Brasil: acabou com o poder de Moro e da Globo. Não fora ele e o ex-juiz ainda estaria perseguindo Lula, destruindo empresas nacionais, desempregando trabalhadores e articulando para ser presidente da República. E a Globo, habituada a eleger e derrubar governos, foi transformada num tigre desdentado, acuado pela ameaça de perda da concessão, que não amedronta mais ninguém. Enquanto isso, Moro, sem clima no Brasil, vai para os Estados Unidos com salário de quase R$ 2 milhões mensais, um prêmio por seu trabalho na Lava-Jato como agente dos interesses norte-americanos. Dará uma banana ao país onde nasceu e sairá sem um arranhão em seu currículo, pois a Suprema Corte vai continuar adiando indefinidamente a sua suspeição, a não ser que Lula se filie ao PSDB. Afinal, como tucano será outra história...
por Emanuel Cancella
Quilombo Campo Grande:
A polícia não fez nenhuma investida contra os criminosos fazendeiros, madeireiros e garimpeiros que estão envenenando, desmatando e tacando fogo na Amazônia, no Pantanal e nas matas atlânticas. Já contra os trabalhadores rurais, aqueles que respondem por mais de 70% dos alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, bolsonarista, ataca com despejo, bombas, caveirão e balas (1).
Lava Jato:
A Operação, fortalecendo seu lado criminoso, apresenta sua facção do “B”. Agora temos a Lava Jato que ataca os Marinhos, da Globo, aliada a Bolsonaro. Há também a Lava Jato do Moro, aliada aos Marinhos.
O mesmo acontece no Ministério Público, que há muito deixou de ser público: temos o ex-ministério público, aliado ao PGR Aras, e o ex-ministério público aliado à Lava Jato.
TRF suspende investigação contra Paulo Guedes por fraudes em fundos de pensão (2).
Paulo Guedes, quando ainda em campanha com o então candidato Bolsonaro, montou uma quadrilha com seu assessor, Esteves Colnago e outros, que deu rombo de 6.5 BI nos fundos de pensão das estatais, entre eles o da Petros (4,5).
Com a omissão criminosa da operação Greenfield, que investiga os fundos de pensão das estatais, e da Lava Jato, que investiga a Petrobrás, Guedes ainda ganhou de Bolsonaro o ministério da Economia. Em resumo, Paulo Guedes não foi preso e nem paga pelo rombo.
E os petroleiros, mesmo sem nunca terem sido gestores da Petros, estão pagando, no mínimo com 13% de seu salários de forma vitalicia, por rombo na Petros.
Fundo do Pré-sal: Senado aprova projeto que retira R$ 242 bilhões da saúde e educação (3).
Estão roubando o futuro de seus filhos e netos. Nos royalties do pré-sal, 75% iriam para a educação e 25% para saúde.
Fonte: 1 - https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2019/07/agricultura-familiar-alimento-resistencia/
Por Victor Ximenes
Fortalecido: Camilo Santana
Foi aberto ao diálogo quando era hora de dialogar. Foi firme ao recusar a anistia. Cabe ponderar que o motim acertou um duro golpe na gestão de Camilo, que vinha ano a ano e sob muitas dificuldades robustecendo as forças de segurança - quantitativa e qualitativamente. As políticas adotadas se converteram em bons resultados estatísticos nos indicadores de violência. E, diante de uma relação que parecia em pleno amadurecimento, o Governo foi atingido por quem não esperava.
Ainda assim, lidou bem com a crise, mostrando a mesma capacidade resolutiva apresentada durante os ataques que acometeram o Estado em 2019. Naquela ocasião, sob investida das facções criminosas, Camilo não cedeu. E nesta, sob ofensiva de profissionais que deveriam proteger a população, o Estado também não recuou.
Após vencer as eleições com ampla vantagem, o governador ganha ainda mais peso político ao evidenciar equilíbrio em situações críticas. Num mundo em que a fala vazia tende a sobrepujar a ação concreta, respostas contundentes em cenários práticos são importantes.
Enfraquecidos: parlamentares da bala
Não há dúvidas de que a gênese desta crise de segurança se deu por incitação política, embora as figuras envolvidas não o assumam publicamente. O tiro saiu pela culatra, de modo que as lideranças perderam o controle das bases das categorias e se viram em meio a um pandemônio que, em vez de fortalecê-las, drenou seu capital político. Deve o motim obliterar alguns personagens do tabuleiro local e criar novos.
A bancada da bala, cujos parlamentares se vendem como especialistas em segurança pública, pouco (ou nada) contribuiu para a solução do problema.
Fortalecida: União institucional
O desfecho do motim serviu para jogar luz sobre uma força que andava meio esquecida e empoeirada: a união institucional.
Enquanto altos integrantes do Governo Federal pregam a cisão entre os poderes, chegando ao ponto de convocar manifestações contra o Congresso, o Ceará deu um exemplo pragmático de que a cooperação entre diversas instituições é uma maneira republicana e efetiva de sanar problemas, pouco importando a guerra improdutiva entre direita e esquerda. A crise cearense contou com o apoio do próprio Planalto e dos três poderes estaduais (Executivo, Legislativo e Judiciário). A unidade foi essencial.
Enfraquecido: Partido Novo
O País teve dois recentes exemplos distintos que servirão para vários estados que precisarem lidar com negociações envolvendo a carreira policial. Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema, do Partido Novo, cedeu irresponsavelmente a pressões e concedeu aumento de 42% aos policiais, um valor incongruente com a realidade financeira daquele estado que nem sabe como vai arcar com a despesa adicional. No Ceará, houve valorização da categoria, mas dentro das possibilidades dos cofres públicos.
O estado de Minas é governado por um partido cuja bandeira máxima é a responsabilidade fiscal e a austeridade com as contas públicas. Mas a gestão mostrou que a frieza dos números logo se derrete ante o calor de pressões políticas.
O desfecho das negociações em Minas já gerava duros questionamentos sobre como a administração conduziu a crise e, diante da maneira como o motim findou-se no Ceará, a pressão sobre o Partido Novo fica ainda maior. Concretizar discursos é mais difícil do que parece.
Já está acontecendo: a hora de lutar pela democracia é agora
por Eliane Brum
Só não vê quem não quer. E o problema, ou pelo menos um deles, é que muita gente não quer ver. O amotinamento de uma parcela da Polícia Militar do Ceará e os dois tiros disparados contra o senador licenciado Cid Gomes (PDT), em 19 de fevereiro, é a cena explícita de um golpe que já está sendo gestado dentro da anormalidade. Há dois movimentos articulados. Num deles, Jair Bolsonaro se cerca de generais e outros oficiais das Forças Armadas nos ministérios, substituindo progressivamente os políticos e técnicos civis no Governo por fardados – ou subordinando os civis aos homens de farda nas estruturas governamentais. Entre eles, o influente general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, segue na ativa, e não dá sinais de desejar antecipar seu desembarque na reserva. O brutal general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, chamou o Congresso de “chantagista” dias atrás. Nas redes, vídeos com a imagem de Bolsonaro conclamam os brasileiros a protestar contra o Congresso em 15 de março. “Por que esperar pelo futuro se não tomamos de volta o nosso Brasil?”, diz um deles. Bolsonaro, o antipresidente em pessoa, está divulgando pelas suas redes de WhatsApp os chamados para protestar contra o Congresso. Este é o primeiro movimento. No outro, uma parcela significativa das PMs dos estados proclama sua autonomia, transformando governadores e população em reféns de uma força armada que passa a aterrorizar as comunidades usando a estrutura do Estado. Como os fatos já deixaram claro, essas parcelas das PMs não respondem aos Governos estaduais nem obedecem a Constituição. Tudo indica que veem Bolsonaro como seu único líder. Os generais são a vitrine lustrada por holofotes, as PMs são as forças populares que, ao mesmo tempo, sustentam o bolsonarismo e são parte essencial dele. Para as baixas patentes do Exército e dos quartéis da PM, Bolsonaro é o homem.
É verdade que as instituições estão tentando reagir. Também é verdade que há dúvidas robustas se as instituições, que já mostraram várias e abissais fragilidades, ainda são capazes de reagir às forças que já perdem os últimos resquícios de pudor de se mostrarem. E perdem o pudor justamente porque todos os abusos cometidos por Bolsonaro, sua família e sua corte ficaram impunes. De nada adianta autoridades encherem a boca para “lamentar os excessos”. Neste momento, apenas lamentar é sinal de fraqueza, é conversinha de sala de jantar ilustrada enquanto o barulho da preparação das armas já atravessa a porta. Bolsonaro nunca foi barrado: nem pela Justiça Militar nem pela Justiça Civil. É também por isso que estamos neste ponto da história.
Essas forças perdem os últimos resquícios de pudor também porque parte do empresariado nacional não se importa com a democracia e a proteção dos direitos básicos desde que seus negócios, que chamam de “economia”, sigam dando lucro. Esta mesma parcela do empresariado nacional é diretamente responsável pela eleição de um homem como Bolsonaro, cujas declarações brutais no Congresso já expunham os sinais de perversão patológica. Estes empresários são os herdeiros morais daqueles empresários que apoiaram e se beneficiaram da ditadura militar (1964-1985), quando não os mesmos.
Uma das tragédias do Brasil é a falta de um mínimo de espírito público por parte de suas elites financeiras. Elas não estão nem aí com os cartazes de papelão onde está escrita a palavra “Fome”, que se multiplicam pelas ruas de cidades como São Paulo. Como jamais se importaram com o genocídio dos jovens negros nas periferias urbanas do Brasil, parte deles mortos pelas PMs e suas “tropas de elite”. Adriano da Nóbrega – aquele que, caso não tivesse sido morto, poderia dizer qual era a profundidade da relação da família Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro e também quem mandou assassinar Marielle Franco – pertencia ao BOPE, um destes grupos de elite.
Não há nada comparável à situação vivida hoje pelo Brasil sob o Governo de Bolsonaro. Mas ela só é possível porque, desde o início, se tolerou o envolvimento de parte das PMs com esquadrões da morte, na ditadura e além dela. Desde a redemocratização do país, na segunda metade dos anos 1980, nenhum dos governos combateu diretamente a banda podre das forças de segurança. Parte das PMs se converteu em milícias, aterrorizando as comunidades pobres, especialmente no Rio de Janeiro, e isso foi tolerado em nome da “governabilidade” e de projetos eleitorais com interesses comuns. Nos últimos anos as milícias deixaram de ser um Estado paralelo para se confundir com o próprio Estado.
A política perversa da “guerra às drogas”, um massacre em que só morrem pobres enquanto os negócios dos ricos aumentam e se diversificam, foi mantida mesmo por governos de esquerda e contra todas as conclusões dos pesquisadores e pesquisas sérias que não faltam no Brasil. E seguiu sustentando a violência de uma polícia que chega nos morros atirando para matar, inclusive em crianças, com a habitual desculpa de “confronto” com traficantes. Se atingem um estudante na escola ou uma criança brincando, é “efeito colateral”.
Desde os massivos protestos de 2013, governadores de diferentes estados acharam bastante conveniente que as PMs batessem em manifestantes. E como ela bateu. Era totalmente inconstitucional, mas em todas as esferas, poucos se importaram com esse comportamento: uma força pública agindo contra o cidadão. Os números de mortes cometidas por policiais, a maior parte delas vitimando pretos e pobres, segue aumentando e isso também segue sendo tolerado por uns e estimulado por outros. É quase patológica, para não dizer estúpida, a forma como parte das elites acredita que vai controlar descontrolados. Parecem nem desconfiar de que, em algum momento, eles vão trabalhar apenas para si mesmos e fazer os ex-chefes também de reféns.
Bolsonaro compreende essa lógica muito bem. Ele é um deles. Foi eleito defendendo explicitamente a violência policial durante os 30 anos como político profissional. Ele nunca escondeu o que defendia e sempre soube a quem agradecer pelos votos. Sergio Moro, o ministro que interditou a possibilidade de justiça, fez um projeto que permitia que os policiais fossem absolvidos em caso de assassinarem “sob violenta emoção”. Na prática é o que acontece, mas seria oficializado, e oficializar faz diferença. Essa parte do projeto foi vetada pelo Congresso, mas os policiais seguem pressionando com cada vez mais força. Neste momento, Bolsonaro acena com uma antiga reivindicação dos policiais: a unificação nacional da PM. Isso também interessa – e muito – a Bolsonaro.
Se uma parcela das polícias já não obedece aos governadores, a quem ela obedecerá? Se já não obedece a Constituição, a qual lei seguirá obedecendo? Bolsonaro é o seu líder moral. O que as polícias militares têm feito nos últimos anos, ao se amotinarem e tocarem o terror na população é o que Bolsonaro tentou fazer quando capitão do Exército e foi descoberto antes: tocar o terror, colocando bombas nos quartéis, para pressionar por melhores salários. É ele o precursor, o homem da vanguarda.
O que aconteceu com Bolsonaro então? Virou um pária? Uma pessoa em que ninguém poderia confiar porque totalmente fora de controle? Um homem visto como perigoso porque é capaz de qualquer loucura em nome de interesses corporativos? Não. Ao contrário. Foi eleito e reeleito deputado por quase três décadas. E, em 2018, virou presidente da República. Este é o exemplo. E aqui estamos nós. Vale a pergunta: se os policiais amotinados são apoiados pelo presidente da República e por seus filhos no Congresso, continua sendo motim?
Não se vira refém de uma hora para outra. É um processo. Não dá para enfrentar o horror do presente sem enfrentar o horror do passado porque o que o Brasil vive hoje não aconteceu de repente e não aconteceu sem silenciamentos de diferentes parcelas da sociedade e dos partidos políticos que ocuparam o poder. Para seguir em frente é preciso carregar os pecados junto e ser capaz de fazer melhor. Quando a classe média se calou diante do cotidiano de horror nas favelas e periferias é porque pensou que estaria a salvo. Quando políticos de esquerda tergiversaram, recuaram e não enfrentaram as milícias é porque pensaram que seria possível contornar. E aqui estamos nós. Ninguém está a salvo quando se aposta na violência e no caos. Ninguém controla os violentos.
Há ainda o capítulo especial da degradação moral das cúpulas fardadas. Os estrelados das Forças Armadas absolveram Bolsonaro lá atrás e hoje fazem ainda pior: compõem sua entourage no Governo. Até o general Ernesto Geisel, um dos presidentes militares da ditadura, dizia que não dava para confiar em Bolsonaro. Mas aí está ele, cercado por peitos medalhados. Os generais descobriram uma forma de voltar ao Planalto e parecem não se importar com o custo. Exatamente porque quem vai pagar são os outros.
As polícias são a base eleitoral mais fiel de Bolsonaro. Quando essas polícias se tornam autônomas, o que acontece? Convém jamais esquecer que Eduardo Bolsonaro disse antes da eleição que “basta um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal”. Um senador é atingido por balas disparadas a partir de um grupo de policiais amotinados e o mesmo filho zerotrês, um deputado federal, um homem público, vai às redes sociais defender os policiais. Não adianta gritar que é um absurdo, é totalmente lógico. Os Bolsonaros têm projeto de poder e sabem o que estão fazendo. Para quem vive da insegurança e do medo promovidos pelo caos, o que pode gerar mais caos e medo do que policiais amotinados?
É possível fazer muitas críticas justas a Cid Gomes. É possível enxergar a dose de cálculo em qualquer ação num ano eleitoral. Mas é preciso reconhecer que ele compreendeu o que está em curso e foi para a rua enfrentar com o peito aberto um grupo de funcionários públicos que usavam a estrutura do Estado para aterrorizar a população, multiplicando o número de mortes diárias no Ceará.
A ação que envergonha, ao contrário, é a do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que, num estado em dificuldades, se submete à chantagem dos policiais e dá um aumento de quase 42% à categoria, enquanto outras estão em situação pior. É inaceitável que um homem público, responsável por tantos milhões de vidas de cidadãos, acredite que a chantagem vai parar depois que se aceita a primeira. Quem já foi ameaçado por policiais sabe que não há maior terror do que este, porque além de terem o Estado na mão, não há para quem pedir socorro.
Quando Bolsonaro tenta responsabilizar o governador Rui Costa (PT), da Bahia, pela morte do miliciano Adriano da Nóbrega, ele sabe muito bem a quem a polícia baiana obedece. Possivelmente não ao governador. A pergunta a se fazer é sempre quem são os maiores beneficiados pelo silenciamento do chefe do Escritório do Crime, um grupo de matadores profissionais a quem o filho do presidente, senador Flavio Bolsonaro, homenageou duas vezes e teria ido visitar na cadeia outras duas. Além, claro, de ter empregado parte da sua família no gabinete parlamentar.
Não sei se pegar uma retroescavadeira como fez o senador Cid Gomes é o melhor método, mas era necessário que alguém acordasse as pessoas lúcidas deste país para enfrentar o que está acontecendo antes que seja demasiado tarde. Longe de mim ser uma fã de Ciro Gomes, mas ele falou bem ao dizer: “Se você não tem a coragem de lutar, ao menos tenha a decência de respeitar quem luta”.
A hora de lutar está passando. O homem que planejava colocar bombas em quartéis para pressionar por melhores salários é hoje o presidente do Brasil, está cercado de generais, alguns deles da ativa, e é o ídolo dos policiais que se amotinam para impor seus interesses pela força. Estes policiais estão acostumados a matar em nome do Estado, mesmo na democracia, e a raramente responder pelos seus crimes. Eles estão por toda a parte, são armados e há muito já não obedecem ninguém.
Bolsonaro têm sua imagem estampada nos vídeos que conclamam a população a protestar contra o Congresso em 15 de março e que ele mesmo passou a divulgar por WhatsApp. Se você não acha que pegar uma retroescavadeira é a solução, melhor pensar logo em outra estratégia, porque já está acontecendo. E, não se iluda, nem você estará a salvo.
11 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.