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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

08
Out23

Poemas para não perder

Talis Andrade
 
Eliezer Markowich Lissitzky, Proun 93. Espiral flutuante, 1924
 

 

Comentário sobre o livro de Golondrina Ferreira

 

por Alexandre Marinho Pimenta 

“Nos interstícios desse deslizar cinzento, entrevejo uma guerra de usura da morte contra a vida e da vida contra a morte. A morte: a engrenagem da linha de montagem, o imperturbável deslizar dos carros, a repetição de gestos idênticos, a tarefa jamais terminada […]. E se nos dissermos que nada disso tem importância, que basta habituar-se a fazer os mesmos gestos de uma maneira sempre idêntica, num tempo sempre idêntico, aspirando unicamente à plácida perfeição da máquina? Tentação da morte. Mas a vida revolta-se e resiste. O organismo resiste. Os músculos resistem. Os nervos resistem. Alguma coisa, no corpo e na cabeça, defende-se contra a repetição e o nada. […] Tudo o que, nos homens da linha de montagem, grita silenciosamente: “Eu não sou máquina!” (Robert Linhart, Greve na fábrica).

“O proletariado passa por diversos estádios de desenvolvimento. A sua luta contra a burguesia começa com a sua existência” (Marx e Engels, Manifesto Comunista).

 

No final do ano passado, foi publicada uma nova edição – a quarta – do livro de Golondrina Ferreira, Poemas para não perder. O livro é ilustrado com desenhos de Marco Antonio. Poemas para não perder é uma obra que talvez possa ser encaixada na nova literatura marginal. Afinal, o livro é de uma editora independente, sua autora é uma operária e seus versos abordam a vida dos explorados e das exploradas desse país. Na apresentação, a autora assume estar na “trincheira da poesia” daqueles poetas “que nunca tiveram holofotes, nem nunca agradaram a quem tinha o que perder”.

Ou ainda, o livro integraria as novas formas de realismo que hoje recolocam o proletariado no centro do esforço literário, por exemplo com Luiz Ruffato. Uma literatura proletária contemporânea que usa a prosa e o verso para narrar as memórias e as experiências atuais do trabalhador e da trabalhadora no Brasil.

Mas a melhor síntese e caracterização do livro foi dada pela própria autora, em recente entrevista para o site Cem Flores:[i] “poesia de luta”. Isso porque, a descrição das situações de opressão típicas da vida proletária que percorrem os poemas, organizados em angustiantes dias da semana (segunda, terça, quarta…), não só são intercalados com protestos formulados em versos.

Protestos singelos, diga-se de passagem, representativos do momento atual de recuo da luta operária, mas que dizem da luta de classes travada “sem interrupção, embora de maneira surda e não visível do exterior, por não ser consagrada pela legalidade existente, em todos os momentos da prática da produção e muito além dessa prática” (Althusser, 1999, p. 130). Atos de protestos que são o sentido mesmo de todos os versos juntos, compondo assim um singular manifesto político, uma arte enquanto ferramenta de mobilização. O estético, na obra de Golondrina Ferreira, só é alcançado para e por meio do político. Como diz novamente a poeta, em entrevista já citada: “a poesia é quem faz trançar a luta e a falta dela, povoa a segunda da primeira para ver onde vai dar”.

Os poemas de Golondrina Ferreira servem, portanto, não apenas para falar das vidas e das dores que se forjam na produção das mercadorias e na valorização do capital. Poemas esses forjados nesse próprio terreno, guardados nos bolsos “para não perder”. A captura dessa realidade é concomitante ao seu intento de destruí-la – para a classe trabalhadora ser capaz de outra produção e reprodução da vida, não mais baseada na “escravidão assalariada”, sistema já dissecado por Marx.

O livro de Golondrina Ferreira, cuja primeira edição é de 2019, surge em mais um período histórico no qual a classe operária está amordaçada, como diz Edelman (2016). Tanto lá fora, quanto aqui, ela sofre os efeitos devastadores de contínuas transformações tecnológicas na produção e de crises econômicas e seus respectivos pacotes e “reformas”. Junto às demais classes trabalhadoras, vê suas condições de trabalho e de vida piorarem em vários níveis. A ponto de não saber bem o que é o pior: amargar no desemprego, na miséria, ou no ritmo alucinante de trabalho que adoece, mutila e mata.

Embora importantes e valiosas, poucas são as suas rebeliões nos últimos anos, sob frágil ou quase nula organização. Os movimentos, sindicatos e partidos ditos dos trabalhadores, majoritariamente, não estão a serviço de qualquer coisa que se aproxime de uma revolução, mas a serviço sim de rodadas intermináveis de ilusões e de acordos com o capital – acordos resumidos por Maiakovski (2001, p. 135) mais de um século atrás: “Para um – a rosca, para os outros – o buraco dela. / A república democrática é por aí que se revela”.

É sob esses escombros da vida e da luta do proletariado, em suas velhas e novas paisagens, que Golondrina Ferreira ousa cantar. Exercício de autoria que não parte de si – uma identidade que se nega a ser encerrada em apenas um nome próprio. Como diz na Apresentação: “a beleza e a força eu agradeço e dedico a todos que as produziram indiretamente: à militância que vem sobrevivendo às últimas décadas de descenso […]. Aos intelectuais de dentro e de fora das organizações […]. A quem ousou não se entregar aos convites de conciliação […]. O que ele ainda pode ser, eu ofereço aos personagens desse livro, os operários da minha fábrica, do meu país, e a tantos outros em Xangai, Singapura, Chicago, Buenos Aires, Berlim…”.

O esforço é de dizer o que se tem enfrentado na luta cotidiana na atual conjuntura, e também transformar em poesia aquilo que se vive por quem trabalha.

Nos poemas de Golondrina Ferreira a primeira dimensão da luta que aparece é entre o capital morto e esse estranho capital variável que acorda cedo para ganhar o pão de cada dia. O maquinário, animado que é pela fome infinita de valorização, torna-se uma personagem. Como é dito no poema que abre o livro: “A fábrica tem fome, / passou o dia inteiro / de barriga vazia. / Então abre suas bocas de catraca / e nos seus dentes vamos passando / um a um”. Ou ainda no poema Quinta, onde a operária, frente à máquina, “Se entrega / à sua potência e regularidade, / se submete / às suas exigências e seu tempo”.

O processo de consumo intenso da força de trabalho é retratado em diversos poemas. Ou melhor, remoído, em sua materialidade. Seja denunciando a brutal e cínica “liberdade” que subjaz a contratação “livre” e o assalariamento – em última instância, liberdade do patrão para substituir o trabalhador como quem troca uma peça.

Seja abordando a falácia dos ditos direitos trabalhistas para a grande maioria, que não pode reclamar, não pode adoecer, por vezes nem conversar, na ditadura insalubre chamada produção. Seja na descrição em verso da linha de montagem (“Mais um / Mais um / Mais um” ou “Liga / ajusta / alimenta”), ou ainda da situação de trabalhadores e trabalhadoras, como no poema Patrícia, onde se retrata a exaustão física e psíquica no trabalho: “Somente olhos e mãos e os tendões entre eles, sem parar, sem fechar, sem cair, queimando pra dentro de nós indissolúveis, sem nós…”. 

Aliás, a sensação de limite físico, psíquico e moral, e de seu cotidiano cruzamento, na fábrica, na rua, na casa, é o caracteriza a própria condição proletária, como mostram os poemas de Golondrina Ferreira. “Viver / é tecnicamente inviável”, diz no poema Constância. Os pensamentos do eu lírico e seus versos surgem quase como uma reação corporal espontânea em espanto e resistência a tal situação de cansaço, pobreza e risco. Pensamentos e versos que se questionam: até quando? O poema Diálogo de fim de turno diz: “Já era? – pergunta o Alemão. / Antes fosse, Alemão, / antes fosse”.

Essa mesma pulsão que surge e depois se apaga, que por vezes encontra voz, por vezes se cala, é tratada como material poético e político pela poeta. Essa insistência de um corpo vivo, apesar do processo de mutilação e dessubjetivação imposto pelo capital, pe o ponto de partida de onde se tenta construir versos mais explosivos. Versos que não apenas digam da dor e da necessidade de suportar, mas da força e do ódio que podem ser armas, da luta que pode fazer algo avançar e da possibilidade de outro amanhã. No poema Quarta, sintetiza a alegria e a potência que surge ao se atingir o inimigo: “Avisem os supervisores / – mais por tesão que por pauta – / paramos a produção!”.

O domínio do capital, como já se sabe há muito, é contraditório. A guerra cotidiana e coletiva pela sobrevivência pode também ser o pontapé para construir outra guerra, que construa o novo; a luta da classe burguesa contra o proletariado alimenta também o seu reverso. Essa luta dos debaixo hoje se faz pequena, praticamente sem vitórias, afinal “o inimigo ainda é soberano”. Mas é desse tempo que partimos, e não de outros. Hoje “a tarefa é silenciosa, subterrânea / sem glórias”, diz o poema Panfletagem I.

A poesia de luta de Golondrina Ferreira é um singelo alívio aos que ainda não abandonaram a bandeira da “abolição definitiva do sistema de trabalho assalariado”, como dizia Marx. Aos que têm suportado os últimos anos de barbárie nesse país de uma nota só, como dizia o poeta Marighella. Singelo, mas germinal, lembra-nos o poema Panfletagem II.

Aos que desanimam, Golondrina insiste:

Gostaria de te consolar com um abraço
e boas notícias,
mas você tem razão
– somos poucos e estamos cansados,
no entanto ninguém,
senão nós,
poderá fazê-lo.

Nós, com todos os nossos defeitos,
com nosso cansaço,
com as marcas da derrota,
com nossos mortos por vingar.

 

Referência


Golondrina Ferreira, Poemas para não perder. São Paulo, Editora Trunca, 2019, 126 págs.

Bibliogafia


ALTHUSSER, Louis. Sobre a reprodução. Petrópolis, Vozes, 1999.

EDELMAN, Bernard. A legalização da classe operária. São Paulo: Boitempo, 2016.

FERREIRA, Golondrina. Poemas para não perder. Brasil: Edições Trunca, 2022.

MAIAKOVSKI, Vladimir. Mistério-Bufo. São Paulo: Musa, 2001.

Nota


[i] https://cemflores.org/2023/01/06/entrevista-com-a-operaria-poeta-e-militante-golondrina-ferreira-por-cem-flores/

25
Set22

O medo (por Gustavo Krause)

Talis Andrade

O eleitor vai se contrapor ao medo, instrumento de controle da liberdade

 
 
por Gustavo Krause
- - -
“Viver é negócio muito perigoso…[…] O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria. Aperta e daí, afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Guimarães Rosa falava, fluentemente, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano e esperanto. Lia sueco, holandês, latim e grego, bem que podia escolher qualquer idioma para escrever. Brasileiramente, escolheu a língua-mãe, o português, mas foi o autor de uma revolução linguística.
 

Criou quase uma dezena de milhar de neologismos e, segundo os estudiosos, 30% do léxico de Rosa não está dicionarizado. A primeira leitura de “Grandes Sertões: veredas” exige esforço na busca dos significados, depois, o leitor viaja do regional para universal, uma fusão de sentimentos, de sabedoria com gosto de carne seca e rapadura para os da banda de cá.

O que mais me sensibilizou foi a reflexão existencial que propõe coragem para enfrentar o vaivém da vida. É exatamente esta virtude de que necessitamos no processo político-eleitoral para sair de casa e exercer o poder-dever do voto.

O que deveria ser um ato praticado, em clima de paz e esperança que ratifica a democracia e fortalece o plebiscito cotidiano que forja a nação, transformou-se num ambiente de insegurança e de medo, decorrente do aprofundamento da radicalização, sobretudo, da violência política que permeia a sociedade brasileira.

O processo vem se agravando, mundo afora, e foi objeto da obra magistral de Manuel Castells “Redes de indignação e esperança na era da Internet” que analisa em profundidade as manifestações ocorridas com um posfácio dedicado ao Brasil de 2013.

A voz das ruas deixou uma clara e contundente mensagem: “vocês não nos representam”: grave abalo nas democracias liberais por conta da descrença e do ressentimento em relação ao estabilishment.

Resultado: as líderanças populistas e autocráticas encontraram o ambiente fértil para as mensagens messiânicas.

No Brasil, o Presidente surfou na onda, desafiou instituições, desrespeitou pessoas. Sua contraparte, Lula, reaparece com promessas de paz e amor: “um museu de grandes novidades”(crédito para Cazuza em “O tempo não para”).

Nós vamos ofertar à democracia o que ela quer de nós: coragem cívica. Em troca, a democracia vai, como escreveu Guimarães Rosa, “desinquietar” os exaltados, garantir liberdade, direitos fundamentais e paz social.

O eleitor terá a palavra final. E vai contrapor ao medo, instrumento de controle da liberdade, a virtude da coragem que se mantém entre dois abismos: a covardia e a temeridade.

01
Mai22

Lula participa do ato de 1º de Maio em São Paulo

Talis Andrade

lula-1o-de-maio.jpg

 

Evento organizado pelas principais centrais sindicais do país e pode ser assistido no site do PT. Veja local e hora de atos marcados pelo imenso Brasil brasileiro do povo unido que jamais será vencido

Neste domingo, 1º de maio, os trabalhadores brasileiros não têm motivos para comemorar. Segundo dados do FMI, o país terá este ano a segunda maior taxa de desemprego do G20, com um índice de desocupados quase duas vezes maior que a média mundial.

Já a taxa de informalidade se mantém nas alturas, sendo a realidade de 38,2 milhões de pessoas, e aqueles que conseguem trabalho ganham cada vez menos: em um ano, o salário inicial médio caiu de de R$ 2.018,60 para R$ 1.872,07.

Sem ter o que celebrar, os trabalhadores vão à luta, nas ruas do país. Unidas, as centrais sindicais CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST, Intersindical Central da Classe Trabalhadora e Pública Central do Servidor realizam atos em todo o Brasil (confira lista de locais ao fim desta matéria).

Em São Paulo, o evento ocorre na Praça Charles Miller, no Pacaembu, a partir das 10h. O ex-presidente Lula e várias lideranças do PT confirmaram presença. O ato, que contará ainda com apresentações musicais, terá transmissão pela TvPT. Para assistir, basta clicar no vídeo abaixo.

Para o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, a presença dos trabalhadores nos atos nunca foi tão importante. “Neste 1º de Maio temos de reunir milhares de trabalhadores e trabalhadoras e fazer um grande ato para mostrar, ao país e ao mundo, que a classe trabalhadora quer o Brasil com outro rumo, um Brasil com emprego, com desenvolvimento, com salário, direitos, proteção social, desenvolvimento sustentável, respeito à democracia e à soberania”, disse.

É por desejar transformação que as principais centrais sindicais já declararam apoio à pré-candidatura de Lula à Presidência da República. Não é para menos. Quando presidiu o país, Lula colocou em prática políticas de investimento e distribuição de renda que, ao final do seu governo e do de Dilma Rousseff, geraram 22 milhões de empregos formais e um aumento real do salário mínimo de mais de 74% (assista ao vídeo abaixo). Como disse o ex-metalúrgico na sexta-feira (29): “Nós sabemos como acabar com a fome, nós sabemos como diminuir a pobreza, nós sabemos como inserir o povo no mercado de trabalho”.

Participe das manifestações

Confira onde ocorrerão atos do 1° de Maio no país:

Alagoas

Em Maceió, o ato começa às 9h, em frente ao Clube CRB, na Pajuçara. Como subtema, Alagoas escolheu “Por um país sem fome e sem miséria”. A celebração terá participação de movimentos populares, partidos e centrais sindicais.

Bahia

Em Salvador, o ato é no Farol da Barra durante todo o dia e terá shows com Margareth Menezes e Jau. Na parte da manhã uma carreta da Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) oferecerá à população serviços como emissão do título de eleitor. Além de shows musicais, serão oferecidos à popualção serviços de corte de cabelo, manicure e massageml. O ato político está programado para às 15h com lideranças sindicais, políticas e trabalhadores. Presença confirmada de Jerônimo Rodrigues, pré-candidato ao governo do estado.

Ceará

Em Fortaleza, a celebração tem início às 9h, na Areninha do Pirambu, com concentração para a marcha dos trabalhadores que percorrerá as principais ruas do bairro em direção à Vila do Mar, na Barra do Ceará, onde será realizado o encerramento com ato político e cultural. Atrações confirmadas: Léo Suricate (influencer), Banda Bode Beat (Nayra Costa e Daniel Groove) e o cantor Assun.

Distrito Federal

Em Brasília, a celebração começa às 16h, no estacionamento da Funarte. A atividade contará com show da artista Ale Terribili, que vai homenagear Gonzaguinha, além da pré-estreia exclusiva do documentário de Max Alvin: “O povo pode?”.

Espírito Santo

Em Vitória, ato político e cultural do 1° de maio às 9h na Praça Costa Pereira, com as atrações Banda de Congo, Coral Serenata e Bloco Afrokizomba

Goiás

Em Goiânia, o ato começa às 9h, na Praça do Trabalhador. Atrações confirmadas:

Maíra Lemos (tributo à Marília Mendonça), Beaju, Mundhumano, Diego Mendes, Lucas e os Caras, DJ Genor Goiania

Maranhão

Em São Luís, o ato será realizado nesta quinta-feira, 28, às 16h na Praça Deorodo. No dia 1° haverá panfeltagem na feita de João Paulo e Liberdade.

Mato Grosso

Em Cuiabá, o aconto será realizdo no Centro Pastoral par aMigrantesa,na Avenida Gonçalo Antunes de Barros, 2785, às 15h

Minas Gerais

Em Belo Horizonte, ato político das Centrais Sindicais às 9h, na Praça Afonso Arinos, com passeata até a Assembelia Legislativa onde outro ato será realizado com tema voltado à reforma agrária.

Paraíba

Em Campina Grande, a atividade será realizada no dia 30, a partir das 9h, na Avenida Tavaraes Cavalcante, 94, com feijoada, forró e lançamento do Comitê Popular de Luta da CUT.

Paraná

Em Foz do Iguaçú, será realizada uma atividade internacional com a CUT, centrais sindicais do Brasil, Argentina e Paraguai, com apoio da Confederação dos Trabalhadores das Américas (CSA). O ato começa às 10h, na Praça da Paz, no centro da cidade. Na véspera, dia 30 de abril, será realizado um seminário internacional sobre a situação da classe trabalhadora na América Latina.

Pernambuco

Em Recife, será realizado um ato político-cultural às 15h na Rua Alfredo Lisboa, 1152, bairro Recife Antigo, organizado pelo Sindisprev-PE

Rio de Janeiro

Na capital fluminense, o ato será às 10h da manhã no Aterro do Flamengo, altura da Rua Silveira Martins, com as atrações MC Galo, MC Gilo do Andaraí e MC Cacau, nas ‘relíquias do funk’

Rio Grande do Norte

Em Natal, o ato começa às 08:30h, na Praça das Flores – Petropólis, seguindo em caminhada até a Praia do meio, onde haverá, a partir das 10h, shows e apresentações artísticas com Pretta Soul, Fernandinho Regis, Ariane Sandrine, Valério Felipe e Cinthia Simão.

Rio Grande do Sul

Em Porto Alegre, será realizado um ato cultural a partir das 10h, no Espelho D´Água (Parque da Redenção). A revogação do Teto de Gastos e das reformas Trabalhista e da Previdência serão destaques na celebração.

Santa Catarina

Em Florianópolis, haverá atrações culturais, atividades de lazer e almoço no Largo da Alfândega, a partir das 10h.

Em Chapecó, Café cultural do Dia do Trabalhador, com música, poesia e roda de conversa, no CERCOM (Sede Campestre SINDICOM), às 15h.

Em São Miguel do Oeste,  para marcar os 18 anos de atuação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Urbanas, haverá uma programação com atividades culturais, música, almoço, bingo, das 9h às 14h, no Bairro São Sebastião.

Em Criciúma, Festival da Democracia, celebração que ocorre no sábado (30), das 14h às 21h, com música, atividades de lazer, debates políticos e piquenique coletivo.

São Paulo

O ato na capital paulista será na Praça Charles Muller, no Pacaembu, a partir das 10h. Entre lideranças sindicais, políticas e religiosas, além de outras personalidades, estarão no palco das centrais grandes atrações como a cantora Daniela Mercury, Leci Brandão. Dexter, Francisco El Hombre e DJ KL Jay, além de outras a serem confirmadas.

O evento em São Paulo será transmitido ao vivo pelo Youtube e Facebook da CUT, das entidades filiadas e das centrais sindicais; e pelo Youtube da TVT (Youtube.com/redeTVT).  A TVT também transmitirá em sinal aberto pela TV, em São Paulo, no canal 44.1 e no ABC pelo canal 512 da Net.

Em Sorocaba, no interior do estado, a celebração será no Parque das Águas, das 14h às 22h. O ato contará com atrações como Emicida, Francisco El Hombre, Fernanda Teka e Flor Maria e Luca & Marcelo, além de Flavinho Batucada.

 

Ato no Rio a favor da candidatura de Lula - 17/01/2018 - Política -  Fotografia - Folha de S.Paulo

Este domingo é dia de luta, de ir pra rua, Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora!

O tema da mobilização nacional, organizada pela CUT, demais centrais sindicais e movimentos populares, é Emprego, Direitos, Democracia e Vida, tudo o que o Brasil precisa neste momento

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07
Mar22

Marcha das Mulheres nesta terça 8 de março em Natal

Talis Andrade

Dia Internacional da Mulher - Quando é? História e Importância

Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas e texto que diz "Sov FORTE WZ Sou iNVEN So NATAL/RN #8M PELA VIDA DAS MULHERES EGAL QUESTÃO DA BOLSONARO NUNCA MAIS! POR UM BRASIL SEM MACHISMO, RACISMO E FOME 08 DE MARÇO ÀS 14H30 PRAÇA GENTIL FERREIRA ALECRIM Lute como ma carota NATALIA FEDERAL-PT BONAVIDES"

Natalia Bonavides convoca:

Atenção, Companheiras!
 
Nesta terça (08), Dia Internacional da Luta das Mulheres, ocuparemos as ruas em defesa da vida e por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome.
 
O governo Bolsonaro e seus aliados têm atacado diariamente a vida das mulheres: retirando direitos, impedindo a aprovação de projetos importantes pras mulheres e cortando recursos das políticas de combate à violência. As mulheres são as principais vítimas deste projeto de carestia e mortes.
 
Por isso, nesta terça (08), a gente se encontra às 14h30, no Alecrim, em Natal.
 
Marcharemos juntas pelo fim deste governo machista, racista e neoliberal!
 
É Pela Vida das Mulheres!
 
Participe usando sua máscara.
 
 
Dia Internacional da Mulher: Origem e importância
22
Fev22

Poema de Priscila Figueiredo

Talis Andrade

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Esse é o ponto, este
mais que esse; nosso é o tremor.
Este é o ponto, um espanto
análogo a quando avisam: Aqui passa
o Trópico de Capricórnio,
Aqui termina o Brasil,
Aqui acaba a Polônia etc.
Aqui, exatamente aqui,
você não vê, mas não duvida
do enunciado dir-se-ia sagrado,
vindo de um deus dos limiares.
Como um sol ele irradia,
como um rei é que decide
história, destino —

 

aqui
você pode respirar, aqui podemos nos casar,
aqui o fascismo não
mete o nariz.
Eis que passamos a ser nada,
nossa sombra ficou do outro lado.
Acuado pelo inimigo que avança,
alguém sempre tira a própria vida.
Agora conheceremos o que é vida.

 

Pois assim como tremo se me sei bem
em cima do meridiano ou da fronteira,
este é o ponto em que me quedo,
o ponto de virada,
de intelecção, a terra à vista
de um problema e seu contorno.
Ah o verdadeiro, o autêntico problema —
que frêmito raro se o encontramos.

26
Dez21

Papa: a esperança é mais forte que as dificuldades, pois um Menino nasceu para nós

Talis Andrade

 

Diante das tantas crises, tragédias esquecidas e sofrimentos ao redor do mundo, em sua Mensagem de de Natal Francisco diz que "a esperança é mais forte, porque «um menino nasceu para nós»". Que a seu exemplo, aprendamos a escutar-nos e a dialogar, e a caminhar com Cristo pelas sendas da paz!

“O Verbo fez-Se carne para dialogar conosco. Deus não quer construir um monólogo, mas um diálogo. Pois o próprio Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, é diálogo, comunhão eterna e infinita de amor e de vida.”

Diálogo é a palavra a partir da qual o Pontífice desenvolve sua Mensagem de Natal dirigida à cidade e ao mundo, pronunciada da sacada central da Basílica de São Pedro em um 25 de dezembro chuvoso, o que não impediu a presença de milhares de peregrinos e turistas de várias partes do mundo na Praça São Pedro, na observância das novas medidas, mais restritivas, para conter a propagação da Covid-19.  

Depois da Mensagem de Natal o Papa rezou o Angelus, seguido pelo anúncio da concessão da Indulgência Plenária pelo cardeal protodiácono Renato Raffaele Martino, que então passou novamente a palavra ao Santo Padre para a Bênção, extensiva também a todos que acompanhavam pelos meios de comunicação.

O sinal da transmissão estava disponível em seis satélites e a Mensagem com a Bênção Urbi et Orbi foi transmitida em Mundovisão por cerca de 170 redes de televisão. A mídia vaticana também ofereceu serviço de tradução na língua dos sinais (LIS). Já o Vatican News ofereceu transmissões em sete línguas: português, espanhol, italiano, inglês, francês, alemão e árabe.  

 

Diálogo, única solução para conflitos

 

“Quando veio ao mundo, na pessoa do Verbo encarnado, Deus mostrou-nos o caminho do encontro e do diálogo” e “como seria o mundo sem o diálogo paciente de tantas pessoas generosas, que mantiveram unidas famílias e comunidades?”, pergunta o Papa, observando que a pandemia deixou isso muito claro ao afetar as relações sociais, aumentar “a tendência para fechar-se, arranjar-se sozinho, renunciar a sair, a encontrar-se, a fazer as coisas juntos”. E a nível internacional, a complexidade da crise pode “induzir a optar por atalhos”, mas só o diálogo conduz “à solução dos conflitos e a benefícios partilhados e duradouros”.

 

As tragédias esquecidas

 

E ao lançar seu olhar para o panorama internacional, Francisco observou que contemporaneamente ao “anúncio do nascimento do Salvador, fonte da verdadeira paz, “vemos ainda tantos conflitos, crises e contradições. Parecem não ter fim, e já quase não os notamos”.

 

De tal maneira nos habituamos, que há tragédias imensas das quais já nem se fala; corremos o risco de não ouvir o grito de dor e desespero de tantos irmãos e irmãs nossos.”

 

Oriente Médio e Afeganistão

 

E dentre as tragédias esquecidas por todos, o sofrimento das populações da Síria, Iraque, Iêmen, em particular das crianças. Mas também o conflito entre israelenses e palestinos, “com consequências sociais e políticas cada vez mais graves”.

Belém, “lugar onde Jesus viu a luz”, vive tempos difíceis “pelas dificuldades econômicas devidas à pandemia que impede os peregrinos de chegarem à Terra Santa, com consequências negativas na vida da população”. Crise sem precedentes que atinge também o Líbano. Mas no coração da noite, surgiu um sinal de esperança. E neste dia de festa pedimos ao Menino Jesus, “a força de nos abrirmos ao diálogo”, implorando a Ele “que suscite, no coração de todos, anseios de reconciliação e fraternidade.

Menino Jesus, dai paz e concórdia ao Médio Oriente e ao mundo inteiro. Amparai a quantos se encontram empenhados em prestar assistência humanitária às populações forçadas a fugir da sua pátria; confortai o povo afegão que, há mais de quarenta anos, está submetido a dura prova por conflitos que impeliram muitos a deixar o país.”

 

Myanmar e Ucrânia

 

Ao Rei dos Povos, o Papa pede que ajude as autoridades políticas a  pacificar “as sociedades abaladas por tensões e contrastes”, em particular Myanmar, “onde intolerância e violência se abatem, não raro, também sobre a comunidade cristã e os locais de culto, e turbam o rosto pacífico daquela população.” Mas também “luz e amparo” para quem acredita e trabalha em prol do encontro e do diálogo na Ucrânia e não permitir que "metástases dum conflito gangrenado" se espalhem pelo país.

 

África

 

O Santo Padre volta então seu olhar para os países africanos atribulados por conflitos, divisões, desemprego, desigualdades econômicas, pedindo ao Príncipe da Paz pela Etiópia para que descubra o caminho da paz e da reconciliação e para que ouça o clamor “das populações da região do Sahel, que sofrem a violência do terrorismo internacional”, bem como pelas vítimas dos conflitos internos no Sudão e Sudão do Sul.

 

América

 

Para as populações do continente americano Francisco pede que “prevaleçam os valores da solidariedade, reconciliação e convivência pacífica, através do diálogo, do respeito mútuo e do reconhecimento dos direitos e valores culturais de todos os seres humanos.”

 

03
Nov21

De Rafael Rocha

Talis Andrade

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INVERNO DA VIDA

 

Neste invernar da vida

o tempo fica pequeno.

A paixão dá um aceno

por já estar de partida.

A cerveja é mais gostosa

do que a água bebida

e um sonho obsceno

traz a ninfeta perdida.

 

Neste invernar da vida

o tempo fica mais curto.

O coração toma um susto

pensando na “parricida”.

Quero beber mais cervejas

numa farra desmedida

e em um corpo moreno

viver a paixão pretendida.

 

Neste invernar da vida

os dias são diminutos.

Contamos horas, minutos

pois o tempo é suicida.

Gritamos na mesa do bar:

– Tragam as cervejas benditas

com mil fêmeas coloridas

para enfeitar nossas vidas!

02
Nov21

Por uma fenomenologia da destruição 3

Talis Andrade

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por Renato Lessa

Língua

(Continuação) Um dos mais notáveis textos a respeito da experiência do III Reich foi elaborado por Victor Klemperer, judeu convertido ao protestantismo e professor de literatura românica na Universidade de Dresden. Conversão de pouca valia, já que por ter permanecido na Alemanha depois de 1933, sofreu toda sorte de perseguições e interdições. Acabou por escapar ao extermínio graças ao devastador bombardeio de Dresden, ocorrido em fevereiro de 1945, que desorganizou o sistema de transporte para os campos da morte. Klemperer deixou como legados um valioso diário e uma obra prima, à qual conferiu um título em latim: Lingua Tertii Imperii, mais conhecida como LTI ou Língua do Terceiro Reich, segundo a edição brasileira.[xvii] Ali, seu autor recolheu diligentemente, durante os 12 anos de vida sob o nazismo, os impactos da fala podre nazista sobre a língua alemã, que inventou uma variante própria da língua, praticada por adeptos e pelos que a isso foram forçados.

Klemperer preocupou-se com novos termos, com eufemismos e com distorções de sentido. Julgo de grande relevância recolher registros da fala podre, segregados pelos operadores da destruição em curso hoje no Brasil. No entanto, trata-se neste caso menos de inovação vocabular do que de uma consagração da linguagem como portadora imediata de seus efeitos de violência. É o que aqui procurei designar pela expressão palavra podre: um ato de fala que quando proferido degrada o espaço semântico.

Confesso que tenho pudor em dar exemplos diretos, mas vá lá: basta lembrar o que disse um dos mais destacados operadores de destruição, um deputado federal e filho do atual ocupante da presidência da república, ao referir-se a colegas deputadas como “portadoras de vaginas”. Trata-se, na verdade, de metonímia podre, cuja emissão contém fortes elementos de infestação: desumanização, misoginia, sexismo, brutalidade inaudita. Basta-me este terrível exemplo para que fique claro o alcance da palavra podre. Como toda palavra ou expressão é sempre precedida por intuições genéricas, é de se imaginar o espectro de podridão por elas abrigado.

De modo mais abstrato, a palavra podre é uma modalidade de expressão que traz consigo seu efeito imediato, seja como preâmbulo de uma ação violenta, como aviso prévio de uma ação deletéria ou como potência de infestação do campo simbólico. Por certo, não inventou seus termos e muitas de suas fórmulas. Compulsório reconhecer que elas estão no meio de nós. A novidade na matéria é a ocupação efetuada por essa linguagem de espaços de emissão dotados de grande capacidade de disseminação. O chefe do consulado, por certo, não inventou o sujeito violento que usa as palavras como preâmbulo do golpe físico e doloroso. O que trouxe de perturbador foi a sistematização do uso da palavra podre e sua entronização nas falas da República. Valem como declarações sobre o “estado da nação”. Espero que todos esses atos de fala estejam a ser recolhidos por diligentes pesquisadores. Vai ser um arraso o dia em que publicarmos, em edição crítica, anotada e comentada, as obras completas do Destruidor.

Não há que confundir a palavra podre com a mentira. Esta, mais do que humana, é inerente à política. No limite, é vulnerável à refutação fática. Tal não se dá com a palavra podre que, neste sentido, é invulnerável ao desmascaramento. Isso se dá pelo fato de que os operadores capazes de julgar e aferir a palavra podre são, eles mesmos e de modo crescente, delimitados pela semântica da podridão. Há, pois, um halo de podridão transcendental que acolhe e justifica proposições podres específica. Assim se forma um repertório explícito e implícito, segundo o qual a palavra podre infecta tanto a língua ordinária quando desenha os contornos da faculdade do juízo.

 

Vida

A centralidade do tema da vida, no horizonte da filosofia política moderna, foi posta de modo definitivo por Thomas Hobbes, no século XVII. A ele devemos o achado de que o Estado é um animal artificial, instituído pelo engenho humano, dotado da justificativa básica de proporcionar proteção à vida. Longe de ser algo vago e genérico, tal proteção decorre do horror à possibilidade da morte precoce e violenta, prêmio a ser conquistado pelos praticantes e adeptos de uma vida absolutamente livre e desprovida de fatores de contenção, tanto externos como internos aos sujeitos humanos. Tido como absolutista – coisa que foi por razões de circunstância –, para Hobbes, absoluta deve ser a adesão a um pacto comum de proteção da vida.

O que cabe reter desse rápido resumo é a ideia de que o tema da vida excede a dimensão biológica e inscreve-se no fundamento da própria legitimidade do poder político. Em outros termos, a vida passa a ser uma figura do direito público, e não apenas algo restrito à natureza, à providência e a cada corpo biológico. O argumento hobbesiano, fixado na prosódia da filosofia política, pode ser tomado como a metafísica política de um duplo processo, errática e não intencionalmente configurado no experimento do mundo moderno: o longo processo civilizador, tal como descrito por Norbert Elias – com seus múltiplos mecanismos de mediação e redução da letalidade violenta nas relações sociais – e o experimento do Estado de Bem-Estar, cujo caráter imperioso foi finamente posto por Karl Polanyi.[xviii] Em uma fórmula mais precisa: o tema da vida está associado ao controle da violência – ou o predomínio dos “meios físicos”, na letra de Blumenberg – e à minimização do sofrimento, do desamparo e do insolidarismo.

Julgo não ser difícil vislumbrar o quanto a perspectiva da redução da letalidade violenta é afetada pelo elogio aberto do armamentismo e de medidas administrativas para passagem ao ato. A destruição induzida pela palavra podre conta cada vez mais com sua retaguarda armada, com expansivo poder de fogo, associada ainda à consolidação e ampliação de um poder miliciano, uma das retaguardas de apoio do processo mais geral de desfiguração da democracia. Da mesma forma, a dimensão do Estado de Bem Estar Social torna-se mais vulnerável do que nunca. Seu peso inercial, por certo, dificulta desabamentos abruptos, mas o processo de desfiguração consta da agenda.

O âmbito de ataque à perspectiva da vida como valor e marcador básico de legitimidade do Estado tem seu cenário nobre na “gestão” da pandemia. Eis aqui um campo privilegiado para a observação da destruição do comum. A pandemia fornece-nos a imagem e a realidade da presença de um espaço comum. Um domínio, por certo, marcado pela negatividade, tal como nas “comunidades de aflição”, segundo a expressão sagaz do antropólogo britânico Victor Turner[xix]. Albert Camus, em seu clássico livro A peste, de 1947, escreveu sobre a praga que assolou a cidade de Oran, na então Argélia francesa.[xx] Pela ação de seu principal personagem, o Dr. Rieux, o infortúnio comum negativo propicia sua tradução enquanto oportunidade de solidariedade. O comum negativo da doença e o comum positivo dos cuidados mantém entre si relações de complementaridade.

O negacionismo representa, mais do que uma atitude sanitariamente letal, uma negação do comum. Negar a doença é um modo direto de negar a relevância de uma esfera marcada pela interdependência dos sujeitos e pela possibilidade de estabelecer laços extensos de solidariedade e reciprocidade. A liberdade do “homo bolsonarus” representa a negação do comum.[xxi] A circunstância da morte, devolvida à natureza perecível dos corpos individuais, faz com que a vida deixe de ser uma questão afeita também ao Direito Público.

A extensão da letalidade é tristemente mensurável, assim como a escala dos sequelados e traumatizados. Já a dissolução do comum e a disseminação oficial do insolidarismo são de difícil medição. Subsistem como fatores silenciosos e constantes, essenciais para a boa obra da desfiguração.

 

Território e populações originárias

Há um sentido inequívoco no tratamento do território e da questão ambiental que implica uma redefinição normativa do espaço brasileiro. Trata-se de um deslocamento da ideia de país– como experimento cultural denso e duradouro – em direção à imagem de lugar– uma categoria espacial que traz consigo a possibilidade da apropriação física. A ideia de país é uma abstração, a de lugar um ponto geográfico realmente existente. A extensão da diferença entre país e lugar pode ser aferida pelo grau de inclusão da natureza em uma malha normativa, que abrange tanto dimensões do direito formal quanto dos modos tradicionais de conhecimento e manejo dos recursos naturais. A ideia asséptica de lugar dispensa a longa e lenta precipitação de sentidos sobre o espaço ao longo do tempo, que define a ideia sempre confusa e impura de país.

O genial artista plástico sul-africano William Kentridge, em sua obra fortemente marcada pela observação da territorialidade de seu país durante o apartheid desenvolveu uma fina teoria da paisagem, por ele representada como experiência espacial e sensória na qual formas de vida estão ocultas. Diz-nos Kentridge: há muitas coisas na paisagem: corpos decompostos, incorporados à terra; uma terra que é lugar de combate, disputa, segregação racial. Em suma, a paisagem como lugar no qual memórias permanecem como depósitos coagulados; conjunto de experiências entranhadas, como que misturadas à terra.[xxii]

A devastação ambiental vai na direção inversa dessa teoria da paisagem. O predomínio do lugar, sem o encantamento que impunha aos primeiros estrangeiros, a partir do século XVI, exige a possibilidade de território aberto à maior utilização possível, segundo lógicas ditadas pelos próprios utilizadores, em ato de pura liberdade. Expulsar o território do Direito, para não falar do apagamento dos modos tradicionais de ocupação; devolver a terra à natureza, entendendo pelo termo sua absoluta disponibilidade para fins de exploração econômica. O desmatamento desenfreado é, nesse sentido, imparável, pois conta com uma miríade de operadores de destruição, encorajados pela promoção de seus valores e interesses ao âmbito das razões de Estado.

Os povos originários estão entre os principais inimigos dos ocupantes do governo da República, sintoma, antes de tudo, da recusa em admitir uma pluralidade de formas de vida no território comum do país e do abrigo da crença etnocida no imperativo de sua “aculturação”. Entre invasores de reservas – como sujeitos de uma liberdade natural – e povos indígenas – sujeitos de Direito como ocupantes legítimos de reservas, reconhecidos em sua especificidade cultural e, por tal razão, receptores de proteção estatal -, a opção assumida não deixa margem a dúvida. Assim como o território, os povos indígenas devem ser expelidos da malha normativa que, em alguma medida, contém mecanismos e normas de proteção e regulação.

O trato do território e das populações originárias por parte dos atuais ocupantes da República é marcado por uma inclinação distópica e atávica: fazer da defesa da liberdade a reposição das condições originárias da colonização: exploração do território e preação de índios. A nostalgia do que teria sido uma liberdade irrestrita para lidar com a terra, a natureza e com seres humanos compõe o núcleo arcaico do programa da desfiguração. 4. Complexo Imaginário e Normativo:

Reúno neste último item vasto conjunto de dimensões dotadas de uma propriedade comum: representam o peso da abstração na configuração do país. Em outros termos, nossa “abstratostera” e reserva de negação do predomínio dos “meios físicos”. Aqui inscrevo tanto a dimensão dos direitos constitucionais, que definem um piso normativo para a figuração do social, quanto novos direitos expansivos no âmbito dos direitos civis. As características da Carta de 1988, concebida como imagem do que o país deve ser e não restrita ao estabelecimento de regras de um jogo definido a montante, repuseram a preeminência do Direito Público para o desenho geral do país[xxiii]. Em termos mais específicos, a Carta representou a constitucionalização plena de direitos sociais, políticos e individuais, em torno da ideia de “estado democrático de direito”. Apesar do grande número de emendas sofridas, a Carta contém barreiras importantes de contenção do ímpeto da desfiguração, ainda que esteja longe da invencibilidade. A ocupação por parte da extrema direita de posições importantes do âmbito do sistema de justiça e no campo dos direitos humanos indica o quanto o arranjo abstrato dos direitos fundamentais constitui um adversário a ser abatido.

A esfera abstrata inclui, ainda, os âmbitos da Cultura e da Educação. Além das evidências declaratórias, o primeiro deles foi neutralizado por inédita imobilização institucional. Na segunda, um dos principais projetos da pasta diz respeito ao “homeschooling”, também fundado no princípio da “liberdade”, o que significa neste caso o pleno controle familiar sobre a educação dos filhos. As famílias, assim como as igrejas, são definidas como lugares privilegiados de socialização, compondo assim um quadro geral de desfiguração do comum.

O âmbito do Trabalho, embora duro como a pedra, não é inteiramente isento da presença de fatores aqui apresentados como abstratos. Assim como há diferença entre país e lugar, é possível imaginar a mesma lógica de oposição para as ideias de trabalho e emprego. A primeira, mais do que limitada ao domínio ocupacional, é uma categoria cultural e cívica; a segunda pertence ao espaço semântico da economia e do mercado.

O “trabalho” foi uma categoria central na experiência do país a partir da década de 1930. Daí em diante, o tema jamais esteve ausente no quadro constitucional brasileiro: todas as Constituições o recepcionaram e alargaram o âmbito dos direitos sociais instituídos durante aquela década. Da mesma forma, o tema teve abrigo permanente no âmbito do Poder Executivo, a partir da criação do Ministério do Trabalho. A extinção do mesmo, no atual consulado, foi precedida por laborioso trabalho de preparação, efetuado pelo governo Temer, que alterou aspectos importantes da Justiça do Trabalho e inviabilizou a sustentabilidade da maior parte da malha sindical brasileira, com o fim do imposto sindical. Em nome da liberdade, o direito de organização sindical foi gravemente mitigado. A perspectiva da desfiguração do Direito do Trabalho, embora de iniciativa de consulado anterior, foi plenamente assumida pelo corrente. A liberdade natural celebrada pelos atuais ocupantes recepciona, no âmbito da questão trabalhista, os ditames da liberdade ultraneoliberal, tradicional cláusula pétrea dos que vieram ao mundo a negócios.

A desfiguração possível da democracia pode ser detectada em diversos espaços aqui não considerados. Há, com efeito, um trabalho árduo a fazer, qual seja o da sistematização de todas as ações que, em seus âmbitos específicos, executam a obra da destruição do que houve de melhor no país, recepcionando tudo o que houve e há de pior. É o que deve ser feito, para que procedamos à imperiosa desconstrução da destruição.

As desfigurações são móveis. Muito difícil antever sua fixação em alguma forma permanente. Tal como está, alimenta-se de sua capacidade diária de produzir efeitos de destruição, tanto por atos como por palavras. Não é preciso um conceito mágico e elucidador da coisa. O que importa é seguir os sinais da destruição e mostrá-los de modo tão incansável quanto sistemático. Se calhar, o conceito da coisa é a face do Destruidor, o “lugar de fala” por excelência da palavra podre.

*Renato Lessa é professor de filosofia política da PUC-Rio. Autor, entre outros livros, dePresidencialismo de animação e outros ensaios sobre a política brasileira (Vieira & Lent).

Texto baseado em roteiro de conferência feita na École des Hautes Études em Sciences Sociales (Paris, 29/03/2021). Versão condensada do mesmo foi publicada na revista piauí (edição 178, julho de 2021).

Notas


[i] Ver Hans Blumenberg, Paradigmes pour une métaphorologie, Paris: Vrin, 2006 e Idem, Descripción del Ser Humano, Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2010 e Idem, Teoria da não conceitualidade, Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2013.

[ii] Ver Mary Douglas, Pureza e Perigo, São Paulo: Perspectiva, 2010 (1ª edição 1966).

[iii] A expressão –“desfiguração da democracia” – é da lavra da filósofa política Nadia Urbinatti, em seu livro tão brilhante quanto incontornável Democracy Disfigured: Opinion, Truth, and the People, Cambridge, MA: Harvard University Press, 2014.

[iv] O tema foi desenvolvido por Michael Polanyi em obras exemplares, tais como Personal Knowledge, Londres: Routledge, 1958 e The Tacit Dimension, Nova Iorque: Doubleday, 1966.

[v] Expressões do ocupante do Poder Executivo brasileiro, diante de interpelações a respeito da escalada de vitimados da pandemia.

[vi] A expressão “ponta da praia” foi usada pelos agentes da repressão política, durante a ditadura militar (1964-1985), para se referir a um estabelecimento militar, na restinga da Marambaia, próxima à cidade do Rio de Janeiro , base logística para o desaparecimento de presos políticos.

[vii] Ver Jean-François Lyotard, Le Différend, Paris: Les Editions du Minuit, 1984.

[viii] Vale citar, entre outro, para o Brasil o livro de Azevedo Amaral, Estado Autoritário e Realidade Nacional, Rio de Janeiro: José Olympio, 1938, um dos mais importantes para compreendera virada autoritária dos anos 1930. Para ótima análise, ver Angela de Castro Gomes, “Azevedo Amaral e o Século do Corporativismo de Michail Manoilesco no Brasil de Vargas”, in:

Sociologia&Antropologia, Vol. 2, # 4, pp. 185-209, 2012.

[ix] Alfred Stepan (Ed.), Authoritarian Brazil: Origins, Policies, and Future, New Haven: Yale University Press, 1977.

[x] Cf. Primo Levi, “Um passado que acreditávamos não mais voltar”, In: Primo Levi, A Assimetria e a Vida: artigos e ensaios, (Org. Marco Belpoliti), Tradução de Ivone Benedetti, São Paulo: Editora da Unesp, p. 56

[xi] Para tratamento mais extenso dessa questão, ver Renato Lessa, “Presidencialismo de Assombração: autocracia, estado de natureza, dissolução do social (notas sobre o experimento político-social-cultural brasileiro em curso)”, In: Adauto Novaes (Org.), Ainda sob a tempestade, São Paulo: Edições SESC, 2020, pp. 187-209.

[xii] Cf. Renato Lessa, “O inominável e o abjeto”, Carta Capital, 3/8/2018.

[xiii] Ver Elaine Scarry, The Body in Pain: the making and the unmaking of the world, Oxford: Oxford University Press, 1985 e, também, J.-D. Nasio, A dor física: uma teoria psicanalítica da dor corporal, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

[xiv] Ver Hans Erich Nossack, The End: Hamburg, 1943, Chicago and London: The University of Chicago Press, 2006.

[xv] Ver W. G. Sebald, Guerra aérea e literatura, São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

[xvi] Sobre a ideia de “ofensa”, ver Primo Levi, Os afogados e os sobreviventes, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004, em especial o capítulo “A memória da ofensa”. Sobre a expressão “ir ao fundo”, a referência é Primo Levi, É isto um homem?, São Paulo: Rocco, 1988, em particular o capítulo “No fundo”.

[xvii] Ver Victor Klemperer, LTI: A Linguagem do Terceiro Reich, Rio de Janeiro: Contraponto, 2009. Para os diários, há edição brasileira abreviada: Victor Klemperer, Os Diários de Victor Klemperer, São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

[xviii] Ver respectivamente Norbert Elias, O Processo Civilizador, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990 (1ª ed. 1939) e Karl Polanyi, A Grande Transformação, Rio de Janeiro: Campus, 2011 (1ª ed. 1944).

[xix] Ver Victor Turner, The Drums of Afliction, London: Routledge, 1968.

[xx] Ver Albert Camus, La Peste, Paris: Gallimard, 1947.

[xxi] Sobre o “homo bolsonarus”, ver Renato Lessa, “Homo Bolsonarus”, serrote 37, 2020.

[xxii] William Kentridge, “Felix in Exile: Geography of Memory”, In: William Kentridge, William Kentridge, London: Phaidon Press Limited, 2003, p. 122.

[xxiii] . Para uma ótima análise do aspecto programático da Carta de 1988, ver Gisele Citadito, Pluralismo, Direito e Justiça Distributiva, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999.

06
Out21

Eliane Brum lança livro na França e diz que “esperança é um luxo que Brasil não tem mais”

Talis Andrade

A jornalista Eliane Brum vive em Altamira, onde acompanha de perto o impacto das políticas ambientais na Amazônia.A jornalista Eliane Brum vive em Altamira, onde acompanha de perto o impacto das políticas ambientais na Amazônia. © Azul Serra

O livro “Brasil, construtor de ruínas – Um olhar sobre o Brasil de Lula a Bolsonaro”, da jornalista Eliane Brum, acaba de ganhar uma versão em francês, publicada pela editora Anacaona. Além de apresentar e explicar a política brasileira dos últimos anos para o público internacional, ela alerta que a crise no país não é apenas um problema nacional e diz respeito ao futuro do mundo todo.

A versão internacional da publicação tem cerca de 300 páginas e é apresentada como uma ferramenta para entender “o Brasil em transe desse início do século”. A edição foi adaptada, com algumas passagens e alguns detalhes resumidos para que o conteúdo pudesse ser compreendido por um público que não necessariamente conhece os meandros da política brasileira, mas que, segundo a autora, deve se sentir tocado pela situação do país.

“Não é apenas uma questão de curiosidade ou de solidariedade com a população do maior país da América Latina. O que acontece no Brasil hoje tem impacto em todo o planeta. A gente está vivendo algo inédito na trajetória da nossa espécie, que é a crise climática provocada pela ação de parte dos humanos e é a sexta extinção em massa, também provocada pela minoria dominante de humanos”, resume a autora, que mora em Altamira desde 2017, onde acompanha de perto o impacto das políticas ambientais na região amazônica.Brasil, construtor de ruínas: Um olhar sobre o país, de Lula a Bolsonaro |  Amazon.com.br

Coletânea de crônicas

Eliane redigiu seu livro parcialmente baseado nas crônicas e reportagens que vem redigindo principalmente para a versão brasileira do jornal El País, mas também para veículos internacionais, como o britânico The Guardian. Foi a partir de um desses artigos, publicado em 2018 no Blätter für deutsche und internationale Politik, que nasceu a ideia de “Brasil, construtor de ruínas”.

O projeto se concentra principalmente no período que vai da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva até os cem primeiros dias do governo de Jair Bolsonaro. Mas para a versão francesa, um posfácio foi escrito, em julho de 2021, trazendo informações atuais, mas também um apelo aos leitores estrangeiros.
 

“Como o Brasil abriga 60% da maior floresta tropical do mundo no seu território e a Amazônia é fundamental para a regulação do clima e essa floresta está chegando ao ponto de não retorno, é muito importante que a Europa e a França entendam com profundidade, para além dos clichês, o que está acontecendo no Brasil”, insiste a autora. “É urgente conhecer o que está acontecendo no Brasil, por que é urgente barrar o processo de destruição que se acelerou com Jair Bolsonaro”, sentencia.

Bolsonaro

No entanto, a jornalista, que se apresenta como uma pessoa de esquerda, pondera a importância do presidente, lembrando que Bolsonaro é apenas o resultado de um processo muito mais longo.

“Bolsonaro é uma criatura de cinco séculos no Brasil e o que ele representa vai continuar, porque se ele fosse apenas uma aberração, que não representasse nada, não teria sido eleito. E ele não continuaria no poder no Brasil apesar de 600 mil mortes por Covid-19, cuja maioria poderia ter sido evitada se ele tivesse agido para prevenir a Covid-19 e tivesse aceitado vacinas, por exemplo”.

Pessimista, a autora termina o livro dizendo que independentemente do que pode acontecer nas próximas eleições presidências brasileiras, a situação é complexa e não depende apenas do ganhador do pleito. Porém, ela defende a necessidade de agir.

“Eu acho que estamos num momento histórico, em que a esperança é um luxo que a gente não tem mais”, afirma. “Nós não podemos ser mimados ao ponto de só agir se tivermos a esperança de que algo mude. A gente tem que agir porque estamos lutando pela própria vida. Eu não me movo nem pela esperança, nem pelo otimismo, nem pelo pessimismo. Eu me movo a partir da realidade e pelo imperativo ético de agir”.

 

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