Senadores Eduardo Girão e Damares Alves tentaram entregar peça de plástico; ministro dos Direitos Humanos justificou recusa afirmando que esposa está grávida
Silvio Almeida recebeu um ministério "arrasado" e prometeu que atos da pasta baseados "no ódio" serão revistos. "Conselhos foram reduzidos ou encerrados, vozes foram caladas, políticas encerradas", disse ao classificar a gestão Bolsonaro de "projeto de destruição nacional"
O ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida se negou a receber a réplica de um feto durante uma comissão do Senado. A peça de plástico foi oferecida pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), vice-líder da oposição e bolsonarista. Ao negar o objeto, Almeida chamou a atitude do parlamentar de "escárnio" e “uma exploração inaceitável de um problema muito sério” vivenciado no país. Ele disse ainda que vai ser pai e, em nome da filha dele que vai nascer, não receberia o objeto. Após a resposta, o ministro foi aplaudido de pé por senadores que estavam na comissão.
Antes da fala de Girão, a miniatura de feto estava na mesa da também senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Ela justificou o "presente" como forma de pressionar o ministro após decisão do governo de deixar a Declaração do Consenso de Genebra sobre Saúde da Mulher e Fortalecimento da Mulher, documento de caráter conservador contra o aborto.
Ao tentar fazer a entrega, Girão disse que objeto representaria uma "criança com 11 semanas de gestação", mas foi interrompido pelo ministro.
— Eu não quero receber isso por um motivo muito simples: eu vou ser pai agora. E eu sei muito bem o que significa isso. Isso para mim é uma performance que eu repudio profundamente, é uma exploração inaceitável de um problema muito sério que temos no país. Em nome da minha filha que vai nascer, eu me recuso a receber isso. Isso é um escárnio — rebateu Silvio Almeida.
O embate aconteceu durante sessão da Comissão de Direitos Humanos. Girão elaborava uma pergunta ao ministro sobre possíveis omissões do atual governo frente à violação de direitos humanos de alguns países, como Rússia, China, Venezuela e Nicarágua. Ao concluir, o senador usou o tema para falar sobre aborto e, assim, entregar o objeto.
Reação
O fundador e ex-presidente do partido Novo João Amoêdo criticou a atitude do senador Girão, e classificou a ação do parlamentar como “ridícula” e “vergonhosa”. “Vergonhosa a atitude do senador do NOVO, que tentou entregar uma réplica de um feto para o ministro Silvio Almeida durante audiência no Senado. É mais uma ação ridícula da oposição bolsonarista, que se recusa a fazer debates sérios e apela para performances teatrais”, escreveu o ex-presidente do partido nas redes sociais.
Na mesma postagem, Amoêdo parabenizou o ministro pelo posicionamento e por “manter uma postura institucional e respeitosa”.
Cresce a pressão – no Rio Grande do Sul e no Brasil – para que o asqueroso vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul, seja cassado por seus ataques racistas contra os nordestinos e sua defesa do trabalho escravo nas vinícolas gaúchas. A Polícia Civil abriu nesta quarta-feira (1) um inquérito para apurar sua conduta criminosa. Parlamentares de vários partidos e entidades democráticas também exigem punição imediata, inclusive com a sua prisão. E até o Patriota, partido que acoberta expoentes da extrema direita, anunciou a sua expulsão sumária.
Desumano, vergonhoso e inadmissível
Em discurso no plenário da Câmara Municipal na terça-feira, o nazistinha metido a valentão criticou a ação de resgate de 207 trabalhadores da Bahia encontrados em condições análogas à escravidão em vinícolas de Bento Gonçalves. O escravocrata afirmou que os “baianos vivem na praia, tocando tambor” e não gostam de trabalhar, e elogiou os imigrantes argentinos, que são superexplorados e “ainda agradecem o patrão”.
Ele ainda ironizou as péssimas condições de trabalho e de alojamento e as torturas sofridas pelos resgatados: “Agora o patrão vai ter que pagar empregada para fazer a limpeza todo dia para os bonitos também? Temos que botar eles em hotel cinco estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho?”, obrou da tribuna. E concluiu aconselhando seus pares da cloaca burguesa gaúcha: “Não contratem mais aquela gente lá de cima”.
A reação ao nazista foi imediata. O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, tuitou: “É desumano, vergonhoso e inadmissível ver que há brasileiros capazes de defender a crueldade humana. Determinei, portanto, a adoção de medidas cabíveis para que o vereador seja responsabilizado pela sua fala”. A Procuradoria Geral do Estado da Bahia (PGE-BA) já anunciou que ingressará com uma representação junto aos Ministérios Públicos Federal e Estadual contra Sandro Fantinel, além de entrar com uma ação indenizatória de reparação por dano moral.
Bolsonarista raiz e troglodita
Essa não é a primeira ação repulsiva desse troglodita de Caxias do Sul. Como registra o site Diário do Centro do Mundo, Sandro Fantinel “tem um longo histórico de declarações preconceituosas e criminosas. Empresário do agronegócio e apoiador de Jair Bolsonaro, ele exerce seu primeiro mandato parlamentar e marca presença com falas racistas e homofóbicas. Mostra-se armamentista e agressivo contra opositores e programas sociais. Seus discursos com orientação de extrema-direita mobilizam com frequência a Comissão de Ética da Câmara”.
O nazistinha se define como o único “vereador bolsonarista raiz” de Caxias do Sul. Em 2018, ele renunciou à candidatura de deputado federal para se dedicar exclusivamente à campanha de Jair Bolsonaro. Já em 2022, ele concorreu ao cargo de deputado estadual, mas não foi eleito. “Nos últimos dois anos, o patrimônio do vereador cresceu 25 vezes, segundo suas declarações ao Tribunal Superior Eleitoral”, relata o site DCM, que acrescenta:
“Pelo menos duas vezes, em 2021, ele usou suas falas em plenário para depreciar a sexualidade do governador gaúcho, Eduardo Leite. Na primeira vez ele ironizou o fato de Leite não ter sido convidado para qualquer evento da agenda de Bolsonaro em sua visita à Serra Gaúcha naquele ano. ‘Só falta convidar o gay’, disse. Pouco tempo depois, atacou o governador novamente – ‘o senhor disse que tinha que tirar a bunda da cadeira que as coisas se resolviam. O senhor tirou a bunda da cadeira. Deve ter botado em outro lugar, mas não em função de serviço’, afirmou”.
Sandro Fantinel é um fascistoide convicto, que destila ódio e preconceito. Ele não pode ser naturalizado, como foi no passado outro crápula, que depois virou presidente da República. Suas declarações são racistas, xenófobas e criminosas e ele deve ser tratado como um criminoso. Além da cassação do seu mandato, ele devia ir para a cadeia!
Desde que Dom Phillips e Bruno Pereira desapareceram na região do Vale do Javari, jornalistas e familiares de ambos temiam o pior. Na última quarta, dia 15 de junho,a Polícia Federal confirmou que um dos homens presos pelo crime confessoue apontou o local onde estavam escondidos os corpos. É um desfecho trágico não só para os que amavam Dom e Bruno, mas para todo o país.
Desde que o alerta do desaparecimento foi dado, a atuação do governo brasileiro tem sido vergonhosa, a ponto de acusar ambos de estarem em uma “aventura” e de dizer que o jornalista Dom Phillips era “mau visto” na região. O comentário, feito pelo presidente do país, não surpreendeu ninguém na imprensa brasileira porque o desrespeito ao trabalho dos repórteres (e as instituições de defesa dos direitos humanos) tem sido o modus operandi do bolsonarismo.
Mas ainda assim, esse crime tão bárbaro, tão sem sentido contra duas pessoas que estavam trabalhando deixa todos numa tristeza e num desespero difícil de descrever. É provável que Dom e Bruno tenham sido vítimas do tráfico, mas foram também da desumanização constante do trabalho da imprensa e de defesa dos direitos humanos e de qualquer um que trabalhe pelo avanço do projeto civilizatório.
Isso porque muito embora jornalistas de fato se coloquem em situações de risco –não por aventura, mas obrigação profissional– por muito tempo o colete ou crachá com a indicação IMPRENSA sempre representou uma certa proteção. Não só pela garantia (falsa) de repercussão de casos de violência. Mas porque a compreensão geral da importância do trabalho dos jornalistas sempre criou ambientes de respeito ao trabalho.
A violência contra jornalistas sempre existiu. Pessoas que estão no poder não gostam de serem chamadas a prestar contas, independente de sua ideologia ou afiliação política. No entanto, num passado não tão distante, a agressividade contra jornalistas sempre encontrou resistência.
O ex-presidente Lula, por exemplo, teve que voltar atrás quando tentou expulsar do país um repórter que escreveu sobre seus hábitos etílicos para o New York Times. O ex-governador Roberto Requião enfrentou uma chuva de críticas quando arrancou da mão de um jornalista um gravador. Essas reações detinham acessos mais violentos num país que sempre teve um histórico de matar muitos jornalistas.
Mas desde a ascensão do bolsonarismo o tom dos ataques à imprensa subiu. É parte do discurso violento desse movimento político desacreditar a função social do jornalismo e o trabalho de milhares de repórteres em todo país. Somos “fake news”, “petistas”, tudo menos o que somos de fato: trabalhadores dedicados ao interesse público.
O resultado desse discurso belicoso contra a imprensa é visível na rotina de cada um de nós. Casos de agressão contra jornalistas são diários. Gente que empurra repórter, tenta arrancar das nossas mãos celulares, que impede a atuação dos jornalistas e que agride verbal e fisicamente quem está trabalhando. O registro claro dessa mudança está no documentário Cercados, da Globoplay, feito em 2020. Mas também na mente e na saúde mental de todo jornalista do país.
A violência sancionada contra jornalistas é uma ação que tem efeitos nefastos, porque faz pouco para impedir eventuais erros de conduta dos veículos e donos de veículos, mas estoura na pele do trabalhador que está em campo. Aquele mesmo trabalhador que já lida com salários baixos, com a precarização e com cada vez mais dificuldades na obtenção de informações que deveriam ser públicas. Também afasta jornalistas e outros profissionais de áreas de conflito e de assuntos espinhosos e até mesmo do jornalismo como um todo.
E ela sempre vem acompanhada de uma insistente desumanização do jornalista, uma insistência em colar no trabalho na imprensa rótulos de “mídia golpista”, de “esquerda”, de “petista”, de “doutrinadora”. Essa estratégia, além de mostrar uma certa indigência intelectual dos críticos, que colocam todo tipo de veículo e conteúdo jornalístico ou não num único saco, também é bem sucedida em transformar trabalhadores com histórico de bons trabalhos prestados à democracia brasileira brasileira em uma massa disforme e sem personalidade, a quem é fácil agredir e – estamos vendo – matar.
A Amazônia pode estar distante de Curitiba, mas aqui a violência em todas suas formas prejudica a capacidade de todos os veículos jornalísticos de efetivamente cobrir temas complexos como a segurança pública, a violência de gênero e racial, entre outros. A prática diária do jornalismo está cada vez mais tomada de agressões gratuitas e de lembretes constantes de que no jogo político, o vale tudo inclui o desrespeito à vida de quem reporta os fatos.
É parte do trabalho jornalístico muitas vezes estar ao lado do “outro lado”, aquele que se opõe a quem está no poder, não em apoio a essa oposição, mas como parte do processo de apuração. Assim como é comum que ex-aliados e ex-funcionários descontentes sejam fonte de reportagens. Por questões circunstanciais são pessoas nessas posições que acabam permitindo que a imprensa acesse aquilo que o poder estabelecido não quer que se mostre.
Não é algo exclusivo desses anos sob o governo Bolsonaro. A imprensa esteve e está sempre onde a corda pode estourar. Repórteres de diversos veículos estavam junto aos professores em 29 de abril de 2015 bem como em 30 de agosto de 1988, quando os docentes foram massacrados pelas forças de segurança dos governadores Beto Richa e Alvaro dias, respectivamente. Acompanharam inúmeras ocupações de escolas, protestos de esposas de policiais militares, ocupações urbanas e no campo.
Em 2013, durante a série de protestos violentos em junho, dezenas de jornalistas ficaram feridos ao lado de manifestantes para poder registrar tanto os protestos quanto a reação a eles. A presidente à época era a petista Dilma Rousseff.
Na pandemia, por exemplo, esse acesso à “oposição” foi fundamental na denúncia de problemas graves no atendimento médico durante os piores momentos de transmissão da doença. Mas ultimamente essa relação tão comum e previsível virou plataforma para se acusar a imprensa de ser político partidária e aprofundar uma série de acusações infundadas e extremamente violentas que joga jornalistas na vala comum dos inimigos, junto aos defensores dos direitos humanos (ou defensores de bandidos, para os bolsonaristas) e qualquer um que ouse discordar do projeto radical de destruição do Brasil que estamos vivendo.
A “aventura” de Dom e Bruno era justamente isso: eles estavam junto a povos indígenas tentando documentar a degradação e invasão de terras indígenas por invasores, muitos ligados ao crime organizado. Na denúncia de tais situações, a presença de jornalistas e organizações não governamentais no local do conflito é essencial e sua atuação precisa ser assegurada.
Porém quem estava protegendo ambos eram os indígenas, assim como foram eles que deram o alarme do desaparecimento e procuraram pelos dois desde o primeiro momento, enquanto os órgãos do governo brasileiro relutavam e arrastavam os pés. Não gratuitamente, a coletiva da PF sobre o caso não incluiu nenhum indígena, nem reconheceu o papel fundamental deles nas buscas.
Sem “aventureiros” o apagão da imprensa no país se aprofunda e se perpetua a violência, o bang bang das disputas locais, as ameaças à segurança dos mais fracos e a democracia em geral. O uso da polarização “esquerda – direita” também impede o debate saudável de ideias e serve de escudo de quem não quer discutir o mérito das bandeiras que defende.
O resultado de tudo isso é um empobrecimento do processo democrático, uma incapacidade de diálogo que está transformando governos e casas legislativas em ringues de acusações rasas e debates irrelevantes enquanto problemas reais são deixados de lado.
Do lado da imprensa, o efeito de mais esse crime é devastador. Exaustos do trabalho absurdamente sofrido de cobrir uma pandemia num país em que a anti-ciência ocupou não só o grupo da família no whatsapp, mas o microfone dos principais púlpitos do país, jornalistas do país inteiro vivem a possibilidade da morte de Dom e Bruno como a perda dos últimos fios de segurança que imaginávamos ter.
Caberá a cada um de nós tentar evitar que isso prejudique ainda mais o trabalho de campo da reportagem. Mais uma vez vamos respirar fundo e tentar encontrar forças para seguir em frente. Eu, como muitos jornalistas do país, não conheci pessoalmente nem Dom nem Bruno, mas conheço bem o que os movia. Eram nossos irmãos de trabalho, de luta. Que suas famílias encontrem conforto em tudo que eles representavam de bom para o Brasil e o mundo.
E que nós, jornalistas brasileiros, possamos transformar nossa dor em determinação para seguir trabalhando em direção a um futuro melhor, mais justo e mais civilizado.
“São declarações vergonhosas e verdadeiramente reveladoras de uma parcialidade criminosa, que já foi reconhecida até pelo STF”, disse Marco Aurélio de Carvalho, do Prerrogativas
Após a declaração do ex-juiz e presidenciável Sergio Moro (Podemos), nesta quarta (29), admitindo que a Lava Jato “combateu o PT”, explicitando a atuação política dele e da operação, a hashtag#MoroNaCadeiafoi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter na manhã desta quinta-feira.
Internautas reagiram indignados à confissão do ex-juiz (veja abaixo).
“São declarações vergonhosas e verdadeiramente reveladoras de uma parcialidade criminosa, que já foi reconhecida até pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que trouxe o país à triste realidade dos dias de hoje, deixando um rastro absolutamente significativo de destruição e miséria”, afirma.
“Chegou a hora de Moro prestar contas à Justiça”, destaca. “A gente deseja para ele tudo aquilo que ele negou aos réus que julgou: respeito ao devido processo legal, à presunção de inocência, às regras do jogo democrático. Mas ele precisa responder por cada um dos atos delituosos que praticou a pretexto de combater a corrupção. É um juiz que sujou as mãos de sangue e que sujou a toga que ostentava sobre os ombros”, diz.
Marco Aurélio reafirma que o ex-juiz precisa ser urgentemente responsabilizado pelos crimes que cometeu, pois “corrompeu nosso sistema de Justiça a afetou de forma decisiva a credibilidade do nosso ordenamento jurídico”.
“Sem a proteção da toga, o Moro corre agora um sério risco de responder civil e criminalmente pelos delitos que cometeu na condução da chamada Lava Jato”, acrescenta.
Gleisi
A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, usou as redes sociais para criticarSergio Moro:
“Moro escancara sua parcialidade e confessa que Lava Jato foi pra combater o PT. O projeto político sempre esteve claro, a toga só foi um trampolim”, escreveu a presidenta do PT no Twitter.
“Ajudou a eleger um traste e a destruir o país e agora se apresenta como a solução. Juiz corrupto e cara de pau!”, completou Gleisi Hoffmann.
A confissão de combatente
Durante entrevista à rádio Capital FM, do Mato Grosso, Moro afirmou que não poderia seguir apoiando o governo Bolsonaro e disse a seguinte frase: “Tudo isso por medo do quê? Do PT? Não. Tem gente que combateu o PT na história de uma maneira muito mais efetiva, muito mais eficaz: a Lava Jato”.
A declaração escancara a já explícita atuação política de Moro e dos procuradores que participaram da operação, um caso flagrante de lawfare (guerra jurídica).
[Foi realmente um combate antipetista, eficaz, tanto que prendeu Lula, impossibilitado de ser eleito presidente em 2018. Um golpe eleitoral que elegeu Bolsonaro. Na luta partidária, antipetista, a Lava Jato levou vantagem em tudo. O juiz Sergio Moro era o capo dos delegados da Polícia Federal, dos procuradores do MPF, da maioria dos desembargadores do TRF4, e dos ministos Luízes "In Fux We Trust", "1Barroso Vale 100 PGR" e "Aha Uhu Fachin É Nosso". Uma luta que contou com agentes dos serviços de espionagem dos Estados Unidos. Uma guerra que teve dinheiro de sobra. A "vítima" Petrobras (assim chamada, classificada realisticamente por Deltan Dallagnol) depositou mais 2 bilhões e 500 milhões em uma conta gráfica para o Deltan gastar ao deus-dará. Foi uma guerra muito eficaz: Lula ficou 580 dias preso injustamento. Sentenciado sem prova, por safada convicção de um juiz - que o STF - julgou incompetente, suspeito e parcial. Que no Congresso foi chamado de ladrão]
As ocorrências podem ser tão mais variadas quanto maior o número, que se anuncia alto, de cidades com manifestações programadas.
Em todo esse colar de imprevisões, já têm lugares assegurados três ingredientes solidários: o patético, a mediocridade e o vergonhoso.
É possível, mas sem indício nítido, que os pretendentes ao golpe obtenham o que lhes tem sido a carência impeditiva. Os militares bolsonaristas precisam de um pretexto, sem o qual sobram dificuldades até para conter a oficialidade restante, quanto mais para sustentar-se ante reações externas e o mal-estar interno.
Na atual situação do país, tudo deve ser pensado, creio, a partir desse problema político e técnico.
A agitação de Bolsonaro em Brasília será na parte da manhã. Como programa estar na onda paulista a meio da tarde, só por perda do controle haverá de manhã, em Brasília, ocorrências que o retenham aí. O risco forte chegaria à tarde. De encontro ao dispositivo de defesa que o Supremo e o Congresso consigam montar.
As condições circunstanciais para um golpe já no 7 de Setembro precisariam de ações muito traumáticas do bolsonarismo, em especial nas ditas manifestações de São Paulo e Brasília.
E isso não se limita a arruaças. A provável intenção de Bolsonaro é iniciar uma situação conflituosa que, desenvolvendo-se, dê aos bolsonaristas militares o pretexto para exterminar a democracia “em defesa da democracia”.
É o roteiro Trump, consta que elaborado pelo fascista Stephen Bannon, revisitado pelo discípulo Eduardo Bolsonaro no mês passado.
Trump discursou mandando os apoiadores para o Capitólio com a missão, puxada por incitadores, de deflagrar ali as circunstâncias impróprias para a instalação de um governo inexperiente, em organização, dali a duas semanas.
Se adiada a posse de Biden, que a campanha “Posse dia 20” inviabilizou, estaria dado o grande passo para a “solução pacificadora”: anular a eleição contestada.
Aqui, Bolsonaro começou os ataques à eleição ainda na campanha, o que poderia ser um preparativo a arruaça e a intervenção militar em reação à esperada derrota.
Bolsonaro venceu, mas deixou, para posterior interpretação, os primeiros e inequívocos sinais de que sua candidatura veio de uma articulação externa. Assim como está indiciado sobre a Lava Jato, curitibana nas aparências.
No golpismo de Trump e do caudatário Bolsonaro, a convulsão pode ser vista como o trampolim para o golpe, sendo menos provável converter-se em golpe, propriamente.
Não falta quem anteveja neste 7 de Setembro já o começo da guerra civil. Isso exigiria alguma base armada no lado democrata, que não a tem (por ora?).
O dispositivo militar e policial de defesa da ordem constitucional já mostrou de que lado está: a rigor, é o lado em que esteve sempre que a ordem constitucional, os valores democráticos e os direitos civis foram envenenados —e logo sucumbiram.
Faltam militares e policiais autênticos. Nas instâncias civis, entre os encarregados de representar o Estado de Direito prevalecem a mediocridade, a venalidade política, a corrupção.
No patronato, o acúmulo de riqueza inútil é obsessivo e a indiferença pelos meios é o comum. Para esses segmentos, o país e suas multidões não têm interesse, é indiferente haver democracia ou autoritarismo, avanço ou retrocesso econômico, emprego ou pobreza: eles ganham sempre.
Por mais de dois anos e meio o Brasil vê, inerte, a construção de um golpe. Por criminosos e asseclas. Golpe que o inviabilizará talvez para sempre. Metade, ou mais, da população medianamente informada está aturdida. O país, parado, à espera.