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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

02
Jun23

Bruno e Dom seguem sendo assassinados

Talis Andrade

Quando o indigenista Bruno Pereira foi morto no Vale do Javari, em junho de 2022, os oito povos indígenas contatados da região se fecharam em luto, cada um segundo seu rito próprio. O povo Kanamari fez seu ritual de luto por um ano inteiro, como é costume dele quando morre um parente: os sobreviventes raspam os cabelos, alguns cultivos são interditados, certos tipos de artesanato deixam de ser confeccionados e a memória do falecido é regada com cantos e lágrimas. A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), organização para a qual Bruno trabalhava quando foi assassinado, mudou sua logomarca em sinal de luto. Ela, que antes continha um desenho de montanhas, palmeiras e um pássaro em um círculo, passou a ostentar uma fita preta. Em 5 de junho de 2023, o luto se encerra e a logomarca da Univaja voltará a representar o Vale do Javari. A fita preta vai desaparecer, mas as intensas relações que Bruno construiu com os povos do Javari e de todo o Brasil estarão vivas.

As aldeias Kanamari foram as primeiras visitadas por Bruno quando ele chegou à região de Atalaia do Norte, no estado do Amazonas, em 2010. Ali, teve experiências com a ayahuasca e aprendeu a cantar várias músicas. Uma delas era a canção Kanamari, que entoava no meio da floresta, em imagens que viralizaram quando ele e o jornalista Dom Phillips estavam desaparecidos, naquele terrível junho de 2022. Sentado no chão da mata, ao pé de uma árvore, cantando uma música que fala de uma arara e seus filhotes, com o coro de seus parentes indígenas, Bruno Pereira se tornou conhecido mundialmente. “Warrana-raraê, warrana-raraê”, ele cantava, sorrindo.

BRUNO PEREIRA SEMPRE SONHOU EM TRABALHAR COM POVOS INDÍGENAS. FOTO DO ACERVO DA FUNAI CEDIDA A SUMAÚMA PARA A PUBLICAÇÃO DESTE ARTIGO

 

Aquele canto revelou a beleza, a doçura e o amor pela floresta e pelos povos indígenas que eram a constituição fundamental do nosso amigo grande, forte e bravo. A música virou samba quando a Escola Unidos do Porto da Pedra, do Rio de Janeiro, fez um desfile para lembrar Bruno, Dom, Chico Mendes e Dorothy Stang no Carnaval de 2023. Virou sample na versão de André Abujamra. Foi cantada em um Kadish, prece judaica de luto feita pelo rabino Uri Lam, da Congregação Israelita Templo Beth-El, em São Paulo. E passou a habitar o imaginário popular. A canção Kanamari se tornou uma encarnação de Bruno, uma versão só dele de eternidade.

Bruno Pereira e Dom Phillips se transmutaram em música, em memes, em protestos de rua, em postagens nas redes sociais, em projeções no Big Ben, em Londres. Os dois são lembrados em quase todas as falas da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. Mas não podemos esquecer que eles foram vítimas de um dos crimes mais brutais que o Brasil já presenciou.

 

Hoje, nos meios jurídicos, o processo criminal que trata do assassinato de Bruno e Dom é considerado um dos mais importantes em andamento no país. Uma das estratégias principais da defesa dos assassinos é difamar a memória do indigenista – o que, até agora, parece ter sido bem-sucedido, já que há jornalistas dispostos a reproduzir mentiras e calúnias contra ele. É em defesa do legado de Bruno Pereira que falamos, hoje, para repor a verdade sobre a seriedade de seu trabalho na promoção dos direitos dos povos indígenas, sobretudo dos grupos que vivem em isolamento.

Bruno da Cunha Araújo Pereira passou em um concurso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2010 e foi trabalhar na Coordenação Regional do Vale do Javari. Antes disso, por sete anos, ele havia atuado na região da hidrelétrica de Balbina, no rio Uatumã, nordeste do Amazonas, onde coordenava atividades de reflorestamento. Sempre sonhou em atuar com povos indígenas. No Uatumã, ganhou a experiência de andar na floresta com os mateiros. Bruno não teve dificuldades de adaptação quando chegou a Atalaia do Norte, uma pequena cidade encravada no baixo curso do rio Javari, na foz do rio Itaquaí, fronteira com o Peru. Ao chegar, embarcou em canoas que subiriam os rios rumo às aldeias, contrariando seu chefe à época, que o queria somente na sede, atuando na cidade.

O rio Ituí foi um dos seus primeiros destinos, para visitar as aldeias do povo Marubo. Trabalhava com imensa energia e empolgação – o que manteve até o fim. Tinha alegria em dialogar com indígenas nas aldeias. Quando visitou as comunidades Kanamari, aproximou-se da Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari. Foi o início de sua conexão com o tema dos isolados. O Javari é a região no mundo com o maior número de grupos indígenas que recusam o contato com a sociedade externa. Há 16 registros da presença desses povos, 11 deles confirmados pela Funai. Ainda são necessários mais estudos e expedições com o objetivo de coletar provas irrefutáveis da presença dos demais.

 

O fim do voto de cabresto dos indígenas

 

Em 2012, Bruno assumiu o cargo de coordenador regional do Vale do Javari. Durante os quatro anos à frente da Funai local, ele investiu na fiscalização da Terra Indígena Vale do Javari, chegou a abrir uma nova base de vigilância no rio Curuçá e apoiou irrestritamente a proteção dos territórios dos povos indígenas isolados e dos de recente contato.

Além de priorizar a fiscalização, Bruno realizou proezas como a instalação de seções eleitorais nas aldeias a partir das eleições de 2014. Ele percebeu que a ausência de urnas eletrônicas nas aldeias era um obstáculo para a participação eleitoral dos indígenas. Antes dele, os moradores da terra indígena tinham que descer o rio por dias até Atalaia do Norte, muitas vezes com combustível doado por candidatos interessados nesses votos, reproduzindo a velha prática do voto de cabresto. Os grupos eram transportados das aldeias até a cidade para votar e depois abandonados, sem perspectiva de voltar para casa. Pelo menos três crianças indígenas morreram no porto de Atalaia do Norte após as votações por causa das condições insalubres.

Além de preservar as vidas indígenas, Bruno mudou a composição do Legislativo local. Em 2012, apenas um indígena foi eleito para a Câmara Municipal. Na eleição seguinte, em 2016, seis indígenas se tornaram vereadores, de um total de 11 cadeiras. Um recorde histórico. Hoje, o cartório eleitoral de Atalaia do Norte leva o nome de Bruno Pereira, um reconhecimento do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas.

 

O INDIGENISTA BRUNO PEREIRA, EM 2018, DURANTE TRABALHO DE CAMPO NO VALE DO JAVARI. FOTO: ©GARY CALTON

 

Bruno sempre teve vocação para a gestão. Durante sua passagem pela Coordenação Regional da Funai em Atalaia do Norte, a unidade, que estava sucateada em 2012, quando ele assumiu, se tornou referência no Brasil, como uma das mais eficientes do país. Entre 2016 e 2018, Bruno empreendeu uma série de expedições de localização de indígenas isolados no Vale do Javari. Foram expedições arriscadas, que exigiram muita preparação. Sua mulher, Beatriz Matos, conta que ele passava dias inteiros no escritório da casa deles, em Belém, com um grande mapa do Javari aberto no chão, planejando minuciosamente cada detalhe dos trajetos que percorreria. Essas expedições, fundamentais para a proteção dos isolados porque garantem sua localização e a observação das condições do território, revelam o excelente trabalho de coordenação de campo que Bruno desenvolveu ao longo de sua carreira.

Em 2018, como reconhecimento de seu trabalho e competência, Bruno assumiu, em Brasília, a Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, responsável pela política pública direcionada a esses povos e por gerir as 11 Frentes de Proteção Etnoambiental, unidades dedicadas exclusivamente a esse tema. No cargo, Bruno e sua equipe criaram o Programa Korubo, iniciativa de vanguarda que visava organizar e sistematizar uma ação indigenista específica para povos de recente contato. Também nesse período foi publicada a Portaria Interministerial nº 4.094, da Funai e do Ministério da Saúde, com normas e métodos para a atuação de servidores em situações de contato com povos isolados e no caso de surtos epidêmicos nessas populações. A portaria foi crucial para nortear os planos de contingência elaborados durante o enfrentamento da pandemia de covid-19. Foi nesse contexto que Bruno organizou a maior expedição de contato já feita nas últimas décadas no Brasil.

O indigenista coordenou, em 2019, a busca para contatar um grupo Korubo que vivia em isolamento, mas se aproximava de aldeias dos Matis, com risco iminente de novos conflitos. A expedição, com controle total dos riscos de saúde e sem nenhum incidente ou contaminação grave, foi considerada uma das mais bem-sucedidas da história do indigenismo brasileiro. Até sobre isso os assassinos de Bruno inventam mentiras. A Funai teve que publicar uma nota, no último dia 17 de maio, para desmentir que tenham ocorrido mortes durante a expedição [continua]

 

MOBILIZADOS EM ATALAIA DO NORTE, INDÍGENAS DEFENDIAM SEUS TERRITÓRIOS E BUSCAVAM RESPOSTAS PARA O DESAPARECIMENTO DE BRUNO E DOM. FOTO: PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS

 
23
Jul22

Caso Bruno e Dom: 10 perguntas que a denúncia deixa no ar

Talis Andrade

Caso Bruno e Dom: 10 perguntas que a denúncia deixa no ar

Já aceita pelo juiz Adriano Verli, da Vara Federal Cível e Criminal de Tabatinga (AM), a peça acusatória dos procuradores afirma que os réus já presos agiram por motivo fútil.(Fotos: José Medeiros/Agência Pública; Reprodução TV Globo e Avener Prado/Agência Pública)

 

Por Cicero Pedrosa Neto /Amazônia Real

Belém (PA) – Finalizada com a data de 21 de julho e aceita já nesta sexta-feira (22) pela Justiça Federal de Tabatinga, a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) deixa pelo menos dez perguntas no ar em relação aos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips. Pela denúncia, os réus Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, Oseney da Costa de Oliveira, seu irmão, e Jefferson da Silva Lima cometeram o duplo homicídio por “motivo fútil, mediante emboscada”. O motivo, segundo o MPF, seria o pedido do indigenista para que o jornalista britânico tirasse uma foto de “Pelado”, um dia antes, ou mesmo uma imagem tirada pelo indigenista no dia do crime.

Pela narrativa construída pelos procuradores da República Nathália Geraldo de Santo, Samir Cabus Nachef Júnior, Edmilson da Costa Barreiros Júnior, Bruno Silva Domingos e Ricardo Pael Ardenghi, “Pelado” e Jefferson teriam decidido matar o indigenista Bruno e o jornalista Dom Phillips acabou sendo morto “para assegurar a ocultação e a impunidade” pelo primeiro crime.

O juiz Adriano Verli, da Vara Federal Cível e Criminal de Tabatinga (AM), aceitou a denúncia do MPF e tornou réus Amarildo, o “Pelado”, Oseney e Jefferson. Eles já estão presos e vão responder pelos crimes de duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver. 

Na confissão, os réus informaram que Bruno foi atingido por pelo menos dois tiros, enquanto estava de costas, e um derradeiro, no rosto,  enquanto Dom, por apenas um disparo.  Segundo a perícia, os corpos dos dois foram esquartejados, queimados e enterrados em solo argiloso da região, com a participação de parentes e outras pessoas identificadas na denúncia, mas que não foram acusadas ainda. De acordo com o MPF, outras investigações serão conduzidas “a fim de esclarecer a autoria e participação dos demais agentes na prática da ocultação dos cadáveres e do próprio homicídio”. 

A denúncia do MPF cita os nomes de “Sirinha”, Edvaldo, “Guerão” e “Patuti”, que seriam os “demais agentes” envolvidos no caso. Sirinha é Elicley Oliveira da Costa e irmão de “Pelado”; enquanto Papa é cunhado dele, casado com a sua irmã Bete.

 

Dúvidas em aberto

Comunidade de São Rafael em Atalaia do Norte (Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real)

A reportagem da Amazônia Real, que acompanha o caso desde o princípio, esmiuçou a denúncia do MPF, ancorada nas investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e Polícia Civil do Amazonas, e a confrontou com base nas entrevistas feitas com suas fontes ao longo da cobertura jornalística. A peça acusatória aceita pela Justiça Federal é baseada quase que exclusivamente na confissão de um criminoso. A agência considera que ainda existem lacunas em aberto não resolvidas. São elas:

  1. A denúncia cita a perseguição da fiscalização da EVU a “Pelado”, numa lancha motor 60 HP, no rio Itacoaí, por volta das 5h40 do sábado, 4 de junho. O réu estava acompanhado de mais dois homens: Franciney Lopes Andrade e Elicley, respectivamente padrasto e irmão de “Pelado”. Os três apontaram espingardas para Bruno e Dom, segundo relato de uma testemunha à Amazônia Real.  A denúncia afirma que Bruno filmou essas ameaças e que Jefferson confirmou o caso. Bruno levaria a denúncia no dia 6 à Polícia Federal (PF), com sede em Tabatinga (AM). Em depoimento, “Pelado” conta outra versão sobre esses fatos. Isso não indicaria que o crime foi premeditado?  
  1. No domingo, 5 de junho, Bruno e Dom visitaram a comunidade São Rafael para uma reunião previamente marcada com Manuel Vitor Sabino da Costa, o “Churrasco”, que é tio do “Pelado”, mas ele não foi encontrado na comunidade. A preparação da emboscada aconteceu após a visita a São Rafael? A denúncia do MPF cita a palavra “emboscada”, mas não a descreve em detalhes.
  1. Segundo Jânio Freitas de Souza, o indigenista e o jornalista estiveram na comunidade por volta das 7h20 (9h20 no horário de Brasília) de domingo (5). Conforme Jânio, Bruno estava “avexado” (apressado) porque tinha uma reunião em Tabatinga com a PF [onde entregaria as provas, filmagens de Dom, de crimes ambientais de “Pelado”. Logo após essa visita, Bruno e Dom foram assassinados. Eles deveriam chegar em Atalaia do Norte às 8 horas. Que horas ocorreram as mortes?
  1. Onde estão o celular, o notebook e a câmera fotográfica do jornalista britânico Dom Phillips? Uma testemunha disse à reportagem que Dom registrou a rotina e as imagens dos indígenas da EVU para seu livro no período em que esteve acompanhando o trabalho da equipe. Onde foram parar esses registros? A morte do Dom foi pelo chamado “dano colateral”?
  1. Por que o MPF denunciou apenas três pessoas, ignorando as que ajudaram a ocultar os corpos queimados e esquartejados de Bruno e Dom? As pessoas que estão em liberdade por determinação da Justiça Federal passaram quatro horas cuidando da ocultação. São: Edivaldo, Elicley Oliveira da Costa, o “Sirinha”, Otávio, o “Guerão”, e “Patuti”. Segundo o delegado da PF Eduardo Fontes, todos são do “clã da família do Pelado”.  
  1. Por que o peruano Rubem Dario da Silva Villar, o “Colômbia”, comerciante da pesca e suspeito de ser o mandante dos crimes, preso por documento falso no dia 7 de julho, sequer foi citado na denúncia do MPF, embora ele seja um nome diversas vezes citado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja)?
  1. Afinal de contas, a PF conseguiu esclarecer quem é o “Colômbia”, o seu nome real, e qual é a sua nacionalidade? 
  1. Por que só na data de 22 de julho a PF fez buscas e apreensão de documentos na casa de “Colômbia”? Segundo testemunhas, o comerciante tem uma residência na cidade de Benjamin Constant, no Amazonas, vizinha de Atalaia do Norte, e seus parentes fugiram para o Peru após sua prisão 15 dias atrás.  
  1. Por que as relações entre pescadores ilegais, traficantes e invasores da Terra Indígena Vale do Javari e políticos da região nunca foram levadas a sério nas investigações? E também por que as investigações ignoraram inúmeras denúncias e mais relatos testemunhais dos indígenas, que acompanharam Bruno Pereira e Dom Phillips o tempo todo?
  1. Por que procuradores das cidades de Atalaia do Norte e de Benjamin Constant chegaram a participar da defesa dos agora réus no caso dos assassinatos?

 

“Tira a foto dele”

Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari (Foto Gary Carlton/The Observer)

Para acusar Amarildo e Jefferson, o MPF se baseou na confissão deles como executores do crime na manhã do dia 5 de junho. Já a participação de Oseney, o “Dos Santos”, irmão de “Pelado”, é sustentada por menções feitas a ele no depoimento de testemunhas, cujos nomes foram preservados tanto pela investigação quanto pela denúncia do MPF.

O que chama a atenção na denúncia é que os procuradores dão crédito ao inquérito da PF, apontando que o motivo para o crime foi simplesmente porque o indigenista Bruno teria dito a Dom Phillips: “Tira a foto dele”, referindo-se a “Pelado” na manhã do sábado, 4 de junho, e “esse é o bote do invasor”, no dia 5, quando o indigenista passou na frente da comunidade do acusado, e tirado uma foto do barco.

A primeira frase, segundo “Pelado”, conforme consta na denúncia do MPF, teria sido dito por Bruno na varanda da casa de Raimundo Bento da Costa, o Raimundinho (tio de “Pelado”), onde o indigenista e Dom pernoitaram. No entanto, no início da manha do dia 4, “Pelado” e outras duas pessoas cruzaram com Dom e Bruno e com indígenas da EVU no rio, e fizeram ameaças exibindo armas em tom ameaçador. Neste momento, Dom fotografou “Pelado” e seus acompanhantes. Segundo a fonte da Amazônia Real, “Pelado” não falou com Bruno na varanda da casa de Raimundinho.

Embora o indigenista e “Pelado” tenham tido conflitos antigos – e frisado na denúncia do MPF -, era comum que a base da EVU ficasse ancorada no trapiche (porto) por questões logísticas, em frente à casa de “Raimundinho”. A distância entre a embarcação da EVU e a casa de Raimundinho era de centímetros porque o nível do rio Itacoaí estava cheio naquele período (início de junho).

Segundo a testemunha – que estava com Bruno e Dom nos dias que antecederam o assassinato – ouvida pela Amazônia Real sob a condição de não revelar seu nome, temendo mais ameaças, todos os dias em que a base da EVU esteve neste local “Pelado” foi avistado pela equipe, ora sozinho, ora acompanhado por outros pescadores ilegais de pirarucu e tracajá, prática vigiada e frequentemente denunciada pela EVU e por Bruno Pereira.

“Quando o rio está alagado, a gente costuma deixar o canoão da EVU na frente da casa do Raimundinho. Foi de lá que a equipe [de vigilância da Univaja] avistou “Pelado” na quinta e na sexta”, afirmou a testemunha.

Segundo pessoas ouvidas pela reportagem em Atalaia do Norte, Bruno mantinha boa relação já há alguns anos com Raimundinho. E era justamente o irmão de Raimundinho, Manuel Vitor Sabino da Costa, conhecido como “Churrasco”, que Bruno deveria encontrar na comunidade São Rafael – último lugar onde a dupla foi vista antes da emboscada, como narrado na reportagem “Os minutos finais de Bruno e Dom em São Rafael”, publicada pela Amazônia Real.

Conforme essa testemunha, no sábado seguinte (um dia antes do assassinato), por volta das 5h30, Bruno, Dom e membros da EVU partiram em direção à base da Funai para pedir ao técnico responsável do órgão que avisasse a Força Nacional sobre a presença de “Pelado” naquelas imediações, considerando se tratar da TI do Vale do Javari. No caminho, encontraram “Pelado”, que estava acompanhado de mais dois homens: Franciney Lopes Andrade e Elicley, respectivamente seu irmão e padrasto. Eles estavam em duas embarcações: “Pelado” e o irmão em uma balieira, embarcacão típica da região, equipada com um motor 60 HP, e Franciney em um barco de pesca de pequeno porte. Ao cruzar com a equipe no rio, “Pelado” e Elicley teriam levantado armas em direção ao grupo em tom de ameaça.

“Era como se eles estivessem ameaçando a gente porque ele [o “Pelado”] sabia que a gente estava indo na base da Funai”, afirma a testemunha ouvida pela reportagem.

A testemunha não sabe informar se Vitor (como se chamaria o técnico da Funai com quem Bruno esteve em contato na base) tomou alguma providência. 

No dia do crime, por volta das 7 horas, “Pelado” e Bruno se cruzaram mais uma vez, antes da emboscada. Na ocasião, o indigenista chegou a tirar uma foto da embarcação de “Pelado” e ainda descreveu a imagem como “esse é o bote do invasor”. E, segundo o MPF, esse foi o estopim para que “Pelado” dissesse a Jefferson: “Lá vai o cara, bora matar ele?”. 

A Amazônia Real tentou contato com o advogado Edilson Tananta, que representa Amarildo dos Santos (o “Pelado”), mas até o fechamento desta reportagem não houve resposta.

 

Veja o que diz a Univaja

Eliésio Marubo, advogado da Univaja, divulgou vídeo criticando o desfecho do inquérito e o teor da denúncia do MPF. Ele disse que o inquérito deixou de considerar informações de suma relevância.

“A autoridade não indicou quem é de fato o mandante. Nós entendemos que há mandante. Há informações que indicam participação de outras pessoas, como uma quadrilha e como mando. É necessário que a autoridade dê as respostas não só para as famílias das vítimas, mas para sociedade e paro mundo que tem acompanhado esse caso horrendo na nossa região”, disse ele (veja vídeo acima).

 

Motivo fútil?

Policiais federais com os restos mortais de Dom Phillips e Bruno Pereira (Foto: Avener Prado/Agência Pública)

A tese de um crime por motivo fútil é mais um capítulo de açodamento com que esse caso vem sendo conduzido pelas autoridades, a despeito de todas as evidências de que houve um crime premeditado, conforme narrado pela Amazônia Real ainda na terça-feira, dia 7 de junho, e nos dias seguintes. 

O desaparecimento de Dom e Bruno foi informado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) ainda em 6 de junho.  Pressionado, o governo federal enviou equipes da PF, da Marinha e do Exército, que só foram a campo a partir do dia seguinte. O Ministério Público Federal também dizia estar monitorando o caso.

“Pelado” foi preso no dia 8 de junho. Mas os corpos de Bruno e Dom só foram encontrados uma semana depois, quando decidiu confessar o crime. No dia 17 de junho, a Superintendência da PF, em Manaus, emitiu uma nota afirmando que “as investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”.

A nota da PF foi duramente criticada, já que as investigações, que àquela altura ainda estavam no início, descartavam outras hipóteses para o crime. A tese de não haver indícios da existência de um mandante para o assassinato foi reforçada pelo superintendente da PF, Eduardo Fontes, em audiência pública ocorrida no dia 12 de julho, na Câmara Federal, no âmbito da Comissão Temporária Externa que acompanha as investigações do duplo assassinato. 

Nesta sábado (23), a Polícia Federal informou que transferiu os réus Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos” e Jefferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, do sistema prisional de Tabatinga para Manaus. Na capital amazonense, já estavam na cadeia da PF desde o dia 9 de julho, “Pelado” e “Colômbia”, que cumpre preventiva por falsificação de documentos. Após serem apresentados no Instituto Médico Legal (IML) para o exame de corpo de delito, “Colômbia” e “Pelado da Dinha” serão transferidos para o sistema prisional de Manaus. Os irmãos “Pelado” e “Dos Santos” continuaram presos na cadeia de PF.(Colaboraram Elaíze Farias, Kátia Brasil e Eduardo Nunomura)

 

12
Jul22

Entenda por que Bruno e Dom eram cabras marcados para morrer

Talis Andrade

Atos pelo Brasil cobram justiça por Bruno, Dom e Maxciel e | GeralMarcha indígena leva “um dia de garimpo ilegal” para a Esplanada dos  Ministérios – Observatório da MineraçãoAbril indígena ocupa Brasília | IELA - Instituto de Estudos  Latino-AmericanosPresidente da Funai precisa sair já - 22/06/2022 - Opinião - Folha

 
É preciso acabar com a máquina de guerra instalada no Vale do Javari contra o meio ambiente e os povos originários. Bruno e Dom: presentes!
 
 
11
Jul22

Quem mandou matar pode ser a personalidade que demitiu Bruno Pereira da Funai

Talis Andrade

O Brasil deixa morrer seus defensores! - Fenasps

 

Polícia Federal anunciou que não teve mandante os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips. 

Primeiro a PF devia investigar que poderosa e odienta figura pediu o afastamento ou a demissão de Bruno Pereira da Funai. 

Quem pede a cabeça de um funcionário por vingança pode muito facilmente contratar um pistoleiro de aluguel no abandonado Vale do Javari sem lei, onde impera o mando dos traficantes de coca, de armas, de ouro principalmente, e de madeira nobre, de pedras preciosas e de minérios. 

Quem mandou demitir ou afastar Bruno Pereira do serviço público? O presidente da República, o ministro da Justiça e Segurança Pública, o ministro do Meio Ambiente, o presidente da Funai?

A Polícia Federal tem a resposta. 

 

Indigenista foi demitido da Funai após denunciar garimpeiros

 

Escreve Ana Mendonça, in Estado de Minas:

O indigenista Bruno Araújo foi exonerado da Fundação Nacional do Índio (Funai) depois de coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros da terra indígena Yanomami, em Roraima.

Segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), onde Bruno trabalhou depois da exoneração, ele foi demitido do cargo sem qualquer tipo de justificativa interna.

Bruno era o responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai até outubro de 2019.

O caso aconteceu depois da eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em seguida, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier Silva assumiu a presidência da fundação, apoiado pela bancada ruralista.
 
A exoneração foi assinada pelo então secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública Luiz Pontel. No lugar de Pereira, o missionário evangélico Ricardo Lopes Dias foi nomeado e ficou apenas nove meses na posição.

Depois de ser afastado do cargo, Bruno assumiu uma função na Univaja, onde ele seguiu fiscalizando a região, que é constantemente atacada por garimpeiros, madeireiros e pescadores, ao lado dos indígenas.
O FISCAL do IBAMA
@fiscaldoibama
Ontem o fantástico mostrou q uma QUADRILHA de GARIMPEIROS movimentou R$ 16 BILHÕES desde 2019. Nesse FIO mostrarei que governo federal, municipal, o legislativo e as forças armadas AJUDARAM a quadrilha, desmobilizando a fiscalização ambiental e ficando do lado dos BANDIDOS 
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18
Jun22

Última operação de Bruno enfureceu garimpo e fez Funai travar grandes ações

Talis Andrade

Operação em 2019 desmantelou garimpo e destrói 60 balsas no Vale do Javari - FunaiOperação em 2019 desmantelou garimpo e destrói 60 balsas no Vale do Javari. Última ação da Funai para proteger os povos isolados na imensidão e abandono do Vale do Javari. A última missão de Bruno Araújo que lhe custou o emprego na Funai e a vida

 

por Carlos Madeiro /UOL

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Em 13 de setembro de 2019, quando ainda era coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai (Fundação Nacional do Índio), Bruno Araújo Pereira coordenou uma megaoperação no sudoeste do Amazonas que resultou em perdas consideráveis para o garimpo ilegal.

Quinze dias depois, Bruno foi demitido do cargo de coordenador geral. A operação foi um divisor de águas na mudança de rumo da política da Funai. O órgão não realizou mais nenhuma grande ação na região, que sofre também com invasões de caçadores e pescadores ilegais, além de madeireiros e até narcotraficantes.

 

Ação e reação

 

A operação Korubo reuniu cerca de 60 agentes da Funai, Polícia Federal e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e enfraqueceu o garimpo na área com a destruição de 60 balsas que atuavam ilegalmente no rio Jandiatuba. A área fica dentro da Terra Indígena Vale do Javari, onde vivem 19 povos indígenas isolados —o nome Korubo faz referência a um destes povos.

Depois da operação, os garimpeiros aumentaram a pressão sobre a Funai, articulando um lobby pela demissão de servidores que estavam comandando ações desse porte na Amazônia —o que incluía Bruno e servidores de outro órgãos, como Ibama e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

O UOL perguntou à Funai se a demissão de Bruno foi motivada pela operação, mas o órgão não respondeu. Apenas alegou que "os cargos em comissão e as funções de confiança são de livre nomeação e exoneração por parte do gestor".

Segundo entidades da região, Bruno foi exonerado do cargo de coordenador-geral por perseguição, justamente por ter atuado pela proteção ao Vale do Javari. Após deixar a função, ele reassumiu o cargo efetivo de agente de indigenismo. Ao perceber que a Funai não iria mais atuar na defesa dos indígenas da região, ele pediu licença sem vencimentos em 29 de janeiro de 2020, para atuar na proteção de indígenas fora do órgão.

 

Garimpeiros enfurecidos

 

A coluna teve acesso a vídeos dos garimpeiros da região, que reclamaram de uma suposta truculência durante a operação Korubo e da destruição dos barcos.

"Eles estão no direito deles, mas humilharam todo mundo, colocaram todo mundo quase pelado, jogaram as coisas do outro lado do rio. Tivemos de atravessar o rio nadando", conta um dos garimpeiros que perdeu a balsa queimada pelos agentes do governo.

Em outro vídeo, garimpeiros vão até o local onde as balsas foram queimadas para conferirem a destruição. O vídeo, publicado no YouTube, é repleto de mensagens de apoio aos garimpeiros.

"Muito triste ver essa cena", diz um deles. "O Brasil tem muito a aprender", diz outro. "Sonhos queimados e esperanças resumidas a cinzas", afirma um segundo usuário. "Infelizmente esse sistema corrupto assola nosso país", comenta outra pessoa.

 

Reuniões com o governo

 

Em 16 de setembro de 2019, três dias após a operação no Javari, representantes do garimpo foram recebidos pelos então ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, além de outros integrantes do governo. Um segundo encontro foi marcado para o dia 8 de outubro, com a participação do então ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.

Uma carta obtida pela coluna prova que eles iriam se reunir e até adiaram o encontro marcado pare que Freitas participasse. A coluna não conseguiu confirmar se a reunião realmente aconteceu.

 

Carta anu - Reprodução - Reprodução

Carta anuncia encontro com integrantes do governo cinco dias antes da demissão de Bruno Imagem: Reprodução

 

O grupo era liderado por garimpeiros da região do Tapajós, no Pará, que também tiveram maquinário destruído por atividades em terras indígenas e chegaram a fechar por quatro dias a BR 163 em protesto contra a intensificação das fiscalizações na área.

Entretanto, os pedidos dos garimpeiros foram além da área e incluíram toda a Amazônia.

Hoje, um projeto que está parado na Câmara tenta liberar as atividades em terra indígena —o que é reprovado até pela entidade oficial da mineração no país.

 

Sem Bruno, sem grandes ações

 

Depois da saída de Bruno Pereira, a coordenação dosindígenas isolados foi entregue ao pastor Ricardo Lopes Dias, que tinha trabalhado em uma missão evangelizadora americana criticada por caciques do Amazonas.ricardo-20lopes-20dias.png

Pastor Ricardo Lopes Dias coordenar geral dos índios isolados, indicado pela ministra Damares, tomou o lugar de Bruno na Funai

 

Foi a partir desse momento que, segundo alegam as entidades indigenistas, o governo começou a mudar a forma de atuação na Funai. As entidades afirmam que o órgão passou a se alinhar ao discurso do presidente Jair Bolsonaro e ser permissiva à exploração de minérios na área indígena.

O MPF (Ministério Público Federal) no Amazonas, inclusive, precisou entrar com uma ação civil pública no final de 2019, cobrando o reforço às frentes etnicoambientais de proteção a isolados na região do Vale do Javari, que foram paulatinamente sendo   enfraquecidas ao longo dos últimos anos. O reforço, porém, não foi feito.

Após pedir licença da Funai, Bruno passou a atuar junto com a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) e a realizar, com a entidade, o trabalho de proteção da área e orientações de sustentabilidade ambiental com o povo que vive no entorno da terra.

 

Helicóptero do Ibama ajudou na operação de setembro de 2019 - Ibama - Ibama

Helicóptero do Ibama ajudou na operação de setembro de 2019 Imagem: Ibama

 

Segundo Francisco Loebens, integrante no Amazonas da equipe de apoio a povos livres do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), ligado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a operação foi importante para mitigar a invasão de garimpeiros na TI Vale do Javari.

"A operação teve a participação ativa de Bruno na sua articulação e foi motivada sobretudo pela denúncia de um possível massacre praticado por garimpeiros contra indígenas isolados, conhecidos na região por flecheiros, que habitam essa área", afirma.

Segundo ele, a demissão causou "estranheza" porque Bruno era reconhecidamente "uma das pessoas mais qualificadas da Funai e respeitado por sua dedicação à proteção dos povos isolados".

Com a saída de Bruno, a proteção aos indígenas isolados foi reduzida, segundo Francisco e outros servidores e indigenistas ouvidos pela coluna. Um dos pontos citados é que operações como a Korubo não foram mais realizadas desde então.

Em 2019 houve, inclusive, um corte grande nos recursos para a atuação da Funai em relação aos povos indígenas isolados

Francisco Loebens, Cimi

 

Terra no Vale do Javari, alvo de diversos tipos de ataque - Funai - Funai

Terra no Vale do Javari, alvo de diversos tipos de ataque Imagem: Funai

 

Com a entrada do pastor, diz, mudou completamente a forma como a coordenação da Funai atuava na proteção de povos isolados.

"A preocupação era com a conquista espiritual dos indígenas isolados. As bases de proteção etnicoambiental da Funai passaram a atuar em precaríssimas condições. A direção da Funai passou a agir abertamente contra os direitos indígenas —perseguição, tentativas de criminalização de lideranças indígenas e de servidores do órgão indigenista que atuavam em defesa dos direitos indígenas", diz.

A partir daquele momento, o lobby a favor do garimpo só ganhou força na região. Por várias vezes, a imprensa nacional e internacional noticiou invasão de áreas, com destaque para a terra ianomami, em Roraima.

"Houve uma omissão total na demarcação e proteção dos territórios indígenas. Enfim, a Funai passou a ser a Fundação Nacional Anti-Indígena", finaliza Francisco.

17
Jun22

Morte de Dom e Bruno deixa imprensa de luto e em alerta

Talis Andrade

 

 

 
16
Jun22

A atuação de Carla Zambelli na defesa de atividades ilegais na Amazônia

Talis Andrade

E o Troféu Pinóquio vai para... - Angelo Rigon

Três dias após o desaparecimento de Bruno e Dom, Carla Zambelli apresentou um PL para minimizar pena por crime ambiental

 

Após ser pega na mentira, Zambelli é detonada nas redes - Brasil 247

15
Jun22

Jornalista inglês era “malvisto” na região amazônica, diz Bolsonaro

Talis Andrade

 

Presidente ainda chamou de “excursão” a viagem do profisisonal e do indigenista e afirmou que tudo indica que os dois foram mortos

 
 
 
O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta quarta-feira (15/6), que o jornalista britânico Dom Phillips, desaparecido há 11 dias, no Amazonas, era “malvisto” na região amazônica em razão de seu trabalho profissional. Dom produzia matérias investigativas sobre garimpo ilegal e a defesa ambiental. Ele e o indigenista Bruno Pereira desapareceram em 5 de junho, na região do Vale do Javari.
 

“Esse inglês era malvisto na região, fazia muita matéria contra garimpeiro, questão ambiental, então aquela região bastante isolada muita gente não gostava dele, devia ter segurança mais que redobrada consigo próprio. E resolveu fazer uma excursão. Não sabe se alguém viu e foi atrás dele, lá tem pirata no rio, tem tudo. É muito temerário você andar naquela região sem estar preparado fisicamente e também com armamento devidamente autorizado pela Funai, que pelo que parece não estavam”, disse Bolsonaro em entrevista à jornalista Leda Nagle.

O mandatário ainda afirmou que tudo indica que os dois foram mortos: “Você pode ver, pelo que tudo indica, mataram os dois, espero que não, estão dentro d’água, e dentro d’água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha no Javari. A gente lamenta, pede que nada tenha acontecido”.

Segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), a dupla se deslocava com o objetivo de visitar a equipe de vigilância indígena que atua perto do Lago do Jaburu. O jornalista pretendia realizar entrevistas com os habitantes daquela região.

Nessa terça-feira (14/6), o Metrópoles revelou que durante a gestão do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a Funai retirou armas de fogo que estavam em ao menos uma das bases de proteção do órgão na Terra Indígena (TI) Vale do Javari. A informação foi repassada por duas entidades locais, e confirmada por um servidor do órgão, que pediu para não ser identificado por medo de represálias.

Ainda na noite de terça, a Defensoria Pública da União (DPU) teve pedido acolhido pela Justiça Federal (14/6) para que a Funai providencie medidas de segurança pública a seus servidores e aos povos indígenas no Vale do Javari.

Caso Dom e Bruno: O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou hoje a comentar o desaparecimento do repórter Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo na área do Vale do Javari, no Amazonas —a dupla está sumida há dez dias. Em entrevista ao canal da apresentadora Leda Nagle no YouTube, o governante afirmou que o jornalista britânico era "mal visto na região" por fazer "muita matéria contra garimpeiro" e/ou com foco em conflitos ambientais. No UOL News, a colunista Madeleine Lacsko fala sobre o caso e vê "desinformação típica" #UOLNews

14
Jun22

Por que Bolsonaro e Moro têm responsabilidade no que aconteceu com Bruno e Dom

Talis Andrade

www.brasil247.com - Bruno, Dom, Moro e BolsonaroBruno, Dom, Moro e Bolsonaro (Foto: Funai | Reprodução/Twitter | REUTERS/Adriano Machado | REUTERS/Ueslei Marcelino)

 

Bruno era importante quadro da Funai e foi afastado pelo braço direito de Moro depois de contrariar diretriz de 'passar a boiada' de Bolsonaro golpista -- o que o fez alvo fácil de chacais. Exonerado após participar de ações legais contra interesses de quem viola leis ambientais e de proteção aos indígenas

07
Jun22

Por que o governo Bolsonaro demorou a procurar jornalista e indigenista desaparecidos na Amazônia do Marco Legal?

Talis Andrade

Image

Eliane Brum
@brumelianebrum
O que vocês entendem desta declaração oficial do Comando Militar da Amazônia? "...o Comando Militar da Amazônia (CMA) está em condições de cumprir missão humanitária de busca e salvamento, contudo as ações serão iniciadas mediante acionamento por parte do Escalão Superior."Image
Bernardo Mello Franco
@BernardoMF
Antes tarde do que ainda mais tarde
talisandrade
@talisandrade2
Tudo depende da burocracia. Presidente autoriza o ministro da Defesa que autoriza o comandante do Exército que autoriza o Comando Militar da Amazônia que autoriza fulano que autoriza sicrano que autoriza beltrano que autoriza fuão...
Eliane Brum
@brumelianebrum
Alesandra Sampaio, esposa de Dom Phillips, faz um apelo às autoridades brasileiras.

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