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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

14
Nov23

A “guerra” é o colonialismo continuado por outros meios

Talis Andrade
 

 

Não estamos falando do direito à defesa. Mas de uma política sistemática de extermínio, uma limpeza étnica justificada com uma mentira e a conivência silenciosa das democracias liberais

08
Nov23

A guerra de Israel contra a infância

Talis Andrade
Banksy

 

Os que sobrevivem, muitos deles feridos e mutilados, vivem com o terror de verem seus amiguinhos mortos, esmagados sob os escombros.

Israel quer inscrever nas mentes dos palestinos as imagens da morte brutal das crianças para que estes nunca se esqueçam de que devem obedecer ao mando e à vontade de tão feroz punidor. A principalidade desta guerra não se radica em motivações econômicas ou políticas, mas puramente na vendeta cruel.

Na vendeta israelense, os aspectos políticos e jurídicos da guerra são ignorados. Israel move esta guerra desconsiderando o direito internacional, a Carta de Direitos da ONU, os tribunais internacionais e a própria regulamentação dos crimes de guerra. Israel se move pelo puro desejo de matar, de derramar sangue inocente, como forma de punir os supostos e os reais culpados. Para Israel, todos os palestinos são culpados e o Hamas é o especificamente culpado.

Somente portadores de vontades totalitárias se entregam a guerras de vingança. Os inimigos dos vingadores são reduzidos a meros instrumentos, são desumanizados, coisificados para que seus corpos fiquem inteiramente disponíveis aos designíos da vontade absoluta de dispor totalmente do outro.

É espantoso que os líderes ocidentais aceitem esta guerra de vingança de Israel sob a falsa cobertura do seu direito de se defender. Ninguém nega esse direito. Mas esse direito foi transformado em autorização sem limites para assassinar crianças, mulheres, idosos e civis. Foi transformado em direito de assassinar a infância e a inocência.

O que querem as crianças palestinas? Querem simplesmente viver, brincar, se divertirem. Tudo isso lhes foi roubado, como foram roubadas as terras de seus antepassados. Os que sobrevivem, muitos deles feridos e mutilados, vivem com o terror de verem seus amiguinhos mortos, esmagados sob os escombros.

O que querem as mães palestinas? Querem ver os seus filhos alegres brincado entre oliveiras, apanhando as olorosas romãs orvalhadas, crescerem felizes e seguros. Mas o que veem as mães palestinas? Décadas de tormentos, de deslocamentos, de perda das terras e das casas. Veem seus filhos amedrontados. E agora precisam retirar seus filhos feridos ou mortos de sob os escombros, removendo blocos e lajes despedaçados pelas bombas com suas próprias mãos. Não ouvem risadas e vozes felizes. Ouvem gritos de dor, os terríveis lamentos dos que choram seus mortos e olham os riachos de sangue dos seus filhos escorrendo nas ruas, entre ferro retorcido, cimento transformado em pó.

As crianças sobreviventes, milhares delas feridas, não encontram nem o peito e nem o colo de suas mães. Não ouvem canções de ninar para dormir. Ouvem apenas gritos de desespero de desconhecidos e o barulho horripilante da tempestade de fogo e bombas que vem dos céus.

Como pode isto acontecer? Como podem os líderes ocidentais deixar que isto aconteça? Não estão apenas deixando. São cúmplices desses crimes impiedosos.  Suas almas estão apodrecidas e exalam a mesma podridão da civilização ocidental judaico-cristã. Esta mesma civilização que assassinou os princípios de justiça que estavam nas bases dos textos religiosos.

Esta mesma civilização judaico-cristã que é cínica e covarde. Que assassinou e exterminou povos originários em quase todo o mundo. Que roubou riquezas em todos os lugares. Que sequestrou os africanos para escravizá-los, açoitá-los e assassiná-los nas Américas. Essa mesma civilização que ergue seus impérios de riquezas à custa do suor e do sangue dos trabalhadores. Esta mesma civilização que, com sua sede assassina insaciável, extermina as espécies e destrói a natureza.

É o cinismo putrefato desta civilização que ceifa a cabeça do universalismo, que decapita os direitos humanos, que debocha do direito internacional. Esta civilização é a mentora do assassinato de crianças, mulheres e idosos em Gaza. Qualquer população atacada pelas guerras, geralmente tem lugares para fugir. Em Gaza não. Em Gaza tudo está fechado. Em Gaza, a única alternativa é morrer. Ali morrem mães que só queriam acalentar seus filhos e morrem crianças que só queriam viver.

Gaza e a falência moral dos EUA e de Israel, por Aldo Fornazieri

A história pode ser escrita e reescrita, pode ser contada de várias maneiras, mas o seu juízo sempre tem um sentido universal.

O ocidente e o terrorismo na Palestina, por Aldo Fornazieri

Sentimos horror pela violência terrorista do Hamas contra judeus. Mas o que sentimos pelo terror a que os palestinos vêm sendo submetidos?

20
Jul23

Veja quem são os homens que armaram bomba para explodir o Aeroporto de Brasília na véspera do Natal

Talis Andrade

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Neste domingo (15), a Justiça do Distrito Federal aceitou a denúncia do Ministério Público contra três bolsonaristas radicais, que tentaram explodir uma bomba perto do aeroporto de Brasília, na véspera do Natal, na hora de maior movimento, para provocar milhares e milhares de mortes e o caos, visando a aventura de um golpe sangrento, para impor a ordem unida de uma ditadura, e manter Jair Bolsonaro no poder. 

Um golpe anunciado por Bolsonaro nos quatro anos que presidiu o Brasil, nas motociatas 'Acelera para Cristo' , e paradas militares com marechais de contracheques. 

Armaram a bomba para explodir Brasilia os terroristas George Washington Oliveira de Sousa, Alan Diego dos Santos Rodrigues e Wellington Macedo de Souza, que vieram de diferentes estados, mas se conheceram em Brasília em dezembro, participando dos atos golpistas que questionavam o resultado da eleição presidencial de 2022.

O crime aconteceu na vespera do Natal, dia de maior movimento, de embarque e desembarque de passageiros.

A PM (Polícia Militar) e o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal foram acionados no sábado, 24.dez.2022, por volta das 7h30 para investigarem a possibilidade de haver um artefato explosivo em uma caixa encontrada na via que dá acesso ao Aeroporto de Brasília. O artefato não foi explodido pela polícia. Foi recolhido e enviado para perícia da Polícia Civil do Distrito Federal. Durante o processo, uma das vias de acesso ao aeroporto foi interditada.

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Segundo a Inframerica, concessionária do aeroporto, o alerta foi dado por um de seus funcionários, seguindo os procedimentos adotados quando objetos suspeitos são abandonados tanto no aeroporto como em suas proximidades. Contatada pela Agência Brasil, a PM-DF informou que havia, dentro da caixa, um objeto suspeito e que, diante da situação, deu início à chamada Operação Artefato, nome dado às ações do Bope (Batalhão de Operações Especiais) que envolvem situações com explosivo. A caixa estava abandonada próxima a uma loja de automóveis localizada na pista de acesso ao aeroporto. 

Antes do episódio da bomba no caminhão, os tres já eram investigados por participação em outro ataque golpista. Segundo a Polícia Civil, eles aparecem em imagens do dia 12 de dezembro, entre dezenas de bolsonaristas que  tentaram invadir a sede da Polícia Federal e depredaram ônibus, carros e a delegacia da área central de Brasília.

 

“Se não fosse a celeridade na prisão do George Washington, talvez a gente estivesse conversando aqui nesse momento sobre um desastre em massa. Sobre perícia, não em objetos, mas perícia em corpos humanos”, destaca perito.

George Washington Oliveira de Sousa

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George é de Xinguará, no Pará. Trabalha como gerente de postos de gasolina e diz ter um salário de R$ 5 mil. A polícia encontrou no apartamento em que ele estava em Brasília e em seu carro, mais de dez armas, milhares de munições de diversos calibres, além de bananas de dinamite que poderiam ser usadas em mais cinco bombas. Ele está preso.

Alan Diego dos Santos Rodrigues


Alan Diego dos Santos Rodrigues é suspeito de ajudar bolsonarista a montar bomba no DF — Foto: Instagram/Reprodução

Preso acusado de participar da tentativa de atentado a bomba no Aeroporto Internacional de Brasília, o extremista Alan Diego dos Santos Rodrigues confessou, em depoimento, a ação criminosa. O bolsonarista foi preso após se entregar à polícia, no dia 17 de janeiro, na região de Comodoro, no Mato Grosso. Na noite de 18/1, ele chegou preso a Brasília, e deve cumprir pena no Complexo Penitenciário da Papuda.

O nome de Alan foi citado por George Washignton de Oliveira, 54 anos, preso no dia 24 de dezembro pela tentativa de atentado. Na versão de George, a ideia de armar um artefato explosivo na área do Aeroporto partiu de Alan, o que foi confirmado no depoimento prestado pelo homem na tarde desta quinta. Alan passou por oitiva no Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), unidade à frente das investigações.

Como já comprovado pelas investigações, Alan participou da tentativa de atentado. Em depoimento, ele confessou a autoria e disse que contou com o apoio do jornalista Wellington Macedo de Souza para deixar a bomba apoiada nos paralamas de um caminhão-tanque, abastecido com mais de 60 mil litros de combustível de aviação. As imagens das câmeras do circuito interno de segurança da área registraram Alan deixando o material no local.

Ainda em interrogatório, Alan acusou George de ter produzido o artefato. Durante as buscas no apartamento do empresário, no Sudoeste, policiais civis encontraram munições, armas, além de explosivos. Alan deve ser transferido para a Papuda.

Wellington Macedo de Souza

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Wellington é de Sobral, no Ceará. Ele coleciona processos por vídeos atacando políticos locais e professores da rede de ensino da cidade. Só um advogado já o representou em mais de 60 casos. Bolsonarista radical com forte presença nas redes sociais, ele teve a prisão decretada por Alexandre de Moraes por incentivar atos antidemocráticos no 7 de setembro de 2021 e, desde então, cumpria prisão domiciliar e usava tornozeleira eletrônica.

No mesmo ano, o blogueiro foi alvo de, pelo menos, 59 ações por danos morais movidas por diretores de escolas do município Sobral, no interior do Ceará, por conta da série de reportagens "Educação do Mal".

Na produção dividida em quatro reportagens veiculadas em seu canal no Youtube, Wellington acusava o município de Sobral de um suposto esquema de fraudes para melhorar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na cidade.

O blogueiro cearense teve um cargo no governo Bolsonaro e pediu dinheiro pelas redes sociais para se esconder da polícia quando já estava foragido.

Natural de Sobral, a 245 quilômetros de Fortaleza, Wellington Macedo foi assessor da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Era assessor de Damares Alves. Ele teve um cargo comissionado na Diretoria de Promoção e Fortalecimento de Direitos da Criança e do Adolescente entre fevereiro a outubro de 2019.

Wellington Macedo começou a trabalhar no meio da comunicação cobrindo notícias da região norte do Ceará. Em 2018, passou a publicar notícias alinhadas com o bolsonarismo.

No mesmo ano, o blogueiro foi alvo de, pelo menos, 59 ações por danos morais movidas por diretores de escolas do município Sobral, no interior do Ceará, por conta da série de reportagens "Educação do Mal".

Na produção dividida em quatro reportagens veiculadas em seu canal no Youtube, Wellington acusava o município de Sobral de um suposto esquema de fraudes para melhorar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na cidade.

Câmeras de uma loja e do próprio caminhão onde a bomba foi plantada, divulgadas pelo Fantástico dia 15 de janeiro, mostram o momento em que o carro de Wellington se aproxima lentamente do veículo, para que o cúmplice Alan Diego dos Santos Rodrigues coloque a bomba (veja no vídeo acima). 

Com forte presença nas redes sociais, Wellington teve a prisão decretada por Alexandre de Moraes por incentivar atos antidemocráticos no dia 7 de setembro de 2021. Desde então, cumpria prisão domiciliar e usava tornozeleira eletrônica. Mesmo assim, frequentava o acampamento bolsonarista.

Segundo a investigação, Alan recebeu a bomba de George no QG do Exército e, então, teve a ajuda de Wellington, que dirigiu até o local do atentado. Foi o monitoramento da tornozeleira eletrônica dele que permitiu à polícia refazer os passos dos dois naquela noite, e o Fantástico obteve, com exclusividade, as imagens da ação dos criminosos (continua)

Renato Rovai: Pois é, general Heleno, não era só “resmungo de WhatsApp”. O roteiro da trama criminosa para tentar um golpe de Estado no Brasil incluiu um atentado a bomba no aeroporto de Brasília na véspera de Natal, bomba esta que, segundo um perito da Polícia Civil do Distrito Federal, em depoimento à CPI dos Atos Golpistas, era industrial e utilizada em pedreiras para romper rochas. O documentário ATO 18, da #FórumFilmes, mostra o que havia nas proximidades do aeroporto, como um hangar e postos de gasolina, que iriam potencializar a explosão em níveis catastróficos. O “homem da bomba”, George Washington Souza, flagrado no momento de sua prisão com fuzis, pistolas, revólveres, espingarda e mais de mil projéteis de diversos calibres em seu carro, justificou para os policiais o arsenal com uma orientação do ex-presidente Jair Bolsonaro de que “povo armado jamais será escravizado”. Bolsonaro foi apenas um “coitado” choramingando a derrota para Lula nessa história toda?

27
Jun23

ASSISTA AGORA: Fórum Filmes lança 1° episódio de ‘Ato 18: O golpe contra Lula’

Talis Andrade

 

Série documental está no ar no canal da Fórum no YouTube. Obra histórica, dirigida por Luiz Carlos Azenha, retrata tentativa de golpe desfechada por bolsonaristas e traz entrevista exclusiva com fonte da PF

 

Fórum Filmes faz a estreia oficial para o público do primeiro episódio da série documental “Ato 18: O golpe contra Lula”, dirigida pelo experiente jornalista Luiz Carlos Azenha, no canal da TV Fórum no YouTube. A obra retrata a tentativa de golpe de Estado levada a cabo por bolsonaristas que tinham a intenção de impedir a posse do novo presidente eleito, assim como de interditar seu governo nos primeiros dias do novo mandato do petista, numa ação que culminou com a invasão e destruição das sedes dos três poderes da República em 8 de janeiro deste ano, mas que se iniciou com os atos de terror nas ruas de Brasília ainda na noite de 12 de dezembro de 2022.

ASSISTA AO 1° EPISÓDIO DA SÉRIE DOCUMENTAL, NO PLAYER A SEGUIR

 

A Fórum teve papel central nos esforços que impediram o avanço do golpismo institucional operado na gestão de Jair Bolsonaro (PL), ao trazer revelações exclusivas passadas por um servidor da Polícia Federal lotado na Presidência da República, que apontava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chefiado então pelo general da reserva Augusto Heleno, como cérebro das ações que tentavam demolir o sistema democrático brasileiro. Essa fonte, essencial para a História do Brasil, concedeu uma entrevista exclusiva para a série documental.

Apoie os próximos capítulos desse registro histórico, doe aqui: https://benfeitoria.com/ato18.

Para Luiz Carlos Azenha, o diretor da obra, uma vida inteira testemunhando o autoritarismo e a verve antidemocrática dos militares brasileiros serviu como combustível para que “Ato 18: O golpe contra Lula” fosse produzido, como forma de colaborar na defesa permanente do Estado Democrático de Direito no país.

“Eu testemunhei como criança a arbitrariedade da ditadura militar. Vivi ainda pequeno o AI-5 dentro de uma casa em que se militava contra o regime. Como jovem, vi a tentativa de golpe em 1977, quando a linha dura dos militares usou de terrorismo para tentar frear a volta da democracia. Como adulto, testemunhei o golpe contra Dilma em 2016. Da minha parte, a intenção sempre foi deixar um documento histórico, embora incompleto pelas circunstâncias, sobre mais uma tentativa de golpear a frágil e incompleta democracia brasileira”, disse Azenha.

O diretor de redação da Fórum, Renato Rovai, disse que o início oficial das atividades da Fórum Filmes é a consolidação de mais um projeto, que ainda conta com um dos portais progressistas mais acessados da internet e com um canal no YouTube de grande audiência, ambos com dezenas de milhões de visualizações mensais.

“Nós estamos lançando, com a Fórum Filmes, que é um projeto que há alguns anos temos debatido, para consolidá-lo na Fórum, essa produção, o ‘Ato 18: O golpe contra Lula’, que nos pareceu a obra adequada para dar a cara do que vai ser esse espaço de produção de documentários e de cinema da Fórum. Eu acho que a gente dá um salto do ponto de vista de qualidade do que é a Fórum, que agora além de ter um portal muito acessado e uma TV no YouTube, que é a TV Fórum, consolidada também, chegando a quase 20 milhões de visualização neste mês de maio de 2023, além da revista semanal, que já passa do número 60, assim como redes sociais robustas, lançar a Fórum Filmes com esta série documental é consolidar esse projeto, acima de tudo. Certamente esse é o primeiro documentário de muitos que ainda virão”, explicou Rovai.

10
Jan23

Moraes ordena a prisão do ex-comandante da Polícia Militar do DF

Talis Andrade

 


Comandante-geral da Polícia Militar do Distrito, coronel Fábio Augusto Vieira  — Foto: Paulo H. Carvalho/ Agência Brasília

Preso comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Fábio Augusto Vieira — Foto: Paulo H. Carvalho/ Agência Brasília

 

 

por Julia Chaib /Yahoo!

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ordenou a prisão do ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal Fabio Augusto Vieira.

O militar era o responsável pelo comando da corporação no domingo (8) quando bolsonaristas atacaram os prédios do Congresso, Palácio do Planalto e do STF. Ele já havia sido afastado do cargo pelo interventor federal Ricardo Capelli.

O governo federal, integrantes da Polícia Federal e do Judiciário têm creditado a PM do DF a responsabilidade pela invasão da Praça dos três Poderes.

Nesta terça (10), o interventor na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Capelli afirmou que a manifestação golpista promovida por militantes bolsonaristas foi possível por causa da "operação de sabotagem" nas forças de segurança locais, naquele momento comandadas por Anderson Torres, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e secretario de Segurança Pública exonerado.

A Polícia Militar tentou conter a invasão, mas, com baixo número de efetivo no local, não conseguiram evitar o avanço dos golpistas.

Integrantes do governo federal relatam à Folha de S.Paulo que, no sábado (7), foi realizada uma reunião com representantes da segurança do DF. Nesse encontro, segundo essas pessoas, o governo de Ibaneis Rocha (MDB) garantiu a segurança da Esplanada dos Ministérios.

A reunião foi realizada após o aumento do deslocamento de bolsonaristas para Brasília a partir da sexta (6).

"Havia um efetivo planejado e um efetivo real, em um certo momento esse efetivo era 3 ou 4 vezes menor que o planejado. Por que aconteceu isso? Realmente a cadeia de comando da polícia do DF que vai responder", disse o ministro da Justiça Flávio Dino nesta terça (10).

 

13
Nov22

"O presidente Lula tem de fazer tudo para não perder o povo que o elegeu"

Talis Andrade

Dora Longo Bahia, Revoluções (projeto para calendário), 2016 Acrílica, caneta à base de água e aquarela sobre papel (12 peças), 23 x 30.5 cm cada
 
 

Escreve Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português

 

Prezado amigo Presidente Lula da Silva,

Quando o visitei na prisão em 30 de agosto de 2018, vivi no pouco tempo que durou a visita um turbilhão de ideias e emoções que continuam hoje tão vivas quanto nesse dia. Pouco tempo antes tínhamos estado juntos no Fórum Social Mundial de Salvador da Bahia, conversando, na companhia de Jacques Wagner, na cobertura do hotel onde Lula estava hospedado. Falávamos então da sua possível prisão. Lula ainda tinha alguma esperança de que o sistema judicial suspendesse aquela vertigem persecutória que desabara sobre si.

Eu, talvez por ser sociólogo do direito, estava convencido de que tal não aconteceria, mas não insisti. A certa altura, tive a sensação de que estávamos a pensar e a temer o mesmo. Pouco tempo depois, prendiam-no com a mesma indiferença arrogante e compulsiva com que o tinham tratado até então. Sérgio Moro, o lacaio dos EUA (é tarde demais para sermos ingênuos), tinha cumprido a primeira parte da missão. A segunda parte seria a de o manter preso e isolado até que fosse eleito o candidato que lhe daria a tribuna a ser utilizada por ele, Sérgio Moro, para um dia chegar à presidência da República.

Quando entrei nas instalações da Polícia Federal senti um arrepio ao ler a placa onde se assinalava que o presidente Lula da Silva tinha inaugurado aquelas instalações onze anos antes como parte do seu vasto programa de valorização da Polícia Federal e da investigação criminal. Um primeiro turbilhão de interrogações me assaltou. A placa permanecia ali por esquecimento? Por crueldade? Para mostrar que o feitiço se virara contra o feiticeiro? Que um presidente de boa-fé entregara o ouro ao bandido?

Fui acompanhado por um jovem polícia federal bem parecido que no caminho se vira para mim e diz: lemos muito os seus livros. Fico frio por dentro. Estarrecido. Se os meus livros fossem lidos e a mensagem entendida, nem Lula nem eu estaríamos ali. Balbuciei algo neste sentido e a resposta não se fez esperar: “cumprimos ordens”. De repente, o teórico nazi do direito Carl Schmitt irrompeu dentro de mim. Ser soberano é ter a prerrogativa de declarar que é legal o que não é, e de impor a sua vontade burocraticamente com a normalidade da obediência funcional e a consequente trivialização do terror do Estado.

Prezado Presidente Lula, foi assim que cheguei à sua cela e certamente nem suspeitou do turbilhão que ia dentro de mim. Ao vê-lo, acalmei-me. Estava finalmente na frente da dignidade em pessoa, e senti que a humanidade ainda não tinha desistido de ser aquilo a que o comum dos mortais aspira. Era tudo totalmente normal dentro da anormalidade totalitária que o encerrara ali. As janelas, os aparelhos de ginástica, os livros, a televisão. A nossa conversa foi tão normal quanto tudo o que nos rodeava, incluindo os seus advogados e a Gleisi Hoffmann, presidenta do Partido dos Trabalhadores.

Falámos da situação da América Latina, da nova (velha) agressividade do império, do sistema judicial convertido em ersatz de golpes militares, das sondagens que o continuavam a destacar, do meu receio que a transferência de votos não fosse tão massiva quanto esperava. Era como se o imenso elefante branco naquela sala – a repugnante ilegalidade da sua prisão por motivos políticos nem sequer disfarçados – se transformasse em inefável leveza do ar para não perturbar a nossa conversa como se, em vez de estarmos ali, estivéssemos em qualquer lugar de sua escolha.

Quando a porta se fechou atrás de mim, o peso da vontade ilegal de um Estado refém de criminosos armados de manipulações jurídicas caiu de novo sobre mim. Amparei-me na revolta e na raiva e no desempenho bem-comportado que se espera de um intelectual público que à saída tem de fazer declarações à imprensa. Tudo fiz, mas o que verdadeiramente senti é que tinha deixado atrás de mim a liberdade e a dignidade do Brasil, aprisionadas para que o império e as elites ao seu serviço cumprissem os seus objetivos de garantir o acesso aos imensos recursos naturais do Brasil, a privatização da previdência e o alinhamento incondicional com a geopolítica da rivalidade com a China.

A serenidade e a dignidade com que o Lula enfrentou 582 dias de reclusão é a prova provada de que os impérios, sobretudo os decadentes, erram muitas vezes os cálculos, precisamente por só pensarem no curto prazo. A imensa solidariedade nacional e internacional, que fez de si o mais famoso preso político do mundo, mostraram que o povo brasileiro começava a acreditar que pelo menos parte do que fora destruído a curto prazo poderia ser reconstruído a médio e longo prazo. A sua prisão passou a ser o preço da credibilidade dessa convicção.

 

Prezado amigo Presidente Lula da Silva,

Escrevo-lhe hoje antes de tudo para o felicitar pela vitória nas eleições de 30 de outubro. É um feito extraordinário sem precedente na história da democracia. Costumo dizer que os sociólogos são bons a prever o passado, não o futuro, mas desta vez não me enganei. Nem por isso tenho maior certeza no que sinto necessidade de lhe dizer hoje. Como sei que não tem tempo para ler grandes elaborações analíticas, serei telegráfico. Tome estas considerações como expressão do que de melhor desejo para si pessoalmente e para o exercício do cargo que vai assumir.

(1) Seria um erro grave pensar-se que com a sua eleição tudo voltou ao normal no Brasil. Primeiro, o normal anterior a Jair Bolsonaro era para as populações mais vulneráveis algo muito precário ainda que o fosse menos do que é agora. Segundo, Jair Bolsonaro infligiu um dano na sociedade brasileira difícil de reparar. Produziu um retrocesso civilizatório ao ter reacendido as brasas da violência típica de uma sociedade que foi sujeita ao colonialismo europeu: a idolatria da propriedade individual e a consequente exclusão social, o racismo, o sexismo, a privatização do Estado para que o primado do direito conviva com o primado da ilegalidade, e uma religião excludente desta vez sob a forma de evangelismo neopentecostal.

A fratura colonial é reativada sob a forma da polarização amigo/inimigo, nós/eles, própria da extrema-direita. Com isto, Bolsonaro criou uma ruptura radical que torna muito difícil a mediação educativa e democrática. A recuperação levará anos.

(2) Se a nota anterior aponta para o médio prazo, a verdade é que a sua presidência vai ser por agora dominada pelo curto prazo. Jair Bolsonaro fez regressar a fome, quebrou financeiramente o Estado, desindustrializou o país, deixou morrer desnecessariamente centenas de milhares de vítimas da covid, propôs-se acabar com a Amazônia. O campo emergencial é aquele em que o Presidente se move melhor e em que estou certo mais êxito terá. Apenas duas cautelas. Vai certamente voltar às políticas que protagonizou com êxito, mas, atenção, as condições são agora muito diferentes e mais adversas.

Por outro lado, tudo tem de ser feito sem esperar a gratidão política das classes sociais beneficiadas pelas medidas emergenciais. O modo impessoal de beneficiar, que é próprio do Estado, faz com que as pessoas vejam nos benefícios o seu mérito pessoal ou o seu direito e não o mérito ou a benevolência de quem os torna possível. Para mostrar que tais medidas não resultam nem de mérito pessoal nem da benevolência de doadores, mas são antes produto de alternativas políticas só há um caminho: a educação para a cidadania.

(3) Um dos aspectos mais nefastos do retrocesso provocado por Bolsonaro é a ideologia anti-direitos capilarizada no tecido social, tendo como alvo os grupos sociais anteriormente marginalizados (pobres, negros, indígenas, Roma, LGBTQI+). Manter firme uma política de direitos sociais, económicos e culturais como garantia de dignidade ampliada numa sociedade muito desigual deve ser hoje o princípio básico dos governos democráticos.

(4) O contexto internacional é dominado por três mega-ameaças: pandemias recorrentes, colapso ecológico, possível terceira guerra mundial. Qualquer destas ameaças é global, mas as soluções políticas continuam dominantemente limitadas à escala nacional. A diplomacia brasileira foi tradicionalmente exemplar na busca de articulações, quer de âmbito regional (cooperação latino-americana), quer de âmbito mundial (BRICS). Vivemos um tempo de interregno entre um mundo unipolar dominado pelos EUA que ainda não desapareceu totalmente e um mundo multipolar que ainda não nasceu plenamente. O interregno manifesta-se, por exemplo, na desaceleração da globalização e no regresso do protecionismo, na substituição parcial do livre comércio pelo comércio com parceiros amigos.

Os Estados continuam todos formalmente independentes, mas só alguns são soberanos. E entre os últimos não se contam sequer os países da União Europeia. O Presidente Lula saiu do governo quando a China era o grande parceiro dos EUA e regressa quando a China é o grande rival dos EUA. O presidente Lula foi sempre adepto do mundo multipolar e a China é hoje um parceiro incontornável do Brasil. Dada a crescente guerra fria entre os EUA e a China, prevejo que a lua de mel entre Biden e Lula não dure muito tempo.

(5) O presidente Lula tem hoje uma credibilidade mundial que o habilita a ser um mediador eficaz num mundo minado por conflitos cada vez mais tensos. Pode ser um mediador no conflito Rússia/Ucrânia, dois países cujos povos necessitam urgentemente de paz, num momento em que os países da União Europeia abraçaram sem Plano B a versão norte-americana do conflito e condenaram-se ao mesmo destino a que está destinado o mundo unipolar dominado pelos EUA. E será também um mediador credível no caso do isolamento da Venezuela e no fim do vergonhoso embargo contra Cuba. Para isso, o Presidente Lula tem de ter a frente interna pacificada e aqui reside a maior dificuldade.

(6) Vai ter de conviver com a permanente ameaça de desestabilização. É a marca da extrema direita. É um movimento global que corresponde à incapacidade de o capitalismo neoliberal poder conviver no próximo período com mínimos de convivência democrática. Apesar de global, assume características específicas em cada país. O objetivo geral é converter diversidade cultural ou étnica em polarização política ou religiosa.

No Brasil, tal como na Índia, há o risco de atribuir a tal polarização um carácter de guerra religiosa, seja ela entre católicos e evangélicos ou entre cristãos fundamentalistas e religiões de matriz africana (Brasil) ou entre hindus e muçulmanos (Índia). Nas guerras religiosas a conciliação é quase impossível. A extrema-direita cria uma realidade paralela imune a qualquer confrontação com a realidade real. Nessa base, pode justificar a mais cruel violência. O seu objetivo principal é impedir que o Presidente Lula termine pacificamente o seu mandato.

(7) O presidente Lula tem neste momento a seu favor o apoio dos EUA. É sabido que toda a política externa dos EUA é determinada por razões de política interna. O presidente Joe Biden sabe que, ao defender o presidente Lula, está a defender-se de Donald Trump, seu rival em 2024. Acontece que os EUA são hoje a sociedade talvez mais fraturada do mundo, onde o jogo democrático convive com uma extrema direita plutocrata suficientemente forte para fazer com que cerca de 25% da população norte-americana continue hoje convencida que a vitória de Joe Biden em 2020 foi o resultado de uma fraude eleitoral. Esta extrema direita está disposta a tudo. A sua agressividade fica demonstrada pela tentativa recente de raptar e torturar Nancy Pelosi, líder dos democratas na Câmara dos Representantes.

Pensemos nisto: o país que quer produzir regime change na Rússia e travar a China não consegue proteger um dos seus mais importantes líderes políticos. E, tal como se irá observar no Brasil, logo após o atentado, uma bateria de notícias falsas foi posta a circular para justificar o ato. Portanto, hoje, os EUA são um país duplo: o país oficial que promete defender a democracia brasileira e o país não oficial que a promete subverter para ensaiar o que pretende conseguir nos EUA. Recordemos que a extrema direita começou por ser a política do país oficial. O evangelismo hiper conservador começou por ser um projeto norte-americano (vide o relatório Rockfeller de 1969) para combater “o potencial insurrecional” da teologia da libertação. E diga-se, em abono da verdade, que durante muito tempo o seu principal aliado foi o Papa João Paulo II.

(8) Desde 2014, o Brasil vive um processo de golpe de Estado continuado, a resposta das elites aos progressos que as classes populares obtiveram com os governos do Presidente Lula. Esse processo não terminou com a sua vitória. Apenas mudou de ritmo e de táctica. Ao longo destes anos e sobretudo no último período eleitoral assistimos a múltiplas ilegalidades e até crimes políticos cometidos com uma impunidade quase naturalizada. Para além dos muitos que foram cometidos pelo chefe do governo, vimos, por exemplo, quadros superiores das Forças Armadas e das forças de segurança apelarem a golpes de Estado e a tomarem publicamente partido por um candidato presidencial durante o exercício das suas funções.

Estes comportamentos golpistas devem ser punidos exemplarmente quer por iniciativa do sistema judiciário quer por meio de passagens compulsórias à reserva. Qualquer ideia de amnistia, por mais nobres que sejam os seus motivos, será uma armadilha no caminho da sua presidência. As consequências podem ser fatais.

(9) É sabido que o presidente Lula não põe grande prioridade em caracterizar a sua política como sendo de esquerda ou de direita. Curiosamente, pouco antes de ser eleito Presidente da Colômbia, Gustavo Petro afirmava que a distinção para ele importante não era entre esquerda e direita, mas antes entre política de vida e política de morte. Política de vida é hoje no Brasil a política ecológica sincera, a continuidade e aprofundamento das políticas de justiça racial e sexual, dos direitos trabalhistas, do investimento na saúde e na educação públicas, do respeito pelas terras demarcadas dos povos indígenas e da promulgação das demarcações pendentes.

Acima de tudo, é necessária uma transição gradual, mas firme da monocultura agrária e do extrativismo de recursos naturais para uma economia diversificada que permita o respeito por diferentes lógicas socioeconômicas e articulações virtuosas entre a economia capitalista e as economias camponesa, familiar, cooperativa, social-solidária, indígena, ribeirinha, quilombola que tanta vitalidade têm no Brasil.

(10) O estado de graça é curto. Não dura sequer cem dias (vide Gabriel Boric no Chile). O presidente Lula tem de fazer tudo para não perder o povo que o elegeu. A política simbólica é fundamental nos primeiros tempos. Uma sugestão: reponha de imediato as Conferências Nacionais para dar um sinal inequívoco de que há outra maneira mais democrática e mais participativa de fazer política.

16
Jul22

"Todos estamos ameaçados pelo terrorismo bolsonarista", diz Marcia Tiburi (vídeo)

Talis Andrade

www.brasil247.com - Marcia Tiburi, Marcelo Arruda, Jorge Guaranho e Bolsonaro

 

Exilada na França, a professora e filósofa diz que o Brasil pode ter novos crimes motivados pelo ódio político, como foi o assassinato de Marcelo Arruda por Jorge Guaranho

 

247 – A professora e filósofa Marcia Tiburi afirmou, em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, que todos os brasileiros estão ameaçados pelo terrorismo bolsonarista, depois do assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda pelo bolsonarista Jorge Guaranho, em Foz do Iguaçu. "O objetivo da retórica do ódio é gerar ação violenta. Bolsonarismo é fascismo", diz ela. "A arma é o ícone do bolsonarismo. Enquanto Marcelo Arruda tinha como ícone o sorriso de Lula, no bolsonarismo, a arma é que dá significado à festa", acrescentou.

Marcia Tiburi disse ainda que o medo paralisa e que "todos estamos ameaçados pelo terrorismo". Mas ela acrescentou que os brasileiros não podem entrar na guerra civil incitada por Bolsonaro. "Precisamos nos preservar. E Bolsonaro também abandona seus otários úteis. O miliciano Adriano da Nóbrega foi condecorado e depois foi assassinado", lembrou.

Segundo ela, o assassino não vai sair sozinho do seu fanatismo. "Fascismo jamais vai morrer de morte natural. Os fascistas devem ser denunciados e punidos":

 

 

11
Jul22

A Grande Partida: Anos de Chumbo

Talis Andrade

Depois do livro A Grande Partida: Anos de Chumbo, Francisco Soriano toma para si a missão de reunir vários companheiros, sobreviventes da ditadura de 1964, para juntos relembrarem a saga vivida na luta clandestina, buscando a libertação da sociedade brasileira submetida ao terrorismo do Estado policial. 

Relatos comoventes, antes silenciados pelos traumas do regime, que nos passam informações preciosas sobre os últimos 50 anos de história do Brasil. Também uma renovação de esperança na construção de uma sociedade menos desigual e mais humana.

A Grande Partida : Anos De Chumbo. - 9788563367020 - Livros na Amazon Brasil

Ficha técnica:

Direção e edição: Peter Cordenonsi

Fotografia: Tiago Scorza

Som direto:Thiago Sobral

Direção de produção: Vera Moderno

Música tema original: Francisco Soriano

Produção executiva: Francisco Soriano e Peter Cordenonsi

 

 

06
Abr22

Grávida, nua, espancada e ameaçada por cobras e cães: o que disse Miriam no processo que retrata tortura no quartel

Talis Andrade

www.brasil247.com - A ficha de Miriam no processo em que denuncia tortura

A ficha de Miriam no processo em que denuncia tortura (Foto: Reprodução)

 

A jornalista é alvo de nova covardia:

Eduardo Bolsonaro zombou da denúncia feita há 39 anos e colocou em dúvida a humilhante e cruel tortura, embora, para prová-la, bastava à Justiça investigar

 

por Joaquim de Carvalho

- - -

Miriam Leitão tinha acabado de completar 20 anos de idade quando denunciou à Justiça Militar a tortura que sofreu nas dependências do quartel  do Exército em Vila Velha, ao lado de Vitória, Espírito Santo.

Seu depoimento está na página 916 do processo em que ela e outros jovens, a maioria estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo, eram acusados de crimes contra a segurança nacional.

O que fizeram foi distribuir panfletos a outros estudantes e picharem muros, com inscrição como “Abaixo a ditadura fascista. Abaixo militares entreguistas. Votem nulo” ou "Abaixo Militares inimigos do povo”.

Miriam já tinha trabalhado no jornal A Gazeta e estava na Fundação Cultural do Espírito Santos quando, aos 19 anos, os militares foram à sua casa e a levaram para o quartel, onde permaneceu presa durante dois meses.

Nesse período, assinou o termo de confissão pelos crimes de subversão que lhe eram imputados. E contou que tomou conhecimento da doutrina do Partido Comunista do Brasil com seu então namorado, futuro marido, Marcelo Amorim Netto.

As declarações foram prestadas sem a presença de advogada e em outras condições totalmente adversas. Quando teve a oportunidade de falar acompanhada de uma advogada, já fora da cadeia, e diante de auditores militares, contou como se deu o depoimento:

Que a interrogada, realmente, assinou o termo de declarações constantes dos autos que contém acusações contra sua pessoa, porém o fez sob coação; que, apesar de estar grávida na ocasião, do que deu ciência a seus torturadores, foi torturada por indivíduos que eram trocados diariamente; que permaneceu presa durante dois meses, e várias vezes sofreu violências; que no próprio dia em que assinou o termo de declarações, ainda sofreu sevícias, mas não é capaz de reconhecer os seus autores; que, quase todas as noites, era submetida a interrogatórios rigorosos, tendo sido submetida aos interrogatórios completamente despida e recebia ameaças de que seu marido seria assassinado; que recebeu ameaças de sofrer pontapés no seu ventre, sendo que, algumas vezes, essas ameaçadas foram efetivadas; que as pessoas que procediam aos interrogatórios soltavam cães e cobras para cima da interrogada que, por vários dias, ficou sem alimentação alguma; que, em suma e finalmente, a interrogada quer declarar perante o Conselho que, na verdade, subscreveu o Termo de Declarações, mas exclusivamente porque temeu pela sorte de seu filho.

Miriam acabaria absolvida, mas os militares que denunciou permaneceram impunes. Mesmo que Miriam tenha dito não ser capaz de reconhecer seus algozes, era obrigação dos juízes mandarem apurar a grave denúncia de violação dos direitos humanos. Nada disso ocorreu.

O deputado Eduardo Bolsonaro, que no último fim de semana zombou de Miriam, ao dizer que tinha pena da cobra usada na tortura, voltou a demonstrar falta de compromisso mínimo com a decência e a civilidade.

Ao participar da transmissão de um canal bolsonarista no YouTube, Eduardo colocou em dúvida o caso de tortura. 

“Ela só tem a palavra dela, dizendo que foi vítima de uma tortura psicológica quando foi jogada dentro de uma cela junto com uma cobra. Eu fico com a pulga atrás da orelha, porque você não tem um vídeo, não tem outras testemunhas, não tem uma prova documental, não tem absolutamente nada”.

Não tem prova porque a Justiça não mandou investigar, e caminhos havia. Era só começar por ouvir o escrivão e os oficiais que tomaram o depoimento da jornalista. Mas nada foi feito. Tecnicamente, pode ter sido até prevaricação, mas era uma ditadura, e o terrorismo, uma prática de Estado, acobertada por seus agentes.

Só é possível tomar conhecimento do depoimento de Miriam porque alguns brasileiros, correndo até risco de prisão, executaram o "Projeto Brasil: Nunca Mais”. Tiraram cópias dos processos que correram na Justiça Militar.

Sob a coordenação do advogado Sigmaringa Seixas, o jovem Avel Alencar, então com 17 anos, se trancava no início dos ano 80 todas as noites em uma copiadora em Brasília. E faziam reproduções dos processos que a equipe de Sigmaringa retirava, oficialmente, do Superior Tribunal Militar. 

O resultado desse trabalho precioso é o "Projeto Brasil: Nunca Mais”, que mantém arquivado o processo em que Miriam faz a denúncia de tortura e que retrata uma época tenebrosa, que o Brasil, como mostram as declarações de Eduardo Bolsonaro, não superou.

Seu pai, que ocupa o Palácio do Planalto, disse em entrevista à rádio Jovem Pan, em 2016: “O erro da ditadura foi torturar e não matar”. Existe uma cobra maior do que aquela que aterrorizou Miriam, e ela ainda desliza pelo país, para infelicidade dos brasileiros.

Abaixo, cópia do depoimento de Miriam Leitão:

miriam 1.png

miriam 2.png

miriam 3.png

 
Reinaldo Azevedo
Escrevi à tarde no UOL. Eduardo Bolsonaro tem de ser cassado por quebra de decoro por aquilo q disse sobre Miriam Leitão. E PGR tem de pedir abertura de inquérito por apologia da tortura. Simples assim.

Image

 

 

 

28
Mar22

La muerte de un traidor: Obituario del Cabo Anselmo

Talis Andrade

Anselmo delató a sus compañeros

Anselmo delató a sus compañeros, incluso a su pareja de entonces, Soledad Barrett. El agente de la dictadura falleció a los 80 años.

 

 

A los 80 años murió José Anselmo dos Santos, conocido como Cabo Anselmo, este agente infiltrado en las filas de la Vanguardia Popular Revolucionaria (VPR), el movimiento guerrillero del legendario capitán Carlos Lamarca, del cual la paraguaya Soledad Barrett formaba parte, y cuya captura y asesinato el cabo organizó.

 

  • por Urariano Mota* /Ultima Hora /Paraguai

El Cabo Anselmo murió el 15/03/2022.

Por teléfono, el escritor y periodista André Cintra me comunicó la noticia hace cinco minutos. Estaba durmiendo la siesta, pero salté de la cama. Y hasta ahora no sé por dónde empezar la necrológica de José Anselmo dos Santos.

La noticia, con su natural objetividad, que en este caso significa con toda la natural ignorancia de la historia, dice que José Anselmo dos Santos murió el martes por la noche a los 80 años, en Jundiaí (SP). Y que fue un “agente doble durante el régimen militar”. ¿Ves? Llaman “régimen militar” a la dictadura y al terror de Estado en Brasil.

Pero a ver si Dios nos ayuda a intentar algo de justicia para este criminal.

Si quitamos la infamia de su piel, tarea difícil o imposible, la primera característica del Cabo Anselmo es que era un buen mentiroso. En primer lugar, mintió sobre su nombre: ¿era Daniel, como se presentó en Recife, o Jadiel o Jônata? Eso era lo mínimo. Donde sobresalió con las artes interpretativas, no solo en las palabras, fue en la frialdad y el cinismo con que se refirió a su mayor crimen: la entrega de su compañera embarazada, Soledad Barrett, a la represión. En más de una entrevista, ante periodistas comprometidos con la derecha o por ignorancia histórica, se refirió al gran guerrero con la delicadeza de una serpiente.

En su entrevista con Band, observé que Fernando Mitre, al mencionar a Soledad, el cabo Anselmo respondió, con ambas manos levantadas, como defendiéndose, como recordando un acuerdo, que amenazaba con romperse: “¡Opa!”. Y Mitre, de vuelta: ”Luego hablas de ella”. Y él, “ah, por supuesto”. Y lo que se vio después fue nada, o casi nada.

En Roda Viva, en uno de los momentos de calculado cinismo, Anselmo se refiere a Soledad Barrett.

El entrevistador dijo: “¿Discute usted que estuviera embarazada, como la versión histórica...?”.

Cabo Anselmo: “Si creo, como dicen los médicos, que el DIU era el más seguro de los preservativos, lo impugno, sí”.

Y el entrevistador le levantó la pelota a Anselmo: “¿Entonces el feto encontrado allí no era suyo?”.

El cabo Anselmo respondió: “Imagino que será de Pauline. Paulina estaba embarazada, incluso tenía un problema de embarazo, y Soledad la llevó al médico”.

La fría infamia no se discute.

Pero conoce las palabras de Nadejda Marques, única hija de Jarbas Marques, uno de los seis militantes socialistas asesinados en Recife, junto con Soledad. En la actualidad, Nadejda Marques es doctora en Derechos Humanos y Desarrollo:

“Mi abuela Rosália, la madre de Jarbas Marques, consiguió entrar en la morgue. Ella, entre los diversos trabajos que tenía, también era enfermera. Conocía a la persona de Soledad. Mi abuela siempre contó lo que vio en aquel fatídico enero de 1973. Mi padre, con marcas de tortura por todo el cuerpo, tenía marcas de estrangulamiento en el cuello y agua en los pulmones compatibles con el resultado de la tortura por ahogamiento. Los disparos en el pecho y la cabeza se dieron después de su muerte. El cuerpo de Soledad, aún ensangrentado, tenía los restos de una placenta y un feto en un cubo improvisado.

Y definitivas son las palabras de la denuncia de la abogada Mércia Albuquerque:

“Soledad estaba con los ojos muy abiertos, con una expresión de terror muy grande. Estaba horrorizado. Mientras Soledad estaba de pie con los brazos a los lados, me quité la enagua y se la puse al cuello. Lo que más me impresionó fue la sangre coagulada en grandes cantidades. Tengo la impresión de que la mataron y la acostaron, y la trajeron después, y la sangre, al coagularse, se le pegó a las piernas, porque era una gran cantidad. El feto estaba allí en sus pies. No puedo saber cómo acabó allí, o si fue allí mismo, en el tanatorio, donde cayó, donde nació, en ese horror”.

En la muerte del cabo Anselmo, finalmente, Soledad Barrett fue y sigue siendo el centro, la persona que grita, el punto de apoyo para Arquímedes por sus crímenes. Señala a José Anselmo dos Santos y lo sentencia, vaya donde vaya: “Hasta el final de tus días estás condenado, sinvergüenza”.

Que el infierno sea pesado para él, por fin. Para toda la eternidad.

- - -

*Escritor brasileño, autor del libro Soledad Barrett no recife y de la novela A mais longa duração da juventude.

Soledad Barrett

 

soledad urariano.jpg

Soledad Barrett Viedma nació el 6 de enero de 1945 en Paraguay. Su padre fue Alejandro Rafael Barrett López, único hijo del escritor y líder anarquista español Rafael Barrett, quien llegó al país en 1904 y se convirtió en un referente en las luchas sociales de toda una época.

Ante la inestabilidad política previa a la dictadura militar de Alfredo Stroessner (1954-1989), la familia Barrett se exilió en Uruguay, donde una adolescente Soledad comenzó a militar en los movimientos estudiantiles.

Cuando Soledad tenía 17 años, se convirtió en víctima de los movimientos de extrema derecha en los años previos a la instauración de la dictadura cívico-militar en Uruguay (1973-1985). Fue secuestrada y le dibujaron una esvástica en los muslos.

Tras el incidente, Soledad pasó de ser víctima a perseguida por la policía política, por lo que su familia decidió enviarla un año a Moscú, de donde viajó a Cuba.

Allí nació Ñasaindy en 1969, hija de Soledad y de un militante contra la dictadura brasileña (1964-1985), José María Ferreira, que se trasladó a Brasil un año más tarde, donde fue asesinado y desaparecido.

Soledad le siguió un año después, y solo al llegar a Brasil descubrió que habían matado a su compañero. En el país conoció al “cabo Anselmo”, destacado militante de la Vanguardia Popular Revolucionaria (VPR), grupo que ejercía la resistencia a la dictadura, con quien entabló una relación.

Pero el “cabo Anselmo” era en realidad un agente infiltrado de la policía, que organizó la captura y asesinato de Soledad y de otros cinco de sus compañeros en el norte de Brasil en 1973.

El cabo murió en la impunidad.

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