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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

18
Jul23

Eduardo Bolsonaro compara professor a traficante de drogas em evento pró-armas em Brasília

Talis Andrade

Deputado disse que os pais precisam estar atentos a professores doutrinadores e que eles podem ser piores do que quem sequestra crianças para o tráfico. Dino determina que PF analise discurso

Por Poliana Casemiro e Isabela Camargo, g1

Durante um discurso em um evento pró-armas em Brasília, Eduardo Bolsonaro comparou professores a traficantes de drogas.

A fala ocorreu no domingo (9) em um ato na Esplanada dos Ministérios. No caminhão do evento, o deputado discursou e citou a doutrinação nas escolas como algo pior do que o aliciamento para o tráfico.

“Se nós, por exemplo, tivermos uma geração em que os pais prestem atenção na educação dos filhos. Tirem um tempo para ver o que eles estão aprendendo nas escolas. Não vai ter espaço para professor doutrinador tentar sequestrar as nossas crianças. Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas que tenta sequestrar os nossos filhos para o mundo do crime. Talvez até o professor doutrinador seja ainda pior porque ele vai causar discórdia dentro da sua casa, enxergando opressão em todo o tipo de relação”. (Veja no vídeo acima)

A teoria da doutrinação em escolas fez parte do discurso bolsonarista.

O vídeo foi publicado nas redes de Eduardo. Após a repercussão da fala, o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse nesta segunda (10) que determinou à Polícia Federal analisar o discurso de Eduardo Bolsonaro para "identificar indícios de eventuais crimes, notadamente incitações ou apologias a atos criminosos."

A fala foi criticada por parlamentares. O blog apurou que Guilherme Boulos (PSOL-SP) vai pedir a cassação de Eduardo Bolsonaro pela associação de professores a criminosos. O líder do PSOL na câmara disse que vai entregar ainda nesta segunda-feira (10) o pedido de cassação na Comissão de Ética.

Tabata Amaral (PSB-SP) criticou a fala e disse que crenças como a do deputado contribuem para a desvalorização da categoria.

“Essa fala de Eduardo Bolsonaro deixa clara sua ignorância e mau-caratismo. São falas como essa que contribuem para que o Brasil seja um dos países que menos valoriza seus professores. Nojento!”.

A deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP) disse que acionou a Procuradoria Geral da República (PGR) por " crimes com danos coletivos aos professores brasileiros". "Não pode ficar impune!", escreveu em sua conta nas redes sociais.

O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) disse que vai buscar "os meios legais" contra as falas do deputado. "A educação é o principal caminho para que o Brasil possa alcançar desenvolvimento sustentável e soberania, com justiça social. E os professores são construtores desse futuro", disse a entidade em nota.

26
Jun23

Arthur Lira sofre bombardeio de acusações

Talis Andrade

 

por Altamiro Borges

A batata do presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira (PP-AL), parece que está assando. Somente neste domingo (25), mais duas graves denúncias ganharam destaque na mídia contra o todo-poderoso cacique do Centrão que adora fazer ameaças e chantagear. O jornal O Globo estampou: “PF envia ao STF investigação de kit de robótica após encontrar anotações de pagamentos e o nome 'Arthur’”. Já o Estadão mancheteou: “Lira emprega em estatal enteada, primos e aliados; salários somam R$ 128 mil”. 

Segundo a matéria do diário carioca, as anotações sobre as falcatruas foram apreendidas durante operação de busca e apreensão feita em 1º de junho em endereços ligados a Luciano Cavalcante, ex-assessor do presidente da Câmara dos Deputados. A operação se deu no curso do inquérito da PF que apura superfaturamento e lavagem de dinheiro com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) destinados a 43 cidades de Alagoas na aquisição de kits de robótica para escolas públicas. 

“Ao analisar os documentos apreendidos durante a investigação, a PF destacou em um relatório que encontrou anotações que mostram valores ao lado de nomes e datas das transações. Em uma delas, consta o valor de R$ 100 mil ao lado do nome ‘Arthur’, sem mais detalhes. Em outra, há um registro datado em 15 de abril com o valor de R$ 30 mil ao lado do nome ‘Arthur’, também sem mais especificações. Há ainda o valor de R$ 3.652 associado a um hotel luxuoso e ao nome ‘Arthur’, em 17 de abril”, destaca O Globo. 

Procurado pelo jornal, o fisiológico Arthur Lira respondeu que “toda movimentação financeira e pagamentos de despesas, ‘seja realizada por ele e, às vezes, por sua assessoria, tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e da remuneração como deputado federal”. Já o advogado do encrencado Luciano Cavalcante preferiu o silêncio. Recentemente, o aspone foi exonerado do cargo que exercia na liderança do PP na Câmara. 

Os cargos na "estatal do Lira"

Já a reportagem do jornal Estadão revelou que “o presidente Arthur Lira (Progressistas-AL) emprega ao menos dez familiares e aliados em postos-chave da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa pública de orçamento bilionário. Os cargos na ‘estatal do Lira’, como a companhia tem sido chamada em Brasília, rendem R$ 128 mil só em salários ao grupo. Todo mês. Procurados, Arthur Lira e a CBTU não se manifestaram”. 

O jornal registra que a CBTU é responsável pela administração de trens urbanos em cinco capitais e tem um orçamento de R$ 1,3 bilhão. “Com orçamento robusto, capilaridade no país e fora dos holofotes das principais empresas públicas, a companhia costuma ser usada por políticos para acomodar aliados e levar serviços a bases eleitorais. Arthur Lira tinha o controle dos cargos na gestão de Jair Bolsonaro (PL) e continua tendo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)”.

Centrão tenta capturar orçamento da Saúde

 
 
24
Jun23

A democracia brasileira resistirá à escrotocracia brasileira?

Talis Andrade

Entendo por escrotocracia a forma de governo de homens desqualificados que capitalizam sua desqualificação

 

por Marcia Tiburi

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Há poucos dias fiz uma postagem no Instagram usando a expressão “escrotocracia” e fui criticada por uma pessoa que disse que xingamentos não ajudariam a resolver os problemas brasileiros. Essa pessoa tem toda a razão, mas como comunicação é um assunto imenso e um problema imenso, além de um poder imenso, prova disso é que o centralíssimo Ministério das Comunicações está nas mãos do Centrão, precisamos avançar no debate sobre o que se diz, como se diz e toda a parafernalha dos meios de produção da linguagem em um país dominado pela mistificação e pela desregulamentação da mídia. Como se vê, o debate pode ir por muitos lados. Eu não preciso dar nome aos bois, pois os donos das boiadas que passam, alcançaram a façanha de agir como bem entendem, com toda a falta de escrúpulos e desrespeito à lei e à ética que caracteriza a escrotocracia. 

Entre o esquerdo-fofismo e as táticas janônicas de comunicação usadas na campanha política de 2022, fico com as últimas, até porque se eu bancar a esquerdo-fofa depois dos ataques nada meigos que recebo, inclusive da esquerda, estarei destoando demais do jogo político-cultural de nosso tempo. Não quero defender o xingamento (como professora de filosofia, meu objetivo é fazer análises que nos ajudem a refletir; sobre isso já escrevi uma Teoria Geral do Xingamento https://revistacult.uol.com.br/home/teoria-geral-do-xingamento/). Quero apenas dizer que a desqualificação da política não é invenção minha, ao contrário, foram os homens como sujeitos do privilégio político que destruíram a política a partir de palavras e ações em que vemos a democracia degenerar em demagogia e, mais tarde, em fascismo. Contudo, reconheço que sempre podemos usar uma expressão mais técnica para dizer as coisas, (“fezes” no lugar de dizer “merda”, por exemplo), assim como poderia dizer oligarquia neoliberal e patriarcado em vez de escrotocracia, mas uma MERDA escrita em caixa alta ou bem gritada nos ouvidos certos de vez em quando tem muito mais valor epistemológico e retórico dependendo do contexto. 

Mas para avançarmos no assunto: entendo por escrotocracia a forma de governo de homens desqualificados que capitalizam sua desqualificação. Eles são supremacistas brancos (mesmo quando pardos), que agem absolutamente sem escrúpulos e contra as mulheres. Ter as mulheres como inimigas faz parte da escrotocracia. Antigamente, os políticos podiam ser machistas elementares e estruturais, pois tinham a politica só para si. Desde que as mulheres começaram a participar mais da politica, ocupando espaços que eles esperavam continuar sendo apenas seus, eles começaram todo tipo de jogo sujo. Vamos falar de dois exemplos para entender o que se passa na grande escrotocracia que é o atual Congresso Nacional brasileiro. 

O primeiro exemplo diz respeito ao escrotocrata-mor Arthur Lira, seguido de escrotocratas menores, mas igualmente funestos. Todos, contudo, são imitações baratas de Bolsonaro. Contudo, em relação a Bolsonaro, Lira é mais perigoso, porque pensa e trabalha com uma intensidade mais intestina, logo, mais inteligente na corrupção geral da política. 

O que Arthur Lira fez com Julyenne Lins, sua ex-mulher, esta no coração do escrotismo: ameaçou-a de lhe tirar os filhos, ameaçou-a de morte, espancou-a e ainda fez ela participar dos trâmites da corrupção dentro da própria casa, como se, por ser casada com ele, ela tivesse a obrigação de receber malas de dinheiro e ajudar a contar as cédulas. Nesse caso, a expressão escrotocrata é modesta, pois ele poderia ser um feminicida se tivesse a chance de assassinar a esposa como sugeriu. 

Karl Von Clausewits disse que a guerra era a continuação da política por outros meios. Foucault o corrigiu dizendo que a política era a continuação da guerra, mas no caso de Lira, podemos dizer que a política é a continuação do que ele fazia dentro de casa. E o que ele fazia dentro de casa era violência, ameaça e corrupção. Julyenne Lins vem tentando falar há muito tempo, mas pouca gente a escuta. Por que a sociedade brasileira – e a imprensa – não quer ouvir o que ela tem a dizer?

Mas não é só Arthur Lira, poderoso e exímio chefe de organização criminosa, que é um escrotocrata típico. Todo o congresso, com as exceções que confirmam a triste regra da política patriarcal, é uma grande escrotocracia.

Vejamos a perseguição vivida pelas seis deputadas da CPI do MST. Elas são todas mulheres qualificadas, enquanto seus perseguidores (Ricardo Salles, Kim Kataguiri e outros agitadores de sempre) são homens desqualificados que usam a desqualificação como capital político. A CPI é uma pura cena que faz parte de uma guerra híbrida para criminalizar o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, a esquerda, a Reforma agrária e a própria democracia. 

Sabemos dessa tática do “ridículo político” usada desde há muito tempo e que teve seu ápice a partir do golpe de 2016. Bolsonaro foi o rei do ridículo político e, por isso, se tornou o presidência da República enquanto suas imitações continuam no congresso tocando a boiada e tocando o terror. A tática de estressar, atormentar e perturbar faz parte da tortur mental. É pura tática de psicopoder. A caça às bruxas sempre foi baseada no tormento da perseguição. 

Os perseguidores são homens metidos a espertos que fazem o discurso grotesco para impressionar, o assédio político para intimidar, tentam desviar a atenção e a ação das deputadas que “ousaram” denunciá-los e interpelá-los. O assassinato de Marielle Franco se deu por que ela denunciou demais. Esperamos que as nossas deputadas saiam vivas disso tudo. Contudo, o golpe esta em curso. E é preciso ter todo o cuidado. 

Querem fazer com que as mulheres parem de desmascarar o jogo dos escrotocratas e gastem seu tempo se defendendo de falsas acusações. 

O show de masculinidade tóxica vai continuar enquanto não tivermos um Congresso Nacional com maioria democrática. 

Os escrotocratas não se furtarão a torturar a democracia como fazem com mulheres. 

Em entrevista à Agência Pública, divulgada nesta quarta-feira (21), Jullyene Lins, ex-esposa do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), denunciou ter sido vítima também de violência sexual. Ao ICL Notícias, Jullyene já havia reportado agressões físicas reforçadas por testemunhas e um laudo médico feito à época. A jornalista Cristina Serra comenta o caso e cobra reabertura das investigações. "A impunidade desse sujeito será a suprema humilhação a essa mulher".

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) se irritou com o deputado Abilio Brunini (PL-MT) durante a abertura da CPI 8 de Janeiro quando o parlamentar tentou tumultuar a sessão. “Vem como se fosse um ‘aerolook’”, questionou a deputada ao presidente da CPMI.  

Abílio Brunini (PL-MT) foi criticado por interromper o discurso de diferentes congressistas durante a 1ª sessão da CPI do 8 de Janeiro nesta 5ª feira (25.mai.2023). A deputada Erika Hilton afirmou que Abílio queria “tumultuar os trabalhos da CPMI”. Os congressistas também criticaram o traje informal do deputado. “Veio de pijama e quer tirar onda”, disse Carlos Verás (PT-PE). Abílio não é integrante titular nem suplente do colegiado. Ele pretende intimidar deputados democratas, principalmente as mulheres que combatem o golpismo, a extrema direita, o nazismo bolsonarista. 

Abilio Brunini, bolsonarista, golpista. anarquista da extrema direita, fez uma live no Salão Verde da Câmara dos Deputados, no dia 11. A intenção era mostrar que Brasília não ficou tão destruída com os ataques de 8 de janeiro quanto a mídia divulgou. Foi uma fala de apoio ao pacifismo dos bolsonaristas que invadiram o Palacio do Planalto, o STF e o Congresso. Devia ser inquirido pela CPI dos Atos Antidemocraticos

O deputado bolsonartista José Medeiros (PL-MT) partiu para cima do deputado petista Paulo Teixeira durante uma sessão na Comissão de Direitos Humanos da Câmara por causa de uma menção ao indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e ao jornalista inglês Dom Phillips, assassinados por traficantes de cocaina na região do Vale do Javari, na Amazônia. A confusão começou quando a deputada Talíria Petrone (PSOL) começou a falar dos indianistas. José Medeiros interrompeu. Talíria pediu para ter a palavra respeitada e o colega disse que não teria.
 

A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) denunciou falas transfóbicas na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família na Câmara, na última quarta (20).

Os parlamentares Eder Mauro (PL), deputado federal, e Eliziane Gama (PSD-MA), senadora e relatora da CPMI, bateram boca durante o depoimento do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques. O deputado, que não é integrante da comissão, interrompia a relatora, que respondeu com um "cale-se". #CNNBrasil

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) começou, na prática, nesta terça-feira (6), com a votação do plano de trabalho proposto pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que será a relatora dos trabalhos. O senador Marcos do Val (Podemos-DF), obsessionado com Flávio Dino, tentou constranger a senadora e questionar sua imparcialidade pela amizade que mantém com o ministro da Justiça, ao que a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) rebateu, escancarando que vários dos integrantes da Comissão chamaram para atos antidemocráticos ou estão envolvidos nas investigações.
30
Mar23

Fantasias masculinas: o reflexo abjeto de Nikole e Bolsonara

Talis Andrade
 
Quem é Nikolas Ferreira, o deputado que discursou de peruca na Câmara, e o  que é transfobia | Política | Valor Econômico
 
 

 

por Renato Duarte Caetano, Gabrielle dos Santos Marques e Ricardo Fabrino Mendonça /Cult

 

Eis aqui a mulher do bolsonarismo: ela veste terno, usa uma peruca gema de ovo de quinta categoria e brada histericamente a paranoica ladainha de seu deplorável kit básico da intolerância: “homens têm pipi, mulheres têm pepeca, pessoas trans têm uma agenda oculta que visa abusar das nossas inocentes criancinhas, e eu sou oprimida por falar o óbvio”. O nível de ressentimento, ódio e medo presente em seu discurso deixa evidente a vitimização que é tão marcante nos caminhos que levaram à ascensão da extrema direita no Brasil.

O paladino da moral e dos bons costumes não usa armadura reluzente nem anda de espada em punho. Ele ostenta sua ferida. Aberta, sangrando, em necrose. Mas só isso não basta.

Para realmente conquistar os corações patriotas, é preciso adicionar à performance o tempero paródico do palhaço estereotipado. Sem ele, a performance não fingiria ser inclusiva e democrática. É rindo da mulher que caricatura que Nikolas expõe a feminilidade que entende ser possível, restrita à projeção do próprio olhar misógino. Não há ali vias para o deslocamento e encontro com o feminino. A mulher de Nikolas é a projeção de si mesmo. Nikole é um espelho que revela muito do bolsonarismo, de suas inseguranças, seus temores, suas projeções e suas impotências.

A deputada Nikole aprendeu essa receita com sua grande mentora, a candidata Bolsonara. Para quem não se lembra, durante o debate presidencial transmitido pela Globo em 29 de setembro de 2022, a candidata à presidência Simone Tebet chamou, por equívoco, sua adversária Soraya Thronicke de “candidata Bolsonara”. O então presidente Bolsonaro logo fez chacota, não apenas rindo ao vivo durante o debate, mas também no dia seguinte, quando postou uma foto em seu Instagram com um filtro que transformava seu rosto no de uma mulher.

 
Bolsonaro posta montagem para ironizar Tebet: 'Candidata Bolsonara'
 
 

Aqui se via, em primeira mão, a mulher do bolsonarismo, expressa no grotesco e burlesco autorretrato gerado por um filtro de Instagram. Enquanto criticam o pressuposto de que mulheres trans reduzem a categoria mulher a um sentimento teoricamente fortuito e efêmero, o bolsonarismo reclama um retorno ao que há de mais duradouro e estereotipado na representação das mulheres: fantasias masculinas. Projeções que se fazem caricatas a partir do barato e do banal: a peruca de plástico e o filtro de Instagram.

Criando uma versão abjeta da própria paródia de gênero mobilizada por drag queens, o bolsonarismo dobra sua aposta na chacota para reforçar estereótipos de gênero. Nikolas Ferreira não questiona nenhuma relação de poder ao se colocar como deputada Nikole. Tampouco o faz Bolsonaro ao “assumir-se” como candidata Bolsonara. Muito pelo contrário, o movimento realizado por ambos é o de reforçar hierarquias sociais que historicamente condenam certas mulheres e certos homens à condição de dejetos da sociedade.

Esse é o poder do ridículo que emana da grotesca paródia da extrema direita: o de relativizar o poder político, a seriedade e as conquistas de movimentos sociais que lutam pela inclusão de seus corpos na conta sempre malfeita da democracia, para lembrar os termos de Jacques Rancière. A violência contra mulheres trans e cis é uma realidade perversa que se constitui como parte fundante do pacto social brasileiro.

Ao convocarem o povo a rir de suas imagens travestidas, o que desejam Nikolas e Bolsonaro é reafirmar e renovar a dimensão violenta e excludente desse pacto. Como um jogo de espelhos tortos e deformados, o bolsonarismo busca refletir um horizonte político no qual só é possível vislumbrar uma imagem porca e suja do povo brasileiro. Uma imagem que revela a si mesmo.

Apesar de tudo, a performance carnavalesca da deputada Nikole nos coloca de frente a uma clássica e justa questão: o que é uma mulher? Sua resposta, óbvio, não tem nada a acrescentar ao antigo debate; ela é mais velha do que o próprio conceito, restringe-se a mulher à mãe. E como se não bastasse, ela é a mãe em perigo, a que precisa ser resgatada dos “homens de dois metros” que querem roubar seus, pasmem, banheiros!

Fôssemos nós psicanalistas, veríamos aqui uma versão barata do ilustre presidente Schreber. O alto nível de perversidade imbuído no delírio paranoico é inversamente proporcional à baixeza estética de sua performance. Mas deixemos a psicanálise aos analistas. De um ponto de vista político, o que está em jogo na cena que se desenrolou no último Dia Internacional da Mulher é um problema social com amplas repercussões: a ideia de que os movimentos LGBTQIAP+, em especial as pessoas trans, querem ditar a maneira pela qual as pessoas devem viver suas vidas. Ideia que arrebata corações, aplausos e simpatias ao alimentar temores e ansiedades das pessoas diante de um mundo tido como incerto.

Quando tudo parece de ponta-cabeça, a estabilidade é buscada no retorno, mas como nos lembra Derrida, a violência do fantasma que retorna concentra-se em sua estética espectral. A fantasia masculina ressuscitada é mais grotesca e ridícula do que já foi antes, mas ela não deixa de partir do assombro e do horror.

Mas tranquilizemos a extrema direita. Não… a esquerda, o feminismo, as pessoas trans e outros fantasmas não querem invadir banheiros nem acabar com suas famílias. Não há porque imaginar que a existência dessas pessoas vá derreter a solidez da fantasia da família-padrão-margarina. Dessa forma, Nikole e Bolsonara podem despir-se de suas pseudofeminilidades indignas, que usam estética da afetação caricata para suavizar seus autoritarismos.

Até porque, o 8 de março de 2023 foi o primeiro em que duas mulheres trans, apesar de tudo e para o terror do referido deputado, puderam discursar em plenário sobre o significado da data. Muitas outras virão.

 

 

 

 

 


20
Mar23

Discurso transfóbico: grupos red pill fazem elogios a Nikolas Ferreira (vídeos)

Talis Andrade
 
 
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Discurso do deputado federal com falas transfóbicas é aplaudido em comunidades masculinistas nas redes sociais

 

por Maria Dulce Miranda /Correio Braziliende /Estado de Minas

Em dois dos grupos de red pill em que a equipe do Estado de Minas se infiltrou no Facebook, diversos posts exaltam as atitudes do deputado federal Nikolas Pereira (PL-MG). O grande destaque das publicações é o discurso com teor transfóbico no dia das mulheres feito pelo parlamentar no plenário da Câmara dos Deputados.

Com uma peruca loira, Nikolas ironizou as mulheres trans e afirmou que, com o adereço, se "sentia mulher". Em determinado momento, também em tom jocoso, o parlamentar se autointitulou de "deputada Nikole".

No grupo ‘Redpill, Sigma & Mgtow Brasil’, a notícia do discurso foi compartilhada com um comentário sucinto: “Herói”. Outros homens responderam à publicação parabenizando a ação de Nikolas. “Estamos bem representados, senhores”, disse um deles.

Chamado de “futuro presidente do Brasil”, Nikolas é elogiado pelos red pill por usar “o sistema contra o sistema”. Ou seja, na visão desses homens, ao dizer, em tom de chacota, que se sentia mulher, a acusação contra transfobia seria descabida.

Na publicação também não faltaram críticas à esquerda e ao movimento feminista. “Essa esquerda é muito ‘mimizenta’”, apontou um membro do grupo. Outro homem disse que não acredita existir algum red pill que tenha votado no Lula. “Não existe red pill de esquerda, mano. Vai totalmente contra a ideologia feministo (sic) deles”, concordou outro.

‘Padrinho’

No grupo ‘Elite Red Pill’, um vídeo analisando o discurso transfóbico de Nikolas foi compartilhado. Com o título “Nikolas Ferreira foi ‘ajudar’ as mulheres e se lasca (sic)”, o vídeo de 22 minutos foi publicado no YouTube em um canal chamado Don Sandro, com mais de 100 mil inscritos.

Red pill critica discurso de Nikolas. Para ele, o parlamentar deveria sugerir novas leis para defender os homens

Nas imagens, o homem afirma que Nikolas é um “conservador 2.0”, que gasta uma “energia enorme” em pautas menos urgentes. “Enquanto eles despendem uma energia assombrosa contra pautas como LGBT, dezenas de leis que beneficiam as mulheres em geral e acabam com a vida dos homens são todas aprovadas, inclusive com o voto deles”, afirma Don Sandro se referindo ao projeto de lei que pretende criminalizar a misoginia.

Na publicação, o homem chama o Don Sandro de “nosso padrinho”, em uma referência ao filme ‘O poderoso chefão’. “Como sempre, nosso padrinho extremamente preciso em seus comentários: quando que os manginas vão aprender que as mulheres não querem ser ajudadas?”, postou o homem, usando o termo ‘mangina’ para definir Nikolas, expressão que diz de homens que adoram se rebaixar para mulheres.

Por fim, ele pede para que Nikolas use seu espaço para criar leis que beneficiem os homens. Mas, nem na postagem do grupo, nem nos comentários do vídeo no YouTube Nikolas é criticado por utilizar um discurso transfóbico. Apenas por não “focar nos homens”.

Mesmo porque os membros do Elite RedPill aplaudiram uma notícia que dizia que um pai espancou uma mulher trans depois que ela teria vencido a filha desse homem em um campeonato de jiu-jitsu. É importante destacar que a notícia é falsa e o texto só é encontrado em sites não confiáveis. “Errado não está. Por que não entra em um campeonato com homens?”, disse um dos membros.

A notícia falsa de que um pai teria agredido uma mulher trans foi tema de conversa entre os red pill.

Mesmo com a notícia sendo falsa, ela foi aplaudida no grupo

 

 
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10
Mar23

O moleque Nikolas Ferreira será cassado? (Vídeos do discurso misógino e resposta de Tabata Amaral)

Talis Andrade

Câmara, limpe a transfobia

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Por Altamiro Borges

O deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) fez uma encenação transfóbica no 8 de março, Dia Internacional da Mulher, para tentar tirar o foco das gravíssimas denúncias sobre as joias milionárias de Michelle Bolsonaro. Mas o provocadorzinho barato, chamado de “moleque” no plenário da Câmara Federal, pode se dar mal. Cresce a pressão no parlamento, no Judiciário e na sociedade pela cassação do seu mandato. Não dá para naturalizar as barbaridades desse deputado como se fez com outro fascista que depois chegou à presidência da República. 

Entre os movimentos já em curso, o Ministério Público Federal (MPF) acionou o Congresso Nacional solicitando a imediata apuração do caso. “A procuradora Luciana Loureiro representou pelo encaminhamento de requerimento à Mesa Diretora da Câmara para averiguar ‘suposta violação ética’. Ela ressaltou que Nikolas Ferreira usou o tempo na tribuna para, ‘a pretexto de discursar sobre o Dia Internacional da Mulher, referir-se de forma desrespeitosa às mulheres em geral e ofensiva às mulheres trans em especial. A procuradora representou pela adoção de medidas de responsabilização cível (dano moral coletivo) e/ou criminal contra o parlamentar”, relata o site UOL. 

Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no planeta


Já na Câmara Federal, parlamentares de vários partidos espinafraram o “moleque” fascistoide e anunciaram que vão pedir a cassação do seu mandato no Conselho de Ética. A deputada trans Duda Salabert (PDT-MG) foi uma das mais incisivas na crítica. Ela lembrou que “há 14 anos consecutivos, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no planeta, e que 80% desses assassinatos ocorreram e ocorrem com a violência exagerada”. 

“Dificilmente uma travesti é morta com um tiro só no Brasil, só com uma facada. É crime de ódio, e é essa estrutura de ódio que nos exclui do mercado formal de trabalho, já que 90% das travestis estão na prostituição. É essa estrutura de ódio que nos exclui da sala de aula, porque 91% das travestis e transexuais não concluíram o ensino médio. É essa estrutura de ódio que nos exclui do espaço político. Mas eu digo para esses fascistas que querem nos ridicularizar, que nós somos o tamanho dos nossos desejos, nós somos o tamanho dos nossos sonhos... O seu ódio não foi capaz de frear que a deputada federal mais votada de Minas é uma travesti”, afirmou. 

Já a também deputada trans Erika Hilton (Psol-SP) rechaçou a postura misógina e transfóbica de Nikolas Ferreira e reforçou a necessidade de que os direitos previstos na Constituição sejam “estendidos ao conjunto plural e diverso de todas as mulheres brasileiras... É preciso enfrentar a violência que nos acomete, lembrar que ainda vivemos no primeiro país do mundo que mais mata e mata de forma cruel e violenta mulheres como eu. Meninas como eu que aos 13, 14 anos, foram jogadas nas ruas, vivem da prostituição. É preciso que haja um esforço desta casa, da sociedade, para resgatar a nossa humanidade, para resgatar a nossa dignidade”. 

Até Arthur Lira repreende o provocador

A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) chamou o provocador de “moleque” e informou que pedirá sua cassação e enviará notícia-crime contra ele ao Supremo Tribunal Federal. Ela lembrou que “transfobia é crime” e “ultrapassa a liberdade de discurso garantida pela imunidade parlamentar”. A prática é equiparada ao crime de racismo e passou a ser tratada como crime hediondo pelo STF em 2019, com pena prevista de três anos de prisão. Nikolas Ferreira já é alvo de duas ações no Supremo por transfobia. Desde fevereiro deste ano, ele também responde por injúria racial por agredir verbalmente a deputada Duda Salabert quando ambos eram vereadores em Belo Horizonte. 

Até o presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira (PP-AL), repreendeu o fedelho bolsonarista. “Esse plenário não é palco para exibicionismo e muito menos para discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém”, postou em suas redes sociais. “Deputados federais de PSB, PSOL, PDT e PCdoB decidiram enviar ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados representação contra o Nikolas Ferreira (PL-MG) pela suposta prática do crime de transfobia. Os signatários pedem que seu mandato seja cassado por quebra de decoro parlamentar”, relata Mônica Bergamo na Folha. O fascistinha pode até ser cassado e merecia ser preso!
 

11
Out22

Alguém precisa parar Damares Alves

Talis Andrade

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E o povo, já pergunta com maldade/onde está a normalidade?/Onde está a normalidade?  

 

por Denise Assis

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Peço licença ao mestre Noel Rosa para parodiar a sua magistral composição: “Onde está a honestidade?”. Primeiro, porque perguntar pela honestidade a esta altura desse governo é jogar palavras ao vento. Segundo que, sim, há algo de anormal nas figuras que compõem ou compuseram esse governo que aí está e quer continuar, mesmo que as pesquisas apontem que 51% da população o rejeite.  

Lamentavelmente, os 49% que o toleram, o fazem a tal ponto que passam por cima de situações inarredáveis: o potencial canibalismo do chefe de governo e a perversão de sua ex-ministra da família, da mulher, ou seja lá do que for que ela não deveria conduzir, (Damares Alves foi Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) porque não tinha, não tem e não terá nunca perfil para a pasta. A ex-ministra, independente dos traumas sofridos – e principalmente por eles – deveria estar em tratamento psicanalítico, a fim de fechar suas feridas, e não contaminando discursos públicos com suas neuroses advindas dos abusos na infância. (Relatados pela própria).

Ao contrário disso, lhe deram poder para falar a uma plateia onde havia crianças. Sem o menor equilíbrio, usando de fantasias que são suas, (e não da esquerda, como atribui), poluiu a ingenuidade e a pureza das crianças presentes, descortinando para elas um mundo de perversidades (e perversões que são suas), prematuramente. Quantas delas chegaram em casa querendo saber dos pais o que era aquilo que ouviram? Quantas não saíram de lá apavoradas, com medo de perder os dentes para o tal do “sexo oral”? Quantas irão espremer os pais em busca de uma explicação precoce para essas novidades de que jamais tiveram notícia?  

O que estou aqui falando tem base em relatos pessoais. Tanto do presidente quanto de sua ministra. Há registros das falas de Damares e vídeos da revelação de Bolsonaro. Portanto, TSE, sua decisão (de mandar a campanha do PT retirar do seu programa o vídeo a respeito), embora deva ser acatada, é o que diz a lei, é questionável porque cassa o direito dos cidadãos de saberem como pensa e quais os valores do seu governante.

E o que é a normalidade? Haverão de me perguntar. Não sei. Só sei é que deveria haver decoro e regras para se ocupar cargos no alto escalão, compatíveis com o comportamento médio da população.

E se aqui a fala de Bolsonaro não reverberou, lá fora estarreceu editores dos grandes veículos, que estamparam em suas páginas o potencial canibalismo do presidente do Brasil. O fato de ter admitido que poderia fazer um gesto de tal natureza, já bastaria para ser, sim, notícia, e não “fake News”, como quer o TSE. Fake News, senhores do TSE, é deixar alguém atribuir a outros as suas fantasias sexuais ou fazer acusações sem provas. Aliás, mais que fake News, é a perversidade sendo esparramada indistintamente. 

Alguém precisa parar Damares Alves, pelo bem das nossas crianças, às vésperas de comemorar o seu dia. Moralismo? Não. Prudência.   

12
Jun22

A casa é da família, não dos bancos

Talis Andrade

Charges: Número de famílias endividadas cai

 

"Trata-se de um retrocesso inadmissível, ainda mais que hoje 77,5% das famílias brasileiras estão endividadas"

 

por Reginaldo Lopes

- - -

O ataque contra os direitos do povo brasileiro continua a todo vapor. O último foi a aprovação, pela Câmara dos Deputados, no dia 1º/06, do projeto de lei 4188/2021, de autoria do governo federal, que permite a bancos e instituições financeiras penhorar o único imóvel de uma família para quitar dívidas.

Trata-se de um retrocesso inadmissível, ainda mais que hoje 77,5% das famílias brasileiras estão endividadas, o maior percentual desde o início da série histórica, em janeiro de 2010. O PT votou contra e lutará para impedir que o cruel projeto seja consolidado no Senado.

É uma temeridade colocar em risco a moradia, deixando vulnerável a propriedade, o porto seguro das famílias, para beneficiar bancos que já têm lucros astronômicos (média mensal de R$ 6,8 bilhões em 2021).

Pela legislação em vigor, a casa, como único bem de família, não pode ser penhorada, salvo exceções definidas em lei. Pelo projeto, as instituições financeiras poderão realizar a penhora em qualquer situação na qual o imóvel seja dado como garantia real.

O projeto é bancado por um presidente genocida e mentiroso que diz falar em nome da família. Milhares de famílias podem ficar sem absolutamente nada, já que a proposta facilita que um único imóvel da família seja usado como garantia de várias operações de crédito. Isso induz as famílias a ficarem superendividadas, com risco de perderem esse único imóvel. O risco é ainda maior com a economia há anos estagnada, e com várias mudanças que o projeto traz.

Assim, quando o imóvel foi adquirido por alienação fiduciária e o devedor não conseguir pagar as prestações, a propriedade se consolida no credor, que deverá levá-lo a leilão. Hoje, a lei estabelece que no primeiro leilão somente serão aceitos lances acima do valor do imóvel e, no segundo, somente acima do valor da dívida. Já o projeto define que no segundo leilão serão aceitos lances acima de 50% do valor do imóvel, que pode ficar abaixo do valor da dívida. Ou seja, o devedor terá perdido o imóvel e ainda ficará com uma dívida a pagar.

No caso de imóvel adquirido por hipoteca, a execução somente pode ocorrer hoje por via judicial. Com o PL, poderá ser também via extrajudicial. Com isso, em apenas 75 dias o imóvel cujas prestações estão inadimplentes poderá ir a leilão. Quando um mesmo imóvel garantir mais de uma operação de crédito, caso haja inadimplência em apenas uma delas o credor poderá declará-las todas vencidas e, se o devedor não conseguir quitá-las, levar o imóvel a leilão.

Hoje, a jurisprudência aponta que o imóvel bem de família oferecido em garantia é impenhorável quando os recursos obtidos não o beneficiam diretamente. Esse é o caso, por exemplo, quando a dívida garantida pelo bem é contraída para ajudar um amigo ou familiar. Com o PL, esse bem de família hipotecado pode ser penhorado independentemente da destinação dos recursos obtidos.

A mudança fragiliza ainda mais as camadas pobres, que, ao não pagarem as suas dívidas, poderão perder seu único bem, a casa onde mora. A impenhorabilidade dos bens de família, hoje vigente no País, existe em muitos outros países centrais e garante o patrimônio familiar residencial. Não podemos jogar o povo brasileiro numa situação ainda mais caótica, pavimentando o caminho para uma sociedade em situação de rua ainda maior.

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Paulo Pimenta on Twitter: "Ódio ao povo: Famílias brasileiras são ameaçadas  de perder a casa para os bancos. A aprovação do 4.188/2021 permite aos  bancos tomarem o único imóvel familiar para cobrar

Minha Casa Minha Vida vai dificultar acesso à faixa 1 - Sindicato dos  Bancários e Financiários de Bauru e Região

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19
Fev22

Deep fake news

Talis Andrade

 

Preparem-se que esse ano vai ser de foder lascar. Vai veno…

Por Toni d´Agostinho

Jogo de cena

Sobre a polêmica da semana… Impressionante como a direita consegue capturar a pauta. Será que tudo isso é espontâneo? O Kim Patroca é exatamente aquilo que o Andrew Kuribko, no fundamental “As Guerras Híbridas“, chama de “tenente” (um agente que recebe treinamento dentro de um país-alvo pra iniciar um processo de revolução colorida, segundo escalão na hierarquia desse tipo de organização, logo abaixo do “núcleo”, que geralmente é treinado e recebe diretrizes no exterior). A Batata Liberal, nossa Tabatatcher, é cria da fundação Lemann, igualmente treinada. O rapaz do Flow, fenômeno do Youtube, me parece ter a inteligencia de uma ostra e ser bastante manipulável (quem acredita em anarco-capitalismo acredita em tudo) mas também parece ser bastante ambicioso. Vão me dizer que não estavam em conluio? A Batata sai de “ponderada” e os meninos de “defensores da liberdade de expressão”… O tal Monark tem tudo pra se candidatar a deputado (e se eleger fácil!). Ainda fomentam o debate que super interessa para eles sobre nazismo/comunismo, abusando da associação Bolsonaro-nazismo x Lula-comunismo com aquela patacoada de teoria da ferradura… E a esquerda turbina a operação em sua eterna caça por likes e wiews nas plataformas da bigtech… Se liga, hein?

Não da Brech(t)a, camarada

O tamanho das ninhadas então… 80 anos depois e o velho Bertolt continua atual… 

Permaneça rindo para não chorar 

17
Fev22

Tiro, porrada e bomba! O inferno do debate político nacional

Talis Andrade

nazista adrilles.jpg

 

O ex-comentarista da Jovem Pan Adrilles Jorge 

 

por Wilson Gomes /Cult

Esta foi uma semana ruim para o radicalismo político na esfera pública. O mercado de Opiniões e Comportamentos Políticos Desagradáveis, Radicais, Levianos e Feitos para Lacrar, que vinha em alta desde 2013, teve um revés. Mas é claro que isso não vai alterar o seu modo de funcionamento, e na semana que vem voltará à programação original para melhor servir à sua ampla e ativa clientela.

Já faz tempo que a esfera pública política vem funcionando sob o imperativo da lacração e da necessidade cotidiana de alimentar uma guerra cultural com fogo e fúria. Tudo motivado pelas recompensas em forma de amor digital e em “monetização” – sim, likes pagam boletos – que são reservadas apenas a quem apresentar as posições mais extremadas e da forma mais afrontosa possível. É preciso “causar”.

A necessidade por tretas e radicalismo se generalizou. O BBB22, por exemplo, é considerado a edição mais chata da franquia em muitos anos pela falta das “problematizações” e barracos entre tribos identitárias que foram abundantes no ano passado. Da mesma forma, os ambientes de produção e distribuição de informação foram pelo mesmo caminho. Os jornais de referência, os produtos noticiosos hiperpartidários, os sites de notícia e o público que discute política nas plataformas digitais, todos gostam mesmo é de radicalismo, pé no peito, polêmica pela polêmica, não de quem hesita, faz distinção, argumenta e fala baixo. Basta que se vejam as métricas de seguidores, visualizações, engajamento e faturamento para se comprovar este ponto de vista.

Com esse padrão em vigor, como ficar chocando com a espiral ascendente de brutalidade, provocações, cancelamentos e ódio que infestam a vida pública brasileira?

 

A inovação “disruptiva” do mercado de razões

 

Os melhores atores no provimento desse tipo política são, naturalmente, os grupos mais novos e inovadores no ramo da militância (militância não, desculpe, agora se chama “ativismo”) e do comentário político. Penso sobretudo na nova extrema-direita, que já nasceu digital, na nebulosa hiperliberal que emergiu no Brasil desde o início da década passada (Ancaps, liberteens, libertários e assemelhados) e nos identitários de esquerda. Todos, ao meu ver, fornecendo padrões de militância e comentário político “inovadores” baseados em três lemas: a) ou tem treta ou tem tédio; b) quem não radicaliza não é notado; c) ou você é um floquinho de neve, cheio de frescuras e flopa, ou você pisa no dedão de alguém e bomba.

Muita gente teve uma ascensão meteórica, de nadinha para influencer bombado, em alguns anos. Nem todos tratavam de política institucional, mas lembrem-se que estamos na mais plena materialização da ideia de que tudo é política, do pessoal e íntimo até as causas mais universais e abstratas. Além disso, o jogo político passou a ser o principal entretenimento brasileiro desde 2013, ganhando da fofoca e da ficção. Era normal que mesmo quem se ocupava inicialmente de outras coisas convertesse para a política o seu arsenal de gracejos, performances e opinião.

O resultado é o que estamos vendo. Só isso explica fenômenos como o fato de o Flow Podcast ou ou PoadPah terem se tornado arenas centrais irrecusáveis para candidatos presidenciais. Só isso explica pessoas como Caio Coppolla e Adrilles Jorge se tornaram comentaristas de política na Jovem Pan. Ou como Kim Kataguiri, Fernando Holiday e outros fundadores de startups antipetistas, além de uma lista enorme de youtubers antipetistas ou libertarianistas, terem conseguido mandatos populares nos últimos ciclos eleitorais. Ou a ascensão de figuras como Rodrigo Constantino, Jones Manoel e Allan dos Santos, que transformaram o provimento de opinião política controversa, extremada e provocadora em sua atividade e fonte de remuneração principal.

Não chegaram aonde estão por uma inteligência notável ou por uma formação sólida e consistente, mas porque entenderam o momento, as demandas da nova clientela consumidora de informação política e conseguiram projetar um produto que atende tais demandas: inovador, provocador, controverso, lacrador e chocante.

E há ofertas para todos os gostos. Se você é um stalinista ou acabou de sair da Guerra Fria, nem por isso deixará de ter um podcast, um canal no YouToube, um programa de rádio ou audiovisual para mastigar e interpretar o mundo conforme as suas expectativas. Se você é um identitário de esquerda, um evangélico conservador ou um hiperliberal, idem, sempre haverá alguém para oferecer uma interpretação radical, “disruptiva” e provocadora do mundo conforme os seus desejos.

Disso tudo resulta uma esfera pública política polarizada, devotada à provocação e ao reforço de pontos de vistas radicalizados, parciais e, geralmente, furiosos. Ora, quem semeia tretas e radicalismo, como pode esperar colher moderação e disposição para construir cooperativamente alternativas políticas?

 

Semeando conflitos para colher engajamento

 

E foi o que vimos esta semana, mais uma vez. Embora, nos casos em tela, o radicalismo tenha custado caro a quase todos os radicais.

No sábado (5/2), um vereador do PT de Curitiba liderou uma multidão de manifestantes políticos num protesto contra o assassinato de um congolês no Rio. A inovação consistiu em fazer este protesto dentro de um templo religioso católico, que, segundo a Arquidiocese local, foi agressivamente invadido. Os fiéis podem esperar, o identitarismo tem as suas urgências e não pode esperar.

Isso tudo enquanto a direita conservadora está justamente escolhendo os temas para a sua estratégia de semear o pânico moral contra a esquerda. No exato momento em que começava a circular em suas redes de WhatsApp os temas “os petistas querem acabar com as igrejas” e “eles são cristofóbicos”, a esquerda vai lá e fornece personagens e imagens. A ideia de que “estamos sitiados e oprimidos pelo Mal” precisava de vídeos, não precisa mais: o movimento negro identitário acabou de fornecer-lhes material até outubro.

Isso impede a vitória de Lula? Provavelmente não. Mas basta um ato estúpido como esse para dar mais 3 vereadores, 5 deputados estaduais e 2 federais ao PP, PL ou Republicanos. Jogada genial. A centro-esquerda provavelmente reconquistará a presidência da República na eleição de outubro, mas não a presidência da Câmara nem a maioria nas casas legislativas. Quem quer que venha a ser o futuro presidente do Brasil vai ter que negociar qualquer coisa com as bancadas da Bíblia e do Boi, que, afinal de contas, continuarão mandando nesse país. Em outras palavras, o bolsonarismo poderá perder a hegemonia em outubro, mas o identitarismo evangélico ultraconservador consolidará o seu predomínio. Com a ajuda dos radicais do petismo.

Não bastasse isso, começou a circular no submundo da extrema-direita uma campanha de uma rede de academias de ginásticas em que se diz “todas as pessoas brancas reproduzem racismo”. A direita bolsonarista, claro, fez a festa, reiterando que se você é branco, cis e hétero não tem nada a ganhar votando numa esquerda que esfrega na sua cara “você é um racista, reconheça os seus pecados que temos uma penitência aqui para você pagar”. Independentemente de você efetivamente ser racista ou não. Mais uma vez a militância-de-problematização dos identitários de esquerda alimenta a militância-de-treta dos identitários de direita. Tem sido assim há muitos anos.

Uma campanha como essa, que distribui culpas e exige penitência, tem pouquíssima capacidade de mudar atitudes e comportamentos fora da bolha dos progressistas. Este é um dos grandes problemas das táticas “de problematização” identitária de esquerda. Eles estão tão acostumados a pisar nos pés dos progressistas e a contar com um rio perene de remorsos e complacência da esquerda que não sabe falar para um auditório universal. Então, é tiro no pé a toda hora.

 

O ancap e o nazismo

 

Na última segunda (7/2), os libertarianistas de direita começaram o seu momento de meter os pés pelas mãos. Os âncoras do Flow Podcast, Bruno Monteiro Aiub (vulgo Monark) e Igor Coelho, conversavam com os deputados Tabata Amaral e Kim Kataguiri, quando o próprio Monark defendeu com veemência que um partido nazista ou antijudaico deveria ter o direito de existir no Brasil. Posição confortavelmente em circulação nos ambientes hiperliberais, em que todos os desejos e caprichos devem ser desembestados (liberdade como um absoluto) e a vida social tem que ser darwinismo duro e puro (liberalismo austríaco). Só que desta vez foi notado. Kim Kataguiri assentia e, indagado sobre se concorda com a criminalização de partidos nazistas na Alemanha, disse que não. Tabata Amaral, por sua vez, expressou com firmeza uma posição contrária à opinião dominante na mesa.

Bem, o fato foi considerado chocante e intolerável e a condenação veio de todos os lados, forte, rápida e intensa.

O Flow Podcast, de propriedade dos dois âncoras mencionados, começou a perder patrocinadores e o próprio Monark, um dos mais populares influenciadores digitais do público jovem, foi afastado do programa que criou, depois de explicar que não pensava realmente assim e dizer que estava bêbado quando disse o que disse. Kim Kataguiri declarou que se equivocou na resposta, que estava pensando em outra coisa e se distraiu. Ambos pediram sentidas desculpas e juraram ser antinazistas desde criancinhas.ImageImage

 

As coisas nem chegaram a esfriar e já no dia seguinte circulava a imagem de Adrilles Jorge, comentarista de política da Jovem Pan, rádio que é a voz do bolsonarismo no noticiário brasileiro, fazendo a reconhecida “saudação nazista” no encerramento de um programa jornalístico. Foi um gesto nítido, acompanhado de um sorriso de galhofa e um olhar para o lado buscando cumplicidade, enquanto o âncora do programa deixava escapar, estupefato, que considerava aquele gracejo “surreal”. O liberteen radical não conhece limite.Image

Ou seja, um dia depois de um par de radicais do darwinismo social defender a liberdade de ser nazista, um imbecil, que se considera poeta, que foi chamado de “inteligentíssimo, cultíssimo” por Bial e elevado a comentarista político pela Jovem Pan, saúda o Führer na frente das câmeras como se tudo na vida fosse apenas brincadeira e provocação. Até o nazismo.

A revolta e a retaliação vieram em seguida, inclusive com Guilherme Boulos declarando em tweet, depois apagado, que quem faz um gesto desses mereceria o mesmo tratamento que os comunistas deram aos nazistas ao ocupar Berlim. Fuzilamento ou forca, deduzo.

Sim, parece que todos os envolvidos nessa rodada de radicalismo e provocações foram ou serão punidos, de uma forma ou de outra. Acontece que as circunstâncias não mudarão por causa disso. Pensemos no caso desse modelo de debate político promovido pela CNN Brasil ou pela Jovem Pan, determinado a explorar a polarização política e estimular o conflito entre as posições. O que pode derivar daí? Da próxima vez provavelmente vai aparecer alguém vestindo de uniforme da SA ou SS na bancada, que se despedirá do público ao brado de “Sieg, Heil!”

Adrilles não foi fuzilado, mas foi demitido. Monark também. Kim se retratou, como raramente o faz, apesar de useiro e vezeiro nesse tipo de desafio e combate. Isso, contudo, nada muda. Afinal, são só peões no projeto de incendiar a discussão política brasileira. Será muito fácil encontrar outros, de todos os lados do espectro político, pois a oferta de radicais e provocadores no mercado da opinião política no Brasil é abundante. O que falta aqui são pessoas dispostas a argumentar, dar razões das premissas que adota, e dar opiniões baseadas em estudo e em evidências.

A própria Tabata Amaral, a única voz argumentativa dentre os personagens do turbilhão da semana, foi extremamente criticada pela esquerda. Para uns, ela deveria ter-se recusado a conversar com nazistas, para outros deveria ter dado voz de prisão aos presentes. Em ambas as queixas, a demanda explícita é de que não argumentasse, não oferecesse razões de forma pública e explicações das premissas que adota. As pessoas não querem argumentos, querem atitude, tomada de posição, repúdio e justiçamento. O método predileto do participante da esfera política hoje, para resolver diferenças de opinião, envolve basicamente isso: chamar a polícia ou acionar a autoridade, levantar-se e ir embora ou insultar o adversário, sobretudo quando ele ultrapassar a linha da nossa tolerância moral.

Cancelar é preciso, argumentar não é preciso.

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