Contou-se hoje a 19ª morte no Complexo do Alemão, a de Solange Mendes, pacata dona de uma pensão, baleada em casa e que só agora, depois de mais de 24 horas de começado o tiroteio, teve sua morte contabilizada.
Ao mesmo tempo em que Solange entrava para a lista macabra, o major Ivan Blaz, da Polícia Militar, diz que “a munição utilizada por agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) a polícia de elite da corporação, acabou nas duas primeiras horas de confronto”.
Sabendo que foi uma operação planejada, envolvendo centenas de policiais, dá para imaginar que a quantidade de munição levada subisse a dezenas de milhares de cartuchos, disparados em 2 horas.
O que evidencia – se é verdade, claro – que estavam longe de dar tiros seletivos e num “atirem à vontade” inadmissível numa operação policial em meio a uma comunidade de vielas estreitas e casas amontoadas como é o Alemão.
Aliás, em nenhuma outra, pois dá para imaginar o que seriam 10 ou 20 mil cartuchos disparados em Ipanema ou no Leblon.
O governador Cláudio Castro, numa atitude repugnante, aproveitou o episódio para fazer campanha eleitoral (pedra cantada aqui, antes), dizendo que os mortos eram “os bandidos que o[Marcelo]Freixo defende”.
Coisa de canalha, mas à qual o Rio se acostumou, desde que a mídia vivia fazendo com Brizola e eles garantiam que, ganhando eleições, acabariam com a violência em seis meses.
O filme é velho e nele só os mortos são novos, como a Dona Solange.
A chacina uma operação militar de vingança pela morte do cabo da PM Bruno de Paula Costa. À vendeta nazista estipula um soldado vale dez civis, um cabo vinte... A polícia do governador Cláudio Castro lidera o número de massacres no governo bolsonarista que aprova a sangreira
As 20 mortes que aconteceram nessa quinta-feira (21) no Complexo do Alemão, zona norte da cidade do Rio de Janeiro (RJ) foram consequência de uma vingança de policiais pela morte do cabo da Polícia Militar (PM) Bruno de Paula Costa. Vinte pessoas morreram, inclusive duas mulheres: Letícia Marinho de Salles e Solange Mendes.
De acordo com informações publicadas nesta quinta-feira (21) peloportal Uol, o policial chegou ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, às 6h. Uma hora depois, o ativista Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto, relatou que policiais começaram a invadir casas de moradores para utilizarem como plataforma de tiros.
Por volta das 10h, com as notícias sobre o número de mortos desconhecidas, dezenas de mototaxistas protestaram nos acessos ao Complexo do Alemão.
A Polícia Militar - em conjunto com a Polícia Civil - continua no Complexo do Alemão, numa ocupação que metralhou 20 moradores, entre eles duas mulheres
Mais uma moradora do Alemão morreu durante uma ação policial, que ainda acontece na região. Solange Mendes foi atingida com um tiro de fuzil na cabeça, na Alvorada, durante uma ação da UPP da Nova Brasília que tinha como objetivo a remoção de uma barra de concreto.
Segundo vizinhos, Solange foi baleada por um policial que se assustou quando a moradora passava no beco. Segundo vizinhos, um policial escondeu o rosto de Solange, para que pessoas ao redor não conseguissem identificar a vítima. “Tamparam o rosto dela, enrolaram o rosto dela com uma roupa deles mesmo pra ninguém saber quem é. E gritaram, é morador! ‘Tacaram’ pra dentro do carro e em seguida desceram varado e foram embora”. Ainda de acordo com o morador, foram outros policiais que atiraram em Solange e não os que socorreram.
Moradores revelam que um policial se baleou acidentalmente na perna, e no meio da situação, balearam Solange. Um dos militares teria gritado “Sou eu” depois de ser acertado. Após isso, gritaram “É morador!”
Letícia Marinho de Salles, de 50 anos, morta na última quinta feira (21), após ser baleada com um tiro de fuzil na Estrada do Itararé.
Letícia era moradora do Recreio dos Bandeirantes e estava com o namorado Denilson Glória, que vive no Alemão. Os dois e um primo de Denilson estavam dentro de um carro, na Estrada do Itararé, na altura do Colégio Tim Lopes. Segundo o namorado da vítima, policiais atiraram no veículo, enquanto eles pararam no sinal. Letícia foi atingida no peito.
Um amigo da família afirma que Letícia perdeu a mãe há cerca de um mês de quem cuidava em tempo integral. Antes disso, ela atuava como segurança e havia renovado seu registro a pouco tempo.
Ruben Berta
@ruben_berta
Dezoito pessoas morreram no Alemão, e o governador está comendo fruta no Ceasa
com Romário.
Rodrigo (Palito) Cebrian
@rodcebrian
Em que lugar do mundo isso acontece com tanta frequência e "naturalidade", com tamanha aceitação da sociedade? NENHUM! No Brasil existe uma política de estado de extermínio do povo preto e pobre. O pior lugar do mundo é aqui.
Moradores denunciam invasão em casas, para roubar, por parte de agentes da PM
A operação policial no Complexo do Alemão que começou na manhã desta quinta-feira (21) está deixando marcas do abuso de autoridade. Em vídeos, moradores registraram policiais forçando portas para invadir casas, e residencias reviradas para procurarem dinheiro e pertences de valor dos moradores.
Uma vítima relatou a situação. “Eles entraram lá em casa e levaram meus pertences, mexeram na geladeira e bateram na cara do meu sogro e a minha sogra foi xingada por eles. E eu tenho criança pequena em casa, que assistiu tudo.”
Vídeos mostram marcas de tiros em paredes de casas. Dezenas de moradores relataram agressões e pertences roubados de suas casas durante as invasões.
Policiais militares usam residencias de moradores para confronto na comunidade (Imagem: Reprodução)
Manhã de terror
Em nota, a Federação de Associações das Favelas do Rio de Janeiro (FAFERJ) se pronunciou sobre a operação no Complexo do Alemão.
“Mais uma manhã de terror. Cláudio Castro, o Governador das Chacinas, autorizou mais uma Operação Eleitoreira em favela. Na guerra da Ucrânia e em vários outros conflitos é proibido utilizar helicóptero como plataforma de tiro em área civil, é crime internacional. Mas nas favelas isso acontece cotidiamente, inclusive hoje no Alemão, com o Águia (helicóptero blindado) aterrorizando moradores. Essa lógica de guerra é um enxuga gelo que não resolve o problema da violência, ao contrário, apenas piora. Nós da FAFERJ repudiamos essa operação eleitoreira autorizada pelo Governador das Chacinas, Cláudio Castro. Também externo minha solidariedade aos moradores do Complexo do Alemão. As favelas pedem paz, e também direitos iguais!“
Virgínia Berriel, conselheira do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, também falou sobre a operação no Complexo do Alemão: “É lamentável a situação dentro do Complexo do Alemão. Estivemos lá na segunda-feira (18) e ouvimos iniciativas de comunicação comunitária. Não aceitamos esse tipo de invasão nas comunidades. Vemos isso com muita preocupação e o CNDH está atento a essa situação que atinge favelas do Rio de Janeiro. Estivemos no Ministério Público cobrando e exigindo respostas sobre como agem os departamentos responsáveis por estas incursões policiais. O Rio de Janeiro não tem planejamento de políticas públicas voltado para pessoa que moram na favela, pessoas tão vulveráveis em situações como esta de hoje.”