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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

02
Jul22

Carol Benjamin abrindo a Caixa Preta da Ditadura

Talis Andrade

 

 

“Dizer a palavra não é um ato verdadeiro se isso não está ao mesmo tempo associado ao direito de auto expressão e de expressão do mundo, de criar e recriar, de decidir e escolher e, finalmente, participar do processo histórico da sociedade. Na cultura do silêncio as massas são ‘mudas’, isto é, elas são proibidas de criativamente tomar parte na transformação da sociedade e, portanto, proibidas de ser.” 

 Paulo Freire, Ação Cultural para a Liberdade, 1970

 

 

A saga de três gerações da família Benjamin, atravessada pela Ditadura Militar, é o foco de “Fico Te Devendo Uma Carta Sobre o Brasil” (Daza Filmes, 2019, 88min), de Carol Benjamin. Em sua estréia como diretora de um longa-metragem documental, Carol “investiga a persistência do silêncio como ferramenta de apagamento da memória”, como sintetiza a sinopse oficial. 

cultura do silenciamento asfixia a democracia, ensinou Paulo Freire, proibindo as massas de ser. Já a produção cinematográfica brasileira mais relevante de nossa época é aquela que rasga as mordaças, afronta a História Oficial escrita pelos opressores, e vai abrindo caminhos para a autêntica participação social.

Uma das histórias que estão no âmago do documentário é a prisão ilegal do pai de Carol, César Benjamin (click e acessa os artigos dele publicados pela Ed. Contraponto): aos 17 anos de idade, ele tornou-se preso político da Ditadura empresarial-militar instalada no país com o Golpe de 64. Aprisionado em Agosto de 1971, ficou 3 anos e meio em uma cela solitária. Depois, mais 2 anos em prisão comum. 

Por pressão da Anistia Internacional, que o declarou o “Preso Político do Ano” em 1975, César consegue ser deportado para a Suécia em 1976, indo ao encontro de seu irmão mais velho, Cid Benjamin, que também havia sido preso político da ditadura e já morava à época em Estocolmo.  

A avó de Carol e mãe de César, Iramaya Benjamin, também manifesta-se como figura histórica de relevância: o filme a celebra em sua infatigável luta em prol da anistia ampla, geral e irrestrita para os perseguidos pelo terrorismo de Estado. 

 

 

Na crítica publicada pela Revista Cult, destaca-se que “o prisma que Carol procura mover e contar é o das cartas trocadas entre Iramaya e Marianne Eyre, membra da Anistia Internacional em Estocolmo, na Suécia, onde César se exilou quando saiu da prisão até a anistia falseada de João Batista Figueiredo (em 1979), quando pôde retornar ao Brasil.” (Por Manoel Ricardo de Lima, Out. 2020)

Carol Benjamin vai em uma jornada de reconstrução de uma história que não é só familiar, é coletiva. Para tal fim precisa ir até a Suécia, pesquisar nos arquivos da Anistia Internacional de Estocolmo, em busca de pistas que lhe permitam compreender melhor os destinos de seu pai, seu tio e sua avó, realizando um belíssimo filme “composto de muitos falares e alguns silenciares” (como escreveu Carlos Alberto Matos). 

Deste modo, este filme-ensaio se alça à dimensão de uma reflexão poética e filosófica sobre a memória (individual e coletiva, entretecidas). É uma obra audiovisual de sabor um tanto Proustiana, um Em Busca do Tempo Perdido que se passa nos anos-de-chumbo: Carol quer capturar os rastros e vestígios que o regime militar quis rasgar, entregar para as novas gerações as caixas pretas já todas arrombadas, disponíveis para que possamos dar vazão às verdades que os opressores de ontem e hoje desejam mudas e mortas.

Para juntar os cacos e construir com eles seu caleidoscópio fílmico, Carol precisa afrontar o silêncio, tanto aquele imposto pelo regime autoritário e opressor (que deseja massas mudas e esforça-se por extinguir a efetiva participação popular no poder) quanto o calar-se que acomete os traumatizados. Protagonista de seu próprio filme, Carol Benjamin se coloca na postura audaciosa de quem quer abrir uma série de caixas pretas e, como Audre Lorde, quer afirmar que não é o silêncio que vai nos proteger. 

Assim como fez Petra Costa em Democracia e Vertigem, Carol não tem pudores de narrar em primeira pessoa do singular uma saga familiar que ela sabe ser de importância coletiva. Os silêncios familiares que ela vivencia, sem saber explicar ao certo, instigam-na a decifrar o mistério num mergulho imersivo na Psiquê dos presos políticos da ditadura. Explora assim, com evocações de Fernando Pessoa e planos sombrios, em que as grades confinantes na tela convivem com uma voz em off que busca dar carnalidade à vivência do encarcerado.

Uma hipótese desponta: aqueles que foram torturados, maltratados, postos no pau-de-arara, expostos às mais horrendas formas de degradação humana, acabaram saindo do confinamento torturante imposto pela ditadura com uma atitude de trancamento em sua subjetividade, uma atitude que se manifesta por sintomas de afasia, uma dificuldade tremenda para expressar as vivências de sofrimento indizível impostos pelo aparato ditatorial de repressão. 

Para além dos esforços hercúleos que o preso precisa realizar para manter a sanidade mental e não surtar, há a crônica dos interesses intelectuais do jovem César Benjamin, de seu devir-filósofo, de sua avidez pelo estudo. Detrás das grades, além de testemunhar a vida cotidiana das lagartixas e das aranhas que lhe acompanham na cela solitária, Benjamin traduz textos (como fez Lênin) e vai tornando-se  algo semelhante a um Gramsci brasileiro. Tentaram prendê-lo para calá-lo, mas não sabiam que sua mente se recusaria à servidão, que seria sempre curiosa, crítica, criativa. Apesar de sua situação kafkiana, preso sem ter sido processado, engulido por um cárcere ilegal e escandaloso.

Em um dos momentos de alívio cômico do filme, Iramaya relata que tentava levar livros para o filho no cárcere, mas quase todos eram proibidos. Os milicos não deixavam entrar nem mesmo O Pequeno Príncipe, nem mesmo obras sobre os filósofos pré-socráticos. Com uma ginga malandra digna de Garrincha, Iramaya um dia convenceu os carcereiros do filho a entregarem a ele uma obra de Althusser que fazia a análise crítica do marxismo. Aí passou…

Iramaya, no filme, é alçada a um status de heroína cívica brasileira, em um processo através do qual Carol Benjamin age de maneira Górkiana, revelando o devir de uma mulher que antes era pacata, casada com um oficial do Exército, mas que politizou-se diante das injustiças sofridas por sua prole.

Iramaya foi se engajando até tornar-se uma das lideranças mais importantes do país ao fundar o Comitê Brasileiro pela Anistia. Denunciou bravamente a tortura como crime hediondo e gritou em alto e bom som que torturadores não podem e não devem ser anistiados!

De algum modo, Iramaya Benjamin também evoca outras mães lationo-americanas que sofreram com a desaparição ou o assassinato, pelos Estados ditatoriais, como as célebres Madres de La Plaza de Mayo na Argentina

 

César, Iramaya e Cid Benjamin (1998)

 

Ousando também começar a decifrar a esfinge do presente e compreender porquê o Brasil está atravessando esta distopia grotesca que é o empoderamento do Bolsonarismo, Carol resolve dar voz a Brilhante Ustra, chefe do Departamento de Repressão da ditadura entre 1970 e 1974. O ídolo dos bolsonaristas foi o único mililtar brasileiro oficialmente reconhecido como um criminoso, violador sistemático dos direitos humanos fundamentais do cidadão brasileiro, e seu “A Verdade Sufocada” é um dos livros de cabeceira de Jair Messias Bolsonaro, seu admirador confesso. 

Quando Dilma Rousseff inaugurou a Comissão Nacional da Verdade, apontando sua importância para a “consolidação da democracia”, falou do “direito à verdade” e do “direito de prantear e sepultar” entes queridos.

César Benjamin, “sobrevivente de mim mesmo como um fósforo frio” (como ele gosta de dizer, com versos de Fernando Pessoa), veio a público para esquentar seu fósforo em fala pública para a CNV em 2021. Qualquer cidadão brasileiro deveria prestar atenção ao que ele revela nestas cenas que provam que o filme pode ser veículo para um testemunho histórico que deveríamos valorizar por todo o ensinamento que pode comunicar. 

Contra a cultura do silenciamento, Carol afirma que “os silêncios são as borrachas da História” – e a cineasta quer escrever uma história nova ao invés de trabalhar para o apagamento sistemático das biografias que Ustras e Bolsonaros gostariam de ver sepultadas no esquecimento. 

No Brasil da barbárie bolsofascista, desgovernado pelo monstro moral que faz apologia da tortura e diz que “quem procura osso é cachorro” para se referir aos pais e mães que demandam saber a verdade sobre seus entes queridos trucidados pela ditadura, Carol Benjamin abre caixas pretas e realiza a tarefa indispensável de resgate da memória com um fim prático: que nunca se esqueça, e “que aquele Brasil que houve nunca mais aconteça”, como diz Eric Nepomuceno:

 

“Há mães que até hoje, a cada vez que soa o telefone, a cada vez que alguém toca a campainha da porta, pensam: ‘É ele, é meu filho’. São mães que esperam por filhos que estão desaparecidos, que estão mortos; mas elas não se convencem, não querem se convencer. Querem ver ao menos o que restou de seus filhos. E pelo menos esse direitos essas mães têm. As famílias têm. O direito de não só ter a memória resgatada: de resgatar os restos dessas pessoas desaparecidas. Do que sobrou da sua dignidade. Esse é um ponto de honra da nossa geração. Que alguma vez poderá dizer: nunca mais. Um ponto de honra: resgatar a memória. Para que ninguém esqueça, para que nunca mais aconteça.” (NEPOMUCENO, Eric. A Memória de Todos Nós, 2015, pg 59)

Outro ingrediente importantíssimo do filme de Carol está em lembrar a todo cidadão brasileiro de uma das características mais sórdidas do processo repressivo no Brasil: as atrocidades cometidas pelo regime burguês-militar contra menores de idade e jovens universitários. A verdade intragável que Bolsonaristas e Ustristas querem esconder foi revelada em livros como Cativeiro Sem Fim, de Eduardo Reina, e é tema de reportagens assinadas por alguns dos melhores jornalistas brasileiros.

Os militares “mataram garotos”, como apontado pela reportagem de Cynara Menezes, do blog Socialista Morena, que “fez um levantamento por idade entre os mortos e desaparecidos e descobriu que 56% deles eram jovens como Edson Luis [assassinado em 1968 no Calabouço]: tinham menos de 30 anos de idade. 29%, ou quase um terço dos mortos e desaparecidos da ditadura, tinham menos de 25 anos. São esses meninos que os defensores do coronel Brilhante Ustra falam que pretendiam implantar a ‘ditadura do proletariado’ no País e por isso foram barbaramente torturados e executados.” (MENEZES, Cynara. Maio de 2016)

 

ASSISTA EM JORNALISTAS LIVRES: LIVE CONTRA A CENSURA (31/03/21) - #Ditaduranuncamais

Assista no Facebook ou no Youtube do Jornalistas Livres
 

SAIBA MAIS:

O filme foi realizado pela produtora audiovisual Daza que Carol fundou em parceria com a atriz Leandra Leal e a roteirista Rita Toledo. Fazem parte do catálogo da Daza outros documentários como “As Mil Mulheres”, “Divinas Divas”, “Capoeira – Um Passo a Dois” e “Aquele Abraço”, além de alguns filmes de ficção.

 

OUTROS CONTEÚDOS PERTINENTES:

 
 

Podcast da 02 Filmes (In Jornalistas Livres, 29/03/2021)

04
Fev22

Bolsoporco: Bolsonaro pensa que pobre é igual a ele, que não sabe comer com educação

Talis Andrade

comelança na visao dos chargistas.jpeg

 

O Sujismundo do Planalto acha que ser pobre é sinônimo de maus modos à mesa. Isso tem nome: preconceito de classe

 

 

Desesperado com a forte rejeição à sua reeleição entre as camadas mais pobres da sociedade, sobretudo no Nordeste (61%, segundo o último Datafolha), Jair Bolsonaro fez um vídeo neste domingo, 30 de janeiro, onde come frango com as mãos, derramando farofa em cima de si mesmo e no chão. A intenção do presidente era se mostrar um cara simples, do “povão”, e assim tentar reduzir esta rejeição.

O tiro saiu pela culatra. Compartilhado por Fabio Faria, o vídeo rendeu ao presidente a tag #Bolsoporco no twitter e acabou excluído pelo ministro das Comunicações, mas confirmou a impressão geral de que, para Bolsonaro, os pobres são iguais a ele, que não sabe se comportar à mesa. Isso tem nome: preconceito de classe.

Não é a primeira vez que o Sujismundo do Planalto tenta, à Janio Quadros –famoso por colocar talco sobre os ombros para fingir que era caspa–, encenar a imagem de “homem do povo” utilizando imagens em que se alimenta como um animal, com perdão aos animais. Ainda na campanha eleitoral, o então candidato do PSL divulgou uma fotografia onde comia pão com leite condensado sem utilizar prato, com migalhas e líquido espalhados sobre a mesa.Em maio do ano passado, no dia em que o Brasil ultrapassava a triste barreira dos 10 mil mortos pelo coronavírus, Bolsonaro saiu para andar de jet ski no lago Paranoá como se nada estivesse acontecendo e apareceu comendo cachorro-quente numa barraquinha de rua da capital de boca aberta, com restos de mastigação à vista. Aliás, seu médico já recomendou que aprendesse a mastigar direito para não ser internado novamente com obstrução intestinal. Pelo visto o conselho não surtiu efeito. (Cynara Menezes)Image

05
Jul21

Moro “acuou” e “coagiu” porteiro do Vivendas da Barra, acusou Witzel na CPI

Talis Andrade

Uma toada para Marielle: a flor que fura o asfalto, por José Ribamar Bessa  Freire | Combate Racismo Ambiental

 

Depoimento do ex-governador mostra que, mais de três anos após seu assassinato, Marielle continua incômoda ao bolsonarismo. Por quê?

 

 
 

É muito grave o que disse o ex-governador do Rio, Wilson Witzel, à CPI do Genocídio: que Jair Bolsonaro e seu então ministro da Justiça, Sergio Moro, intervieram para atrapalhar a investigação sobre os mandantes do assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em março de 2018. Witzel acusou diretamente Moro de haver “acuado” e “coagido” o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, que dissera que o autor dos disparos, Ronnie Lessa, havia se dirigido à casa de Bolsonaro antes de cometer o crime. Lessa era vizinho do presidente no condomínio.تصویر

“Tudo isso começou porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quando foram presos os dois executores da Marielle o meu calvário e a perseguição contra mim foi inexorável”, disse o ex-governador à CPI. Ele afirmou que, logo após a notícia, a PGR (Procuradoria-Geral da República) abriu, a pedido de Moro, um inquérito para apurar o depoimento como uma forma de fazer o porteiro recuar da afirmação, o que de fato aconteceu menos de um mês depois.

Metrópoles (de)
Wilson Witzel afirmou na #CPIdaCovid que o “calvário” que resultou no seu impeachment começou com a prisão dos acusados de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. Ele citou uma live em que o acusou de vazar informações da investigação.

“O ministro Moro, logo após o porteiro, uma pessoa simples, prestar depoimento à Polícia Civil, logo depois o ministro Moro, de forma criminosa, lamentavelmente, requisita um inquérito para investigar crime de Segurança Nacional porque o porteiro prestou um depoimento para dizer que o executor da Marielle teria chegado no condomínio e mencionado o nome do presidente. Se isso é verdade ou não, isso não é problema meu, não tenho nada com isso, não sou juiz nem delegado do caso”, depôs Witzel.

“Agora, o governo do Rio de Janeiro não tomou nenhuma providência em relação a isso, foi a polícia que atuou, junto com o Ministério  Público, e pediu um encaminhamento do processo junto ao Supremo Tribunal Federal. O porteiro, que estava como testemunha, recebe uma intimação da Polícia Federal –essa Polícia Federal que infelizmente eu não estou reconhecendo–, é uma Polícia Federal que vai lá à requisição do ministro da Justiça, e o Procurador-Geral da República abre um inquérito para acuar.”

“Qual é a outra leitura que se pode fazer disso? Eu sou jurista, é eminentemente uma acuação da testemunha no curso do processo feito por um Estado democrático –que não é democrático, né?– por um Estado no objetivo de coagir aquela testemunha. Óbvio, depois disso o que o porteiro fez? Pegou e falou que não tinha nada a ver, que ele se equivocou, etc. e tal. Eu cheguei a falar com a Defensoria Pública: ‘vocês não vão fazer a defesa do porteiro? Vocês não vão pedir ao porteiro para entrar no programa de proteção à testemunha?’ O porteiro estava apavorado. Ele não quis mais falar nada nem entrar no  programa de proteção à testemunha”, relatou Witzel.

Jorge Solla
Witzel revelou empenho de Moro de usar a PF para intimidar o porteiro do condomínio de Bolsonaro, que mudou de depoimento e calou-se. O porteiro havia admitido que Élcio Franco, assassino de Marielle, requisitou para a casa de Bolsonaro entrada no condomínio no dia do assassinato

Ora, se Moro, a pedido do “chefe”, como o ministro tratava Bolsonaro, segundo o próprio Witzel, interveio para pressionar uma testemunha, isso é crime de obstrução de Justiça e precisa ser investigado. Alguma verdade há no relato do ex-governador, porque a cronologia confere: no dia 29 de outubro de 2019, saiu a matéria sobre o depoimento do porteiro no Jornal Nacional; nesta mesma noite, falando de Dubai, Bolsonaro acusa Witzel de estar por trás da revelação; no dia 30 de outubro, o Procurador-Geral Augusto Aras atende pedido de Moro e abre inquérito sobre o depoimento do  porteiro.

Alguma verdade há no relato do ex-governador, porque a cronologia confere: no dia 29/10/2019, saiu a matéria sobre o porteiro no Jornal Nacional; na mesma noite, de Dubai, Bolsonaro acusa Witzel de estar por trás; no dia 30/10, a PGR atende pedido de Moro e abre inquérito sobre o depoimento do  porteiroFacebook

Segundo o livro de presenças da portaria, Élcio Queiroz –apontado como o motorista do carro usado no assassinato de Marielle– entrou no condomínio horas antes do crime dando como destino a casa 58, de Bolsonaro. O porteiro foi ouvido pela polícia e reiterou essa informação. Ele disse que ligou para a casa 58 e foi atendido por “Seu Jair”. O porteiro deu essa versão em dois depoimentos, mas voltou atrás em um terceiro depoimento, dia 19 de novembro de 2019, menos de um mês após a abertura do inquérito pela PGR. Declarou que lançou errado na planilha o número da casa do presidente.

As declarações surpreendentes de Witzel agitaram o bolsonarismo nas redes e na CPI. O filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, questionou o ex-aliado, e mais uma vez ele voltou a repetir sobre a intimidação do porteiro. “Não sou porteiro, não vai me intimidar, não”, atacou Witzel, que acabou solicitando uma inquirição reservada aos senadores, em sigilo de Justiça.

No twitter, Eduardo Bolsonaro se referiu à vereadora assassinada e a Witzel como “cachorros mortos”.

Não sabemos se Wilson Witzel terá condições de provar o que acusa. Nem se haverá interesse da Polícia Civil do Rio de Janeiro, sob o comando do bolsonarista Claudio Castro, em apurar as denúncias. Mas seu depoimento à CPI mostra que Marielle Franco continua incômoda ao bolsonarismo. Eles sempre atacaram a vereadora morta, inclusive associando-a, com fake news, ao crime organizado –e isso muito antes de o porteiro mencionar a casa do presidente.

Por que uma mulher negra assassinada incomoda tanto ao bolsonarismo? Não há como não pensar que, para que haja resposta a esta pergunta, é preciso que outra seja respondida: afinal, quem mandou matar Marielle?

Não podemos esquecer que Bolsonaro foi o único dos pré-candidatos à presidência em 2018 que não lamentou o assassinato. E que o próprio Witzel, então bolsonarista roxo, aparece na foto famosa, ao lado dos dois trogloditas rasgando uma placa em homenagem à vereadora morta.

Por que uma mulher negra assassinada incomoda tanto ao bolsonarismo? Não há como não pensar que, para que haja resposta a esta pergunta, é preciso que outra seja respondida: afinal, quem mandou matar Marielle?

Não tem charge, ou piada. | Humor Político – Rir pra não chorar

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