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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

08
Abr19

‘Gatos’ que Bolsonaro e Temer caçaram são gente em Pombal, PB

Talis Andrade

fome sertão.jpg

por Fernando Brito

___

 

 

 

Hoje, mostrou-se aqui a mentira pregada por Jair Bolsonaro, dizendo que a sua “moralização” do Bolsa-Família tinha cortado benefícios irrregulares até de um gato, desvio que se descobriu e puniu há mais de dez anos, e no Governo Lula.

bolsonaro mentiroso estória gato .jpg

A estória do gato Billy, mais uma mentira de Bolsonaro

 

Ele e, antes dele, Michel Temer foram mestres em cortar benefícios, alegando que eram irregulares. Temer chegou a criar uma gratificação de R$ 60 para cada pessoa que os peritos do INSS cortassem o benefício por invalidez e Deus sabe o que se passou com a gente pobre que não tem como se defender.

Uma pequeníssima parte desta grande crueldade, porém, a gente pode ver, na reportagem – e no vídeo – que reproduzo ao final – feitos pela Agência Pública de Jornalismo Investigativo em Pombal, cidade a 370 km da capital da Paraíba, João Pessoa, que já foi, um dia, premiada por seus avanços sociais.

Assista e, se puder, leia o texto de Hevilla Wanderley, vasto e seco como o sertão humano que descreve.

Vale a pena, para ver quem são os gatos e como devoram aqueles que não encaram como gente, mas como ratos a serem exterminados.

 

15
Mai18

Como lidar cada dia com uma indignação imensa contra os bandidos responsáveis por essa armação política da qual sou vítima e ao mesmo tempo sem dar lugar ao ódio

Talis Andrade

Passei oito anos na presidência. Nunca me permiti ir com Marisa a um restaurante de luxo, nunca fiz visitas de diplomacia na casa de ninguém... Fiquei ali trabalhando sem parar quase noite e dia... E agora esses moleques vêm me chamar de ladrão

 

marcelo barros.jpg

Meu encontro com Lula na prisão
Por Marcelo Barros, monge beneditino

 

Desde que a justiça liberou visitas religiosas, fui o segundo a ter graça de visitar o presidente Lula em sua prisão. (Quem abriu a fila foi Leonardo Boff na segunda-feira passada).



Eram exatamente 16 horas quando cheguei na dependência da Polícia Federal onde o presidente está aprisionado. Encontrei-o sentado na mesa devorando alguns livros, entre os quais vários de espiritualidade, levados por Leonardo.

 

Cumprimentou-me. Entreguei as muitas cartas e mensagens que levei, algumas com fotografias. (Mensagem do Seminário Fé e Política, de um núcleo do Congresso do Povo na periferia do Recife, da ASA (Articulação do Semi-árido de Pernambuco) e de muitos amigos e amigas que mandaram mensagens.

 

Ele olhou uma a uma com atenção e curiosidade. E depois concluiu:


- De saúde, estou bem, sereno e firme no que é meu projeto de vida que é servir ao povo brasileiro como atualmente tenho consciência de que eu posso e devo. Você veio me trazer um apoio espiritual. E o que eu preciso é como lidar cada dia com uma indignação imensa contra os bandidos responsáveis por essa armação política da qual sou vítima e ao mesmo tempo sem dar lugar ao ódio.

 

Respondi que, nos tempos do Nazismo, Etty Hillesum, jovem judia, condenada à morte, esperava a hora da execução em um campo de concentração. E, naquela situação, ela escreveu em seu diário:

 

“Eles podem roubar tudo de nós, menos nossa humanidade. Nunca poderemos permitir que eles façam de nós cópias de si mesmos, prisioneiros do ódio e da intolerância”.

Vi que ele me escutava com atenção e acolhida. E ele começou a me contar a história de sua infância. Contou como, depois de se separar do marido, dona Lindu saiu do sertão de Pernambuco em um pau de arara com todos os filhos, dos quais ele (Lula) com cinco anos e uma menina com dois.

 

Lembrou que quando era menino, por um tempo, ajudava o tio em uma venda. E queria provar um chiclete americano que tinha aparecido naqueles anos. Assim como na feira, queria experimentar uma maçã argentina que nunca havia provado. No entanto, nunca provou nem uma coisa nem outra para não envergonhar a mãe.

 

E aí ele prosseguia com lágrimas nos olhos: "Agora esses moleques vêm me chamar de ladrão. Eu passei oito anos na presidência. Nunca me permiti ir com Marisa a um restaurante de luxo, nunca fiz visitas de diplomacia na casa de ninguém... Fiquei ali trabalhando sem parar quase noite e dia... E agora, os caras me tratam dessa maneira..."

Eu também estava emocionado. O que pude responder foi:


- O senhor sabe que as pessoas conscientes, o povo organizado em movimentos sociais no Brasil inteiro acreditam na sua inocência e sofrem com a injustiça que lhe fizeram. Na Bíblia, há uma figura que se chama o Servo Sofredor de Deus que se torna instrumento de libertação de todos a partir do seu sofrimento pessoal. Penso que o senhor encarna hoje, no Brasil essa missão.

 

Comecei a falar da situação da região onde ele nasceu e lhe dei a notícia de que a ASA (Articulação do Semi-árido) e outros organismos sociais estão planejando um grande evento para o dia 13 de junho em Caetés, a cidadezinha natal dele. Chamar-se-á “Caravana do Semi-árido pela Vida e pela Democracia" (contra a Fome – atualmente de novo presente na região – e por Lula livre).

 

A partir daquela manifestação, três ônibus sairão em uma caravana de Caetés a Curitiba para ir conversando com a população por cada dia por onde passará até chegar em Curitiba e fazer uma festa de São João Nordestino em frente à Polícia Federal.

 

Ele riu, se interessou e me pediu que gravasse um pen-drive com músicas de cantores de Pernambuco, dos quais ele gosta. Música de qualidade e que não estão no circuito comercial.
Vergonha. Nunca tinha ouvido falar de nenhum e nem onde encontrar. Ele me disse que me mandaria os nomes pelo advogado e eu prometi que gravaria.

 

Distenção feita, ele quis me mostrar uma fotografia na parede na qual ele juntou os netos. Explicou quem é cada um/uma e a sua bisneta de dois anos (como parece com dona Marisa, meu Deus!).

 

Começou a falar mais da família e especialmente lembrou um irmão que está com câncer. Isso o fez lembrar que quando Dona Lindu faleceu, ele estava na prisão e o Coronel Tuma permitiu que ele saísse da prisão e com dois guardas fosse ao sepultamento da mãe. No cemitério, havia uma pequena multidão de companheiros que não queriam deixar que ele voltasse preso. Ele teve de sair do carro da polícia e falar com eles pedindo para que deixassem que ele cumprisse o que tinha sido acertado. E assim voltou à prisão.

 

A hora da visita se passou rápido. Perguntei que recado ele queria mandar para a Vigília do Acampamento e para as pessoas às quais estou ligado.

 

Ele respondeu:


- Diga que estou sereno, embora indignado com a injustiça sofrida. Mas, se eu desistir da campanha, de certa forma estou reconhecendo que tenho culpa. Nunca farei isso. Vou até o fim. Creio que na realidade atual brasileira, tenho condições de ajudar o Brasil a voltar a ser um país mais justo e a lutar para que, juntos, construamos um mundo no qual todos tenham direitos iguais.



Para concluir a visita, propus ler um texto do evangelho e ele aceitou.

 

Li o evangelho do próximo domingo – festa de Pentecostes e apliquei a ele – os discípulos que estão em uma sala fechada, Jesus que se deixa ver, mesmo para além das paredes que fechavam a sala. E deu aos seus a paz, a alegria e a capacidade de perdoar no sentido de discernir o julgamento de Deus sobre o mundo. E soprando sobre eles lhes deu a vida nova do Espírito.

 

Segurei em suas mãos e disse: Creio profundamente que isso se renova hoje com você.

 

Vi que ele estava emocionado. Eu também fiquei. Abri o pequeno estojo e lhe mostrei a hóstia consagrada que lhe tinha trazido da eucaristia celebrada na véspera. Oramos juntos e de mãos dadas o Pai Nosso.

 

Eu tinha trazido duas hóstias. Eu lhe dei a comunhão e ele me deu também para ser verdadeiramente comunhão.

 

Em um instante, eram vocês todos/as que estavam ali naquele momento celebrativo e eu disse a ele: “Como uma alma só, uma espécie de espírito coletivo, muita gente – muitos companheiros e companheiras estão aqui conosco e estão em comunhão e essa comunhão eucarística representa isso.

 

Eu lhe dei a bênção e pedi a bênção dele para todos vocês.

 

Foi isso.

 

Quando o policial que me foi buscar me levou para fora e a porta se fechou atrás de mim, me deu a sensação profunda de algo diferente.

 

Senti como se eu tivesse saído de um espaço de liberdade espiritual e tivesse entrando na cela engradeada do mundo que queremos transformar.

 

Que o Espírito de Deus que a celebração desses dias invoca sobre nós e sobre o mundo nos mergulhe no amor e nos dê a liberdade interior para irmos além de todas essas grades que aprisionam o mundo.

 

Marcelo Barros, monge beneditino

10
Mai18

de Demétrio Vieira Diniz

Talis Andrade

demétrio.jpg

 

 


AROEIRA


Sou feito de cinzas
estorricado
aroeira queimada.
Nasci em caatingas
e me formei em desertos.
Ainda sonho com chuvas
e heras
que nascem até sobre pedras.

 

---------------------------------------------
TERCEIRO TEMPO


Moro em apartamento
de circunscrito mundo.
Um telefone e algumas plantas me acompanham
nos dias sem motivo.
A vaca Azulão, da infância, ronda
mas não come mais as folhas da samambaia.
Nesses anos todos perdi terra
muita terra.
A minha fazenda virou presépio.
Ainda assim dou água aos vasos com alegria
e cada gesto novo é espantalho para o passado.

 

 

 

18
Abr18

O SERTÃO LIBERTADO

Talis Andrade

ANTÔNIO CONSELHEIRO e o POVO.jpg

 

Neste apartado mundo

as palavras são secas

secos os corpos

 

Neste mundo seco

o sermão do peregrino

possuía a força

de uma enchente no rio

derrubando as cercas

derrubando os mourãos

pelourinhos em que a polícia

os padres os fazendeiros

prendiam e seviciavam

os vaqueiros destemidos

os camponeses foragidos

 

Neste mundo seco

o peregrino construiu uma cidade

pelo milagre da oração

Sua palavra era doce

como a água de uma fonte

doce como a água de um açude

 

Na secura da terra

a liberdade criou raízes

raízes verdejantes

E foi chegando gente

foi chegando gente

de todos os recantos 

O peregrino construiu

da noite para o dia

a segunda maior cidade

para o espanto da Bahia

 

Foi um marco nunca visto

uma ousadia que precisava

ser contida

Os jagunços apareceram

com os trabucos

A polícia apareceu

com os fuzis

O exército com os canhões

 

As expedições da prepotência

três vezes derrotadas

três vezes debandaram

deixando para trás

armamentos e cadáveres

 

A escaramuça dos frades

e fazendeiros

virou guerra

a guerra do fim do mundo

 

Canudos está perdida

Era a guerra da Igreja

contra os heréticos

Da República

contra os zumbis

do rei menino

Dom Sebastião

Era a guerra dos latifundiários

contra a multiplicação

dos frutos repartidos

 

Derrubaram as casas

Derrubaram a igreja

Degolaram camponeses

e vaqueiros os guerreiros

de Antonio Conselheiro

Degolaram mulheres e crianças

Degolaram os sonhos

de um paraíso

aqui na terra

 

Morto Antonio Conselheiro

profeta de Deus

os caracarás e urubus

passaram a voar

sobre o Vale do Vaza-Barris

 

Morto Antonio Conselheiro

o corpo desenterrado

para ser fotografado

e degolado

dos camponeses o esquerdo

de correr os rios secos

os desolados campos

onde nada se vê

nenhuma alma

nenhum palmo

de terra verde

por mais mundo

que se andeje

 

A correr os rios secos

a correr os caminhos secos

nenhum pedaço de terra

os nascidos pobres

haverão de ter

 

---

Talis Andrade, O Enforcado da Rainha, ps 29/33

18
Abr18

A PALAVRA DE FOGO

Talis Andrade

 

Antonio_Conselheiro_(Pátria_Brazileira).jpg

 

No remoinho dos ventos

levantando a poeira

do vermelhado chão

em um perdido povoado

 

a alucinante aparição

de um homem

envergando a veste

dos penitentes

 

a aparição de um homem

que andou léguas e léguas

por caminhos de pedras

e vilarejos distantes

 

a pregar uma estranha

e deslumbrante visão

o sertão vai virar mar

o mar vai virar sertão

 

O remoinho dos ventos

apagou os rastros do profeta

o remoinho dos ventos

levou as secas palavras

pelos caminhos secos dos rios

o remoinho dos ventos

espalhou a palavra de fogo

pelos vagos do deserto

 

---

Talis Andrade, O Enforcado da Rainha, ps. 27/28

18
Abr18

O PEREGRINO

Talis Andrade

canudos arraial do belo monte conselheiro .jpg

Canudos, o Arraial do Belo Monte 

Com o bordão de peregrino

como apoio

a cruz como símbolo

o peregrino caminha

pelo leito seco dos rios

levando a palavra da salvação

a esperança de chuva

aos secos viventes

do seco sertão

 

Perdidos lugarejos

perdidas almas

há muito tempo os corpos enterrados

há muito tempo as esperanças enterradas

 

O peregrino os olhos cegos pelo sol

talvez não anteveja

no findar da jornada

fincará uma cruz

em uma cidade fantasma

 

 

---

Talis Andrade, O Enforcado da Rainha, p. 26

 

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