Adriano Argolo, Gabriela Hardt e Sergio Moro (Foto: Reprodução | Jonas Pereira/Agência Senado)
Segundo o jurista, a juíza Gabriela Hardt burlou 'a competência jurisdicional' no contexto da investigação sobre um suposto plano de criminosos para assassinar Sergio Moro
247- O jurista Adriano Argolo afirmou que a juíza Gabriela Hardt, que da 9ª Vara Federal de Curitiba (PR), "corrompe" o sistema jurídico brasileiro. O advogado comentou aOperação Sequaz, da Polícia Federal (PF), que prendeu na última quarta-feira (22) suspeitos de planejar o assassinato do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e outras autoridadades públicas. Juristas falaram em armação do parlamentar com o objetivo de prejudicar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gabriela suspendeu o sigilo da decisão que levou à operação da PF contra integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
"Lula está certo! Olha a armação aí, gente. Ela não tinha competência para decidir nada nesse fato jurídico e ela decidiu 35 minutos depois da fala do Lula", disse Argolo. "A competência jurisdicional de um juízo, talvez, seja a coisa mais importante do processo. É na competência que se decide o juízo, o MP, enfim, onde o estado de comprova competente para julgar as pessoas, ao burlar essa competência, a juíza Gabriela Hardt corrompe o sistema".
Na quinta-feira (23), o petista falou em "armação" de Moro contra o governo. "Eu não vou falar, porque acho que é mais uma armação do Moro, mas eu quero ser cauteloso. Eu vou descobrir o que aconteceu", afirmou o presidente no Rio.
De acordo com Argolo, houve "armação da juíza que colocou o ex juiz corrupto Moro como sendo o principal alvo". "Grandes juristas estão dizendo abertamente que foi armação, eu concordo com eles!".
Vários juristas brasileiros defenderam Lula e criticaram Sergio Moro. Professor de Direito Processual Penal da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Aury Lopes Jr., disse que a "competência da Justiça Federal seria atraída se o crime fosse praticado contra servidor público no exercício das funções". "Tem de ter atualidade do exercício. Ele (Moro) é senador hoje, mas os crimes não têm qualquer relação com isso".
Um dos motivos para se falar em "armação" é que Moro, um dos principais opositores do governo Lula, já foi condenado em 2021 pelo Supremo Tribunal Federal, quedeclarou a suspeiçãodo atual senador nos processos contra o petista no âmbito da Lava Jato, que teve o ex-juiz como responsável pelos processos em primeira instância jurídica na operação.
Em 2022, quando tentava candidatura ao Senado, Moro foi derrotado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) porfraude em domicílio eleitorale, como consequência, decidiu ser candidato pelo Paraná.
É nauseante, mas não surpreendente, que a extrema-direita — e isso inclui Jair Bolsonaro, Deltan Dallagnol e o próprio Sergio Moro — busquem associar, de forma direta (Bolsonaro e Dallagnol) ou indireta (o próprio ex-juiz), o tal plano do PCC para matar e sequestrar autoridades. Entre os alvos, estariam o agora senador do União Brasil (PR) e Lincoln Gakiya, promotor de Justiça de SP. O alerta inicial foi feito pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, no fim de janeiro. E a Polícia Federal entrou no caso.
A "Operação Sequaz" busca cumprir 24 mandados de busca e apreensão, sete de prisão preventiva e quatro de prisão temporária em Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná. Enquanto escrevo, nove já foram presos — seis homens e três mulheres. Até agora, não foram divulgados outros supostos alvos, além de Moro e Gakiya. No que respeita ao político do Paraná, o ataque seria uma retaliação a transferências de um presídio para outro de líderes da facção, que ele teria determinado quando ministro da Justiça, ainda em 2019.
No Twitter, Bolsonaro tentou pegar carona, como vítima, na operação. Estabeleceu uma suposta conexão entre a morte de Celso Daniel, a facada que levou e a operação de agora, batizada de Sequaz. E concluiu que tudo isso compõe uma conspiração da esquerda. Dallagnol, com espantosa irresponsabilidade —, demonstrando que, como deputado, adota o padrão moral e ético que exibia como procurador —, também associa de maneira explícita o plano atribuído ao PCC a supostos vínculos do PT com a organização criminosa.
E, no entanto, a verdade está precisamente no avesso. A Polícia Federal tem autonomia, mas é subordinada ao Ministério da Justiça. A deflagração da operação no dia seguinte a uma frase infeliz de Lula — disse que, quando preso, ainda ressentido, pensava em "foder Moro" — prova justamente o contrário do que os extremistas estão afirmando. Que se note, e já tratei especificamente no caso no programa "O É da Coisa", a fala do presidente evidenciava justamente que ele havia superado, na própria cadeia, a fase do rancor. Inferir qualquer vínculo entre aquela fala e o dito plano é de uma canalhice inominável. É coisa de quem não se importa, se preciso, em incendiar o país e empurrá-lo para uma crise. Esse espírito, no fim das contas, está na raiz dos ataques de 8 de janeiro.
E não que a fala de Lula tenha sido prudente, ainda que seu ressentimento fosse justificável. Foi condenado sem provas, o que o impediu de se candidatar. Mesmo na cadeia, liderava as pesquisas de opinião. A atuação conjugada da força-tarefa, em que Dallagnol dava as cartas, com um juiz incompetente e parcial preparou o terreno para a ascensão de Bolsonaro. A reação de Dallagnol, nesse caso, explana, mais uma vez, o rigor profissional com que ele cumpria a sua tarefa de agente do Estado. Revela-se com nitidez incontrastável que se tratava de uma ação de cunho político, como noticiou a Vaza Jato. Não por acaso, o juiz do caso é hoje senador, depois de ter servido de ministro da Justiça àquele que só se elegeu porque o então magistrado condenou o concorrente. E o procurador que dava as cartas na operação é deputado federal. Nessa condição, segue tendo a mesma seriedade exibida como procurador...
O ministro Flávio Dino, da Justiça, diz que soube das ameaças há 45 dias. Ao participar de um evento na Associação dos Advogados de São Paulo, afirmou a respeito da exploração política do caso:
"Fico espantado com o nível de mau-caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria, que é tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador que é oposição ao nosso governo". Segundo o ministro, e isto é óbvio, a ação demonstra que "não há nenhum aparelhamento do Estado, nem a favor, nem contra ninguém".
O ministro diz ainda que as acusações levianas acabam colaborando com a organização criminosa. E ele tem razão. Observem: segundo o que se sabe até agora, Moro era um dos alvos, não "o" alvo. Além do senador e do promotor Lincoln Gakiya, várias autoridades e pessoas ligadas à repressão ao crime estavam entre os alvos.
MUDANÇA DE PADRÃO
Se tudo se deu e se dá como se anuncia até agora, o país pode estar diante de uma escalada das ações do PCC que busca atingir o Estado. Notem: ações criminosas e seus autores, como sabem as polícias, têm um padrão. E esse caso não se encaixa nos métodos conhecidos do PCC.
A facção patrocina atos violentos contra rivais de ofício, dentro de seu esforço de verticalizar o mundo do crime, reivindicando, vamos dizer, a governança última das organizações de sua mesma natureza. Também há acertos de conta, estes mais raros, com policiais, mas nunca da hierarquia das polícias, ainda que ameaças existam. Para tanto, podem, como se diz, tocar o terror. Já vimos isso em São Paulo. E, tudo indica, no Rio Grande do Norte. No mais, que se saiba, a facção impõe uma espécie de "ordem do crime" em áreas em que atua para tentar manter distantes as forças policiais.
Se tudo for como se noticia agora, a maior e mais organizada e enraizada facção criminosa do país estaria optando por cruzar uma linha e atingir, de maneira deliberada, o Estado como ente. "Vinculação com o PT?" Ora, é o governo petista que está fazendo o enfrentamento. A propósito: no Rio Grande do Norte, consta, o PCC se uniu a um tal Sindicato do Crime para tocar o terror no Estado, governado, diga-se, pelo PT — o que, obviamente, bom para o partido não é.
DIFERENÇA ENTRE REPÚDIO E CANALHICE
Que adversários de Lula repudiassem a fala desta terça em entrevista ao vivo à TV 247, vá lá. É do jogo. O meu rancor, já afirmei, não teria passado. O de Lula, segundo ele me disse em abril de 2021, foi superado ainda na cadeia. A frase foi imprópria e imprudente, até porque seria tomada isoladamente e explorada ao limite. E isso começou a ser feito ainda ontem.
No dia seguinte — aí, sim, uma coincidência e tanto —, uma investigação de meses resultou na Operação "Sequaz", que apura ações que estariam sendo planejadas contra um grupo de pessoas, e Moro é um delas. Se o repúdio era parte do jogo democrático — com um caráter que suponho didático ao próprio Lula —, a tentativa de ligar o presidente e o PT à arquitetura criminosa deixa claro em que buraco foi jogado o país.
Reitero: sendo como se diz, a coisa é muito grave. Não obstante, Bolsonaro aproveita o caso para tentar fugir do escândalo dos diamantes, e Moro e Dallagnol usam a operação deflagrada pela Polícia Federal no governo Lula para atacar... Lula e seu partido. Estão ocupados em combater os criminosos ou em levar adiante, eles sim, uma vingança de natureza política?
A VÍTIMA DO ESTADO CONTAMINADO
Dadas todas as personagens que aparecem neste texto, a única que realmente foi vítima de grupos que se apoderaram do poder do Estado, seja na Justiça, seja no Ministério Público, foi Lula. Ele foi preso sem provas por um juiz incompetente e suspeito. Ele passou 580 dias na cadeia. Ele teve de lutar contra 18 procedimentos de investigação, que brotavam em cascata. Para registro: as anulações decididas pelo STF impactaram apenas quatro processos. Nos demais casos, ou foi absolvido, ou a investigação se extinguiu por falta de provas.
A verdade irrespondível, pois, é que é o governo Lula a enfrentar, então, o PCC, sendo tudo como dizem, na operação de agora. E também se confronta com a facção, no momento, no Rio Grande do Norte.
LEMBRANÇA FINAL A BOLSONARO
Quanto a Bolsonaro, uma lembrança para finalizar o texto: o ex-presidente e seu entorno mantiveram, sim, relações de amizade, quando menos, com o crime organizado. O miliciano Adriano da Nóbrega, condecorado pelo então deputado Flávio Bolsonaro, teve mãe e mulher empregadas no gabinete do chamado Filho Zero Um. Márcia, mulher de Fabrício -- o amigão do ex-presidente -- foi a Minas se encontrar pessoalmente com Raimunda Magalhães Veras, a mãe de Adriano.
Não consta que Marcola tenha sido condecorado por Lula ou alguém do seu entorno, não é mesmo?
O episódio só evidencia a máxima de Brecht, segundo quem "a cadela do fascismo está sempre no cio".
Bertold Brecht
Basta uma frase infeliz para que essa gente proponha de novo o vale-tudo. Não custa lembrar que, horas antes do ataque de 8 de janeiro, Moro acusou o governo Lula de perseguir seus opositores. E se referia precisamente àqueles que atacaram as respectivas sedes dos Três Poderes.
Que se investigue tudo. Até o fim. Que os criminosos paguem muito caro, nos limites da lei. E que a canalha que faz a exploração política do caso, também respondam por suas acusações mentirosas e irresponsáveis.
O juiz federal Eduardo Fernando Appio garantiu que pretende trabalhar para que a Operação Lava Jato possa “sobreviver”, por meio da garantia dos direitos e o abandono do modus operandi punitivista que marcou a força-tarefa sob a titularidade do ex-juiz e agora senador Sérgio Moro (União Brasil/PR).
A declaração foi dada em entrevista concedida ao Blog de Fausto Macedo e publicada pelo Estadão.
As dezenas de ações correspondem a 40% do acervo original da operação, já que o restante foi enviado para a Justiça Eleitoral ou para outros Estados por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), em meio Vaza Jato, que trouxe à tona diálogos sobre a parcialidade dos juízes e procuradores envolvidos na força-tarefa.
Após o episódio, ainda foi promovida a reformulação da operação e a 13ª Vara passou a ser encabeçada pelo pelo juiz federal Luiz Antônio Bonat, removido agora pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), pelo critério da antiguidade.
Apesar do cenário – em meio as suspeitas de excesso, a perca do apelo popular sobre a Operação e até a redução da equipe do gabinete – Appio afirmou que irá fazer a operação “sobreviver”. “A Lava Jato na minha mão não vai morrer, não vou ser o coveiro oficial da Lava Jato, de forma alguma. Eu não aceito esse papel histórico”, garantiu.
Ainda, o juiz destacou que, no momento, sua maior preocupação é sobre as ações em que “há risco concreto de prescrição. Segundo ele, “tem muita gente interessada no arquivamento desses processos e que seja um Caso do Banestado 2.”
Moro e Dallagnol enterraram a Operação Banestado, enquando o pai de Dallagnol mordeu a bunda de Bolsonaro, comendo milhões do Incra.
CONHEÇA OS CRIMES MILIONÁRIOS DE DALLAGNOL E FAMÍLIA
Garimpo na terra indígena Munduruku, no Pará, em maio de 2020. É possível ver a devastação da vegetação e a formação de crateras no local. — Foto: Chico Batata/Greenpeace
Polícia Federal fez operação para desmantelar quadrilha responsável por contrabandear 13 toneladas de ouro, avaliadas em R$ 4 bilhões. Ouro extraído de garimpo ilegal da Amazônia. De uma única tacada Roberto Campos Neto comprou R$ 17 bihões. Onde o Banco Central encontra toneladas e mais toneladas de ouro para comprar?
De acordo com o inquérito, uma empresa nosEstados Unidosera a principal responsável pela importação do produto ilegal, que seria vendido para Emirados Árabes, Hong Kong, Itália, Suíça e outros países.
Para que o ouro ilegal chegasse "legalmente" no exterior, a organização criminosa realizava o processo de "esquenta" do produto (entenda abaixo). Estima-se que cerca de 13 toneladas do metal precioso foram retiradas ilegalmente da Amazônia.
Por que o Brasil não cobra da empresa estaduninense parte do ouro roubado. Nos tempos da Lava Jato de Sergio Moro & capangas procura dores e não acham, as principais empresas brasileiras estatais e privadas eram espionadas e saquadas pelos espiões do Tio Sam.
Não esquecer que o primeiro preso da Lava Jato foi um traficante de pedras preciosas das terras indígenas.
Com o produto ilegal em mãos, oscriminosos usavam empresas registradas legalmentepara o manuseio do ouro com o objetivo de emitir notas fiscais. Depois, o produto era comprado por companhias indicadas pela PF como as "líderes da organização criminosa".
O acordo com proprietários ou funcionários de empresas legalmente registradas era fundamental para que o esquema bilionário desse certo. Somente essas empresas possuem a Permissão de Lavra Garimpeira (PLG), emitida pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Então, a organização criminosa pegava emprestada as PLGs para esquentar o ouro.
Outro meio de conseguir legalizar o produto seriaemitindo o documento de uma lavra fantasma, método conhecido entre os garimpeiros ilegais.
Os criminosos indicam que o ouro foi retirado de uma área legal. Contudo, nessa área não há mais o minério. A ANM solicita laudos geológicos. No entanto, por falta de estrutura, não consegue realizar as diligências necessárias para verificar e fiscalizar as áreas suspeitas.
Assim, o ouro retirado ilegalmente de outra área "se torna legal" ao usar autorização deste local que não tem mais ouro.
Depois de todo este processo, a peça que faz a ligação final com o esquema é o comprador registrado, como instituições financeiras autorizadas a operar pelo Banco Central (BC).
A maioria delas é Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM). Nestas instituições, o garimpeiro apresenta a PLG e sai com nota fiscal, e seu produto originalmente ilícito passa ser legal para o mercado.
1. Acepipes epistêmicos sobre os anos ius plúmbeos recentes
Evandro Lins e Silva falava de um "mandato popular invisível" — como uma "procuração invisível" para defender ideias. Fernando Fernandes me lembrou disso há alguns dias.
Aqui me permito fazer o mesmo — em 2.589 palavras. Reserve 12 minutos para a leitura. Passados os anos ius plúmbeos do império da lava jato e dos anos de suspensão da presunção de inocência, penso que devemos fazer um rescaldo, uma espécie de memória do que ocorreu. E verificar se fazemos (ou fizemos), com H.G. Gadamer, uma boa wirkungsgechichtliches Bewußtsein — isto é, uma análise acerca da força dos efeitos que a história tem sobre nós.
A história ensina. Ou não. Ensina mostrando, mais do que dizendo, wittgensteinianamente. O dia 8 de janeiro é um cutuco da história.
2. O ovo da serpente e o feitiço do autoritarismo: ele sempre está à socapa
Será que aprendemos com a história? Sentimos a força dos seus efeitos? Talvez. O ovo da serpente nunca é percebido suficientemente.
Contar a história faz parte da própria historicidade, corretamente compreendida. Conto, logo existo. É o que estou fazendo aqui. Com a "procuração" (invisível) a la Evandro Lins e Silva. E com a responsabilidade epistêmica de um jurista comprometido com o debate público, com a democracia, e com respostas corretas (que podem ser demonstradas).
Antes da lava jato houve o mensalão. Foi quando escrevi que "o direito, a partir de então, seria AM-DM (Antes e Depois do Mensalão). O texto é de 2012 (ver aqui). Uma pena que não errei. Avisei de há muito.
O fato é que o projeto de poder da lava jato encantou (até no sentido de "enfeitiçou") a comunidade jurídica, midiática e política. O ovo da serpente foi também um encantador de serpentes. Como na Itália com a Mãos Limpas. O velho e atávico udenismo (às vezes veste toga) sempre está no cio. Fórmula agora aperfeiçoada: amaldiçoar os políticos e no seu lugar colocar outsiders. Bem se viu (e se vê) o que fazem outsiders. Basta olhar pela janela. Eis aí o 8J.
O pesquisador Fábio de Sá e Silva sublinha, em bela entrevista à Folha: "Existe uma linha de continuidade entre Lava Jato e ataques golpistas". E eu digo: bingo, Fábio.
3. Destruíram a política. Com isso, de baciada, quase destruíram o país (eis o 8 J como prova).
Explico e demonstro. Com a criminalização da política, a fragilização das instituições é (i)mediata. A sede insana de autocratismo. Não é por nada que, dia sim e outro também, o artigo 142 era invocado para justificar intervenção militar e quejandices mil. O direito contra o direito. Uma hermenêutica às raias da delinquência de Hermes. O então presidente da República, militares, gentes do direito, ex-frequentadores de bingos, radialistas, pastores (tem um monte deles presos) — todos transformados em vivandeiras. Gozavam, ao bulir com os granadeiros...!
Poucos se deram conta do(s) ovo(s) da(s) serpente(s). De 2014 em diante (tudo já estava se desenhando em 2013).
Pergunto: quantos integrantes da comunidade jurídica perceberam que o lavajatismo incubava o autoritarismo e o próprio bolsonarismo que, paradoxalmente, já existia (dormitava) mesmo sem Bolsonaro? Muito poucos. Um pouco de poucos.
Muita gente progressista achou que a lava jato era a redenção... Mal sabiam que ali estava o ovo da crotalus terificus (cascavel). Por falar em nomes científicos, parabéns à OAB da Bahia. Lá propõem — e isso vai para ser apreciado na OAB nacional — que advogado que apoia golpe e golpismo "ganha" o certificado de inidôneo. Muito bom. Advogado que quer extinguir a democracia é um caracidio da espécie hoplas malabaricus (mais conhecido como traíra).
4. Do Fusca à Kombi, da Kombi ao ônibus e do ônibus à frota
No princípio eram os resistentes. Que só possuíam o verbo. No princípio mal enchiam uma Kombi (há poucos dias ainda conversava sobre isso com o nosso capitão do time do Prerrô, o querido Marcelo Nobre; ele tem isso muito claro!). E sofremos muito. Lembro de meu debate com Moro em 2015. Tempos difíceis. Recordo de um texto que escrevi, em 2015, mostrando o panorama: diagnosticava então, que o direito seria, inexoravelmente, ALV-DLV (Antes da Lava Jato e Depois da Lava Jato). Avisei de novo.
Em linguagem bélica, digamos que o lavajatismo foi uma blitzkrieg ou a guerra dos seis dias. À sorrelfa. Demorou para que os resistentes nos reorganizássemos. Juntar os cacos. Os tiros vinham de todos os lados.
Mas não bastava combater os desmandos (hoje plenamente demonstrados) da lava jato, a ponto de até o juiz Bretas, hoje, se autodeclarar incompetente.
A luta era desigual. Tudo era possível — e com o auxílio da grande mídia. Mas a lava jato tinha seu super trunfo. E qual era?
Respondo: algo que o próprio governo petista ajudou a construir: a delação premiada, premiadíssima. Uma autêntica pedra filosofal para obter condenações, pela qual os próprios acusadores escolhiam os advogados dos delatores (isso ainda está pendente de um encontro com a história; a ave de Minerva ainda há de levantar voo).
5. O fim da presunção da inocência como vitamina para a lava jato
Em 2016 a tempestade ficou mais que perfeita. Falo do turning point do STF na presunção da inocência (HC 126.292). Naquela tarde, sem aviso, o ministro Teori tirou da manga esse HC. E o STF, por maioria, disse ser inconstitucional aquilo que ele mesmo havia decidido (2009) e que, por isso mesmo, havia sido transformado em lei em 2011.
O canto das sereias da "voz das ruas" fez com que se dissesse que a CF diz o que ela nunca disse. Fez com que se contrariasse dispositivo legal que repete exatamente o que diz a CF. Contrariando todo o espírito, toda a lógica estruturante da Carta, em sua densidade principiológica. Como o mundo é esférico e não quadrado, ele dá voltas, muita gente — agora enrolada — que antes esbravejava contra, ainda agradecerá a todos os que lutaram pela presunção da inocência.
Sigo. Hoje é possível afirmar que o giro jurisprudencial do STF em 2016 foi o combustível que faltava à lava jato. Além de ser o triunfo do que pregavam Moro e o MPF, facilitava prisões. A imprensa vibrava. O gozo indizível de ver o moralismo triunfar.
Repórteres, jornalistas e jornaleiros sabiam antes que os acusados das operações madrugadoras. Era a nova era da comunicação direta juiz-procuradores-imprensa. Rejeitaram a mediação até nisso.
E o interessante é que quase 70% da comunidade jurídica (os números são sujeitos a uma auditoria, mas que não seja a das Lojas Americanas — mas é por esse entorno) era contra a presunção da inocência... e coincidentemente a favor da lava jato. Um espelhava o outro.
6. Para além da lava jato, surge uma nova frente de batalha: as ADCs 43, 44 e 54
Então, ao lado do enfrentamento do lavajatismo alimentado por um lawfare sem precedentes, tínhamos que enfrentar o novo posicionamento do STF que, naquele momento, parecia render-se aos encantos da lava jato.
E entramos também de cabeça nessa nova frente. Fui um dos subscritores da ADC 44 (Kakay fizera minutos antes o protocolo da ADC 43 — os argumentos não eram exatamente iguais, frise-se, embora buscássemos a mesma coisa; a diferença era que a ADC 44, da OAB, não aceitava a "hipótese STJ", espécie de "terceira via").
Perdemos a liminar e aí começou a luta. Três longos anos. Longos, mesmo. De um lado, a poderosa lava jato e a mídia; de outro, a busca por pautar as ADCs. Até pautar era difícil. Pouca gente sabe, mas chegamos a ingressar com uma ADPF para demonstrar que a falta de pautamento das ADCs já era, em si, uma violação de preceito fundamental. O STF, porém, a fulminou. Para ver como foi difícil esse conjunto de batalhas.
7. A condução coercitiva, os processos e a condenação: o fator Lula
A luta foi crescendo. Com o passar do tempo já enchíamos um ônibus, por assim dizer. Aí entra o "fator Lula". Explico: quando ingressamos com as ADCs, Lula não era nem indiciado. E, no meio do caminho, Lula foi indiciado, conduzido à força ilegalmente [1], denunciado e julgado. E preso. Por quase dois anos.
Foram muitas frentes de lutas. Ainda por cima surgiu a guerra contra as Dez Medidas propostas por Moro e o MPF, que queriam introduzir — pasmem e se apavorem — prova ilícita de "boa-fé" e quase-acabar com o HC, entre outras barbaridades. Isso não é ficção. Existiu. Para verem que tempos vivenciamos.
Sim, veja-se a ousadia do lavajatismo. A sorte nossa é que o projeto das Dez Medidas funcionou como o dilema do trapezista morto: ao se achar tão bom e tão magnifico, pensou que poderia voar.
Sigo. Se de um lado fazíamos a peregrinação cotidiana pela presunção da inocência, de outro, sem procuração de Lula (porque ele tinha seus competentes advogados), lutávamos republicanamente por apontar aquilo que representava o começo do fim do devido processo legal em um Estado Democrático de Direito: um ministério público não-isento em conjuminação com o juiz pan(in)competente. Para piorar, no meio disso, até mesmo uma juíza tentou retirar as prerrogativas de ex-presidente de Lula, para cujos advogados fiz parecer pro bono mostrando os equívocos da decisão.
Decisões injustas. Porque na democracia o critério público, publicamente verificável, de "justiça" é o direito. Não a opinião pessoal do juiz, da juíza, sua ou minha. Juiz decidindo por convicção, mesmo sem provas. Inventaram novos métodos. Faltou só usar o pintinho envenenado da Tribo dos Azende.
O corolário de tudo foi a decisão do TRF-4, que explicitou a parcialidade e falta de isenção do MP. Disse a decisão (aqui): "Não é razoável exigir-se isenção dos procuradores da República, que promovem a ação penal".
O que mais precisa(va) ser dito?
8. O Grupo Prerrogativas e a busca dos fundamentos dos fundamentos: o dever de fazer constrangimentos epistêmicos
E aqui tenho de falar do Grupo Prerrogativas que se jogou de cabeça nessa "Operação Devido Processo Legal" (chamemo-la assim). Capitaneados por Marco Aurelio de Carvalho, não imaginávamos o nosso papel. Nem seu alcance, tamanho e dimensão política.
Tentando explicar a complexidade desse nosso modus operandi: fizemos aquilo que venho chamando de há muito de "constrangimento epistemológico", uma derivação daquilo que o grande Bernd Rüthers denunciou da doutrina alemã quando da ascensão do nazismo. Por isso ele escreveu o premiadíssimo livro Die unbegrenzte Auslegung (Uma Interpretação Ilimitada ou, assim prefiro, uma Interpretação Não Constrangida).
Sendo mais claro, fizemos por aqui, em terrae brasilis, o que a doutrina e a comunidade jurídica alemã não haviam feito naqueles anos plúmbeos da ascensão nazista. Denunciamos, nos processos da lava jato, o que Meier-Hayoz, endossado por Rüthers, chamou de — tenho adoração por esse conceito — "carência fundamental de fundamentos" (grundsätzliche Grundsatzlosigkeit). Isto é: o fundamento era o não fundamento — a simples vontade de poder.
No caso das ADCs, fomos vencedores por atuação direta, três anos depois de perdermos a liminar. A luta terminou no segundo semestre de 2019, culminando com a libertação de Lula. Isso gerou o livro O Dia em que a Constituição foi Julgada, coordenado por mim e Juliano Breda em edição da RT. Nesse livro aparecem todos os protagonistas, como Defensoria e tantas entidades valorosas. Está tudo ali, tim tim por tim tim.
Quanto à lava jato, tudo acabou com apertada maioria do STF julgando Moro incompetente e parcial. Nesse trabalho de convencimento, já aos poucos foi crescendo o número de juristas que se deram conta daquilo que o ovo da crotalus terrificus havia gestado, auxiliado que fomos nessa tarefa com o surgimento da Vaza Jato – cujos dados escabrosos nem foram necessários para a declaração da parcialidade de Moro, embora em termos de opinião pública tais revelações tenham sido de extrema importância. Inegável esse fato.
Escrevemos, o Grupo Prerrô — dois livros sobre a parcialidade de Moro: O Livro das Suspeições abriu a trilogia, com o subtítulo O que fazer quando sabemos que sabemos que Moro era parcial e suspeito?, organizado por Carol Proner, Lenio Streck, Marco Aurelio de Carvalho e Fabiano da Silva Santos. O segundo foi O Livro das Parcialidades. Completando a trilogia, em breve lançaremos O Livro dos Julgamentos. E falta talvez um quarto livro: que deveria ser escrito por Rochinha e Manoel Caetano. Seria ótimo!
Em termos de artigos, contabilizei incontáveis textos solo (são incontáveis mesmo) e mais outros tantos em coautoria com Marco Aurelio e Fabiano. Incluo aqui artigos publicados nesta ConJur, nos grandes jornais do país, mais periódicos e capítulos de livro. Foram mais de 200 escritos.
E também centenas de entrevistas em rádio, TV e sites como DCM, 247, TVT, Fórum, My News, Pannunzio (TV Democracia) e ICLque fizeram uma muralha de resistência contra as investidas neo-udeno-lavajatistas como a de um famoso jornalista que, dia sim e outro também, tocava terror na população, dizendo que, vencêssemos a batalha da presunção da inocência, 170 mil corruptos, estupradores, proxenetas e quejandos seriam imediatamente liberados (e isso me deu muito trabalho respondendo a esse jornalista). Tudo sempre devidamente respondido nos grandes veículos (Folha, O Globo e Estadão). Era bateu, levou. Cumprindo assim um dever republicano de participação no debate público, na esfera pública, desmistificando lendas urbanas e mentiras — informações falsas.
9. De como nós, advogados, fôssemos médicos... haveria passeatas contra antibióticos ou "como garantias passaram a ser 'filigranas'"
E as garantias processuais-constitucionais passaram a ser chamadas de "filigranas". Assim começa essa nova fase (filigrana foi a palavra usada por Dallagnol quando um colega seu perguntou sobre se o que estavam fazendo não feria a CF; ao que respondeu: isso é filigrana). Agora o termo "filigrana" passou a ser usado contra a anulação dos processos de Lula.
Isto é, para quem pensou que a nossa "Operação Devido Processo Legal" havia terminado e os guerreiros pudessem descansar, iniciou a campanha política pela qual se desqualificava, cotidianamente, a decisão do STF que anulara as sentenças de Lula e considerara Moro suspeito-parcial.
Muita gente da mídia (coincidentemente os mesmos que amaldiçoaram a presunção da inocência) chamou as decisões do STF de "filigraneiras". Isto é: anularam por anular. STF "usou de formulismo", diziam.
E lá fomos nós novamente. Só nessa nova fase foram mais 60 artigos e mais de uma centena de lives e entrevistas em grandes e pequenos veículos. Somados com os 200 dos quais falei acima, calculemos tudo o que foi feito (falei disso também no Programa WW, CNN, dia 5/1/2023 — acesse aqui a entrevista).
Somando tudo — rádio, TV, mídia alternativa, textos escritos — foram mais de 700 inserções. Isso de minha parte, na modalidade solo e em coautoria (Marco e Fabiano). Agora imaginem se adicionarmos o que fizeram os demais membros do Prerrô (Pedro Serrano, Carol Proner, Kakay, Mauro Menezes, Fernando Fernandes, Cattoni e tantos outros — impossível citar a todos; a listagem aqui é exemplificativa).
Numa palavra final: como Evandro Lins e Silva, de posse de "procuração invisível", achei que "meus constituintes" mereciam uma accountabillity, a devida prestação de contas deste incomensurável "mandato sem papel e sem assinatura" que nos foi conferido — a mim e aos meus parceiros que primeiro enchiam uma kombi e que, ao final, enchemos muitos e muitos ônibus.
E, é claro, sempre haverá quem queira, mesmo chegando atrasado, sentar-se à janela e pegar ar fresco. Mas isso faz parte da própria democracia. É do jogo. Até porque não se deve ter compromisso com os erros do passado — por omissão ou comissão.
Pensamos que terminara? Chegou o dia 8 de janeiro.
A Justiça deveria urgentemente voltar a ser republicana, se algum dia ela o foi
Por Davis Sena Filho
A verdade é uma só: Sérgio Moro deveria estar preso há muito tempo. A Justiça deveria urgentemente voltar a ser republicana, se algum dia ela o foi.
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná aponta, pela terceira vez, falhas consideradas graves na prestação de contas do lavajatista Sérgio Moro. O ex-juiz desmesuradamente ambicioso e vaidoso, profundamente entediado com a burocrata e letárgica masgistratura e por ser ávido pelas luzes da ribalta agora pode ter sua prestação de contas rejeitada pela Justiça Eleitoral. A documentação apresentada pelo chefe do bando da Lava Jato não justificou, ou seja, não esclareceu as inúmeras irregularidades apuradas pelo TRE paranaense, que em um parecer técnico concluiu que as contas do senador eleito Sérgio Moro, do União Brasil, sejam reprovadas.
Os motivos pela recomendação da impugnação da candidatura são muitos e variados. Moro é polivalente quando se trata de cometer irregularidades e ilegalidades, como comprovam suas ações e atos documentados e gravados quando esteve à frente da escória da Lava Jato, assim como sua falta de compostura quando por meio de fraude deu declarações mentirosas quanto ao seu domicílio eleitoral na cidade de São Paulo, cujo propósito era ser senador pelo poderoso estado da Federação. A farsa acarretou-lhe o impedimento de sua candidatura ao Senado por parte do TRE paulista. A resumir: onde o Marreco coloca a mão algo apodrece. Quem viver verá!
Enfim, o TRE considera que a documentação apresentada por Sérgio Moro pela TERCEIRA vez não justificou todas as irregularidades observadas pelos técnicos do Tribunal. O documento é assinado por Paulo Sérgio Esteves, da Coordenadoria de Contas Eleitorais e Partidárias, e Christiana Tosin Mercer, da Seção de Contas Eleitorais do TRE, que são profissionais especializados, experientes e que em nenhum momento tergiversaram quanto às irregularidades praticadas por Sérgio Moro e seu grupo político, que concorreram às eleições em 2022.
O documento, reafirmo, confirma as irregularidades, mas o ex-juiz Moro declarou mais uma vez que vai apresentar as contas das eleições e os documentos pertinentes a elas para, consequentemente, esclarecer as inúmeras irregularidades que ele e seu grupo cometeram, de acordo com o TRE. Então, cara pálida, Moro apresentará suas contas eleitorais pela QUARTA vez, quando deveria o TRE do Paraná fazer o que tem de fazer: impedir a diplomação de Sérgio Moro e dar como encerrado o lamentável caso.
Moro é um homem que se aproveitou de seu cargo público para perseguir, acusar, caluniar e difamar um monte de gente, a incluir nesse coletivo humano o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que o derrotou nos tribunais de Justiça e o derrotou na política e eleitoralmente. Lula derrotou um ex-magistrado que envergonhou e sujou o Poder Judiciário, sendo que ainda tal sujeito que incorreu em inúmeros crimes ainda não foi preso, realidade que mancha e humilha a Justiça brasileira, assim como a sociedade que dela espera o melhor, que é evitar a impunidade, a quem comete crimes tão graves.
Por sua vez, vale lembrar que o ex-juiz foi condenado como suspeito, além de ser considerado parcial pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quando tal indivíduo acostumado a atropelar as leis resolveu judicializar criminosamente a política e levar o ex-presidente Lula à prisão, em uma perseguição covarde, atroz e brutal perpetrada por ele e sua malta entrincheirada no covil da Lava Jato, para logo depois ser ministro da Justiça do presidente fascista e pária mundial Jair Bolsonaro, o mandatário brasileiro mais rejeitado e isolado internacionalmente da história deste País.
A verdade é que tal sabujo deslumbrado e juizeco de primeira instância serviu ao Bolsonaro, um tipo desclassificado, como ministro da Justiça, sendo que depois levou um pé na bunda, mas mesmo assim, serviçal desavergonhado que é desse sistema policialesco ao qual serve com dedicação similar a dos verdugos, Moro voltou a agir no front eleitoral por meio de sua subserviência descarada, a “assessorar” o Bolsonaro, aquele que o despreza, nos últimos debates nas tevês contra o Lula, que derrotou o candidato de extrema direita e com ele esse valete desqualificado que responde pela alcunha de Marreco.
Bozo e Marreco, uma dupla lastimável com vocação para a mentira e a derrota, que afundaram o Brasil na miséria e na violência, a jogá-lo no caos, bem como combateram diuturnamente o Estado Democrático de Direito e a democracia, porque são duas pessoas de caracteres autocratas, que odeiam a Constituição brasileira, que assegura direitos e proteção aos pobres e desvalidos, além de empoderar a cidadania. E o Sérgio Moro, cara pálida, se fosse um homem do século XIX, seguramente, seria um defensor da escravatura. Ponto.
Os técnicos do TRE mantiveram as seis inconsistências apontadas pelo parecer de diligências, que permaneceram nas três conclusões sobre as irregularidades nas contas eleitorais de Moro. Ou seja, o ex-juiz apresentou as contas três vezes, conforme dito acima neste artigo, e por três vezes as contas foram rejeitadas ou reprovadas pelo Tribunal. Veja as seis irregularidades abaixo:
1) Irregularidades no uso do fundo partidário;
2) Irregularidades no fundo especial de financiamento de campanha;
3) Irregularidades nas receitas arrecadadas;
4) Irregularidades nas despesas;
5) Irregularidades na prestação de contas; e
6) Irregularidades nos gastos com a militância de rua e com o aluguel de veículos.
A campanha eleitoral do ex-juiz Sérgio Moro arrecadou R$ 5,1 milhões. A maior parte do dinheiro é proveniente do fundo partidário. Chamou muito a atenção do TRE as despesas de R$ 800 mil apenas com um escritório de advocacia.
Porém, e enquanto isso, Sérgio Moro, que fez o que fez como chefe do bando da Lava Jato (não é necessário dizer agora o que ele fez, porque já escrevi inúmeras vezes sobre esses fatos em anos a fio), não é justo que a sociedade brasileira ter de aturar um ex-juiz golpista, que sujou, envergonhou e humilhou a Justiça, ganhe ainda como prêmio pelos seus desvios plenos de irregularidades e criminalidades um mandato de senador da República. Seria cômico se não fosse trágico e lamentável.
Que Sérgio Moro seja afastado da vida política e pública, que seja impedido de assumir cargo de senador, a ser severamente punido pelo TRE, para depois ser processado na Justiça por todos seus crimes à frente da corja da Lava Jato. Moro no Senado não. É isso aí.
O ex-juiz, julgado parcial pelo STF, estava acompanhado de seguranças e de cinegrafista. Na feira, ninguém o defendeu, e ele logo deixou o local
por Joaquim de Carvalho
O ex-juiz Sergio Moro, julgado parcial pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi esculachado neste sábado por manifestantes na feira do Juvevê, área nobre de Curitiba.
Ele foi chamado de “ladrão”, “bandido”, “criminoso”. Alguns diziam que será preso em breve. Moro estava acompanhado de três seguranças, Entre os as pessoas que estavam na feira, ninguém o defendeu e poucos o abordaram para tirar foto.
Moro estava acompanhado de um cinegrafista. Ao que parece, queria registrar imagens para o horário eleitoral.
O esculacho certamente estragou seus planos.
Moro tentou se candidatar a senador por São Paulo, mas teve o registro no diretório estadual do União Brasil, seu partido, anulado por fraude na indicação do domicílio.
O ex-juiz nunca residiu na capital paulista e deu como endereço um flat.
De volta ao Paraná, se candidatou a senador, o que configura traição a seu antigo aliado, Álvaro Dias, que concorre à reeleição.
O Podemos tentou ajudar Moro ao indicar Álvaro Dias para disputar a presidência, e abrir caminho para Moro.
Álvaro Dias não aceitou e chegou a declarar que hoje não é possível fazer acordo “com essa gente”, referindo-se, possivelmente, a Moro e sua esposa, Rosângela, candidata a deputada por São Paulo.
A ação que levou à anulação do registro de Moro na capital paulista, apresentada pelo PT, não tinha Rosângela como ré.
A socialite Roberta Luchisinger fez a denúncia contra Rosângela, ainda não julgada.
O casal Moro não terá vida fácil na política, depois da trajetória do marido marcado por traições e mentiras.
Quando se tornou ministro de Bolsonaro, declarou que jamais entraria na política. Já estava, e aparentemente se sentia muito à vontade para mentir.
Veja o vídeo do escracho:
A grande farsa - Como Moro enganou o Brasil e ficou rico
"Achar que Bolton, Trump, Bolsonaro, Lava Jato, Moro, Dallagnol formam mera teoria da conspiração, é coisa de impostor", escreve o jornalista na Folha de S.Paulo
247 -"A eleição lavajatista de 2018, cujos fatores decisivos são conhecidos só na superfície mais grosseira, recebeu agora uma inconfidência sugestiva. Ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton fortaleceu sua crítica ao golpe trumpista com este argumento: fala 'como alguém que já ajudou a planejar golpes de Estado, não aqui, mas, você sabe, em outros lugares' ".
"John Bolton foi o primeiro emissário mandado a Bolsonaro. Caso de urgência: veio ainda antes da posse. Em 29 de novembro de 2018, os dois se trancaram a chave em um quarto da casa de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barras. Presença a mais, só o tradutor. Segredo absoluto, nenhuma informação dos interlocutores nem sobre algum tema, até hoje nenhum vazamento", escreve Jânio de Freitas em sua coluna deste domngo (17) na Folha de S.Paulo.
"Na contramão de Bolton foram as repentinas viagens de Sergio Moro aos EUA, em plena atividade da Lava Jato e sem mais do que pretextos ralos, nem estes ligados ao passos mais ou menos públicos da operação".
"Bolton esteve na ativa externa da "segurança" por todo o ápice da Lava Jato, a atividade em 2018 para deixar o caminho livre a Bolsonaro".
"Ano, também, em que funcionários americanos se instalaram aqui a título de colaborar com a Lava Jato".
“Achar que John Bolton, alegados procuradores e promotores americanos, Trump, Bolsonaro, Lava Jato e trapaças judiciais, juiz declarado ‘sem imparcialidade e suspeito’, Sergio Moro e Deltan Dallagnol, se vistos como partes de um conjunto, formam mera teoria da conspiração, é coisa de impostor" (...) Leia mais
por Fernando Hideo I. Lacerda, Pedro Estevam Serrano e Marco Aurélio de Carvalho
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Propalada por falta de informação ou por interesses político-eleitorais inconfessáveis, a mentira de que Lula não foi inocentado deve ser rechaçada com a retidão dos fatos. Para além de jargões e tecnicismos, a situação jurídica é muito simples: Lula foi vítima de uma perseguição política liderada por Sergio Moro, o que levou à anulação dos seus processos na "lava jato" e, quando os mesmos fatos foram reapreciados pela Justiça, todas as acusações foram rejeitadas.
Existem três momentos relevantes para compreender o histórico dessa perseguição: 1. Primeiro, Lula foi condenado ilegalmente por Moro nos processos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia; 2. Na sequência, Moro foi condenado pelo STF por ter violado a lei e agido por motivação política nos processos contra Lula; 3. Por fim, as mesmas acusações foram reapreciadas por outra juíza, que no primeiro caso arquivou os autos e no segundo caso rejeitou a denúncia por falta de provas.
Isso posto, não há espaço para elucubrações maliciosas ou devaneios infaustos. É preciso que se diga com todas as letras que Lula é inocente. Não "apenas" presumidamente inocente, como assegura nossa Constituição a todos que não sofreram condenação transitada em julgado, mas reconhecida e declaradamente inocente pela Justiça brasileira e pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Por parte do Supremo Tribunal Federal, ficou comprovado que o juiz Sergio Moro violou a lei, agindo por interesses pessoais e motivações políticas. Não é o caso de revisitar o tema com todos os detalhes, bastando mencionar os sete fatos apontados pelo STF para demonstrar que Moro perseguiu Lula e seus advogados: i) a realização absolutamente ilegal de espetaculosa condução coercitiva; ii) a quebra de sigilo telefônico de seus familiares e advogados, com o propósito de monitorar e antecipar estratégias de defesa; iii) a manipulação seletiva e os vazamentos de conversas interceptadas com finalidade de interferir no cenário politico; iv) a interferência direta de Moro no descumprimento da ordem de habeas corpus concedida pelo Juiz do Tribunal Regional Federal da 4ª Região Rogério Favreto; v) a prolação da sentença na ação penal do Caso Triplex, com diversas expressões afrontosas à defesa de Lula; vi) o vazamento do acordo de delação premiada de Antonio Palocci na véspera da eleição presidencial; e vii) o exercício do cargo de ministro da Justiça por Sergio Moro no governo de Jair Bolsonaro, caracterizando benefício direto pela condenação de Lula.
O reconhecimento judicial e definitivo pelo STF desse conjunto de práticas abusivas e violações legais cometidas por Moro e seus asseclas não pode ser reduzida a mero formalismo jurídico, pois se trata de um verdadeiro atestado da inversão dos valores essenciais a uma democracia constitucional. Significa, na prática, que o STF declarou que todos os elementos que a "lava jato" reuniu contra Lula são imprestáveis em razão das ilegalidades cometidas por Moro.
Em outras palavras, o STF entendeu que a condução coercitiva, as interceptações telefônicas e quebras de sigilo decretadas por Moro foram ilegais e, por consequência, todas as provas decorrentes dessas medidas arbitrárias são nulas e devem ser descartadas, conforme o que a teoria jurídica chama de teoria dos frutos da árvore envenenada. Nesse cenário, se a atuação de Moro é a árvore corrompida, todas os seus frutos são juridicamente imprestáveis.
Seja como for, o que mais chama atenção é que, mesmo atuando arbitrariamente, Moro e seus comandados jamais conseguiram encontrar sequer uma prova, lícita ou ilícita, contra Lula. A verdade é que não existe maior declaração de inocência senão o reconhecimento de que o réu foi vítima de um conluio entre juiz e acusadores, que mesmo atuando à margem da legislação não foram capazes de produzir uma só prova contra o acusado!
Vale ressaltar que o Comitê de Direitos Humanos da ONU foi além, tendo considerado que a decisão do STF foi correta mas insuficiente para evitar ou reparar as agressões contra Lula, dado que a atuação de Moro violou seu direito a ser julgado por um tribunal imparcial, seu direito à privacidade e seus direitos políticos. Diante disso, além de respaldar o conteúdo da decisão proferida pelo STF, o órgão instou o Brasil a assegurar que quaisquer outros procedimentos criminais contra Lula cumpram com as garantias do devido processo legal e a prevenir violações da mesma natureza no futuro. Ou seja, reconheceu que Lula é inocente e deve ser tratado como tal, reparando-se as arbitrariedades da "lava jato" e tomando-se medidas concretas para evitar que atos da mesma natureza voltem a se repetir.
Hoje está claro que Lula não foi julgado e nem tratado como réu, e sim como inimigo, durante a operação "lava jato". Concretamente, pode-se dizer que sequer houve processo, mas mera aparência processual para ocultar uma perseguição que o alvejou como inimigo político a ser abatido, silenciado e excluído das eleições presidenciais de 2018. Nesse passo, e para que não reste dúvida alguma, convém analisar os desdobramentos que se seguiram ao desmascaramento da "lava jato".
Após a anulação dos dois processos (casos triplex do Guarujá e sítio de Atibaia), os mesmos fatos foram reapreciados pela Justiça Federal de Brasília. No caso do triplex, o processo foi arquivado por duas razões: a proibição da reformatio in pejus em relação à acusação pela qual os réus haviam sido absolvidos e a prescrição da pretensão punitiva referente à acusação pela qual os réus septuagenários haviam sido condenados.
Nas palavras da juíza federal Pollyanna Kelly Maciel Martins Alves: "determino o arquivamento dos autos: 1. em razão da extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva estatal relativamente a Luiz Inácio Lula da Silva, José Adelmário Pinheiro Filho e Agenor Franklin Magalhães Medeiros, relativamente às imputações dos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, envolvendo o pagamento de reforma, ocultação e dissimulação da titularidade do apartamento 164-A, triplex, e do beneficiário das reformas realizadas, nos termos do art. 107, inciso IV, art. 109, inciso III, e art. 115, todos do Código Penal; 2. em razão da vedação da reformatio in pejus indireta quanto à imputação do crime de lavagem de dinheiro envolvendo o pagamento de reformas, a ocultação e dissimulação da titularidade do apartamento 164-A, triplex, e do beneficiário das reformas realizadas em face de Paulo Roberto Valente Gordilho, Fábio Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira, bem como quanto à imputação de lavagem de dinheiro envolvendo o armazenamento do acervo presidencial em face de Luiz Inácio Lula da Silva, José Adelmário Pinheiro Filho e Paulo Tarciso Okamotto, tendo em vista a absolvição pelo juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com trânsito em julgado para a acusação". (Processo 1070239-94.2021.4.01.3400)
No âmbito do direito penal, pode-se dizer que a prescrição é a perda do poder de punir do Estado em razão do decurso do tempo. Naturalmente, é possível que alguém tenha praticado crime e seja beneficiado pela prescrição. Há diversos exemplos de réus condenados criminalmente, com base em material probatório lícito, mas que acabam impunes porque o Estado não conseguiu aplicar a pena no prazo estabelecido em lei. Mas esse não é, nem de longe, o caso de Lula, que jamais buscou a prescrição como tese de defesa, tendo enfrentado um processo penal de exceção[1], conduzido de modo parcial por um juiz que atuou em conluio com a acusação e resultou numa vergonhosa condenação de corrupção por “atos indeterminados”.
Aqui, não se pode esquecer uma das mensagens mais simbólicas da "vaza-jato", na qual intimamente Deltan Dallagnol confessa que a denúncia do caso do triplex do Guarujá era "capenga". Conforme noticiado pela ConJur[2]: "Cinco dias antes de o Ministério Público Federal no Paraná apresentar contra Lula a denúncia do 'caso tríplex', o procurador Deltan Dallagnol achava que a acusação estava 'capenga' e que poderia fazer com que o ex-presidente fosse absolvido. A informação faz parte de uma nova leva de conversas entre integrantes da autointitulada 'força-tarefa da lava jato', enviadas ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (1/3) pela defesa do petista".
A verdade é que essa "denúncia capenga", que deu origem a um processo kafkiano e levou a uma condenação por "atos indeterminados" jamais serviria para iniciar de forma lícita e legítima um novo processo. E foi justamente para se esquivar de um novo enfrentamento dessa "denúncia capenga" que a prescrição serviu de álibi para o Ministério Público Federal propor e a Justiça Federal de Brasília determinar o arquivamento imediato do caso.
A prescrição não foi um pedido de Lula, não foi provocada por ato da sua Defesa e não havia nada que ele pudesse fazer para renunciar a ela. Está claro que a prescrição foi muito mais um pretexto para o Ministério Público Federal do que um benefício para Lula, que sempre pretendeu comprovar a sua inocência. Ao reconhecer a prescrição e propor o arquivamento do caso, os novos procuradores se eximiram do constrangimento de ter que levar adiante a mesma "denúncia capenga" de Deltan e seus comparsas.
Isso ficou evidente nos desdobramentos do caso do sítio de Atibaia, quando o Ministério Púbico Federal não pôde apelar à mesma tese da prescrição, pois, diferentemente do caso do triplex do Guarujá em que todos os condenados tinham mais de 70 anos (e, por essa razão, o prazo prescricional se reduz pela metade), no caso do sítio de Atibaia havia réus não septuagenários, de modo que não se pôde usar a prescrição como desculpa para não enfrentar a evidente inexistência de provas.
No caso do sítio de Atibaia, além da prescrição em relação aos réus septuagenários, o que sobrou da denúncia foi rejeitado por ausência de provas: "a justa causa não foi demonstrada na ratificação acusatória porque não foram apontadas as provas que subsistiram à anulação procedida pelo Supremo Tribunal Federal. (...) Na hipótese em análise, parte significativa das provas que consubstanciavam a justa causa apontada na denúncia originária foi invalidada pelo Supremo Tribunal Federal, o que findou por esvaziar a justa causa até então existente, sendo certo que o Ministério Público Federal não se desincumbiu de indicar a este Juízo quais as provas e elementos de provas permaneceram válidos e constituem justa causa, que se traduz em substrato probatório mínimo de indícios de autoria e materialidade delitivas, para dar início à ação penal" (Processo 1032252-24.2021.4.01.3400).
Considerando que a pena cominada no caso do sítio de Atibaia (17 anos, 1 mês e 10 dias) era mais do que o dobro do que do que o caso do triplex do Guarujá (8 anos e 10 meses), não há a menor dúvida de que a mesma rejeição da denúncia por insuficiência de provas decretada no caso do sítio se repetiria no caso do triplex. Fato é que, nas circunstâncias em que foram proferidas, as decisões que rejeitaram a acusação nos dois casos apenas reforçam a inocência de Lula.
Portanto, está claro que a prescrição do caso do triplex do Guarujá serviu ao Ministério Público Federal para escapar do constrangimento de reapresentar uma denúncia que o próprio Deltan Dallagnol chamava de "capenga". Já no caso do sítio de Atibaia, quando não se pôde usar a desculpa da prescrição porque havia réus não septuagenários, a Justiça rejeitou a denúncia por falta de provas.
Em todo o caso, é preciso esclarecer a falácia de que o réu só seria inocentado após a prolação de uma sentença final absolutória. Explicamos: para se chegar a uma sentença absolutória, é preciso antes que a acusação apresente um conjunto de provas minimamente capazes de demonstrar a existência do crime e fundados indícios de sua autoria, para que então o processo seja instaurado, a Defesa se manifeste, as provas sejam produzidas sob contraditório e, ao final, possa se chegar a uma decisão final de mérito.
Assim, em termos processuais, tanto a anulação dos atos decisórios de Sergio Moro em razão da sua suspeição, quanto o arquivamento do processo e a rejeição da denúncia por falta de provas equivalem ao reconhecimento imediato da inocência do réu, uma vez que, em todos esses casos, a acusação não conseguiu sequer apresentar elementos mínimos de prova para justificar o início do processo.
A verdade é que não existe, de fato e de direito, uma só prova contra Lula, cuja inocência é jurídica e moralmente inquestionável. Do ponto de vista jurídico, a inocência de Lula consolidou-se definitivamente, no plano interno, com as decisões do STF e da Justiça Federal de Brasília; e, no plano internacional, pela decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU. Do ponto de vista moral, é notável que, mesmo tendo sua vida ilegalmente devassada, nada foi encontrado que pudesse minimamente ligar o ex-presidente aos crimes apurados pela "lava jato".
Durante todos esses anos, nunca foi apresentada uma prova sequer, lícita ou ilícita, contra Lula, que desde o início manteve-se íntegro e firme no propósito de demonstrar sua inocência. Ao contrário do juiz Sergio Moro e dos procuradores lavajatistas, que até hoje não conseguiram explicar suas pretensões político-partidárias, suas ambições de enriquecimento em palestras e consultorias, seus diálogo revelados pela "vaza-jato" e sua fundação bilionária com o patrimônio espoliado da Petrobras.
A situação jurídica é deveras muito simples: Lula foi duplamente inocentado. Primeiro, quando o Supremo e o Comitê de Direitos Humanos da ONU reconheceram que Moro violou a lei e agiu motivado por interesses pessoais e políticos, de modo que o réu se tornou vítima do juiz. Segundo, quando os mesmos fatos foram reapreciados pela Justiça brasileira e nenhum dos processos foi reaberto, pois todas as acusações foram sumariamente rejeitadas.
Nessas circunstâncias, insistir na falácia de que Lula não foi inocentado revela uma sórdida impostura ou um profundo déficit cognitivo. Todos que estiverem dispostos a levar os direitos a sério devem reconhecer, sem sombra de dúvidas, que a inocência de Lula é fato irrefutável, juridicamente incontroverso e moralmente inquestionável.
[1] LACERDA, Fernando Hideo I. Processo penal de exceção. 2018. 441 f. Tese (Doutorado em Direito) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.
O ator e humorista Daniel Furlan (Choque de Cultura, Falha de Cobertura), criou o personagem Adolfo Borges em 2014. O político fala e pensa igual ao Sergio Moro pré-candidato a presidência pelo Podemos. Helder Maldonado e Marco Bezzi comentam.
Em seu novo filme, Maria Augusta Ramos conta como a imprensa foi decisiva no funcionamento e na derrocada da operação.
por José Eduardo Bernardes /Brasil de Fato
Está em cartaz o documentárioAmigo Secreto, da diretoraMaria Augusta Ramos. O filme narra os últimos capítulos da operação de combate a corrupção,Lava Jato, conduzida pelo ex-juizSergio Moro(União Brasil) e os procuradores daRepública do Paraná, desde a condução coercitiva do ex-presidenteLula(PT), aapresentação de um PowerPointcolocando o petista como o líder de uma suposta organização criminosa, até o momento em que oSupremo Tribunal Federaldetermina que o ex-juiz é suspeito para julgarLula, revogando uma série de condenações proferidas porMoro.
O pano de fundo do filme é ovazamento de mensagens do Telegram, trocadas entre procuradores eSergio Moro, no evento chamadoVaza Jato. O nome do filme, inclusive, faz uma alusão ao grupo de troca de mensagens, chamado "amigo secreto", onde eram combinadas intimações a possíveis testemunhas, ações para incriminar suspeitos, entre outras irregularidades. Os personagens principais são quatro jornalistas das redações doIntercept Brasile doEl País Brasil, que se debruçam sobre o vazamento e apontam as inconsistências das decisõesda 13ª Vara Federal de Curitiba, que condenou o ex-presidenteLulae outras tantas figuras do mundo empresarial e político do Brasil.
“A intenção é, através desse distanciamento que o cinema promove, ajudar a pensar, refletir sobre o que nós queremos como sociedade, o que nós queremos como país e como nós chegamos até aqui, com ataques diários às instituições democráticas, aoCongresso, aoSupremo Tribunal Federal, que são pilares da nossa democracia moderna. Sem essas instituições, não existedemocracia”, explica a diretora.
“Esses ataques se devem muito à ideologia daLava Jato. Acriminalização da classe política e dos políticos, a deturpação do devido processo legal, as violações e as arbitrariedades que foram acontecendo durante aLava Jato. Em nome dessa guerra contra a corrupção, se perpetuou crimes e levou o país economicamente... não só politicamente, mas economicamente, a um enorme desastre”, completa.
Maria Augusta Ramos, que é a convidada desta semana noBDF Entrevista, tem se dedicado durante grande parte de sua carreira como cineasta aos meandros dosistema judiciário brasileiro. Seu último filme,O Processo, que mostra bastidores do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, já mostrava parte da estreita relação entre omundo políticoe ojudiciário.
“Os dramas pessoais coletivos que se revelam ali, as mazelas e as questões do país com grandedesigualdade, opreconceito, oracismoe oconservadorismo, de uma sociedade altamente repressiva... me possibilitam fazer o cinema que eu gosto de fazer, que é um cinema de observação, construído através da observação, da interação entre seres humanos, seres sociais. Eu não uso entrevistas nos meus filmes, então osistema de Justiçame possibilita falar epensar o Brasilatravés desses rituais”.
Na entrevista,Ramosfala ainda sobre as críticas que o filme recebeu por, supostamente, dar mais espaço aos argumentos contrários à operação e menos aos lavajatistas e sobre como aLava Jatodeixou um rastro dedestruição no Brasil.
“Se a gente parar para pensar na questão econômica, o prejuízo foi infinitamente maior do que os benefícios que [a operação] trouxe. O que os procuradores e o próprio ex-juiz dizem por aí é completamente equivocado. Milhões de pessoas perderam os empregos, as empreiteiras foram prejudicadas. Todas as outras empresas que eram terceirizadas pelas empreiteiras e também pelaPetrobras”, diz.
“Não acontece em nenhum lugar do mundo, de vocêcombater a corrupção destruindo as empresas”, explicaRamos.
José Eduardo Bernardes entrevista Maria Augusta Ramos
Você está lançando Amigo Secreto, um documentário calcado no vazamento de mensagens dos celulares dos procuradores da Operação Lava Jato, no caso que ficou conhecido comoVaza Jato, divulgado por veículos de imprensa. O nome do filme, inclusive, é uma alusão ao grupo de procuradores no Telegram, que trocavam mensagens entre si, sem respeito ao processo legal. Você documenta uma das maiores reviravoltas da história recente do país. O filme foi acontecendo diante dos seus olhos? como foi esse processo?
Foi um processo muito intenso de filmagem nos últimos meses, porque nós começamos as pesquisas e as filmagens em 2019 e tivemos que parar por causa da covid-19. Foi um ano e meio que foi muito difícil filmar. Nós só filmamos os acontecimentos e alguns eventos muito importantes durante esse período, por causa da pandemia. Em julho de 2021 nós retomamos as filmagens e logo depois começamos a editar.
Sempre é muito intenso. Da mesma maneira queO Processofoi um filme muito intenso de ser feito, porque a gente, realmente, não sabia o que iria acontecer, nesse filme, a cada dia nós temos que dar conta de uma tragédia. O caos é omodus operandidesse governo. E, infelizmente, a gente tem que lidar com isso diariamente.
O filme se propõe, justamente, a refletir sobre esses últimos quatro, cinco anos, desde a condenação do presidenteLula, adenúncia do PowerPoint, até o início de 2022, com a intenção de, através desse distanciamento que o cinema promove, ajudar a pensar, refletir sobre o que nós queremos como sociedade, como país e como chegamos até aqui, com ataques diários às instituições democráticas, aoCongresso, aoSupremo Tribunal Federal, que são pilares da nossa democracia moderna. Sem essas instituições, não existe democracia.
Esses ataques se devem muito à ideologia, digamos assim, daLava Jato. Acriminalização da classe política, dos políticos, a deturpação do devido processo legal, como você mesmo falou, as violações, as arbitrariedades que foram acontecendo durante aLava Jato.
E de uma certa maneira, a ideia de que os fins justificam os meios e que você pode passar por cima de uma série de práticas institucionais e constitucionais, para chegar a um determinado fim que, naquele momento, se justificava contra acorrupção. E em nome dessa guerra contra a corrupção, se perpetuaram crimes e levou o país economicamente, não só politicamente, mas economicamente a um enorme desastre.
A Lava Jato se tornou uma máquina política também, não é? Os desdobramentos posteriores ao fim da operação também mostram isso...
Sim, justamente. A intenção dos integrantes daLava Jato, e talvez do próprio ex-juizSergio Moro, era de purificar a política, purificar o sistema político. Primeiro, isso não é função do sistema de justiça, a independência dos poderes é absolutamente fundamental para uma democracia saudável. Outra coisa é que você tem, obviamente, essa criminalização da política e ela dá no que deu: aeleição do Bolsonaro.
Existem políticos e políticos, da mesma maneira que existem médicos bons e ruins, juízes bons e ruins. Juízes e procuradores que não seguem o devido processo legal, como existem aqueles que são absolutamente corretos e éticos na sua função. É importante dizer que essas arbitrariedades, essas violações que vinham acontecendo durante aLava Jatoforam denunciadas muito antes das mensagens vazadas e, infelizmente, a grande mídia não deu espaço devido, não deu voz a essa narrativa.
Você tem, claramente, um exemplo delawfare, o sistema de justiça sendo usado contra inimigos políticos, para a remoção de um partido, no caso um partido à esquerda, um partido como foi oPartido dos Trabalhadores, a classe política progressista, toda uma maneira de governar.
Quando você olhou para a montagem e entendeu: “É isso, aqui está meu filme!” Eu tive a impressão que, apesar de contar uma história de dois, três anos atrás, há uma série de declarações que conversam exatamente com o momento que a gente está vivendo, seja a liderança do Lula nas pesquisas, sejam os casos de corrupção do governo Bolsonaro se avolumando. Deve ter sido difícil fazer esse recorte temporal.
É sempre difícil, é um processo. Eu digo que um processo de produção de um filme, de um documentário, é algo que se dá realmente em um processo. O filme é um produto de um processo cinematográfico, de filmagem, edição e de tudo que acontece durante esses dois períodos que eu, como diretora, não posso prever.
A proposta era, através dos protagonistas, que são quatro jornalistas, oLeandro Demori, na época diretor executivo do Intercept Brasil, aCarla Jimenez, então diretora executiva do El País Brasil, e duas repórteres, aMarina Rossie aRegiane Oliveira, acompanhar a rotina desses personagens - que eu chamo de personagens reais - durante ainvestigação jornalística sobre a Lava Jato, com base tanto nas mensagens vazadas, como em conversas e entrevistas que elas fazem com advogados, com um delator, com juristas e outros jornalistas.
O filme, na verdade, se passa em três tempos: no presente, representado por essa investigação; e, ao mesmo tempo, enquanto eles investigam e pesquisam aLava Jato, existe uma volta ao passado para rever as audiências. A do presidenteLula, nocaso do triplex, oPowerPointe alguns eventos que eram importantes para a gente poder entender o que está vivendo agora.
Você tem, então, uma releitura daOperação Lava Jatoe, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre as consequências que ela traz para o país, tanto economica como politicamente. E que vai dar noBolsonaro, em tudo o que a gente está vivendo agora. Era importante que o filme fizesse esse arco: começo; meio; e consequência.
Não que esse seja o fim, ou digamos, o nosso fim trágico. Absolutamente não. Eu acho que a gente está com uma possibilidade muito grande de termos o presidenteLula reeleitoe a gente torce para isso, para termos a nossa democracia de volta.
A declaração mais forte do filme, talvez seja a do ex-funcionário da Odebrecht, Alexandrino Alencar, que fala como foi pressionado a relacionar o ex-presidente Lula aos pagamentos de caixa dois da empresa. Por essas irregularidades, a Lava Jato é uma das maiores causadoras da atual crise brasileira?
Eu acho que sim. Está aí, o público que devia assistir o filme e tirar suas próprias conclusões. Eu acho que isso está nos números, o prejuízo econômico. Se a gente parar para pensar na questão econômica, o prejuízo foi infinitamente maior do que os benefícios que trouxe. O que os procuradores e o próprio ex-juiz dizem por aí é completamente equivocado.
O número dedesemprego aumentou. Milhões de pessoas perderam os empregos, as empreiteiras foram prejudicadas. Todas as outras empresas que eram terceirizadas pelas empreiteiras e também pelaPetrobras. Isso não sou eu que digo isso. Foi uma pesquisa doDieese(Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), um instituto de pesquisa seríssimo.
Não acontece em nenhum lugar do mundo, de você combater a corrupção destruindo as empresas. Como país, comosistema de Justiça, eu acho que é importante, sim, combater a corrupção, mas respeitando os empregos porque, basicamente, quem sofre são os trabalhadores. Quem sofre é a sociedade brasileira, que vai ter que lidar com esses grandes prejuízos que foram feitos.
No filme, você faz uso da imprensa como personagem principal, com os repórteres que estão investigando os vazamentos. A imprensa, inclusive, que teve um papel decisivo também na operação, como a gente comentou por cima, vazando documentos e depoimentos de maneira seletiva, de acordo com os interesses dos procuradores e do próprio ex-juiz. A imprensa vive uma crise de credibilidade?
Opapel da imprensaé fundamental em uma democracia e eu acho que o filme revela isso. Ao mesmo tempo em que o conluio entre osprocuradores e a mídiafoi extremamente prejudicial para o país e levou a tudo isso que a gente está vendo agora, a escolha por contar, da mesma maneira que no caso doimpeachment, de dar prioridade a uma determinada narrativa, a um lado da história e simplesmente, como diz oLeandro[Demori], não questionar as denúncias feitas peloMinistério Públicoe uma série de questões que estavam sendo apresentadas, fez dopapel da imprensa e do jornalismorealmente terrível.
E mostra como é importante que o jornalismo se mantenha isento. Não existe, obviamente, o jornalismo imparcial. Eu também não acredito nisso, nem cinema imparcial. Mas existe sim um jornalismo que se pauta pela busca da verdade, do fato, da ética e acho que a imprensa falhou nesse sentido.
Ao mesmo tempo, o filme também mostra que, mesmo tendo falhado, aimprensapode se redimir, e se redimiu também, através de alguns jornalistas, claro, e alguns veículos, no sentido de, através daVaza Jato, finalmente dar voz a esse outro lado, dar voz a essas críticas, aos questionamentos que estavam sendo já denunciados por juristas, como já disse. O filme mostra que afunção do jornalismoé fundamental para uma democracia saudável. É através da imprensa que essas ilegalidades vêm à tona.
Você falou agora sobre o cinema ter um lado, assim como o jornalismo, ou qualquer coisa que se proponha debater a vida pública. Eu vi algumas críticas sobre o teu filme, questionando a escolha por ouvir menos os argumentos lavajatistas e focar nos personagens que criticam a operação. É sempre importante ressaltar que o documentário não é jornalismo, são coisas distintas, que até podem se entrelaçar em algum momento. Você acha que deveria ter dado mais voz aos procuradores, por exemplo?
Primeiro, eu não acredito que existajornalismo e cinema imparcial, nem documentário. Mas, eu acho muito interessante essa crítica… Porque, durante anos,o jornalismo, a imprensateve uma cobertura absolutamente parcial do processo jurídico daLava jato. Criou aimagem do super-herói, que é algo absolutamente parcial. Houve certamente uma manipulação da opinião pública.
E que acabava se voltando contra qualquer pessoa que, dentro do próprio sistema de justiça, oSTJ, oSTFque criticassem aLava Jato. Foi um ciclo vicioso, muito perigoso. Então, é interessante que essas pessoas me digam, justamente neste momento em que a gente finalmente mostra o outro lado, a outra narrativa, que eu sou parcial.
Quer dizer, durante anos se ouviu a narrativa daLava Jato, acho que agora é o momento dessa desconstrução baseada em fatos. Não baseada no que eu ou os advogados acham, mas em fatos, no devido processo legal e na decisão do próprio sistema, no próprioSupremo Tribunal Federal, quejulgou o ex-juiz Sergio Moro, como suspeito no caso do triplex.
Eu tive a mesma crítica em relação aoProcesso, por não ouvir o outro lado. Mas a gente ouvia o outro lado diariamente, o tempo todo, e foi isso que aconteceu naLava jato. Foi se alimentando o ódio contra a classe política, a esquerda, o presidente Lula, diariamente, através dessa, digamos assim, máquina, de produzir notícia, que aqui passou a ser a Lava Jato.
E o próprio ex-juizMoro, em um artigo que ele escreveu sobre asMãos Limpas(operação italiana de combate a corrupção), sobre a importância da mídia, da imprensa, no combate contra a corrupção, no sentido desse conluio, dessa manipulação da opinião pública, necessária para combater a corrupção, para colocar corruptos na cadeia.
Bom, de qualquer maneira, mesmo com tudo isso, houve sim, da mesma maneira queO Processo, uma tentativa de entrevistar o ex-juizSergio Moro, então ministro da Justiça, antes e depois da sua renúncia. Houve uma tentativa de entrevistar dois procuradores e, infelizmente, eles não quiseram participar.
Eu acredito que o filme dá voz [a esses personagens], quando [Moro] se explica, por exemplo, noCongresso. Quando ele renuncia, se filia a um partido político. O próprio[Deltan] Dallagnol, quando ele resolve apresentar a denúncia contra o presidenteLula, o tal doPowerPoint. São falas inteiras, eu não corto, não edito, de uma maneira diferente do que faço com outras.
Mas certamente esse filme é uma representação da minha realidade, minha representação subjetiva, produto de uma experiência cinematográfica de filmagem, de tudo o que eu vivi com a minha parceira, editoraKaren Akerman. Nós revimos todo o material, filmamos 200 horas, e nos pautamos por um comprometimento com a ética, com a verdade. Mas não deixa de ser subjetivo.
Maria Augusta, grande parte da sua filmografia é dedicada a entender a justiça brasileira, por quê?
Eu acho que não é só entender ajustiça brasileira, é compreender, refletir sobre asociedade brasileiraatravés dosistema de Justiça. É pensar a sociedade brasileira, nos pensar como cidadãos, como sociedade, como seres humanos, através do que ocorre dentro de audiências, dentro de um processo de justiça.
A importância dos dramas pessoais coletivos que se revelam ali, as mazelas e as questões do país com a grandedesigualdade, opreconceito, oracismoe oconservadorismo, de uma sociedade altamente repressiva. Os valores e os princípios ainda vigentes na sociedade brasileira.
E osistema de Justiçame possibilita fazer o cinema que eu gosto de fazer, que é um cinema de observação, construído através da observação, da interação entre seres humanos, seres sociais. Eu não uso entrevistas nos meus filmes, então o sistema de Justiça me possibilita falar e pensar oBrasil, através desses rituais da Justiça.