Ao dar exemplos de profissões para os jovens, no debate da Band, Bolsonaro mencionou marceneiro e auxiliar de enfermagem, ofícios dignos e honrosos, sem dúvida. Mas o que Bolsonaro expressou foi a visão excludente (a mesma de Guedes e de Milton Ribeiro), de que a universidade não cabe nos sonhos da juventude das periferias.
A aversão aos pobres também ficou explícita quando o tema foi a visita de Lula a uma comunidade, no Rio de Janeiro. Bolsonaro disse que só tinha “traficante” em volta do ex-presidente. Para o candidato que tem conexões com milicianos (um deles, seu vizinho até ser preso), quem mora em favela é bandido.
Seu desprezo aos vulneráveis emerge de forma ainda mais torpe no caso da visita a um grupo de venezuelanas, no entorno de Brasília. São mulheres e meninas refugiadas da fome e do desespero no país vizinho. Participavam de uma ação social, com corte de cabelo e maquiagem, uma forma singela de afeto e resgate de autoestima.
A mente degenerada de Bolsonaro associou as “menininhas, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas” à prostituição. Onde já se viu menina pobre arrumar o cabelo e pintar o rosto se não for para se prostituir com machos velhos e babões como ele? A descrição que ele faz da cena tem as características de comportamento do assediador sexual que se aproveita da fragilidade da vítima. Parou a moto, tirou o capacete, “pintou um clima”, entrou na casa.
Se ele achou que estava diante de uma situação de exploração sexual de menores, por que não tomou alguma providência para impedir o crime? Bolsonaro não tem resposta porque sua mentalidade depravada não se escandaliza com a prostituição infantil.
Bolsonaro não tem freio nem bússola moral ou ética. Cercado de tipos pervertidos como Damares e Pedro Guimarães (abusador, felizmente, afastado), seu governo é uma rede de predadores da infância e de mulheres. São ladrões de futuro. Ladrões de Brasil.
Os fascistas no poder têm destruído o passado, para assim exterminar a gente do Brasil, como a destruição da floresta amazônica, a entrega à mineração de terras indígenas, e assim destruindo mais da metade da vida brasileira.
No filme “Vingadores: Ultimato”, o vilão Thanos acaba com a metade dos seres vivos da Terra para então destruir as chamadas Joias do Infinito, que permitiriam reverter a situação. No filme, todas as vezes em que o passado é alterado, surge um universo paralelo, onde tudo ocorre de maneira diferente graças ao passado transformado.
Mas não é preciso ser do cinema para ver que esse tem sido o ideal do governo fascista do Brasil. E não só a partir das mudanças – “reinterpretações” – do passado da ditadura que o fascismo tem feito em nossa história. Mas também nas conquistas civilizacionais que obtivemos nos governos Lula e Dilma, como a transformação do mundo do trabalho, os avanços do Sistema Universal de Saúde, as universidades para todos, financiamento das artes e do cinema. Os fascistas no poder têm destruído o passado, para assim exterminar a gente do Brasil, como a destruição da floresta amazônica, a entrega à mineração de terras indígenas, e assim destruindo mais da metade da vida brasileira.
Não e preciso ser vidente, o mal está exposto e em desenvolvimento. Pois Realidade Paralela é a realidade política do Brasil sob Bolsonaro. Têm acontecido crimes, desrespeitos, chacotas, escrachos, roubos e furtos com punição e enquadramento penal, mas um congresso acorrentado por verbas milionárias desculpa, tergiversa, faz de conta que nada aconteceu, na sua cínica reinterpretação dos crimes cometidos pela presidência. No entanto, nada disso deveria ser surpresa. Isso é um pesadelo que de tão previsível se autorrealizou. Onde o escândalo de que o fascismo aja como fascismo?
A elite empresarial e sua mídia de estimação e serviço criaram o monstro. Mas o monstro se revela maior do que imaginaram, Contra Lula e as conquistas democráticas para a população, todos se posicionaram contra. O diabo foi que o monstro pulou fora do script. Para maior surpresa de empresários e mídia que se escandalizam agora. As notícias de hoje são pancadas de maior cinismo e desprezo.
Na Folha de São Paulo: “Sérgio Camargo sugere que negros de esquerda sejam mandados para a África”. No G1, da Globo, declara um trabalhador do IFood: “Já trabalhei com fome várias vezes carregando comida nas costas”. Vêm à luz agora cartas de leitores que perguntam “onde está o nosso futuro?”. Não está. O que dizer de mais de mais um acinte e desprezo pela constituição federal?
O Gabinete de Segurança Institucional, chefiado pelo ministro Augusto Heleno, respondeu ao jornal O Globo que não seria possível dar os detalhes sobre reuniões de Bolsonaro com pastores evangélicos que cobravam pagamentos em ouro para intermediação de investimentos em escolas:
“A solicitação não poderá ser atendida. Observa-se, assim, que o tratamento de dados pessoais coletados no caso, o nome e a data de entrada de visitantes na Presidência da República, cumpre a finalidade específica de segurança”,
Virou escracho. É inacreditável a falta de compostura do vice-presidente, general Morão, sobre a compra superfaturada de Viagra para oficiais das forças armadas: “Eu não posso usar o meu Viagra, pô?”. Então que façam sexo com dinheiro saído da miséria do povo brasileiro. Daí que repetimos: a mídia e empresários cevaram o seu monstro e agora se espantam diante do monstrengo. Falam e escrevem com outras palavras: “Está demais! Isso está fora do combinado”.
Na televisão, o jornalista Merval Pereira, agora presidente da Academia Brasileira de Letras (!!!!!!!!!!), continua no seu natural a falar obviedades e reacionarismo com o ar de pessoa séria. Mas ele é o presidente da Casa de Machado de Assis! Se nada mais houvesse de trágico na atual vida brasileira, um não-escritor na presidência da Academia Brasileira de Letras seria um retrato acabado do mundo paralelo onde caímos. Temos ou não um Brasil de realidade paralela ao nacional que amamos?
O intelectual comunista e escritor José Carlos Ruy, em seu necessário Dicionário Machado de Assis, que ainda aguarda a publicação pela Editora Anita Garibaldi, destacou num dos seus geniais verbetes:
“Costa – Um cidadão estimado de Itaguaí, que recebeu uma herança de 400 mil cruzados, a dividiu em empréstimos e, no fim de 5 anos, ficou sem nada; passou da opulência à pobreza. Foi recolhido ao hospício como louco. (O alienista, 1882)”.
Somente mesmo José Carlos Ruy e Machado de Assis nos fazem terminar este pesadelo do Brasil com uma gargalhada.
Do presidente da gripezinha pode se esperar de tudo, já que ele se supera e causa espanto até quando se trata de algo sadio e trivial, como encarar um franguinho com farofa
Assunto de destaque de revistas, em edições anteriores, Bolsonaro voltou às páginas nesta semana ao comer frango com as mãos, esparramando muita farofa pelo chão, após passeio por Brasília. Segundo a revista ISTOÉ, em matéria de Marcos Strecker, com o título Populismo desastrado(isso mesmo, com a letra T fora de esquadro) e fotos de reprodução de vídeo, “com a reeleição cada vez mais desacreditada, Jair Bolsonaro mostra falta de rumo, perde aliados pelo país, vê a base aliada implodir e apela para medidas desesperadas, inclusive a farofadas, para tentar se reconectar com a população. Mas a alta rejeição mostra um cenário praticamente irreversível. A crise abre espaço para especulações de que o presidente possa até mesmo desistir da reeleição”.
Afinal, como também destaca a revista, “Bolsonaro vê o Centrão desembarcando de sua candidatura, tem rejeição de 64% e apela a uma onda de ações populistas para tentar ganhar sobrevida”.
Ainda da ISTOÉ: “Em três anos de governo, o capitão gastou cerca de R$ 30 milhões. Isso é 18,8% a mais que a soma das despesas de Dilma Rousseff e Michel Temer”.
Armais-vos uns aos outros
Flávio Bolsonaro é suspeito de fazer lobby para a venda de armas à polícia do Rio
E temos Na mira dos fuzis, matéria de Denise Mirás: “Flávio Bolsonaro sempre defendeu armas. Agora, o Ministério Público aponta que ele pode ter atuado na compra suspeita de fuzis para a Polícia Civil do Rio de Janeiro. Família do presidente faz lobby para a fabricante desses equipamentos desde 2019. Em 2020, conseguiu R$ 3 milhões do Ministério da Justiça para compra suspeita de fuzis no Rio de Janeiro”. Ainda da matéria, com o título Laços antigos: “Em 2019, reclamou das burocracias exageradas para desestimular o livre mercado para empresas bélicas se instalarem no Brasil”.
De Bolsonaro, em 2018, em entrevista à Jovem Pan:
– Trabalhadores têm que escolher entre ter direitos ou emprego.
247 - A Força Aérea Brasileira (FAB) abriu procedimentos de investigação contra militares filiados a partidos políticos, mas apenas aqueles filiados ao PT são alvos. De acordo com a coluna da jornalista Bela Megale, de O Globo, foram abertos ao menos três investigações, por meio de um Procedimento de Apuração e Transgressão Disciplinar, contra integrantes da FAB filiados ao Partido dos Trabalhadores - sendo que mais de um dos investigados estão no partido há mais de 15 anos, antes mesmo desses militares ingressarem na Força
Ainda conforme a reportagem, as investigações citam o artigo 142 da Constituição, que proíbe que militares da ativa sejam filiados a partidos políticos. O caso, porém, é visto com desconfiança por integrantes da corporação, pelo fato de apenas os casos referentes ao PT terem sido revelados. O caso é tratado sob sigilo no âmbito das Forças Armadas.
Procurado pela jornalista, o Ministério da Defesa não informou se as investigações atingem outros partidos políticos e nem se o Exército ou a Marinha também estão realizando procedimentos semelhantes. De acordo com a assessoria da FAB, “o levantamento no âmbito da Força Aérea Brasileira é realizado para todo efetivo e independe de partido político específico, com fito de orientar acerca do assunto, em cumprimento às disposições legais supracitadas”.
FAB INICIA CAÇA A MILITARES FILIADOS AO PT
Mauro Lopes recebe no Giro das 11 o sociólogo Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, e a vereadora Verônica Lima (PT, Niterói). Na segunda parte do programa, Mauro e a professora Gina Viera Ponte de Albuquerque recebem Marjorie Chaves, que é ativista feminista negra, doutoranda em Política Social e mestra em História pela Universidade de Brasília (UnB). Ele é também coordenadora do Observatório da Saúde da População Negra (PopNegra), vinculado ao Núcleo de Estudos de Saúde Pública (Nesp/Ceam-UnB) e pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab/Ceam-UnB).
“Eu sei que alguém descobre / Falhas no meu testamento”. Joaquim Apolinário. Testamento do Judas. 1886. (*)
Neste sábado de aleluia, Judas Iscariotes, ministro das Finanças do Inferno, visitou países de cinco continentes, entre eles a America First e o Brasil abaixo de tudo. Aqui viu bonecos de pano com a cara do genocida pendurados em postes das cidades. Fugiu ao se deparar com 330 mil mortos pelo coronavirus. Passou antes por Manaus. No bairro de Aparecida, sofreu a tradicional malhação e se vingou deixando seu testamento em versos psicografado pelo irreverente e desabusado Edilson, o Gaguinho, gênio da poesia popular. Tirem as crianças da sala. Ei-lo aqui.
1 Sou Judas Iscariotes / Neguei máscara, vacina. Dei cloroquina pra Cristo / Olhem só a minha sina.
2 Por isso sou malhado / com porrada na cacunda No sábado de Aleluia vou / moer vidro com a bunda.
3 Mas antes de me ferrarem / e de me enforcar outra vez Eis aqui o inventário / do que eu lego pra vocês.
4 Ao Trump bundão eu deixo / o túmulo do faraó E a espada do centurião / pra enfiar no fiofó.
5 Pra atormentar sua vida / deixo o discurso do Lula. Ao mentiroso Jair Messias / Burro como uma mula
6 Deixo o exemplo do Temer / ao vice Mourão Mourão Catuca por baixo que ELE cai / com impeachment e lockdown.
7 Deixo ao Dudu, o 03 / a embaixada em Mianmar Pra ele fritar hamburger / no Burger King de lá
8 A Carlucho, o 02 da fake news / que escorrega no quiabo Deixo a máscara que não usa / para enfiar no seu rabo.
9 As trintas moedas repasso / ao 01 da Rachadinha Mansão, chocolate, iate / Queiroz deu sua lavadinha
10 Ao ministério do Zero Zero / escolhido no capricho As ratazanas do Centrão / jogo na lata do lixo.
11 Lego armas, vacina não/ à familícia e ao gado Tudo pau de amarrar égua / com o orifício corrugado
12 O Posto Ipiranga vazio / que nem pastel do Beiçola Paulo Guedes nega tudo / e põe no PIB meia sola.
13 Ernesto Araújo, seu pária / Que merda de chanceler! Te deixo spray de Israel / Ninguém te ama nem te quer.
14 Ao obediente Pazzuelo / Lego o mapa do Amapá O Zé Gotinha com fuzil / no dia D na hora H.
15 Para o Marcelo Quidroga / que não sabe o que quer! Deixo a vachina da China / pra ele virar jacaré.
16 A corda que me enforquei / e a tripa cagaiteira Lego ambas pra Damares / se pendurar na goiabeira.
17 Ao “imprecionante” Weintraub / de Kafta um grande fã Deixo cannabis no campus / e as balbúrdias do Satã.
18 Ao ministro Milton Ribeiro, / da palmatória defensor. De pedagogo oprimido / a “paudagogo” opressor.
19 Nem tudo que reluz é Moro / mas cai tudo que balança Ao “conje” suspeito eu deixo / a Edith Piá de herança
20 Ao incendiário da Amazônia / ao Salles abridor de porteira Deixo o fogo do inferno / Pra ele arder na caldeira
21 Ao general Heleno de Troia / Que gosta de um tititi Deixo toda a lambança / Cometida no Haiti.
22 À senadora Kátia Abreu / Que ficou no ora veja A mão que te afaga / É a mema que te apedreja.
23 Tou certo ou tou errado? / Para a Regina Porcina, Que foi sem nunca ter sido / Deixo um trono na latrina.
24 Lego a Amargo dos Palmares / Pra aprender a ser gente, Um pixaim de pentelho / Na careca reluzente.
25 Ao garantista Kássio Nunes / Que pensa que a lei destrincha Deixo-lhe o Gilmar Mendes / Pra chamar ele na chincha.
26 Ao Procurador Augusto Aras / Deixo-lhe muitas gavetas Que nunca serão abertas / Pra esconder do Bozo as tretas
27 Palloci minh’alma gêmea / Teu destino é como o meu Pra tirar o loló da seringa, / Traíste mais do que eu.
28 Ao bode libidinoso / Metido num trumbico Defendo a Isa Penna / Até o Cury fazer bico
29 Para Wilson Lima governador / Lego a operação sangria, Com dinheiro da saúde,/ Não se faz patifaria.
30 De mãos dadas com o povo? / Ventiladores de hospital Comprados em adega de vinho / É coveiro em funeral.
31 Lá onde perdi as botas / Ao mulato inzoneiro Lego o nojo desses pulhas / E a crença no brasileiro.
32 Agora eu volto pro inferno / lá tá melhor do que aqui Neste fim de Quaresma / Deixo-vos o Taquiprati.
P.S. – Agradeço sugestões da Teca, Fabico, Celeste e Elisa Souto e a inspiração do Edilson, filho da Pequenina e Marcolino.
(*) O potiguar Joaquim Apolinário de Medeiros (1852-1919) fez um testamento do Judas em 1886, preservado na memória da mãe do Câmara Cascudo, que transmitiu oralmente os versos para seu filho. Trechos foram publicados por ele em “Vaqueiros e Cantadores”. Rio. Ediouro. 200 (pgs 65-66).
Desde seu início, o governo Bolsonaro surpreendeu e chocou pelo baixo nível cultural de seus componentes e pelas opiniões tresloucadas de seus mentores. Sob certo aspecto, parecia a composição burlesca de um teatro de comédia com palhaços chinfrins. Mas apenas parecia – porque o palco desse teatro bufa era o governo do Brasil
Pairava acima do grupo governamental tido como “ideológico”, a figura alucinada de um chamado guru que vivia nos Estados Unidos como uma assombração, deitando falação sobre uma porção de coisa, esbanjando ignorância, petulância e palavrão.
E assim foi-se constituindo o governo. No ministério do Exterior aboletou-se um diplomata de terceiro escalão que acha que fascismo e nazismo foram movimentos de esquerda, o que constrangeu o próprio Museu do Holocausto de Israel e o governo alemão; no ministério da Educação foi posto um ser para quem universidades públicas “fazem balbúrdia” e devem ter seus orçamentos cortados; no Meio Ambiente uma figura condenada em primeira instância em São Paulo por improbidade administrativa, por ter favorecido a uma mineradora em detrimento do meio-ambiente; no ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos uma mulher que começou suas atividades recomendando que “meninos vistam azul, e meninas, rosa”, expondo um anacronismo cultural que dá pena.
Mas, nos últimos dias, Bolsonaro suplantou-se na capacidade de indicar para seu governo pessoas rudemente atrasadas, desconhecidas e de um reacionarismo exacerbado.
O tipo que indicou para defender a cultura negra na Fundação Palmares, Sérgio Camargo, acha que “não há salvação para o movimento negro. Precisa ser extinto! Fortalecê-lo é fortalecer a esquerda”. E mais: o Dia da Consciência Negra, que “celebra a escravização de mentes negras pela esquerda, precisa ser abolido”. Negro, provocou a repulsa imediata de seu irmão Wadico Camargo, que veio a público declarar “Tenho vergonha de ser irmão desse capitão do mato”.
Para a presidência da Fundação Nacional das Artes (Funarte), órgão que cuida do fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo, Bolsonaro nomeou, em 2 de dezembro passado, um tal Dante Mantovani, que disse, entre outras barbaridades, que os Beatles eram comunistas e que “o rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto, por sua vez, alimenta uma coisa muito mais pesada, que é o satanismo. O próprio John Lennon disse abertamente que fez um pacto com o diabo para ter fama”. Uma estultice completa.
O Mantovani investiu ainda contra o musical da abertura da Olimpíada do Rio, em 2016, criticando os clássicos da música popular brasileira interpretados por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta, entre outros.
Nos seus ataques diversificados, Mantovani abre uma exceção para a banda Angra. O baixista da banda, Felipe Andreoli, correu para dizer: “Quanta ignorância, quanta desinformação – e que vergonha ter minha banda citada em associação a esse cara”.
Finalmente, nesse mesmo dia 2, também foi nomeado para a presidência da Biblioteca Nacional um Rafael Nogueira, que se considera “aspirante de filósofo” e aluno do boquirroto “ideólogo” que mora em Virgínia, o Olavo de Carvalho. Descobriu-se que o Rafael, em 2017, examinando causas do analfabetismo entre nós, avaliou que uma das razões é a existência de “livros didáticos cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel O Pensador, Legião Urbana”.
A nomeação de pessoas desse naipe para cargos da maior importância na administração federal enche-nos de vergonha, e nos envergonha perante o mundo. De cambulhada com tudo isso vem a estúpida desconfiança da ciência, a crítica a cientistas como Einstein, Darwin, Newton, e as considerações ridículas sobre o “terraplanismo”, a teoria de que a Terra é plana.
A coisa chegou a um ponto tal que o juiz Emanuel Guerra, da 18ª Vara Federal do Ceará, considerando o atrevimento e o deboche de um presidente que nomeia para chefiar um órgão de defesa da negritude uma pessoa que insulta os negros, resolveu suspender a nomeação de Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Palmares. O magistrado escreveu que as declarações do Camargo se constituíam “em frontal ataque às minorias cuja defesa, diga-se, é a razão de existir da instituição” que ele iria presidir.
Tudo isso mostra que caímos muito, nos enredamos num pântano humilhante e sórdido.
Bolsonaro age com total irresponsabilidade nessas nomeações. Nem ele mesmo sabe quem são as pessoas que nomeia. Ante o vexame que causou a nomeação do Sérgio Camargo para a Fundação Palmares, foi logo se explicando: “Não o conheço pessoalmente”.
O Camargo foi barrado porque houve protestos vários, que respaldaram o recurso jurídico contra o despotismo obscurecido.
A disputa pela vanguarda do bestialógico é grande. Mas na frente mesmo, isolado, está o comandante do espetáculo, o Bolsonaro.