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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

14
Ago21

Bob Jeff e o clima

Talis Andrade

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por Mauro Nadvorny

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Para quem ainda duvidava do Aquecimento Global, tipo os caras da Terra Plana e Negacionistas da Existência da Covid-19, a agência de gestão oceânica dos Estados Unidos (NOAA), anunciou que este mês de Julho foi o mais quente já registrado em nível mundial! Sim, desde que se tem conhecimento das temperaturas diárias, batemos este triste recorde.

Foi um mês onde assistimos uma natureza revoltada. Chuvas torrenciais que causaram grandes inundações e incêndios que consumiram, ou que ainda consomem, milhares de quilômetros quadrados de florestas. Tivemos perdas de vidas humanas, de animais, de edificações e vegetação.

O clima não enlouqueceu, o que estamos sofrendo é o resultado de anos de negligência humana, e não foi por falta de aviso. Cientistas vem alertando que se não mudássemos nossa atitude com relação a emissão de gases, as consequências seriam desastrosas. E agora é tarde de mais. Geleiras estão derretendo. A temperatura na Sibéria foi de um verão nunca visto. Cataclismos vão ocorrer com mais frequência.

Chegamos ao ponto sem retorno em que não podemos mais evitar o que já está e ainda vai acontecer. Se hoje chegássemos a um acordo global para acabar com a emissão de gases a partir de amanhã, ainda seriam necessários no mínimo 20 anos para se ter algum resultado. Deu para entender o tamanho do problema?

Não se trata exatamente de política, mas é preciso lembrar que Trump menosprezou e reirou os EUA do acordo do Clima de Paris. Seu capitão de ordens, presidente do Brasil deixou o Pantanal e a Amazônia arderem em incêndios sem combate. A derrubada de árvores e as queimadas vão destruindo a floresta em níveis nunca vistos antes. Uma floresta que é quase toda brasileira, mas que serve ao mundo.

Muito se fala ultimamente de Marte. Os Estados Unidos e a China estão lá neste momento. O pouco que se sabe de Marte é que já teve mares, lagos e rios. Muito provavelmente abrigou vida quando tinha uma atmosfera. Hoje não passa de uma bola de terra vermelha. O que aconteceu com Marte ainda não se sabe, mas o que vai acontecer com a Terra neste ritmo, já sabemos.

E o Bob Jeff com isso. Tudo a ver. A prisão dele chamou atenção para o que ele representa. Tudo de ruim incorporado em um ser vivo. Convenhamos que não dá para chamar aquilo de humano, eu ao menos, me recuso. Se fosse adjetivar, ficaria escrevendo várias laudas, então deixa para lá.

O Bob resolveu peitar o STF, mais exatamente o Ministro Alexandre de Morais. Péssima ideia, mas para quem chamou o Embaixador de uma País Amigo de Macaco, chamar o ministro de Canalha é eufemismo. Bob não se intimida e manda os cristãos meterem bala em quem ousar fechar uma igreja, mesmo se forem policiais. O Bob faz selfie com metralhadora e com pistolas. O que perdeu em peso, ganhou em arrogância.

 Aquela coisa é dona de um partido político, uma sigla histórica, o PTB. Foi criado por Getúlio Vargas em 1945 para "servir de anteparo entre sindicatos e os comunistas", existiu como tal até 1965 . Este PTB atual foi uma retomada da sigla depois da abertura que dividiu trabalhistas históricos que criaram o PDT. 

Segundo o Bob, os membros do STF são todos comunistas, o Congresso está cheio de comunistas, todos contra o pensamento conservador. Mas o que seria isto? Entenda-se por pensamento conservador uma mundo cristão branco com mulheres recatadas e do lar. Um mundo onde só seja possível marcar sexo masculino, ou feminino em formulários. Um lugar onde os negros sabem o seu lugar e livre de judeus.

Neste lugar conservador, a derrubada de florestas para dar lugar a pastagens, a queima de carvão para gerar eletricidade, a indústria de cigarros livre para vender para menores, as fábricas de automóveis a combustão são o orgulho das nações. Vacinas são para maricas e a AIDS e o Covid-19 não existem, são invenções daqueles comunistas.

O Bob Jeff não incomoda somente o STF, ele incomoda todos nós. Ele, seu presidente e seus seguidores são o que existe de pior na nossa humanidade. Se a gente procurar bem, é capaz de encontrar um DNA marciano nesta gente, o que explicaria um monte de coisa. 

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11
Ago21

Mudança do clima acelera criação de deserto do tamanho da Inglaterra no Nordeste

Talis Andrade

Área desertificada

Área desertificada no interior de Alagoas, onde fenômeno atinge 32,8% de todo o território estadual, o maior percentual em todo o Semiárido

 

 

  • por João Fellet /BBC News 

 

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em 9/8, reforça que o Brasil abriga uma das áreas do mundo onde a mudança do clima tem provocado efeitos mais drásticos: o Semiárido.

O relatório aponta que, por causa da mudança do clima, a região — que engloba boa parte do Nordeste e o norte de Minas Gerais — já tem enfrentado secas mais intensas e temperaturas mais altas que as habituais.

Essas condições, aliadas ao avanço do desmatamento na região, tendem a agravar a desertificação, que já engloba uma área equivalente à da Inglaterra (leia mais abaixo).

Criado na ONU e integrado por 195 países, entre os quais o Brasil, o IPCC é o principal órgão global responsável por organizar o conhecimento científico sobre as mudanças do clima.

O documento apresentado nesta segunda (AR6) é o sexto relatório de avaliação produzido desde a fundação do órgão, em 1988.

 

'Área seca mais densamente povoada'

"O Nordeste brasileiro é a área seca mais densamente povoada do mundo e é recorrentemente afetado por extremos climáticos", diz o relatório.

O IPCC afirma que essas condições devem se agravar: se na década de 2030 o mundo deve atingir um aumento de 1,5°C em sua temperatura média, em boa parte do Brasil os dias mais quentes do ano terão um aumento da temperatura até duas vezes maior.

Em várias partes do Semiárido, isso significa verões com temperaturas frequentemente ultrapassando os 40°C.

mapa da desertificação no Semiárido

 

Mapa aponta diferentes graus de desertificação no Semiárido

 

Hoje, segundo o IPCC, o mundo já teve um aumento de 1,1°C na temperatura média em relação aos padrões pré-industriais.

Para limitar o grau do aquecimento, é preciso que os países reduzam drasticamente as emissões de gases causadores do efeito estufa — como o gás carbônico, produzido pelo desmatamento e pela queima de combustíveis fósseis, e o metano, emitido pelo sistema digestivo de bovinos.

 

Morte da vida no solo

Para o meteorologista e cientista do solo Humberto Barbosa, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), temperaturas extremas põem em xeque a sobrevivência no Semiárido de micro-organismos que vivem no solo e são cruciais para a existência das plantas.

Há dois anos, Barbosa diz ter encontrado temperaturas de até 48°C em solos degradados no interior de Alagoas.

"A vegetação não crescia mais ali, independentemente se chovesse 500 mm, 700 mm ou 800 mm. Não fazia mais diferença, pois toda a atividade biológica do solo não respondia mais", afirma.

Sem vida no solo, aquela região se tornou desértica, como tem ocorrido em várias outras partes do Semiárido.

Na Ufal, Barbosa coordena o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), que desde 2012 monitora a desertificação no Semiárido.

Imagem de satélite

 

Imagem de satélite mostra núcleo de desertificação em Gilbués (PI), um dos principais no Semiárido brasileiro

 

Em 2019, o laboratório revelou que 13% de toda a região estava em estágio avançado de desertificação. Essa área engloba cerca de 127 mil quilômetros quadrados.

"Na nossa região, naturalmente não haveria um deserto, só que a gente tem hoje um deserto", ele diz.

Barbosa explica: segundo a ciência, climas desérticos (ou áridos) são aqueles onde o índice de chuvas é inferior a 250 mm por ano. Nessas condições, a sobrevivência de plantas e animais é bastante difícil — daí o aspecto vazio de boa parte das paisagens desérticas.

Mas essas condições climáticas não se aplicam a nenhuma região do Brasil, nem mesmo o Semiárido, que continua a receber entre 300 mm e 800 mm de chuvas ao ano.

Ainda assim, a mudança do clima e o desmatamento criaram paisagens desérticas na região.

"O solo dessas regiões foi perdendo a atividade biológica, embora as chuvas continuem acima do que se espera para uma região desértica. Esse é o paradoxo", diz Barbosa.

Ele afirma que, nesse estágio, é praticamente impossível reverter o fenômeno. "O custo da recuperação de áreas desertificadas é alto, e no Brasil não temos capacidade econômica para fazer esse tipo de investimento."

 

Maior seca da história

Entre 2012 e 2017, o Semiárido enfrentou a maior seca desde que os níveis de chuva começaram a ser registrados, em 1850. Essa seca, que é atribuída às mudanças climáticas, ajudou a expandir as áreas desertificadas.

Barbosa diz que a pandemia dificultou a realização de viagens para medir o progresso da desertificação após 2019, mas tudo indica que o fenômeno segue avançando.

A área já desertificada equivale ao tamanho da Inglaterra, cerca de três vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro, ou a 23 vezes a área do Distrito Federal. Essas terras não são todas contíguas e ocupam diferentes partes do Semiárido. Enfrentam, ainda, diferentes graus de desertificação, embora em todas o fenômeno seja considerado praticamente irreversível.

Alguns dos principais núcleos de desertificação ficam em Gilbués (PI), Irauçuba (CE), Cabrobó (PE) e no Seridó (RN).

Imagens de satélite de Cabrobó

Imagens de satélite mostram avanço da desertificação na região de Cabrobó (PE) em 1969..

Imagem de satélite

 

... e em 2020

 

Imagens de satélite mostram como os núcleos têm crescido nas últimas décadas, enquanto as áreas verdes que os circundam vão rareando.

No núcleo de Cabrobó, que ocupa uma vasta área nas duas margens do São Francisco, as poucas manchas verdes na paisagem se devem a lavouras irrigadas com a água do rio.

Os Estados mais impactados pela desertificação são Alagoas (com 32,8% de sua área total afetada pelo fenômeno), Paraíba (27,7%), Rio Grande do Norte (27,6%), Pernambuco (20,8%), Bahia (16,3%), Sergipe (14,8%), Ceará (5,3%), Minas Gerais (2%) e Piauí (1,8%).

 

Região mais impactada do Brasil

A desertificação no Semiárido brasileiro foi citada pelo IPCC em seu relatório anterior, de 2019, que teve o pesquisador Humberto Barbosa como coordenador de um capítulo sobre degradação ambiental.

O relatório apontou que 94% da região semiárida brasileira está sujeita à desertificação.

"A região semiárida é a mais impactada (pela mudança do clima) no Brasil, e é a região onde você tem os índices de desenvolvimento humano mais baixos do país", afirma Barbosa.

Com o agravamento das condições climáticas, diz ele, tende a se acelerar o êxodo de moradores rumo a outras partes do país.

 

O papel do desmatamento

Para os cientistas, está claro que a desertificação tem sido acentuada pelas mudanças climáticas e tende a aumentar se as alterações continuarem se intensificando.

Porém, a degradação dos solos do Semiárido também se deve a outra ação humana: o desmatamento na Caatinga, o ecossistema natural da região.

Segundo Humberto Barbosa, ainda não se sabe quanto da desertificação se deve ao desmatamento e quanto se deve às mudanças climáticas. "É muito difícil separar os dois processos."

Quarto maior bioma do Brasil, abarcando 11% do território nacional, a Caatinga já perdeu 53,5% de sua cobertura original, segundo o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no país.

O bioma vem sendo destruído desde os primeiros séculos da colonização do Brasil, quando grandes áreas de vegetação nativa passaram a ser derrubadas para dar lugar principalmente a pastagens para bovinos.

A pecuária, aliás, é apontada com uma das principais causas para a desertificação no Semiárido.

Imagem de satélite

Imagens de satélite mostram avanço da desertificação na região de Irecê (BA) em 1984...

Imagem de satélite

 

...e em 2020

 

O pesquisador Humberto Barbosa explica que, muitas vezes, os bois são criados em áreas relativamente pequenas, compactando o solo ao pisoteá-lo repetidas vezes.

Com o tempo, nem mesmo o capim cresce mais ali, e a terra fica totalmente exposta à radiação do sol. A degradação se completa quando a chuva atinge a terra nua, levando embora os últimos nutrientes do solo.

Embora a destruição venha ocorrendo há séculos, mais de um quarto do desmatamento da Caatinga ocorreu após 1985, segundo o MapBiomas.

E neste ano, os índices de desmatamento deram um salto preocupante. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), até 1° de agosto, houve na Caatinga 2.130 focos de queimadas— o maior número em nove anos e uma alta de 164% em relação ao mesmo período de 2020.

Os focos se concentram no oeste do bioma, onde a Caatinga se encontra com o Cerrado na região de fronteira agrícola conhecida como Matopiba (nome formado pelas iniciais dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Como em outros biomas, o fogo é geralmente usado na Caatinga para "limpar" uma área antes do plantio. Mas as chamas acabam degradando o solo e limitam sua vida útil para a agricultura, estimulando a busca por novas áreas quando ele se esgota.

 

Falta de políticas públicas

Humberto Barbosa diz que, apesar da gravidade da situação enfrentada pelo Semiárido e da perspectiva de piora, não há qualquer plano governamental para mapear a desertificação e combatê-la.

A última iniciativa do governo federal nesse campo, afirma, foi o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN), lançado em 2006, mas descontinuado.

Tampouco há um sistema nacional para monitorar o desmatamento na Caatinga e orientar ações de fiscalização e controle — diferentemente do que ocorre na Amazônia, que conta com os sistemas Prodes e o Deter, baseados em imagens de satélite.

 

E o futuro?

Segundo o relatório do IPCC, sem ações contundentes para conter a mudança do clima, a Caatinga e outras regiões semiáridas do mundo "vão muito provavelmente enfrentar um aquecimento em todos os cenários futuros e vão provavelmente enfrentar um aumento na duração, magnitude e frequência das ondas de calor".

"De forma geral, as secas se ampliaram em muitas regiões áridas e semiáridas nas últimas décadas e devem se intensificar no futuro", diz o texto.

Os maiores prejudicados pelas mudanças serão as populações locais: segundo o IPCC, elas tendem a enfrentar oscilações na quantidade e regularidade de água, o que impactará gravemente sua "segurança alimentar e prosperidade econômica".

 

01
Ago21

Coisas do semiárido

Talis Andrade

 

O Patrono dos Projetos de Irrigação de Pernambuco está vivíssimo. As sementes do sonho exportarão 1 bilhão de dólares de frutas, em 2021

 

por Gustavo Krause

- - -

Este ano a fruticultura irrigada do semiárido nordestino exportará 1 bilhão de dólares. Podia ser mais. Falta dinheiro para infraestrutura. Mentira! Tem 6 bilhões para “irrigar” votos.

No dia 27/10/2015, visitei o ex-Deputado Oswaldo Coelho. Saúde abalada sem afetar a disposição de viver e acreditar no futuro. Obediente às prescrições médicas e aos padrões da conveniência, programei uma permanência em torno de 15 a 20 minutos.

Um largo sorriso de boas-vindas desfazia sintomas de fraqueza, reafirmava o vigor sertanejo e a crença visionária na viabilidade do semiárido tropical. Quando fiz menção de sair, escutei a voz suave da hospitalidade: “Não vai, agora, não. Menina, traz café, suco e um pedaço do bolo de rolo”. Marcas da família Coelho, mesa farta, coração generoso.

Osvaldo foi um inovador na administração pública pernambucana (Secretário da Fazenda, 1967-1971). Abriu as portas meritocráticas do concurso público, oportunidade que não desperdicei, e fincou os alicerces do aperfeiçoamento contínuo do capital humano. A conversa era a de um jovem idealista e saudável. Olho no futuro e nas causas que moveram sua vida pública: Educação, do fundamental, profissionalizante, à Universidade do Vale do São Francisco e o progresso que democratiza oportunidades, respeita a caatinga e as águas do São Francisco que dão mais do que recebem.

No dia 30/10/15, um presente: mangas, uvas, queijo de cabra e um cartão: “coisas do semiárido”. No dia 01/11/15, a dolorosa notícia: Doutor Osvaldo faleceu!

O Patrono dos Projetos de Irrigação de Pernambuco, por força da Lei 17.086/20, está vivíssimo. As sementes do sonho exportarão 1 bilhão de dólares de frutas, em 2021.

Os números revelam exemplos. O primeiro é a transformação de Petrolina, “uma povoação de passagem de Juazeiro”, no jardim das oportunidades: vitória do Político com causa.

O segundo desmente que a escassez dos recursos financeiros limitam os governos e consagra o princípio de que decisões estratégicas geram os recursos necessários.

No caso brasileiro, a política se transformou, com raras exceções, em instrumento de benefícios pessoais. É mentira que faltam recursos. Tem dinheiro para Fundo Eleitoral/imoral que reflete a política da miséria.

Os dados são uma chance histórica para que a ABRAFRUTAS, sob a lúcida presidência da Guilherme Coelho, mostre ao Brasil que no primeiro semestre o crescimento da exportações foi 30%, o faturamento 40% e 70% das exportações saem do Nordeste.

Competitivas, as frutas recebem certificação social, manipulação e sustentabilidade. No agronegócio, a fruticultura é o setor que mais emprega, inclusive, a mão-de-obra feminina, o que fortalece a renda familiar.

Orçamento é peça fundamental da democracia representativa. É hora de debater coisas sérias como “coisas do semiárido”.

 

01
Nov20

Ou havia lobista ou havia mentiroso no governo. O lobby é falso. Então...

Talis Andrade

rogerio-marinho-e-paulo-guedes.jpg

Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, e Paulo Guedes, da Economia. No embate de agora, não há nem mesmo empate. Guedes contou uma lorotaImagem: Isac Nóbrega/PR; "Hugo Harada/Gazeta do Povo

por Reinaldo Azevedo

- - -

Como o ministro da Economia, Paulo Guedes, não sabe o que fazer ou que rumo tomar, então ele ataca. Ao participar de audiência pública no Congresso, chamou a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) de "casa de lobby" e disse que ela financia um ministro gastador. Referia-se a Rogério Marinho, titular do Desenvolvimento Regional. Nas suas palavras:

"A Febraban é uma casa de lobby, muito honrada, muito justo o lobby, mas tem que estar escrito na testa 'lobby bancário', que é para todo mundo entender do que se trata. Inclusive, financiando estudos que não têm nada a ver com a atividade de defesa das transações bancárias. Financiando ministro gastador para ver se fura o teto, para ver se derruba o outro lado".

Alguém percebeu algo de ruim no que leu até agora? Acho que não. E vai ficar melhor. Leiam mais:

"O acordo de cooperação técnica firmado entre o MDR e o Pnud prevê que o estudo não será custeado com recursos públicos. Com isso, a Febraban e entidades do Sistema S bancarão as despesas, estimadas em R$ 20 milhões."

Em nenhum momento se fala em furar o teto de gastos. O objetivo é precisamente outro: mobilizar investimentos da iniciativa privada. Afirma o documento:

"Devem ser desenhadas ações de curto, médio e longo prazos, com indicação de novos modelos de negócios que abram espaço para investimentos públicos e privados com foco na redução das desigualdades regionais. A estratégia também permitirá o financiamento privado apoiado por mudanças legais e infralegais que tragam segurança legal e institucional, com o objetivo de atendimento à política liberal adotada pelo governo federal."

Por que Guedes está tão zangado com Marinho nesse caso? Só a sua inação, a sua incapacidade de coordenar uma equipe tão grande e a sua frustração explicam o chilique. Então vamos pela ordem:

- o acordo é firmado com um órgão da ONU;

- o Ministério do Desenvolvimento Regional fez esse acordo de cooperação técnica apenas;

- o que se quer é estimular o capital privado nesses projetos;

- uma das propostas está ligada a obras no semiárido nordestino a partir da concessão de áreas para irrigação.

Goste-se ou não de Marinho, é evidente que isso não faz do ministro uma marionete do lobby da Febraban, que, segundo Guedes, estaria atuando fora da sua área. Alguém aí enxerga algum de mal em que entes privados e suas respectivas entidades de classe banquem estudos que busquem novos modelos de financiamento de obras que não dependam de recursos públicos — aqueles que já não existem hoje? 

Com a devida vênia, Guedes está irritado é com a própria paralisia e com a ineficácia de seu jeito destrambelhado de fazer as coisas. Então resolveu disparar contra o desafeto. Afirmei no programa O É da Coisa, na BandNews FM, que o ministro da Economia havia deixado o governo numa situação muito ruim: ou este abriga um lobista ou abriga um mentiroso — eventualmente as duas coisas.

Como se nota, a história de que a Febraban faz lobby para financiar um ministro gastador, fura-teto, é lorota. Isso é conversa de quem não faz, mas também não deixa que façam.

O ministro da Economia estava furioso porque o tal decreto que colocava as Unidades Básicas de Saúde no escopo das parcerias público-privadas teve de ser retirado por Bolsonaro. Houve uma grita generalizada contra o texto, e, como ficou evidente, o próprio ministro não conseguiu explicar o que queria.

A verdade é que o tempo de Guedes no governo vai se esgotando. Seu repertório, como já afirmei aqui tantas vezes, é velho. Estúpido foi fazer um decreto envolvendo a rede primária de entendimento à Saúde sem falar com ninguém e sem dar explicações. Essa inciativa de Marinho, que ele atacou com ferocidade, deveria ser aplaudida.

Mas a sua arrogância incompetente não deixa. 

 

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