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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

26
Jun22

ʽVida na Amazônia está por um fioʼ, diz bispo

Talis Andrade

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“Estamos vivendo numa terra sem lei. O que vale hoje é a lei do mais forte”

 
 
 
Na segunda-feira, o Papa Francisco vestiu um cocar e pediu aos bispos da Amazônia que ouçam os povos indígenas. “Vocês estão na fronteira, com os mais pobres. Estão onde eu gostaria de estar”, afirmou. O pontífice recebeu um relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) que narra o aumento dos conflitos sob o governo Jair Bolsonaro.
 

“O Papa está muito informado e muito preocupado com a Amazônia”, conta o presidente do Cimi, Dom Roque Paloschi. “Ele foi incisivo. Disse que não podemos ficar indiferentes diante da violência contra a floresta e os povos originários.”

Arcebispo de Porto Velho, Paloschi diz que a região vive um momento “dramático”. “A vida na Amazônia está por um fio. Estamos vivendo numa terra sem lei. O que vale hoje é a lei do mais forte”, desabafa. “Nunca vimos tantas agressões aos primeiros habitantes da Terra de Santa Cruz. As terras indígenas estão sendo invadidas numa velocidade sem precedentes. E os invasores se sentem apoiados pela postura do senhor presidente e do governo federal”.

O bispo diz que o Cimi foi crítico a todos os governos passados, mas nunca testemunhou tantos retrocessos. “Não podemos aplaudir a mentalidade armamentista, a tentativa de criminalizar os defensores dos direitos humanos”, afirma, citando os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips no Vale do Javari.

29
Nov21

1.514 tiros no Salgueiro, a morte em rajadas de balas

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

- - -

A simples contagem, feita por eles próprios, dos disparos feito pelos policiais militares – 1.514! – , apresentada ontem pelo Fantástico, mostra que não foi um mero confronto o que aconteceu na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.

Não foram tiros, foram rajadas.

Não foi reação, foi massacre, porque se tiverem sido disparados 10% desta quantidade de projéteis por criminosos entrincheirados no mangue, como se alega, é impossível que nenhum policial tenha sofrido sequer um tiro de raspão.

Nem se fale do festim que teria antecedido a incursão, uma macabra antecipação do que ocorreria a seguir.

E também não de “grupo de policiais”: a quantidades, os postos e a reação oficial da PM mostram que foi a instituição que, por meio de seus integrantes, quem produziu a chacina.

Aos mortos, couberam cota de cinco a nove tiros, muitos na nuca, muitos no braço, ferimento típico de vitimas que instintivamente tentam se proteger de um disparo de execução.

Delta Force, eles se denominam, transformados em cães de guerra de um combate que só alimenta o seu poder.

Se alguém puder apontar um ganho sequer na segurança pública derivado desta estratégia de fuzilaria, que o faça.

Se for para agir com esta “contabilidade”, melhor trocar a polícia por carros blindados com metralhadoras ou helicópteros artilhados, se é simplesmente um extermínio.

E assumamos que queremos ser um país selvagem, sem leis e onde decidir entre a vida e a morte de alguém seja tarefa de um cabo e um soldado, fuzilamento incluído.

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26
Ago21

Militares brasileiros: do abandono do monopólio do uso da força para manter a Democracia e a Constituição a biscates de um capitão malcriado e ignorante

Talis Andrade

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por Luís Costa Pinto /Plataforma Brasília

- - -

Houve um tempo em que três patetas, um general, um brigadeiro e um almirante, ocuparam por breve período o comando político do País. Vivíamos sob a ditadura e dava-se ali um golpe dentro do golpe – facções de milícias militares não confiavam nos milicos da outra facção.

Houve um tempo, também, em que o presidente da República, um sociólogo de trajetória acadêmica à esquerda, exerceu a Presidência com uma aliança do centro à direita e não titubeou em demitir o ministro da Aeronáutica, o brigadeiro Mauro Gandra, por suspeita de corrupção e favorecimento indevido a empresas privadas na implantação do SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia.

Reinando a normalidade depois da demissão do brigadeiro, meses adiante o Brasil evoluiu para a extinção dos ministérios militares, criou o Ministério da Defesa e o entregou a um senador civil.

A vida seguiu sem solavancos, bravatas ou arrepios da soldadesca até o golpe jurídico/parlamentar/classista de 2016. Tendo usurpado a cadeira presidencial e sem a legitimidade do voto popular, Michel Temer entregou a Defesa para um general da ativa, Silva e Luna, e nomeou outro ativo general, Sérgio Etchegoyen, para seu Gabinete de Segurança Institucional. Estava aberta a porta para a balbúrdia fardada.

Vestindo uniformes de gala ou de campanha, pijamas ou terninhos bem cortados cuidados pelos taifeiros que lhes servem como vassalos a senhores feudais, a milicada começou a ganhar ousadia. Passaram a se comportar como o idiota tão bem descrito por Umberto Eco depois do advento das redes sociais: sem pudor, vergonha ou limites, gostaram de ter opinião para tudo.

Sob Jair Bolsonaro, catapultado à presidência da República pelo voto dado em urnas eletrônicas, seguras e auditáveis, por 39% dos eleitores brasileiros aptos a votar em 2018 e que o fizeram com a baba elástica dos estúpidos com os olhos embaçados pela bile verde de se fígados estourados por recalques, vivemos agora o tempo em que generais, almirantes e brigadeiros se dão ao desfrute de serem biscate de um patético capitão.

Capturado por seus delírios e desvarios napoleônicos, típicos de homens frustrados pela descoberta da própria impotência sempre visível para aqueles mais críticos, Bolsonaro humilha, diminui, enxovalha, acadela e acoelha as Forças Armadas. O desfile de blindados velhos, ultrapassados e inúteis no Eixo Monumental de Brasília na manhã deste 10 de agosto envergonha e enfraquece uma instituição que deveria deter o monopólio do uso da força para a manutenção do Estado Democrático de Direito e se viu corrompida por um presidente embusteiro.

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27
Out20

Pasqualim do MST: execução anunciada por WhatsApp

Talis Andrade

 

Por Marcelo Auler, em seu Blog 

Foi execução. Anunciada pelo WhatsApp. Os pistoleiros atiraram tão logo Ênio Pasqualim, 48 anos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), chegou à frente de sua casa atraído pelos latidos dos cachorros que a presença de estranhos provocou. Foi por volta de 20H00 do sábado (24/10). Mesmo atingido no braço, ele voltou para o interior da casa e “chaveou a porta”. Uma tentativa de impedir a invasão. Não conseguiu. A porta foi derrubada.

Só não foi morto na frente dos familiares por ter implorado: “Gurizada, vamos parar com isso! Pra que fazer isso aqui? Piazada, não faça isso!” Provavelmente na certeza da impunidade, um dos três nem o rosto escondia. Dois vestiam tocas ninja. Ainda assim, teriam sido reconhecidos. Segundo quem conhece a história do assentamento Ireno Alves dos Santos, em Rio Bonito de Iguaçu, região central do Paraná, são invasores da área. Um deles, dizem, egresso de um presídio.

Os pistoleiros, que chegaram a pé, deixaram a casa com o líder do MST na camionete S10, cor grafite escuro, placa BBE 8493, de propriedade de Gilson de Oliveira, genro de Pasqualim. Levaram celulares e alguns pertences, mas não estavam ali para assaltar. Certamente quiseram cortar a comunicação dos familiares e, provavelmente, evitar deixar a prova das ameaças recebidas pela vítima, durante a semana, através do seu WhatsApp.

Ameaças que Pasqualim revelou a familiares ao alertá-los: “se acontecer alguma coisa comigo, a polícia sabe quem é”, como disse ao Blog fonte ligada ao MST. Mas as ameaças não foram reveladas aos companheiros do movimento. Nem a Hamilton Serighelli, ex-assessor especial para assuntos fundiários do Paraná, na gestão de Beto Richa. Aposentado, Serighelli milita no Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Foz do Iguaçu.

Na manhã do sábado em que Pasqualim foi levado de casa, eles conversaram por telefone. O líder do MST estava na comunidade de Guajuvira, onde um acampamento de ocupantes do MST se transforma em assentamento. Fazia campanha para Sezar Augusto Bovino (PDT), candidato à prefeitura da cidade. Não fez menção às ameaças que a sua esposa, depois do assassinato, admitiu a Serighelli que ele recebera nos últimos dias, por meio do WhatsApp.

Um assentamento histórico

Levado de casa no sábado à noite, Pasqualim foi encontrado na manhã de domingo, morto, caído às margens de uma estrada vicinal de Rio Bonito de Iguaçu, a 12 quilômetros de distância do assentamento Ireno Alves dos Santos, nome de um militante do MST que perdeu a vida em acidente de carro. A camionete S-10 foi achada depois, em Mangueirinha, município distante 120 quilômetros de onde ela foi roubada na noite anterior.

Pasqualim e seus familiares – uma das filhas ainda pequena -, estavam entre as 12 mil famílias que em 17 de abril de 1996 fizeram a primeira ocupação no então maior latifúndio do sul do país. Pertencia à Giacomet Marodin, atual madeireira Araupel. Foi no mesmo dia de outro marco histórico dos trabalhadores sem-terra: o assassinato, pela polícia militar do Pará, de 21 militantes do movimento. Passou à história como o “Massacre de Eldorado dos Carajás”. Os dois fatos – a ocupação vitoriosa no Paraná e a tragédia ocorrida no sul do Pará – transformaram o 17 de abril em Dia Nacional da Luta por Reforma Agrária.

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A ocupação no Paraná mereceu registro histórico do fotógrafo internacionalmente conhecido Sebastião Salgado. A partir daquele movimento, surgiu o Assentamento Ireno Alves dos Santos, legalizado por decreto de janeiro de 1997. Abriga 972 famílias em uma área de 16.852 hectares. Na mesma época houve a ocupação, em terreno contíguo, do hoje Assentamento Marcos Freire, formado por 578 famílias em área de 9.400 hectares. O decreto que o regularizou só foi assinado em agosto de 1998.

As terras desse enorme latifúndio se estendiam por cinco municípios: Quedas do Iguaçu (onde ficava a sede), Rio Bonito de Iguaçu, Espigão Alto do Iguaçu, Três Barras e Nova Laranjeiras. Eram resultantes de grilagem e, por isso, os títulos de propriedade, ao longo dos anos, foram anulados pela Justiça Federal em dupla jurisdição. Com isso, pouco a pouco surgiu na região o maior complexo da Reforma Agrária da América Latina. Ainda assim, há terreno da Araupel sendo disputado judicialmente por militantes acampados do MST.

Conflitos por conta da madeira

A ocupação no Paraná gerou inúmeros conflitos, inclusive com pistoleiros, que as lideranças do movimento acusam a madeireira de ter contratado. Em 16 de janeiro de 1997, por exemplo, ocorreu os assassinatos de Vanderlei das Neves (16 anos) e José Alves dos Santos (34 anos). Foram vítimas de uma emboscada na Fazenda Pinhal Ralo, na cidade de Rio Bonito do Iguaçu (PR). Ocorreu no mesmo dia em que o então presidente Fernando Henrique Cardoso assinou o decreto regularizando o assentamento Ireno Alves dos Santos.

Em dezembro de 2010, um Tribunal do Júri, em Laranjeiras do Sul, absolveu Antoninho Valdecir Somensi e Jorge Dobeski da Silva. Eram acusados pelos dois assassinatos em 1997. Os jurados populares aceitaram a tese da defesa de que o reconhecimento não seria possível dada a distância de 44 metros que as testemunhas se encontravam.

Em 07 de abril de 2016, também em emboscada, no Acampamento Dom Tomas Balduíno, em Quedas do Iguaçu, foram executados Vilmar Bordim e Leomar Orback. Foram disparados mais de 120 tiros por seguranças particulares e policiais militares, ferindo entre 20 e 30 pessoas. Um julgamento, com policiais militares entre os réus, acabou anulado em segunda instância.

Apesar de todas estas ocorrências ao longo de quase duas décadas e meia, nos últimos anos, graças a um entendimento entre a Araupel e os assentados, o clima está ameno. Há um acordo judicial que permite à madeireira retirar suas árvores do terreno no qual, aos poucos, os assentados plantam suas produções.

27
Jul20

ESCÂNDALO: Banco do Brasil é assaltado em operação com BTG Pactual

Talis Andrade

 

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Banco criado por Paulo Guedes comprou por R$ 370 milhões carteira de crédito do Banco do Brasil que vale R$ 3 bi...

O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, entregou seu pedido de renúncia ao cargo alegando cansaço  —  sabe lá de quê —  e disse a amigos que queria estar mais próximos dos netos. Antes da demissão, há duas semanas, Novaes aproveitou seu poder para “passar a boiada”, enquanto a imprensa se preocupava com a Covid-19.

 

Por Dacio Malta /Jornalistas Livres 

= = =

Ele vendeu, por míseros R$ 370 milhões, uma carteira de crédito do Banco do Brasil no valor de R$ 3 bilhões ao BTG Pactual  —  banco criado por Paulo Guedes.

Sabem qual foi a última vez que o Banco do Brasil fez operação parecida?

Nunca.

Tudo foi feito sem licitação, sem concorrência, sem absolutamente nada.

Por que só R$ 370 milhões também é um mistério.

Para João Fukunaga, diretor executivo do Sindicato dos Bancários de São Paulo e coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), “a venda da carteira de crédito para o BTG Pactual, dita de vanguarda, é bastante suspeita ao beneficiar, pela primeira vez, um banco fora do conglomerado e que justamente foi criado pelo ministro bolsonarista. Como saber se o BB não está sendo usado para interesses escusos do Paulo Guedes?”.

Como quem entende de economia é o Posto Ipiranga, ele faz o que bem entende, já que o capitão não entende nada de nada.

E, mais pra frente, quem sabe se torne também beneficiário dessa transação. Ou assalto, se preferirem.

Há quem acredite que a mamata acabou.

 

 

14
Jun20

Bolsonaro: A Constituição sou eu

Talis Andrade

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IV - Os militares voltaram dispostos a ficar

por Jeferson Miola

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O confronto permanente com o Congresso e com o STF; o caos, a violência contra opositores e a exasperação do clima político e social são ingredientes da receita estratégia dos militares e do governo Bolsonaro.

No ambiente de instabilidade e confusão, eles evocam as Forças Armadas para restaurar a ordem, como fica explícito na nota ameaçadora [12/6] assinada pelo Bolsonaro na companhia do vice Mourão e do ministro da Defesa no embate mais recente com o STF.

Julgando-se acima da Constituição civil e do poder civil, o capitão que em 19/4 disse que A Constituição sou eu! agora declara, em parceria com 2 dos seus generais hierarquicamente mais relevantes do poder formal no governo, que “As FFAA do Brasil não cumprem ordens absurdas, como p. ex. a tomada de Poder”.

A menção deles à “tomada de poder” como exemplo de “ordem absurda” que é descumprida pelas FFAA é um truque cretino. Com este truque diversionista, mandam mensagem cifrada para intimidar o STF com a ameaça de desobediência e, inclusive, com reação armada caso a chapa Bolsonaro/Mourão seja cassada pelo TSE [o que, aliás, deveria ter acontecido em 2018].

Os militares deixam isso claro ao afirmar que as FFAA “Também não aceitam tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis, ou por conta de julgamentos políticos”.

Eles empulham com a tese de que tanto a cassação da chapa pelo TSE, como o impeachmentdo Bolsonaro pelo Congresso ou a condenação dele pelo STF com fundamento nos incontáveis crimes comuns e de responsabilidade cometidos, fosse “julgamento político” para a “tomada de Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis …”.

Eles dizem, com todas as letras, que se consideram acima da Lei e da Constituição civil, e que não hesitarão em comandar ação das Forças Armadas para impor suas vontades mesmo à força. (Continua)

12
Abr19

Avó de Michelle Bolsonaro mora em favela nos arredores de Brasília

Talis Andrade

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A revista “Veja” desta semana traz uma bomba para a família Bolsonaro. A avó da primeira-dama Michelle Bolsonaro mora em uma favela nos arredores de Brasília e há seis anos não vê a neta que ajudou a criar.

 

Maria Aparecida Firmo Ferreira, 79 anos, é cardíaca, sofre de Parkinson, locomove-se com dificuldade e mora num casebre na favela Sol Nascente, dominada pelo tráfico de drogas.

Aposentada, a avó da primeira-dama divide seu tempo entre cuidar de um filho deficiente auditivo, ir ao posto de saúde buscar remédios e conversar com os vizinhos. Remédios, que o governo Bolsonaro ameaça cortar. 

De acordo com a Veja, ninguém, ou quase ninguém da vizinhança, sabe que ela é avó de Michelle Bolsonaro.

Aparecida, como é conhecida no bairro, diz que faz mais de seis anos que ela não vê a neta que ajudou a criar. A avó não foi convidada para a posse, nem ela nem sua filha, mãe de Michelle, Maria das Graças.

Um pastor da igreja que frequenta tentou intermediar um encontro com o presidente Bolsonaro, mas ela rejeitou. “Aprendi que só vamos a pessoas importantes quando somos convidados. É minha neta, cresceu lá em casa, mas agora ela é a primeira-dama.”

“Além disso, se eu chegar assim (diz apontando para as próprias roupas), posso ser destratada, e isso vai me magoar. Eu não tenho roupa, sapato, nada disso, para frequentar esses lugares”.

 

15
Nov18

"Algumas regiões do Brasil parecem terra de ninguém", diz relatora da CIDH

Talis Andrade

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A relatora da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) fala durante coletiva de imprensa no Rio de Janeiro, 12/11/2018CIDH / Twitter
 
 

Em relatório preliminar, divulgado na segunda-feira (12) no Rio de Janeiro, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) observou que o processo de fortalecimento institucional da área de direitos humanos no Brasil “sofreu uma espécie de congelamento”. Também alertou que problemas estruturais ainda persistem no país e precisam de solução. A RFI conversou com Antonia Urrejola, membro da CIDH e uma das autoras do relatório.

 

Qual é a maior preocupação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) na questão dos direitos humanos no Brasil?

Nossa maior preocupação está principalmente relacionada à violência que existe contra defensores dos direitos humanos e o nível de impunidade, como no caso da violência rural e os discursos de ódio que parecem estigmatizar algumas minorias. Nos parece que há uma situação muito grave, principalmente na violência contra defensores dos direitos humanos.

 

Vocês também destacaram no relatório a situação de violência sofrida pelos povos indígenas?

Durante nossa passagem pelo Brasil, fomos ao Amazonas, ao Mato Grosso do Sul, e presenciamos a violência rural. Há uma demora muito grande da justiça em anunciar decisões. Vimos que alguns processos estão tramitando há mais de 30 anos, sobretudo na questão da demarcação de territórios ancestrais. Há hoje milícias rurais e por isso recebemos muitas denúncias de violência, com indígenas feridos e assassinados, uma situação muito preocupante. Há também a falta de um Estado que garanta a devida proteção. Percebemos que as investigações não chegam aos culpados. Para ser bem franca, vimos que algumas regiões parecem terra de ninguém.

 
 

Vocês também dizem que irão continuar monitorando o que acontece no Brasil, agora com um novo governo. Durante a presença da comissão no país, não houve aliás nenhum contato entre a CIDH e o governo eleito?

 A ida da CIDH foi programada no fim de 2017 e anunciada em janeiro deste ano. É importante destacar que não fomos para o país devido ao resultado das eleições e sim porque foi um acordo com o governo brasileiro. A CIDH se relaciona com o Estado através dos representantes do poder executivo que nos permitiu o acesso às atuais autoridades. O governo eleito ainda não está no poder e por isso não estava em nossa agenda encontros com representantes da futura gestão. Nossa relação foi feita com as pessoas que estão atualmente ocupando cargos no governo. Se houvesse algum interesse de nossa parte, teríamos entrado em contato. Mas nossa abordagem é conversar com as pessoas que estão atuando no momento em que passamos pelos países.

 

Alguns apoiadores de Bolsonaro tiveram palavras duras com relação à CIDH. O advogado Gustavo Bebianno chamou a comissão de “esquerdista” com “credibilidade zero”.

Vou ser muito franca. A CIDH tem um papel de denunciar as infrações que vão contra os direitos humanos. Dependendo da posição política de quem nós incomodamos, nos acusam de fascistas e golpistas, instrumento do imperialismo gringo ou de comunistas e esquerdistas. Lamentamos muito esse tipo de coisa porque não ajuda a melhorar as situações que estamos monitorando. Para nós, a relação com as autoridades, tanto com os poderes legislativos, executivos ou judiciários, são muito importantes para poder estabelecer espaços colaborativos. A CIDH não tem só o papel de denunciar. Nós somos um organismo que pode colaborar com os Estados na busca por práticas que levem a melhora institucional, novas leis, etc. O que disse esse advogado, para nós não é nenhuma novidade. Insisto, na Nicarágua fomos chamados de fascistas, e o que é lamentável é que geralmente são palavras sem fundamento algum.

 

Vocês estão preocupados que Bolsonaro tenha nomeado um general para o cargo de ministro da Defesa?

A CIDH fez questão de se mostrar preocupada com os discursos de ódio que foram pronunciados durante a campanha de Jair Bolsonaro. Para nós é importante fazer com que autoridades eleitas e funcionários públicos em exercício deixem de lado esse tipo de discurso pois ele é gerador de ações violentas na prática. Essa é a nossa maior preocupação. Mas sobre as novas autoridades e o presidente eleito, prefiro não me pronunciar. Aguardamos para que estejam em exercício. Por enquanto estaremos atentos. Mais do que saber se há ou não militares no governo, é saber que ações tomarão e se respeitarão as instituições. Brasil soube valorizar suas instituições nos últimos anos e esperamos que isso continue no futuro. Vamos ver o que acontecerá.

 

Entrevista concedida a Carlos Pizarro da RFI.

 
 
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09
Out18

AS EMPRESAS E OS PROCESSOS QUE O MAJOR OLÍMPIO, COORDENADOR DA CAMPANHA DO BOLSONARO, QUER ESCONDER

Talis Andrade

 

O DEPUTADO FEDERAL Sérgio Olimpio Gomes, mais conhecido como Major Olimpio, é um dos homens de confiança de Jair Bolsonaro. Candidato ao Senado por São Paulo, Olimpio é presidente do PSL paulista e também coordenador da campanha à Presidência de Bolsonaro. Assim como o ex-capitão do Exército que concorre ao Palácio do Planalto, o ex-PM é daqueles que estufam o peito para gritar que bandido bom é bandido morto. Mas talvez sua opinião não seja tão contundente sobre certos tipos de transgressões, especialmente as cometidas por homens engravatados ou de farda.

 

Além de ex-policial e político (ele se aposentou em 2006, mesmo ano em que se tornou deputado estadual), Major Olimpio também é escritor e empresário. Como policial aposentado e deputado federal, seu salário chega a R$ 47 mil por mês. Ao seu redor também funciona um ecossistema de empresas de segurança, emaranhadas por diferentes CNPJs, endereços e sócios. O deputado não está entre eles – as sociedades são sempre formadas por alguém de sua família, como sua mulher, fonoaudióloga, e seu filho, um publicitário que não fala sobre o próprio negócio nem no LinkedIn.

 

Deve ser porque a maioria delas foi aberta quando o major ainda estava na ativa – e, portanto, impedido pela Lei Orgânica da Polícia. Como ter empresas no próprio nome é uma transgressão disciplinar, é comum que policiais coloquem os negócios no nome de parentes.

 

Os negócios da família do Major, no entanto, acumulam problemas. Somando o não pagamento de impostos e questões trabalhistas, as empresas de segurança ligadas à família do candidato têm mais de R$ 45 milhões em dívidas e processos trabalhistas, inclusive um que pode custar a casa de veraneio da família em Mairiporã, cidade turística da região metropolitana de São Paulo.

 

Tudo começou com um livro

 

Major Olimpio defende que o “cidadão de bem” ande armado. Essa ideia não vem de hoje. Em 1997, quando ainda era capitão da Polícia Militar de São Paulo, ele lançou o livro Reaja! Prepare-se para o Confronto – Técnica Israelense de Combate. O manual, escrito com outros quatro policiais, recomenda que a população use armas de fogo e reaja a assaltos. Além disso, propaga que o bandido é uma “pessoa menos humana” e deve ser posto “fora de combate”.

 

Na época do lançamento, o livro causou um racha na polícia. O então comandante-geral da PM, Carlos Alberto de Camargo, disse que discordava das ideias do livro e afastou dos cargos quatro dos cinco policiais que escreveram a obra. O capitão Olimpio foi poupado e mantido na escolta do ex-governador paulista Luiz Antonio Fleury Filho. Os coautores eram os também capitães Márcio Tadeu Anhaia de Lemos, Rogério da Rocha Bortoletto, Afonso César Evaristo dos Santos e Ricardo Fernandes de Barros.

 

Apesar das consequências para os envolvidos, a parceria selada com o livro foi duradoura para os cinco PMs: Olimpio e os outros capitães se tornaram sócios. Abriram, em 1998, a Reaja Editora e Gráfica LTDA. O único policial que não é sócio formal da empresa é Bortoletto – em seu lugar estava sua mulher, Mirian Barbosa Soares Bortoletto, que administrava a empresa.

 

Lei Orgânica da Polícia de São Paulo proíbe que policiais militares e civis sejam administradores ou donos de empresas, exceto como acionistas. A mesma legislação também veda que os policiais exerçam outro emprego ou função, além de dar aula e participar de atividades de difusão cultural. Olimpio diz que a sociedade na gráfica se enquadrava nesta última, assim como outra atividade que ele desempenhou com os cinco PMs: eles eram instrutores em uma empresa de segurança privada.

 

Uma das donas dessa empresa – pelo menos no papel – era Cláudia de Abreu Bezerra Olimpio Gomes. Sua esposa.

 

No nome de todos, menos no dele

 

A fonoaudióloga Cláudia de Abreu Bezerra Olimpio Gomes foi dona de pelo menos três empresas de segurança: Iron Serviços de Segurança LTDA, fundada em 1992, Iron Administração, Participações e Representações LTDA, de 1989 – que mudou de nome e passou a se chamar No Problem Assessoria em Segurança LTDA em 2002 – e Thor Segurança SC LTDA. Todas elas foram fundadas enquanto Major Olimpio ainda estava na ativa.

 

Na Thor Segurança, o sócio de Cláudia era o policial militar Ubiratan Guimarães, a quem seu marido era subordinado na PM. O Coronel Ubiratan foi o comandante da operação da PM que resultou na morte de 111 presos, em 1992, no Massacre do Carandiru. Olimpio era primeiro-tenente na época. Ele disse que só não participou do banho de sangue porque não estava na escala.

 

Outros familiares do Major Olimpio também atuam no ramo da segurança privada – mesmo os que não têm nenhuma relação com a área. São pelo menos três empresas no setor, quase todas abertas no período em que Olimpio ainda era policial.

 

O sogro dele, o coronel aposentado da PM e ex-comandante da Rota Niomar Cyrne Bezerra, é sócio da Tresces LTDA, aberta em 2001. Outra empresa, com um nome bem parecido – Tresces Consultoria em Segurança LTDA, aberta também em 2001 – é de Deraldo Olympio Gomes e Myriam Cecília de Abreu Bezerra. Respectivamente, pai e sogra do presidente do PSL paulista. Mais tarde, a empresa mudou de nome (virou Tresces Monitoramento de Alarmes LTDA.), e o pai e a sogra deram lugar na sociedade para Mariana e Fernando Bezerra Olimpio Gomes, filhos do major.

 

‘Há um conflito ético. Como posso garantir que onde funciona uma empresa de segurança não vai ter um policiamento mais reforçado?’

Detalhe: no mesmo ano em que Fernando Olimpio se tornou dono do negócio, 2013, ele era estagiário em uma empresa de análise de crédito, segundo seu LinkedIn. No currículo, Fernando não fala sobre sua sociedade na Tresces. Informa apenas que foi auxiliar administrativo do empreendimento entre 2009 e 2011.

 

Os negócios, no entanto, sempre estiveram muito próximos do Major Olimpio. O e-mail do cadastro da Tresces na Receita Federal está no nome de Cláudia, sua esposa. Já o telefone da empresa é o mesmo do escritório do deputado em São Paulo. A base política dele na capital paulista fica na Rua Vaz Muniz, 589, na zona norte. A dois quilômetros dali fica a Tresces, localizada em um prédio residencial na rua João Castelhanos, 64, 241 do bloco B, segundo o cadastro da Receita Federal.

 

É comum que profissionais da área tenham esse tipo de negócio: afinal, quanto pior a segurança pública, melhor para os negócios da família, como o Intercept mostrou em julho. “É claro que há um conflito ético. De um lado, você tem um policial de relevo, de importância. Do outro lado, a família toca negócios na área de segurança”, diz o professor Gustavo Fernandes, do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas. “Como é que posso ter garantido, por exemplo, que onde funciona uma empresa de segurança não vai ter um policiamento mais reforçado?”

 

Dívidas e processos trabalhistas

 

O deputado Major Olimpio, a esposa e o sogro estão no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas. Juntos, eles são réus em pelo menos 28 processos na Justiça do Trabalho. A Tresces, do sogro do Major Olímpio, deve R$ 317 mil reais em impostos. Mas isso não é nada perto do total da dívida de FGTS e outros tributos somados pela ThorIron e No Problem: R$ 45 milhões.

 

As três empresas das quais a esposa do Major Olimpio foi sócia também estão na Lista de Devedores da Dívida Ativa da União e no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas. A No Problem tem sete processos; a Iron, 52; e a Thor, 128. Olimpio disse ao Interceptque desconhece as dívidas ligadas às empresas de seus parentes. A única ação de que ele se recorda é uma movida contra a Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo, da qual foi diretor.

 

Pedro Ribeiro dos Santos é um dos ex-funcionários da empresa Thor. Ele trabalhou nela como vigilante de 1994 a 1997, e conseguiu na Justiça a condenação da empresa. O advogado dele explica que o cliente tem a receber cerca de R$ 30 mil (valores atualizados em janeiro de 2016) por dívidas trabalhistas relacionadas a aviso prévio, férias vencidas, 13° salário, horas extras e FGTS. A esposa e o sogro do Major Olimpio são réus no processo. “A sentença saiu em 25 de março de 1999. Desde então, nós estamos atrás de alguém da empresa para receber nesse processo”, me disse o advogado Wagner Martins.

 

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Olimpio disse que a casa de Mairiporã, cidade turística perto de São Paulo, é a única da família. Mas a Justiça não encontrou ninguém lá. Foto Eduardo Goulart /The Intercept Brasil

 

A esperança do defensor do ex-empregado da Thor era um apartamento do sogro do Major Olimpio que foi penhorado pela Justiça. O imóvel seria vendido para pagar essa e outras dívidas de ações trabalhistas. No entanto, há alguns dias, o Tribunal de Justiça de São Paulo o considerou um bem de família – ou seja, é o único imóvel do sogro do Major Olímpio e é utilizado como domicílio.

 

Já o casal Major Olimpio e Cláudia tem uma casa em Mairiporã que também foi penhorada para pagar dívidas trabalhistas da empresa No Problem. O deputado alegou que era o único imóvel da família e que eles residiam no local, mas teve o pedido negado. O oficial de Justiça Julio Cesar Bandeira Sales, responsável por avaliar o bem e notificar a penhora, informou no processo que foi várias vezes ao local e nunca encontrou ninguém. Concluiu que se tratava de uma casa de veraneio. Do lado de fora, ele viu que o imóvel de “alto padrão” estava bem cuidado. Foi avaliado em R$ 1,2 milhão.

 

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