O ministro André Mendonça interrompeu na madrugada desta terça (7) o julgamento do caso de Fernando Francischini (União). O Supremo Tribunal Federal vai decidir se Francischini deve ou não ter sua cassação mantida. O pedido de vista de Mendonça veio após o único voto já dado: Cármen Lúcia votou pela perda do mandato.
Francischini, eleito deputado estadual pelo Paraná em 2018, foi o primeiro político no Brasil a ter seu mandato cassado pelo TSE por divulgação de fake news. O deputado, bolsonarista, disse no dia das eleições, em um vídeo que viralizou, que as urnas eletrônicas estavam prejudicando o atual presidente.
No TSE, Francischini teve o mandato cassado por 6 a 1. No entanto, o ministro Nunes Marques, indicado para o STF por Bolsonaro, deu uma liminar que devolveu o mandato a Francischini. Agora, o caso está sendo julgado pelo Supremo, e a tendência é que a cassação seja mantida com facilidade.
Mendonça, primeiro ministro indicado para o STF por Bolsonaro, tem sido menos fiel à pauta bolsonarista do que Nunes Marques. No entanto, dessa vez, optou por uma suspensão do julgamento que beneficia o presidente. Jair Bolsonaro tem dito repetidas vezes que a cassação do deputado por fake news é um absurdo. [ Nunes Marques foi nomeado por um mitomaníaco. É um inimigo da claridade. Aprova a escuridão do sigilo dos cem anos. E jamais desaprovou as costumeiras mentiras de Bolsonaro. E dá aprovação à falsa informação de que as urnas eletrônicas prejudicam Bolsonaro, que deseja a volta do voto impresso, do voto de cabresto. E que ameaça um golpe, que ameaça à democracia, ao estado democrático de direito]
Naquela que pode ter sido sua última sessão ordinária na Câmara, o vereador Renato Freitas (PT) adotou o mesmo tom de embate que marcou seu mandato até aqui. A pouco mais de 24 horas da votação que decidirá sua cassação, foi à tribuna dizer que a maioria da Câmara está corrompida e que vota com o prefeito em troca de cargos e obras.
“Dizem que eu sou louco por falar aquilo que todo mundo comenta nos bastidores”, afirmou Renato. Além de denunciar aquilo que considerou como corrupção dos colegas em abstrato, decidiu dar um exemplo prático. Afirmou que o vereador Márcio Barros teria o genro em um cargo comissionado na Rua da Fazendinha. Mais do que isso, disse que foi ao local várias vezes mas não encontrou o funcionário.
Nesta quinta (19), a CCJ se reúne para julgar o recurso de Renato Freitas contra a decisão do Conselho de Ética, que foi de 5 votos a 2 por sua cassação. No mesmo dia, às 13h, o plenário tem uma sessão extraordinária para votar a cassação. A tendência é que a maioria vote pela perda de mandato.
Renato Freitas é julgado por fazer uma manifestação antirracista dentro da Igreja do Rosário em 5 de fevereiro. Caso seja cassado, assume a primeira suplente do PT, Ana Júlia.
A Câmara de Curitiba marcou para quinta-feira (19) uma sessão extraordinária em que será votado o pedido de cassação do vereador Renato Freitas (PT). A sessão será realizada às 13h, poucas horas depois da reunião da comissão que julga o último recurso do petista contra o processo, a CCJ. Nos bastidores, a aposta é de que o vereador será cassado por larga margem de votos.
Para a cassação, serão necessários 20 dos 38 votos. No Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o relatório pela cassação foi aprovado por 5 votos a 2. A defesa do vereador já anunciou que caso ele de fato perca o mandato, vai recorrer ao Judiciário, por enxergar diversos erros na condução do processo contra ele.
Renato Freitas é acusado de quebra de decoro por ter participado de um protesto dentro da Igreja do Rosário em 5 de fevereiro deste ano. A manifestação, que teve caráter nacional, pedia que não passassem em branco dois assassinatos de homens negros que haviam ocorrido nos dias anteriores no Rio de Janeiro.
A manifestação em Curitiba foi marcada para o Largo da Ordem, em frente à Igreja do Rosário, construída originalmente por escravos. O padre se mostrou incomodado com o barulho. Depois da missa, parte dos manifestantes entrou no templo. Embora não tenha sido um dos primeiros a entrar, Renato Freitas foi ao púlpito e fez um discurso.
De início, a Igreja teve uma postura mais dura contra o vereador, e chegou a fazer um boletim de ocorrência. Mais tarde, a Cúria emitiria uma carta dizendo que a cassação era uma punição excessiva – a Igreja também pediu que a polícia não investigasse mais o caso.
No entanto, era tarde. Foram apresentadas cinco representações contra o petista na Câmara. Para a bancada religiosa, era a chance de se vingar do vereador, que no ano passado disse haver pastores “trambiqueiros” na cidade.
O relatório de Sidnei Toaldo (Patriota) pedindo a cassação, apresentado no Conselho de Ética, contém inúmeras falhas. Mesmo assim, foi apoiado por quatro outros vereadores: Indiara Barbosa (Novo), Denian Couto (Podemos), Noêmia Rocha (MDB) e Toninho da Farmácia (DEM).
Apenas os vereadores Dalton Borba (PDT) e Maria Letícia (PV) apontaram o exagero da cassação. O voto de Maria Letícia inclusive detalhou todos os equívocos factuais que pontuam o relatório de Sidnei Toaldo.
Caso Renato Freitas seja cassado, além de perder o atual mandato, ele ficará inelegível até 2032. Em seu lugar, assumiria a primeira suplente do partido, Ana Júlia.
3 comentários sobre “Às pressas, Câmara marca votação da cassação de Renato Freitas para quinta”
Se a câmara fosse mais séria, esse pedido de cassação seria arquivado. Mas com apoio do prefeito racista e que não suporta pobre e seus vereadores comparsas infelizmente ele irá perder o mandato.
O processo está repleto de falhas comprovaras pelo relatório da vereadora Maria Letícia, que o desmontou por completo. Primeiro que a Igreja não foi invadida, as portas estavam abertas e os fiéis já tinham saído com o término da missa. No depoimento à polícia o padre da Igreja do Rosário confirmou que a missa tinha terminado. Esse processo armado revela pura vinganca de vereadores, alguns pastores, racistas e fascista que até pouco tempo chutaram e quebraram a imagem de Nossa Senhora nos estúdios descias TVs e agora farisaicamente se dizem defensores da Igreja católica.
Curitiba a terra do prefeito que tem nojo de pobre, da supremacia branca, do deputado coronel que mandou camponeses "para o inferno", e considera política de alto calibre ameaçar Lula de morte, exibindo arma benta por pastor luterofascista
REDAÇÃO ND, JOINVILLE
Delegado de Curitiba levou armas, como revólveres e até fuzil, para receber a bênção do pastor; imagens viralizaram.
Um vídeo, no mínimo, polêmico, viralizou nas redes sociais nesta terça-feira, dia 15. Isto porque um pastor evangélico benzeu armas, entre elas revólveres, pistolas, espingarda e um fuzil na igreja Agnus, de Curitiba, no Paraná.
O delegado Tito Barichello levou as armas até o pastor, que fez uma reza para benzer o armamento dentro da igreja.
Durante a reza, o pastor Renê Arian fez a unção de l com intuito de “proteger a população”.
“Senhor Deus, em nome de Jesus, nós ungimos essas armas para a segurança da nossa população de nossa cidade, Senhor. Nós pedimos que o Senhor venha nos guardar, venha nos proteger, através dessas armas”…e continua
“A Tua palavra diz: tudo o que ligares aqui na Terra terá sido ligado nos céus. E nós ligamos, em nome de Jesus, através da unção com óleo, essas armas que serão para a nossa proteção, para guardar a população, em nome Jesus, contra os homens maus. Para a glória, Deus e louvor, de seu nome, nós pedimos que o Senhor nos guarde, nos livre e nos proteja, em nome de Jesus. Amém e amém”, emenda o pastor.
A cerimônia contou com a presença de dois delegados e um investigador da Polícia Civil, além de outra pastora.
As imagens foram gravadas e publicadas pelo delegado Tito Barrichello, da 2ª Delegacia de Homicídios da capital paranaense. Ele classificou a bênção como “muito especial”.
“Neste sábado à noite, 12 de março, em Curitiba, estivemos na Igreja Agnus no bairro Boa Vista. Após o culto, o Pastor Rene e a pastora Erlane realizaram a unção de nossas armas particulares. Essa benção foi muito especial. 🙏🙏🙏 @igrejaagnuscuritiba”, escreveu o delegado em sua rede social.
Foi comentado que também foram benzidas as armas do violento coronel deputado Washington Lee Abe, assassino de camponeses.
A figura do vídeo a seguir é um político chamado Washington Lee Abe, oficial aposentado da Polícia Militar do Paraná que, em 2018, se elegeu deputado estadual pelo PSL usando o nome de urna de Coronel Lee.
Do púlpito do plenário da Assembleia Legislativa do Paraná, Lee – hoje filiado ao Democracia Cristã (risos) e que se apresenta como “o inimigo número um do MST” – ameaçou “mandar Lula para o inferno” após o ex-presidente convocar manifestações em frente às casas de deputados para “conversar com eles, suas esposas, seus filhos” antes de votações importantes, caso seja eleito. A fala soa como uma ameaça de morte escancarada.
Sem terra, retirante da fome, no Paraná vai "parar no inferno"
De quebra, Lee também sugeriu, de viva voz, ter participado do assassinato de integrantes do movimento dos sem-terra. “A última vez que esse bando do MST e da esquerda vieram nos visitar – queriam conversar com a gente no meio do mato –, foram parar no inferno. Então, Lula, mande a sua turma toda falar com a gente, de novo. E vocês vão visitar os seus amigos que estão lá [no inferno]. É esse o nosso recado”.
Quando na PM, Lee se orgulhava de comandar seu batalhão mais letal. “Este estudo, feito por um suposto especialista, diz que a polícia mais letal do mundo é a Polícia Militar do Brasil. No Brasil, a mais letal é a do Paraná e, no estado, o Comando Regional que está na primeira colocação é o 5º”, disse o político, que comandou o 5º Comando da PM paranaense, na região de Cascavel, segundoregistro do jornalista Rogerio Galindo.
Em 2016, após o batalhão dele assassinar dois sem-terra em Quedas do Iguaçu – numa ação que o MST sempre qualificou como emboscada –, Lee afirmou quea corporação não iria “se curvar” ao movimentoe não rejeitou o tratamento de herói que passou a lhe ser dado por moradores que se alegraram com os assassinatos.
Na biografia publicada por ele mesmo nositeda Assembleia Legislativa, Lee afirma que “entre suas ações mais marcantes dentro da PM estão as reintegrações de posse de terra, sobretudo nas cidades de Quedas do Iguaçu, Santa Terezinha do Itaipu, Mangueirinha, Tijucas do Sul, Piraquara, Francisco Beltrão, entre várias outras”.
No plenário, Lee também fez referência ao deputado estadual paulista Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, o Coronel Telhada, ex-comandante da Rota, hoje deputado em São Paulo: “aqui é o coronel Lee, ex-comandante do Bope no Paraná. O nosso modus operandi, coronel Telhada, é o mesmo”. Após a fala de Lula, Telhada, filiado ao PP de Arthur Lira, Ciro Nogueira e Ricardo Barros, também publicou um vídeo – gravado no estacionamento da Assembleia Legislativa em São Paulo – em que acaricia uma pistola que carrega na cintura e desafia Lula: “Pode vir quente, que a gente está fervendo”.
A afirmação de Lula também rendeu vídeos de outros políticos bolsonaristas, como os deputados federaisJunio Amaral, do PL de Minas Gerais, e Carla Zambeli, do PL de São Paulo. Mas nenhum deles fez ameaças tão diretas quanto as de Lee. Tampouco as proferiu no plenário de um parlamento, espaço democrático por essência.
Fosse séria, a Assembleia paranaense levaria Lee ao Conselho de Ética. Mas, como se percebe na expressão do presidente,Ademar Traiano, do PSD, ao final do vídeo e logo após a fala inacreditável do ex-PM, a chance de isso acontecer é nenhuma.
A polícia do Paraná ésuspeita de ter vazado, há poucos dias, detalhes do roteiro de Lula a grupos bolsonaristas.
Um vídeo que viralizou nas redes sociais nesta terça-feira mostra um pastor benzendo um arsenal de armas em uma igreja evangélica da capital paranaense Curitiba.
No ritual, o líder da Igreja Agnus, Renê Arian, realiza a unção de revólveres, pistolas, uma espingarda e um fuzil com intuito de "proteger a população".
A cerimônia, ocorrida no último sábado, contou com a presença de dois delegados e um investigador, além de outra pastora.
O vídeo foi gravado e publicado pelo delegado Tito Barrichello, da 2ª Delegacia de Homicídios da capital.
Também aparecem nas imagens a delegada Tathiana Guzella, da 1ª Delegacia de Homicídios de Curitiba, um investigador apresentado como "Cabelo" e a pastora identificada apenas como Erlane. Questionado, Barrichelo afirmou que as armas são todas privadas e legalizadas. Disse ainda que a ideia partiu do pastor René por haver "diversas passagens de benções aos escudos e armas". — A unção tem um sentido de benção, para que aquilo, apesar de poder causar um dano a outro, seja um instrumento de paz. Na polícia, organizamos para que não ocorra reação do investigado. A ideia da arma é não utilizá-la — disse.
A nova rodada de pesquisas do IRG mostra que o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) se sai um pouco melhor no Paraná do que no resto do Brasil. No levantamento divulgado pelo instituto, Moro chegou a 12,8% das intenções de voto para presidente – nas pesquisas nacionais, jamais chega a dois dígitos.
Mesmo no estado natal, porém, Moro fica num distante terceiro lugar, de acordo com o levantamento. Em primeiro lugar, empatados, aparecem Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). O atual presidente teria 36,1% dos votos no primeiro turno, contra 35,8% de Lula.
O IRG Pesquisa ouviu 1500 eleitores entre os dias 31 de março e 3 de abril. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com os números PR-09298/2022 e BR-01036/2022. A sondagem foi feita com recursos próprios da IRG Pesquisa. A margem estimada de erro é de 2,5 pontos porcentuais para um intervalo de confiança e 95%.
A Câmara de Curitiba negou nesta segunda (14) uma homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro quatro anos atrás. A votação terminou com 17 votos contra, 11 a favor e oito abstenções.
A proposta fio apresentada pela vereadora Carol Dartora (PT) e a ideia era dar o nome da vereadora carioca a um Centro Municipal de Educação Infantil. Marielle já recebeu homenagens em todo o mundo desde que foi morta a tiros junto com seu motorista, Anderson Gomes, em 2018.
Defensora dos direitos humanos,a vereadora era filiada ao PSol. Quatro anos depois de sua morte a tiros, o crime continua sem solução definitiva. Dois supostos assassinos foram presos, mas negam a autoria. E ninguém sabe dizer ao certo quem foi o mandante ou qual a motivação do crime.
Marielle, defensora de vítimas da brutalidade policial no Rio de Janeiro, se tornou objeto da fúria de certa parte da direita. Uma placa com seu nome foi quebrada no Rio numa cena célebre. Na discussão do projeto na Câmara, sua carreira foi alvo de calúnias e distorções.
Alguns vereadores disseram que não votariam a favor porque a vereadora “não fez nada por Curitiba”. Outros, mais radicais, disseram que jamais homenageariam uma “abortista”.
No fim, o que podia ser uma homenagem bonita a uma defensora de comunidades pobres e um desagravo às mulheres, à comunidade LGBTQIA+ e aos negros acabou se transformando mais uma vez numa demonstração de ódio e ignorância como a Câmara de Curitiba dá tantas vezes.
Beto Moraes (PSD) Denian Couto (Pode) Eder Borges (PSC) Ezequias Barros (PMB) Flávia Francischini (PSL) João da 5 Irmãos (PSL) Jornalista Márcio Barros (PSD) Marcelo Fachinello (PSC) Mauro Bobato (Pode) Mauro Ignácio (DEM) Noêmia Rocha (MDB) Oscalino do Povo (PP) Osias Moraes (Rep) Pastor Marciano Alves (Rep) Sargento Tânia Guerreiro (PSL) Sidnei Toaldo (Patr) Zezinho do Sabará (DEM)
Abstenções
Alexandre Leprevost (SD) Amalia Tortato (Novo) Indiara Barbosa (Novo) Leônidas Dias (SD) Pier Petruzziello (PTB) Professor Euler(PSD) Salles da Fazendinha (DC) Serginho do Posto (DEM)
Um dos homens que participaram do espancamento e da morte de Moïse Kabamgabe no Rio de Janeiro gravou um vídeo. Diz que ninguém quis matar Moïse. E que ninguém bateu nele por ser preto. Pode ser.
Mas Moïse Kabamgabe morreu. E morreu por ser preto.
Escrevi acima “um dos homens que participaram do espancamento e da morte de Moïse Kabamgabe”. É como nós, da imprensa, falamos no caso de brancos que admitem ter assassinado alguém.
Seria mais fácil falar “assassino”. Talvez seja justo, ainda mais com a confissão. Mas nós, da imprensa, somos cuidadosos. Ainda mais quando se trata de um branco “envolvido com o espancamento e a morte” de um preto. Pode ser que ele não tenha dado o golpe derradeiro. Pode ser que com isso consiga não ser chamado de assassino. Pode ser que quem o chame de assassino seja culpado por isso mais tarde.
No Brasil, muita coisa pode acontecer. Principalmente se você for preto. Como era o caso de Moïse Kabamgabe.
Você pode morrer por dever R$ 200 a alguém. Ou pode morrer porque alguém te deve R$ 200. É estranho, mas pode acontecer, principalmente se você for preto.
Alisson, o homem que admitiu estar “envolvido na morte” de Moüse Kabamgabe, disse que viu uma briga entre o homem preto e um senhor do quiosque ao lado. E foi defender o senhor. Disse assim, como se não soubesse sequer o nome do senhor. Um homem que estava com um pedaço de pau, segundo as imagens. Moïse Kabamgabe não tinha um pedaço de pau. Mas era preto. Alisson, envolvido no espancamento e na morte do homem preto, foi proteger o branco que carregava um pedaço de pau.
Mas não foi racismo.
Moïse Kabamgabe veio para o Brasil fugido da guerra. Morava no Congo, um país em que os belgas, brancos, causaram um dos maiores morticínios da história moderna. E depois foram embora. O branco Joseph Conrad fez um de seus personagens dizer algo sobre isso. O horror.
No cinema, Marlon Brando diz isso sobre o Vietnã. Um país de não-brancos explorado por brancos até que acontece uma guerra.
O Congo é um dos países mais pobres do mundo. Ninguém liga. Só há pretos lá. Fossem nórdicos os habitantes do Congo, o mundo estaria mobilizado para tirá-los da miséria e da guerra.
O PIB da República Democrática do Congo é de 50 bilhões de dólares ao ano. Significa que todos os congoleses juntos ganham, num ano, um quarto da fortuna de Jeff Bezos.
No Congo, só 0,2% da população estão vacinados contra a Covid.
O PIB per capita no Congo é de R$ 3 mil por ano.
Jeff Bezos, estima-se, ganha 3 mil por segundo. Não reais, mas dólares.
Mesmo assim, Moïse Kabamgabe estava melhor no Congo do que no Brasil. Lá, apesar da pobreza, da guerra, do abandono da comunidade internacional, ele estava vivo.
No Brasil, não. No Brasil, ele foi cobrar R$ 200 por ter trabalhado num quiosque. Um homem pegou um pedaço de pau. Outros homens foram defender quem pegou o pedaço de pau. Dizem que não queriam matar o homem preto. Mas mataram.
A família de Moïse Kabamgabe pede justiça. Pode ser que consigam alguma prisão. Talvez uma indenização. Nunca mais terão Moïse porém.
E ainda que haja um vestígio de justiça nesse caso, continuaremos a ver a injustiça diária contra pretos. Contra pobres. Contra refugiados.
O Congo, eis o que nós ficamos sabendo por Moïse, o Congo é aqui.
O Nordeste brasileiro poderia ter tomado um rumo diferente se Delmiro Gouveia não tivesse sido assassinado. Empresário ativo e ambicioso, ele foi o responsável por…
O Nordeste brasileiro poderia ter tomado um rumo diferente se Delmiro Gouveia não tivesse sido assassinado. Empresário ativo e ambicioso, ele foi o responsável por fundar o primeiro shopping center da região, construiu uma hidrelétrica quando isso ainda era raríssimo e enfrentou a concorrência pesada dos ingleses ao estabelecer uma indústria de linhas no sertão de Alagoas.
Delmiro Gouveia é o personagem da semana do podcast “Quero te apresentar uma pessoa”, produzido pelo Plural em parceria com o Colégio Internacional Esic. O relato conta a vida empresarial, as disputas por causas de amantes e a destruição da fábrica pelos ingleses, que não queriam concorrência nativa no seu mercado têxtil.
Dizer que o racismo é estrutural implica em afirmar que discriminações de cunho racista fazem parte da maneira como nossa sociedade é estruturada. Ou seja: não são apenas os ataques ostensivos que violentam, mas também aqueles que parecem sutis porque foram normalizados ao longo de centenas de anos de injustiça social.
O termo, de fato, não é de fácil tradução. Dia desses, enquanto conversava com o ativista negro Adegmar da Silva, o Candieiro, para elaborar uma série de reportagens sobre racismo religioso, perguntei a ele como identificar, de maneira prática, o racismo estruturalizado. Ele me devolveu a pergunta: “Como você identifica o machismo estruturalizado?” E a resposta, penso, é subjetiva porque envolve uma camada densa de sentimentos.
Nisso, concordamos. “Com a minha mente, com a minha cabeça, com o meu pensamento, eu não consigo entender o racismo. Eu não consigo compreender a ponto de construir um argumento sólido e cristalino e que todos possam entender. Eu sei que ele existe porque ele me machuca, ele mata e eu luto contra ele”, ele me disse.
Aqui, ofereço – junto de autores como Djamila Ribeiro e Silvio de Almeida – algumas pistas para ajudar a olhar para o problema de frente e descontruir a ideia de que a branquitude é a norma.
Racismo estrutural e história
“O Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão. Até 130 anos, os negros traficados eram mantidos em condições subumanas de trabalho, sem remuneração e debaixo de açoite”, publicou o portal Geledés, que discute a questão racial. “Quando, no papel, a escravidão foi abolida, em 1888, nenhum direito foi garantido aos negros. Sem acesso à terra e a qualquer tipo de indenização ou reparo por tanto tempo de trabalho forçado, muitos permaneciam nas fazendas em que trabalhavam ou tinham como destino o trabalho pesado e informal.” Em outras palavras, “as condições subumanas não se extinguiram.”
Em entrevista à revista Ihu, da Unisinus, a filósofa Djamila Ribeiro lembra que o Brasil é a maior nação negra fora da África, somando 54% da população. “E mesmo sendo maioria, [os negros] estão fora dos lugares de poder e experimentam em larga maioria os piores índices de desenvolvimento humano.” Para ela, está claro que isso é resultado de um processo histórico de quase quatro séculos de escravidão e escassas ações afirmativas.
Djamila Ribeiro
“Ao passo que foi estimulada a vinda de imigrantes europeus, que receberam terras e oportunidades, pessoas negras foram marginalizadas de qualquer contato com o poder econômico e destinadas a serem base de exploração que, no caso das mulheres negras, se soma ao patriarcado. Nas palavras de Carla Akotirene, mulheres negras são a matriz geradora pois parem as vidas que serão a base do sistema”, pontua a filósofa.
Ao longo da história, “o projeto de miscigenação foi romanceado no país”, afirma a pensadora. Ou seja: nos foi dito que havíamos transcendido as raças em uma convivência harmoniosa entre brancos e negros. Até hoje esse discurso está presente no imaginário popular. Muitas pessoas, buscando se defender do lugar de racistas, argumentam que “não veem cor”, mas essa perspectiva apenas fecha os olhos um problema social profundo.
“Ou seja, de acordo com esse pensamento, não existe racismo no Brasil, apenas desigualdade entre ricos e pobres. As mulheres negras brasileiras são as mulatas que sambam e estão sempre disponíveis sexualmente. Trata-se de algo entranhado no pensamento brasileiro e na organização social do país, algo que os movimentos negros ao longo de muitas décadas vêm denunciando e combatendo”, sinaliza Djamila Ribeiro.
Outro resultado é que muitas pessoas negras sequer sabem que são negras. Um dos fundadores do Plural, Rogerio Galindo, que vem de uma família miscigenada, escreveu sobre a própria experiência de se descobrir negro em um texto intitulado “eu sou negro e não sabia”. A teoria da filósofa dá corpo a essa sensação. “As pessoas não sabem que são negras, não têm sequer condições materiais para formular algo nesse sentido. Então, o que nos resta é lutar por políticas públicas, de educação, assistência social e apoiar projetos políticos nesse sentido. Isso em um sentido coletivo.”
A economia como eixo do racismo estrutural
De acordo com o filósofo Silvio de Almeida, autor do livro “Racismo Estrutural” (Editora Jandaíra, 2019), são três os eixos que constituem o problema: política e subjetividade, conforme demonstrado nos tópicos anteriores, e economia.
“No Brasil, todo mundo reclama da carga tributária brasileira. É uma reclamação geral, mas quem reclama mais são os empresários, e aí a gente começa a ver uma distorção, porque proporcionalmente os grandes empresários são os que menos pagam tributo e também são os que menos dependem dos serviços públicos, que são pagos por meio da tributação”, fala o autor em um vídeo publicado pela Boitempo.
Silvio de Almeida
“Pesquisas recentes mostram que o grupo social mais afetado pela carga tributária no Brasil são as mulheres negras”, ele continua. “Mas por que isso? Existe uma política deliberada do Brasil para tributar mulheres negras? Não, é porque o sistema tributário, funcionando na sua normalidade, ou seja, de acordo com as normas estabelecidas, ele reproduz as condições de desigualdade que colocam a mulher negra na base da pirâmide social.”
O raciocínio é o seguinte: se a política tributária é estruturada para incidir sobre consumo e salário, as pessoas que ganham menos, e que também consomem, são aquelas que vão pagar proporcionalmente mais. Logo, as mulheres negras são as mais atingidas pelo problema, porque recebem menores salários.
Djamila Ribeiro lembra que, com o fim da escravidão, as mulheres negras foram destinadas ao trabalho doméstico, uma herança presente até hoje. “Atualmente, estima-se que mais de 6 milhões de mulheres negras são empregadas no país, e a lei que regulamenta a profissão somente foi aprovada em 2013, sob intensos protestos do sistema que se beneficiou historicamente desse trabalho.”
Olhar para a história também é importante para compreender por que pessoas negras ocupam menos espaços reservados às classes média e alta. “No Brasil é comum entrarmos em restaurantes e não encontrarmos nenhuma pessoa negra no local – nem como garçom ou garçonete. Quem vai a shopping terá dificuldade de encontrar uma vendedora de lojas negra”, fala a filósofa. “Ou seja, o racismo estrutura a sociedade e, assim sendo, está em todo lugar.”
Por essas e outras, Silvio de Almeida afirma que “o racismo é o elemento fundamental de todas as formas de exploração econômicas.” E um marcador comum é a normalização. “A morte de jovens negros sistematicamente nas periferias não causa choque como deveria causar. O fato de o encarceramento em massa atingir mais pessoas negras não causa espanto”, ele exemplifica.
Quando assistimos a uma sessão do Supremo Tribunal Federal ou do Congresso Nacional e observamos que a maioria das posições de decisão de um país majoritariamente negro é ocupada por pessoas brancas, isso não nos assusta. É por isso que ele coloca como “questão primordial” pensar que “não há, mesmo das pessoas que não aceitam esse tipo de violência, uma ação efetiva de se voltar contra”, porque “a sociedade naturaliza a violência contra pessoas negras.”
É possível mudar essa história?
Talvez leve um tempo, mas, sim, é possível e você pode fazer parte dessa mudança a partir de uma tomada de consciência. Para começar: questione tudo. “Quando ser branco se torna a regra, o outro é a exceção. O branco não tem raça, quem tem raça é o negro”, expõe o filósofo. Acontece que as raças são construções sociais vivenciadas a partir de certos privilégios estruturalmente estabelecidos.
Você está disposto a abrir mão do seu privilégio? Está disposto, por exemplo, a entender que cotas são ações de reparação histórica? Está disposto a pensar antes de objetificar mulheres negras? Está disposto a admitir que tem atitudes racistas?
“A luta contra o racismo e, portanto, a luta pela transformação social, passa pela construção de uma sociedade melhor, e passa necessariamente pela luta contra o racismo na sua dimensão estrutural, o que significa que deve-se abrir mão de privilégios para que a luta seja efetiva”, conclui Silvio de Almeida.
Para aprofundar: o Pequeno Manual Antirracista (Companhia das Letras, 2019), de Djamila Ribeiro, fala, de forma didática, sobre como não recair em comentários e atitudes racistas.
As denúncias sobre a compra da vacina indiana Covaxin têm mais um elo com a bancada paranaense em Brasília. Roberto Ferreira Dias, responsável pelo departamento de logística que faz as importações, foi nomeado para o cargo por indicação de dois paranaenses. Um é o próprio Ricardo Barros, principal implicado na história. O outro é o ex-deputado Abelardo Lupion, do DEM, bastante próximo a Bolsonaro.
Em entrevista à Folha de S.Paulo nesta segunda (27), o deputado Luís Miranda diz que Roberto Ferreira Dias é a peça central dos esquemas denunciados por ele e por seu irmão à CPI. “Nada ali acontece se o Roberto não quiser”, diz o deputado. Foi Dias quem assinou a dispensa de licitação para a compra da Covaxin. (Publicado em 28 de junho de 2011)
O homem do centrão no Ministério da Saúde
por Diego Escosteguy /O Bastidor
Líderes do centrão não se cansam de elogiar o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. Cabe a ele assinar os principais contratos da pasta.
Dias foi indicado pelo ex-deputado Abelardo Lupion, ainda na gestão de Luiz Henrique Mandetta - ambos são do DEM. Ele foi recomendado por Ricardo Barros, do PP, atual líder do governo na Câmara.
O apadrinhado agradou tanto que foi indicado a uma vaga na Anvisa. No entanto, suspeitas de irregularidades em contrato fechado por Dias já na pandemia forçaram Bolsonaro a retirar a indicação à agência. (Ele nega ter beneficiado qualquer empresa.)
Apesar de ter perdido a vaga na Anvisa, Roberto Ferreira Dias permaneceu como diretor de Logística. Desde então, conquista cada vez mais aliados no Congresso.
Ontem, em edição extra do Diário Oficial, Dias aparece como signatário dos contratos firmados pelo Ministério da Saúde para a compra das vacinas Sputnik (R$ 693,6 milhões) e Covaxin (R$ 1,6 bilhão).
O contrato com a Sputnik foi fechado por meio da União Química, do lobista e ex-deputado Rogério Rosso. O da Covaxin, por sua vez, foi assinado com a Precisa Medicamentos - empresa indevidamente favorecida, segundo promotores de Brasília, pelo governo do Distrito Federal numa compra de testes rápidos de covid-19.
Francisco Maximiano, conhecido em Brasília como Max, é diretor da Precisa. O Ministério Público cobra dele R$ 20 milhões por remédios que foram pagos, mas não entregues, na gestão de Ricardo Barros à frente do Ministério da Saúde. Outra empresa de Max deu prejuízo ao Postalis, fundo de pensão dos Correios. Max sempre teve relações fortes com ala sindical do PT, sobretudo com João Vaccari. Depois da queda do PT, aproximou-se do PP.
Tanto a Sputnik quanto a Covaxin não têm perspectiva de obter autorização de uso emergencial junto à Anvisa. Para que os contratos possam ser cumpridos e o dinheiro, pago, o presidente Jair Bolsonaro precisa sancionar a MP que, na prática, exclui a agência do processo de importação das vacinas.
Essa MP foi articulada pelo centrão - em especial por Ricardo Barros. (Publicado em 20 de fevereiro de 2021)
Se a câmara fosse mais séria, esse pedido de cassação seria arquivado. Mas com apoio do prefeito racista e que não suporta pobre e seus vereadores comparsas infelizmente ele irá perder o mandato.
O processo está repleto de falhas comprovaras pelo relatório da vereadora Maria Letícia, que o desmontou por completo.
Primeiro que a Igreja não foi invadida, as portas estavam abertas e os fiéis já tinham saído com o término da missa. No depoimento à polícia o padre da Igreja do Rosário confirmou que a missa tinha terminado.
Esse processo armado revela pura vinganca de vereadores, alguns pastores, racistas e fascista que até pouco tempo chutaram e quebraram a imagem de Nossa Senhora nos estúdios descias TVs e agora farisaicamente se dizem defensores da Igreja católica.
A CMC é é sempre foi conservadora. Adora queimar vereadores desavisados. Este processo é uma série de erros para punir um sujeito em razão da cor.