Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

20
Abr23

A farsa Adélio-PCC e o papel da Folha de S. Paulo numa armação perigosa

Talis Andrade
www.brasil247.com - Jair Bolsonaro e Adélio Bispo
Jair Bolsonaro momento da facada e Adélio Bispo preso incomunicável e com advogados bolsonaristas porta de cadeia (Foto: Reprodução | Ricardo Moraes/Reuters)

 

Jornal  do golpe de 1964 dá curso a plano de Bolsonaro de forjar ligação da facção criminosa a Lula e ao PT

 

por Joaquim de Carvalho

- - -

O evento de Juiz de Fora que decidiu os destinos do Brasil entre 1o. de  janeiro de 2019 e 1o. de janeiro de 2023 ainda tem muitos pontos de interrogação e um jornal do tamanho da Folha de S. Paulo, em vez de dar respostas, coloca mais dúvida. 

Poderia ser apenas mau jornalismo, mas, pela reincidência, parece cumplicidade. No caso de Juiz de Fora, a dúvida interessa a quem procura construir a narrativa de crime encomendado. Bolsonaro é declaradamente um desses.

Aos fatos: o jornal publica nesta quarta-feira (19/04) reportagem com o título "Apuração da PF cita elo entre PCC e Adélio, mas direção vê tese furada". O texto longo não chega a lugar nenhum, mas serve como adubo a quem quer propagar desinformação.

Um advogado da banca de Zanone Júnior recebeu R$ 315 mil de empresas usadas pela facção criminosa para patrocinar defesas jurídicas, e, com base em informações frágeis, o jornal dá curso à tese de que a facção criminosa poderia estar por trás da ação de Adélio.

A reportagem ainda elogia o autor da tese, o delegado Martin Bottaro Purper, chamado de "um dos principais especialistas em PCC na PF", que passou a presidir o inquérito sobre o episódio de Juiz de Fora depois que o delegado Rodrigo Morais caiu para cima no governo Bolsonaro.

Resistente à pressão para jogar a fumaça do crime encomendado no caso de Juiz de Fora, Morais foi nomeado para um cargo no exterior em janeiro de 2022, no ano em que Bolsonaro tentaria a reeleição. Para o seu lugar, foi escolhido Martin Bottaro, que já havia trabalhado em casos que envolvem o PCC.

Bottaro era a peça que se encaixava à perfeição na narrativa de Bolsonaro. Durante a campanha eleitoral, o então presidente foi multado e teve que excluir postagens que tentavam associar Lula à facção criminosa. 

Durante a campanha de 2022, Bottaro tentou tomar um novo depoimento de Adélio, na Penitenciária Federal de Campo Grande. O delegado pediu também acesso ao laudo psiquiátrico sobre Adélio de agosto de 2022. Mas o juiz Luiz Augusto Iamassaki Fiorentini negou o pedido, feito às vésperas do segundo turno.

A Folha, sempre ela, noticiou que Martin Bottaro pediria autorização da Justiça Federal para tomar depoimento de Adélio, mas esse pedido nunca foi protocolado, serviu apenas para manchete a poucos dias antes do segundo turno da eleição de 2022.

E, claro, alimentou a desinformação na rede social, o que atendia ao interesse de Bolsonaro. Gerou a fumaça que o antigo delegado do caso, Rodrigo Morais, sempre evitou.

Antes de deixar o inquérito, em janeiro de 2022, Morais e integrantes de sua equipe estiveram duas vezes com Bolsonaro, em Brasília. A missão deles era mostrar ao então presidente como estava o inquérito. 

Bolsonaro não pediu nada, mas a simples convocação já indicava que ele queria alguma coisa, sobretudo porque a presença dos policiais no palácio era antecedida de manifestações dele sobre o episódio, tentando associar o evento de Juiz de Fora à oposição política.

Em julho de 2021, Rodrigo Morais foi indicado pelo então diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, para ocupar um posto na Diretoria de Inteligência. Era uma nomeação que exigia que a documentação passasse pela Casa Civil, mas esta não deu andamento.

Antes disso, na segunda apresentação sobre o inquérito, um policial da equipe de Morais comentou na sala em que estava Bolsonaro que havia tido a oportunidade de conversar com Gustavo Bebianno  – que morreu em 14 de março de 2020.

Era blefe, mas a reação de Bolsonaro surpreendeu a todos na sala. "Foi a primeira vez que vi Bolsonaro se desconcertar", comentou um dos presentes.

Bebianno, como se sabe, havia manifestado estranheza quanto à presença de Carlos Bolsonaro em Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018. 

No programa Roda Viva, depois que foi demitido da Secretaria Geral da Presidência, Bebianno mencionou que era a primeira vez que o filho de Bolsonaro participava de um ato de campanha.

E disse mais: Carlos Bolsonaro ficou o tempo todo no carro, comandando um drone, cujas imagens foram usadas como peça de propaganda na internet, logo depois do evento envolvendo Adélio. 

Bebianno disse ainda que, nos primeiros dias de governo, Carlos Bolsonaro pediu a ele para nomear quatro policiais federais para a Abin. Nas palavras de Bebianno, seria uma "Abin paralela". 

Bebianno recusou, com o argumento de que aquelas nomeações poderiam levar ao impeachment de Bolsonaro. No Roda Viva, Bebianno não disse por que a nomeação era tão prejudicial aos interesses do governo, e também se recusou a revelar quem eram esses policiais.

Hoje se sabe que, naquele mesmo ano, depois da queda de Bebianno, foram nomeados para a Abin três agentes da PF que atuaram na segurança de Bolsonaro em Juiz de Fora, além do delegado Alexandre Ramagem, que assumiu a direção-geral da Agência.

Os agentes da Abin são Luíz Felipe Barros Félix, Marcelo Araújo Bormevet e Flávio Antonio Gomes. Para fazer o documentário "Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil", censurado pelo YouTube, procurei os agentes, mas eles não retornaram ao meu pedido de entrevista.

Se a Folha quer, efetivamente, investigar jornalisticamente o caso de Juiz de Fora, pautas não faltam, sobretudo neste momento, em que o isolamento de Adélio apresenta as primeiras fissuras.

Em 30 de março, depois de quatro anos e meio, a dona de casa Maria das Graças Ramos de Oliveira visitou o irmão. O 247 acompanhou e fez uma videorreportagem. Na última segunda-feira (17/04), a titular da 2a. Vara de Família e Sucessões, Cíntia Xavier Letteriello, esteve na Penitenciária Federal de Campo Grande, para entrevistar Adélio.

 

A magistrada é responsável pelo processo em que Maria das Graças pede a curatela do irmão, diagnosticado como inimputável no processo sobre o evento de Juiz de Fora.

A juíza já tinha ouvido Maria das Graças em audiência, e causou boa impressão, ao demonstrar que tratará o processo como todos os outros em sua jurisdição, sem atentar para os aspectos políticos que poderiam envolver o caso.

Ao mesmo tempo, a Defensoria Pública da União, representada pelo defensor Welmo Rodrigues, tem travado uma luta dura por justiça no caso de Adélio, que, sendo doente mental, não poderia ficar trancado em cela isolada na penitenciária com Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

O último laudo psiquiátrico, de agosto do ano passado, aponta a piora do estado de saúde dele, que, desconfiado, evita tomar medicamentos. A irmã contou que Adélio acredita que há um desejo de que ele morra na prisão.

Adélio reclamou do advogado que assumiu seu caso logo depois do episódio em Juiz de Fora, o criminalista Zanone Júnior. "Ele me trancou aqui e jogou a chave fora", disse à irmã. 

A pedido de Zanone é que Adélio foi trancado na penitenciária federal, declarado inimputável e processado com base na Lei de Segurança Nacional, que fez seu caso permanecer na Justiça Federal, em vez de transitar pela Justiça Estadual de MInas Gerais, onde responderia por lesão corporal e, certamente, já estaria em liberdade.

No final de 2019, Adélio enviou carta de próprio punho à Defensoria Pública da União em que pediu a remoção do advogado.

Zanone deixou de atuar na causa como advogado, mas, estranhamente, foi nomeado curador processual, embora Adélio tivesse família em Montes Claros. 

O juiz que nomeou Zanone disse que tomou a decisão para que o processo não perdesse agilidade, já que a família de Adélio é pobre e mora distante.

Apenas uma das muitas cartas que Adélio escreveu para a família chegou a Maria das Graças. Nela, Adélio pedia empenho para que pudesse ser transferido para perto da família.

Mesmo afastado do processo como advogado e na condição de curador processual, Zanone nunca deixou de se empenhar para manter Adélio na penitenciária.

A Folha, sempre ela, publicou entrevista em que ele falava da melhora do estado de saúde de Adélio na Penitenciária, uma vez que estaria sendo atendido por equipe médica, o que era mentira.

Continuava sendo apresentado como advogado e, em agosto do ano passado, nomeou assistente técnico para acompanhar a junta médica que elaborou o segundo laudo.

A Justiça Federal em Campo Grande não aceitou o psiquiatra indicado por Zanone e, a pedido da Defensoria Pública Federal, o removeu da condição de curador.

Quem ficou com a função foi a própria Defensoria, o que faz sentido, até que a Justiça Estadual em Mato Grosso do Sul decida sobre o pedido de Maria das Graças.

A Defensoria também atua em outra frente, a da transferência de Adélio para um hospital psiquiátrico perto da família ou, na ausência de vaga, para a residência da irmã.

O juiz Bruno Savino, de Juiz de Fora, se manifestou contra, e a decisão cabe a ele, já que o STF julgou que compete ao juiz da origem do fato decidir em que estabelecimento o sentenciado deve cumprir medida de segurança.

A decisão do STF foi relatada por Kássio Nunes Marques, o primeiro ministro indicado por Jair Bolsonaro.

Foi em 2020, quando a Justiça Federal em Campo Grande entendeu que Adélio não poderia continuar na penitenciária, Bruno Savino (e Zanone) se manifestou contra. 

Estabeleceu-se à época um conflito de competência, que foi parar no STF.

Nunes Marques entendeu que o presídio é "estabelecimento adequado" para cumprimento de medida de segurança, conforme o artigo 96 do Código Penal.

Diante do último laudo psiquiátrico, o de agosto do ano passado, que mostra um quadro de deterioração mental de Adélio, a Defensoria Pública da União entende que esse argumento caiu por terra.

Por isso, recorreu da decisão da Justiça Federal em primeira instância. O recurso está no gabinete do relator do Tribunal Regional Federal da 3a. Região, para ser levado a julgamento.

A Defensoria postula a transferência de Adélio para um hospital ou, na ausência de vaga, para a casa da família, para que receba tratamento em ambulatório. 

O Ministério Público Federal concorda com a transferência para hospital, mas é contra a ida para a casa da família e o consequente tratamento ambulatorial. 

O juiz Bruno Savino estendeu a medida provisória até agosto de 2024.

Na visita virtual da irmã, em fevereiro deste ano, quando perguntado sobre o que ocorreu em 6 de setembro de 2018 em Juiz de Fora, Adélio respondeu: "Não vem ao caso".

Sem as grades de ferro, Adélio se sentiria mais à vontade para falar?

 

19
Ago21

A senilidade dos generais de Bolsonaro

Talis Andrade

bolsonaro-arquivos-ditadura desaparecidos.jpg

 

O Brasil do atraso e do golpe

 

Internautas reagiram com humor e também críticas ao ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que defende abertamente um golpe de estado. Segundo o militar, a intervenção das Forças Armadas pode ocorrer falseando o artigo 142 da Constituição. O gal criou o Dia do Foda-se. 

Leandro Demori
Heleno acaba de dizer em um programa de rádio que, devido à experiência do nosso Exército no Haiti, eles estão prontos pra nos colocar no prumo atuando como “poder moderador”.
General, fiquei com uma dúvida aqui: depois disso vocês vão evitar que soldados sob o comando do Exército estuprem nossas mulheres ou vai ser como foi no Haiti?

Os filhos abandonados da ONU no Haiti

Vivi Reis
A "experiência" do Brasil no Haiti: denúncias de corrupção, violência, estupros e 265 crianças haitianas deixadas para trás por seus pais, alguns deles militares brasileiros.
Rodrigo_Moraes
Haitianos pedem indenização da ONU por estupros na época em que general Heleno comandava forças de paz.
02
Out20

Passando a boiada: 5 momentos nos quais Ricardo Salles afrouxou regras ambientais

Talis Andrade

fora salles.jpg

 

 

por André Shalders /BBC News

- - -

"Precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só se fala de covid, e ir passando a boiada, e mudando todo o regramento (ambiental), e simplificando normas".

A frase é famosa: foi dita pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na reunião ministerial do dia 22 de abril, e tornada pública por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Apesar disso, segundo ambientalistas e procuradores ouvidos pela BBC News Brasil, Ricardo Salles já está trabalhando para "passar a boiada" desde o começo de sua gestão, em janeiro de 2019, muito antes da pandemia do novo coronavírus.

Desde que assumiu a pasta, o ministro criou regras que dificultaram a aplicação de multas; transferiu poderes do Ministério do Meio Ambiente para outras pastas; e tentou mudar o entendimento sobre normas como a Lei da Mata Atlântica.

A última tentativa de Salles de remover regulamentações ambientais aconteceu nesta segunda-feira (28). Em reunião convocada dias antes pelo ministro, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) revogou quatro resoluções que tratavam de diferentes áreas da política ambiental do país.

Duas das resoluções eliminadas restringiam o desmatamento e a ocupação em áreas de restinga, manguezais e dunas. Na prática, o fim das resoluções, que estavam em vigor desde 2002, criou a possibilidade de ocupação em áreas de restinga numa faixa de 300 metros a partir da praia. Antes, essas áreas eram consideradas como sendo de proteção ambiental.

Na mesma reunião, o Conama também permitiu a queima de lixo tóxico — como embalagens de defensivos agrícolas, por exemplo — em fornos usados originalmente para a produção de cimento. Além disso, o conselho também derrubou uma resolução que criava normas para projetos de irrigação.

A decisão do Conselho é controversa.

Segundo o advogado especializado em direito ambiental Rodrigo Moraes, a decisão foi juridicamente correta, pois as resoluções que foram revogadas seriam ilegais.

As normas foram criadas para regulamentar uma versão anterior do Código Florestal, de 1965, que foi revogado com a edição do novo código, em 2012. Assim, estas também teriam perdido a eficácia, argumenta Moraes. Além disso, diz ele, a exigência de preservar a faixa de 300 metros depois do mar não estava presente na lei original — assim, o Conselho de meio ambiente teria "legislado" de forma indevida ao criar a norma, em 2002.

Já ambientalistas argumentam que a decisão do Conselho foi feita sob medida para atender a setores econômicos.

"Mesmo com a revogação das resoluções, a proteção dos mangues, dunas e restingas continuarão a existir pelas regras do Novo Código Florestal, pela Lei da mata Atlântica e ainda pelas regras constitucionais", argumenta o advogado.

Segundo o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso, o "revogaço" agrada ao mercado imobiliário, que deseja erguer prédios em áreas protegidas à beira-mar; a criadores de camarão que querem construir seus tanques dentro de manguezais; e ao agronegócio, que deseja menos regulamentações nas suas operações com irrigação e agrotóxicos.

Agostinho também rebate o argumento de que as resoluções seriam ilegais. "Tivemos algumas decisões do Judiciário confirmando que as resoluções tinham sido recepcionadas (pelo novo Código Florestal) e estavam em vigor. Agora, ficou uma lacuna. A regulamentação que tinha para manguezais e restingas deixou de existir", disse ele à BBC News Brasil.

No começo da noite desta terça-feira (29/09), a decisão do Conama que revogou as resoluções foi anulada pela Justiça Federal. É uma decisão liminar (provisória) da juíza Maria Amélia Almeida Senos de Carvalho, da 23ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Ela atendeu a uma ação popular formulada por um grupo de advogados. Cabe recurso.

Em entrevista ao canal de TV CNN Brasil, nesta quarta-feira (30/09), Salles disse que a pasta vai recorrer da decisão. Ele também lembrou que já existiam estudos para revogar as resoluções desde a gestão da ex-ministra Izabella Teixeira (2010-2016), ainda nos governos do PT. (Continua)

 

 

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub