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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

28
Abr23

O tamanho da China

Talis Andrade
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Afirmar que os EUA são a maior economia do mundo é bom para o ego de quem o faz, mas isso não é mais verdade

 

por Dean Baker /A Terra É Redonda

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É normal que políticos, repórteres e colunistas se refiram aos Estados Unidos como a maior economia do mundo e à China como a segunda maior. Suponho que essa afirmação seja boa para o ego dessas pessoas, mas isso não é mais verdade. Medindo pela paridade do poder de compra, a economia da China superou a dos EUA em 2014 e agora é cerca de 25% maior do que ela.[1] O FMI projeta que a economia da China será quase 40% maior até 2028, o último ano em suas projeções.

 

A mensuração que os apologetas dos Estados Unidos da América do Norte usam comumente é baseada na taxa de câmbio. É assim que se mede o PIB de cada país em sua própria moeda para depois converter essa moeda em dólares na taxa de câmbio atual. Por essa medida, a economia dos EUA ainda é mais de um terço maior do que a economia da China. Ora, essa medida reflete não apenas a produção, mas a força do dólar como dinheiro mundial.

Os economistas geralmente preferem a medida de paridade do poder de compra para a maioria dos propósitos. A medida da taxa de câmbio flutua enormemente, pois as taxas de câmbio podem facilmente mudar 10 ou 15 por cento em um ano. As taxas de câmbio também podem ser um tanto arbitrárias, pois são afetadas pelas decisões dos países de tentar controlar o valor de sua moeda nos mercados monetários internacionais.

Por outro lado, a medida de paridade do poder de compra aplica um conjunto comum de preços a todos os itens que um país produz em um ano. Com efeito, isso significa assumir que um carro, um aparelho de televisão, uma educação universitária etc. custam o mesmo em todos os países. A aplicação de preços comuns é uma tarefa difícil, os bens e serviços variam substancialmente entre os países, o que dificulta a aplicação de um preço único. Como resultado, as medidas de paridade de poder de compra têm claramente muita imprecisão.

No entanto, é claro que esta é a medida que mais interessa para a maioria dos propósitos. Se quisermos saber a quantidade de bens e serviços que um país produz em um ano, precisamos usar o mesmo conjunto de preços. Por essa medida, não há dúvida de que a economia da China é consideravelmente maior do que a economia dos Estados Unidos e, ademais, tem crescido muito mais rapidamente.

Só para esclarecer, isso não significa que os chineses são, em média, mais ricos do que os americanos. A China tem quase quatro vezes a população dos EUA. Portanto, por pessoa, os EUA ainda são mais de três vezes mais ricos que a China. Mas não deve ser um choque saber que um país com mais de 1,4 bilhão de pessoas tenha uma economia maior do que um país com 330 milhões.

Para as pessoas que precisam de mais dados para melhor se convencerem, podemos fazer comparações de vários itens específicos. Podemos começar com a produção de automóveis, uma medida padrão da produção industrial.

No ano passado, a China produziu mais de 27,0 milhões de carros, mas os Estados Unidos produziram um pouco menos de 10,1 milhões. (A China também lidera o mundo de longe na produção e uso de carros elétricos.) Os carros fabricados nos Estados Unidos, sem dúvida, são maiores e talvez melhores em média, mas teriam que ser muito melhores para compensar a diferença apontada.

Para tomar uma medida mais antiquada, a China produziu mais de 1.030 milhões de toneladas métricas de aço em 2021. Os Estados Unidos produziram menos de 90 milhões de toneladas métricas.

A China gerou 8.540.000 gigawatts-hora de eletricidade em 2021, quase o dobro dos 4.380.000 gigawatts-hora gerados nos Estados Unidos. A diferença é ainda maior se olharmos para a produção de energia solar e eólica. A China tem 307.000 megawatts-hora de capacidade solar instalada, em comparação com 97.000 nos Estados Unidos. A China tem 366.000 megawatts-hora de capacidade eólica instalada contra 141.000 nos Estados Unidos.

Podemos olhar para algumas medidas mais modernas. A China tem 1 bilhão de usuários de Internet. Os Estados Unidos têm 311 milhões. A China tem 975 milhões de usuários de smartphones, os Estados Unidos têm 276 milhões. Em 2016, a China formou 4,7 milhões de alunos com diplomas STEM (Science, Tecnology, engineering e mathematics). Nos EUA, o número foi de 330.000 no mesmo ano. As definições para graus STEM não são as mesmas, então os números não são estritamente comparáveis, mas seria difícil argumentar que o número dos EUA é de alguma forma maior. E o número quase certamente mudou mais a favor da China nos últimos sete anos.

Em termos de impacto na economia mundial, a China representou 14,7 por cento das exportações de bens em 2020. Os Estados Unidos representaram 8,1 por cento. Nos primeiros nove meses do ano passado, a China foi responsável por US$ 90 bilhões em investimentos estrangeiros diretos. Isso se compara a US$ 66 bilhões para os Estados Unidos.

Podemos acumular mais estatísticas, mas categoria após categoria, a China supera os Estados Unidos – e, muitas vezes, por uma margem muito grande. Se as pessoas quiserem colocar seus chapéus de magos e insistir que os EUA ainda são a maior economia do mundo, elas podem fazê-lo, mas o fato comprovável e iniludível é que Donald Trump perdeu a eleição de 2020 e que a economia da China é maior do que a dos Estados Unidos.

E tamanho importa. Não se trata apenas da questão de contar vantagem. A China é claramente um concorrente internacional nos planos econômico, militar e diplomático. Muitas pessoas querem adotar uma abordagem de confronto com a China, com a ideia de que podemos isolar o país e gastá-lo militarmente, como provavelmente fizemos com a União Soviética.

Em seu auge, a economia soviética tinha aproximadamente 60% do tamanho da economia dos Estados Unidos; ora, a economia da China já é 25% maior. E essa diferença está se expandindo rapidamente. A China também está muito mais integrada à economia mundial do que a União Soviética jamais esteve. Isso torna a perspectiva de isolar a China muito mais difícil.

Na prática, não importa se gostamos ou não da China. Ela está aí diante de nossos olhos estupefatos e não está prestes a desaparecer. Precisamos, nós americanos, encontrar maneiras de lidar com a China que não levem a um conflito militar.

Idealmente, encontraríamos áreas onde poderíamos cooperar, por exemplo, compartilhando tecnologia para enfrentar as mudanças climáticas e lidar com pandemias e outras ameaças à saúde. Mas, se alguém quiser seguir a rota da Nova Guerra Fria, deve pelo menos estar ciente dos números. Esta, caras e caros, não será a Guerra Fria de seu avô.

- - -

Tradução: Eleutério F. S. Prado.

Publicado originalmente no portal Counterpunch.

Notas


[1] Incluí Hong Kong e Macau neste cálculo, uma vez que agora ambos fazem efetivamente parte da China.

Craque do jogo

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02
Abr23

Os pobres no orçamento

Talis Andrade

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Somente o progresso sustentável tira os pobres do orçamento em troca de oportunidades reais de ascensão social para o cidadão brasileiro

 

por Gustavo Krause

No século XVIII, o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) classificava a vida humana como desagradável, brutal e breve, situação hipotética do “estado da natureza” o que levaria à inevitável destruição pela “guerra de todos contra todos”.

Inspirado na figura mitológica, Hobbes publicou Leviatã, em 1651, marco teórico do contratualismo. Instituído pelo conjunto dos indivíduos, o Estado todo-poderoso asseguraria segurança e prosperidade. Apesar das diferenças de abordagem, Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau mantêm vivo o debate sobre a natureza, a dinâmica e extensão do contrato social no equilíbrio entre os valores da liberdade individual e a harmonia coletiva.

Independente do fervor ideológico, o fato é que, em menos de três séculos, houve uma abrupta transformação na vida das pessoas. Trata-se de um fenômeno de tal ordem que tem desafiado o engenho humano a explicar causas e origens da grande contradição histórica: a riqueza e a pobreza das nações; o fracasso e a prosperidade das diferentes civilizações.

A propósito, nascido há exatos 300 anos, o filósofo escocês, Adam Smith, considerado “pai” da economia moderna, legou à posteridade o clássico Uma Investigação sobre a Natureza e a Causa da Riqueza das Nações (1776). Polêmico, às vezes, mal interpretado, o autor apurou e descreveu, após longos anos de observação, o funcionamento do sistema econômico. Não criou as malvadezas do mercado; denunciou a atração dos agentes econômicos pela fraude da competição oligopolizada; ressaltou os legítimos interesses de produtores e consumidores exercidos com liberdade.

Também não “criou” o modo capitalista de produção: Smith foi um arguto observador da vida econômica como ela é. E antes de se notabilizar pela obra magna, produziu A Teoria dos Sentimentos Morais (1759). Nela, defende como padrões mínimos de satisfação das necessidades básicas: “Estar livre da fome; das doenças e participar da vida política e social”. Acresce um conceito em voga atualmente “essa situação coloca o pobre fora da vista das pessoas”, um ser invisível.

Não faltaram, ao longo da história, ideias transformadoras; movimentos evolucionários, revolucionários e políticas públicas que se mostraram insuficientes na busca do ideal de justiça social.

Na era contemporânea de formidável afluência, vertiginoso progresso científico e tecnológico, agravaram-se as contradições universais que emergem em dois polos chocantes: milhares de novos bilionários e milhões de novos miseráveis, separados por uma desigualdade que coloca em risco o equilíbrio global.

Com intensa gravidade, soma-se ao passivo da desigualdade, o passivo ambiental que dá mostras evidentes de que a natureza se tornou ameaçadoramente escassa.

Sobre o futuro da humanidade em bases tão díspares, tem sido farta a literatura com obras de grande fôlego e profundas controvérsias sobre a consistência científica de predições plausíveis. Refiro-me ao Sapiens de Harari; ao recente “A Jornada da Humanidade – As origens da riqueza e da desigualdade de Oded Galor (visão mais otimista do futuro a partir da Teoria do Crescimento Unificado); Superabundância, Marian Tupy (a ser lançado em meados de abril).

Na mesma toada, o atual debate político no Brasil revela a gravidade dos nossos problemas sociais e tem como palavra de ordem do Presidente: “é preciso colocar o pobre no orçamento do Estado”.

A promessa de Lula esbarra em instituições políticas e econômicas extrativistas que prejudicam o bom funcionamento da democracia; o respeito à ética pública; o ambiente de negócio; a estabilidade e previsibilidade das políticas macroeconômicas.

Ao contrário, se instituições inclusivas fossem implantadas no tempo certo, sólidos alicerces dariam suporte à prosperidade sustentável de um Brasil mais justo.

Nesse caso, a palavra de ordem seria: vamos tirar os pobres do orçamento em troca de oportunidades reais de ascensão social para o cidadão brasileiro.

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