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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

07
Nov22

'Desova' de Bolsonaro já vai ao ridículo

Talis Andrade

 

Por Fernando Brito


Rei morto, rei posto, ensina o ditado popular.

Mas convém que os funerais da ex-majestade tenham certo decoro.

A descrição que faz Mônica Bergamo dos planos de aliados para dar “dignidade” ao afastamento de Jair Bolsonaro do cenário político, porém, dá ideia do quanto é ridícula a tentativa de convencê-lo a retirar-se da cena política e não atrapalhar os negócios da política:

O plano é convencê-lo a se transformar numa espécie de “Fernando Henrique Cardoso da direita”, ou “um estadista” que tem prestígio e o poder de influenciar a escolha de candidatos de seu campo político – mas sem entrar na disputa eleitoral. A diferença é que Bolsonaro é hoje muito mais popular do que FHC era quando deixou o governo, em 2002.

Convenhamos que, até para com Fernando Henrique Cardoso, a comparação é injusta. Podia ter ficado impopular após seu governo, mas não muito mais do que Bolsonaro estava antes de derramar os cofres da União para tentar vencer as eleições e, sobretudo, não saiu com contas a acertar em delegacias de polícia.

Como é também ridícula a ideia de que, desde já, Tarcísio de Freitas, por conta da eleição ao governo de São Paulo, tem vaga cativa como novo líder da direita.

Está aí, recente e fresquinho, o exemplo de João Doria, que não fez um governo desastroso e indubitavelmente lavrou um tento nacional com a vacina da Covid e, não obstante, chegou ao processo eleitoral como um cadáver prematuro.

Bolsonaro é – e Tarcísio pode ser também – bom exemplo de que só dinheiro não faz bons candidatos.

O que a política reserva, agora, é o quanto Bolsonaro se moverá – e com que agentes – na oposição a Lula coisa que, tirando o núcleo duro do bolsonarismo, nem a direita quer fazer imediata e abertamente.

Lula manobra com isso, honrando os sinais de que fará um governo que, embora com a natureza social à frente, não vai deixar espaços para perder o centro e a centro direita, como agora há pouco, segundo o Estadão, ao convidar Persio Arida e André Lara presente para a área econômica do governo de transição.
 

[Bolsonaro pede a manifestantes que desobstruam rodovias, mas apareceu hoje em uma barricada de pneus queimados. Ele que já deu um rombo de 400 bilhões, pretende continuar na mamata desenfreada, ele e os filhos 01 senador, 02 vereador geral, 03 deputado federal, 04 lobista.
 
Bolsonaro perdeu feio - gastou um bilionário orçamento secreto, comprando currais eleitorais de prefeitos, governadores e parlamentares, e outros bilhões em uma pec das bondades, e Lula foi eleito nos dois turnos, com o voto livre, democrático e soberano do povo em geral. 
 
"Bolsonaro é bom exemplo de que só dinheiro não faz bons candidatos", escreveu Fernando Brito. 
 
Bolsonaro nazista, da extrema direita, ameaça um golpe com forças fascistas tão imaginárias quanto o comunismo. 
 
A maioria dos brasileiros e os países e governos representados na ONU, na Otan, no Brics esperam por Lula líder mundial. T.A.]
 

23
Jan21

Artigo na Lancet escancara ataques à ciência do governo Bolsonaro na pandemia de Covid-19

Talis Andrade

Infectologista Pedro Hallal

"Até o último dia 21 de janeiro, são mais de 150 mil vidas perdidas no país devido à condução abaixo do esperado da pandemia"

Por Ana Bottallo, da Folhapress

 “S.O.S.: A ciência brasileira está sob ataque”. Esse é o título de um artigo publicado na prestigiosa revista científica The Lancet nesta sexta-feira (22), escrito pelo epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pedro Hallal.

No texto, escrito para a seção Correspondências da revista, o pesquisador elenca diversos eventos de descrédito à ciência e ataques diretos aos pesquisadores brasileiros orquestrados pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores.

As consequências dos ataques, diz Hallal, levaram o país a ocupar a trágica posição de segundo colocado em número absoluto de mortes por Covid-19 e terceiro em casos registrados no mundo. “Como cientista, tendo a não acreditar em coincidências.”

Apesar de ter acompanhado as políticas de condução da pandemia, que classifica serem muito piores do que as declarações do presidente, que já chamou de “gripezinha” a maior emergência sanitária do último século e disse “E daí? Não posso fazer nada”, em resposta a jornalistas após ser questionado sobre o recorde de mortes no país, em abril de 2020, Hallal resolveu escrever a carta à Lancet após sofrer ele mesmo ataques pessoais de Bolsonaro e de seus seguidores.

O agora ex-reitor da Ufpel (seu mandato acabou no último dia 8 de janeiro) conta que participou no último ano de três reuniões no Ministério da Saúde, as duas primeiras para discutir o Epicovid-19, estudo sorológico do coronavírus que encabeçava como pesquisador principal, e a última em dezembro para discutir ações não relacionadas à pesquisa (que acabou em junho). Quatro dias após a última reunião, em Brasília, apresentou sintomas da Covid-19.

“A minha infecção foi divulgada e usada por defensores do governo. Eu fui atacado pelo deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS) por ser hipócrita, por falar para as pessoas fazerem uma coisa [o distanciamento social] e fazer outra. Fui questionado durante uma entrevista a uma rádio em Guaíba (RS) e o próprio presidente tuitou no dia 14 de janeiro o trecho da entrevista na qual sou atacado por esse assunto.”

O pesquisador diz que, após ver a derrocada de cientistas em cargos importantes que se posicionaram contrários ao que o governo pretendia disseminar, como o ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Ricardo Galvão [que divulgou os dados de desmatamento em 2019 e foi exonerado por isso] e os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich [que não concordaram com as medidas de enfrentamento do vírus], não imaginava ser o próximo.

O Epicovid-19 já havia encontrado resistência no Ministério da Saúde ao apontar para a maior incidência da Covid-19 em indígenas entre os grupos de cor ou etnia autodeclarada. A pasta questionou os dados e cortou o financiamento do estudo após a segunda etapa –estavam previstas três fases.

Para o pesquisador, não é atacando a ciência que o país vai conseguir enfrentar a pandemia. As medidas adotadas até aqui pelo governo são desastrosas: faltam testes, não há rastreamento de contatos, a adesão ao distanciamento social está cada vez mais baixa. “Apesar de muito esforço dos cientistas do [Instituto] Butantan e da Fiocruz, fortemente envolvidos na corrida pela vacina, não houve por parte do governo esforços para a compra de seringas e agulhas para começar a campanha de vacinação”, diz o artigo.

O autor cita, inclusive, um editorial da mesma revista The Lancet, publicado em maio de 2020, em que os editores afirmam que “a maior ameaça à resposta do Brasil à Covid-19 parece ser seu presidente, Jair Bolsonaro, mais empenhado em uma guerra contra a ciência do que contra o novo vírus”.

“Coincidentemente ou não, no dia que o presidente Bolsonaro me atacou no Twitter, Manaus estava enfrentando a pior situação desde o início da pandemia, com a falta de oxigênio e pacientes morrendo asfixiados. Na mesma semana, o Ministério da Saúde teve uma publicação no Twitter marcada por violar as regras da plataforma ao disseminar informações enganosas e potencialmente danosas relacionadas à Covid-19.”

Para Hallal, os ataques do governo à ciência não começaram na pandemia, mas foram intensificados por ela. “Os cortes do presidente à ciência e tecnologia desde o início do seu governo e o negacionismo, inclusive dizendo –o único chefe de Estado que disse isso, para meu conhecimento– que não vai tomar a vacina [contra Covid-19], já eram preocupantes.”

“Essas políticas têm um preço. Se o Brasil, cuja população de 211 milhões de habitantes representa 2,7% da população mundial, tivesse contabilizado 2,7% do número de mortes global por Covid-19 [considerando a mortalidade de Covid em torno de 2,1%], 56.311 pessoas teriam morrido. No entanto, até o último dia 21 de janeiro, 212.893 brasileiros morreram por Covid-19. Em outras palavras, são mais de 150 mil vidas perdidas no país devido à condução abaixo do esperado da pandemia. Atacar os cientistas definitivamente não vai resolver o problema”, finaliza o artigo.

28
Set20

Nonsense no governo Bolsonaro comanda e sufoca todo resquício de gravidade

Talis Andrade

 

por Janio de Freitas

- - -

O possível é apenas sondar os traços anedóticos que lhe dão forma e grotesco; e rir

 

Um riso mal contido, pode ser, talvez envergonhado. Como na extravagância de alguns tombos, sobretudo os vistos. E é disso mesmo que se trata: cenas patéticas de um tombo, o deste país.

O Brasil a ameaçar de represália os grandes países que sustem importações de produtos brasileiros, em reação à sanha destruidora na Amazônia. Cada grão de soja e grama de carne que deixem de importar é um rombo na economia bolsonara. E logo quem a propalar a ameaça, o general Heleno, não propriamente do alto de sua lucidez.

Fiel ao sentimento de que o cinismo não tem limite, nem para traição à memória de seus ídolos torturadores e matadores, Bolsonaro a dizer à ONU que “a liberdade é o bem maior da humanidade”. Depois de atribuir a interesses internacionais na riqueza da Amazônia uma campanha para “prejudicar o governo e o próprio Brasil”. No que foi corrigido pelo general Heleno, que, a partir do nível um tanto prejudicado da sua visão do mundo, identificou outra motivação etérea do mundo: é uma “campanha internacional para derrubar Bolsonaro”.

Tamanho nonsense sufoca todo resquício de gravidade que se queira atribuir-lhe, consideradas as responsabilidades funcionais dos emitentes. O possível é apenas sondar os traços anedóticos que lhe dão forma e grotesco. E rir.

Acima e abaixo dos delírios, o problema é que os militares influentes do Exército não compreenderam que a Amazônia é um amálgama de características de flora e de fauna, geológicas, climáticas, fluviais e pluviais, todas em mútua dependência. E que a entrega desse mundo de peculiaridades interligadas à exploração humana resultará, é inevitável, em que não será mais a Amazônia.

Da mata atlântica, por exemplo, restam no máximo 16%, em estimativa otimista. Do Nordeste ao Sul, por toda a costa e por entradas até o interior profundo, o que há são terras descascadas, depauperadas, ocupadas do modo mais desordenado. Cidades em que tudo se amontoa com vastidões vazias em torno. Poluição, agravamentos climáticos —é a realidade que tomou o lugar da mata atlântica. Assim seria com a entrega da Amazônia à exploração humana: não mais Amazônia.

A “exploração racional e planejada” é balela. Iniciado o processo, será o mesmo de sempre. Os aldeamentos logo se transformam em vilas, daí em cidades, a necessidade de infraestrutura e mais exploração transformam mais áreas, e assim em sucessivas destruições ambientais. A entrega da Amazônia à exploração industrial terá, porém, consequências climáticas muito maiores no Brasil todo, e por extensão no mundo, do que o miserável fim da mata atlântica.

Apesar disso, a ocupação da Amazônia é uma tese dita estratégica dos militares do Exército. Ricardo Galvão, cientista e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, desmontou o argumento do vice Hamilton Mourão para criação de uma agência para concentrar todos os monitoramentos da Amazônia. Uma agência sob controle militar. “Como o norte-americano NRO” é um argumento aqui muito forte. Mas errado, se de boa ou má-fé, fica por clarear. A verdade é que o NRO está proibido de atuar no território dos EUA. E o monitoramento por lá é civil.

Mas a agência militarizada seria apenas a porta-estandarte do Exército. Atrás viria o que consiste no projeto real: não só o monitoramento, mas o controle absoluto da Amazônia pelo Exército. Um grande território militar, sonhado como o meio eficaz de neutralizar a presumida ganância de uma ou de outra potência sobre a posse da Amazônia. Até décadas recentes, e por muito tempo, o delírio era a guerra inevitável com a Argentina —motivo até de promoção a general por mérito de planejamentos, como foi o caso do último algoz de João Goulart, o seu amigo Amaury Kruel. No mapa, da Argentina para a Amazônia são centímetros possíveis.

Enquanto o nonsense comanda, o fogo está autorizado a antecipar o serviço.

Paraíso

O Conselho Nacional do Ministério Público vai decidir se suspende por 90 dias o procurador Diogo Castor de Mattos, como proposto pelo corregedor Rinaldo Reis Lima. Ex-integrante do grupo de Deltan Dallagnol em Curitiba, Castor patrocinou enorme outdoor na cidade com fotos do seu chefe e de Sergio Moro. Falta disciplinar e, entre nós outros, ética.

Mas não só. Castor o fez com identidade falsa, usando nome de pessoa que nem ao menos foi informada. No paraíso corporativista, mesmo para tal fraude bastam 90 dias de suspensão. Para os de fora da patota, processo criminal e possibilidade até de cadeia.

Mais que ironia

Bolívia tem na América Latina, como constatado pela ONU, a segunda melhor condição para as mulheres em direitos políticos e em paridade política com os homens (só o México a supera, sendo o Brasil o 3º pior). As bolivianas vieram das últimas colocações para o topo com as conquistas introduzidas, muitas, e outras incentivadas, por Evo Morales como presidente eleito e legítimo, caso raro na história boliviana.

As mulheres congressistas foram uma força decisiva no golpe que derrubou Morales. E uma delas usurpou-lhe a Presidência, que exerce até hoje ilegalmente, com apoio da OEA e de muitos países latino-americanos. Entre os quais, é claro, o Brasil.

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21
Set20

Governo Bolsonaro deve ser principal processado por política de devastação no Pantanal

Talis Andrade

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Da decisão do presidente vieram cortes de verbas, redução dos quadros técnicos e científicos e nomeações de dirigentes inabilitados

 

por Janio de Freitas

- - -

O governo Bolsonaro deve ser o primeiro e principal processado pelo crime de devastação incendiária do Pantanal. As leis de proteção ambiental e numerosos acordos internacionais de que o Brasil é signatário, assim como a própria Constituição, foram e continuam transgredidos na meticulosa desmontagem do sistema de vigilância, prevenção e combate às agressões ao patrimônio natural. Esta é, notoriamente, uma rara política de governo em um governo sem políticas.

É notória, aqui e no mundo, a responsabilidade pessoal e direta de Bolsonaro. Da sua decisão vieram os cortes de verbas, a redução dos quadros técnicos e científicos, e as nomeações de dirigentes inabilitados em setores como Ibama, Funai, ICMBio, INPE, e os outros de importância vital para a Amazônia, o Pantanal e os povos indígenas.

Amazônia tem 2º pior agosto de desmate, atrás só de 2019” (já governo Bolsonaro). “Em 14 dias, Amazônia queimou mais que em setembro de 2019.” Títulos como estes recentes, da Folha, sucederam-se desde a posse de Bolsonaro. E, por consequência, a do executor do projeto de desmonte da proteção ambiental, Ricardo Salles —já condenado por improbidade na secretaria do Meio Ambiente de um governo paulista de Geraldo Alckmin.

A indiferença de Bolsonaro ao clamor interno e internacional, a cada pesquisa de desmatamento e queimadas, só não foi completa por suas provocações e represálias administrativas. Entre elas, a demissão escandalosa do cientista Ricardo Galvão, conceituado presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais que divulgou, como de hábito e do seu dever, o crescimento alarmante da devastação amazônica no então novo governo.

Constatado que o fogo no Pantanal tornava-se incontrolável, a explicação foi imediata: não era tanto pelo fogo, mas pela falta de equipes habilitadas para combatê-lo. Explicação complementar: a verba deste ano para combatentes a queimadas, em comparação com a de 2019, foi cortada em mais de metade. A dimensão da tragédia pantaneira não estava prevista, mas o fogaréu na Amazônia já exigia maior investimento, e não perda de verba.

Acima das necessidades está a política contra a Amazônia e a riqueza ambiental. Com mais provas oferecidas pelo próprio governo. O Orçamento para 2021 mandado por Bolsonaro ao Congresso, por exemplo, corta ainda mais os recursos dos setores de monitoramento, defesa e pesquisa visados pela destruição programada.

Essa política transgride a legislação. É criminosa. Proporciona a apropriação de terras do patrimônio da União, o desmatamento e o contrabando de madeira valiosa. Protege o garimpo ilegal e se incorpora a toda essa criminalidade. Bolsonaro e seu governo são passíveis de processo criminal — e o merecem.

Voz séria

A esquerda brasileira está chamada a refletir sobre o apoio incondicional a Nicolás Maduro e ao regime venezuelano. O mais recente relatório a pedir “investigações imediatas” do governo Maduro, sobre torturas e execuções extrajudiciais, saiu sob a responsabilidade de Michelle Bachelet. Alta comissária do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a ex-presidente do Chile não se confunde com instrumentos da guerra de propaganda e outras guerras dos Estados Unidos contra o governo Maduro.

Conquistas proporcionadas à maioria desde sempre desvalida, mantidas ou mesmo ampliadas por Maduro, não se confundem com criminalidade política.

Em cena

Durante alguns dias, as notícias foram inflando: a equipe econômica quer congelar aposentadoria por dois anos, governo quer cortar R$ 10 bilhões do auxílio a idosos e pobres com deficiências, senador bolsonarista (Márcio Bittar, MDB-AC) quer congelar salário mínimo. Então Bolsonaro saca a espada e salva os ameaçados. Com a TV devidamente preparada para o ato. Quem de nada desconfiou tem, ainda, uma chance. O que Abraham Weintraub fez para receber cargo precioso, quando deveria ser excluído do governo pelos insultos vagabundos ao Supremo e seus ministros? Nada. A menos que alguém lhe devesse uma compensação, por se dar mal em um gesto, como diziam, a pedidos.

 

 

16
Set20

Lula entrevista: “Podridão da Lava Jato enfraquece democracia"

Talis Andrade

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Em entrevista ao ‘Diário do Centro do Mundo’, ex-presidente reagiu à nova farsa montada pela operação sob forma de mais uma “denúncia” contra o Instituto Lula. ”Qual o crime eu cometi? Eu dei soberania a esse país. Esse país tinha orgulho quando eu governava, cresceu, acabou com a fome, melhorou a renda. O crime que eu cometi foi o “crime” da ousadia, de que era possível permitir que os pobres participassem do orçamento da Federação, que pudessem tomar café, almoçar e jantar todo dia”, lembrou o ex-presidente. “Como eu sei que eles querem anular essa parte da história do Brasil, meu papel é defender esse legado”, ressaltou

A nova farsa da Lava Jato, na forma de mais uma “denúncia” armada para atacar Lula, foi desmascarada nesta terça-feira (15) pelo ex-presidente, em entrevista ao ‘Diário do Centro do Mundo’ (DCM). Na conversa, que reuniu jornalistas de veículos progressistas e lideranças da esquerda mundial, Lula disse que a mais nova acusação de que o Instituto Lula lavou dinheiro da Odebrecht é mais uma tentativa de desviar o foco das ilegalidades cometidas pelos procuradores.

“[O procurador Deltan] Dallagnon montou uma quadrilha de perseguição, de afirmação da primeira mentira”, disse Lula, fazendo referência ao powerpoint apresentado com estardalhaço na imprensa em 2016, em especial na Rede Globo, que deu amplo espaço para a peça de ficção produzida pela força-tarefa contra ele. À época, Dallagnol fez um espetáculo midiático para apresentar a “tese” da acusação contra Lula por corrupção. “Eles estão presos àquela mentira, eles não têm como sair dela, envolveu muita gente na perspectiva de destruir o Lula”, afirmou.

Segundo Lula, o substituto de Dallagnol na operação, Alessandro Oliveira, não foi escolhido por ser imparcial. “Ele entrou porque compactua com a podridão e com as canalhices que Dallagnol fez, com o objetivo de destruir a industria naval, de óleo, gás, petróleo e de engenharia. Essa gente ainda vai ser condenada por crime de lesa-pátria, por destruído a base industrial desse país”, avaliou Lula. “É questão de tempo”.

“Qual o crime eu cometi? Eu dei soberania a esse país. Esse país tinha orgulho quando eu governava, cresceu , acabou com a fome, melhorou a renda”, pontuou o ex-presidente. “O crime que eu cometi foi o crime da ousadia, de que era possível permitir que os pobres participassem do orçamento da Federação, que pudessem tomar café, almoçar e jantar todo dia”, lembrou o ex-presidente. “Como eu sei que eles querem anular essa parte da história do brasil, meu papel é defender esse legado”.

Lula lembrou das tentativas da força-tarefa para enfraquecer o advogado Cristiano Zanin, que demonstrou, desde o início das investidas da Lava Jato contra o líder petista, o caráter político e persecutório da operação. “Estão fazendo a mesma canalhice com o Zanin”, observou.

“Essa podridão está enfraquecendo a democracia brasileira, está escancarando e desmoralizando a confiança que a sociedade aprendeu a ter no Ministério Público. Até quando o Poder judiciário será conivente com essa podridão?’, indagou. Lula lembrou que o julgamento do caso do powerpoint foi adiado 42 vezes, livrando procurador Deltan Dallagnol no Conselho Nacional do Ministério Público. “Isso é uma farsa, uma coisa mentirosa”, disse Lula. “Para mim, é questão de honra a minha inocência e a punição dessa parte podre do Ministério Público”.

Integração Latino-americana

Lula reforçou a importância da integração latino-americana como forma de resistência ao neoliberalismo golpista, que vem promovendo ataques à Região há décadas. Ele citou o caso da Bolívia, vítima de um golpe que derrubou Evo Morales do poder. “Fui o primeiro operário eleito e o Evo Morales foi o primeiro indígena. Ele fez uma administração estupenda, nunca na história da Bolívia, houve tanto crescimento econômico e o povo teve tanta ascensão social como no governo dele”, ressaltou.

“Na linhagem e na política da América Latina, pobre não pode subir um degrau na escada de ascensão social. Espero que o MAS, o partido do Evo, possa ganhar as eleições na Bolívia”.

7 de setembro

Lula teceu comentários sobre seu histórico discurso do dia 7 de setembro, que atingiu repercussão internacional, em comparação ao pífio pronunciamento presidencial. “O problema é que ele não tem o que falar, porque ele não tem compromisso com o Brasil, a não ser liberar porte de arma. Deveríamos ter um presidente que pensasse em livro, em carteira de trabalho, no salário mínimo, nas universidades, em ciência e tecnologia, na saúde e nas pessoas”, destacou.

Segundo Lula, por causa de Bolsonaro, uma parte da sociedade brasileira está tomada pelo ódio, por mentiras. “A Rede Globo e outros meios de comunicação têm responsabilidade com o que aconteceu nesse país”, argumentou. “Esse fascismo não nasceu de graça, isso vem na negação da política, dos partidos”, lamentou.

Coronavírus

Ele também condenou a condução do governo durante a crise sanitária que teve início em fevereiro no país. Segundo Lula, Bolsonaro deveria ter evitado o “genocídio” da pandemia do coronavírus. “Temos um país governado por um desgoverno, um país dominado pela cabeça conversadora de uma elite que não pensa no povo como ser humano, pensa como número”.

Fortalecimento da ONU

Durante a entrevista, Lula defendeu ainda o apoio dos governos à Organização Mundial da Saúde (OMS), que, na sua avaliação, fez um trabalho excepcional no combate à pandemia. “É uma pena que o governante americano, grosseiro e irresponsável como ele é, propôs retirar U$ 400 milhões de ajuda à OMS, quando na verdade deveria ter colocado R$ 400 milhões a mais”. Lula defendeu uma reformulação do sistema ONU, por meio do fortalecimento de suas agências e uma atividade mais responsável e atuante, com papel mais destacado no combate às desigualdades.

“Não temos fome porque falta alimento, temos fome porque falta dinheiro para que as pessoas tenham acesso ao alimento”, explicou. “É importante que o mundo volte a ser mais humanizado e solidário”. Para isso, argumentou Lula, a ONU precisa ter mais força de decisão para que suas resoluções sejam cumpridas por todos os países.

Eleições municipais

Lula voltou a defender que partidos do campo progressista possam lançar candidaturas próprias nas eleições municipais. “Eu acho isso um luxo no Brasil, que partidos possam lançar candidato”, disse. “Quem for para o segundo turno, que tenha o apoio dos outros. Deixem cada um disputar voto, fazer campanha, defender seu programa, ir na televisão”.

“Essa campanha é muito importante para o PT, o partido está apresentando candidatos em muitas cidades. Tenho dito que o PT tem história para contar ao povo, tem programa e tem legado para conversar com o povo”. Segundo Lula, o PT tem a chance de perguntar ao eleitor qual é o partido que mais defendeu o trabalhador no país. “O PT pode fazer essa pergunta: quem é que fez mais política de inclusão social do que o PT?”, questionou.

Pantanal em chamas

Falando sobre os incêndios que assolam o Pantanal, Lula também criticou a política do governo para o meio ambiente. Segundo o ex-presidente, Bolsonaro desmontou mecanismos de proteção ambiental, como políticas preventivas para evitar incêndios. Ele mencionou a demissão do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, no fim de 2019.

“Tentaram desmoralizar uma instituição de muita credibilidade internacional, desmontaram o Ibama”, criticou Lula, que também não poupou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles: “ele não tem respeito pela natureza, pelos índios, negros, pelas matas, pelas florestas”, afirmou Lula. Para o ex-presidente, os incêndios não são causados por Bolsonaro, mas o quadro foi agravado “por causa dessa irresponsabilidade dele e da sua turma”.

Assange

Lula também se manifestou sobre o processo de extradição do ativista Julian Assange, fundador do ‘Wikileaks’, para os EUA, onde poderá ser condenado a 175 anos de prisão. “O Assange não pode ser extraditado, se as pessoas acreditam na democracia”, opinou Lula. Para ele, Assange deveria ser premiado pela revelação ao mundo de atrocidades cometidas pelos EUA e outras nações.

“Assange não merece ser punido, merece ser reconhecido como um homem que prestou um enorme serviço à humanidade, denunciando o genocídio das guerras, da mentira, da manipulação dos EUA”, afirmou Lula. Ele cobrou de associações internacionais de imprensa e organizações da sociedade civil uma posição clara em defesa de Assange e da liberdade de expressão. “[A extradição] não será o joelho de um policial sobre um homem negro, será o joelho de milhões de governantes do mundo sufocando o Assange para que ele morra em vida. Não temos o direito de permitir isso”.

 

11
Jan20

Óleo, lodo, fogo: governo legitima ataques aos bens da natureza

Talis Andrade

RETROSPECTIVA 2019

Ano foi marcado pelo crime socioambiental de Brumadinho e pelas queimadas na Amazônia e no PantanalIncêndios na Amazônia quebraram recorde - Créditos:  Daniel Beltrá

Incêndios na Amazônia quebraram recorde / Daniel Beltrá
 
Catarina Barbosa

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Jair Bolsonaro sempre deixou claro que a preservação do meio ambiente e as melhorias das condições de vida de camponeses, quilombolas e indígenas não seriam prioridade em sua gestão. Desde que tomou posse, em janeiro deste ano, foram registrados recordes de desmatamento e uma série de medidas alinhadas aos interesses da bancada ruralista.

Ainda em campanha, Bolsonaro mirou no que chamou de "indústria da multa" do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O capitão reformado disse também que não faria a homologação de terras indígenas e quilombolas e cogitou até fundir os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura.

A ideia não deu certo, mas o presidente de extrema direita arrumou um jeito de colocar um ruralista na pasta do Meio Ambiente. Ricardo Salles é advogado e alvo de ações judiciais por improbidade administrativa, que culminaram na suspensão de seus direitos políticos por três anos.. Mesmo que o artigo 87 da Constituição Federal determine que os “ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos”, Bolsonaro manteve Salles no cargo, provando sua determinação em cumprir os interesses do agronegócio.

A primeira medida do ministro foi extinguir a Secretaria de Mudanças do Clima e Florestas. Salles disse à época que a secretaria havia se transformado em um ajuntamento de pessoas que "ficavam fazendo turismo internacional às custas do governo", citando servidores que haviam viajado para a Polônia para participar da Conferência da ONU sobre Clima, a COP-24 – encontro anual dos países-membros, realizado a cada dezembro.

Lama

O primeiro grande crime ambiental registrado no período do governo Bolsonaro foi o rompimento da Barragem I do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), no dia 25 de janeiro, deixando 270 pessoas mortas, 22 corpos soterrados e despejando 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no Rio Paraopeba.

As 944 mil pessoas atingidas, que moram em 18 municípios atravessados pelo rio, tiveram suas vidas devastadas para sempre. A Vale, por sua vez, continua explorando o minério livremente na região.

Sabe-se que o crime de Brumadinho poderia ter sido evitado. O então superintendente do Ibama de Minas Gerais, Julio Cezar Dutra Grillo, ao participar de uma reunião extraordinária da Câmara de Atividades Minerárias (CMI), em dezembro de 2018, disse que a barragem "não apresentava risco zero". A reunião tratava da aprovação da licença para as operações da Mina de Córrego de Feijão. Grillo foi exonerado em 28 de fevereiro deste ano, com mais 21 superintendentes regionais do Ibama, sem motivo aparente.

Em abril, Salles mirou mais uma vez o Ibama, reduzindo em 24% os recursos do órgão. Com R$ 285 milhões destinados somente para as despesas da pasta, as fiscalizações contra o desmatamento ilegal foram praticamente extintas. Segundo dados do Observatório do Clima, as multas aplicadas pelo Ibama em 2019 são as menores em 15 anos.

Com o Ibama fragilizado, o contingenciamento seguiu para outras pastas ligadas ao meio ambiente. Em maio, foi a vez da Política Nacional sobre Mudança do Clima sofrer um corte de R$ 11,2 milhões, o equivalente a 95% do orçamento. Com isso, ficaram disponíveis R$ 500 mil para combater as mudanças climáticas durante todo o ano de 2019.

Rejeitos tóxicos de mineração tomaram conta de Brumadinho (Foto: Mídia Ninja)

 

Fogo

Em 2019, a Amazônia queimou mais que nos sete anos anteriores. Fazendeiros ligados ao agronegócio foram os responsáveis pelo “dia do fogo”, em agosto deste ano. A série de queimadas orquestradas ao longo da BR-163, no sudoeste do Pará, geraram uma fumaça que chegou a ser vista em cidades como São Paulo, no sudeste do país.

Apoiados por Bolsonaro, os produtores anunciaram que a ideia era chamar a atenção do governo para dizer que "queriam trabalhar". A informação foi divulgada pelo veículo local Folha do Progresso.

Os dados do desmatamento foram anunciados com preocupação pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), reconhecido mundialmente pela sua produção científica. Semanas antes do "dia do fogo", o instituto divulgou um alerta. Bolsonaro não apenas disse que os dados do Inpe eram mentirosos, como também exonerou o presidente do órgão, Ricardo Galvão – considerado, pela revista britânica Nature, um dos 10 cientistas do ano.

Segundo dados do Inpe, foram mais de 90 mil focos de queimadas registrados no ano, uma alta de quase 30% em relação ao ano anterior.

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O Pantanal também queimou acima da média – por ação do homem. Foram cerca de 1.730 km² devastados no Mato Grosso do Sul, só de 27 de outubro a 9 de novembro. A área devastada no mês passado é maior que a cidade de São Paulo (1.521 km²).

O avanço das queimadas ocorreu paralelamente a discursos agressivos de Bolsonaro contra Organizações Não Governamentais (ONG) brasileiras e estrangeiras que atuam na Amazônia. 

Nesse contexto, foi encerrado o Fundo Amazônia, que financiava projetos de pesquisa essenciais para a fiscalização e combate ao desmatamento ilegal. O fim dos repasses se deu depois de Salles anunciar que usaria a verba para pagar indenizações a proprietários de terras em unidades de conservação. A proposta foi rechaçada pelos governos dos países doadores, o que colocou fim ao programa que nos últimos dez anos recebeu mais de R$ 3,1 bilhões em doações.Maioria das populações atingidas, comunidades pobres e pesqueiras, tiveram de se mobilizar sozinhas para tentar retirar o óleo vazado no mar do Nordeste (Foto: Leo Malafaia/AFP)

 

Óleo

Os meses de outubro e novembro ficaram marcados pela inércia do governo Bolsonaro diante do óleo que se alastrava pelo litoral do nordeste brasileiro.

Salles tentou justificar a falta de assistência do Estado colocando a culpa em governos anteriores. O Ministério Público Federal (MPF) solicitou à Justiça Federal em Sergipe que determinasse ao governo Bolsonaro a realização de uma reunião extraordinária para definir ações de proteção, recuperação e compensação dos danos sociais e ambientais, sob pena de multa de R$ 1 milhão por dia de atraso.

Por fim, foram voluntários os que realmente fizeram – ou tentaram – fazer a limpeza das praias. Entretanto, devido à alta toxicidade do óleo, muitas pessoas apresentaram ardência na pele (dermatite de contato), irritação nos olhos, náuseas e vômitos. O apoio prestado aos voluntários foi feito pelas prefeituras locais.

A COP-25, que poderia ser uma oportunidade para pactuar medidas de proteção ambiental em cooperação com outros países, terminou sem acordo. Salles, que foi ao encontro de mãos abanando, sem nenhuma proposta concreta, voltou ao menos com um troféu: o "Fóssil do Dia", uma "homenagem às avessas" entregue aos países que mais contribuíram para as mudanças climáticas em 2019.

O ano termina com a MP da Regularização Fundiária – que, segundo especialistas, legitima a grilagem e contribui para a devastação da Amazônia – e com a perseguição a brigadistas em Alter do Chão (PA), acusados sem provas de provocar incêndios na floresta.

lama fogo piche familia tradicional oleo.jpg

 

 

01
Jan20

O Brasil sob Bolsonaro, segundo a imprensa alemã

Talis Andrade

Em 12 meses, veículos destacaram derretimento da imagem do país após desmonte de políticas ambientais e queimadas. Suspeitas sobre Flávio Bolsonaro e declarações preconceituosas do presidente também foram abordadas.Symbolbild deutsche Presse Presseschau (picture-alliance/dpa)

Süddeutsche Zeitung: "Irmãos de alma” – sobre a aproximação de Bolsonaro com os EUA e fake news

04/01/2019

"O populista Donald Trump e o extremista de direita Jair Bolsonaro têm tom e estilo semelhantes. Com métodos parecidos, conseguiram conquistar os cargos políticos mais altos no Brasil e nos Estados Unidos. Outra semelhança: supostamente, tanto Trump quanto Bolsonaro tiveram apoio ilegal durante a campanha eleitoral. O chamado escândalo da Rússia nos EUA encontra seu equivalente brasileiro num escândalo envolvendo o serviço de mensagens WhatsApp”, apontou o jornal de Munique.

 

Süddeutsche Zeitung: "Flávio Bolsonaro e o matador de aluguel” – os problemas do filho do presidente

adriano magalhães da Nóbrega .png

 

04/02/2019

"O senador brasileiro Flávio Bolsonaro é chamado de Zero Um pelo pai. (...) E Zero um se tornou um filho-problema para o novo presidente, apenas um mês depois da troca de governo. Tornou-se público que Flávio Bolsonaro empregou como assessoras, até novembro de 2018, a mãe e a esposa de Adriano da Nóbrega. Nóbrega é considerado um dos principais matadores de aluguel do Rio. Ele é suspeito de ser um dos líderes do esquadrão da morte Escritório do Crime.”

 

Handelsblatt: "O imprevisível" – sobre o estilo do presidente Bolsonaro

28/03/2019

"Desde 1° de janeiro, Bolsonaro governa o Brasil – ou melhor: ele deveria governar. É que o populista de direita se ocupa bem pouco dos reais negócios do governo, que parecem não interessá-lo. Diante da elite econômica internacional em Davos, ele não discursou nem por seis minutos. Muitos no Brasil pensam: ‘ainda bem'. É que, quando Bolsonaro se pronuncia com parcos conhecimentos sobre a futura reforma, difama o Carnaval com vídeos obscenos ou demite seu ministro da Secretaria-Geral da Presidência por pressão de seus filhos, os mercados financeiros ficam nervosos”, publicou o diário econômico alemão.

 

Frankfurter Rundschau: "Cem dias de Bolsonaro: propaganda de direita e constrangimentos” – sobre os primeiros meses turbulentos do presidente

10/04/2019

"Os primeiros três meses do ex-paraquedista Jair Bolsonaro na Presidência ficarão na lembrança do maior e mais importante país da América Latina como constrangedores. Desde tuítes obscenos sobre xixi no carnaval, passando pelo tratamento brusco dado a seus ministros, até decisões sem qualquer sombra de expertise, nada ficou de fora. Quem sofre é o Brasil e a imagem do país”, escreveu o diário de Frankfurt.

 

Süddeutsche Zeitung: "Combustível acabando” – a queda de popularidade Bolsonaro

17/04/2019

"As esperanças que seus apoiadores depositaram nele foram frustradas por Jair Bolsonaro nos seus três primeiros meses. Isso se reflete numa forte queda na sua popularidade. Desde o retorno do Brasil à democracia, em 1985, é a pior avaliação de um presidente depois de três meses no cargo.”

 

Frankfurter Allgemeine Zeitung: "A jornada errática de Bolsonaro” – sobre o estilo populista de Bolsonaro

12/04/2019

"Em fins de março, Bolsonaro ordenou que fosse celebrado o aniversário do golpe militar, o que causou estranhamento até entre os generais. E um tuíte sobre a decadência moral do carnaval incomodou até mesmo muitos de seus aliados mais próximos – na Bolsa de Nova York, muitos investidores buscaram informações, a sério, sobre o estado de saúde de Bolsonaro”, publicou o jornal de Frankfurt.

 

Bild.de: "Turistas gays são indesejados sob Bolsonaro” – sobre declaração homofóbica do presidente

27/04/2019

"O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, afirmou durante um café da manhã com a imprensa na quinta-feira que não quer que seu país se torne ‘um paraíso para turistas gays'. ‘Nós temos famílias', completou Bolsonaro. Interessante é a diferenciação que Bolsonaro também volta a ressaltar agora. Porque, claramente, o político de 64 anos parece não ter problema algum com o turismo sexual em si, contanto que ele se limite ao relacionamento heterossexual. ‘Se quiserem vir aqui fazer sexo com uma mulher, fiquem à vontade', disse Bolsonaro”, publicou o site do principal tabloide alemão.

 

Deutschlandfunk Kultur: "Destruidor ambiental Bolsonaro e o desmatamento na Amazônia” – sobre desmonte de políticas indigenistas

 

29/04/2019

"Os senhores originais das florestas, os povos indígenas, não podem esperar apoio do novo presidente. Bolsonaro tem repetidamente deixado claro que quer desenvolver e explorar a região amazônica. Ele quer criar estradas, suspender ou acabar com regras de proteção ambiental. Do ponto de vista de Bolsonaro, ainda há espaço suficiente na Amazônia para pastagens e plantações de soja. E ele anunciou que não concederá um palmo a mais de terra sequer para os povos indígenas”, informou a emissora alemã.

 

Frankurter Allgemeine Zeitung: "Pelos cidadãos de bem” – sobre ampliação de acesso a armas por Bolsonaro

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09/05/2019

"A simpatia de Bolsonaro pelas armas se manifestou agora num novo decreto: quem tem posse de arma de fogo poderá comprar agora até 5 mil cartuchos (...). Em 2017, houve 63.880 mortes violentas no Brasil. Em nenhum outro lugar do mundo tantas pessoas são mortas por armas de fogo como no Brasil. O país registrou também um aumento acentuado do número de mortos por policiais nos últimos meses. No governo Bolsonaro, não há sinais de uma atenuação da situação – pelo contrário. Na sociedade brasileira circula um chavão: bandido bom é bandido morto.”

 

Die Welt: "O presidente desafortunado” – sobre o derretimento da imagem do Brasil no exterior 

02/07/2019

"A imagem do presidente brasileiro Jair Bolsonaro no exterior é devastadora. [...] A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, juntou-se às fileiras dos críticos do presidente populista de direita. Bolsonaro respondeu com igual clareza e acusou os europeus de ‘psicose ambiental'. Apesar de tudo, Merkel quer fazer negócios com o potencial talhador de florestas”, publicou o jornal conservador de Berlim.

 

Der Tagesspiegel: "Presidente do Brasil demite guardião da Floresta Amazônica” – sobre conflitos com o Inpe

05/08/2019

"Ricardo Galvão é um dos cientistas mais renomados do Brasil. O físico chefiava o Inpe. Agora o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, exonerou Galvão, de 71 anos. A razão é simples: os dados divulgados pelo Inpe não agradam aos extremistas de direita. Eles mostram um aumento dramático no desmatamento ilegal na Amazônia durante seu mandato. O presidente Bolsonaro não quer admitir isso. Ele alega que os dados foram inflados para prejudicar a imagem do Brasil no mundo."

 

Frankfurter Allgemeine Zeitung: "Bolsonaro depreza financiamento alemão”, sobre suspensão de verba alemã para projetos ambientais no Brasil

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12/08/2019

"Segundo o presidente Jair Bolsonaro, o Brasil não precisa do dinheiro da Alemanha para proteger a Floresta Amazônica. ‘Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso', afirmou Bolsonaro. Bolsonaro quer explorar mais economicamente a Região Amazônica, não demarcar mais áreas de proteção e permitir mais desflorestamento. Bolsonaro é cético das mudanças climáticas e aliado da indústria agrícola.”

 

Stern – "Brincando com fogo”, sobre a visão ambiental de Bolsonaro em meio às queimadas

bolsonaro amazonia queima.jpeg

 

29/08/2019

"Se você quer saber como o homem realmente encara questões ambientais, basta ver seu histórico. Em janeiro de 2012, Bolsonaro foi flagrado pescando ilegalmente em uma reserva marinha na costa do Rio de Janeiro. Um funcionário do Ibama, José Morelli, lhe aplicou uma multa de 10 mil reais. Para Bolsonaro, então deputado federal, essa foi a ocasião para uma vendeta sem precedentes: Após sua eleição como presidente, ele passou a difamar o Ibama como uma mera "indústria de multas". No final de março, o servidor Morelli – a essa altura atuando como fiscal na Amazônia – foi exonerado do cargo”, escreveu a revista alemã.

 

Süddeutsche Zeitung: "Bolsonaro só entende a linguagem dura”, sobre a necessidade da comunidade internacional agir para conter queimadas

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01/09/2019

"Frequentemente o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, é comparado a Donald Trump. Isso é injusto porque, ao lado do brasileiro, o presidente americano parece um cavalheiro. Isso foi vivenciado nesta semana por Emmanuel Macron. Depois de ter criticado o fraco combate aos incêndios na Amazônia, o francês teve que aguentar insultos a sua mulher por parte de Bolsonaro nas redes sociais. Esse é um nível ao qual nem mesmo Trump desceu.

Não. O presidente do Brasil não é um Trump tropical. Ele pertence a uma categoria dos que glorificam a violência, como o presidente filipino, Rodrigo Duterte, ou de intransigentes autocratas, como o venezuelano Nicolás Maduro.”

 

Die Tageszeitung: "Até os joelhos nesta lama negra” – sobre a falta de ação do governo na crise ambiental no litoral do Nordeste

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22/10/2019

"Um vazamento de óleo se espalha na costa nordeste do país. No início de setembro apareceram as primeiras manchas negras. Atualmente mais de 160 praias em nove estados foram afetadas. Para o Brasil, a catástrofe ambiental ocorre no pior momento possível. Após os incêndios florestais na Amazônia e as críticas internacionais à política ambiental, o governo está abalado. Mais uma vez, ele não agiu rápido o suficiente. O presidente Jair Bolsonaro é acusado de falta de ação”, apontou o jornal berlinense.

 

Der Spiegel: "O mestre-demolidor” – sobre o derretimento da imagem do Brasil no exterior

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26/10/2019

"Faz um ano que Jair Bolsonaro venceu a eleição presidencial no Brasil. Desde janeiro ele desempenha as funções do cargo, e é raro um chefe de Estado que tenha danificado a imagem de uma nação de forma tão veloz e duradoura quanto ele. O Brasil, que por muito tempo foi um país emergente em ascensão, é hoje um obscuro Estado pária, em que fanáticos conservadores travam uma campanha de guerra contra um inimigo que só existe na própria imaginação”, descreveu a revista semanal alemã.

 

Tagesspiegel: "Sob suspeita” – sobre reação de Bolsonaro a reportagem que ligou sua família ao caso Marielle

clovis milicia porteiro marielle Franco.jpg

 

31/10/2019

"O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ficou furioso. Ele xingou os meios de comunicação, descrevendo a Globo, a maior empresa de mídia do país, como ‘imprensa porca, nojenta, canalha e imoral'.  Deve ter acontecido muita coisa para o presidente do Brasil se levantar pouco antes das 4h da manhã de sábado na Arábia Saudita para gravar um vídeo de 23 minutos. Bolsonaro negociou um acordo com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman no montante de 15 bilhões de dólares. Por tal, Bolsonaro esperava, aparentemente, elogios da mídia brasileira. Mas a TV Globo jogou uma bomba durante seu principal noticiário”, publicou o jornal de Berlim.

______________

[Transcrito da Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha, que produz jornalismo em 30 idiomas]

16
Ago19

Bolsonaro é ridicularizado na TV alemã

Talis Andrade

Em horário nobre, programa humorístico da principal rede de televisão pública da Alemanha satiriza o governo brasileiro, criticando suas políticas ambientais e agrícolas e o crescente desmatamento na Amazônia

Fotomontagem com Bolsonaro com chapéu de bufão, segurando garrafa de agrotóxico, com boi e trator ao fundo

Presidente brasileiro é o "bufão do agronegócio", segundo humorístico

 

Borat, bobo da corte e protagonista do clássico de terror Massacre da serra elétrica – essas foram algumas das associações feitas ao presidente Jair Bolsonaro pelo programa humorístico alemão Extra 3, transmitido na noite de quinta-feira (15/08).

Atração de horário nobre da ARD, principal rede de televisão pública alemã, o programa satirizou por quase cinco minutos o governo do presidente brasileiro, criticando principalmente sua política ambiental e o desmatamento na Amazônia.

"Um sujeito que não pensa nem um pouco sobre sustentabilidade e emissão de CO2 é o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, o 'Trump do samba'. Mas alguns dizem também 'o boçal de Ipanema'", afirma o apresentador Christian Ehring, em frente a uma fotomontagem de Bolsonaro vestindo a sunga do personagem Borat, criado pelo humorista britânico Sacha Baron Cohen.

 

"Bolsonaro deixa a floresta tropical ser destruída para que gado possa pastar e para que possa ser plantada soja para produzir ração para o gado", continua Ehring, após mencionar os mais recentes dados sobre desmatamento no Brasil e diante de outra montagem, dessa vez mostrando Bolsonaro com uma serra elétrica nas mãos.

"Desde a posse do presidente Jair Bolsonaro, o desmatamento cresceu significativamente e pode continuar aumentando a longo prazo", diz uma voz em off, após aparecer uma foto do líder brasileiro como um "bobo da corte do agronegócio", segurando uma garrafa de pesticida.

O apresentador destaca ainda que o presidente "não se importa nem um pouco" com a suspensão de verbas para projetos ambientais anunciada pelo Ministério do Meio Ambiente alemão no fim de semana. "Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, tá ok? Lá tá precisando muito mais do que aqui", afirmou Bolsonaro ao reagir com desprezo ao congelamento dos repasses.

 

Ehring também fala sobre o acordo comercial negociado entre a União Europeia e o Mercosul, chamando o pacto de um "romance destrutivo". Atrás dele aparece uma fotomontagem retratando o presidente e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, como uma dançarina sentada em seus braços.

"Bolsonaro ainda demitiu o chefe do próprio instituto que registrou o desmatamento na floresta tropical", ressalta o comediante, referindo-se à demissão de Ricardo Galvão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). "E também nomeou a principal lobista da indústria agropecuária como ministra da Agricultura", complementa.

Em seguida, ele apresenta um videoclipe da chamada Bolsonaro-Song, uma paródia da música Copacabana, sucesso nos anos 70 na voz do americano Barry Manilow. O vídeo intercala cenas de Bolsonaro com imagens de cortes de árvores e queimadas na Amazônia, além de atividade agrícola e pecuária.

O massacre da serra elétrica diz, em alemão, fotomontagem com Bolsonaro, atrás de apresentador

"O massacre da serra elétrica": sátira associa líder brasileiro a filme de terror

 

Humorístico conhecido principalmente pela sátira política, o programa Extra 3 tem como alvos principais os dirigentes alemães. Mas líderes internacionais como o americano Donald Trump, o norte-coreano Kim Jong-un, o britânico Boris Johnson e o russo Vladimir Putin também são personagens recorrentes do programa.

Nem sempre a brincadeira é levada na esportiva pelos estadistas. Um dos mais recentes debates provocados pelo Extra 3 foi uma paródia musical com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, veiculada em março de 2016. O caso gerou um desconforto diplomático entre Berlim e Ancara, e o Ministério do Exterior turco chegou a convocar o embaixador alemão no país para explicações.

A controvérsia chegou ao ápice poucas semanas depois, com uma sátira a Erdogan apresentada em outro programa televisivo, dessa vez pelo humorista Jan Böhmermann. O imbróglio foi parar na Justiça e acabou ganhando as capas dos jornais como o "caso Böhmermann". [Transcrito do DW]

 

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