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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

16
Jul23

O Brasil mostra a sua cara

Talis Andrade

o brasil é feito por nós.jpeg

 

por Gustavo Krause

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Conheci o Brasil definido por muitas caras da linguagem figurada. Reconhecia e acreditava. Por exemplo, o “País do Futuro”, título do livro e expressão de um profundo sentimento afetivo que o grande historiador judeu Stefan Zweig dedicou ao Brasil.

Em Petrópolis, fugido dos horrores nazistas, aportou na acolhedora nação tropical, onde aparentemente encontrara a paz. Aparentemente, porque a introjeção dos demônios emocionais levou Zweig ao trágico pacto suicida com a esposa.

Sua obra caiu no ufanismo do berço esplêndido da “pátria amada”. Eu acreditei. E acredito no afeto, na força nativista que são maiores do que as desilusões.

Ora, sou contemporâneo do enfermiço Jeca Tatu, o caipira desheroi, cria de Monteiro Lobato, hoje, condenado pela inquisição do políticamente correto. Vi antecipadamente a cara do Brasil dos excluídos. Uma sina ou uma tendência?

Quase ao mesmo tempo, escutamos a voz de Euclides da Cunha bradar que outro “Jeca” era “antes de tudo um forte”, o sertanejo, massacrado em Canudos, tangido pela sede e pela fome, sobrevivente da terra rachada pelo sol, virava retirante no “último pau-de-arara”.

Nem sina, nem tendência. Me vem à memória a cara do País Rural, uma extensa fazenda monoexportadora de café, abrigando 63,8% dos 51,9 milhões de habitantes (censo de 1950) e, ao mesmo tempo, uma dinâmica demográfica, econômica e político-cultural.

Na década de 60, o País Jovem ofereceu a chance do bônus demográfico e as transformações econômicas substituíram o País Rural pelo País Urbano, fortemente prejudicadas por duas décadas de instabilidade política, crise do endividamento externo e a hiperinflação.

Pois bem, enquanto isso, o País que também é do futebol (com ressalvas), do samba, do carnaval, da bossa-nova resistiu ao imponderável (a pandemia), ao modo reacionário, corrompido de fazer política e à polarização com reais ameaças à democracia.

Por motivos estranhos, para dizer o mínimo, atrasou o censo demográfico, excepcional mecanismo de auto-conhecimento e que instrumentaliza o senso de realidade de modo a ajustar as políticas públicas e o impulso empreendedor à realidade.

Com os números disponíveis, é possível atentar para dados que darão suporte às decisões necessárias e estratégicas.

A mais evidente e preocupante é a provável antecipação do fim do bônus demográfico previsto para o final da década de 2030 e que deve ocorrer na atual o que afeta diretamente a produtividade econômica e seriamente o sistema previdenciário.

Mais cedo do que se imagina, vai se tornando vital uma nova reforma previdenciária. Esta possibilidade reflete o horror político ao reformismo essencial para a existência de uma sociedade sustentável. A experiência das nações contemporâneas demonstram que os países enriquecem antes de envelhecer. País pobre e velho é um imerecido castigo para nossos filhos e netos.

Nesta mesma toada, é preciso compreender que os fatores estruturais que permeiam a demografia são praticamente irremovíveis a exemplo da redução da taxa de fecundidade. Trata-se de uma decisão parental que define o planejamento familiar.

A ser confirmada pelos números, a migração dos habitantes das cidades de maior população pode ser devida a um ou a combinação de dois fatores: o esgotamento do espaço aglomerado e/ou a busca de melhor qualidade de vida, comprometida pela gestão pública que não oferece serviços adequados à população.

Importante ressaltar que a humanidade está em plena Revolução Indusrial 4.0 e, aceleradamente, desenvolvendo inovações no campo da IA visando ao aumento da produtividade de processos. Nós estamos há, mais de quatro décadas, no faz-de-conta que vamos reformar o sistema tributário nacional.

Desavergonhadamente, prevalece o cínico jargão: “sou favorável à reforma tributária (consenso no mundo abstrato), mas não a essa reforma (dissenso no mundo concreto dos interesses, no mìnimo, inconfessáveis)”.

Já que comecei o artigo falando sobre as caras do Brasil e o que este rosto reflete, não duvido que desejamos a Cara de um País Responsável.

11
Jun23

O dono das ruas

Talis Andrade

carro luiz mendes.jpg

 

por Gustavo Krause

- - -

A edição do Jornal do Comércio de 08/11/07 publicou artigo de minha autoria com o título: “Cabeça, tronco e rodas”, assim definido “Somos o novo centauro, gestado no século XX: metade homem, metade automóvel”.

A revolução industrial 4.0 completou a obra e botou “cabeça” no novo espécime batizado de “veículo autônomo” ou “veículo robótico” que dispensará o condutor humano para ser usado, em larga escala, como dono da rua, espaço que pertence ao povo.

Para mim, uma inutilidade. Não sei dirigir; tentei, era péssimo e um risco para a coletividade; não tenho habilitação; não sou garfado pelo IPVA, nem pela política de preços da Petrobrás.

Henry Ford, o visionário, jamais, imaginaria que a fabricação em série da invenção (modelo Ford T, 1892) chegasse tão longe: afetou a economia, os processos de produção industrial na prática e na teoria (o fordismo e o taylorismo), a cultura e, sobretudo, para o bem ou para o mal, o desenho urbano e o funcionamento das cidades.

A máquina, com cabeça robótica, segue desafiando a concepção do espaço urbano em que o coração – o sistema de mobilidade – com suas artérias (ruas, pontes, avenidas, calçadas, viadutos, vias navegáveis e subterrâneas) – fossem capazes de atender com qualidade as funções clássicas da cidade: trabalhar, habitar, circular e recrear.

Velozes, numerosos e furiosos, o ronco dos motores comprometeu a qualidade de vida das pessoas, transformando o prosaico direito do ir e vir numa batalha neurótica.

No Brasil, a urbanização acelerada transformou o país agrário, em curto espaço de tempo, num país urbano. A migração campo-cidade foi intensa, rápida e desorganizada. Antecipou-se ao ritmo do processo econômico que combina avanço tecnológico na agricultura associado ao crescimento da industrialização e à ampliação de um setor terciário capazes de absorver, em certa medida, o fluxo migratório.

De fato, a Humanidade nasceu no campo e foi morar nas cidades, construção notável do engenho humano como promessa de vida segura e boa para ser vivida.

No caso dos países pobres e em desenvolvimento, infelizmente, a urbanização fez do sonho uma distopia. Desnecessário descrever o que sentimos na própria pele. Cidades conurbadas, entupidas de gente e convivendo com toda ordem de problemas: da violência à poluição, passando pelo dramático cotidiano que é sair de casa para trabalhar.

Com foco na mobilidade, é correto afirmar que estamos diante da crônica de uma tragédia anunciada. Tudo que está às vistas tem uma explicação curta e grossa: o transporte individual deu de goleada no transporte público de passageiros com ajuda das políticas governamemtais. Prometem economia verde e incentivam a produção industrial de “carrinho”, “baratinho” e “poluidorzinho”.

Transporte individual, filho da poderosa indústria automobilística, ultrapassou os limites do suportável. Defronta-se com duas possibilidades: ou se adapta aos novos padrões de produção e consumo ou se inviabiliza.

Por sua vez, a oferta de transporte público como opção rápida, segura e confortável, daria o merecido descanso ao carro no seu verdadeiro abrigo: a garagem. Nada simples.

Porém, já vi e vivi experiências (década de setenta) em que órgãos de planejamento federal, estadual e das áreas metropolitanas (GEIPOT, EBTU, FIDEM E CONDEPE) com recursos nacionais e financiamentos externos criaram um cinturão de estacionamento periférico no Recife (Rua da Aurora e Ilha Joana Bezerra para 2.500 vagas articuladas com ônibus confortáveis e gratuitos até o destino final); ressuscitaram a frota dos ônibus elétricos (eficientes e não poluentes); viabilizaram a II Perimetral (Beberibe/Imbiribeira) com um mínimo de cirurgias urbanas; implantaram o 1º Terminal Integrado (Macaxeira) com ônibus vindos de Paulista e Igarassu; criaram o 1º corredor de transporte com faixa exclusiva para ônibus na Av. Caxangá.

No entanto, a dura realidade atropelou o planejamento urbano e uma governança eficaz de tal forma que a mobilidade urbana se soma ao enorme passivo social dos governos com a população brasileira.

A propósito, o Relatório Global sobre o Transporte Público (MOOVIT/2022), levantamento em cem grandes metrópoles, incluídas dez brasileiras, constatou nossas graves deficiências no setor.

Eis algumas conclusões do relatório: tempo médio de viagem, Recife 64 minutos, a segunda colocada no Brasil e sétima no mundo, atrás do Rio de Janeiro, 67 minutos; em tempo de espera é a quarta cidade do mundo e a primeira do Brasil. Por conta dos congestionamentos, dados do IBGE mostram que os moradores do Recife gastam nos deslocamentos 24 minutos a mais do que a média nacional.

O ex-Prefeito de Bogotá Enrique Peñalosa (1998-2001 e 2016-2019), um inovador em matéria de mobilidade social, aconselha: ao visitar uma cidade, o viajante deve prestar atenção para o cuidado com as calçadas e se diferentes classes sociais viajam em transportes públicos.

Em caso afirmativo, provavelmente, diz ele, estamos diante de uma cidade boa para viver.

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