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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

20
Mai23

Consciência negra

Talis Andrade

 

Foto de Christiana Carvalho
 
 

Em vias públicas, mãos, fuzis e revólveres policiais levam a cabo a perfuração que verte o sangue negro no asfalto quente, em becos e vielas nos quais jorram a vida preta entre os ralos da miséria e do esquecimento

 

por Diego dos Santos Reis /A Terra É Redonda

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Passadas as celebrações do novembro negro e do mês que, em nome de Zumbi e Dandara dos Palmares, rememora, denuncia e exige reparações históricas à população negra brasileira, parece vigorar certo silêncio após a efeméride, no que diz respeito à (in)consciência negra nacional. Reinam, todavia, as imagens associadas à violência, ao genocídio, ao caos e aos casos nunca isolados de racismo que, de norte a sul, cortam o território amefricano. Casos que dilaceram famílias e comunidades, aniquilam sujeitos e arrasam possibilidades de vida plena e digna, tal como garantido na Carta Constitucional brasileira.

Imagens de controle, como enunciadas por Patricia Hill Collins, que reforçam práticas de dominação, criminalização e violência, física e simbólica, voltadas à estigmatização e à legitimação de suas próprias operações de morte. Se a morte ocupa um lugar fundamental nessa produção imagética é na medida em que se constitui como ponto de partida, sob a perspectiva do supremacismo branco, do que seja o destino natural e original do corpo negro, que da morte-em-vida à morte factual passaria de um estado de não-ser ao desaparecer, como o desvanecer da imagem de um fantasma – entre mundos, medos e modos de ser pautados pelo negativo.

Em vida, porém, a consciência retinta de ser, de viver e a teimosia tomam forma, rosto, nome e figura do que, sendo, insiste em desarticular os mundos de morte da branquitude e seus mecanismos de sufocamento, acionados por vias diversas. Em vias públicas, mãos, fuzis e revólveres policiais levam a cabo a perfuração que verte o sangue negro no asfalto quente, em becos e vielas nos quais jorram a vida preta entre os ralos da miséria e do esquecimento; em vias privadas, pelas mãos de algozes e feitores que chamam de amor (?) a doença que extirpa, subjuga e liquida as vidas de mulheres, sobretudo negras, encontradas em sacos pretos, rios, azulejos frios, imobilizadas em fotos que estampam, cotidianamente, pequenos retângulos de jornais sanguinolentos (até quando?).

Ceifadas, entre promessas de amor eterno e o eterno pedido de desculpas das forças policiais e chefes de Estado, desaparecem, em preto e branco, histórias, narrativas e memórias daquelas que, chacinadas, são condenadas sem inquérito, enquanto co-mandantes são condecorados em cerimônias oficias e oficiosas.

Penso nesses rostos enquanto escrevo e vejo o sorriso, os sulcos da pele, as marcas e linhas longas da vida – interrompidas. Penso nas vidas negras que importam, dizem, e, todavia, seguem conscientemente exterminadas por mãos apocalípticas enquanto, nas escolas, tentamos fazer valer a lei da vida, a lei da justiça e do ensino de história e cultura daquelas que, antes de nós, em diáspora, fizeram valer com seu suor a contra-lei do mundo dos homens injustos.

Passados 20 anos de promulgação da Lei 10.639/03, silentes ou complacentes, a conveniência segue esbranquiçando itinerários formativos. Mas o poder do brado negro desafia o silêncio reinante. Peleja, retumba, sacoleja e desarranja os ritos (fúnebres) de histórias lineares, pomposas e heroicas que não mencionam Dandara, Aqualtune, Marielle, Lélia e Sueli, porque, ali, o pacto sa(n)grado é branco, no masculino.

A consciência nossa é ciência, suor e roda. É repente, desafio e capoeira, ginga com os arranjos, institucionais ou não, há séculos organizados para transportar os corpos em tumbeiros, caveirões e rabecões, para quem a morte passa a ser pena capital e não parte da existência e do mundo compartilhado com a ancestralidade. Até a morte foi saqueada. E soterrada em covas rasas, sem nome, placa ou documento de identificação, para que a indigência devorasse, com o bico afiado, a carne putrefata de quem sonhava com casa própria, formatura e família grande, como Kethlen Romeu e seu filho, assassinado no ventre.

Vingar ainda é desafio na diáspora. Vingar até a última gota de vida, o desafio nas 52 semanas e 1 dia de consciência negra, que perfazem um ano. Nele, todos os dias são voltados ao desfazimento do pacto funesto. Todos os dias são voltados à lembrança do que, recalcado, não pode contentar-se com um único dia ou mês do ano. Emerge, dia a dia, porque nascido em zona de emergência. Contra a virulência, insurgente, gesta resistência na negra consciência da luta pelo que é, foi e será. Todos os dias do ano.

 

09
Set22

Jovens são revistados por PMs após protestarem contra motociata de bolsonaro

Talis Andrade

Os oito jovens que foram registrados vaiando apoiadores de Bolsonaro na tarde de 7 de Setembro foram revistados pela PM minutos depois. De dentro de um ônibus no Rio de Janeiro, em Copacabana, os meninos foram retirados do circular e abordados pelo Batalhão de Choque.ImageImageImageImage

 

No vídeo gravado por uma testemunha, três policiais revistam os oito jovens negros que protestaram dentro do ônibus da linha 474 (Jacaré x Copacabana) contra a motociata que se encontrava Bolsonaro em Copacabana. A foto que viralizou nas redes sociais diz muito sobre a insatisfação da população em relação ao presidente.

As imagens mostram os jovens negros sendo revistados apoiados com as mãos no ônibus, enquanto os demais passageiros dentro do veículo. A PM revistou as roupas, bolsas, celulares e até alimentos que os rapazes carregavam. Um dos policiais chegou a desbloquear o celular de um deles, mexendo em aplicativos e mensagens – o que é proibido por lei no Brasil. Outro rapaz chegou a mostrar a carteira de trabalho, segundo mostram as imagens.

Ainda não se sabe sobre a identidade dos rapazes. A Polícia Militar informou ao UOL que o motivo da revista se deu por conta de um suposto roubo de celular, mas não foi informado nenhum detalhe sobre a autoria do roubo nem a relação dos jovens com o ato.

A Polícia Militar para prestar esclarecimento sobre os motivos para a abordagem e apenas os jovens que se manifestaram contra Jair Bolsonaro terem sido revistados mas não houve resposta. Também não foi informado se houve apreensões ou prisões na abordagem.

O que fica evidente é a abordagem racista e preconceituosa por parte dos agentes do Estado à juventude negra que estava apenas protestando contra um governante detestável.

23
Out19

Alunos são revistados nus em colégio militar de Goiás

Talis Andrade

latuff revista colegio militar.jpg

 

 

Carta Capital - Uma aluna do Colégio Militar João Augusto Perillo, na cidade de Goiás-GO, relatou na sexta-feira 18 que ela e outros colegas foram revistados completamente nus por funcionários do colégio. Segundo o portal G1, o motivo da revista seria uma denúncia de que os estudantes estariam envolvidos com tráfico de drogas.

A estudante ainda relatou que, no momento da revista, os alunos estavam acompanhados por uma policial no banheiro feminino e um policial no masculino. “A gente tinha que tirar a roupa e abaixar cinco vezes”, descreveu.

Os pais dos estudantes envolvidos na ação acionaram o Conselho Tutelar, que acionou o Ministério Público de Goiás para averiguar o caso. A atitude fez com que o Comando Geral da Polícia Militar estadual afastasse os dois policiais acusados de cometer o crime, além do diretor da escola em questão.

Em nota, o Governo de Goiás afirma que determinou “a imediata instauração de procedimento administrativo, objetivando apurar os fatos relatados pelos alunos submetidos à busca pessoal”.

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