"A história julgará cada um de nós. A única coisa que sei é que a economia brasileira precisa crescer e gerar emprego", disse Lula. Neto de Roberto Campos, o economista da ditadura militar de 1964, quer manter a fome, o desemprego do governo Bolsonaro. A vida severina dos miseráveis sem teto, sem terra, para o enriquecimento de quem possui empresas offshore nos paraísos fiscais
247 -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quinta-feira (23), que o Banco Central deve pagar o preço pela manutenção da taxa de juros do país em 13,75%, a taxa real mais alta do mundo.
“Como presidente da República, eu não posso ficar discutindo cada relatório do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central]. Eles que paguem pelo o que estão fazendo com o país”, disse Lula após cumprir agenda com a Marinha em Itaguaí, no Rio de Janeiro.
Ainda segundo Lula, “a história julgará cada um de nós. A única coisa que sei é que a economia brasileira precisa crescer e gerar emprego e emprego é a única coisa que garante dignidade e tranquilidade ao povo”.
As críticas de Lula ao BC foram feitas no dia seguinte ao anúncio do Copom sobre a manutenção da taxa de juros em 13,75%. No comunicado, emitido na noite da quarta-feira (22), o BC também sinalizou a possibilidade de uma elevação da taxa no curto prazo, apesar da necessidade urgente de crescimento.
A política suicida de Roberto Campos Neto, traficante de moedas e parceiro de Paulo Guedes impõe ao Brasil a continuação do entreguismo do Brasil colônia, republiqueta de bananas, o Brasil das milícias, das mineradoras estrangeiras, com a "lanterna na popa".
JUROS ALTOS: entenda como eles afetam o seu dia a dia
Alguns termos, como Selic, Copom, títulos do Tesouro e índices inflacionários, estão sendo constantemente mencionados nos noticiários. Isso ocorre porque as taxas de juros estão extremamente altas no Brasil. Mas você sabe como os juros altos afetam o seu dia a dia? Se a resposta for não, fique tranquilo, nós vamos explicar!
Para compreender melhor sobre as taxas de juros, é preciso saber o que é o Copom. O Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão do Banco Central formado pelo seu Presidente e diretores, que define, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia – a Selic.
A Selic serve de referência para outras taxas de juros de empréstimos e financiamentos. Com isso, se o valor da Selic subir, as outras taxas tendem a subir também.
Na última reunião do Copom, ocorrida neste mês, as taxas de juros foram mantidas em 13,75% ao ano, o que representa um valor bastante elevado. Em contrapartida, o Governo Federal justifica a tentativa de controlar o aumento de preços elevando as taxas de juros.
Juros altos: entenda como eles afetam o seu dia a dia
Com o aumento das taxas de juros, o dinheiro também custa mais caro. Nesse caso, o consumidor deve ficar atento ao uso exagerado do cartão de crédito para não precisar recorrer ao refinanciamento de dívidas ou utilizar o limite do cheque especial, que é uma prática bastante comum entre os brasileiros. Empréstimos e financiamentos também devem ser evitados.
A elevação das taxas de juros pode prejudicar muito o bolso de quem precisa de dinheiro. Por isso, a primeira coisa a fazer é verificar se você tem dívidas que estejam atreladas à taxa Selic. Agora, o momento é de economizar, trocar dívidas mais caras por outras mais baratas e só pegar dinheiro emprestado se for realmente a última alternativa.
Se precisar contrair um empréstimo, recorra a empréstimos pessoais, microcrédito ou consignado, que têm taxas menores. Vale até mesmo checar o penhor de joias da Caixa Econômica Federal.
O outro lado da moeda
Entre as melhores alternativas estão:
O Tesouro Direto Selic, que rende 100% da taxa básica de juros.
CDB – Certificado de Depósito Bancário. Quando se investe em CDBs o investidor está realizando um empréstimo para o banco e, por isso, ele o remunera.
LCIs e LCAS – Letra de Crédito Imobiliário e Letra de Crédito do Agronegócio. As LCIs e as LCAs são títulos emitidos por bancos que emprestam esse recurso para empresas ligadas ao mercado imobiliário e ao mercado do agronegócio.
Fundos de Investimentos Referenciados DI. Os Fundos DI buscam obter retornos que acompanham o CDI. Suas características principais são: baixa volatilidade e baixas taxas de administração.
Curitiba a terra do prefeito que tem nojo de pobre, da supremacia branca, do deputado coronel que mandou camponeses "para o inferno", e considera política de alto calibre ameaçar Lula de morte, exibindo arma benta por pastor luterofascista
REDAÇÃO ND, JOINVILLE
Delegado de Curitiba levou armas, como revólveres e até fuzil, para receber a bênção do pastor; imagens viralizaram.
Um vídeo, no mínimo, polêmico, viralizou nas redes sociais nesta terça-feira, dia 15. Isto porque um pastor evangélico benzeu armas, entre elas revólveres, pistolas, espingarda e um fuzil na igreja Agnus, de Curitiba, no Paraná.
O delegado Tito Barichello levou as armas até o pastor, que fez uma reza para benzer o armamento dentro da igreja.
Durante a reza, o pastor Renê Arian fez a unção de l com intuito de “proteger a população”.
“Senhor Deus, em nome de Jesus, nós ungimos essas armas para a segurança da nossa população de nossa cidade, Senhor. Nós pedimos que o Senhor venha nos guardar, venha nos proteger, através dessas armas”…e continua
“A Tua palavra diz: tudo o que ligares aqui na Terra terá sido ligado nos céus. E nós ligamos, em nome de Jesus, através da unção com óleo, essas armas que serão para a nossa proteção, para guardar a população, em nome Jesus, contra os homens maus. Para a glória, Deus e louvor, de seu nome, nós pedimos que o Senhor nos guarde, nos livre e nos proteja, em nome de Jesus. Amém e amém”, emenda o pastor.
A cerimônia contou com a presença de dois delegados e um investigador da Polícia Civil, além de outra pastora.
As imagens foram gravadas e publicadas pelo delegado Tito Barrichello, da 2ª Delegacia de Homicídios da capital paranaense. Ele classificou a bênção como “muito especial”.
“Neste sábado à noite, 12 de março, em Curitiba, estivemos na Igreja Agnus no bairro Boa Vista. Após o culto, o Pastor Rene e a pastora Erlane realizaram a unção de nossas armas particulares. Essa benção foi muito especial. 🙏🙏🙏 @igrejaagnuscuritiba”, escreveu o delegado em sua rede social.
Foi comentado que também foram benzidas as armas do violento coronel deputado Washington Lee Abe, assassino de camponeses.
A figura do vídeo a seguir é um político chamado Washington Lee Abe, oficial aposentado da Polícia Militar do Paraná que, em 2018, se elegeu deputado estadual pelo PSL usando o nome de urna de Coronel Lee.
Do púlpito do plenário da Assembleia Legislativa do Paraná, Lee – hoje filiado ao Democracia Cristã (risos) e que se apresenta como “o inimigo número um do MST” – ameaçou “mandar Lula para o inferno” após o ex-presidente convocar manifestações em frente às casas de deputados para “conversar com eles, suas esposas, seus filhos” antes de votações importantes, caso seja eleito. A fala soa como uma ameaça de morte escancarada.
Sem terra, retirante da fome, no Paraná vai "parar no inferno"
De quebra, Lee também sugeriu, de viva voz, ter participado do assassinato de integrantes do movimento dos sem-terra. “A última vez que esse bando do MST e da esquerda vieram nos visitar – queriam conversar com a gente no meio do mato –, foram parar no inferno. Então, Lula, mande a sua turma toda falar com a gente, de novo. E vocês vão visitar os seus amigos que estão lá [no inferno]. É esse o nosso recado”.
Quando na PM, Lee se orgulhava de comandar seu batalhão mais letal. “Este estudo, feito por um suposto especialista, diz que a polícia mais letal do mundo é a Polícia Militar do Brasil. No Brasil, a mais letal é a do Paraná e, no estado, o Comando Regional que está na primeira colocação é o 5º”, disse o político, que comandou o 5º Comando da PM paranaense, na região de Cascavel, segundoregistro do jornalista Rogerio Galindo.
Em 2016, após o batalhão dele assassinar dois sem-terra em Quedas do Iguaçu – numa ação que o MST sempre qualificou como emboscada –, Lee afirmou quea corporação não iria “se curvar” ao movimentoe não rejeitou o tratamento de herói que passou a lhe ser dado por moradores que se alegraram com os assassinatos.
Na biografia publicada por ele mesmo nositeda Assembleia Legislativa, Lee afirma que “entre suas ações mais marcantes dentro da PM estão as reintegrações de posse de terra, sobretudo nas cidades de Quedas do Iguaçu, Santa Terezinha do Itaipu, Mangueirinha, Tijucas do Sul, Piraquara, Francisco Beltrão, entre várias outras”.
No plenário, Lee também fez referência ao deputado estadual paulista Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, o Coronel Telhada, ex-comandante da Rota, hoje deputado em São Paulo: “aqui é o coronel Lee, ex-comandante do Bope no Paraná. O nosso modus operandi, coronel Telhada, é o mesmo”. Após a fala de Lula, Telhada, filiado ao PP de Arthur Lira, Ciro Nogueira e Ricardo Barros, também publicou um vídeo – gravado no estacionamento da Assembleia Legislativa em São Paulo – em que acaricia uma pistola que carrega na cintura e desafia Lula: “Pode vir quente, que a gente está fervendo”.
A afirmação de Lula também rendeu vídeos de outros políticos bolsonaristas, como os deputados federaisJunio Amaral, do PL de Minas Gerais, e Carla Zambeli, do PL de São Paulo. Mas nenhum deles fez ameaças tão diretas quanto as de Lee. Tampouco as proferiu no plenário de um parlamento, espaço democrático por essência.
Fosse séria, a Assembleia paranaense levaria Lee ao Conselho de Ética. Mas, como se percebe na expressão do presidente,Ademar Traiano, do PSD, ao final do vídeo e logo após a fala inacreditável do ex-PM, a chance de isso acontecer é nenhuma.
A polícia do Paraná ésuspeita de ter vazado, há poucos dias, detalhes do roteiro de Lula a grupos bolsonaristas.
Um vídeo que viralizou nas redes sociais nesta terça-feira mostra um pastor benzendo um arsenal de armas em uma igreja evangélica da capital paranaense Curitiba.
No ritual, o líder da Igreja Agnus, Renê Arian, realiza a unção de revólveres, pistolas, uma espingarda e um fuzil com intuito de "proteger a população".
A cerimônia, ocorrida no último sábado, contou com a presença de dois delegados e um investigador, além de outra pastora.
O vídeo foi gravado e publicado pelo delegado Tito Barrichello, da 2ª Delegacia de Homicídios da capital.
Também aparecem nas imagens a delegada Tathiana Guzella, da 1ª Delegacia de Homicídios de Curitiba, um investigador apresentado como "Cabelo" e a pastora identificada apenas como Erlane. Questionado, Barrichelo afirmou que as armas são todas privadas e legalizadas. Disse ainda que a ideia partiu do pastor René por haver "diversas passagens de benções aos escudos e armas". — A unção tem um sentido de benção, para que aquilo, apesar de poder causar um dano a outro, seja um instrumento de paz. Na polícia, organizamos para que não ocorra reação do investigado. A ideia da arma é não utilizá-la — disse.
Nunca na história desse país houve tantos brasileiros morando no exterior. Segundo dados do Itamaraty divulgados em setembro do ano passado, o número de expatriados cresceu 35% entre 2010 e 2020, passando de 3,1 milhões para 4,2 milhões. A Sputnik explica por que isso preocupa tanto as principais associações científicas do país.
Embora seja uma população variada em busca de condições de vida melhores, o que mais preocupa os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil é a fuga de cérebros.
Estimativas do professor Eduardo Picanço Cruz, da Universidade Federal Fluminense, apontam que51% dos brasileirosque moram na Alemanha, por exemplo,têm ao menos uma graduação; na França,o percentual de residentes brasileiros graduados chega a 76%.
Bolsas congeladas
A perda de um contingente extremamente qualificado de pessoas está relacionada também aobaixo investimento em educação. O cenário se agravou com a economia em dificuldades, o que levou muitos estudantes e especialistas a trabalhar e pesquisar em outros países.
Um dos reflexos mais nítidos dessa situação diz respeitoàs bolsas de mestrado e doutorado que estão congeladas há quase dez anos. Para recuperarem o poder aquisitivo de 2013,seria necessário um reajustede 66% nos valores — algo que, ante as políticas educacionais do governo de Jair Bolsonaro (PL),não está previsto para ocorrer a curto ou médio prazo.
A vontade de trabalhar no exteriorcresceu nas classes mais abastadas. Um levantamento da consultoria Hayman-Woodward, especializada em mobilidade global, aponta que, de março a agosto de 2021,houve um aumento de 62% de brasileiros de classe AB com nível superiorindo para os Estados Unidos. Umaevasão de mão de obra ultraespecializada de brasileiros, segundodisseLeonardo Freitas, CEO da consultoria, ao jornal Valor Econômico.
Impacto da fuga de cérebros
Mas qual é a dimensão dessadiáspora de brasileiros altamente qualificados mundo afora?
Em conversa com a Sputnik Brasil,Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educaçãoe atual presidente daSociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), aponta umacomplexa cadeia de desdobramentosquando profissionais altamente qualificados deixam o país em busca decondições melhores de trabalho e de vida.
O impacto é significativo. Porque junto com a fuga de cérebros vem a perda de muitos equipamentos que a gente tem. Por exemplo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que fica no Vale do Paraíba. O INPE tem 70% dos seus pesquisadores com direito à aposentadoria. Não se aposentam porque querem continuar a trabalhar, mas se o fizerem, praticamente fecha o INPE. Lá há um setor de lançamento de foguetes, que está praticamente parado. Está praticamente sem gente, então você passa a uma série de problemas que não são só o da fuga de cérebros", avaliou ele.
Ao mesmo tempo, Ribeiro acrescenta que asuniversidades acabam ficando ociosas, com muitas vagas.
"Os professores que se aposentam não estão sendo substituídos, ou a pessoa não se aposenta para não deixar a área dela descoberta. Então você tem a formação de gente muito nova, qualificada, mas essas pessoas formadasnão estão tendo espaço para render tudo o que elas aprenderam, o que elas estudaram, o que elas pesquisaram.Esse é o grande problema", aponta o ex-ministro.
E, na hora em que o estudioso deve retribuir todo esse conhecimento adquirido para a sociedade,o governo impõe um corte de verbas.
Em seguida, você tem a falta de recursos para contratar pessoas, falta de recursos para equipamentos, falta de recursos para ampliar o sistema universitário brasileiro, e isso fica muito claro quando o ministro Paulo Guedes reclama que estão se formando engenheiros demais no Brasil. E diz: 'engenheiro andando no Uber é sinal que tem engenheiro demais'. Ele está totalmente errado, porque não é que tem engenheiro demais. É que a economia está fraca. Se a economia estivesse boa, a economia estaria colocando todo esse pessoal que se forma no mercado de trabalho. Porque cada vez que você tem um avanço econômico no Brasil, você sente falta de mão de obra qualificada. Aconteceu várias vezes e vai voltar a acontecer se continuarem as coisas assim", criticou o presidente da SBPC.
Mas a fuga de cérebros tem um aspecto particularmente negativo, de acordo com ele, porquefoi o Brasil que formou essas pessoas.
O Brasil financiou muito da formação — mesmo quando eles fizeram faculdades particulares porque a Capes financia alunos até mesmo em faculdades privadas. O Brasil colocou dinheiro na formação dessas pessoas, que são dadas de presente para estrangeiros. A gente passa pessoas que vieram daqui, que têm todo um conhecimento, uma formação aqui e que nós estamos cedendo essas pessoas", lamentou.
"Estamos perdendo jovens extremamente talentosos que foram formados aqui no Brasil e, portanto, com recursos do país que estão saindo. E rumando para os Estados Unidos, para o Canadá, países da Europa, Austrália e até os Emirados Árabes. Há cérebros brasileiros em vários países do mundo. Esse pessoal era o pessoal que poderia contribuir. Por exemplo, para a inovação disruptiva no Brasil, que é uma necessidade urgente que nós temos. Temos uma inovação incipiente", analisou.
Investimento em ciência influencia na economia
Para ilustrar a questão que une a ciência à economia, Ribeiro citaas principais fabricantes de produtos de beleza nacionais.
O Brasil tem uma biodiversidade absurda, e nós precisamos de cientistas para verem as nossas plantas, a nossa biologia, e ver quantas riquezas podem ser dadas a partir disso. As mais charmosas fábricas de cosméticos do Brasil, que são o Boticário e a Natura e a L’Occitane, as três fazem muito produto com plantas da nossa flora. Então a possibilidade de expansão nisso é muito grande. Uma parte disso, inclusive, é exportada. É preciso investir nisso tudo. Não apenas ter dinheiro, mas saber como aplicar esse dinheiro", avaliou.
Davidovich, presidente da ABC, diz que háeventos que foram muito importantes, realizados graças a pessoas formadas no Brasil.
O petróleo do Pré-Sal, que até pouco tempo atrás era considerado inviável e muito caro, hoje representa mais que 50% do petróleo extraído no Brasil. Empresas com protagonismo internacional, por exemplo, na área de compressores, na área de equipamentos elétricos, na área de cosméticos se desenvolveram muito graças à interação com laboratórios de universidades — especialmente, de universidades públicas do Brasil. E esses laboratórios precisam de estudantes. Os estudantes de pós-graduação e também os pós-doutores e os jovens pesquisadores são elementos fundamentais para o funcionamento desses laboratórios. Quando um jovem pesquisador sai do país, é um laboratório que perde uma pessoa preciosa. Mais ainda: está havendo um desestímulo a estudantes para seguirem a carreira de pesquisa. Por exemplo, vários programas de doutorado, inclusive, estão com dificuldade de atrair estudantes", exemplificou.
O presidente da ABC reivindica umameta de 2% do PIB brasileiro, de R$ 8,7 tri em 2021, voltada para pesquisa e desenvolvimento.
E 2% ainda é menos do que é dedicado aos EUA, à Coreia do Sul, à Europa, em Israel. A China está querendo chegar a 2,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, e o Brasil está em torno de 1%. Certamente, é preciso um entendimento na agenda econômica de que ciência e tecnologia são prioritárias. A fuga de cérebros é composta de jovens que poderiam fazer a diferença nas universidades, nas empresas, ajudando a sociedade brasileira e ajudando, também, a balança comercial do Brasil, agregando valor a essa balança comercial", finalizou.
O nazi-fascismo é responsável pelo assassinato de milhões, nos campos de batalha da Europa devastada, nas câmaras de gás dos campos de concentração, nas prisões da Gestapo. Homens, mulheres, crianças, judeus, ciganos, homossexuais, comunistas, uma lista macabra de extermínios nas ditaduras da extrema direita
por Wadih Damous
Essa semana, o Brasil foi marcado por mais episódios de preconceito e intolerância.
Dessa vez, o apresentador do Flow Podcast, Monark, foi demitido após defender a formalização de um partido nazista no País - o que é proibido.
Ao lado dele, o deputado Kim Kataguiri disse que a Alemanha havia errado ao criminalizar o nazismo.
Em consequência disso, o PT acionou o Conselho de Ética da Câmara. É inaceitável que um representante defenda um regime prega a supremacia racial e o extermínio de minorias e, por isso, ele deve ser cassado.
Mas não para por aí, o até então comentarista da Jovem Pan Adrilles Jorge também foi demitido após fazer gesto similar à saudação nazista enquanto comentava sobre o caso.
Não há duvidas de que o Bolsonarismo está intimamente ligado a essa onda incontrolável de crimes de ódio no Brasil. A verdade é que Bolsonaro é uma má influência para a população. Através de seu exemplo, parte do nosso país banalizou ataques à minorias e apologia à tortura.
Não adianta que haja punição de uns, enquanto as mesmas falas sao relevadas ao saírem de outras bocas com mais poder. É necessário que hajam consequências para TODOS os envolvidos, inclusive Kataguiri - e Bolsonaro.
Seguimos na luta por um Brasil livre do nazismo.
O Mal Banalizado
O Brasil, ao lado de tanta beleza, tanta generosidade, tanta bravura de seu povo que resiste e insiste em ter uma vida melhor pelos séculos afora, também é o país que abriga o que de pior a (des) humanidade já produziu.
Vamos direto ao assunto: o nazismo, chaga do mundo civilizado, que ceifou milhões e milhões de vidas tragadas pela máquina de guerra hitlerista, encontrou aqui entre nós milhares de adeptos.
Segundo estudos não contestados, nos últimos 3 anos o crescimento de grupos organizados em torno dos ideais nazi-fascistas foi de cerca de 270%, abrigando cerca de 10 mil adeptos a disseminar o seu discurso de ódio ideologicamente amparado pelos ensinamentos de Hitler, Goebbels, Rudolph Hess e Himmler.
Entre 2019 e 2020, o número de inquéritos abertos pela Polícia Federal sobre apologia ao nazismo cresceu 59% .
Na cartilha dos canalhas, o antissemitismo se complementa com o ódio a negros, a LGBTQIAP+, aos nordestinos, aos imigrantes, além da velha e abjeta negação do holocausto. O espantoso é que eles não se escondem. Estão aí, nas redes sociais, por vezes falando a milhões de seguidores, como nos casos recentes do youtuber Monark, em um programa de podcast ao lado do deputado federal Kim Kataguiri, que defendeu abertamente a existência de um partido nazista, e também daquele outro desses midiáticos, chamado Adrilles, que divulgou um vídeo em que faz a saudação nazista do heil Hitler.
O deputado Kataguiri, convém registrar, também deu a sua contribuição ao afirmar que a Alemanha teria errado ao criminalizar o nazismo. Fosse deputado do parlamento alemão e estaria preso. Na agenda desses patifes, que em seus canais de rede alcançam milhões - notem bem, milhões - de inscritos, pululam mensagens racistas, homofóbicas, misóginas e por aí vai.
Pois bem. Dos episódios recentes, e pelo histórico do país de convivência amistosa com o fascismo - lembremos que pra cá fugiram notórios nazistas, inclusive Josef Mengele, o "Anjo da morte de Auschwitz", famoso por seus experimentos "científicos", tendo seres humanos como cobaias -, não é de se espantar que nenhuma punição rigorosa a esses propagadores da morte tenha sido aplicada até hoje.
Para além da reprimenda moral, o certo é que não há registro de ações penais e consequentes condenações contra essa corja. A despeito de termos uma lei (Lei Nº 7.716/89), que, textualmente, até prevê a pena de reclusão de dois a cinco anos para quem "Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo", a discussão que emerge quando fatos aberrantes como esses vêm à tona é de uma desfaçatez inacreditável. Força-se sempre a vinculação de tais atitudes criminosas com a liberdade de expressão e opinião.
E, assim, de grão em grão, apenas com notas de repúdio e indignações várias, inegavelmente importantes, mas sem qualquer providência séria que responsabilize criminalmente os criminosos à, vai-se naturalizando o fascismo entre nós, ampliando seus espaços de repercussão.
Nesse passo, é bom frisar que, sob Bolsonaro, essas patologias foram exacerbadas e incentivadas. Foram transpostas da deep web para a superfície do nosso cotidiano: operou-se a banalização do mal. O linchamento de Moise; o assassinato de um cidadão negro no próprio condomínio onde morava; apologia ao nazismo; incursões assassinas da polícia nas favelas cariocas não são episódios isolados. Conformam o racismo estrutural das nossas classes dominantes.
O nazi-fascismo é responsável pelo assassinato de milhões, nos campos de batalha da Europa devastada, nas câmaras de gás dos campos de concentração, nas prisões da Gestapo. Homens, mulheres, crianças, judeus, ciganos, homossexuais, comunistas, uma lista macabra de extermínios.
No Brasil ganhou contornos próprios, acrescendo aspectos regionais e de cor à discriminação, no que encontra eco em nossa elite excludente. A denúncia e a execração pública devem ser sempre barulhentas diante dessas monstruosidades.
A superação dessas perversões desafia um longo processo pedagógico e cultural. Afinal de contas, como ensinava Nelson Mandela, ninguém nasce racista e com ódio. Eles são ensinados. Desde já cabe-nos iniciar a pedagogia inversa: de tolerância, igualdade e fraternidade. O primeiro passo será derrotar, de forma acachapante o fascismo nas urnas esse ano.
Mas, enquanto esse processo não se completa, aplique-se a lei, a que existe ou uma mais rigorosa, ainda por ser criada, deve ser o caminho natural da punição. O meu mandato, tenham certeza, será um instrumento para que isto ocorra.
Legenda: Frei Damião de Bozanno, nascido Pio Gionotti, em 5 de maio de 1898, na aldeia de Bozzano, município de Massarosa, na Toscana italiana, chegou ao Brasil em 1931
Na semana que passou, se deu o lançamento do documentário dirigido por Deby Brennand, “Frei Damião: o santo do Nordeste”. O título da película dá a entender que o frade capuchinho teria sido o único homem considerado santo a ter sua trajetória de vida associada à região Nordeste. No entanto, o espaço que hoje é nomeado de Nordeste foi palco de inúmeros eventos capitaneados por homens considerados santos, beatos ou beatas, ainda quando vivos, pela população, sendo eles de origem popular ou não.
Podemos dizer que o Nordeste é terra de santos, a ponto de os chamados movimentos messiânicos ser um tema fundamental na elaboração do imaginário em torno dessa região. Movimentos como o da Pedra Bonita que, em 1838, levou à morte cerca de 200 pessoas no sertão pernambucano, foi retomado por escritores como José Lins do Rego e Ariano Suassuna e associado ao sertão nordestino e ao que seria sua religiosidade mística e rústica.
Os acontecimentos de Canudos, no sertão da Bahia, uma guerra que se estendeu entre 1896 e 1897, colocando em confronto os seguidores do beato Antônio Conselheiro e o Exército brasileiro, imortalizado pelo livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, que forneceu muitas imagens para a elaboração do imaginário em torno do Nordeste.
Mas o primeiro santo popular do Nordeste foi o Padre Cícero Romão, da vila e depois cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, que em 1889 teria sido protagonista, junto com a beata Maria de Araújo, do milagre da hóstia, em que, na eucaristia, a hóstia se transformava em sangue.
Outros fenômenos messiânicos aconteceram nesse espaço, como o movimento de Pau da Colher, ocorrido no município de Casa Nova, na Bahia, entre 1934 e 1938, em torno do beato José Senhorinho, ligado ao beato paraibano Severino Tavares que, por sua vez, estava ligado ao beato José Lourenço, do Caldeirão, no município do Crato, Ceará.
Ambos movimentos foram duramente reprimidos por forças policiais, levando a matança da maior parte de seus adeptos (o Calderão entre 1936 e 1937 e Pau da Colher no ano seguinte).
Muito já se estudou esses fenômenos de religiosidade popular, essas maneiras populares de entender e praticar o catolicismo, muitas vezes para desagrado das próprias autoridades católicas, que colaboravam, quando não demandavam, a repressão aos movimentos. O caso Padre Cícero é emblemático, pois, mesmo sendo um membro da Igreja, foi excomungado e dela apartado.
A pergunta que sempre se fez é por que o Nordeste é um espaço propício para o desenvolvimento desses fenômenos?
A miséria da maior parte da população, vítima de carências de todos os matizes, desde carências materiais até carências afetivas e espirituais, o que leva a busca de qualquer amparo, de qualquer ajuda, de qualquer palavra de conforto ou de esperança. Vivendo uma vida terrena muito precária e cheia de sofrimentos, as promessas e profecias messiânicas de finais dos tempos e de salvação após a morte ganhavam logo muitos adeptos. O desespero, a desesperança na vida terrena faziam com que muitos depositassem sua fé nesses profetas populares e suas mensagens de salvação. O analfabetismo da maior parte das pessoas a afastava de uma Igreja oficial que ainda pregava suas cerimônias em latim e participava dos banquetes do poderosos, levando vidas muito distanciadas daquela do Cristo, muitos claramente “vivendo em pecado”, distantes da vida da população.
Os beatos e santos populares se destacavam por falar uma linguagem que todos entendiam, por partilharem visões escatológicas, apocalípticas, muitas vezes atravessadas por elementos religiosos vindos das crenças africanas e indígenas de onde descendia a maior parte dos pobres.
Frei Damião de Bozanno, nascido Pio Gionotti, em 5 de maio de 1898, na aldeia de Bozzano, município de Massarosa, na Toscana italiana, chegou ao Brasil em 1931, indo residir no Recife, no Convento Senhora da Penha, da Ordem dos Capuchinhos, à qual pertencia. Sua formação religiosa começou aos 12 anos de idade (1910), numa Igreja Católica, ainda vivendo a reação ultramontana, ou seja, a militância das instituições católicas contra as mudanças trazidas pela modernidade burguesa (a Reforma, o Iluminismo, a Revolução Francesa, o liberalismo, o laicismo, a ciência moderna, o racionalismo, o socialismo, o comunismo, o anarquismo, o espiritismo). Foi ordenado sacerdote um ano após a ascensão do fascismo na Itália, em 1923, que contou com entusiástico apoio e militância da cúpula da Igreja Católica. Foi nesse período que se doutorou em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1925).
O catolicismo tal como entendido e praticado por Frei Damião deve muito a sua formação ultramontana e feita numa Igreja comprometida com o fascismo. O fato de ser filho de camponeses levou a que tivesse muita habilidade em lidar com as populações rurais e interioranas do Nordeste. Percorria o interior dos estados nordestinos através do que chamava de santas missões, realizando caminhadas e romarias, utilizando como símbolos uma cruz e um terço.
Suas pregações eram feitas em praça pública, sobre um tablado, com microfone e autofalantes, que potencializavam sua voz rouca e diminuta, carregada por um sotaque italiano. Nelas ameaçava a todos com o inferno caso se afastassem da Igreja e aderissem a novas seitas (outras religiões), o demônio era presença contante em suas verdadeiras admoestações contra os pecados, condenava aqueles que viviam amancebados, oferecendo-se para casar a todos que viviam nessa condição, batizava os meninos que não podiam morrer pagãos, interpretava que fenômenos como as secas e os sofrimentos eram fruto de castigos divinos devido aos pecados.
Essa versão profundamente conservadora da doutrina católica calava fundo numa população praticamente abandonada, não só pelos poderes públicos, mas pela própria Igreja oficial. Suas missões rendiam uma boa arrecadação de esmolas e emolumentos para sua Ordem, a ponto de, mesmo muito doente e sentindo muitas dores por causa de seu grave desvio na coluna, com uma voz quase inaudível, continuar sendo levado pelo Frei Fernando, para muitos lugares.
Se ele era um santo na visão de muitos populares, sua visão tradicional da missão da Igreja, seu completo distanciamento de um catolicismo renovado pelo Concílio Vaticano II, sua atuação muito em desacordo com a Teologia da Libertação, numa região em que se destacavam grandes nomes do catolicismo progressista como D. Helder Câmara, D. José Maria Pires, D. Aloísio Lorscheider, fez com que, desde os anos sessenta, Frei Damião fosse muito bem recepcionado e bajulado pelas elites políticas tradicionais da região, que via na promoção de suas visitas e na circulação em sua companhia uma forma de agradar os eleitores.
Ainda em vida, em 1975, foi agraciado com uma medalha cunhada a ouro, na cidade de Sousa (PB), onde ele mesmo celebrou a missa da inauguração de seu busto, esculpido pelo artista plástico pernambucano Abelardo da Hora, no ano seguinte. Em 2004, a cidade de Guarabira (PB), inaugurou o Memorial Frei Damião. Tendo falecido em 1997, no Recife, recebeu os títulos de cidadão pernambucano e recifense.
Mas o episódio onde ficou mais explícito o uso político feito de sua popularidade e, ao mesmo tempo, de seu posicionamento conservador e retrógrado no interior da Igreja Católica, se deu no segundo turno da campanha presidencial de 1989. Um Frei Damião com 87 anos, com um fio de voz, atrapalhado pela saliva que lhe saia permanentemente pelo canto da boca, dada a torção de seu pescoço, comparece ao programa eleitoral do candidato Fernando Collor de Mello, para contrabalançar o apoio que o seu oponente de esquerda, Luís Inácio Lula da Silva, vinha recebendo dos setores progressistas da Igreja Católica, notadamente das Comunidades Eclesiais de Base.
Foi uma das últimas aparições públicas do “santo do Nordeste”, colocando a sua voz a serviço do candidato que, como ele, fazia um discurso moralizante e moralista contra a corrupção. Sua fala contra o perigo do comunismo e rotulando o Caçador de Marajás do candidato das famílias, dos verdadeiros cristãos, foi decisiva para a vitória daquele que se mostraria um engodo. Fica para imaginarmos, por que ele levou essas informações para seu túmulo santificado, de um venerando da Igreja, em processo de beatificação, situado na capela de N. Sra. das Graças, no Convento São Félix, no Recife, que tratativas foram feitas com a Ordem dos Capuchinhos para que aquela entrevista fosse feita.
A vingança contra o "Bispo Vermelho" e o Santo dos Retirantes Nordestinos
O governo Bolsonaro revogou 35 decretos de pesar editados por seus antecessores, sob alegação de anular normas "cuja eficácia ou validade encontra-se completamente prejudicada". Assim, cancelou os lutos oficiais por católicos dom Helder Câmara e frei Damião. Entretanto, manteve os decretos de luto pelos ex-presidentes militares Ernesto Geisel e João Figueiredo.
Nos decretos, a raiva do adorador da tortura contra o "Bispo Vermelho", perseguido pela ditadura militar de 64, e frei Damião dos pobres retirantes do Nordeste que votaram contra Bolsonaro em 2018 e votarão em Lula presidente este ano, no dia 2 de outubro, para uma vitória no primeiro turno.
O ódio do admirador do coronel Ustra, mestre da tortura promovido a marechal, e do major Curió, tem seus malignos motivos.
Escreveu Vinícius Sobreira: "O arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, que foi ordenado padre por Dom Hélder, o considera “um homem à frente do seu tempo, um verdadeiro profeta”. E relacionando com o momento pelo qual o Brasil passa, Dom Saburido acredita que, caso estivesse vivo, Dom Hélder “estaria sofrendo com esse momento pelo qual o País passa”.
O monge beneditino Marcelo Barros resgata que Dom Hélder foi arcebispo de Olinda e Recife justamente durante os 21 anos da ditadura militar e, na opinião dele, vivemos um contexto similar ao implementado em 1964. “Nos tempos atuais eles não precisarem mais de militares nas ruas para dar um golpe institucional, mas hoje vivemos uma espécie de ditadura, uma ditadura no sentido mais profundo, de desrespeito aos direitos fundamentais das pessoas. Vemos o absoluto desprezo aos instrumentos democráticos e principalmente a tudo aquilo que representa uma ordem social de proteção dos mais frágeis e empobrecidos”, opina.
Marcelo Barros relaciona ainda as posturas de Dom Hélder com a do Papa Francisco. “A figura profética do Papa Francisco está, na medida do possível, puxando a Igreja Católica para uma atitude de protesto contra o capitalismo e para mostrar que a raiz de todos os males que vivemos no mundo é essa estrutura econômica e social que mata, que destrói, que assassina, que é imoral. E isso era a mensagem de Dom Helder”, avalia. Ao elogiar o Papa, o monge destaca que a admiração por Francisco deve se converter em ação. “É importante que essa figura do Papa não fique uma figura especial, que todo mundo admira, mas que é isolada. Nos inspirando nele devemos conseguir gritar que nós fazemos parte dessa profecia do Papa Francisco”.
O governo militar de Bolsonaro justifica:
"Trata-se de decretos já exauridos, que tiveram efeitos por determinado período [de luto]", disse àFolha de S.Pauloa Secretaria-Geral da Presidência. Entretanto, integrantes de gestões anteriores da SAJ (Subchefia de Assuntos Jurídicos) ouvidos em caráter reservado pela reportagem do jornal afirmaram não ver sentido no cancelamento de decretos de pesar. A subchefia é a estrutura que faz a revisão final dos atos publicados no "Diário Oficial" da União.
A revogação de decretos de pesar no governo Bolsonaro não teve tratamento igualitário para todas as autoridades e personalidades que receberam a honraria oficial nos últimos anos.
Em um mesmo período de tempo, foram anulados decretos de luto para determinadas pessoas, enquanto a de outras foram mantidos.
Cemitério de Nossa Senhora Aparecida em Manaus, Brasil, o país com a segunda maior taxa de mortalidade Covid-19 do mundoMichael DANTAS AFP/File
Por Raquel Miura
O ano de 2021 começou de maneira trágica, com a falta oxigênio nos hospitais de Manaus. Médicos, enfermeiros e parentes desesperados vendo pacientes agonizando dias depois de integrantes do governo federal terem visitado a capital amazonense para divulgar o tratamento precoce sem eficácia contra a Covid. Enquanto nos hospitais a luta por atendimento definia a vida ou a morte.
A crise sanitária aguda, com mais de 600 mil mortos, acabou numa CPI do Senado, instalada por determinação do Supremo Tribunal Federal.Depoimentos e documentos que escancaram a atuação errática do governo Bolsonaro, com gabinete paralelo pró-cloroquina, cartas da Pfizer ignoradas resultando na compra atrasada de vacinas e até papel fraudado para vendar imunizante da Índia superfaturado. Não àa toa que a temperatura subiu muitas vezes na CPI.
A pressão de todos os lados levou o governo a acelerar a compra de vacinas e, com a robustez da estrutura do SUS, a imunização finalmente, reduzindo sobremaneira o número de mortos. Mesmo diante de prova cabal de que a vacinação era o caminho,o presidente Jair Bolsonaro ainda insistia no negacionismo.
“Quando você estiver sentindo falta de ar” - disse Bolsonaro em uma transmissão ao vivo imitando alguém com dificuldade para respirar - “Você vai para o hospital. Para fazer o quê? Para tomar o quê, se não toma nenhum remédio comprovado? Para ser entubado. Esse é o protocolo do Mandetta. E canalha é aquele que critica a cloroquina, a ivermectina e não apresenta uma alternativa.”
Bolsonaro defendeu a divulgação do nome de funcionários da Anvisa que trabalharam na aprovação da vacina para crianças. Antes ele já havia provocado fúria ao divulgar dado mentiroso relacionando imunização contra a Covid ao HIV.
Bolsonaro perde apoio popular
A postura do presidente fez despencar seu apoio popular e ele reforçou a tática de buscar inimigos, mirando a artilharia para o Supremo Tribunal Federal, que fechava o cerco a radicais, com a prisão de bolsonaristas como Daniel Silveira e Roberto Jefferson.O ápice da crise institucional veio no 7 de setembro.
“Não mais aceitaremos qualquer medida, qualquer ação ou qualquer sentença que venha de fora das quatro linhas da Constituição. Nós também não podemos continuar aceitando que uma pessoa continue barbarizando a nossa população. Ou o chefe desse poder enquadra o seu, ou esse poder pode sofrer o que não queremos”, disse Bolsonaro numa referência ao ministro do STF Alexandre de Moraes.
Além dos ataques ao Judiciário, conforme sua popularidade caía, o presidente mais uma vez repetia, feito um mantra, que as urnas eletrônicas não eram confiáveis, e que qualquer resultado diferente da sua reeleição seria por ele contestado. Até dia e horário marcou para apresentar provas, mas não as apresentou.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em uma foto de 7 de setembro de 2021. PAULO LOPES AFP/Archivos
Orçamento paralelo para o Legislativo
Bolsonaro foi orientado a baixar a bola e, se quisesse ter o centrão como apoio, a engolir o discurso golpista. Não foi só isso. O grupo que apoia o presidente engordou os bolsos com cargos, emendas e até orçamento paralelo, dinheiro público sem rastreio dos órgãos de controle. Com isso o Executivo conseguiu aprovar propostas polêmicas como as mudanças no pagamento dos precatórios, o que lhe assegura uma bolada em ano eleitoral. O que tema gerou debate no Congresso entre governo e oposição.
Se no Legislativo Bolsonaro conseguiu certo apoio a custas de muito dinheiro, na economia o ano foi um desastre: inflação nas alturas com a disparada do preço de produtos como a carne, desemprego, alta na conta de luz, e gasolina também com o preço a perder de vista, fazendo até motoristas de aplicativo a abandonarem a função.
Multidão famintae medalhas inéditas
O lado mais perverso de tudo: a pobreza. Famílias indo morar na rua sem dinheiro para o aluguel. E uma cena cada vez mais comum nas cidades brasileiras: pessoas revirando lixo para achar o que comer. Uma multidão dependendo da solidariedade alheia para comer.
O país de uma multidão faminta, o crescimento do PIX como ferramenta nas transações comerciais, o leilão do 5G na telefonia.
No esporte, teve a volta do público aos estádios de futebol, a polêmica sobre comentários homofóbicos no vôlei eas medalhas inéditas no Japão, como no surfe de Ítalo Ferreira, no skate de Rayssa Leal e na ginástica olímpica de Rebeca Andrade.
“Eu fiquei muito feliz por ter representado o Brasil, por ter ido tão bem, por levar o nome da ginástica, o nome do nosso país para o mundo inteiro. Espero que a gente tenha mais investimento, que as pessoas acreditem mais em todos os esportes, e não só na ginástica. O esporte salva vidas, o esporte educa”, disse Rebeca.
O país teve ainda debandada de pesquisadores de órgãos institucionais, incêndio na Cinemateca brasileira, prisão de cantor por agressão à mulher, vinte dias de perseguição a Lazaro Barbosa que assombrou moradores de Goiás, e ação de bandidos que usaram escudos humanos e levaram terror a Araçatuba, no interior paulista, chegando a instalar mais de cem explosivos.
No Rio Grande do Sul, quatro réus foram a júri popular este ano pelo incêndio da boate Kiss onde 242 pessoas morreram há oito anos.
No Rio de Janeiro, houve a prisão da mãe e do padastro vereador acusados pela morte do pequeno Henry Borel e a angústia das famílias de três meninos de Belford Roxo, que desapareceram há um ano e só agora confirmaram que eles foram brutalmente assassinados pelo tráfico.
Violência
A violência na floresta também chocou o país, com índios desnutridos, a pele e osso, avanço do garimpo ilegal, morte de animais nos incêndios edesmatamento recorde na Amazônia, reconhecido pelo ministério da Justiça.
Destaque no jornal Le Monde desta quinta-feira (02/07) para a volta das queimadas na Amazônia que registraram em junho o maior número de focos dos últimos treze anos.AP - Leo Correa
Políticos comemoraram a anulação de investigações, como o caso do triplex contra Lula, as provas das rachadinhas contra Flávio Bolsonaro, e algumas outras da Lava Jato contra Eduardo Cunha e Sérgio Cabral. De olho e 2022, o presidente Bolsonaro se filiou ao PL, Sérgio Moro foi para o Podemos eLula tem cortejado o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin para vice.
“Não importa se no passado fomos adversários, se trocamos algumas botinadas, se no calor da hora dissemos o que não deveríamos ter dito. O tamanho do desafio que temos pela frente faz de cada um de nós um aliado de primeira hora”, disse Lula após jantar com Alckmin.
A semana passada foi marcada pela polêmica escultura de um touro de ouro, que foi colocada, sem qualquer autorização da prefeitura, no calçadão da Rua 15 de novembro, onde fica o edifício-sede da Bolsa de Valores de São Paulo. A obra, que foi promovida por Guilherme Benchimol, presidente do conselho da XP-Investimentos, é um plágio de outra similar, que fica em Wall Street, diante da Bolsa de Nova Iorque. Dias depois, a escultura teve que ser removida por decisão da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana, vinculada à Secretaria de Urbanismo.
Benchimol criticou a decisão: “um dos maiores absurdos que já vi. O touro é um símbolo mundialmente conhecido pela sua virilidade e prosperidade. Um ícone da força do mercado de capitais mundial”. Recebeu apoio de outros atores do mercado financeiro, que também acham mais do que normal interpor a significativa escultura no passeio público, já que é público e notório o apreço que a maior parte das pessoas tem pelo dinheiro. Na lógica deles, se réplicas da Estátua da Liberdade podem estar diante de lojas da Havan, e há estruturas grotescas, como a do bandeirante Borba Gato, expostas em avenidas de São Paulo, por que alguém deveria implicar com um touro de ouro?
O deputado Eduardo Bolsonaro, que teve mais de um milhão de votos em São Paulo, criticou a prefeitura – comandada por um político de direita, Ricardo Nunes (MDB) – dizendo que a remoção do touro “atende às demandas da esquerda”. Eduardo também acha que se há uma escultura de um touro de ouro em Wall Street qualquer pessoa pode colocar outra, mesmo sem autorização, na maior cidade do Brasil.
“PROSPERIDADE”
No mercado financeiro, o touro representa “otimismo e a força dos investidores”. Essa metáfora surgiu para se referir à alta nos papéis, quando os preços estão subindo: “bull market” (mercado do touro). Só que, no Brasil, a Bolsa caiu 27,9% em 2021, o PIB anda de lado há anos e a renda se concentra cada vez mais nas mãos de poucos. Enquanto isso, a doença, o desemprego, o endividamento e a fome atormentam milhões de pessoas. O “nosso” touro aterrissou numa hora imprópria.
Os meus críticos dirão que não há hora imprópria para prosperar e que, ainda que sejam poucos os atuais privilegiados, todos necessitam do dinheiro para sobreviver e muitos o têm como um valor inerente às suas vidas. Sendo assim, a escultura interposta aos transeuntes da 15 de novembro seria um símbolo universal do que a maioria acredita e deseja.
De fato, a superação do estado de miséria para o de sobrevivência digna também pode ser entendida como prosperidade. Mas a prosperidade dos pobres só é aceita socialmente se cumprir o papel de reproduzir a miséria, como o dízimo que locupleta falsos pastores ou o auxílio emergencial do estado. Mesmo nestes sinistros tempos de pandemia, agravada pelo egoísmo e pela negação da ciência, a disposição de dar dinheiro a quem precisa é tida como suspeita e associada a algum interesse inconfessável – até mesmo pelos eventuais beneficiários.
A prosperidade de alguns contra os outros, ou a que favorece poucos excluindo cada vez mais gente, não tem o mesmo sentido positivo e está associada à ganância e ao egoísmo. Notem que as suspeitas dos que adoram o touro de ouro em relação ao bom uso do dinheiro revelam que, no fundo, eles sabem que a sua divindade é perversa, em essência.
ANTIGAMENTE
É duro termos que encarar a resiliência histórica de certas crenças e sentimentos humanos, mas também é difícil dissociar a simbologia do touro de ouro daquela narrativa bíblica sobre o bezerro de ouro. Parece até que a humanidade patina, há milênios, no mesmo pântano ético. Ou que precisou desse tempo todo só para transformar o seu bezerro em touro.
Naquele tempo, Moisés ficou estupefato quando desceu o Monte Sinai com a Tábua dos Dez Mandamentos e flagrou o seu povo fazendo oferendas e sacrifícios em adoração a um bezerro de ouro. Irado, ele perguntou a Arão, que o substituiu como líder na sua ausência, o que lhe haviam feito os judeus para que ele os levassem a cometer tamanho pecado. Ao que Arão respondeu: “Não te enfureças, meu senhor; tu bem sabes que esse povo é propenso para o mal”.
Moisés não se limitou a confinar o bezerro num depósito, como se fez com o touro em São Paulo. Derreteu, moeu e diluiu o ouro em água, determinando que todos a bebessem. Eu sugiro que, se houver mesmo ouro ou qualquer substância de valor na escultura do touro, que seja convertida em alimentos para os moradores de rua da cidade. Sugiro, sobretudo, que as pessoas percebam – logo – que, quando se chega ao ponto de infernizar até o clima da Terra, torna-se indispensável substituir o dinheiro pela ética nas relações entre nós, como condição de sobrevivência.
DW Brasil - Uma conjunção histórica de fatores tem feito com que muitos brasileiros achem mais verde a grama do vizinho. Em um fenômeno sem precedentes na história do país, este início de século registra o maior movimento de migração de cidadãos brasileiros rumo a outros países pelo mundo.
Segundo um levantamento do Ministério das Relações Exteriores, o número de brasileiros vivendo no exterior saltou de 1.898.762 em 2012 para 4.215.800 hoje — os últimos dados foram consolidados a partir de informações coletadas pelos consulados em 2020. No período, portanto, o aumento foi de 122%. E, pela quantidade atual de expatriados, pode-se dizer que cerca de 2% dos brasileiros moram hoje em um país estrangeiro.
"Esse movimento de saída de brasileiros nos últimos anos é inédito e, de fato, representa a maior diáspora da história brasileira", analisa Pedro Brites, professor na Fundação Getúlio Vargas.
Se o Brasil foi construído, desde a colonização portuguesa, por levas e levas de imigrantes — de várias partes do mundo, em ondas sucessivas — o atual momento indica uma virada de maré, como se o país que sempre recebeu agora tivesse se tornado um "exportador de gente". "O Brasil passou a ser um lugar de onde as pessoas saem. Isso significa que a sociedade de afluência que aqui se formou está extinta", comenta o sociólogo Rogério Baptistini Mendes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Quando eu era bem jovem, convivi, no meu dia a dia, com pessoas muito pobres. Os mais pobres de todos eram os flagelados fugidos do semi-árido que, de tempos em tempos, invadiam a cidade e espalhavam-se pelas calçadas próximas das feiras, dos mercados, bares da praia ou qualquer lugar onde houvesse a chance de conseguir água, comida ou algumas moedas.
Como morávamos em uma casa de esquina, vez por outra ouvíamos as batidas de mão que, no Nordeste, fazem (ou faziam) às vezes de campainha. Minha mãe ia ver o que era e quando os via voltava para dentro da casa e trazia água, frutas do quintal ou fazia café com leite para eles. Eu ficava na área da frente da casa, olhando para aqueles corpos cinzas de homens e mulheres quase iguais na sua magreza e nos cabelos desgrenhados e nos olhares fundos mas, principalmente, nos pés gretados, enormes, caindo pelos lados das sandálias gastas e sujas.
Mamãe não falava nada, não dizia palavras de consolo, apenas entregava as coisas com um breve “é o que temos” e entrava, chamando-me com os olhos. O grupo comia, bebia e deixava os copos e vasilhames sobre a murada e partia também sem maiores falatórios. Era um episódio como outro, sem reflexões ou discursos domésticos. Meu pai chegava do trabalho, mamãe fazia a janta e comíamos, de banho tomado e roupas limpas, sem noção ou consciência de que lá fora a escuridão era a casa de tanta gente.
Na frente da minha casa, em uma rua lateral que percorria o longo muro de um educandário, havia a entrada de uma grande favela, o que fazia de nós pessoas de posses naquele contexto no qual diversas camadas de pobreza se sobrepunham. Mas só muito depois fui entender essa nossa condição, quando aprendi à respeito de direitos e privilégios. Minha família estava dentro do círculo dos direitos – alimentação, saúde, educação, moradia, transporte. Os meus colegas da favela, com quem jogava bola, empinava papagaio e atirava pelotas de mamonas nos calangos que descansavam ao sol sobre os muros do educandário, viviam na interseção entre o mundo dos direitos e dos não direitos. E aqueles que apareciam de tempos em tempos, esses viviam no mundo do não direito de coisa alguma. Minha família ficava de pé, embora se cansasse bastante; os favelados caiam e levantavam, caiam e levantavam; os flagelados viviam “em cova medida”.
Passei boa parte da minha infância sem conhecer ninguém com privilégios. Saia de casa apenas de shorts de tecido comprado na feira, feito pela minha mãe, pés no chão, e ia brincar. Todos os meus amigos eram assim ou quase assim. Uma vez por ano, meu pai comprava roupas para nós: duas calças, três camisas, um sapato. Pagava no crediário, em doze vezes. A escola, pública, tinha uniforme. E era só.
Lembro que somente uma vez meu pai comprou livros, a enciclopédia Delta, edição de 1969, que servia para tudo. Outra vez, muitos anos depois, fez uma coleção de fascículos comprados nas bancas de jornais, sobre bichos. Meu pai sempre foi fascinado por animais. Nunca saímos para jantar fora. Nunca viajamos de férias, exceto uma vez, aos doze anos, quando vim com a minha mãe para visitar minha avó em Paranaguá. Na outra vez que viajamos, foi quando nos mudamos para Curitiba e eu já tinha 17 anos. Viemos com o avião do Correio Aéreo Nacional, de carona.
Creio que foi somente quando vim para Curitiba, no início dos anos oitenta, e fui estudar pela primeira vez em uma escola particular, que conheci essa realidade das pessoas portadoras de privilégios. Conheci porque ela foi impressa em mim, na minha diferença de jovem de classe média baixa, com apenas duas calças e três camisas, que eu alternava como podia, mas que ao fim do primeiro mês já estava suficientemente manjada para despertar os comentários maldosos dos meus novos “colegas”.
Como minhas duas calças eram iguais, achavam que era uma só e zombavam de mim, dizendo que eu não lavava as calças. Para piorar, tive uma descamação do couro cabeludo por causa da água quente, o que ajudou muito na narrativa de que eu era um pobre sujo. Meu sotaque nordestino imediatamente valeu-me o apelido de “Ceará”, e só na universidade – onde tive a companhia de apenas um amigo desses tempos, que nunca abandonou o apelido – pude voltar a ser chamado pelo meu nome de batismo.
Minha primeira reação a este novo mundo foi de uma imensa raiva. Depois, aos poucos, fui trocando esse sentimento por um misto de sarcasmo e ceticismo. Por fim, ficou apenas uma indiferença forçada, marcada pelo esquecimento completo de todas as pessoas com as quais eu convivi nesses anos de final de Ensino Médio. Não guardei nenhum nome e nenhum rosto. Só o aprendizado da miserável e privilegiada existência deles.
Hoje, homem feito, tropeço com os pobres das calçadas no trajeto entre meu apartamento em um bairro central da cidade e meu trabalho. Costumo dar os trocados que levo comigo mas, muitas vezes, recuso os doces e balas e pedidos de ajuda, fazendo o cálculo mental de que “já ajudei ontem ou essa semana” e que, portanto, estou em dia com minhas obrigações de solidariedade. Pertenço ao borrão ético que é a face mais reconhecível do meu país, aquele que diz: “não sou responsável por isso, pago meus impostos e voto em candidatos progressistas. Sou uma pessoa legal”. E sigo em frente.
Os pobres dessa cidade não são como os flagelados de minha infância, Fabianos e Sinhás Vitórias em pouca carne e muito osso que ainda assombram a minha memória. Mas esses pobres de meus trajeto diário perpetuam a herança da exclusão atroz da sociedade e dos governos que se enfileiram década após década , incapazes de atender os direitos mais básicos das pessoas. Eu caminho, já há mais de meio século, com a imagem desses pobres na minha paisagem, com a presença pungente deles a impregnar minha retina, com os detalhes de seus corpos rudes e maltratados a lembrar-me que o processo civilizatório do qual faço parte como usuário traz uma promessa não cumprida: a de fazer desse país um lugar decente. Na verdade, essa promessa quase nunca foi feita pra valer. Já foi dita, é verdade, em momentos raros de nossa História. Mas está tudo como dantes no quartel das boas intenções rasas e infrutíferas.
Desse fracasso escandaloso, dessa lacuna vergonhosa, todos somos parte, como autores ou como cúmplices. Eu sou. O flagelado que bate palmas no portão da casa de minha infância é a minha dívida não resgatada.