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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

09
Ago23

Brasil fez uma revolução em 1930 para acabar com a Política 'Café com Leite' que Zema pretende ressuscitar 

Talis Andrade

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Zema quer ping-pong nas eleições presidenciais 

 

A Política do Café com Leite, como ficou conhecida popularmente a dominação paulista e mineira do governo federal, só terminou com a Revolução de 1930, que destruiu as instituições políticas da República Velha. Observe que o nome da política refere-se ao café, de São Paulo e o leite, de Minas Gerais. Isso Romeu Zema chama de 'novo' na política, o acordo que marcou a República Velha

Escreve Vitor Amorim de Angelo:

A política do café-com-leite foi um acordo firmado entre as oligarquias estaduais e o governo federal durante a República Velha para que os presidentes da República fossem escolhidos entre os políticos de São Paulo e Minas Gerais. Portanto, ora o presidente seria paulista, ora mineiro.

O nome desse acordo era uma alusão à economia de São Paulo e Minas, grandes produtores, respectivamente, de café e leite. Além disso, eram estados bastante populosos, fortes politicamente e berços de duas das principais legendas republicanas: o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro.

A política do café-com-leite só pode ser entendida quando analisada dentro do quadro político-econômico da Republica Velha. Afinal, a prerrogativa dos paulistas e mineiros para a escolha dos presidentes correspondia, de outro lado, aos benefícios garantidos pelo governo federal às oligarquias das demais províncias - não se chamavam estados, na época.

Em troca da autonomia local e da não interferência do governo federal nas questões provinciais, as elites estaduais garantiam o apoio das suas bancadas ao presidente da República. Essa era a essência de um outro acordo mais amplo que a política do café-com-leite e no qual esta se encaixava: a política dos governadores. Dentro desse contexto, São Paulo e Minas Gerais controlaram o processo sucessório nacional justamente em razão do seu peso econômico, demográfico e político.

Alternância no poder

Formalmente, a política do café-com-leite teve início em 1898, no governo do paulista Manuel Ferraz de Campos Salles, e encerrou-se em 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. Da Proclamação da República, em 1889, até o início do governo Campos Sales, o Brasil teve dois presidentes militares: os marechais Deodoro da Fonseca, que governou o país até 1891, e Floriano Peixoto, que ocupou a Presidência até 1894.

Naquele ano, 1894, foi eleito o primeiro presidente civil da história republicana brasileira - Prudente de Moraes. Herdando do antecessor uma grave crise política, provocada por divergências entre os governos federal e provincial em torno dos rumos da nascente República, Prudente de Moraes enfrentou ainda algumas tensões político-sociais, como a revolta em Canudos, na Bahia, e a Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul.

Com a derrota dos seguidores de Antônio Conselheiro e dos federalistas gaúchos, restou ao sucessor de Prudente de Moraes, Campos Salles, a tarefa de estabilizar a relação do poder central com as províncias. Seu governo conseguiu equacionar as divergências provocadas pelas estruturas de dominação locais, abrindo um novo momento político na história do país, denominado de República Oligárquica.

Durante os mais de 30 anos em que perdurou a política do café-com-leite, o Brasil elegeu 11 presidentes da República, sendo 6 paulistas - incluindo Prudente de Moraes e Campos Salles - e 3 mineiros. Dois vice-presidentes assumiram o posto do titular ao longo desse período: o fluminense Nilo Peçanha, no lugar de Afonso Pena, falecido em 1909; e o mineiro Delfim Moreira, substituindo o paulista Rodrigues Alves, morto em 1918, antes mesmo de tomar posse naquele que seria seu segundo mandato como presidente.

 

Cisões na política do café-com-leite

Embora, no geral, o acordo entre São Paulo e Minas Gerais visasse a ocupação da Presidência da República pelos dois estados, houve momentos de grande tensão na aliança paulista e mineira, levando à escolha de candidatos de outras regiões do país. Este foi o caso, por exemplo, do gaúcho Hermes da Fonseca e do paraibano Epitácio Pessoa.

Em 1909, diante de divergências entre políticos mineiros quanto à escolha do candidato à sucessão presidencial, Pinheiro Machado, expressiva liderança política do Rio Grande do Sul, lançou o nome de Hermes da Fonseca. No caso de Epitácio Pessoa, sua eleição, em 1919, para suceder Delfim Moreira, que se afastara do cargo, foi um desdobramento dos problemas causados pela Primeira Guerra Mundial na economia brasileira.

De qualquer forma, mesmo nos momentos de crise, a eleição presidencial contou com o apoio das províncias de São Paulo e Minas Gerais. Isso é, ainda que não elegessem um paulista ou mineiro, as duas províncias sempre participavam das articulações para a escolha do novo presidente. Por outro lado, as divergências que envolviam o processo sucessório demonstravam que outras províncias, de importância menor, também aspiravam ao poder central.

A evolução dessa crise política acabaria levando ao movimento de 1930, liderado pela oligarquia gaúcha - tendo à frente Vargas - com o apoio da Paraíba, a quem foi dado o cargo de vice na chapa de Getúlio, e Minas Gerais, que abandonara a aliança com São Paulo quando o paulista Washington Luís optou pela indicação do também paulista Júlio Prestes. Embora vitorioso, nem mesmo chegou a tomar posse, atropelado pela intensa movimentação política que culminaria na instalação de um governo provisório, em novembro de 1930.

Zema queima largada para 2026

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por Miguel do Rosário

Peixe morre pela boca, diz o ditado popular, que se encaixa perfeitamente nessa entrevista do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ao Estadão.

A chamada provocativa do jornal, acentuando a parte da entrevista em que o governador efetivamente aposta num confronto entre regiões, também não o ajudou muito.

Antes de analisar a entrevista em si, vale nos perguntarmos: por que cargas d’água o Estadão cometeu o que poderíamos apontar como a chamada mais infeliz do século?

Zema disse isso mesmo?

Sim, Zema realmente afirmou que entende o Cosud, o Consórcio de Integração Sul e Sudeste como uma frente contra o Nordeste, e falaremos disso mais adiante.

O lado curioso, quase engraçado, é que a estupidez de Zema parece ter tocado uma nota sensível no espírito profundamente provinciano do Estadão. Isso explica eles – os editores do jornal – terem aceitado essa manchete. Possivelmente pensaram que estariam ajudando o governador a se cacifar como um grande líder dessas regiões “esquecidas”, “abandonadas”, Sul e Sudeste.  Como se trata de uma entrevista importante, exclusiva, um conteúdo valioso para qualquer periódico, acho difícil que tenha sido um erro casual. Foi um erro muito bem ponderado, nascido de uma cultura de preconceito.

Agora, vamos à análise da entrevista, que nos ajudou muito a entender os projetos da direita brasileira para 2026, e deste personagem em particular, Romeu Zema.

Tiremos a limpo, em mais detalhes, essa história de confronto entre regiões. O que exatamente Zema disse? Reproduzo aqui os trechos em que ele menciona o assunto.

“Temos o Grupo do Cossud. Na verdade, ele já existia, mas nós formalizamos o Consórcio Sul, Sudeste, que reúne os 7 Estados das duas regiões. A cada 90 dias, nós nos encontramos para trabalharmos de forma conjunta. A última reunião foi em Belo Horizonte. Tem muita coisa que um Estado faz melhor que o outro. Também já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político. Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por Estado. Nós falamos, não senhor. Nós queremos proporcional à população. Por que sete Estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não. Pode ter o Conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente.

A reforma tributária e a representatividade no Senado. Sempre vamos estar em desvantagem – 27, num total de 81. Temos feito o mesmo trabalho com o senadores de nossos Estados e o que nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos – que é necessário, mas tem um limite – de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada. A reforma tributária, fizemos outro questionamento. Está sendo criado um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade…Tem, sim. Nós também precisamos de ações sociais. Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta?”

Acima está o trecho completo, para o leitor entender a contextualização. Agora separamos as frases mais emblemáticas:

“Também já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político.”

“(…) queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido de (…) só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada.”

“Está sendo criando um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza?”

“Nós também precisamos de ações sociais. Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta?”

São frases que nos obrigam a respirar fundo, de tão repugnantes e desonestas. Pra começar é mentira. Em todos esses anos, os estados que mais receberam recursos do governo federal, bolsa família, obras de infra-estrutura, sempre foram os estados do Sudeste. Em 2023, o estado que receberá, individualmente, mais recursos do Bolsa Família, é… São Paulo, exatamente R$ 1,71 bilhão. Em número de famílias contempladas, São Paulo (2,55 milhões) fica ligeiramente atrás da Bahia (2,56 milhões), porém fica à frente em recursos, porque no estado há mais crianças de zero a seis anos que recebem o benefício.

Se você examinar os benefícios fiscais federais concedidos a grandes empresários, novamente encontrá o Sudeste e Sul à frente.

Historicamente, os estados do Sul e Sudeste sempre receberam muito mais investimento federal em infra-estrutura do que o Nordeste.

A ignorância, ou cinismo, de Zema é abissal: o sul e sudeste sempre tiveram “protagonismo” político do Brasil, desde o início da republica até hoje. A maioria dos ministros do governo são do Sudeste. A maioria dos ministros do STF e STJ são do Sudeste. Já tivemos Vargas, do Rio Grande do Sul, a frente do governo de 1930 a 1945, e depois de 1950 a 1954. Tivemos o período conhecido como república do café com leite, em que lideranças de Minas e São Paulo se revezavam na presidência da república.

O que chama atenção, o que realmente nos causa revolta, é a maldade, o egoísmo, a absoluta falta de espírito nacional.

Uma das razões mais dramáticas pela qual o Nordeste tem enfrentado tantas dificuldades econômicas, ao longo dos últimos cem anos, foi a associação entre uma absurda concentração fundiária, especialmente nas áreas mais férteis e com melhor índice de chuvas, e o clima inóspito, devastado por secas terríveis e periódicas.

Zema se gaba de ter vindo da iniciativa privada. Ele fala isso como se fosse o único. Lula também veio da iniciativa privada, só que ele era torneio mecânico, enquanto Zema nasceu numa das famílias mais ricas do país, proprietária do grupo Zema, do qual tem 30% das ações. Seu patrimônio declarado ao TSE em 2022 foi de R$ 129 milhões.

Além do preconceito, egoísmo e desonestidade, as declarações de Zema também revelam um político inábil, para usar um termo delicado. Na verdade, esse é o lado bom da entrevista. Ela realça um lado do governador que possivelmente muita gente não conhecia. É óbvio que suas declarações não agradarão nem as lideranças nem o povo nordestino. Ou seja, elas agravam um problema da direita, sobretudo em se tratando do voto para presidente da república: a falta de voto no Nordeste. Tampouco me parece que declarações tão antipáticas ajudarão a ampliar o voto conservador do Sul e Sudeste, onde esse espírito “separatista” não é partilhado pela maioria.

Em termos práticos, Zema acaba, portanto, de prestar um grande serviço a Lula, e queimar sua própria largada para 2026.

O governador comete outro erro primário, como um zagueiro que resolve brincar com a bola perto da área de seu time, e acaba dando oportunidade para o atacante adversário fazer um gol. Ao tentar se vender como uma “liderança do Sudeste e do Sul”, em busca de mais investimentos federais, ele esquece que Lula tem tanto ou mais interesse que ele em agradar os eleitores dessas regiões.

Com seu pequeno cérebro provinciano, pensando apenas como “governador”, e não como uma liderança política com horizontes maiores, Zema também ignorou uma matemática básica, a de que o Sudeste foi a região que, em termos de quantidade, sempre deu mais votos a Lula. Em 2022, Lula teve 22,8 milhões de votos no Sudeste, no segundo turno, contra 22,5 milhões no Nordeste. Somando Sul e Sudeste, Lula teve quase 30 milhões de votos no segundo turno, contra 28 milhões de votos de Norte e Nordeste somados.

O berço político de Lula é o estado de São Paulo.

A primeira capital administrada pelo PT foi Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. E a capital onde o PT venceu mais vezes foi… São Paulo.

Os estados onde o PT tem mais deputados são… São Paulo, onde o partido elegeu 11 deputados, e Minas Gerais, onde elegeu 10.

Tem outros pontos da entrevista que merecem análise.

Um deles é a relação curiosa de Zema com Bolsonaro. Ele o critica pelo negacionismo na pandemia. A propósito, isso é um aspecto positivo do governador. Por mais reacionário e conservador que um político se revele, precisamos sempre elogiar quando se respeita a vida e a ciência.

No entanto, apesar da crítica ao negacionismo de Bolsonaro, que resultou em centenas de milhares de mortes a mais do que poderiam ter ocorrido, Romeu Zema dá nota 8 para seu governo… O que significa que, para Zema, os crimes de Bolsonaro parecem ser apenas um detalhe. Isso é muito revelador, por outro lado, da cultura política da nossa elite. Os escândalos de corrupção, reais, exagerados ou fantasiosos, nos governos do PT, afetam muito mais o seu voto do que o genocídio.

Outro ponto interessante é sua aposta na polarização ideológica. Zema está jogando todas as suas fichas nessa divisão, provavelmente pela leitura que faz da correlação de forças no congresso e na sociedade, especialmente nos setores dominantes. A estratégia de Zema está clara: ele quer o eleitor do Bolsonaro, que preza muito esses rótulos. Mas talvez o governador não enxergue dois efeitos colaterais desse tipo de radicalização retórica. O primeiro é cortar inteiramente o diálogo com setores progressistas. Repare que Lula procura sempre deixar claro sua disposição de estabelecer boas relações com qualquer pessoa, independente dessa dicotomia direita x esquerda. E não porque Lula seja supra-ideológico, mas porque ele faz uma conta matemática simples: a esquerda já está com ele, então ele precisa de apoio – parcial pelo menos – de quem está do outro lado. Talvez Zema entenda que, no caso da direita, por ser maioria no congresso, não precise agir da mesma forma. Mas esse é um erro crasso, que os extremistas, e isso vale também para a esquerda, sempre cometem e que invariavelmente os isolam.

A radicalização retórica reforça a dimensão dialética da política e corta para os dois lados. Ou seja, ao insistir nessa polarização terminológica, Zema acaba empurrando todo mundo que não concorda com ele para o outro lado, a esquerda. Quando uma liderança insiste em bater no peito para afirmar, em alto e bom som, que é de “direita”, ela faz uma  parte importante da sociedade, especialmente o campo popular, abrir os ouvidos para a existência de uma “esquerda”. Naturalmente, tudo vai depender, como o próprio Zema admite, do desempenho da economia brasileira. Como governador de um grande estado, todavia, Zema é obrigado, caso suas ambições políticas de alçar voos maiores sejam autênticas, a fazer uma administração que gere empregos e renda ao máximo possível de mineiros. Ao fazer isso, ele ajuda a economia nacional como um todo. E isso ajuda Lula. E se Lula é de esquerda, então ajuda a esquerda.

A política, especialmente num regime democrático tão competitivo como o nosso, é cheia de sutilezas, armadilhas, reviravoltas dialéticas e desdobramentos irônicos.

A Lava Jato, por exemplo, tentou destruir Lula, o PT e o sistema político como um tudo. O resultado foi um Lula mais forte do que nunca, um PT revigorado, e um sistema político muito mais consciente sobre os perigos de um judiciário descontrolado. A história está repleta de casos similares, e por razões que os darwinistas sérios conhecem bem: para que haja uma evolução biológica ou tecnológica, como o crescimento do cérebro ou a invenção de novas ferramentas, é preciso que exista um obstáculo ou desafio que produza a necessidade de mudança, de modo a assegurar a sobrevivência e a reprodução da espécie.

Sobre o judiciário, a propósito, isso será assunto para outro texto, mas adianto apenas uma ponderação final:  tenho fortes suspeitas de que, passado esse momento de depuração, em que o Supremo Tribunal Federal teve que reagir com muita força a um movimento fascista que tinha apoio militar, as relações entre os poderes emergirão mais cuidadosas e estáveis, por um bom tempo.

04
Nov22

O caso da saudação nazista de bolsonaristas golpistas durante a execução do Hino Nacional em São Miguel do Oeste (SC)

Talis Andrade

 

Lenio Streck vê precipitação no MP de Santa Catarina e aciona o MPF

 

Por Rafa Santos

O jurista Lenio Streck, em parceria com Marcelo Cattoni, Ranieri Resende e Mauro Menezes, apresentou representação ao Ministério Público Federal sobre o caso da saudação nazista de bolsonaristas golpistas durante a execução do Hino Nacional em São Miguel do Oeste (SC).

Na petição, os autores afirmam que a saudação nazista é conduta criminosa, que merece ser apurada, com a identificação de seus autores e seu necessário enquadramento no tipo penal correspondente.

"Cumpre acrescentar que a matéria objeto da presente representação compõe obrigação internacional constante em recente tratado ratificado pelo Brasil, qual seja, a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância (2013), incorporada ao bloco constitucional com status de Emenda Constitucional (Decreto Legislativo nº 1/2021)", diz trecho do documento. 

Além de acionar o MPF, Streck também criticou o trabalho do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Santa Catarina, que afirmou não ter identificado intenção de fazer apologia ao nazismo por parte dos bolsonaristas. 

"Muito estranha essa pressa do MP estadual em arquivar. Ao que consta, bastou ouvir o locutor que mandou um áudio para o coronel da polícia e fiat lux, tudo ficou esclarecido para o promotor. Ora, um fato dessa envergadura exige o máximo de cuidado. O mundo literalmente está de olho", disse Streck. "Essa explicação por WhatsApp aceita pelo MP não parece prudente e à altura da responsabilidade da instituição. O que o MP não entendeu, ou fez de conta que não entendeu, é que não interessa o ponto de vista interno subjetivo do autor ou mentor do gesto com a mão erguida. Importa é o que esse gesto representa na opinião comum dos olhares dos 'espectadores do evento', a aldeia global. A opinião pública é que importa. Por isso, esperamos que o MPF tenha mais cuidado com o fato ocorrido."

No áudio citado por Streck, uma das pessoas presentes ao ato, que se identifica como Itamar Schons, disse que pegou o microfone para tentar animar o grupo de bolsonaristas. "Era para erguer a mão em direção ao Exército como se estivesse pedindo ajuda", diz trecho do áudio. Ele ainda afirmou que a iniciativa buscava apenas passar uma "energia positiva" ao público.

 

 

 

Entidades repudiam gesto

 

Apesar da conclusão preliminar do MP-SC, o gesto foi repudiado por diversas entidades. A Confederação Israelita do Brasil condenou o episódio. "As imagens de manifestantes fazendo saudações nazistas em protesto em Santa Catarina são repugnantes e precisam ser investigadas e condenadas com veemência pelas autoridades e pela sociedade como um todo. O nazismo prega e pratica a morte e a destruição", diz trecho de nota divulgada pela entidade.

Já o embaixador da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, afirmou que o uso de símbolos nazistas e fascistas por "manifestantes" claramente de extrema direita é profundamente chocante. 

"Não se trata de liberdade de expressão, mas de um ataque à democracia e ao Estado de Direito no Brasil. Esse gesto desrespeita a memória das vítimas do nazismo e os horrores causados por ele."

A embaixada de Israel no país também divulgou comunicado em que condena qualquer forma de referência ao nazismo no Brasil. "Estamos preocupados com esse fenômeno aqui e contamos com as autoridades competentes para que tomem as providências necessárias para acabar com esse tipo de atos ultrajantes."

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08
Ago22

Canalhices contra Manuela

Talis Andrade

Canalhices contra Manuela

 

 

por Juremir Machado da Silva

 

Talvez o maior paradoxo da humanidade seja este: a tecnologia não para de avançar, o imaginário continua atrasado. Na era da internet – triunfo de séculos de saber acumulado pela ciência – racismo, homofobia e machismo continuam, para usar a linguagem das redes nem tão sociais assim, bombando. Basta ver o que aconteceu em Portugal com os filhos negros dos atores brasileiros Bruno Gagliasso e Giovana Ewbank.

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Foram vítimas do racismo mais explícito possível. No programa global de Ana Maria Braga, que repercutia esse caso, entraram no ar, em lugar da reportagem prevista, imagens de macacos. A pessoa responsável foi devidamente demitida. Por aqui, nos pagos, a gaúcha Manuela D’Ávila é alvo permanente dos seres mais abjetos. Mais uma vez, um deles a ameaçou de estupro e referiu-se a filhinha dela em termos sexuais inomináveis. Por que esse ódio todo?

Ao longo dos muitos anos em que trabalhei em rádio sempre me impressionou o ódio das mensagens de ouvintes contra Manuela D’Ávila (PCdoB), Maria do Rosário (PT), Fernanda Melchionna (PSOL), Luciana Genro (PSOL) e Sofia Cavedon (PT). Era uma mistura de misoginia, machismo, reacionarismo, estupidez, ignorância e recalque, tudo isso embalado como anticomunismo. Na guinada da Rádio Guaíba para o bolsonarismo mais rasteiro, uma entrevista com Fernanda Melchionna, no Esfera Pública, que eu apresentava ao lado de Taline Oppitz, serviu de gota d’água. Ela provocava urticária na base bolsonarista no poder. Homens assinavam a grande maioria das mensagens mais brutais, patológicas e repugnantes.

 

 

Manuela é bem-sucedida, inteligente, famosa, competente, bonita, defende causas justas, tem uma linda família e um futuro político sempre promissor. É isso que enfurece os seres toscos que a atacam? Li nas redes antissociais que ela é ofendida por ser de classe média e comunista. Manuela é vítima constante de fake news sobre sua vida privada. Mesclam o ódio mais grosseiro contra o feminismo ao antiesquerdismo visceral, num pacote de infâmias no qual vale tudo para desqualificar alguém. Junta-se a isso a vulgata espalhada por liberais sem grandeza intelectual pela qual comunistas não poderiam se beneficiar da evolução tecnológica, ter um iPhone, por exemplo, nem viver confortavelmente. Não sou comunista, nunca fui, mas li bastante sobre o assunto. Entendi que comunistas não querem a pobreza para todos, mas o compartilhamento da riqueza, a elevação do nível da vida de todos, etc. Não foi nem é assim na prática? Ouso dizer que o capitalismo também não tem cumprido as suas promessas mais básicas.

O liberal raiz, individualista radical, julga a ideologia do outro pela sua, transformando uma proposta coletivista em ação individual. Assim, confunde uma proposta de transformação estrutural com atitudes individuais, como se o comunista devesse praticar uma espécie de filantropia, doando seus bens. Digo isso com a tranquilidade de quem se vê como anarquista de utopia e social-democrata na prática, encantado com a Suécia. A conversa aqui, porém, é outra. Manuela e as mulheres que citei são atacadas vilmente por serem mulheres. O fato de que argumentam bem, com veemência, firmeza e precisão, enfurece os machistas de plantão. 

O comunismo não ameaça o Brasil. O perigo é o bolsonarismo. A Carta em Defesa da Democracia, assinada por empresários, professores, artistas, intelectuais e profissionais dos mais diversos setores, mostra com que setores que não podem ser chamados de comunistas estão, de fato, preocupados. A ameaça mais sorrateira, contudo, é essa que atinge mulheres como Manuela, infiltrando-se no cotidiano, a ameaça da violência produzida pela estreiteza mental e pelo horror às transformações comportamentais que buscam eliminar o pior de um longo passado patriarcal e falocêntrico.

Somos todos Manuela e Giovana Ewbank.

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03
Jun22

A biografia do covarde

Talis Andrade

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  • por Ruy Castro

 

Há dias, neste espaço (12/5), comparei Jair Bolsonaro àquele menino covarde que chuta um coleguinha pelas costas e, quando este reage, corre e vai pedir socorro ao irmão mais velho, chorando e dizendo-se agredido. Um garoto desses, se renitente na prática, será uma ameaça em adulto. No futuro, deem-lhe poder e um irmão mais velho —as Forças Armadas— e você terá Jair Bolsonaro.

Tenho alguma experiência na produção de biografias e me pergunto se e quando farão uma biografia à altura (ou à baixeza) de Bolsonaro. Primeiro será preciso encontrar um autor capaz de superar a revolta e repugnância que o personagem inspira, a fim de conferir ao trabalho a objetividade que a biografia exige. Depois, vencer a resistência das fontes de informações —muita gente sabe de horrores sobre ele, mas quantos se atreverão a contar? Bolsonaro é vingativo, sua índole é a do cão hidrófobo e, mesmo enjaulado e de focinheira, ainda terá força nos próximos anos para ir à forra contra quem o desagradar. Ou alguém duvida de que, mesmo sem ele, agentes avulsos de sua hidrofobia continuarão ativos?

Sempre acreditei que apenas a pessoa morta deveria ser biografada, e por um motivo óbvio: o de que só então sua história estará completa. Mas, no caso de Bolsonaro, é urgente a exceção. É preciso expô-lo o mais depressa possível, antes que a escalada de seu banditismo torne irrelevantes vilanias precoces. Tudo deve ser apurado, desde sua infância de menino covarde no interior de São Paulo até seu arrebatamento em desfilar de moto com 500 homens às suas costas, um deles atracado-lhe à garupa.

Informo desde já que não farei essa biografia. Ela exige um profissional mais jovem, com disponibilidade total e heroica determinação para chafurdar na merda.

Mas coloco-me à disposição para orientar, dar palpites e aconselhar a que se trabalhe de máscara, com o nariz tapado.

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TRIBUNA DA INTERNET

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Covarde, Bolsonaro troca vidas por votos no Congresso | Partido dos  TrabalhadoresA mídia internacional e o risco Bolsonaro - Sinpro GoiásDesta vez exageraram com Bolsonaro! - OrlandoPassos.comNáufrago da Utopia: CARLA JIMÉNEZ: "BOLSONARO NÃO TEM HONRA NEM RESPEITO,  TEM ATITUDES DE UM COVARDE, DE UM SABOTADOR NACIONAL"

05
Abr22

Eduardo Bolsonaro tortura Míriam Leitão

Talis Andrade

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Por Altamiro Borges

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também chamado de Dudu Bananinha, é realmente muito escroto. Pelo Twitter, ele voltou a ironizar a bárbara tortura sofrida por Míriam Leitão, da Rede Globo, durante a ditadura militar. Ele postou: “Ainda com pena da [emoji de cobra]”. O fascistoide conta com o cretinismo parlamentar para manter a sua imunidade! 

Quando tinha apenas 19 anos e estava grávida, a hoje conhecida jornalista foi presa e torturada por carrascos da ditadura dos generais (1964-1985). Em uma sessão de tortura, ela foi deixada nua em uma sala escura com uma cobra. O tuíte do filhote 03 do presidente gerou manifestações de repúdio até dos que discordam da colunista global. 

Lula presta solidariedade à jornalista global

 
O ex-presidente Lula, que sempre sofreu críticas ácidas da jornalista e da Rede Globo, foi um dos primeiros a repudiar o fascista. “Minha solidariedade à jornalista Míriam Leitão, vítima de ataques daqueles que defendem o indefensável: as torturas e os assassinatos praticados pela ditadura. Seres humanos não precisam concordar entre si, mas comemorar o sofrimento alheio é perder de vez a humanidade”, postou nas redes sociais. 
 
A Federação Nacional dos Jornalistas divulgou nota em que lembra que “não foi a primeira vez que Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, tratou a tortura como uma prática banal e defensável. Também não foi a primeira vez que a jornalista Míriam Leitão foi desrespeitada pela família Bolsonaro, em sua história de militante e presa política”. 

O texto da Fenaj também enfatiza que “passa da hora de os demais poderes constituídos da República brasileira agirem para garantir o Estado de Direito, com a punição cabível para autoridades que insistem em agir fora dos preceitos legais e democráticos”. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também afirma que a “apologia à tortura é crime e quem a pratica deve se submeter aos rigores da legislação”. 

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Cadê o Conselho de Ética?


PSOL e PCdoB já protocolaram representações no Conselho de Ética da Câmara Federal em que pedem a cassação do mandato do parlamentar. Para a líder do PSOL, deputada Sâmia Bomfim, a postagem dele sobre a tortura é “desumana”. “Quando ele faz piada com essa situação, reafirma, mais uma vez, que é um criminoso inimigo da democracia”. 

No mesmo rumo, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirma que é urgente punir Eduardo Bolsonaro “por respeito à democracia, à sociedade e às mulheres. A publicação dele é repugnante. Se isso não é quebra de decoro, o que será? A leniência da Câmara em outros tempos normalizou barbaridades como o elogio a tortura”. 

O deputado Alexandre Molon (PSB-RJ) também reagiu indignado. “Que tipo de monstro é capaz de debochar da tortura de uma mulher grávida?”, perguntou pelo Twitter. Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que o comentário é “nojento, covarde e asqueroso”. E a deputada Natália Bonavides (PT-RN) exigiu uma postura dura da Câmara Federal.
 
07
Mar22

Picaretagem política, misoginia e perversão sexual do MBL afundam Moro

Talis Andrade

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Por Milton Alves 

O Movimento Brasil Livre (MBL) é um verdadeiro combo explosivo de práticas de picaretagem política, de misoginia e perversão sexual. O grupo reúne uma escória que transitou das redes sociais para a cena política no bojo da escalada golpista de 2014-2016 contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

O MBL é o principal grupo militante de apoio à candidatura presidencial de Sergio Moro (Podemos), um projeto artificial da chamada 3ª via e contra os interesses nacionais do Brasil — que foi devastado pela operação Lava Jato comandada pelo ex-juiz e uma gangue de procuradores de Curitiba.

Após algumas semanas, quando o deputado federal Kim Kataguiri, líder do MBL, chocou o país com uma declaração favorável à legalização do partido nazista, agora foi a vez do deputado estadual Mamãe Falei (Arthur do Val), pré-candidato ao governo de São Paulo pelo partido de Moro, que, em áudios para um grupo de WhatsApp de simpatizantes, fez uma série de declarações repugnantes e misóginas, de caráter sexual, sobre as mulheres ucranianas, alcançadas por uma guerra de agressão movida pelo governo russo contra a Ucrânia.

Alguns trechos das infames e nojentas declarações de Mamãe Falei são estarrecedores: “maluco, eu juro. Nunca na minha vida, e tenho 35 anos, vi nada parecido em termos de menina bonita. A fila das refugiadas, irmão, sei lá, de 200 metros mais, só deusa. Se você pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila dos refugiados aqui”, declarou. 

Mamãe Falei continua as falas, e dessa vez, em tom de maior perversão afirmou: “Detalhe hein. Elas são fáceis, porque são pobres. Aqui, minha carta do Instagram funciona demais. Não peguei ninguém, mas colei em duas mina. É inacreditável a facilidade. Essas minas em São Paulo, você dá bom dia e ela ia cuspir na tua cara”.

O deputado ainda avança na misoginia e abusando de imagens sexuais sobre a “indústria criminosa” do turismo sexual no Leste Europeu dispara: “São gold diggers que chama, né”. (Gold digger, literalmente falando, é “alguém que cava em busca de ouro”). O termo diggervem do verbo dig, que significa “cavar” — e geralmente usado para designar pejorativamente jovens mulheres que ficam com homens ricos.

Mamãe Falei, muito excitado, sem querer, ainda faz uma revelação confidencial sobre seu companheiro do MBL, Renan Santos, também presente na excursão pela Ucrânia. Segundo o parlamentar, Renan viaja aos países do Leste Europeu “todos os anos só para pegar loiras”. É o chamado “tour de blondes“, um roteiro de turismo sexual nos países do Leste Europeu — cidades da Romênia, República Tcheca, Hungria, Eslováquia e Moldávia integram a rota do negócio da escravidão sexual de mulheres brancas.

Neste sábado (5), Mamãe Falei desembarcou em São Paulo e tentou, sem sucesso, justificar as falas preconceituosas e machistas. “Sou homem, sou jovem, foi empolgação. Vi um monte de mulheres bonitas sendo simpáticas, talvez porque em São Paulo as mulheres sejam mais inacessíveis”, disse.

Em entrevista, o parlamentar explicou que o áudio foi enviado a um grupo privado e produzido em um momento de descontração, quando ele teria atravessado a fronteira da Ucrânia com a Eslováquia.

As consequências políticas dos áudios vazados de Mamãe Falei são graves, e implicam na possibilidade de cassação imediata de seu mandato e o fim de sua bizarra candidatura ao governo paulista. Além disso, o episódio gerou uma forte onda de repúdio em diversos setores políticos e sociais, inclusive no seu partido.

A boçalidade de Mamãe Falei/Arthur do Val também representou um duro golpe na candidatura de Sergio Moro, que apresenta um reduzido índice de intenções de votos nas recentes pesquisas eleitorais, minguando as expectativas do projeto entreguista e revanchista do lavajatismo.

A semana foi, especialmente, adversa para Sergio Moro. Durante uma agenda de pré-campanha em Maringá, sua terra natal, na manhã de sexta-feira (4), nas instalações da Cooperativa Agroindustrial Cocamar, uma explosão causou a morte de dois operários, o que provocou o término da visita.

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A campanha de Moro sofre ainda um pesado assédio do bolsonarismo, que busca recuperar votos entre o eleitorado lavajatista. Em Curitiba, já prevalece um clima de derrotismo entre os parlamentares e lideranças do Podemos.

 

21
Fev22

"Acho meu tio uma das pessoas mais repugnantes da Terra", diz sobrinho de Malafaia

Talis Andrade

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Rodrigo e Silas Malafaia. Parentes não foram para a festa do jovem, que é desprezado na família por ser gay. Poderoso financeiramente, pastor evangélico é quem dita as ordens na família

 

Redação Pragmatismo Político

Desprezado por ser gay. "Tenho vontade de mudar a história desse sobrenome porque tenho pavor por quem ele é lembrado", desabafa Rodrigo Malafaia, que se casou nesta sexta em uma cerimônia para 200 convidados, mas que não teve a presença de familiares

Rodrigo Malafaia, de 31 anos, se casou nesta sexta-feira com o cantor Leandro Bueno, ex-participante do “The voice Brasil”, numa cerimônia que aconteceu em Mairiporã (SP), e foi celebrada pelo ator e apresentador Vitor diCastro.

Em entrevista ao UOL, ele falou sobre a união, que não teve a presença de seus parentes, e também sobre seu sobrenome, o mesmo do tio-avô, o pastor Silas Malafaia, ao qual deseja dar um novo significado.

“Tenho vontade de mudar a história desse sobrenome porque tenho pavor por quem ele é lembrado. Querendo ou não somos da mesma família. Eu não queria isso, pois acho ele uma das pessoas mais repugnantes da face da Terra”, desabafou.

Segundo Rodrigo, no início da carreira ele não usava o sobrenome do tio-avô. Mas a opção pelo Malafaia veio da dificuldade de pronunciar seu outro sobrenome, Westermann. “Não vou mudar o meu nome. Eu tinha essa vergonha, mas não tenho que ter vergonha de nada”.

A festa de Rodrigo e Leandro contou com mais de 200 convidados. De acordo com o modelo, os dois já se consideram casados. Mas isso, afirmou, não anula a importância da cerimônia. “Celebramos por causa da representatividade. Ainda não é comum. Eu, por exemplo, nunca fui a um casamento gay. Fui pela primeira vez no meu. Isso quer dizer muita coisa”.

O modelo revelou que não convidou nenhum parente para o casamento. Nem mesmo o irmão e o pai. “Ele [meu pai] respondeu para eu não fazer isso com ele [exigir sua presença], não colocá-lo nessa posição. Como se eu estivesse ofendendo-o. Ele me colocou como um merda por ter chamado ele para o meu casamento. Fiquei com muita raiva e disse que não queria mais que tivéssemos uma relação depois dessa resposta”.

Rodrigo disse sentir alívio com a ausência dos parentes. “O meu irmão disse que até iria, mas que não seria padrinho. Ele disse que ser padrinho já seria demais. Já entendi que a minha família são os meus amigos, que são aqueles que me acolhem. Os meus parentes acham que estou errado por ser gay”.

A Cerimônia intimista custou entre R$ 150 mil e R$ 200 mil e teve oito horas de duração, com DJs em três ambientes. “Para mim, é bastante dinheiro”, pontuou.

Quanto a filhos, Rodrigo diz ele e Leandro pretendem tê-los, mas não agora. “Queremos esperar mais, até para ter uma maior estabilidade financeira. O primeiro pretendemos adotar. Tenho mais vontade de adotar do que de gerar. Com tantas crianças no mundo, eu me sentiria egoísta de gerar antes de adotar um filho”.

O Dízimo. Por Renato Aroeira

31
Dez21

Com confissão, Moro se autoincriminou e produziu prova contundente para ser preso

Talis Andrade

 

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É repugnante que este criminoso que coordenou a máfia que atuou sob direção dos EUA continue desfilando livre, leve e solto

 

Por Jeferson Miola 

- - -

Sérgio Moro, o juiz-ladrão, agora é um bandido confesso.

Ao confessar que a Lava Jato “combateu o PT na história de uma maneira muito mais efetiva, muito mais eficaz”, ele assumiu a autoria do crime de desvio de finalidade do cargo público para perpetrar aquele que ficou conhecido como o maior esquema de corrupção judicial do mundo.

O que ainda é preciso para que ele e seus comparsas da gangue de Curitiba sejam processados, condenados e presos?

Até agora Moro vem se safando de acertar contas com a polícia e com a justiça com o argumento hipócrita de que as provas da Operação Spoofing não seriam válidas para incriminá-lo, apesar de terem sido atestadas como autênticas pela Polícia Federal.

Vá lá, admitamos que as provas da Spoofing não podem ser usadas para incriminá-lo, mas a confissão dele não vale como autoincriminação? Ou o ato voluntário dele de confessar a autoria de crime será considerado simplesmente um ato falho?

É repugnante que este criminoso que coordenou a máfia que atuou sob direção dos EUA continue desfilando livre, leve e solto.

Moro, assim como seus comparsas, não poderiam sequer se candidatar a cargos públicos.

Eles não só são notórios criminosos que cometeram o maior de todos os crimes – a destruição do Estado de Direito com finalidades pessoais, materiais e políticas a serviço de país estrangeiro –, como representam uma ameaça permanente à democracia.

O que mais ainda é preciso para levar Moro e sua gangue aos tribunais? Com a confissão, Moro se autoincriminou e produziu prova contundente para ser preso.

10
Set21

Em nota, Bolsonaro arregla. E, de novo, é mentira

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

- - -

A nota presidencial que acaba de ser divulgada, articulada pelo ex-presidente Michel Temer, é um primor de covardia e dissimulação, como se agregasse, com esta, a dose de cinismo que covardes requerem.

Jair Bolsonaro, depois de rugir como um leão raivoso na Esplanada e na Avenida Paulista, escreve que aquilo deveu-se “ao calor do momento”.

Seu Jair, nem a Michelle acredita nisso…

Passou vaselina no confronto com o Supremo Tribunal Federal e referiu-se a Alexandre de Morais de “jurista e professor”, aquele a quem dirigiu um “sai daí, canalha” e “pega o seu boné e vai embora”.

Bolsonaro diz que “nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes”. E o que é o “enquadra o seu” dirigido a Luís Fux, para que o seu poder “não sofra aquilo que não queremos”.

Isso, hoje, virou “diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.”

Vou reproduzir ao final o texto, repugnante de tão falso. Tem a inefável mão de Temer, cobrindo com delicados lenços a arma fatal que se empunha.

Só produz algum efeito nos especuladores, que gostam de amor e ódio segundo a cotação dos ativos financeiros.

Para as pessoas lúcidas, um monumento à falsidade, de tão tardio veio. Para os iludidos por Bolsonaro, uma punhalada.

Disse-se muito dos ornatos frontais do presidente, mas foi ele que, de forma vilérrima, colocou-os na testa de centenas de milhares de brasieiros que, a seu chamado, foram à rua atacar o STF, Moraes, Barroso e pedir a intervenção militar.

Infelizmente, isso não provocará efeito nos hidrófobos do bolsonarismo.

E de alguma forma, há razão para isso, porque é tudo falso e o a hidra familiar voltará a atacar.

Cai no conto quem quer: Bolsonaro viu-se preso numa armadilha, cercado em sua estupidez e faz-se de manso para ver que o Supremo lhe entrega a “bolada” da pedalada dos precatórios.

Afinal, pagando bem, que mal tem e R$ 40 bilhões é muito boa paga.

Veja o primor de falsidades e e cinismo do texto, publicado na página da presidência da República:

bolsonaro pede desculpas .jpeg

 

Declaração à Nação

No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:

1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.

2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.

3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.

4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.

5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.

6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.

7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.

8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.

9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.

10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

Jair Bolsonaro

Presidente da República Federativa do Brasil

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18
Ago21

Celso de Mello rebate Heleno e afirma que Artigo 142 não autoriza intervenção militar em nenhum Poder

Talis Andrade

 

Em resposta a questionamento feito pela ConJur, Celso de Mello, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, rechaçou frontalmente as declarações do ministro e general da reserva Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que disse em entrevista nesta segunda-feira (16/8) à noite, à rádio Jovem Pan, haver possibilidade de intervenção militar em caso de gravidade e de tensão extrema nas relações entre os Poderes.

O militar afirmou não acreditar na hipótese "nesse momento" (sic) e disse que a intervenção das Forças Armadas está prevista no artigo 142 da Constituição, repetindo argumentos de bolsonaristas extremistas. Apesar da fala do general, não há brecha nesse artigo que autorize qualquer intervenção das três forças militares.

Para Celso de Mello, "a apologia da adoção (e prática) do pretorianismo, mediante distorcida interpretação do artigo 142 da Constituição, é repugnante e inaceitável, pois traduz expressão de ostensivo desapreço que perigosamente conduz à prática autocrática do poder, à asfixia dos indivíduos pela opressão do Estado e à degradação, quando não supressão, dos direitos fundamentais da pessoa cuja prevalência traduz, no plano ético, o sinal visível da presença de instituições que apenas florescem em solo irrigado pelo sonho generoso da liberdade e da democracia".

O ministro aposentado do STF afirmou ser "inquestionável" o fato de que o artigo 142 da Constituição Federal não confere "suporte institucional" nem legitima a intervenção militar em qualquer dos Poderes da República, "sob pena de tal ato, se consumado, traduzir um indisfarçável (e repulsivo) golpe de Estado".

Celso de Mello rememorou a advertência de Ulysses Guimarães, no encerramento da Assembleia Nacional Constituinte e promulgação da Carta de 1988, quando o deputado ressaltou a sacralidade do texto constitucional e atribuiu aos transgressores da Constituição o labéu de traidores da Pátria, afirmando, em pronunciamento que guarda impressionante atualidade, neste momento histórico, o seguinte: "Descumprir [a Constituição] jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria". E continuou a repetir a fala do presidente da Constituinte: "Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério."Charge – Angelo Rigon

 

Na conclusão de sua resposta, Celso de Mello afirmou que aquele que "admite a mera possibilidade de intervenção militar nos poderes do Estado, como o Judiciário e o Legislativo, é um profanador dos signos legitimadores do Estado democrático de Direito e conspurcador dos valores que informam o espírito da República!".

A resposta de Celso de Mello

O entendimento recentemente revelado por certa autoridade da República mostra-se típico de quem não entende nada quando se trata de interpretação constitucional! A exegese em questão, além de primária e errada, notadamente porque sustenta a ideia esdrúxula de que residiria nas Forças Armadas o poder moderador, é igualmente preocupante, pois reflete, ainda que tal possa não ser a intenção de referida autoridade, a visão dos epígonos da autocracia, daqueles desejosos de desconsiderar a ordem democrática e de transgredir o Estado de Direito, cujos fundamentos de legitimação repousam na "rule of law", vale dizer, na soberania e no império da lei e da Constituição da República! Quem interpreta a Lei Fundamental de nosso país e dela extrai compreensão equivocada e juridicamente inidônea destinada a viabilizar uma inadmissível intervenção militar nos Poderes da República demonstra, com esse gesto de suprema infidelidade à majestade e à autoridade da Constituição, desprezo manifesto pelas instituições que compõem o sistema político-institucional brasileiro!

Em nossa Constituição, que consagra o dogma essencial da separação de poderes, repousa o fundamento de nossas liberdades! Preconizar a possibilidade, ainda que remota, de intervenção pretoriana no sistema institucional de nosso país constitui perversão do princípio democrático  e gesto profano de vilipêndio à ideia de República! Quem admite a mera possibilidade de intervenção militar nos poderes do Estado, como o Judiciário e o Legislativo, é um profanador dos signos legitimadores do Estado democrático de Direito e conspurcador dos valores que informam o espírito da República! A apologia da adoção (e prática) do pretorianismo, mediante distorcida interpretação do artigo 142 da Constituição, é repugnante e inaceitável, pois traduz expressão de ostensivo desapreço que perigosamente conduz à prática autocrática do poder, à asfixia dos indivíduos pela opressão do Estado e à degradação, quando não supressão, dos direitos fundamentais da pessoa cuja prevalência traduz, no plano ético, o sinal visível da presença de instituições que apenas florescem em solo irrigado pelo sonho generoso da liberdade e da democracia ! "Japona não é toga", como afirmou há décadas o saudoso senador paulista Auro de Moura Andrade!

A estratocracia não pode nem deve ser vista como sucedâneo possível, mesmo que pontual, do regime fundado na noção de democracia constitucional!!!!! Inquestionável é o fato de que o artigo 142 da Constituição Federal não confere suporte institucional nem legitima a intervenção militar em qualquer dos Poderes da República, sob pena de tal ato, se consumado, traduzir um indisfarçável (e repulsivo) golpe de Estado!

Cumpre não desconhecer, finalmente, neste ponto, a gravíssima advertência do saudoso e eminente deputado federal Ulysses Guimarães (1916-1992), em memorável discurso proferido em 05/10/1988, no encerramento da Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou e promulgou a vigente Constituição da República, ao destacar a sacralidade do texto constitucional, estigmatizando com o labéu de traidor aquele — governante ou governado — que ousasse transgredir a supremacia da Lei Fundamental de nosso país, pronunciando, então, palavras candentes que guardam impressionante e permanente atualidade: "Descumprir [a Constituição] jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério."

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