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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

15
Mai23

O nascimento do narcopentecostalismo

Talis Andrade

Traficantes, paramilitares e igrejas se unificaram em uma "guerra santa" contra grupos rivais e religiões afro-brasileiras

 

ENGLISH

 

ESPAÑOL

 
por Kristina Hinz, Doriam Borges, Aline Coutinho & Thiago Cury Andries
 
 
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Desde os anos 80, as igrejas evangélicas têm expandido suas atividades de missionários para prisões e outros estabelecimentos penitenciários. Atualmente, o número de reclusos convertidos ao neopentecostalismo nas prisões brasileiras é significativo.

As prisões sempre representaram um espaço chave para a formação de organizações criminosas. De fato, todas as grandes facções de narcotráfico, tais como o Comando Vermelho, Terceiro Comando e o Primeiro Comando da Capital, foram fundadas em prisões.

Ocasionalmente, a abundante presença evangélica em estabelecimentos penitenciários tem se traduzido na conversão de traficantes. Este foi especialmente o caso do Terceiro Comando Puro, o principal rival do Comando Vermelho. Enquanto cumpriam sentenças em prisões estaduais, vários líderes foram convertidos para a religião neopentecostal.

Pouco tempo depois, o primeiro grupo narcopentecostal conhecido foi fundado como uma subfacção do Terceiro Comando Puro: o Bonde de Jesus. Além de controlar o tráfico no bairro do Parque Paulista no Estado de Rio de Janeiro, os Soldados de Jesus atacaram e vandalizaram vários templos de Candomblé e de Umbanda, expulsando os sacerdotes dos seus territórios. Desde então, a perseguição não só das religiões afro-brasileiras, mas também de padres católicos, tem sido relatada em várias favelas dominadas pelo Terceiro Comando Puro.

A ascensão das milícias e novas alianças

Outra força importante no equilíbrio de poder no Rio de Janeiro são as chamadas "milícias". Desde a ditadura militar, os grupos de extermínio formados por forças paramilitares e parapoliciais assumiram o controle de bairros inteiros. Muitas vezes comparada à máfia italiana, a milícia obtém as suas principais receitas da “gestão da violência” nos territórios sob o seu controle, coagindo a população local ao pagamento de taxas de proteção para as suas residências ou empresas. Em alguns bairros, milicianos também controlam outros ramos de infraestrutura, tais como a distribuição de gás, TV por cabo e transporte alternativo.

No ano passado, ao menos 57% da área da cidade do Rio de Janeiro era dominada por grupos milicianos, colocando 5,7 milhões de habitantes da cidade sob a mercê de organizações paramilitares

Compreendendo a milícia como um aliado estratégico no combate ao narcotráfico, diversos representantes do Estado apoiaram abertamente esses grupos paramilitares. O atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, por exemplo, declarou no passado que as "forças de autodefesa" formadas por policiais e bombeiros coibiam os narcotraficantes e traziam paz para certos bairros. É comum também nas fileiras policiais a percepção da milícia como uma extensão das suas próprias corporações, uma vez que são formadas por uma grande parte de ex-policiais e soldados do exército.

Contrariando esta reputação, associações entre grupos de milicianos e traficantes ligados ao Terceiro Comando Puro foram expostas. Para fortalecer sua posição em relação ao seu inimigo comum, o Comando Vermelho, os grupos criminosos lançaram uma nova joint-venture: nos territórios recém-conquistados, o Terceiro Comando Puro é responsável pelo tráfico de drogas, enquanto a milícia continua administrando e cobrando pela TV a cabo e pelo gás. As igrejas evangélicas, por sua vez, não fornecem apenas a justificativa ideológica para a guerra contra o demoníaco Comando Vermelho, mas também têm sido utilizadas para a lavagem de dinheiro. Como as igrejas são isentas do pagamento de impostos, fundos ilegais são facilmente canalizados por meio delas, tornando impossível rastrear a origem desse dinheiro.

A narcomilícia neopentecostal

Apesar da abordagem perigosa, a tripla aliança entre os traficantes do Terceiro Comando Puro, a milícia e igrejas evangélicas parece funcionar bem. Em janeiro deste ano, o Complexo de Israel expandiu o seu territóriopara outros bairros do Rio de Janeiro, a convite dos próprios traficantes locais. A Polícia Civil do Rio também está investigando uma suposta aproximação com criminosos de outras regiões.

Também fora do Complexo de Israel, o poder desta joint-venture está aumentando: O Terceiro Comando Puro conseguiu expandir significativamente o seu território, conquistando importantes bastiões do Comando Vermelho na cidade.

O maior vencedor, talvez, desta nova aliança poderá ser a milícia: no ano passado, ao menos 57% da área da cidade do Rio de Janeiro era dominada por grupos milicianos, colocando 5,7 milhões de habitantes da cidade sob a mercê de organizações paramilitares. As autoridades não são inocentes neste desenvolvimento. Territórios controlados pela milícia raramente são alvo de operações policiais: desde 2018, apenas 3% das operações militares e policiais foram lançadas em territórios ocupados pela milícia.

Apesar de algumas detenções ocasionais, estas organizações criminosas altamente lucrativas e profissionais não podem ser seriamente confrontadas sem visar suas estruturas políticas e fontes de financiamento. Isto inclui rever a estrutura de transporte público e distribuição de gás e de TV a cabo - a principais fontes de rendimento das milícias - bem como a atual legislação sobre drogas e impostos para igrejas, muitas vezes utilizadas para lavagem de dinheiro.

Embora isto possa parecer uma discussão difícil, o preço atualmente pago pela população do Rio, tomada como refém pela narcomilícia neopentecostal é muito mais elevado: ao terror propagado pelos grupos armados acrescenta-se a perda da liberdade de fé e a perseguição das religiões afro-brasileiras e dos seus praticantes

NarcoEvangélicos: um conto não tão distópico sobre o Brasil

A partir da notícia divulgada na imprensa que traficantes de drogas do Rio de Janeiro estão unindo cinco favelas que dominam para expandir o seu poder, … Continue lendo

 
 
15
Mai23

A ascensão da narcomilícia neopentecostal no Brasil (vídeos)

Talis Andrade
Duas fotos, uma da bandeira de Israel hasteada em um grande mastro branco entre as casas do Vigário Geral, e outra da comunidade da Cidade Alta onde vê-se um luminoso de estrela de Davi no alto de uma torre de caixa d’água, em referência ao narcopentecostalismo. Fotografias: Extra / G1.
 
 

 

Traficantes, paramilitares e igrejas se unificaram em uma "guerra santa" contra grupos rivais e religiões afro-brasileiras.

ENGLISH

 

ESPAÑOL

 
por Kristina Hinz, Doriam Borges, Aline Coutinho & Thiago Cury Andries
 
Soldiers in front of a football field /Ricardo Funari

Bandeiras de Israel foram içadas nos pontos mais altos da favela Cidade Alta, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Barricadas são levantadas para conter a entrada da polícia e de grupos rivais. Nestas barricadas, o símbolo da Estrela de Davi adverte os transeuntes sobre o território em que estão entrando. Em um bunker utilizado por narcotraficantes, forças policiais encontraram munições para metralhadoras antiaéreas, coletes balísticos e uma cópia de luxo da Torá, o livro sagrado do Judaísmo.

À sombra da pandemia da Covid-19, grupos criminosos assumiram o controle de cinco favelas na periferia do Rio de Janeiro e estabeleceram o autoproclamado Complexo de Israel. Rivais históricos na disputa pelo controle territorial, narcotraficantes e paramilitares uniram forças para avançar seus negócios ilegais. O Complexo de Israel é liderado pelo chefe do tráfico Álvaro Rosa, conhecido sob o apelido de Arão – o irmão bíblico de Moisés – e ex-polícias ligados ao grupo paramilitar Escritório do Crime, um esquadrão da morte notório, considerado responsável por vários crimes, incluindo o assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018. Atualmente, o grupo exerce controle sobre pelo menos 130 mil residentes.

Os moradores da região relatam a perda da liberdade de movimento e religião, bem como a destruição de terreiros de candomblé. Pais e mães de santo foram expulsos do território. Além disso, os moradores foram proibidos de usar trajes brancos – a cor geralmente associada aos praticantes das religiões afro-brasileiras.

O estabelecimento do Complexo de Israel representa um fenômeno inédito, mesmo em um Rio de Janeiro acostumado à toda sorte de atividade criminosa: a unificação de facções de tráfico de droga, grupos paramilitares e igrejas neopentecostais, travando uma "guerra santa" não só contra grupos criminosos rivais, mas também contra as religiões afro-brasileiras.

O tráfico de drogas e as religiões afro-brasileiras

Caracterizadas pelo abandono do Estado e pela pobreza crônica, grupos armados se estabeleceram nas favelas e periferias urbanas do Rio desde a década de 1980, reivindicando a maior parte dos seus rendimentos através do narcotráfico. Controlando acima de 50% das áreas mais violentas da cidade em 2005, o Comando Vermelho representa há muito tempo o grupo com maior poder no narcotráfico do Rio de Janeiro.

A abundante presença evangélica em estabelecimentos penitenciários tem se traduzido na conversão de traficantes

Durante as décadas de 1980 e 1990, os traficantes se identificaram principalmente com as religiões afro-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé, cujos locais de culto eram amplamente disponíveis nos seus territórios ocupados. Muitas vezes, os traficantes expressaram sua fé através da construção de altares e grafites dedicados às divindades afro-brasileiras.

Desde os anos 1980, grandes operações policiais foram realizadas nas favelas ocupadas por grupos de tráfico. Dada a ligação bem estabelecida entre o narcotráfico e as religiosidade afro-brasileiras, muitas dessas operações policiais foram acompanhadas por uma conversão simbólica, substituindo os símbolos religiosos afro-brasileiros e os lugares de adoração com expressões de fé cristã-evangélicas. As igrejas evangélicas têm expandido significativamente sua influência desde o final dos anos 90, formando uma rede religiosa e que promove uma "guerra contra o mal", ancorado principalmente nas periferias. Apenas entre 2000 e 2010, o número de evangélicos aumentou mais de 60% no país.

 

 

 

 

 

15
Mai23

Narcopentecostalismo manutenção do poder

Talis Andrade
 
 
 
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Traficantes evangélicos usam religião na briga por territórios no Rio II

 

por Letícia Mori /BBC News 

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Nesta união do tráfico com a religião, doutrinas neopentecostais se misturam às estruturas de poder das facções.

Em muitos locais, como no Complexo de Israel, por exemplo, ela é “decisiva para a governança e a manutenção do poder de grupos criminosos”, diz Kristina Hinz.

“A apropriação pelo tráfico da gramática de guerra reconhecida nas favelas e empregada por algumas igrejas neopentecostais proporciona uma narrativa de legitimidade religiosa para a expansão violenta do território”, afirma a pesquisadora.

A pesquisadora afirma que, na competição pelo mercado de venda de drogas, a adaptação de uma linguagem e de símbolos familiares para a população permite que os traficantes apresentem “confrontos armados com grupos concorrentes de tráfico de drogas como ‘guerra espiritual’ ou mesmo como uma ‘guerra santa’ contra demônios e inimigos religiosos”.

O chefe do tráfico no Complexo de Israel é também um dos líderes do Terceiro Comando Puro (TCP), segundo a polícia.

O TCP é hoje o terceiro maior grupo armado do Rio, atrás das milícias e do Comando Vermelho (CV), de acordo com o estudo Mapa dos Grupos Armados do Instituto Fogo Cruzado e do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

O complexo faz parte do território do TCP, que é um rival histórico do CV. Na disputa por territórios, o TCP fez alianças com milícias, apontam as pesquisas de Hinz e Borges.

Os especialistas afirmam ainda que as estrelas de David no Complexo de Israel ou a pichação “Jesus é o dono do lugar” em um terreiro de umbanda destruído por traficantes são mais do que símbolos religiosos.

São uma “forma de delimitar espaços de poder e de domínio do tráfico nos territórios”, como aponta Hinz.

“Quando esses traficantes evangélicos ordenam o fechamento de terreiros, além do racismo e intolerância religiosa, estão demonstrando seu poder, força e domínio no território. Ou seja, esse grupo de traficantes utiliza a gramática evangélica como instrumento de dominação da população residente nas favelas.”

No entanto, Vital Cunha pontua que nem sempre o fato de um traficante ser evangélico resulta na retirada de santos católicos ou na perseguição de religiões de matriz africana.

Ela descreve em sua pesquisa casos em que os próprios moradores fazem esse tipo de constrangimento e intolerância.

Rejeição dos evangélicos

Se a linguagem religiosa é familiar para a população, a rejeição da ideia de que traficantes possam ser de fato cristãos é muito forte na comunidade evangélica mais tradicional, como explica a pastora e pesquisadora Viviane Costa, autora de Traficantes Evangélicos.

 
Traficantes Evangélicos | Viviane Costa
 
 

Alguém que vive do crime, nessa visão, não cumpriria os “requisitos de uma verdadeira conversão”, diz ela.

Para muitos cristãos, “ser evangélico” não significa só aderir às crenças da religião, mas ter atos e um estilo de vida de acordo com certos preceitos, explica o sociólogo Diogo Silva Corrêa, autor do livro Anjos de Fuzil, resultado de sua pesquisa sobre as relações entre o crime e a religião na Cidade de Deus, favela na Zona Oeste do Rio.

Anjos de fuzil: uma etnografia das relações entre pentecostalismo e vida do  crime na favela Cidade de Deus | EdUERJ - Editora da Universidade do Estado  do Rio de Janeiro
 

Ou seja, para alguém ser evangélico, não basta acreditar, é preciso viver de uma certa forma — a ideia de um criminoso evangélico seria, portanto, inaceitável.

“Se a pessoa não procurar mudar, não tem como se intitular cristão — e isso vale para todos, para o adúltero, para o brigão, para quem tem vício, não só para o traficante”, diz à BBC o pastor Carlos Alberto, de uma igreja neopentecostal na Cidade de Deus.

“Durante muito tempo, os evangélicos foram respeitados justamente porque não existia aquela coisa de ser ‘não praticante’, como os católicos, o crente era até considerado chato, cafona”, diz ele.

Os pastores coniventes com o tráfico são uma minoria, defende ele, mas é algo problemático porque é uma minoria que “tem forte influência sobre o rebanho”.

“O pastor sabe que é errado, mas alguns aceitam por causa dos benefícios, o traficante paga por uma cruzada (evento religioso aberto), faz uma reforma na igreja”, diz ele. “É uma visão errada de que Deus vai transformar uma maldição em benção, um dinheiro maldito em algo positivo.”

“Mas é algo que faz a igreja perder credibilidade”, diz ele. “Se você percebe que o traficante quer proteção, quer usar a religião como um amuleto, mas não quer largar o crime, não pode se associar.”

“Como você vai ficar conivente quando a lei do tráfico é muito rígida, é olho por olho, não existe compaixão?”, diz.

Carlos Alberto afirma que o processo de aceitar pessoas que só querem os benefícios de se dizer religioso mas não mudam de vida é algo que acontece também no meio artístico, no futebol, no meio empresarial e na política.

“Pastores que aceitam aparecer com certos políticos, que são coniventes com certas práticas, não me representam.”

No entanto, Viviane Costa explica que, conforme mais e mais brasileiros se tornam protestantes, a conversão nos moldes “mais tradicionais” é menos comum — e pessoas se consideram evangélicas mesmo que não se comportem de acordo.

Ela lembra do fenômeno das celebridades evangélicas citado por Carlos Alberto. “Mesmo alguns políticos e celebridades que se declaram cristãos reformados não seriam considerados verdadeiramente evangélicos levando em conta a expectativa mais tradicional”, diz.

“Fui bastante criticada por falar em ‘traficantes evangélicos’, mas não fui eu que os nomeei como evangélicos — é assim que o fenômeno é conhecido e como eles próprios se identificam”, diz Costa. “O livro é o resultado de uma pesquisa, e como pesquisadora eu estou descrevendo um fenômeno, não fazendo uma análise teológica se a pessoa realmente é convertida.”

O TCP é conhecido pelos desaparecimentos de pessoas que se opõem à facção, de acordo com a polícia.

Desde antes da criação do Complexo de Israel, moradores relatam à imprensa desaparecimentos de familiares e amigos em favelas dominadas pela facção.

Muitas não procuram a polícia nem relatam oficialmente os desaparecimentos por medo, segundo observadores de centros de pesquisa sobre violência.

Em alguns lugares, no entanto, alguns traficantes evangélicos têm um grande respeito por pastores de igrejas nas favelas que dizem não aos grupos armados, diz Costa.

“São considerados verdadeiros homens santos, porque realmente aderiram ao caminho correto”, afirma.

Vital Cunha, uma das primeiras pesquisadoras a estudar o tema, descreve em seu trabalho como notou a aproximação de traficantes e pastores em busca de proteção espiritual.

Na favela do Acari e de Santa Marta, descreve ela em seu trabalho, o rádio de comunicação dos traficantes apitava todos os dias às 5h30 com uma oração do chefe do tráfico.

Ele falava ao mesmo tempo com Deus, pedindo proteção, e dava orientação, pedindo para os subordinados matarem menos e dizendo para os líderes comunitários cuidarem das pessoas.

‘Narcoreligião’

A pesquisadora Viviane Costa, no entanto, é contra falar em “narcopentecostalismo”. Ela diz que isso passaria a ideia de que a religião só passou a ser um fator importante na dinâmica de poder do tráfico com o surgimento dos traficantes evangélicos.

Na realidade, diz ela, “a religião está presente na dinâmica do tráfico desde a sua gênese”. Ela defende que o mais correto seria falar em “narcoreligião”.

Nas décadas de 1980 e 1990, as facções do narcotráfico eram amplamente associadas a religiões afro-brasileiras como o candomblé e a umbanda, diz Doriam Borges.

Isso foi, inclusive, retratado no cinema: a passagem no filme Cidade de Deus em que o traficante muda de nome após ter o corpo fechado em um ritual religioso é uma das mais conhecidas.

“Dadinho é o c*, meu nome é Zé Pequeno!”, diz o personagem, antes de atirar em outra pessoa.

Os traficantes construíam murais e altares em seus territórios, destaca Costa.

“Em alguns casos, quando um traficante derrubava um chefe do tráfico ou quando ia conquistar um outro território, a divindade do traficante que tinha sido derrotada também abria lugar para a divindade do que assumia. Ou seja, o elemento religioso já fazia parte da dinâmica de poder.”

Reportagens do jornal O Globo na década de 1990 descrevem casos de imagens de entidades e de santos decapitadas durante disputadas armadas — algo que acontecia pela mão dos traficantes rivais e também da polícia.

O preconceito contra as religiões afro-brasileiras já era presente desde então, explica Borges.

“As religiões afro brasileiras, desde suas origens, têm sido estigmatizadas. E os traficantes vinculados a essas religiões eram os personagens perfeitos usados pela sociedade e pelo Estado, em especial as polícias, para a vinculação desse grupo com o Diabo, com o mal.”

Segundo o pesquisador, esses símbolos religiosos eram frequentemente destruídos durante as operações policiais.

Em Oração de Traficante, Vital Cunha descreve como as pinturas de santos e entidades do candomblé passaram lentamente a ser substituídas por trechos bíblicos na favela de Acari, no Rio de Janeiro, onde ela passou mais de uma década fazendo pesquisa.

Ou seja, a dinâmica religiosa, que já existia, passou a ser modificada para incorporar a cultura neopentecostal que surgia.

Hoje, a criação do Complexo de Israel é exemplo dos contornos que essa relação entre tráfico e religião assumiu, diz Kristina Hinz.

Exemplo, aliás, que é copiado por outros traficantes: segundo a Polícia Civil, o chefe do tráfico de uma favela em Madureira, na Zona Norte do Rio, pretende tomar os territórios de rivais para criar uma grande área sob seu domínio que chamaria “Complexo de Jerusalém”.

21
Out22

Em carta a evangélicos, Lula critica uso eleitoral da fé, defende liberdade religiosa e reforça ser contra o aborto

Talis Andrade


Lula divulga carta aos evangélicos e reafirma compromisso com liberdade de culto no país

Lula divulga carta aos evangélicos e reafirma compromisso com liberdade de culto no país

 

 

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu nesta quarta-feira (19) lideranças de igrejas evangélicas. No encontro, que ocorreu em um hotel na cidade de São Paulo, foi lida uma carta de Lula ao eleitorado evangélico (leia a íntegra ao final desta reportagem). Lula condena a demagogia religiosa de Bolsonaro de bancar o santo de todas igrejas, sendo preconceituoso com as religiões afro-brasileiras e religiões indígenas. Lula assinou a Lei de Liberdade Religiosa. Antes do Governo Lula, nas cidades, povoados e vilas dos sertões de dentro e fora, os pastores evangélicos eram chamados de "bodes", e muitas vezes presos e/ou expulsos. 

O petista, na carta, critica o uso eleitoral da fé, defende a liberdade religiosa e reforça ser contra o aborto. A leitura do documento foi feita por Gilberto Carvalho, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

 

Na carta, Lula diz que:

 

  • no período que governou o Brasil, manteve o 'mais absoluto' respeito à liberdade religiosa;
  • assinou leis e decretos que asseguram a prática religiosa no país;
  • mentiras a seu respeito tentam gerar 'medo' nas pessoas de boa-fé;
  • nunca houve risco ao funcionamento das igrejas enquanto presidiu o país;
  • se eleito, não vai criar 'obstáculos' ao livre funcionamento de templos;
  • vai estimular parcerias com igrejas;
  • é um 'escândalo' o uso da fé para fins eleitorais;
  • assume compromisso para fortalecer famílias e combater as drogas;
  • é 'pessoalmente' contra o aborto e que não cabe ao presidente, mas ao Congresso decidir sobre o tema;
  • entende que 'o lar e a orientação dos pais são fundamentais' na educação dos filhos e que cabe à escola apoiá-los dialogando e respeitando os valores familiares;
  • o povo brasileiro está em 'desespero' e precisará do apoio das igrejas para reverter situação.

 

 

A elaboração da carta contou com a articulação da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que é da Igreja Assembleia de Deus.

O texto não faz referência ao adversário de Lula na disputa presidencial, Jair Bolsonaro (PL).

Em um dos trechos da carta, o petista afirma que "de nada adianta se dizer defensor da família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular".

 

O candidato Lula ora com evangélicos durante encontro em hotel de São Paulo — Foto: Reprodução/YouTube Lula

O candidato Lula ora com evangélicos durante encontro em hotel de São Paulo 

 

Família é 'sagrada'

 

Lula chegou ao hotel em que o ato ocorreu por volta das 10h e foi recebido pelos religiosos com aplausos e músicas. Um pastor fez uma oração na abertura do encontro. Antes de Lula discursar, um menino orou pelo petista.

 

No pronunciamento, Lula disse que, em razão de falsas acusações, toda eleição precisa fazer cartas aos evangélicos para desmentir conteúdos inverídicos. Como exemplo, disse que "inventaram" que se ele for eleito instalará banheiro unissex nas escolas. "Só pode ter saído da cabeça de satanás a história do banheiro unissex", disse.

Lula se emocionou durante o discurso quando falava da sua família e da mãe de Janja, sua esposa. "A mãe da Janja morreu de Covid recentemente. A família, pra mim, [embarga a voz] é uma coisa sagrada", declarou.

Ele acrescentou que fica "ofendido" quando as pessoas colocam em dúvida o seu respeito à família e disse não considerar pastor "um pastor que conta mentiras". "Um pastor não pode ir para igreja fazer política. Se um padre quiser fazer política, ele que faça política, mas não tire proveito do altar para fazer política. Saia, vá para a rua fazer política", afirmou.

O ex-presidente disse ainda que "mentiras" estão estabelecendo o "ódio" no Brasil.

O candidato do PT à Presidência, Lula, é recebido com música pelas lideranças evangélicas em SP — Foto: Mariana Aldano/TV Globo

O candidato do PT à Presidência, Lula, é recebido com música pelas lideranças evangélicas em SP — Foto Mariana Aldano/TV Globo

 

 

Busca do voto evangélico

 

A 10 dias do segundo turno da eleição presidencial, o candidato do PT tenta conquistar votos dentro do eleitorado evangélico. De acordo com as pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro tem ampla maioria no segmento.

Levantamento feito pelo instituto Ipec divulgado na última segunda-feira (17) aponta que o candidato do PL à reeleição tem 60% das intenções de voto no eleitorado evangélico, enquanto Lula tem 32%.

Parlamentares evangélicas acompanharam Lula no encontro com os religiosos. Estavam presentes, por exemplo, a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), a deputada reeleita Benedita da Silva (PT-RJ) e a senadora Eliziane Gama.

Geraldo Alckmin (PSB), que concorre a vice na chapa de Lula, e o candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, também compareceram à reunião.

Durante a campanha, de olho no voto cristão, Lula afirmou, mais de uma vez, que é contra o aborto. E que cabe ao Congresso o papel de discutir eventuais mudanças na legislação em vigor sobre o tema.

 

Liberdade religiosa

 

Carta-compromisso com os evangélicos - YouTube

 

Carta compromisso com os evangélicos

Meus Amigos e Minhas Amigas, nesta reta final do segundo turno, decidi escrever esta Carta Pública ao Povo Evangélico.

A grande maioria dos brasileiros e brasileiras que viveram os oito anos em que fui Presidente da República sabe que mantive o mais absoluto respeito pelas liberdades coletivas e individuais, particularmente pela Liberdade Religiosa.

Como todos devem se lembrar, no período de meu governo, tivemos a honra de assinar leis e decretos que reforçaram a plena liberdade religiosa. Destaco a Reforma do Código Civil assegurando a Liberdade Religiosa no Brasil, o Decreto que criou o dia dedicado à Marcha para Jesus e ainda o Dia Nacional dos Evangélicos.

Mantenho o mesmo respeito e o mesmo compromisso que me motivou a apoiar essas conquistas do povo evangélico.

E o nosso Povo sabe também que cuidei, com especial carinho, dos mais pobres e injustiçados e assim, sob as Bênçãos de Deus, meu governo contribuiu para melhorar a vida de milhões de famílias brasileiras. Sempre penso, neste sentido, no trecho bíblico que diz: “a verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades…” (Tiago, 1,27)

Vivemos, entretanto, um período em que mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas pessoas de boa fé, e afastá-las do apoio a uma Candidatura que justamente mais as defende. Por isso senti a necessidade de reafirmar meu compromisso com a liberdade de culto e de religião em nosso País.

Todos sabem que nunca houve qualquer risco ao funcionamento das Igrejas enquanto fui Presidente. Pelo contrário! Com a prosperidade que ajudamos a construir, foi no nosso Governo que as Igrejas mais cresceram, principalmente as Evangélicas, sem qualquer impedimento e até tiveram condições de enviar missionários para outros países.

Não há por que acreditar que agora seria diferente. Posso lhes assegurar, portanto, que meu Governo não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de Culto e de Pregação ou criem obstáculos ao livre funcionamento dos Templos.

Envio-lhes esta mensagem, portanto, em respeito à Verdade e ao apreço que tenho a esse Povo crente no Verdadeiro Deus da Misericórdia e a seus dedicados pastores e pastoras.

Se Deus e o povo brasileiro permitirem que eu seja eleito, além de manter esses direitos, vou estimular sempre mais a parceria com as Igrejas no cuidado com a vida das pessoas e das famílias brasileiras.

Sei muito bem que em todas as regiões do Brasil há Igrejas com Irmãos e Irmãs que trabalham ativamente nas suas comunidades com a propagação do Evangelho e com o cuidado do povo, dedicando-se a tornar mais leve os fardos espiritual e social de milhões de pessoas.

Declaro meu respeito e minha admiração pela fé, dedicação e amor com que os evangélicos realizam sua missão, seja na área da difusão do evangelho, seja na área da assistência social, proteção da infância, da juventude, das mulheres, dos idosos e das pessoas com deficiência. Da mesma forma é bem-vinda a participação de Evangélicos nas diversas formas de participação social no Governo, como Conselhos Setoriais e Conferências Públicas.

Em meio a este triste escândalo do uso da Fé para fins eleitorais, assumo com vocês este compromisso: meu Governo jamais vai usar símbolos de sua Fé para fins político-partidários, respeitando as leis e as tradições que separam o Estado da Igreja, para que não haja interferência política na prática da Fé.

Esse é um ensinamento que a própria Bíblia nos dá: andar pelo caminho da Paz com todos. Jesus nos mostra que a casa dividida não prospera. A religião é para ser respeitada e vivida de acordo com a livre escolha de cada pessoa.

Portanto, a tentativa de uso político da fé para dividir os brasileiros não ajuda ninguém, nem ao Estado, nem às igrejas, porque afasta as Pessoas da mensagem do Evangelho. Jesus Cristo nos ensinou Liberdade e paz, respeito e união, disso precisamos. E os cristãos evangélicos têm dado mostras, ao longo da História, de seu compromisso com a paz, seguindo o que Jesus ensinou: “Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus” (Mateus, 22,21).

Outro compromisso que assumo: fortalecer as famílias para que os nossos jovens sejam mantidos longe das drogas. Nós queremos nossa Juventude na escola, na iniciação profissional, realizando atividades esportivas e culturais para que tenham mais oportunidades e exerçam cidadania de forma produtiva, saudável e plena.

O respeito à família sempre foi um valor central na minha vida, que se reflete no profundo amor que dedico à minha esposa, aos meus filhos e netos. Por isso compreendo o lugar central que a família ocupa na fé cristã.

Também entendo que o lar e a orientação dos pais são fundamentais na educação de seus filhos, cabendo à escola apoiá-los dialogando e respeitando os valores das famílias, sem a interferência do Estado.

A preocupação com as Famílias Brasileiras deve ser integral. O povo brasileiro está numa condição de desespero, e precisaremos muito da ajuda das Igrejas para, o quanto antes, reverter esta situação. De nada adianta se dizer defensor da Família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular.

Queremos dar às famílias, prosperidade e segurança. O Lar é a garantia de proteção. É inaceitável que milhões de brasileiros e brasileiras não tenham um teto. Por isso, vamos retomar o vitorioso programa Minha Casa Minha Vida, com toda intensidade, para que todas as Famílias brasileiras tenham uma casa onde possam viver com segurança e dignidade.

Nosso governo implementará políticas públicas consistentes para que nenhuma família brasileira enfrente o flagelo da fome. Sobretudo, não pouparei esforços para que possam adquirir os necessários e suficientes meios, para viver dignamente por seu trabalho, sem ter que depender da ajuda do Estado.

 

Nosso Projeto de Governo tem compromisso com a Vida plena em todas as suas fases. Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional.

Meus Queridos e Minhas Queridas, peço que recebam essas palavras como uma demonstração de meu desejo sincero de servir, de ajudar e trabalhar pelo bem de nosso país. E estejam certos de minha estima e meu compromisso com todo o povo cristão de nosso país. Reitero meu compromisso, que é o mesmo de vocês: paz, união e fraternidade entre todos os brasileiros e brasileiras.

Com as bênçãos de Deus, haveremos de honrar nossa dupla condição, de cidadãos e cristãos, pois não há contradição entre elas quando o propósito é servir, buscando a paz e o entendimento. E digo tudo isso com muito amor pelo nosso querido Brasil e pelo Povo Brasileiro: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes Amor uns pelos outros!” (João,13,35).

JUNTOS PELO BRASIL!

Luiz Inácio Lula da Silva
São Paulo, 19 de outubro de 2022.

 

 
27
Ago22

Postura de Michelle sobre religiões africanas preconceito das elites escravocratas e racistas

Talis Andrade

Amor, Diálogos e a Superação da Intolerância Religiosa – CEBs do Brasil21 de Janeiro: Dia Nacional do Combate a Intolerância Religiosa |  UniSant'Anna

 

A supremacia branca da primeira-dama é criticada em grupos bolsonaristas

 

247 - A postura da primeira-dama Michelle Bolsonaro sobre religiões de matriz africana gerou críticas até entre bolsonaristas nas últimas semanas. Várias mensagens que evocam respeito a todas as religiões e julgam que ela erra ao ligar rivais do marido ao demônio circularam em grupos favoráveis a Jair Bolsonaro (PL). As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

Análise do Observador Folha/Quaest, que monitora mais de 1.200 grupos de WhatsApp durante o período eleitoral, mostra que a tendência é de apoio a Michelle entre bolsonaristas, mas sem consenso. 

A Quaest verificou, de 18 de julho a 22 de agosto, 360 mil menções relacionadas à primeira-dama e à socióloga Rosângela Silva, a Janja, mulher de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 721 grupos políticos, tanto da direita como da esquerda. Depois, fez uma "análise de sentimento", que consiste em identificar se o conteúdo é relacionado a críticas e/ou ataques (negativo) ou a elogios e/ou apoio (positivo).

Escreve Vicente Vlilardaga: "Nunca houve um casal presidencial no Brasil que quisesse impor sua fé de maneira tão agressiva e afrontosa como Jair e Michelle Bolsonaro. Pisoteando as religiões afrobrasileiras, contrariando uma tradição nacional de ecumenismo e de não interferência do governo em assuntos de crença e inundando de misticismo e irracionalidade o debate político, o presidente e a primeira-dama intensificaram nas últimas semanas uma ofensiva messiânica para tentar virar a eleição. Fazem isso ao arrepio da lei, frequentemente com cultos dentro do Palácio do Planalto, ignorando o preceito constitucional de que o Estado é laico e com o objetivo de conquistar eleitores evangélicos. Realizam um movimento apelativo para atrair mais apoio de pentecostais e neopentecostais, com foco prioritário nas mulheres, o eleitorado que mais rejeita Bolsonaro, o que Michelle tenta remediar com aparições fervorosas. Sempre que pode, ela trata de vincular o principal adversário do marido, Lula, a forças demoníacas e de atacar a umbanda e o candomblé de forma gratuita, preconceituosa e com conotações racistas". Leia reportagem aqui.

 

AsTirasDoCaos on Twitter: "Eu acredito, sim, q pessoas podem mudar de  comportamento, maaaaas... como ele não é uma pessoa... 😂😂😂😂👉👉👺 -  #astirasdocaos #brasil #quadrinhos #comics #charge #caricatura #mascara # bolsonaro #forabozo #capeta #lucifer #

A historiadora Lilia Moritz Schwarcz analisa: Eu sempre digo que esse é um aspecto importante, que a gente não tenha nenhum apartheid na lei. Por outro lado, o Brasil foi o último país a abolir a escravidão, recebeu uma média de 50% dos africanos que saíram compulsoriamente do seu continente, teve uma lei curtíssima de inclusão social, que não previu qualquer tipo de aporte ou cuidado com essas populações. O que nós vimos no período pós-emancipação foi uma continuidade da escravidão, mas sem o sistema formal. Nada foi feito no sentido de mudar, pensando em programas de suporte, moradia, educação. Não houve nenhum projeto de inclusão dessas populações. Eu estudo um autor, o Lima Barreto, que justamente era uma voz isolada, que acusava a invisibilidade dos negros. Eu dei uma palestra na PUCRS, com quatro textos dele, brincando que o “negro não existe no Brasil”, porque basta não querer olhá-lo. Ele fala que existe esse processo de invisibilidade, não só das populações negras, mas também dos indígenas, das mulheres. O Brasil teve uma Constituição maravilhosa em 1988, uma constituição que previu a inclusão social. Nesses 30 anos, as pesquisas mostram que o Brasil não ficou um país mais justo. Para resumir, não temos uma discriminação no corpo da lei, mas a própria sociedade produz as suas regras e, nessa produção coletiva, a gente vai se revelando, como uma República muito falha, com instituições muito frouxas. Isso tudo são termômetros para medir a nossa democracia que vai muito mal, obrigada. Transcrevi trecho inicial. Leia mais

.Dia 21 de Janeiro é o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa

26
Ago22

A pregação do ódio religioso é o principal ingrediente da campanha presidencial

Talis Andrade

 

Abusando da intolerância para impor sua fé e ajudar a reeleger o marido, a primeira-dama Michelle demoniza a disputa eleitoral, adota discurso de ódio contra religiões de matriz africana e rebaixa o debate político a uma luta do bem contra o mal

 

 

Nunca houve um casal presidencial no Brasil que quisesse impor sua fé de maneira tão agressiva e afrontosa como Jair e Michelle Bolsonaro. Pisoteando as religiões afrobrasileiras, contrariando uma tradição nacional de ecumenismo e de não interferência do governo em assuntos de crença e inundando de misticismo e irracionalidade o debate político, o presidente e a primeira-dama intensificaram nas últimas semanas uma ofensiva messiânica para tentar virar a eleição. Fazem isso ao arrepio da lei, frequentemente com cultos dentro do Palácio do Planalto, ignorando o preceito constitucional de que o Estado é laico e com o objetivo de conquistar eleitores evangélicos. Realizam um movimento apelativo para atrair mais apoio de pentecostais e neopentecostais, com foco prioritário nas mulheres, o eleitorado que mais rejeita Bolsonaro, o que Michelle tenta remediar com aparições fervorosas. Sempre que pode, ela trata de vincular o principal adversário do marido, Lula, a forças demoníacas e de atacar a umbanda e o candomblé de forma gratuita, preconceituosa e com conotações racistas.

FUNDAMENTALISMO Para reforçar seus laços com os evangélicos, Bolsonaro foi batizado em 2016, no Rio Jordão, pelo pastor Everaldo: encenação política (Crédito:Divulgação)

 

Diante disso, a campanha eleitoral começou como uma verdadeira guerra santa, fruto de puro oportunismo político e com graves manifestações de intolerância, que podem levar à violência. Ainda que os alvos prioritários sejam religiões de matriz africana, cria-se um clima favorável à propagação do ódio que atinge outros credos e ideologias. O presidente manipula questões de fé desde o início do governo e agora promove uma radicalização e uma amplificação desse discurso enviezado por meio de Michelle. Um episódio recente ilustra a estratégia. A primeira-dama divulgou um vídeo em que Lula recebe um banho de pipoca de uma religiosa do candomblé e aproveitou para destilar preconceito. “Lula já entregou a sua alma para vencer essa eleição. Não lutamos contra a carne e o sangue, mas contra os principados e as potestades das trevas. O cristão tem que ter a coragem de falar de política hoje para não ser proibido de falar de Jesus amanhã”, escreveu em sua conta no Twitter. Antes disso, no dia 7 de agosto, ela discursou na Igreja Batista Lagoinha, em Belo Horizonte, e disse que o Planalto era “consagrado a demônios e hoje é consagrado ao senhor Jesus”.

SINCRETISMO Lula toma banho de pipoca de uma religiosa do candomblé: Michelle disse que o oponente entregou sua alma para o “principado das trevas” (Crédito:Divulgação)

 

“André Mendonça, nosso irmão em Cristo e, agora, ministro do Superior Tribunal Federal.
O nosso Deus é justo e fiel, cumpriu o que prometeu”  

Michelle comemora aprovação de Mendonça para ministro do Supremo Tribunal Federal (4 de dezembro de 2021)

 

Na terça-feira, 16, a religião virou um tema central do lançamento das campanhas de Bolsonaro (PL) e Lula (PT). Ambos trataram do assunto, tentando demonizar um ao outro, entrando numa espiral de insanidade que deve crescer até outubro. Os dois falaram de Deus e dos demônios. Não por acaso, desde o final de março, na pré-campanha, Bolsonaro tratou de priorizar os evangélicos nos seus atos. Até o dia 16 de agosto participou de 36 compromissos com representantes desse grupo, incluindo reuniões com lideranças religiosas no Planalto, cultos e marchas para Jesus. Em Juiz de Fora, onde tomou a facada em 2018, Bolsonaro abriu a corrida eleitoral em um encontro com pastores no aeroclube local, falou no milagre da sua eleição e afirmou que o Brasil marchava para o socialismo. Depois, em discurso para apoiadores, voltou a explorar a religião insinuando que o ex-presidente Lula é um candidato não cristão e que cristão não vota na esquerda. “Vamos falar de política hoje, sim, para que amanhã ninguém nos proíba de acreditar em Deus”, acrescentou. O grande destaque, porém, foi a primeira-dama. Após aparecer em cena no evento principal, ela foi ovacionada. Bolsonaro tentou começar o seu discurso, mas foi obrigado a interrompê-lo. “A pessoa mais importante neste momento não é o presidente ou o candidato. É a senhora Michelle Bolsonaro”, afirmou.

 

“Nós estamos aqui para cumprir uma missão que Deus me chamou, Deus é o senhor e nós declarando que o Brasil é dele, aleluia” 

Michelle Bolsonaro, em discurso durante a Marcha para Jesus em Balneário Camboriú (SC), no dia 2 de julho

 

Lula, no lançamento de sua campanha, na fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP), acusou Bolsonaro de tentar manipular os evangélicos e chamou o mandatário de “presidente fajuto” e “genocida”. “Ele é um fariseu e está tentando manipular a boa-fé de homens e mulheres evangélicos que vão à igreja tratar da sua espiritualidade. Eles ficam tentando contar mentira o tempo inteiro”, disse Lula. “Se tem alguém que é possuído pelo demônio é esse Bolsonaro”, completou, cometendo o grave erro de entrar no jogo sujo do adversário e se envolver com uma questão mistificadora. Seja como for, a situação mostra que o petista sentiu o baque. A entrada de Michelle em cena, embora tenha reforçado o discurso de ódio, causou efeitos positivos para Bolsonaro, aumentando sua popularidade junto ao eleitorado evangélico e entre as mulheres.

 

“Nós aprendemos a amar o nosso Brasil. Uma terra santa, uma terra escolhida por Deus. E Deus tem promessas para o Brasil. Ele é um escolhido de Deus” 

Michelle Bolsonaro, no lançamento da chapa Bolsonaro-Braga Netto no dia 24 de julho

Uma pesquisa PoderData realizada entre os dias 14 e 16 de agosto mostra que Bolsonaro tem 52% das intenções de voto nesse eleitorado, enquanto Lula fica com 31%. Outro levantamento da Genial/Quaest divulgado quarta-feira, 17, mostrou que Bolsonaro abriu 24 pontos entre os evangélicos em relação ao adversário, crescendo muito nas últimas duas semanas e indicando que a guerra santa vem dando resultados. Em março, a diferença entre eles era só de um ponto percentual. O presidente tem agora 52% das intenções, ante 28% do petista. A população evangélica não é majoritária, mas é fundamental. Gira em torno de 65 milhões de pessoas, entre 30% e 32% dos brasileiros. Os católicos são maioria: 50%, ou 105 milhões de indivíduos. E, nesse grupo, Lula leva vantagem. Por isso, Bolsonaro já programa visitas ao Santuário de Aparecida (SP) e ao Cristo Redentor, no Rio.

 

Ataques a terreiros

 

Segundo o IBGE, cerca de 2% da população brasileira segue religiões de matriz africana. É uma minoria que sofre perseguição e preconceito religioso. Ataques a terreiros são frequentes e atitudes como a da primeira-dama só contribuem para piorar a situação. Em 2021, segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, foram registradas mais de 300 denúncias de ofensas à liberdade de crença contra seguidores da umbanda e do candomblé.

Religiosos bolsonaristas têm espalhado que se a esquerda vencer, fechará igrejas. É uma fake news que tem se disseminado em São Paulo com a contribuição do deputado e pastor Marco Feliciano (PL), que admite fazer essa pregação para alertar fiéis. Bolsonaro tem repetido também que cristãos não votam na esquerda e que o Brasil enfrenta problemas espirituais. Ao mesmo tempo, usa descaradamente a máquina pública para conquistar apoio religioso. Numa medida escancarada para favorecer evangélicos, a Receita Federal decidiu ampliar a isenção de contribuições previdenciárias sobre a remuneração de pastores. Sem contar que houve o aparelhamento do governo e uma constante ameaça nos últimos quatro anos à laicidade do Estado. O caso mais escandaloso foi o do Ministério da Educação, onde o pastor Milton Ribeiro comandava uma estrutura paralela de desvio de verbas. O fervor religioso de Bolsonaro é recente, cresceu com o interesse político. Ele é católico, mas foi batizado em 2016 pelo pastor Everaldo no Rio Jordão, em Israel. Foi um lance de oportunismo para se aproximar dos evangélicos. Everaldo, na época presidente do PSC, acabou preso em 2020 por suspeita de corrupção.

COVARDIA Ataques a seguidores da umbanda e do candomblé cresceram nos últimos tempos: preconceito do casal Bolsonaro contra religiões de matriz africana (Crédito:Valter Campanato/Agência Brasil)

Embate espiritual

 

“Ao associar as religiões africanas com o demônio, a primeira-dama mostra uma grande ignorância, trabalha com a ideia racista de jogar o conjunto da sociedade contra as práticas culturais e espirituais que vêm da África”, diz o babalaô Ivanir dos Santos, professor do programa de pós-graduação em História Comparada da UFRJ. As afirmações de Michelle também foram questionadas pela Frente Inter-Religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, que, em nota, afirmou que “a primeira-dama repete antiga prática excludente, beligerante e preconceituosa, com o intuito de demonizar o inimigo, estimulando a violência”. “Essa mesma estratégia foi utilizada no passado para legitimar perseguições religiosas destrutivas e promotoras de mortes”, conclui a nota.

Para o cientista político Vinicius do Valle, um dos diretores do Observatório Evangélico, organização que difunde conhecimento sobre assuntos religiosos, Michelle pôs a relação entre política e religião em um patamar inédito no Brasil. “Quando se cria um ambiente de demonização do outro e o transforma num mal absoluto, a gente rompe com os marcos democráticos”, afirma. “A gente tem a construção de um oponente que precisa ser eliminado porque é do mal.” Para o cientista, não existe dialogo possível ou negociação quando se transforma o oponente na personificação do mal. Para Valle, os episódios recentes envolvendo a primeira-dama representam um salto em relação ao passado, na medida em que o candidato “ungido” se transforma num combatente de infiéis. “O que Michelle fez foi inédito. Não se tratou de um político convidado para um culto mas um político conduzindo um encontro religioso”, afirma. O que se vê é a disputa política sendo transferida para uma luta espiritual, com a ultrapassagem das fronteiras do Estado laico e com o corpo burocrático sendo invadido por questões religiosas. “A gente tem que ver caso a caso. Existem mensagens religiosas aceitáveis na disputa democráticas e outras não, que só transmitem violência política e intolerância”, diz Valle. “Nos últimos anos a gente vê o aumento da hostilização a pessoas que frequentam terreiros, esses espaços sendo invadidos e pais de santo expulsos de lugares. Isso acaba sendo muito estimulado no atual contexto.”

Para a cientista política Helcimara Telles, professora da UFMG e presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), a participação mais efetiva de Michelle na campanha é pura estratégia. “A entrada dela como missionária retoma com muita força o discurso messiânico já adotado em 2018 de que Bolsonaro seria o ‘enviado de Deus’”, diz. “Essas pessoas se deixam levar pela ideia de que ele seria o próprio Messias, que tem o poder absoluto e portanto pode atacar o STF e outras instituições, ou ainda Moisés, o ‘escolhido de Deus para guiar o rebanho’”, explica. “Há toda uma construção simbólica baseada da Teologia do Domínio, que fala da luta do ‘bem’ contra o ‘mal’. E o papel da Michelle é se apresentar como ‘mulher virtuosa’ e o tempo todo reafirmar o ‘divino’. Isso explica aquele ritual de ‘purificação’ de ‘demônios’ no Planalto.”

REAÇÃO Lula abriu sua campanha eleitoral tentando contemporizar com os evangélicos e chamando Bolsonaro de “fariseu” e “demônio” (Crédito: ANDRE RIBEIRO)

 

“Essa campanha, mais uma vez, é um milagre de Deus. Nossa nação tão amada por Deus está nas mãos dos nossos inimigos”  

Michelle Bolsonaro, no primeiro comício após a oficialização do candidatura de Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG), dia 16

 

O crescimento da intolerância também afeta outras religiões. A violência sofrida pelos públicos dos terreiros é também chamada de racismo religioso porque mais do que a religiosidade, o alvo dos ataques é todo o legado cultural africano e o povo que o carrega. É algo análogo ao que acontece com os judeus e o antissemitismo. A intolerância acaba estimulando perseguições e comportamentos violentos. Nos últimos dois anos foram registrados pela mídia e redes sociais 104 acontecimentos antissemitas no Brasil, segundo base de dados que faz parte do relatório “O antissemitismo durante o governo Bolsonaro”. Assinado por quatro acadêmicos brasileiros com longo monitoramento da intolerância religiosa no País, o documento revela que houve um episódio de intolerância por semana nos últimos dois anos. “Mas a questão é que a maioria dos atos passa batido, e eles acontecem corriqueiramente no ônibus ou no trabalho”, diz Jean Goldenbaum. O preconceito religioso e a intolerância são insidiosos e se espalham como uma doença. A própria primeira-dama deveria saber. Ela já sofreu preconceito, após aprovação do ministro “terrivelmente evangélico” André Mendonça para o STF, no ano passado, quando orou em línguas, uma expressão da fé pentecostal, e foi alvo de comentários pejorativos. O que ela e o marido fazem com os adversários agora é algo parecido. Demonizam os oponentes numa tentativa de impulsionar o ódio social. E favorecem um jogo de mentiras que manipula e religião e conspurca a discussão política.

 

“Nós declaramos que o Brasil é do senhor. Não estamos lutando contra homens e mulheres. Estamos lutando contra espíritos do mal”  Michelle Bolsonaro, em discurso durante ato político-religioso, em Vitória (ES), no dia 23 de julho

A ameaça dos radicais
Ataque a escritor mostra efeitos da cultura do ódio

COVARDIA Salman Rushdie foi atacado por um fanático (Crédito:ULF ANDERSEN)

 

O ataque ao escritor britânico de origem indiana Salmon Rushdie em um evento literário na cidade de Chautaugua, no estado de Nova York, é um exemplo terrível das consequências da intolerância religiosa e do tipo de violência que ela gera. Rushdie foi esfaqueado no pescoço e no abdômen e só sobreviveu porque foi atendido a tempo e passou por uma operação de emergência. Há o risco de o escritor perder a visão de um olho. Ele é jurado de morte desde fevereiro de 1989, quando o aiatolá Khomeini, líder religioso do Irã, decretou sua morte por causa de um pretenso insulto ao profeta Maomé. Rushdie já sofreu vários atentados, viveu escondido durante muito tempo. O responsável pelo ataque ao escritor, um homem de origem libanesa, de 24 anos, chamado Hadi Matar, foi preso e não deu declarações. Seu ato é resultado do fanatismo e da intolerância.

(Colaboraram Gabriel Rötke e Fernando Lavieri)

 

 

22
Ago22

Dia de Combate à Intolerância Religiosa é comemorado; entenda a escolha da data 21 de Janeiro

Talis Andrade

Intolerância Religiosa: termos como “chuta que é macumba” somam quase 55  mil menções desde 2018 nas redes sociais - Mundo NegroCombate à intolerância religiosa é ainda mais urgente no Brasil de hojeGuia de intolerância aponta para disseminação de ataques de cunho religioso  - 15/09/2019 - Cotidiano - Folha

21 de Janeiro é comemorado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, instituído em Lei Nacional no ano de 2007. A data homenageia a baiana Gildásia dos Santos e Santos, Mãe Gilda, Iyalorixá (mãe de santo) vítima de intolerância religiosa.

No ano de 1999 a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) publicou uma reportagem no jornal Folha Universal utilizando uma foto da Mãe Gilda com a manchete "Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes". Após a publicação, a religiosa foi reconhecida pela sua foto, apesar de uma tarja preta ter sido colada sobre seus olhos. A edição teve uma tiragem de 1,3 milhão de exemplares, todos distribuídos gratuitamente em todo o País.

 

Após a publicação, a religiosa foi reconhecida pela sua foto, apesar de uma tarja preta ter sido colada sobre seus olhos

Após a publicação, a religiosa foi reconhecida pela sua foto, apesar de uma tarja preta ter sido colada sobre seus olhos (Foto: Reprodução Folha Universal)
 
 

A partir de então, ela e integrantes do terreiro de Candomblé Ilê Axé Abassá de Ogum, fundado por Mãe Gilda, passaram a sofrer perseguição por pessoas de outras religiões, além de integrantes do próprio Candomblé que acreditaram que a mãe de santo estava pregando contra sua religião. Com a crescente onda de perseguição, Mãe Gilda e seu marido foram agredidos, verbal e fisicamente, dentro das dependências do Terreiro. O local também foi depredado.Busto em homenagem a Mãe Gilda é atacado por criminoso - Lab Dicas  Jornalismo

Ato lembra 'Mãe Gilda' e celebra Dia Nacional de Combate à Intolerância  Religiosa - Notícia - Bahia Notícias

Mãe Gilda já sofria de alguns problemas de saúde e o quadro agravou-se após as agressões. Ela morreu no dia 21 de janeiro de 2000. No dia anterior à sua morte, a religiosa assinou procuração constituindo seus advogados para defender uma ação contra a Iurd, movida pela família, por danos morais e uso indevido da imagem.

A Igreja Universal foi condenada, mas entrou com recursos contra a decisão por mais de uma vez, levando o caso até o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em setembro de 2008, por fim, o STJ confirmou a condenação da Iurd, que ficou obrigada a publicar retratação no jornal Folha Universal e pagar indenização de R$ 145 mil para a família de Mãe Gilda.

Além da data em comemoração ao combate à intolerância, a legislação brasileira também define como crime prática, indução ou incitação ao preconceito de religião, bem como de raça, cor, etnia ou procedência nacional pela Lei nº 9.459 de 1997. A pena é de reclusão de dois a cinco anos e multa.

No 21 de janeiro, entidades religiosas, instituições da sociedade civil e vítimas de intolerância religiosa promovem reunião no Auditório da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Ceará (UFC), homenageando Mãe Gilda de Ogum na data que marca seu falecimento.

Segundo Sebastião Ramos, representante da Associação Brasileira de Apoio às Vítimas de Preconceito Religioso (Abravipre), o evento conta com a presença de pessoas de diversas religiões, em discussões sobre a liberdade de crença, direito garantido pela Constituição. "Formamos uma comissão para darmos continuidade a esse debate em Fortaleza, porque há muitos casos de intolerância religiosa no mundo inteiro, assim como também em Fortaleza", afirma.

Para o professor do Departamento de Geografia da UFC, Christian Dennys Monteiro de Oliveira, o dia 21 de janeiro representa um marco importante na trajetória de reconhecimento governamental de que o problema da intolerância ultrapassa a condição de crimes contra a pessoa humana e contra a cidadania.

"No período dos anos 1990 foi estabelecido uma convenção da Unesco que ditava normas a respeito da importância de se ter um diálogo inter-religioso como forma de reconhecimento de que cada religião, cada credo e cada crença deve ser reconhecida pelo outro como testemunho de convívio e fraternidade Universal", justifica. Para ele, a Lei aprovada em 2007 seguia o mesmo movimento que o Brasil já trilhava com a convenção estabelecida com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O encontro em 21 de janeiro, espaço para o depoimento de entidades e pessoas presentes, "chamando atenção para situações que devem ser sensibilizadas para que se evite esse crescimento da radicalização do fundamentalismo", explicou Christian. Ao encerramento, um cortejo segue até a sede do Maracatu Solar.Mais uma charge polmica envolvendo religio agora no Brasil

21 de Janeiro: Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa – MÃE GILDA  VIVE! | SINTEFPB – Sindicato dos Trabalhadores Federais da Educação Básica,  Profissional e Tecnológica da Paraíba

 

22
Ago22

Intolerância religiosa contra liberdade de expressão

Talis Andrade

Mais uma charge polmica envolvendo religio agora no Brasil

 

A Igreja Universal edita um jornal de um milhão de exemplares, que fez campanha caluniosa, que assassinou uma mãe de santo, e foi por esse crime hediondo de preconceito religioso, e racismo, que o Brasil criou o Dia de Combate à Intolerância Religiosa.

 

A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a  crenças e práticas… | Intolerância religiosa, Liberdade de religião,  Liberdade religiosa

 

A mesma igreja ameaça um jornalista, artista, pintor, chargista consagrado, que mostrou a verdade histórica. Na Roma Antiga, no circo Coliseu, cristãos eram trucidados como divertimento da nobreza ociosa e da plebe. 

O cartunista Vítor Teixeira "deixa a Universal irritada com a charge que publicou em sua página no Facebook. Depois que um grupo de atores, fantasiados de gladiadores, ficou famoso na internet, onde apareciam marchando dentro da Igreja. Muita gente sentiu-se no direito de publicar, criticar e até zombar do 'exército de Cristo”.

Gladiadores exército de Cristo é uma piada macabra. Lembram os soldados do governador Cláudio Castro subindo os morros do Rio de Janeiro para as chacinas de negros pobres favelados. Muitos deles da Igreja Universal que fica calada. 

A Universal repete a Santa Inquisição Católica:

Assim também o fez Vítor Teixeira [zombou] recentemente em sua página oficial de Facebook, todavia foi notificado pela Universal por meio de seus Advogados.

A igreja explicou seu posicionamento em relação às religiões africanas. De acordo com o documento, “A Igreja Universal apenas não concorda com a liturgia das religiões de matriz africana, mas de forma alguma incita o preconceito contra as mesmas”, disse.

Em entrevista ao Terra, Vitor Teixeira disse que não concorda com o posicionamento da Igreja ao pedir a retirada de sua página no Facebook do ar, mas que fez um acordo com o departamento Jurídico da IURD para que apenas a imagem fosse deletada.

“Eu acabei tirando a imagem do ar, mas não por constrangimento, já que eu posto uma imagem esperando que eu possa caracterizar uma situação como meu ofício peça que eu faça. Porém, depois de receber a notificação, eles pediram para que eu deletasse a minha página no Facebook. Negociamos, por e-mail, para que somente a imagem fosse retirada do ar”, disse o artista, que usa a página como ferramenta de divulgação de seu trabalho

Apesar de ter feito o acordo para deletar a imagem, Vitor resolveu tornar o caso público, pois acredita que seu direito de liberdade foi ferido pela pressão dos advogados da igreja. “Querendo ou não, pelo poder econômico que eles têm, é desproporcional (a disputa). Eles são um império de comunicação, com influência política”, falou o chargista. (Reportagem portal Terra).

Apesar do acordo e das conversas que teve com a equipe de Advogados da Universal, Vítor resolveu retornar com a imagem anterior e ainda publicar outra, nada inocente, em relação à religião Universal, que faz a ameaça velada: 

Esperamos que isso não seja um motivo para “copiar”, também, as tragédias do caso charlie hebdo em Paris, seria uma lástima, até mesmo uma tragédia!

 

 

Intolerância religiosa é crime de ódio e fere a dignidade

 

 

Mais uma charge polmica envolvendo religio agora no Brasil

 

Ficou estabelecido o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, 21 de janeiro. A data foi instituída em 2007 pela Lei 11.635, em homenagem a Gildásia dos Santos e Santos, a Mãe Gilda, do terreiro Axé ­Abassá de Ogum, de Salvador. A religiosa do candomblé sofreu um infarto após ver sua foto no jornal ­evangélico Folha Universal, com a manchete “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. A Igreja Universal do Reino de Deus foi condenada a indenizar os herdeiros da sacerdotisa.

 

A manchete de jornal religioso

que infartou mãe de santo

 

Após a publicação, a religiosa foi reconhecida pela sua foto, apesar de uma tarja preta ter sido colada sobre seus olhos

 

Personalidades Negras – Mãe Gilda – Fundação Cultural PalmaresUniversal pressiona, mas mantém pragmatismo e apoio a Bolsonaro após  conflito em Angola - BBC News Brasil

Segue o artigo 20 da Lei Caó (Lei 7.716/89)

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/1997)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/1997)

“Intolerância religiosa é um termo que descreve a atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar as diferenças ou crenças religiosas de terceiros. Poderá ter origem nas próprias crenças religiosas de alguém ou ser motivada pela intolerância contra as crenças e práticas religiosas de outrem”.

Fontes: http://noticias.terra.com.br/brasil/igreja-universal

http://www12.senado.gov.br/jornal/edicoes/2013/04/16/intolerancia-religiosaecrime-de-odioefereadignidade

Comentários: Elane F. De Souza OAB-CE 27.340-BSímbolos Judaicos Coloridos Ilustração do Vetor - Ilustração de deus,  david: 123327590

 

A religião fundada por Edir Macedo usa síbolos judaicos, condenados pelo nazismo, pelo fascismo, pela kkk 

Dia de Combate à Intolerância Religiosa no DF tem ações da Sejus –  Secretaria de Estado de Justiça e CidadaniaPortal do Poder Judiciario do Estado do Maranhão

 

19
Ago22

Bolsonaro estimula a intolerância religiosa

Talis Andrade

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por Priscila Lobregatte

 
A intolerância religiosa é um prato cheio para quem busca conflagrar setores da sociedade e tirar vantagem desse tipo de divisão. É isso que tem feito Jair Bolsonaro (PL) em sua campanha. Além de investirem no ódio para atacar a democracia, suas instituições e a esquerda, o presidente e seus apoiadores buscam jogar principalmente o segmento evangélico contra Lula, favorito em todas as pesquisas eleitorais. 

A fórmula de se recorrer a preconceitos históricos é manjada, mas segue sendo usada e tendo ressonância em certas faixas da população. Utilizando-se de um discurso maniqueísta raso, Bolsonaro e a primeira-dama Michelle buscam insuflar essa estrato religioso. Porém, embora seja uma das principais bases de sustentação do bolsonarismo, os evangélicos não são um bloco monolítico e parte dele tem se mostrado aberta a Lula, o que explica a apelativa cruzada, especialmente do casal, contra o ex-presidente e religiões de matriz africana. 

A pesquisa Ipec desta semana mostrou que apesar de Bolsonaro ter a preferência de 47% dos evangélicos, Lula soma 29%, um índice nada desprezível. Entre os católicos, as posições se invertem: o ex-presidente tem 51% e o atual fica com 26%. 

No começo de agosto, pesquisa Datafolha mostrou que no público evangélico, a preferência por Bolsonaro está mais consolidada entre os homens. Enquanto 48% deles diziam estar com o capitão, 34% delas declararam que não conseguiriam apontar um nome antes de conhecer os postulantes, 29% apoiavam Bolsonaro e 25% Lula, o que os colocavam em empate técnico. 

Possivelmente percebendo este quadro, a campanha de Bolsonaro decidiu ampliar a participação de Michelle em atos públicos para tentar aumentar o apoio feminino, investindo ainda mais em discursos eivados de intolerância. Há uma semana, Michelle disse, em um culto em Belo Horizonte: “vou continuar orando e intercedendo em todos os lugares, e sabe por que, irmãos? Porque por muitos anos, por muito tempo, aquele lugar (o Palácio do Planalto) foi um lugar consagrado a demônios” e que hoje, segundo ela, seria “consagrado a Jesus”. 

Em resposta, Lula disse, em São Bernardo do Campo, que “se tem alguém que é possuído pelo demônio é esse Bolsonaro”. Disse ainda que o presidente “está tentando manipular a boa-fé de homens e mulheres evangélicos” e lembrou que foi ele, Lula, que, quando presidente, sancionou a criação da Marcha para Jesus em 2009. 
 
Ao iniciar oficialmente a campanha com ato em Juiz de Fora (MG) nesta terça-feira (16), Bolsonaro disse: “Vamos falar de política hoje, sim, para que amanhã ninguém nos proíba de acreditar em Deus”. 

Além disso, no mesmo dia, Bolsonaro fez uma postagem nas redes sociais repetindo mentira dita pelo deputado federal e pastor evangélico Marco Feliciano (PL-SP) de que a esquerda defenderia fechar igrejas. A campanha de Lula desmentiu, lembrando a criação da Marcha e o fato de que no primeiro ano de governo, Lula sancionou lei permitindo que as igrejas e associações religiosas pudessem ter personalidade jurídica. 
 
 
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Esquerda e religião


Além da defesa da pluralidade, da diversidade e do respeito às mais variadas crenças, uma marca dos comunistas e da esquerda no Brasil, há outros fatos concretos que desmentem a suposta perseguição destes setores à religião, vendida maldosamente por bolsonaristas. 

Por proposta do escritor e então deputado constituinte do Partido Comunista, Jorge Amado, a liberdade de culto foi inserida na Constituição de 1946. Nos dias de hoje, a “Plataforma Emergencial de Reconstrução Nacional”, elaborada pelo PCdoB e que embasou as posições defendidas pelos comunistas junto ao programa de Lula, o partido afirma que “a emancipação das mulheres, o combate ao racismo e sua desconstrução, a luta contra a LGBTQIA+fobia, a defesa da liberdade de religião são condições para o avanço civilizatório e a constituição de uma sociedade verdadeiramente democrática e humanista”. 

O item 99 do programa registrado pela coligação Brasil da Esperança, de Lula e Geraldo Alckmin, diz: “Defendemos os direitos civis, garantias e liberdades individuais, entre os quais o respeito à liberdade religiosa e de culto e o combate à intolerância religiosa, que se tornaram ainda mais urgentes para a democracia brasileira. Vamos enfrentar e vencer a ameaça totalitária, o ódio, a violência, a discriminação e a exclusão que pesam sobre o nosso país, em um amplo movimento em defesa da nossa democracia”. 

Outro exemplo prático se deu há 14 anos, quando foi instituída a lei 11.635/2007, de autoria do deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), que estabelece o 21 de janeiro como Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. “Num país laico, nenhuma prática religiosa deve ser superior a outra e todos devem sentir orgulho em praticar o sagrado da sua escolha”, declarou recentemente, pelas redes sociais, o deputado Daniel Almeida.
 

A 'guerra santa' de Bolsonaro contra Lula

 
 
19
Ago22

‘Fake news’ religiosa é forte, mas não se sustenta

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

- - -

Sim, é verdade que circula uma onda de boatos no meio evangélico de que o ex-presidente Lula, de volta ao governo, perseguiria ou até fecharia igrejas evangélicas.

E que esta mentira pode ser o que está por trás do suposto crescimento das intenções de voto de Jair Bolsonaro nesta parcela do eleitorado, embora isto, nas próprias pesquisas que o informam, sendo compensado pelo crescimento de Lula em outros recortes, resultando em estabilidade nos números finais.

Mas será que isso tem força para repor a Bolsonaro as esperanças que a falta de impacto, até este momento, do seu “pacote de bondades” de aumento de auxílios e instituição de “vales” a taxistas e a caminhoneiros?

A resposta é francamente “não” e está respaldada no fato de que a experiência prática das pessoas o desmente, porque Lula já governou por oito anos sem que nada parecido acontecesse. Não são, como aconteceu contra Fernando Haddad, mentiras ditas contra quem era desconhecido.

Os evangélicos, afinal, não vieram de Marte e chegaram agora ao nosso planeta.

É obvio que isso tem de ser enfrentado – e os aliados evangélicos de Lula, como o deputado André Janones estão fazendo – mas não é caindo no mesmo discurso do adversário, até porque Bolsonaro e sua mulher já mostraram que não têm ou terão qualquer limite ético em comportamentos e em suas palavras.

Lula, porém, tem de usar seu próprio exemplo de martírio como negação do impulso de perseguir. Não faltam preceitos religiosos a invocar, desde o dos Salmos – “Muitos são os meus adversários e os meus perseguidores, mas eu não me desvio dos teus estatutos” – até Timóteo: “…os perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados”.

Este é o caminho mais eficiente para Lula, porque é a negação do ódio, é o discurso que é subscrito pelos fatos, pela história, por aquilo que todos podem ver.Ku Klux Klan: o que foi, origem, símbolos - Brasil EscolaEx-líder da Ku Klux Klan elogia Bolsonaro; eurodeputados repudiam  'protofascismo - CUT-SP

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