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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

10
Nov23

Centro Esdras parecia ‘campo de concentração’, diz ex-interna

Talis Andrade

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Centro terapêutico em SP prendeu mulheres, torturou, forçou conversão evangélica e pediu apoio a Jair Bolsonaro

Máquina de loucos 2
 
André Uzêda
 
 
 

Jackeline Lopes relembrou que, embora em contrato estivesse escrito que o centro Esdras reservava um espaço para a “espiritualidade” das internas, na prática a única religião aceita era a evangélica, ministrada por pastores da Congregação Cristã. 

“Eles diziam que eu não tinha Deus no coração. Que eu tinha que me adequar à religião deles. Que se eu não me adequasse, nunca ia ter a salvação para o vício que eu tinha. Mas que vício? Eu tinha depressão”, completou.

Durante os cultos, muitos transmitidos online diretamente da igreja para as pacientes, os pastores chegaram a pedir apoio a Jair Bolsonaro, do PL, então presidente da República em campanha para a reeleição. “Em todo final do culto, os pastores diziam que a gente tinha que ajoelhar em agradecimento ao Bolsonaro, porque ele estava fazendo coisas boas para os evangélicos. Eles diziam que a gente estava num cenário político e que ia ser bom pra igreja isso”. 

Lopes contou ainda que apanhou de forma violenta por ser do candomblé. “Eu falei que ia embora, porque meu Exu ia me salvar, e me deram um golpe de gravata. Começaram a me segurar e disseram que eu ia ver quem era Exu. [Disseram] “aqui é a casa de Deus”. Eu tomava soco no estômago. A sensação de você estar sendo sufocada é desesperadora”, narrou.

Havia também uma clara discriminação lesbofóbica e transfóbica, separando mulheres homossexuais e trans em um quarto que eles chamavam pejorativamente de “sapataria”. No depoimento à delegacia de Cajamar, uma outra paciente contou que uma mulher trans era apenas chamada pelo nome de batismo, ignorando de forma deliberada o nome social adotado. Na denúncia do MPSP, ao qual o Intercept teve acesso, os relatos das denunciantes corroboram com o teor das entrevistas feitas pela reportagem.

“As mulheres lésbicas eram tratadas de forma pior, principalmente as mais masculinizadas. O Kauê vigiava e impedia que houvesse relacionamentos lá dentro. E ameaçava as internas dizendo que se continuassem namorando, ia dizer para as famílias que elas tinham comportamento de viciadas”, contou ao Intercept a ex-paciente Jaqueline Barcelos, de 23 anos, que também fez questão que seu nome fosse publicado na reportagem. 

Cada quarto tinha uma numeração – e era chamado pela coordenação de “casa”. A casa 1 era a casa modelo, ocupada por pessoas com mais dinheiro e usada para cativar as famílias quando iam visitar o espaço para internar algum parente. Tinha ainda a casa 3, chamada de sapataria, e a casa 2, do meio, usada, segundo os relatos, como espaço para as agressões físicas e torturas. 

“Lá fazia muito calor. Eu ficava fechada mais de duas horas e meia aos sábados e domingos naquele calor, quando tinha visita. Choveu? Vai chover na gente, porque tinha goteira. O vaso sanitário não funcionava e não tinha chuveiro. Então, se no meio da noite alguém precisasse ir ao banheiro, fazia uma em cima da outra”, relembrou Lopes. 

 


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“Quando eu precisei ser contida, fui segurada pelos braços, socaram meu estômago e fui asfixiada. Você fica desesperado, se debate. E a pessoa te segurando, te xingando. Kauê nunca agia sozinho. Sempre tinha uma, duas, três, quatro monitoras com ele”, completou.

Outra ex-paciente – essa pediu para não ser identificada – comparou a organização do espaço e a forma como os funcionários agiam a um “campo de concentração”. Ela, que ficou internada entre o fim de 2021 e o começo de 2022, relatou ter sido submetida a trabalhos forçados,  sofrido com agressões físicas, controle para o banho e má qualidade dos alimentos fornecidos – a Vigilância Sanitária chegou a interditar o local durante a operação policial em Cajamar.

“Tinha três minutos para tomar banho. A gente ficava de toalha, em filinha indiana, e aí as monitoras, que eram também internas, falavam: ‘Girou o banho’. A comida era péssima. A gente comia mortadela frita, fígado moído, uma colher de proteína por refeição. O Kauê falava: ‘Ah, reclamou da comida? Pois traz a bacia’. E traziam uma bacia cheia de arroz, falando: ‘Enquanto a fulana não terminar de comer, ninguém vai fumar e ninguém vai para o quarto. Palmas para ela’. Era muita humilhação”, reiterou Jackeline Lopes, relembrando a rotina no centro Esdras.

 

Combo de remédios tarja preta era usado para punir pacientes

Outra medida violenta recorrente narrada pelas pacientes era a administração de vários remédios tarja preta. O combo era chamado de danoninho – o Intercept já havia denunciado essa prática, exatamente com o mesmo nome, em uma reportagem sobre comunidades terapêuticas publicada em 2019. No centro Esdras, mesmo sem habilitação médica que o permitisse exercer tal atividade, o supervisor Kauê Cercelos era quem decidia as dosagens, seguindo muitas vezes critérios punitivistas.

“Se você não quisesse ir para a igreja, ou quisesse falar com sua família, você tomava danoninho. Se ele achasse que você estava fazendo um motim para ir embora, você tomava danoninho. Ele te segurava e dizia: ‘Você tem que tomar, se não tomar vai sofrer contenção’. Então a gente acabava tomando. Isso deixava a gente letárgica, babando o tempo todo, sem movimento e sem reação”, contou Jackeline Lopes.

O uso indiscriminado de remédios, conjuntamente com as agressões físicas, é investigado como possível causa da morte da interna Milena Eduarda de Paula Leocádia, de 22 anos. Milena estava internada no centro Esdras tratando do vício em álcool e cocaína quando morreu.  

Em 30 de dezembro de 2021, os funcionários levaram Milena para o Hospital Regional de Cajamar informando que ela teria tentado suicídio. O caso corre em segredo de justiça, mas tivemos acesso ao laudo pericial do Instituto Médico Legal da paciente, que indica equimoses  – termo médico para hematomas – no rosto, pescoço, bacia, joelho, braço e tornozelos. No exame toxicológico, foram encontradas oito fármacos, entre eles: haloperidol, diazepam e clonazepam – substâncias que agem como antipsicóticos, antidepressivos, calmantes e tranquilizantes. Tanto o diazepam quanto o clonazepam são vendidos como tarja preta.

O Código Penal prevê no artigo 282 que é crime exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal. A pena é detenção de seis meses a dois anos.

As pacientes internadas contaram que ter visto o corpo de Milena, desfalecido, sendo levado para o hospital. Suspeitando de algo mais grave, organizaram um motim e disseram que só voltariam para os quartos se soubessem que ela estava bem. 

De acordo com os relatos, a dona do Esdras, Talita Santana, foi até o pátio e disse que ela tinha sido levada para casa e estava com a família. As internas não acreditaram e mantiveram-se irredutíveis, até que guardas municipais teriam aparecido com cachorros e dissipado o princípio de rebelião.

Procurei a Guarda Municipal de Cajamar para questionar a existência de uma operação dentro de um espaço particular, mas o e-mail enviado não foi respondido até o fechamento desta reportagem.

 

Multa altíssima impedia que pacientes deixassem internação no Esdras

Embora sofressem uma série de abusos diários, as internas eram constantemente vigiadas, o que impedia que contassem aos seus familiares os horrores que viviam dentro do Esdras. As visitas, só permitidas após 45 dias de internação, eram acompanhadas de uma monitora, e as ligações constantemente interceptadas. 

“A gente tinha uma ligação uma vez por semana, de 10 minutos. E sempre tinha alguém escutando, porque se você falasse alguma coisa, podia sofrer sanção. Minha mãe mesmo falava: ‘Olha, filha, o Pai de Santo está rezando por você’. Terminava minha ligação, o Kauê ia lá no refeitório, lá na frente, e falava: ‘Essa casa é de Deus. Não vai ser nenhum demônio que vai tomar conta deste local'”, disse Lopes.

À noite, quando elas se recolhiam para as casas, sempre às 19h, os cachorros eram soltos e ocupavam o pátio. Havia também câmeras de segurança vigiando os corredores e quartos. O MPSP diz que, em última análise, o centro Esdras era “substancialmente um estabelecimento prisional privado”. Outra forma de manter as pacientes presas no espaço era a multa contratual. 

O Intercept teve acesso ao contrato de Jackeline Lopes, em modelo padrão usado para as demais internas. No artigo sétimo, é estabelecido que “havendo quebra de contrato por parte da contratante”, o responsável financeiro deve pagar a parcela do mês vigente mais a multa de 50% sob as parcelas em aberto, “sendo que este pagamento deve ser à vista e no ato de retirada do acolhido”. 

Contrato de internação no Centro Esdras, com cobrança de multa para saída do paciente.

A mãe de Lopes, por exemplo, pagou R$ 3 mil só de multa para retirá-la após três meses de internação – seu contrato era de seis meses. “Naquele mês, ela pagou a mensalidade, multa, cigarro, cantina… Foi em volta de R$ 5,5 mil. Tinha outras internas que falavam: ‘Meu, eu falei com minha mãe na ligação e ela não tem dinheiro para pagar a multa. Ela está vendo que eu não estou bem, mas a multa é tão alta’. Eles amarravam dessa maneira”, contou. 

A resolução da Anvisa que regulamenta a atividade das comunidades terapêuticas expressa que, por não ser um serviço de saúde, esses espaços “devem garantir a permanência voluntária do residente, a possibilidade de interromper o tratamento a qualquer momento”.

 

Sócia do Esdras tem outros centros terapêuticos em atividade

Mesmo fechado desde a operação policial em janeiro deste ano, o centro Esdras segue com cadastro ativo na Receita Federal. Seu pix, por meio do CNPJ, também está funcionando. 

Márcia Aguiar, a sócia que não foi presa, mantém outras comunidades terapêuticas funcionando em seu nome em São Paulo: o Centro de Assistência social e Apoio Especializado Esther, na capital; o Centro de Assistência Social e Apoio Especializado Eloah, em Embu das Artes, e a Comunidade Terapêutica Naamã, em Cajamar – mesmo local do centro Esdras.

O Naamã tem nove comentários negativos no Reclame Aqui. Em alguns relatos, há denúncia de “opressão e castigo”, remédios administrados sem prescrição médica, além de denúncia de agressão física e vigilância constante.  

“Fiquei lá três meses. Foi pior do que ir preso. Quase morri de fome, fui agredido, me deram remédios. Quase fiquei chapado de tantos remédios. As ligações, fica um verme do lado para você não poder falar as verdades”, lê-se em um dos relatos.

“Pessoal, não coloquem seus filhos ou algum ente querido de vocês. Só serve para pegar o dinheiro da gente e não prestam com o acordo que foi firmado”, completou um segundo.

Assim como o Esdras, os centros Naamã, Esther e Eloah também fazem referências a personagens bíblicos. A Eloah é uma sociedade que Márcia Aguiar mantém com Talita Santana – que foi presa preventivamente na operação da Polícia Civil. Nas outras duas, ela aparece como única sócia administradora. 

 

Outro lado

O advogado que defendia Talita Santana e Marcos Moglia no processo por cárcere privado e tortura movido pelo MPSP era Júlio César Acedo. Ele se intitula especialista em direito médico e hospitalar e em dependência química. Acedo tem um longo histórico de defender comunidades terapêuticas na justiça – incluindo os próprios Esdras e Naamã. 

No habeas corpus em que tentou relaxar a prisão de Talita Santana, Acedo tentou desacreditar as denúncias trazidas pelas pacientes ouvidas pela delegacia de Cajamar. Ele escreveu que “causa espanto é que a prisão foi decretada em razão da palavra de dependentes químicos em tratamento”. 

Ele afirmou ainda “não é segredo para ninguém o quanto essa maldita doença compromete o sentido dos viciados, que em razão da abstinência são capazes das mais indescritíveis atitudes. (…) Ora, não é óbvio que as acusadoras poderiam apenas estar vencidas pela abstinência, desejando apenas deixar o local para satisfazer o seu famigerado vício? Ainda mais no carnaval, onde as facilidades para o consumo de drogas são mais latentes”, pontuou, embora a batida policial tenha acontecido em 16 janeiro – mais de um mês antes do carnaval, ocorrido entre 18 a 21 de fevereiro de 2023.

Procurei Acedo, que disse que não representa mais os antigos donos do Esdras. Ele afirmou que rompeu o acordo por não ser um advogado criminalista. O segundo advogado a assumir a defesa de Talita Santana, Marcelo Mazzuia, também deixou o caso. 

Consegui contato de Tiago Miranda, o advogado que atualmente defende a dona do Esdras. Falei com ele por telefone, mas ele pediu que as perguntas fossem enviadas por e-mail para que seu posicionamento fosse colocado “da forma correta”. Nós enviamos as perguntas, mas Miranda não enviou as respostas até a publicação desta reportagem.

O  advogado de Marcos Moglia, Fernando Solimeo, que assumiu o lugar de Júlio Acedo, também deixou o caso. Perguntei o motivo da troca e ele disse que não poderia revelar. “Há uma cláusula de confidencialidade entre as partes. Júlio César Acedo foi o primeiro representante de Marcos. Eu fui o segundo e agora já há um terceiro”, afirmou. Ele não revelou o nome do advogado que o substituiu. 

Tentei localizar o novo advogado que defende Moglia por meio da assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo, que informou que não conseguia acessar o processo e informar o nome, pois o caso tramita em segredo de justiça. O supervisor Kauê Cercelo, que segue sem o paradeiro localizado desde a denúncia oferecida pelo Ministério Público, também foi procurado, mas não foi encontrado.

19
Jul23

Pastores usam profecias e revelações para convocar 'guerra santa' por Bolsonaro ! BBC 5

Talis Andrade
 
 
 
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Bandeira vermelha

Nem sempre as profecias citadas pelos pastores têm desfechos que eles consideram positivos.

É o caso de uma profecia feita pelo pastor Marcelo de Carvalho dias após a posse de Lula, na qual disse ter recebido a revelação de que a bandeira brasileira seria alterada.

"A bandeira do Brasil não será mais verde e amarela, estou profetizando. A bandeira do Brasil vai mudar, vai ser vermelha. Deus mostrou que as bandeiras, estou falando literalmente, as novas bandeiras do Brasil já começaram a ser confeccionadas", disse o pastor.

Marcelo de Carvalho atua no Ministério Ciência da Profecia, uma igreja sem endereço físico. Ele não diz nas redes onde mora, mas seu celular tem o DDD de Santa Catarina.

O pastor conta com mais de 200 mil seguidores no YouTube. No mesmo vídeo, Marcelo cita outra revelação: "Deus mostrou rachaduras em todos os lugares do Brasil", afirmou.

"Sabe o que isso significa? Significa que o Brasil será destruído."

Mas eis que, nesse cenário, o pastor aponta uma saída: a compra de um curso virtual de R$ 389 para "sobreviver ao que está vindo".

"Diante dessa revelação, diante dessa sentença, Deus me mandou fazer o seguinte: o curso estava concluído, mas agora, em função do novo governo, do que Deus mostrou, Deus colocou no meu coração o seguinte: vou começar a acrescentar materiais nesse curso", ele diz.

Contatado pela BBC, Marcelo não respondeu e apagou o vídeo. Dias depois, após nova tentativa de contato, ele respondeu por email.

O pastor disse que, em seu vídeo, havia apenas reproduzido revelações de outra pessoa - ainda que, na gravação, ele diga que recebeu aquelas profecias diretamente de Deus.

Sobre o curso, Marcelo disse que "é apenas um curso que ensina as pessoas a viver melhor em meio a crises financeiras, a cultivar e armazenar alimentos, se possível, a ter menos dívidas".

Marcelo disse ainda que tirou o vídeo do ar porque ele era muito longo. Questionado se seus vídeos poderiam estimular atos como as invasões em 8 de janeiro, disse: "Sempre disse que o povo tinha que aceitar o novo governo do presidente Lula. Essa, inclusive, foi a razão de eu ser xingado por muitas pessoas de direita."

 

Radicalização nas redes sociais

Para Vinicius do Valle, doutor em Ciência Política pela USP e que pesquisa o universo evangélico desde 2010, as redes sociais permitiram a ascensão de líderes religiosos sem vínculos com grandes instituições.

Ele afirma que, por não estarem ligados a grandes igrejas, muitos desses pastores "não têm uma grande instituição pela qual eles têm que ser responsáveis, prezar pela imagem, então eles têm uma liberdade maior para fazer profecias, acusações e agir de forma mais extremista".

Valle diz ainda que a maneira como as redes incentivam conteúdos que causam fortes emoções pode estar abrindo as portas para um extremismo religioso que talvez não tivesse tanto apelo em igrejas físicas.

"Os pastores que têm seu maior público nas redes sociais, eles até têm um estímulo para serem mais radicalizados, porque as redes sociais são um ambiente que trazem essa radicalização maior, esse extremismo maior", afirma.

Além disso, ele diz que as redes sociais propiciaram aos pastores uma nova fonte de financiamento. É possível, diz Valle, que muitos pastores de igrejas pequenas recebam mais por seus canais do YouTube do que por dízimos pagos por fiéis.

Para Celeste Leite dos Santos, doutora em Direito pela USP e promotora de Justiça em São Paulo, os vídeos dos pastores citados na reportagem têm de ser analisados pelos investigadores dos atos de 8 de janeiro.

"Quando você começa a incitar os fiéis à prática de crimes, você ultrapassa os limites de uma liberdade religiosa. Porque todo direito fundamental, ele não é ilimitado", afirma.

"Se nós temos a liberdade religiosa, nós também temos a liberdade de todos os cidadãos brasileiros de poderem contribuir com o Estado social e democrático de direito vigente e não sofrer intimidações, não correr o risco de que amanhã ele vai acordar e já estar vivenciando um regime de exceção obtido através da violência e da força", afirma.

19
Jul23

Pastores usam profecias e revelações para convocar 'guerra santa' por Bolsonaro ! BBC 4

Talis Andrade

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'Tempo de paz, tempo de guerra'

Valdirene Moreira é outra estrela no universo dos pastores bolsonaristas youtubers.

Moradora de Guarapari, cidade com 120 mil habitantes no Espírito Santo, ela não é ligada a nenhuma igreja conhecida, mas tem centenas de milhares de seguidores em diferentes contas no YouTube.

Em 15 de novembro, Lucas Moreira, filho da pastora, postou um vídeo ao lado da mãe numa manifestação que bloqueou a rodovia BR-101. "Nós fazemos a nossa parte, Deus faz a dele, há tempo de paz e há tempo de guerra", afirmou a pastora.

Em outro vídeo, postado em 8 de janeiro, Valdirene comentou as invasões ocorridas horas antes nas sedes dos Três Poderes, em Brasília.

"Infelizmente, gente, embora Zacarias ensine que não é por força nem por violência, muitas vezes no passado o Senhor permitiu coisas acontecerem pra que chegasse àquilo que é a vontade dele", ela disse.

Desde novembro, quando o YouTube derrubou a página da pastora, ela tem recorrido aos canais dos filhos e a duas novas páginas para seguir publicando na plataforma. Questionado pela BBC, o YouTube não respondeu por que tirou do ar o canal principal da pastora, mas não os outros que ela usa.

A BBC pediu uma entrevista com Valdirene Moreira e lhe enviou várias perguntas - uma delas, se seus vídeos não poderiam estimular a radicalização política. Não houve resposta.

 

Pacto com demônio

Outro pastor que tem feito profecias políticas é Reginaldo Rolim, ex-vereador de Fortaleza que também se define como apóstolo e profeta no Ministério Atalaia do Deus Vivo, uma pequena igreja na capital cearense.

Em 29 de outubro, na véspera do segundo turno, Reginaldo disse ter recebido a seguinte revelação: Bolsonaro ganharia a eleição, mas Lula seria declarado o vencedor. "Muitas pessoas dizem que Bolsonaro ia dar um golpe militar, só que eu via que o Exército é que tomava a frente, intervinha nas eleições e divulgava algo que estava em oculto e que estava sendo tramado há muito tempo atrás", diz o pastor.

Reginaldo afirma que, ao intervir nas instituições, o Exército estaria na verdade agindo em nome de Deus.

"O Senhor disse assim: 'Sou eu que entro nos Poderes e faço justiça'".

Reginaldo diz que a mesma revelação lhe mostrou que Lula teria feito um pacto com "demônios". "Eu via que o governo do PT colocou instrumentos, eu não via como seres humanos, mas como espíritos, como demônios, que os demônios entravam dentro de instituições."

"O Lula fazia um pacto com os outros espíritos, mas eu não via o Lula, eu via um espírito. Esse espírito fazia um pacto com os outros espíritos, pra que esse espírito representando a pessoa de Lula assumisse a Presidência da República."

Procurado pela BBC, Reginaldo também não respondeu a um pedido de entrevista.

 

18
Jul23

Documentário: “Os profetas do bolsonarismo” | BBC 1

Talis Andrade
 
Imagens compartilhadas nas redes sociais
Leia na Folha artigo de Gustavo Fioratti
 

Vendilhões, impostores disfarçados de “pastores” mobilizaram multidões nas redes sociais com supostas profecias e revelações sobre intervenção militar, ataque aos Poderes e retorno de Bolsonaro à Presidência. Um insulto à inteligência e à civilidade.

Neste documentário, nosso repórter João Fellet explica como religião e política se mesclaram e como isso influenciou os atos de 8 de janeiro, quando os prédios dos três Poderes foram invadidos e depredados em Brasília. Confira.

 

No dia 29 de abril de 2018, o deputado federal Jair Bolsonaro, ainda como pré-candidato à presidente, esteve no Congresso Gideões Missionários da Última Hora (GMUH), a convite do pastor Reuel Bernardino. E recebeu oração abdominal. Isso antes da fakeada... 

 

Pastores usam profecias para convocar 'guerra santa' por Bolsonaro - BBC News Brasil

 

Líderes religiosos atraem centenas de milhares de seguidores nas redes sociais com mensagens que dizem ter recebido de Deus; discursos incluem visões sobre intervenção militar, explosão no STF e retorno de Jair Bolsonaro ao poder. Em 15 de novembro, Lucas Moreira, filho da pastora, postou um vídeo ao lado da mãe numa manifestação que bloqueou a rodovia BR-101. "Nós fazemos a nossa parte, Deus faz a dele, há tempo de paz e há tempo de guerra", afirmou a pastora.

Crédito, Pastora Valdirene Moreira tinha mais de 300 mil seguidores quando o YouTube derrubou seu canal; desde então, recorreu aos canais dos filhos e criou novas páginas para continuar publicando na plataforma.

Crédito, O ex-vereador de Fortaleza Reginaldo Rolim, que se define também como apóstolo e profeta no Ministério Atalaia do Deus Vivo, um pequena igreja no Ceará. Em 29 de outubro, na véspera do segundo turno, Reginaldo disse ter recebido a seguinte revelação: Bolsonaro ganharia a eleição, mas Lula seria declarado o vencedor. "Muitas pessoas dizem que Bolsonaro ia dar um golpe militar, só que eu via que o Exército é que tomava a frente, intervinha nas eleições e divulgava algo que estava em oculto e que estava sendo tramado há muito tempo atrás", diz o pastor.

08
Dez22

Manuela D'ávila enquadra Edir Macedo e processa Record após fake news grotesca envolvendo "legalização de incesto"

Talis Andrade

www.brasil247.com - Manuela D'ávila e Edir Macedo

Renato Cardoso e Edir Macedo caluniosos processados

 

 

247 - Manuela D'Ávila entrou com uma ação judicial contra a Record e a Igreja Universal do Reino de Deus por causa da publicação de uma notícia falsa. Uma espécie de reportagem, exibida no programa religioso Entrelinhas, afirmou que Manuela havia apoiado um projeto para legalizar o casamento entre pais e filhos. Além de retratação pública, ela pede indenização de R$ 12 mil por danos morais. Que é uma importância muito pequena, diante da riqueza da igreja e riqueza pessoal dos criminosos, e das consequências danosas do boato espalhado para os candidatos do PT, principalmente no Rio Grande do Sul, a deputado estudual, deputado federal, senador, governador e presidente da República. As informações são do portal Notícias da TV. 

A reportagem teve acesso com exclusividade à ação, que tramita na comarca de Porto Alegre do TJ-RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul). Em 31 de maio, Renato Cardoso, genro de Edir Macedo e apresentador de programas religiosos na Record, convidou outros pastores para comentar a estratégia de campanha presidencial --que nem havia começado oficialmente.

Além de afirmar que Lula teria contratado pastores evangélicos para orientar seu discurso, mentiosa, safada e caluniosamente, o programa informou que a esquerda e o PT apoiavam um projeto de lei chamado "legalização do incesto". Manuela D'Ávila aparece na foto usada para ilustrar a notícia falsa.

30
Out22

Na reta final, bolsonarismo age como milícia

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

- - -

O que vai acontecer, de hoje até domingo, é intimidação, crime e tentativa de coagir eleitores, não se engane.

Terrorismo de Roberto Jefferson, acobertamento e destruição de provas no tiroteio de Paraisópolis, áudio do organizador das motociatas de Jair Bolsonaro ameaçando espancar pessoas e dar “um tiro na cabeça do Xandão”, grades do pátio de uma igreja arrancadas na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o filho do presidente falando em adiamento das eleições, a lista é interminável e cada um destes eventos daria um post, se eu não me recusasse a ajudar o clima de medo que pretendem.

Embora não seja incoerente que milicianos façam campanha eleitoral como milicianos, é inacreditável que isso consiga arrastar, pelo fanatismo, uma parcela de brasileiros que, em condições normais, nada têm a ver com este tipo de banditismo.

Agora, na reta final, pressionados pela desvantagem aparentemente intransponível que tem Lula, estes atos desesperados são prenúncio da derrota e, além disso, preparação para as contestações do resultado.

O comportamento de Jair Bolsonaro, no debate de hoje, refletirá este clima. Agressões, desaforos e tentativa de intimidação física não faltarão.

Há, portanto, de não faltar a Lula a tranquilidade para suportar e, na hora certa, a firmeza para reagir.

A nossa parte é dar a cara na rua, combater com a exposição de nossa vontade decidida a vontade da população e rechaçar o medo que procuram impor.

É focar no objetivo: o que queremos para a vida dos brasileiros e que Bolsonaro negligenciou: comida, saúde, salário, escola, SUS…

Contra a loucura, lucidez. Não há outro caminho.

Porque o bolsonarismo é nazista

 
 
21
Out22

É perigoso usar religião como instrumento de poder, alerta dom Odilo Scherer

Talis Andrade

 

 

Dom Odilo Pedro Scherer sorrindo

Dom Odilo foi criticado por seguidores porque, em sua foto no Twitter, usa trajes religiosos vermelhos

  • por Edison Veiga /BBC News

O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, figura aos 73 anos no alto da hierarquia católica. Com um currículo sólido, ele mantém um relacionamento muito próximo com os que vivem no Vaticano — papa Francisco, inclusive.

Scherer comanda a Arquidiocese de São Paulo desde 2007 e, no mesmo ano, foi feito cardeal — atualmente, há apenas oito brasileiros nesse seleto grupo da alta cúpula da Igreja. Em tempo de nomeação, só perde para o arcebispo-emérito de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, que ascendeu ao colégio de purpurados em 2001.

 

 

No último domingo (16/10), Scherer foi alvo de ataques nas redes sociais motivados pelo atual clima político do país, em que a religião vem ganhando cada vez mais espaço na campanha eleitoral.

Ele foi criticado por seguidores porque, em sua foto no Twitter, usa trajes religiosos vermelhos. De acordo com os detratores, isso significaria um apoio ao Partido dos Trabalhadores (PT), do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, pela coincidência com a cor da legenda.

"Se alguém estranha minha roupa vermelha, saiba que a cor dos cardeais é o vermelho (sangue), simbolizando o amor à Igreja e a prontidão ao martírio, se preciso for. Deus abençoe a todos", escreveu ele.

Ainda na rede social, Scherer demonstrou preocupação com o atual momento político. "Tempos estranhos esses nossos! Conheço bastante a história. Às vezes, parece-me reviver os tempos da ascensão ao poder dos regimes totalitários, especialmente o fascismo. É preciso ter muita calma e discernimento nesta hora!", postou no mesmo dia.

Em entrevista à BBC News Brasil na quarta-feira (19/10), dom Odilo explicou como vê a cena política atual. "Os ânimos estão muito acirrados. Há um envolvimento muito claro, eu diria assim, com as religiões. As igrejas, sobretudo as cristãs, foram arrastadas para dentro do debate. Não só do debate, o que seria legítimo, mas para a briga política."

Na visão do cardeal, há sinais de fascismo na cultura brasileira atual. "É uma doutrinação, eu diria até mesmo, de ideias fascistas ou fascistoides, que agora se expressam de alguma forma dentro dessa polarização política", afirma, citando o exemplo do debate político em que candidatos são retratados como "o bem" e "o mal".

"Existem claramente causas em que precisamos ter uma definição: não podemos ser mais ou menos a favor da vida, mais ou menos a favor da justiça; a gente precisa ser a favor. Porém, isso não nos deve levar a demonizar quem pensa diferente ou quem tenha argumentos diferentes".

 

Dom Odilo vê riscos para a democracia do Brasil, mas diz esperar que ela resista. "Tem havido manifestações, não agora simplesmente neste momento, mas de mais tempo para cá que apontam para esse risco. Por exemplo, o questionamento das instituições. Não um questionamento qualquer, mas uma forma de ameaça às instituições democráticas", afirma.

"Isso, sim, indica um risco, um risco para as instituições democráticas. Mas eu espero que isso não aconteça. O Brasil tem resistido a essas, digamos, ameaças. Creio que nossa democracia aguentou bastante e vai aguentar também essa. E vai se sair melhor."

Ao longo de toda a conversa, Scherer demonstrou um especial cuidado em não mencionar, nominalmente, nem o candidato a reeleição Jair Bolsonaro (PL), nem o seu oponente, Lula. "Os clérigos, aí me refiro aos diáconos, aos padres, aos bispos, eles devem se abster de expressar opção partidária e até mesmo por candidatos."

 

Edison Veiga entrevista dom Odilo Scherer

 

BBC News Brasil - Nos últimos dez dias, observamos uma série de acontecimentos de natureza político-partidária no meio da Igreja Católica. Houve a confusão quando a comitiva de Bolsonaro esteve na Basílica de Aparecida, no dia 12 de outubro, missas interrompidas por manifestações partidárias e, no último domingo, o senhor foi atacado porque demonstrou preocupação com acirramento dos ânimos no contexto eleitoral. O que está acontecendo com os cristãos brasileiros?

Dom Odilo Scherer - Estamos em campanha eleitoral, este é o contexto. E o que está acontecendo é que os cristãos acabaram sendo envolvidos na polarização político-ideológica que é geral, que não é só brasileira, e isso está se expressando agora de maneira toda especial na proximidade do segundo turno das eleições presidenciais. Os ânimos estão muito acirrados. Há um envolvimento muito claro, eu diria assim, com as religiões. As igrejas, sobretudo as cristãs, foram arrastadas para dentro do debate. Não só do debate, o que seria legítimo, mas para a briga política.

 

BBC News Brasil - No Twitter, o senhor citou uma preocupação como avanço do fascismo no Brasil. Que setores fascistas seriam esses? O que seria esse avanço?

Scherer - Existem sinais, que não são de agora, naturalmente, que vêm de mais tempo, de certa tendência fascista, sim, que está na cultura. É uma doutrinação, eu diria até mesmo, de ideias fascistas ou fascistoides, que agora se expressam de alguma forma dentro dessa polarização política. Isso se expressa de forma muito especial nessa absolutização de um pensamento sem permitir interlocução serena com quem pensa diferente. Essa absolutização é configurada como luta entre "o bem" e "o mal", de modo genérico, e como tal se apresenta alguém que é detentor ou identificado como aquele que é promotor "do bem" e outro identificado como o promotor "do mal". E quem adere politicamente ao que promove "o bem" é tido como "do bem". E quem é identificado como apoiador de quem supostamente promove "o mal" é tido como "do mal".

Isso é absurdo. O próprio papa Francisco tem dito que o bem não está todo de um lado nem o mal está todo de um lado. A coisa não é tão simples nem tão clara, tão preto no branco. Existem claramente causas em que precisamos ter uma definição: não podemos ser mais ou menos a favor da vida, mais ou menos a favor da justiça; a gente precisa ser a favor. Porém, isso não nos deve levar a demonizar quem pensa diferente ou quem tenha argumentos diferentes e levar à instrumentalização das massas em função do pensamento, digamos, ideológico e, claro, com o objetivo de alcançar o poder, tornar as massas irrefletidamente fanáticas em torno de uma proposta ou de um determinado projeto.

Isso claramente não está dentro do esquema democrático, está indicando mais para regimes totalitários do que para sistemas democráticos, abertos, que aceitam o contraditório e que aceitam conviver com o plural, sem a pretensão de eliminar, pelo menos culturalmente ou idealmente, quem pensa diferente. Nossa sociedade é pluralista em todos os aspectos, temos de reconhecer e aceitar. A manipulação da religião é o que está acontecendo muito fortemente. A meu ver este é um fator preocupante.

O que se queria evitar de nossa parte, pelo menos da parte da Igreja Católica, acabou acontecendo: o envolvimento mais explícito, até mesmo de clérigos, que devem se abster. Isso não significa que o povo católico não tenha posição política, partido, candidato… Claramente, é um direito do povo católico fazer isso. Mas os clérigos, aí me refiro aos diáconos, aos padres, aos bispos, eles devem se abster de expressar opção partidária e até mesmo por candidatos. Isso é da norma da Igreja, porque divide a comunidade. Temos de promover a comunhão da comunidade na sua pluralidade e não podemos pôr a perder valores maiores por causa de uma disputa política.

 
 

BBC News Brasil - A manifestação partidária de clérigos é inclusive proibida pelo Código de Direito Canônico, certo?

Scherer - Sim. É contrário às normas da Igreja.

 

BBC News Brasil - E o que vem sendo feito, no caso da sua arquidiocese, para coibir ou punir casos de padres e bispos que estejam se manifestando a favor de algum candidato?

Scherer - As coisas estão acontecendo. Depois de acontecidas, a gente vai resolver o que faz. Naturalmente, estamos no fervor dos fatos, mas isso merecerá claramente uma reflexão de nossa parte, na medida que estiver em nosso alcance. A gente está tentando justamente controlar isso, mas, claramente, fugiu do controle.

 

BBC News Brasil - Existe punição prevista para casos assim?

Scherer - O uso [político-partidário] da palavra na igreja, no púlpito, na hora da celebração é proibido, até pela lei [eleitoral] brasileira. E, portanto, tem sim, sanções canônicas que podem ser de uma censura até de uma suspensão se o caso for para tal.

 

BBC News Brasil - Os casos concretos ainda serão analisados?

Scherer - Claro, os canonistas precisam olhar claramente. Mas, no momento, não estamos, porque, claramente, o assunto ainda está acontecendo. Não tem como fazer isso agora… Esta iniciativa será tarefa para depois.

 

BBC News Brasil - No mês passado, o senhor esteve no Vaticano com o papa Francisco. Ele demonstrou alguma preocupação com o período eleitoral brasileiro?

Scherer - Certamente o papa está muito informado sobre o que vem acontecendo em todo o mundo e, portanto, antes que nós falássemos, ele já sabia. Está acompanhando o que está acontecendo com o Brasil. Isso foi assunto também de nossa conversa com o papa em nossa visita a ele.

 

BBC News Brasil - Algo de concreto dessa conversa pode ser tornado público?

Odilo Scherer - Não há nada de especial a não ser informações sobre o que se passa na campanha eleitoral, sobre as tendências que estão presentes e como o povo católico está se posicionando… Essas questões…

 

BBC News Brasil - Voltando à questão de que os padres não podem se manifestar partidariamente: em um contexto em que determinados religiosos estão pedindo votos abertamente, quem fica em silêncio não pode dar a entender que toda a Igreja está fechada com determinado candidato? Qual a postura mais adequada, então, nesse caso específico?

Scherer - Permanece válido o que a Igreja continua a dizer. Infelizmente, nem sempre isso é observado. No calor da campanha eleitoral, muitas vezes se esquece essa recomendação, que não é só uma recomendação, para os padres. Agora, a Igreja não deve ser identificada somente como os clérigos. A Igreja é o povo. E o povo tem o direito e até o dever de participação política, partidária, de se manifestar em favor de candidatos. Isso está no pleno direito do povo católico. São os clérigos — os diáconos, os padres e os bispos — que não devem, para não dividir a comunidade.

 

BBC News Brasil - Em períodos eleitorais, acabam sendo explorados com mais força alguns temas que são caros à doutrina católica, como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Como tratar disso?

Scherer - Nas igrejas, essas temas são tratados como temas morais, e, naturalmente, a posição da Igreja em relação a eles é conhecida. E, mesmo em tempo de campanha eleitoral, nada impede que se trate e continue a tratar desses temas, que são temas morais, não são temas políticos em primeiro plano. Claro que, no tempo da campanha eleitoral, acabam sendo politizados, o que é uma pena. Pareceria que quem ganha a eleição então ganha a posição política em relação a determinado tema. Não, os valores morais são universais, não são valores de partido ou de governo. São valores universais que devem valer para todos os partidos, independentemente de quem ganha a eleição.

Por isso, é uma pena que se faça politização de valores morais. Esses deveriam valer para todos, e não simplesmente serem trazidos para a campanha político-partidária. Mas é inevitável que isso aconteça. Então, ao se falar de valores e posições da Igreja em relação a valores morais, nem por isso a Igreja está fazendo campanha partidária. Está falando de suas convicções e de sua doutrina, e isso vale tanto para clérigos quanto para leigos.

 
 

BBC News Brasil - Mas há alguma orientação aos católicos, no sentido dos valores morais, para ajudar a nortear a escolha dos candidatos?

Scherer - Como em tudo, a moral não se impõe. Ela se propõe. Como uma questão de princípio. E cada um deve escolher, em sua consciência, e aderir a esses valores em consciência e depois responder em consciência, diante de si, diante dos outros e diante de DEus.

 

BBC News Brasil - O posicionamento da Igreja é o mesmo quando a gente coloca a questão do armamentismo?

Scherer - Certamente. Esta também é uma questão moral, sim.

 

BBC News Brasil - Muitos cristãos que defendem o porte de armas acabam citando uma passagem do evangelho de Lucas, onde Jesus orienta seus seguidores a venderem suas capas e comprarem uma espada. Como explicar esta passagem à luz do atual debate?

Scherer - Tem que estudar melhor o significado dessa expressão no contexto do Evangelho. Jesus não justifica de forma nenhuma o armamentismo com isso. Jesus, naquele momento, fala da força interior que se deve ter para testemunhar em favor da fé, do Reino de Deus que ele está trazendo e convidando a aderir. Jesus não está convidando ninguém a fazer guerra contra os outros.

 

BBC News Brasil - Por que a pauta religiosa se tornou tão preponderante neste ano eleitoral?

Scherer - Na verdade, ela aparecia antes também. Mas acredito, interpretação minha, que é porque o uso da religião, do nome de Deus e assim por diante é muito frequente por parte de um dos candidatos. Isso é público e é conhecido. E isso se tornou argumento da campanha eleitoral.

 

BBC News Brasil - Este mesmo candidato, que o senhor não cita nominalmente, insiste que há uma perseguição a cristãos no Brasil. O senhor concorda?

Scherer - Existe, de fato, sim. Ultimamente, tem aparecido. Até na Basílica de Aparecida, houve uma forma de desrespeito ao momento religioso, ao momento de culto dentro da Basílica [aqui, Scherer se refere aos apoiadores do candidato à reeleição Jair Bolsonaro que causaram confusão durante as celebrações de Nossa Senhora Aparecida no feriado alusivo a ela, no último dia 12]. Há outros momentos em que pessoas interrompem missas para provocar ou, então, criar arruaça dentro da celebração. Isso são manifestações de intolerância, se não são de perseguição. São de intolerância. E a intolerância é muito preocupante. Por isso mesmo é perigoso tornar a religião de alguma forma instrumento de busca do poder e argumentar com base em argumentos religiosos para conseguir o voto das pessoas. Isso é perigoso e pode desencadear consequências incontroláveis depois.

 

BBC News Brasil - Consequências incontroláveis? O senhor enxerga algum risco para a democracia no Brasil?

Scherer - Tem havido manifestações, não agora simplesmente neste momento, mas de mais tempo para cá que apontam para esse risco. Por exemplo, o questionamento das instituições. Não um questionamento qualquer, mas uma forma de ameaça às instituições democráticas. Um poder contra outro poder. Ou até pretender ter um controle total sobre o Judiciário, por exemplo. Isso, sim, indica um risco para as instituições democráticas. Mas eu espero que não aconteça. O Brasil tem resistido a essas, digamos, ameaças. Creio que nossa democracia aguentou bastante e vai aguentar também essa. E vai se sair melhor.

 

BBC News Brasil - Qual o papel da Igreja Católica na contribuição ao fortalecimento desse processo democrático?

Scherer - Primeiramente, a Igreja tem um papel próprio. Não é um papel político-partidário. A Igreja, e aí também a Conferência dos Bispos [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB], não é um partido, não é uma facção a favor ou contra o governo. A Igreja é povo. E, na Igreja, existem pessoas de várias cores partidárias, legitimamente. A Igreja, por isso mesmo, é inclusiva. Não é seletiva de ideologias ou de partidos, de posições partidárias. A Igreja está no meio do povo, é o povo. É dos que aderem a ela e estão batizados, portanto, fazem parte dela. Por isso, a Igreja está na sociedade, é parte dela, e, através da ação da Igreja, ela procura educar — a palavra parece meio inadequada neste contexto, mas o trabalho de evangelização é, sim, um trabalho de formação das pessoas em função de valores, de reconhecimento do próximo e da dignidade humana, dos valores de justiça e retidão. Este é o papel formador que a Igreja tem na sociedade.

A Igreja, através de suas múltiplas formas de presença, está na sociedade como colaboração. Ela não substitui nem a sociedade nem o governo. A Igreja não é uma coisa separada da sociedade, está dentro da sociedade, com creches, hospitais, escolas, com inúmeras iniciativas de presença junto aos pobres, doentes, etc. Então, dessas formas, a Igreja está colaborando, contribuindo para uma vida melhor na sociedade. Com o governo, a Igreja está disponível para colaboração naquilo que é legítimo e possível. E aí não tem o governo A ou B. Com qualquer governo, quando isso seja possível e coerente com aquilo que é a sua convicção.

 

BBC News Brasil - E qual o papel da Igreja no período eleitoral?

Scherer - A Igreja tem dado orientações quanto a parâmetros, balizas que devem orientar a busca do voto, ou então a quem dar o voto. A escolha dos candidatos, quais os critérios que, segundo a convicção da Igreja, deveriam ser levados em consideração na escolha. Isso a Igreja faz, tem feito.

Damos, naturalmente, critérios que possam ajudar os cristãos que queiram ter referências. E o povo espera isso, pede, quer referências para a escolha dos candidatos. Claro que o povo queria muitas vezes ouvir "vote em A", "vote em B". Normalmente, não fazemos isso, porque a gente sabe que a nossa indicação já introduziria a divisão na comunidade. Oferecemos critérios pelos quais as pessoas devem se orientar. São aqueles que normalmente já são conhecidos. Primeiramente, olhar a capacidade, a idoneidade moral do candidato que se apresente. Depois a sua, diria assim, sua ficha, seu histórico, se ele merece a nossa confiança, se ele representa nossas convicções.

Depois, por outro lado, claro, aquele programa que ele tem ou defende, ele ou o partido ou o conjunto de partidos. Esse programa vai bem? Ele contraria nossas convicções? São essas coisas que a gente propõe normalmente. Além de ter oferecido critérios que, esperamos, tenham todos, agora a gente está fazendo o papel de acalmar os ânimos. Para evitar que, no calor da campanha, se produzam lacerações nas relações sociais, humanas e até mesmo dentro das famílias, comunidades cristãs que, depois, dificilmente serão superadas.

Entendemos que há valores que vão além de uma campanha eleitoral. Claro que, em uma campanha, temos muitas coisas em jogo e muitas coisas apreciáveis. Porém, depois da eleição, temos de continuar vivendo, temos de continuar a viver juntos. E só um pode ganhar. Quem ganha deve governar, e esperamos que governe bem. E quem perde vai para a oposição, que controle quem governa e faça seu papel. Por outro lado, é preciso compreender que, no Brasil, temos um regime democrático, republicano, presidencialista. Não somos parlamentaristas e muito menos imperial, portanto o presidente não pode tudo. O presidente não governa de maneira absoluta, e nem queremos que governe de maneira absoluta. Tem de levar em conta os outros dois poderes, o Congresso e o Judiciário. E levar em conta a população. O grande poder é o povo, e o próprio povo deve controlar quem governa, em todas as instâncias e acompanhar as ações do governo e ver se estão de acordo com aquilo que o povo pretende. Que o povo se manifeste também depois das eleições. Nosso voto é apenas uma parte do processo político. Nossa participação política não termina na urna. Ela continua depois, ao longo de todo o governo.

 

BBC News Brasil - Quando o senhor diz "nossa participação", inclui também a Igreja como instituição?

Scherer - Exatamente, o papel político dos organismos da Igreja é legítimo, não é negado. Ele é previsto e reconhecido pelas instituições da sociedade. Gostaria de acrescentar uma palavra que o papa Francisco tem usado e que se aplica bem ao período eleitoral: que os adversários não sejam considerados inimigos. Adversários políticos pensam diferentes. Mas não devem ser considerados inimigos, porque isso depois cria situações realmente não só constrangedoras, mas insuportáveis e insustentáveis. Deve prevalecer a amizade social, o respeito e a tolerância. E cada um que lute por aquilo que acredita. Esperamos que seja assim.

 

 

20
Out22

Eleições 2022: pastores fazem pressão por voto e ameaçam fiéis com punição divina e medidas disciplinares

Talis Andrade

Preso pela PF, Pastor Everaldo batizou Bolsonaro no Rio Jordão

Pastor Everaldo Pereira batizou Jair Bolsonaro nas águas do Rio Jordão, em Israel, em uma viagem turística e de gastos inexplicáveis. Everaldo está preso por corrupção (T.A.)

 

O VOTO ENTRE OS EVANGÉLICOS TEM COR

 

por Julia Braun /BBC New

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Em um vídeo com mais de 300 mil visualizações no Instagram, a ministra evangélica Valnice Milhomens instiga os fiéis a não votarem em candidatos à Presidência que apresentam "um programa contrário ao reino de Deus".

Toda vestida de verde, amarelo e azul, ela afirma que cada fiel "vai responder diante de Deus pelo seu voto".

Milhomens tem 320 mil seguidores no Instagram e 137 mil inscritos em seu canal no YouTube. Ela é uma das muitas líderes religiosas evangélicas que têm feito campanha pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).

A ministra e presidente da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo não menciona Bolsonaro nominalmente em suas postagens e discursos, mas as cores escolhidas para os vídeos e o discurso são os da campanha do atual mandatário. Ela também já participou de celebrações religiosas ao lado do presidente e sua família.

Milhomens ainda tem promovido um movimento de oração e jejum nos dias que antecedem o segundo turno das eleições presidenciais. Em um guia divulgado no site do Conselho Apostólico Brasileira (CAB), os fiéis podem seguir um roteiro de orações, entre as quais há uma com o nome de Jair Bolsonaro.

O programa de 21 dias vai até 29 de outubro e tem sido divulgado nas redes sociais por diversos pastores de diferentes denominações.

 

Valnice Milhomens | Podcast on Spotify 

Valnice Milhomens com a camiseta bolsonarista pronta para apoiar o golpe militar de Bolsonaro se ele perder nas eleições democráticas e livres. (T.A.)

 

Já o pastor André Valadão é muito mais direto em seus pronunciamentos. "Vamos para cima! A vitória do Bolsonaro nesse segundo turno tem que ser grande!", diz em um dos vídeos postados em seu Instagram, onde acumula 5,3 milhões de seguidores.

"Tem que votar certo, se não você não é crente não", afirmou também em um vídeo gravado ao lado do atual presidente, usando o bordão que se popularizou em suas redes sociais.

Valadão é fundador da Lagoinha Orlando Church, na Flórida, nos Estados Unidos, e cantor gospel. Em suas redes, responde com frequência perguntas de fiéis e seguidores sobre religião e política.

 

André Valadão apresenta projeto de construção de mega Igreja da Lagoinha em  Orlando

André Valadão nem reside mais no Brasil. Passa mais tempo nos Estados Unidos numa vida de luxo e grandezas materiais (T.A.)

 

 

E tão comum quanto as postagens que exaltam Bolsonaro, são as que criticam a esquerda e, em especial, o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em uma postagem do dia 4 de outubro, pouco após o primeiro turno das eleições, uma usuária mandou o seguinte comentário para o perfil do pastor: "Sou cristã e não votei no Bolsonaro #forabolsonaro".

Valadão respondeu: "Você pode até ser cristã, mas é desinformada. Ou talvez escolhe caminhar na ignorância, sem entender que tudo o que a esquerda oferece é tudo que é fora dos valores cristãos".

Em reação a outra pergunta, o religioso escreveu que crente que vota em Lula é "um absurdo".

 

Punição a membros de esquerda

 

O discurso político combativo se repete entre outros pastores que possuem uma ampla gama de seguidores, algumas vezes até com ameaças contra os fiéis que se recusam a seguir a orientação de voto.

Um vídeo em que um pastor da Assembleia de Deus afirma que os evangélicos que declararem voto em Lula serão proibidos de tomar a Santa Ceia circulou nas redes sociais em agosto.

"Eu ouço crentes dizendo: vou votar no Lula. Você não merece tomar a ceia do Senhor se você continuar com esse sistema", diz o pastor Rúben Oliveira Lima, da Assembleia de Deus em Botucatu, interior de São Paulo.

Pastor Rúben Oliveira Lima recebe Cidadania Ituana

 Empresário Rubén Oliveira Lima da supremacia branca vota em Lula. Os pastores negros e mulatos estão com lula. O voto entre os evangélicos tem cor. 

 

Em outro momento do vídeo, ele afirma, se referindo ao ex-presidente Lula: "Se eu souber de um crente membro dessa igreja que votou nesse infeliz, eu vou disciplinar ". Ele não deixa claro o que quer dizer com disciplinar.

Um documento discutido em plenário durante uma assembleia em 4 de outubro da Convenção Fraternal das Assembleias de Deus do Estado de São Paulo (Confradesp), um dos braços mais fortes da Assembleia de Deus, fala de "aplicação de medidas disciplinares" contra membros que adotem filosofias que, segundo eles, entram em choque com os princípios cristãos.

O texto a que a BBC News Brasil teve acesso afirma que a Convenção não aceitará em seus quadros ministros que defendam, pratiquem ou apoiem, por quaisquer meios, ideologias contrárias aos princípios morais e éticos defendidos por ela. O documento cita um posicionamento contrário à "Desconstrução da Família Tradicional, Erotização das Crianças, Ampla Liberação do Aborto" e outros. Vide carta de Lula

 

(Jesus jamais diria do próximo: infeliz, 

Jornalistas fazem ato em defesa da democracia e debate sobre voto evangélico  - CUT - Central Única dos Trabalhadores

“A população evangélica foi decisiva em 2018, na eleição que alçou o fascista Jair Bolsonaro ao poder impulsionada por uma impiedosa máquina de mentiras e desinformação fortemente calcada em temas como costumes e religião, a escolha eleitoral de milhões de brasileiros pode não estar selada como antes”, afirma o Barão de Itararé, em nota (T.A.)

 

"Os Ministros que comprovadamente defenderem pautas de esquerda, dentro da cosmovisão marxista, serão passíveis de representação perante o Conselho de Ética e Disciplina, assegurado o contraditório e a ampla defesa", diz a carta da (ditadorial Confradesp). 

A resolução foi aprovada pouco depois de o presidente Jair Bolsonaro participar de um culto para os fiéis presentes à assembleia, na Assembleia de Deus Ministério do Belém, na zona leste de São Paulo.

Durante esse mesmo culto, diversos líderes religiosos falaram a favor do presidente e a primeira-dama Michelle Bolsonaro cobrou das igrejas evangélicas um posicionamento no segundo turno das eleições de 2022.

"A gente queria vitória, sim, no primeiro turno. Mas a gente entendeu, irmãos, que se a gente tivesse recebido a vitória no primeiro turno, talvez a igreja não estivesse preparada para isso. A gente precisa se voltar ao Senhor. A igreja precisa se posicionar, a igreja precisa aprender", disse ela.

A Confradesp é liderada por José Wellington Bezerra da Costa, um dos pastores mais influentes do Brasil. Seu filho, o também pastor e líder da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) José Wellington Costa Junior, disse em um culto no início de maio que o ex-presidente Lula não deve ser recebido nas igrejas que ele comanda (Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças (…) E amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Marcos 12:30-31. Não entendo a proibição: "Lula não deve ser recebido". Lula escreveu uma carta aos evangélicos. Lula não faz política em nenhuma igreja. Essa proibição é descabida para ele que é cristão: Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Mateus 22:21-22

"O inferno não tem como entrar em lugar santo. Aqui é lugar santo", disse, em referência ao PT e a Lula. "É bom que nos conscientizemos disso. Você, pastor, vai ser procurado sorrateiramente [por petistas], dizendo que é só uma visita. É um laço do Diabo!".

Henrique VIII com fogueiras à Santa Inquisição criou o anglicanismo na Inglaterra, sendo o monarca britânico o Governador Supremo da Igreja. Sua filha, Maria I, por sua vez reacendeu as fogueiras do catolicismo. O filho de Maria fundou as igrejas prebiterianas. Religião é uma imposição política. Cada vez mais Bolsonaro manda nas igrejas evangélicas. Veja os perigos do mundo hoje. Comenta John L. Allen Jr: As guerras sempre têm consequências imprevisíveis, eviscerando o status quo e moldando violentamente novas realidades. Enquanto a maioria dos especialistas está ponderando as consequências geopolíticas, diplomáticas e militares da invasão da Ucrânia pela Rússia, a guerra de Putin também parece destinada a ter consequências importantes no cenário religioso (T.A.)

 

 

'Não vamos impor nossa vontade a ninguém'

 

Outro líder religioso que declarou seu apoio à candidatura de Bolsonaro foi o apóstolo Estevam Hernandes, pastor da Renascer em Cristo e idealizador da Marcha para Jesus. Ele é hoje um dos principais cabos eleitorais do atual presidente (Bolsonaro. A Marcha para Jesus foi criada por Lula quando presidente. E mais: Lula criou o Dia Nacional do Evangélico. E a Lei de Liberdade Religiosa. Vide tags)

O apóstolo, que é dono do canal de televisão Rede Gospel e apresenta um programa de rádio e televisão na emissora, utiliza frequentemente as cores verde e amarelo durante cultos e nas fotos e vídeos que posta nas redes sociais.

Em sua página no Instagram, que tem 1 milhão de seguidores, o líder religioso utiliza uma foto de perfil em que aparece ao lado de Bolsonaro. Ele também compartilha com frequência cliques ao lado de outros candidatos, entre eles o aspirante a governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Em suas participações na televisão, o apóstolo não cita nominalmente nenhum candidato, mas fala de temas como a "destruição da família" e o "apoia ao aborto". Ele também costuma divulgar eventos com a participação de outras lideranças religiosas em que se discute política e o apoio a Bolsonaro.

À BBC News Brasil, Hernandes afirmou que ele e sua igreja defendem "os valores cristãos, mas não vamos impor nossa vontade a ninguém". "Acredito que ele defende os mesmos valores que nós cristãos, da importância da família, e contra o aborto, por exemplo", disse sobre o atual presidente (que tem filhos de três mulheres e defendeu o aborto para o filho que numera como 04)

 

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"Eu acredito que temos o direito de defender os candidatos que representam os valores e demandas da igreja, mas de maneira nenhuma fazemos disso uma imposição. Da mesma forma, tenho o direito de me posicionar em minhas redes sociais sobre o que acredito. Mas não estamos impondo nada a ninguém e nem usando o púlpito para isso", afirmou o fundador e líder da Igreja Renascer em Cristo em respostas enviadas por escrito à reportagem.

Assim como a ministra Valnice Milhomens, o apóstolo tem divulgado o programa de jejum e oração para o período que antecede o segundo turno das eleições. O líder religioso afirma que sua igreja realiza jejuns com frequência desde a sua fundação.

"O objetivo do jejum é ter um período especial de consagração em que buscamos orar e estar ainda mais próximos de Deus. Neste jejum, em especial, estaremos orando também pelo país e pelas próximas eleições, mas, como falei, jejuamos sempre." (Deltan Dallagnol, outro evangélico eleito deputado, fez jejum pela prisão de Lula, para Bolsonaro concorrer as eleições de 2018. A idéia de que o jejum compra Deus, inclusive para fazer coisas do malígno como prender adversários, matar inimigos)

 

'Falso cristão'

 

Bolsonaro não é o único que recebeu apoio de lideranças religiosas. O ex-presidente Lula também tenta reunir votos do eleitorado cristão por meio de pastores e padres. O petista também vem tentando reforçar sua imagem como cristão em suas campanhas e redes sociais, rebatendo algumas das críticas e acusações feitas contra ele.

Mas enquanto o atual presidente recebeu apoio de grandes igrejas e denominações e de pastores midiáticos com uma ampla rede de seguidores, Lula é apoiado principalmente por quadros dissidentes e igrejas menores.

O petista tem ao seu lado, por exemplo, Paulo Marcelo Schallenberger, que se identifica em suas mídias como "o pastor solitário de Lula".

O religioso faz parte da Assembleia de Deus, mas afirma ter sido afastado dos cultos formais na igreja por conta de seus posicionamentos. Hoje se dedica principalmente a palestras em outras igrejas. "Passei a me posicionar primeiro contra o governo Bolsonaro, só depois me aliei publicamente ao Lula. Mas sempre votei nele e na ex-presidente Dilma [Rousseff]", disse à BBC Brasil.

Além de pastor, Schallenberger concorreu a deputado federal neste ano pelo Solidariedade, mas não foi eleito.

Ele afirma guardar as discussões de políticas e suas opiniões pessoais para discussões após o culto ou fora da igreja. "Há um exagero na discussão de política dentro das igrejas, especialmente entre aqueles que cultivam uma certa idolatria em relação ao Bolsonaro."

O pastor também usa as redes sociais com frequência para falar da corrida eleitoral. Em uma postagem compartilhada no Instagram após o primeiro turno das eleições, Bolsonaro é classificado como "falso cristão". O post cita a relação do atual presidente com a Arábia Saudita e o príncipe Mohammad bin Salman.

 

Bolsonaro diz que tem 'certa afinidade' com príncipe da Arábia Saudita |  VEJA

 

Príncipe da Arábia Saudita pede imunidade ao Brasil - 14/07/2022 - Mundo -  Folha

 

"Um cristão não pode se comportar da forma que ele se comporta, seja na forma de falar ou na vida", diz. "Não tem como se dizer cristão e não sentir empatia, se solidarizar ou derramar uma lágrima sequer por quem morreu na pandemia."

 

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Há cerca de duas semanas, o pastor também publicou em suas redes sociais um vídeo adulterado em que o atual presidente afirma que a primeira-dama cumpriu três anos de prisão por tráfico de drogas. Trata-se de um áudio falso, manipulado a partir de uma declaração dada em 2019. Na realidade, Bolsonaro comentava sobre a avó de sua esposa.

Questionado pela reportagem sobre o post, o líder religioso afirmou que não sabia que se tratava de uma fake news quando postou, mas que foi avisado posteriormente. "Já apaguei do meu Twitter, mas alguém da minha equipe deve ter esquecido de deletar do Instagram. Vou verificar", disse. O vídeo foi apagado posteriormente.

Outra liderança religiosa que declarou seu voto em Lula foi o bispo Romualdo Panceiro, ex-número 2 da Universal e atual líder da Igreja das Nações do Reino de Deus.

A Aliança de Batistas do Brasil, uma organização que prega a "livre interpretação da Bíblia", a "liberdade congregacional" e a "liberdade religiosa" para todas as pessoas, também se posicionou a favor do petista, afirmando ser contra o "governo perverso e mau que está no poder".

  

Lei proíbe propaganda eleitoral em igrejas

 

Segundo a lei eleitoral, é proibido veicular propaganda eleitoral de qualquer natureza em templos religiosos. Esses espaços são definidos como "bens de uso comum", assim como clubes, lojas, ginásios e estádios.

"Falar bem de um determinado candidato não é propaganda eleitoral, mas comparar dois nomes e dizer, por exemplo, que um representa o bem e o outro o mal, pode ser considerado propaganda", explica o advogado eleitoral Alberto Rollo.

A Lei das Eleições, de 1997, estabelece como propaganda eleitoral não apenas declarações, mas também exposição de placas, faixas, cavaletes, pinturas ou pichações. O mesmo vale para ataques a outros candidatos - a chamada campanha negativa.

O descumprimento da lei pode gerar multa de R$ 2 mil a R$ 8 mil. "A multa é aplicada para quem fez a propaganda ou para o candidato beneficiado", diz Rollo.

O especialista explica ainda que igrejas são consideradas pessoas jurídicas e, pela lei, nenhum candidato pode ser financiado por empresas. Transgressões são consideradas abuso de poder econômico e podem levar ao cancelamento do registro da candidatura ou à perda do cargo.

Veículos ou meios de comunicação social, incluindo os religiosos, também não podem atuar em benefício de candidato ou de partido político.

Segundo Rollo, porém, declarações feitas nas redes sociais pessoais de líderes religiosos não se enquadram na regra. "Os pastores são cidadãos e pessoas físicas, não jurídicas, portanto aquilo que dizem em suas redes sociais pessoais não está sujeito a essa lei. Mas essas declarações não podem acontecer nas redes sociais da própria igreja, por exemplo."

Há também, no Código Eleitoral, um artigo que proíbe o uso de ameaças para coagir alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido, sob pena de reclusão de até quatro anos e pagamento de multa.

 

'Não vamos votar no novo papa'

 

Pastores moderados e lideranças religiosas criticam o uso da religião e do palanque de igrejas para fazer campanha e coagir fiéis a darem seus votos para determinados candidatos.

A pastora Romi Bencke, secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), ressalta que para além de qualquer proibição da lei eleitoral brasileira, fazer uso da posição de autoridade, de celebrações ou de canais de televisão religiosos para esse fim não é ético.

"Não creio que seja correto que lideranças religiosas se utilizem de sua autoridade perante os fiéis para estimular votos em candidatos específicos", diz. "As lideranças religiosas são respeitadas, escutadas e têm uma legitimidade em suas comunidades."

Para Valdinei Ferreira, professor de teologia e pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, há uma linha muito tênue que separa as convicções pessoais de pastores e outros religiosos de seu papel público. "Mas devemos evitar cruzar essa linha e usar a autoridade religiosa para respaldar ou legitimar nossa opção político partidária", afirma.

"Eu me sinto tentado a me pronunciar em alguns momentos, mas resisto a fazer isso na condição de pastor e mais ainda usando o púlpito e o culto."

Ferreira critica ainda o uso de discursos camuflados para apoiar determinadas ideologias políticas a partir de preceitos religiosos. "Há valores tanto da direita quanto da esquerda que são compatíveis com o evangelho. Dizer que cristão não vota em candidatos de uma determinada ideologia é manipulação", afirma.

"No dia 30 de outubro [dia do segundo turno], não vamos votar no presidente de uma igreja ou no novo papa, mas no presidente do Brasil. As mobilizações precisam ser laicas, até porque a pessoa eleita vai governar ao longo de quatro anos um Brasil que é plural em termos de religião", completa Romi Bencke.

Tweet de Bolsonaro com ‘golden shower’ em carnaval repercute no mundo

 

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20
Out22

André Valadão declara guerra religiosa

Talis Andrade

 

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Felipe Neto 
@felipeneto
No mesmo dia: - Jovem Pan inventou que foi censurada pelo TSE; - André Valadão inventou decisão do TSE contra ele; - Conselho Federal de Medicina inventou decisão de censura do TSE. Isso não é coincidência, isso é articulação de fakenews planejada e executada com precisão.ImageImage
 "Andrezinho" Valadão, pecando contra Marina Silva
 

 Picaretagem: André Valadão inventou decisão do TSE contra ele empresário do golpe
 

Pastor André Valadão ESPALHA MENTIRAS e cria PÂNICO entre EVANGÉLICOS 

André Valadão fica furioso e xinga pastores de esquerda e artistas globais: "não canto na Globo mais"


O cantor André Valadão, conhecido pelos anos que cantou no Diante do trono ao lado de sua irmã Ana Paula Valadão, da igreja Batista da Lagoinha, rasga o verbo contra pastores que apoiam e cristãos que apoiam a esquerda, como Caio Fábio, Leonardo Gonçalves, e artistas da Globo, como Anitta e Xuxa . Ele também afirma: "não piso mais nessa desgraça de emissora" .
 
 Picaretagem explícita e comprovada de um empresário que se diz pastor
 
 

Ana Paula Valadão revela motivo de sua saída da Igreja Batista da Lagoinha e fala de André Valadão

Xuxa emocionada fala sobre: "Pintou um clima" expressão usada por Bolsonaro

 

"NÃO SOU CONIVENTE, EU OUVI O QUE UM SENHOR DE 67 ANOS FALOU SOBRE MENINAS DE 14 ANOS"

20
Out22

Cartilha de Orientação Política 2022

Talis Andrade

Cartilha de Orientação Política 2022 é inspirada na encíclica Fratelli  Tutti | Diopuava

Neste ano, a Cartilha possui uma característica original, pois está embasada no pensamento do Papa Francisco quanto à política, expresso na sua mais recente encíclica social: “Fratelli Tutti – Sobre a fraternidade e a amizade social”. No documento, o Papa dedica um capítulo inteiro à política, ao qual intitula “A política melhor”.

Para a produção dessa Cartilha de Orientação Política, o Regional Sul 2 contou com uma comissão, composta pela assessoria política da CNBB, por bispos, padres e leigos peritos em várias áreas do conhecimento e da comunicação. Todas as etapas da produção, desde a escolha dos temas e da capa, até a assessoria para os conteúdos e a revisão do texto e diagramação foram acompanhadas por essa equipe.

A capa da Cartilha foi desenvolvida pelo designer gráfico Hélder de Castro. Ele trabalhou o conceito de que “o altar dos leigos é o mundo” (Cf. Evangelii Gaudium, 102), mostrando pessoas de várias faixas etárias, em diferentes áreas de atuação: política, educação, saúde, comunicação, economia, segurança, agricultura, esportes e vários tipos de trabalho. Além disso, sobre o mapa está a urna eletrônica, que representa a democracia, e uma Bíblia, que representa a dimensão da fé cristã.

A cor verde, predominante em toda capa, foi escolhida por remeter à esperança e à vida. Além disso, é a cor que representa a natureza e um dos temas propostos na cartilha é a ecologia integral.

A cartilha tem 24 páginas, é colorida, possui imagens, ilustrações e indicações para vídeos, por meio de QR Codes. O conteúdo é apresentado de forma didática, com uma linguagem simples e de fácil compreensão. Ao final de cada um dos três blocos, são propostas duas questões para o diálogo em pequenos grupos.

Confira mais informações sobre a Cartilha nas redes sociais da Diocese:

Instagram: https://www.instagram.com/p/Cjs_CXrpj...

Facebook: https://www.facebook.com/comunicacaod...

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