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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

25
Out22

“A avalanche de desinformação é um desafio existencial para a democracia”, diz Jamil Chade

Talis Andrade
 
O jornalista Jamil Chade nos estúdios da RFI em Paris
O jornalista Jamil Chade nos estúdios da RFI em Paris © RFI

 

A multiplicação de fake news veiculadas nos canais de informação e propagadas a uma velocidade impressionante nas redes sociais nesta reta final da campanha eleitoral gerou uma ‘máquina de guerra’ que coloca à prova a existência da própria democracia no Brasil. Ao analisar esse fenômeno, o jornalista e escritor Jamil Chade lança um alerta sobre os efeitos da desinformação, que cria uma "realidade paralela" capaz de influenciar a decisão do eleitor em um momento crucial para definir o futuro do país.

“A eleição é aquele momento em que você vai votar e isso é o óbvio. Mas parece que o óbvio está sendo desfeito. Você vai votar em pleno controle da sua consciência. Você vai escolher com pleno controle do que você pensa. Mas o que acontece se o que a gente pensa é determinado por uma realidade paralela que não existe? Essa é a grande questão hoje”, argumenta o jornalista, que lamenta o atraso na elaboração de mecanismos para coibir a desinformação no Brasil, apesar do histórico recente do uso dessa estratégia de comunicação.

“Eu acho que, apesar dos exemplos do que aconteceu em 2018, apesar de 2020 na eleição regional, no caso do Brasil, na eleição municipal, eu acho que mais uma vez, infelizmente, a gente fracassou em lidar com essa desinformação, porque o que a gente tem visto nos últimos dias é absolutamente assustador e tem dominado a eleição. Tem dominado a campanha”, afirma. Nos últimos dias o Tribunal Superior Eleitoral tem adotado novas regras para dar mais agilidade no combate aos conteúdos de desinformação e da retirada de fake news das plataformas de distribuição.  

“Eu acho que a blindagem ou a força tarefa deveria ter sido feita há seis meses, não há duas semanas do segundo turno. As decisões que foram tomadas nos últimos dias… Você pode dizer que está certo, que está errado e isso é um outro debate. Mas entrar nisso só agora me parece até mesmo um reconhecimento de que a desinformação está vencendo", acrescenta o jornalista, que participou de um ato de defesa da democracia promovido no último sábado, em Paris, por um coletivo de entidades e ONGs preocupadas com os resultados das eleições no Brasil.  

 

Diplomacia brasileira e a agenda ultraconservadora

 

Antes da manifestação, o jornalista falou em entrevista à RFI Brasil sobre a imagem do país no cenário mundial. Para Jamil, que há duas décadas acompanha de perto a movimentação diplomática na sede das Nações Unidos em Genebra, o Brasil não desapareceu da cena internacional, mas assumiu, a partir do governo Bolsonaro, um outro papel. Antes focada na defesa dos interesses nacionais e usando sua influência para mudar regras em organismos como a Organização Mundial do Comércio e a Organização Mundial de Saúde, a diplomacia brasileira tem buscado um protagonismo na agenda ultraconservadora mundial.

“Quando chega o governo Bolsonaro, há um enorme primeiro susto internacional, principalmente nessas diplomacias. Por quê? Porque o governo brasileiro usou de uma forma muito habilidosa essa estrutura que o Itamaraty tinha montado nas últimas décadas, para justamente agora se colocar como uma plataforma, não na defesa do interesse nacional, mas da defesa de um grupo específico, que seria a extrema direita. Então, o Brasil passa a usar os seus canais diplomáticos, não para defender os interesses nacionais brasileiros, mas para defender uma agenda internacional ultraconservadora. E esse é o grande susto”, relata Jamil.

A preocupação do jornalista e escritor com os rumos do país está também presente no livro “Ao Brasil, com amor”, da editora Autêntica, lançado em meio à efervescência política no país. A obra reúne uma troca de cartas de Jamil Chade com a jornalista Juliana Monteiro entre setembro de 2021, quando a Europa deixava para trás o momento mais crítico da pandemia, e julho de 2022, às vésperas do início da campanha eleitoral.

No “exercício do diálogo”, Jamil e Juliana trazem reflexões sobre assuntos diversos pautados pela atualidade, como pandemia, racismo, brasilidade e, claro, a situação política do Brasil.

“No começo, era aquele período da vacinação. Essa era a questão. Mas depois, se você pega o livro, ele vai percorrendo outros temas. E aí, no final, já chegando agora em 2022, não tinha como não falar de desinformação, democracia e como lidar com um fator que todos nós vivemos, que é como dizer para os nossos filhos que aquilo ali que a gente quer evitar, que é justamente o desmonte da democracia, um governo com algumas características claramente autoritárias, é apoiado inclusive por aqueles que nos amam. Como é que fica essa relação? Então, todos esses temas acabaram entrando”, conta.

Jamil Chade diz que a escolha do título é uma provocação e serve de contraponto ao clima que se instalou no país. “A gente coloca isso também numa fala muito recorrente no livro. A gente não vai vencer o ódio com mais ódio, não vai. Não vai dar certo. Ele vai ser desmontado pela indignação, pela não aceitação dessa normalidade de violência, de ódio que se estabeleceu. Quando a gente fala em amor, é um amor justamente como essa provocação. A gente poderia usar outra palavra no lugar do amor, de repente respeito ou convivialidade. O amor, obviamente, é para se contrapor ao ódio”, afirma.

18
Out21

Beato Salu, vítima da hipocrisia nacional

Talis Andrade

vender o estado paulo guedes por nani.jpeg

 

 

por Paulo Nogueira Batista Jr

O colunista, mesmo o quinzenal, se vê às voltas, de vez em quando, com o espectro da falta de assunto. Sobre o quê, meu Deus, escrever hoje? Indagamos, aflitos. Quase todos os assuntos parecem esgotados, exaustos e exauridos. E dos que sobram alguns parecem arriscados demais. 

No tempo do Nelson Rodrigues, e antes no do Eça de Queiroz, era muito diferente, leitor. Sempre havia, em Túnis, um Bei, obeso, obsceno e impopular. E o cronista tinha o recurso de arrasar o Bei, sem cerimônia. E era uma delícia desancá-lo, sem qualquer risco, na certeza prévia da total impunidade. O Bei morava longe, e ele e seus assessores eram completamente analfabetos na nossa querida língua portuguesa. 

Mas há solução para tudo. Temos aqui à mão o Paulo Guedes, o pitoresco ministro da Economia do nosso país. Verdade que não é gordo, nem propriamente obsceno, e fala português fluentemente (sem sotaque físico, só espiritual). Tem, entretanto, alguns pontos em comum com o Bei de Túnis – é impopular e obsceno (figurativamente, falando). A impopularidade decorre, por assim dizer, da indecência, das suas ideias e das suas políticas; e podemos, portanto, tratar esses dois aspectos de uma só vez. 

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Ultraliberalismo, um ponto fora da curva

Em pleno século 21, coube ao Brasil a infelicidade inesperada de ter no comando da sua economia um economista ultraliberal. Quem poderia prever? O brasileiro não era dado a extremismos. Os ultraliberais sempre foram raros entre nós. Os economistas brasileiros, tanto à esquerda como à direita, tendiam a certo ecletismo. Faziam as suas combinações e sincretismos, misturando meio a esmo liberalismo, keynesianismo e, às vezes, pitadas de socialismo. Segundo os nossos poucos ultraliberais, era por isso mesmo que a economia brasileira não decolava.

Eis que de repente aparece, triunfante, Paulo Guedes, um Chicago oldie, como ele mesmo se autoqualificou em momento de bom humor. Formado anos 1970 na Universidade de Chicago, Guedes é um doutrinário. Talvez deva dizer “era”, e já explico por quê. Na década de 1980, quando começou a tomar parte ativa e exaltada do debate público brasileiro, recebeu a alcunha de “Beato Salu”, personagem de novela da TV da época, um fanático que vagava pelas ruas anunciando o fim do mundo. Se não me falha a memória, foi o Belluzzo quem lhe pespegou o apelido certeiro.

Por incrível que pareça, antes de concentrar em suas mãos, todas as rédeas da política econômica, Guedes nunca tivera uma passagem pelo serviço público! Saíra da academia para o mercado financeiro. E, depois de décadas no mercado, seguiu impávido para Brasília. Direto da Faria Lima para o ministério mais complicado do planeta – com o agravante de que passou a deter mais poderes e responsabilidade do que os seus antecessores, uma vez que ao Ministério da Fazenda foram incorporados Planejamento, Indústria e Comércio e, inicialmente, Trabalho. Um superministro, portanto, sem experiência de setor público! Episódio digno dos capítulos mais descabelados do realismo fantástico latino-americano. 

Mas vamos deixar a sua trajetória profissional de lado e tratar, primeiro, do aspecto estritamente doutrinário. Nem sempre se percebe, fora dos meios acadêmicos, que o departamento econômico da Universidade de Chicago, pátria mãe do ultraliberalismo, é um ponto fora da curva em termos do establishment econômico internacional. Na maioria das principais universidades dos EUA, ensina-se uma versão da economia em que predomina, sim, o liberalismo, mas sem exclusão de elementos keynesianos. Em outras palavras, aceita-se alguma presença do Estado na economia para mitigar tendências que o mercado exibe quando deixado à própria sorte, especialmente instabilidade macroeconômica e concentração da renda. A defesa do Estado mínimo, a rigor, circunscreve-se a Chicago e algumas de suas subsidiárias acadêmicas.

O ultraliberalismo de Chicago, conhecido também como “fundamentalismo de mercado”, teve o seu auge em termos de influência na década de 1970, ainda na época de Milton Friedman, mas colheu derrotas sucessivas desde então. As primeiras e mais fragorosas, no início da década de 1980, na implementação do modelo de política monetária propugnado pelos monetaristas. Tendo fracassado justamente nesse assunto – moeda! – os monetaristas, ficaram um pouco desmoralizados e inseguros. Foram tantas as decepções que alguns dos seus mais destacados teóricos – Robert Lucas e Thomas Sargent, inclusive – se refugiaram na torre acadêmica de marfim, dando a entender, ou até dizendo, que a teoria nada tinha a dizer de seguro ou útil sobre a realidade da economia. Esse purismo contribuiu para que os economistas de Chicago tenham tido papel modesto no debate público sobre economia nas décadas recentes. Desfecho irônico para uma escola que se consagrara com o ativismo prático de um Milton Friedman.

Brasil na contramão das tendências internacionais

No plano da política econômica e em organismos internacionais como o FMI, passaram a desempenhar mais influência, nas décadas recentes, escolas como as de Harvard e do MIT– que pregam um liberalismo não tão puro e que aceitam alguma presença do Estado, embora concedendo centralidade à ação dos agentes privados e ao funcionamento dos mercados. O chamado Consenso de Washington e a agenda neoliberal que dominaram desde a década de 1980 até a primeira década do século atual, estão muito mais próximos desse liberalismo mitigado do que do ultraliberalismo ensinado em Chicago.

Ironicamente, nos últimos anos, o liberalismo econômico mitigado de Harvard e MIT também entrou em crise. Mais do que crise: sofreu uma sucessão de choques que praticamente o liquidaram. Já não é mais aceito nem nos EUA, seu país de origem. A derrocada começou em 2008, quando estourou a crise do Lehman, provocando o fim da crença na viabilidade de um sistema financeiro privado autorregulado e submetido apenas a controle e supervisão leves das autoridades públicas. Em paralelo, a concentração da renda e da riqueza, que resultou em grande parte, da aplicação da agenda neoliberal levou a uma crise da democracia, contribuindo para a eleição nos EUA e em outros países desenvolvidos de líderes autoritários como Donald Trump, sem qualquer compromisso com o liberalismo econômico e propensos à improvisação e ao pragmatismo selvagem. Em 2020, veio o choque da pandemia da Covid-19, uma dramática demonstração adicional de que as economias não podem prescindir de um Estado forte, atuante, com instrumentos variados, inclusive em termos de políticas industriais nacionais. Finalmente, em 2021, Joe Biden enterrou de vez o neoliberalismo, ao assumir com um programa econômico intervencionista e distributivista, de corte keynesiano e rooseveltiano. Se cruzar na rua com o neoliberalismo, Biden nem cumprimenta. 

Pois bem, justo neste contexto, é que chega a Brasília o nosso Beato Salu. O timing não poderia ser pior. Com ele, o Brasil colocou-se na contramão das tendências econômicas internacionais, adotando como superministro da Economia um economista que professava o ultraliberalismo bem no momento em que até mesmo o liberalismo econômico eclético e mitigado batia em constrangedora retirada mundo afora! Passamos à condição de curiosidade de museu. Em Washington, os economistas do FMI – até do FMI! – olhavam para cá, levantavam os braços para o céu e clamavam: “Como pode! Como pode!”.

A que descaminhos foi conduzida nossa querida nação! Mas doutrina não é tudo, leitor, nunca e jamais. O pensamento do nosso Beato Salu foi imediatamente submetido ao efeito corrosivo da realidade política e social. E quando a doutrina se choca com a realidade (alguma dúvida?), a primeira soçobra rapidamente. 

Para além disso, há um problema fundamental, já destacado por diversos estudiosos da história e do pensamento econômico: o ultraliberalismo é incompatível com a democracia. Os seus exageros, os seus radicalismos não se coadunam com liberdade, eleições periódicas, divisão de poderes. O liberalismo econômico, levado ao extremo, corrói o liberalismo político. Só sobrevive com a destruição da democracia. Não é por acaso que o ultraliberalismo de Friedman e Chicago praticamente só teve sobrevida no Chile de Pinochet! É suprimindo os condicionantes e direitos democráticos, que se torna possível desencadear o liberalismo econômico puro e duro. 

Releio o parágrafo anterior. Carrega um certo tom de “teoria política” incompatível, a rigor, com o estilo da crônica. Paciência. Vai assim mesmo. Mas há, na verdade, um conflito mais simples, mais pedestre entre a figura folclórica do ministro da Economia e o sistema político nacional. Como se sabe, este último é dominado, hoje como nunca, pelo famoso “Centrão”, aquele vasto conjunto político sem ideologia, sem doutrina e até sem ideias. Quando viram o Beato Salu, os políticos do “Centrão” não acreditaram. De que planeta teria saído esse ministro? De que zoológico fugiu? Indagaram, perplexos. Mas passada a surpresa inicial, domesticaram o novato, como seria de prever.   

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Descaminhos do ultraliberalismo no Brasil 

Assim, o ministro Guedes guarda atualmente relação apenas remota com o ideólogo que chegou a Brasília em 2019. Acomodou-se descaradamente às circunstâncias do governo, do seu chefe e do Parlamento. Para desespero de alguns membros menos realistas da turma da bufunfa, pouco sobrou da agenda liberal. O que se tem atualmente é uma caricatura, e bem grotesca. Por exemplo, privatização virou pirataria pura e simples, ou seja, tentativas de comprar ativos públicos na bacia das almas. Reforma administrativa virou uma oportunidade de retirar direitos básicos dos servidores e abrir espaço para a transferência de responsabilidades públicas para a esfera privada. Reforma tributária virou ocasião para arrancar concessões fiscais e proteger privilégios inconfessáveis, inclusive as brechas da legislação que permitem evadir tributos em paraísos fiscais. 

Chego assim ao tema que mais tem mobilizado os críticos impiedosos do ministro da Economia – os chamados Pandora Papers, com a descoberta, por jornalistas investigativos estrangeiros, de que Guedes faz parte de uma lista de figurões que mantêm vultosas aplicações offshore nas Ilhas Virgens no Caribe.  

Longe de mim pretender esgotar o tema, nesta coluna. Vamos aguardar as explicações que o ministro dará ao Congresso e à opinião pública. Salta aos olhos, porém, a injustiça de algumas críticas. Convenhamos, o chamado planejamento tributário (nome sofisticado para a evasão fiscal dos super-ricos) é generalizado. Os super-ricos não sonegam. Sonegação é coisa de pobre, é coisa no máximo para a classe média remediada. Os super-ricos contratam especialistas, advogados, contadores etc., para explorar as brechas da legislação e escapar incólumes à tributação. E, se por acaso, a Receita Federal tenta fechar algumas dessas brechas, inclusive os paraísos, aí estão os lobbies para retirar esses dispositivos de projetos de lei. 

Foi exatamente o que aconteceu há não muito tempo. A Receita tentou fazer algumas correções, fechar algumas brechas, meio de contrabando, na reforma do Imposto de Renda. As propostas passaram pelo crivo desatento do Ministro e da sua assessoria, mas foram derrubadas no Congresso. Com a concordância, segundo se noticiou, do próprio Guedes. 

Conflito de interesse? Vamos largar de ser puristas e hipócritas! Por que exigir que Guedes seja luminosa exceção? Afinal, como esperar que ele não recorra a paraísos fiscais e outros mecanismos que permitem escapar da opressiva tributação – a opressiva tributação que todo liberal que se preza detesta desde criancinha? 

Atire a primeira pedra, aí da Faria Lima, quem nunca teve alguns míseros milhões estacionados num paraíso fiscal!

Uma versão resumida deste artigo foi publicada na revista “Carta Capital” em 15 de outubro de 2021.

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