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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

26
Mai22

Fantasmas não existem, mas...

Talis Andrade

www.brasil247.com -

 

Aqui no Brasil vivemos a síndrome do fantasma assustador quando pensamos no Bolsonaro e suas frequentes ameaças de golpe

 

por Miguel Paiva

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Meu analista sempre dizia que o que mete medo na gente são os fantasmas, seres assustadores, criados pela nossa imaginação, mas que, na realidade, não existem. Os fatos reais são diferentes, estão aí, concretos e podem assustar ou não, mas estamos vendo, presenciando, medindo forças com eles. Os fantasmas costumam ficar, quando somos pessoas sadias, guardados numa sala escura, ali no fundo corredor. Podem até passar anos por lá, mas a sala vai sempre existir e podemos, a qualquer momento abrir a porta e deixar os fantasmas saírem. O processo analítico na realidade é isso, nos manter afastados da porta o maior tempo possível.

Aqui no Brasil vivemos a síndrome do fantasma assustador quando pensamos no Bolsonaro e suas frequentes ameaças de golpe. Não sei o que é pior, acreditar ou não no golpe. Mas uma certeza eu tenho, o que nos mete medo é o fantasma do golpe e não o golpe em si. Analisando à luz dos fatos, da História e da realidade local o golpe seria um fato concreto logo descartado porque ninguém, nem os militares, têm motivos fortes o suficiente para encarar essa roubada diante do mundo e da opinião pública. Um país falido, com sangue democrático nas veias e que apesar da cota de extrema direita estar presente, um país de tradição republicana.

Agora, seria encarar um golpe sem o apoio da imprensa oficial, da classe média, da indústria e, acredito eu, boa parte das forças armadas. Este golpe já aconteceu em 2013 com o começo da deposição da Dilma e que, com cara de instituição, estabeleceu suas regras equivocadas que acabaram resultando no governo do inominável. Repetir o esquema seria prolongar esta agonia que agrada a muito pouca gente. Mesmo com parte do mercado que pode ter interesses Guedianos nas privatizações precipitadas e ganhos injustos na bolsa, a maioria acha melhor conviver com um governo democrático e certamente mais competente do que esse arremedo de ditadura militar sem pólvora.

Mas os fantasmas são poderosos e mesmo que você os mantenha trancados na sala escura alguém pode ir lá e abrir a porta. Eles voltam e com eles as lembranças que não foram totalmente soterradas da ditadura militar e que continuam a nos assombrar. As discussões que estamos tendo atualmente sobre a participação das forças armadas no processo eleitoral é parte disso. Quem começou essa discussão? Quem trouxe à tona este problema que nunca existiu? Ora, quem quer derrubar o sistema e a democracia. Quem? Quem?  Quem gerou esta crise ao ser eleito desconfiando da própria eleição que o elegeu? Quem? Quem? Quem demoniza a política e quer continuar sendo político? Quem desmoraliza os poderes do Estado, mas se refugia neles? Quem? Quem? Na resposta está a chave não só dos problemas, mas da porta que libera os fantasmas.

Deixemos eles lá e cuidemos da nossa democracia que deve viver muito mais de fatos reais e concretos, incluindo os problemas que são muitos, e não de temores imaginários que não resistem à uma boa análise.

Agora, atenção: cuidar da democracia é estar atento, não só aos improváveis golpes, mas aos tumultos, aos atentados, à violência que jogam no lado do terror. Eles podem atrapalhar os fatos e não são fantasmas. Mas é sempre melhor enfrentar a realidade do que sucumbir aos fantasmas.

 

19
Nov21

Peça francesa "Condor" expõe sequelas da ditadura brasileira

Talis Andrade
 
 A peça Condor, de Frédéric Vossier, dirigida por Anne Théron, interpretada por Frédéric Leidgens e Mireille Herbstmeyer, fica em cartaz até 28 de novembro no MC93 de Bobigny, na periferia de Paris.
A peça Condor, de Frédéric Vossier, dirigida por Anne Théron, interpretada por Frédéric Leidgens e Mireille Herbstmeyer, fica em cartaz até 28 de novembro no MC93 de Bobigny, na periferia de Paris. © Jean Louis Fernandez

A peça "Condor", em cartaz no teatro MC93 de Bobigny, na periferia de Paris, faz referência à operação criada em 1975 pelas ditaduras da América Latina para reprimir os opositores aos regimes militares. A campanha de repressão foi promovida por seis países, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil, mas no texto francês ela é simbolizada por um diálogo entre uma irmã e um irmão que escolheram campos opostos durante a ditadura brasileira.

"Condor", do francês Frédéric Vossier, é dirigida por Anne Théron. Em cena, apenas dois atores. Mireille Herbstmeyer interpreta Anna, a ex-revolucionária, torturada, que 40 anos depois procura o irmão, que ficou do lado dos militares. Paul, o torturador, é interpretado por Frédéric Leidgens. A peça é um confronto intenso entre quatro paredes que faz ressurgir, no espaço de uma noite, lembranças de uma juventude comum e de um traumatismo impossível de esquecer. Para a diretora Anne Théron, Condor fala da resiliência de uma mulher atormentada.

"O que me interessou foi o percurso de uma mulher, a pequena história na grande História. Desde a primeira vez que o li, disse que era um pesadelo psíquico e político. O que me interessou foi a complexidade, a tensão dessa história. Somos como ela, que pergunta o tempo todo para o irmão: mas quem é você? E ele responde sempre: por que você veio? O que me interessou também foi que eu pensava, como a maioria dos franceses, que a operação Condor era a Argentina e o Chile. E descobri que ela aconteceu também no Brasil, e eu ignorava. Foi um mergulho no horror", explica.

A peça "Condor" é interpretada por Mireille Herbstmeyer e Frédéric Leidgens.
A peça "Condor" é interpretada por Mireille Herbstmeyer e Frédéric Leidgens. © Jean Louis Fernandez

A história se passa no presente, mas mistura realidade, delírios e lembranças antigas. O texto é repleto de não-ditos. A trama se revela aos poucos, de maneira fragmentada, e um espectador pouco familiarizado com o desenrolar dos fatos na América Latina pode ficar um pouco perdido. Mas a montagem e direção de Anne Théron, que utiliza com perspicácia efeitos sonoros e de vídeo, recria a atmosfera opressora dessa "noite de horror". A diretora escolheu um cenário que simboliza a reclusão. O apartamento do irmão Paul é representado por um bunker semidestruído e enterrado na areia.

"Nada é exótico ou folclórico, mas fundamental. Isto é, a luta de uma mulher para superar um traumatismo. Um confronto sobre uma visão de mundo radicalmente diferente. Não acho que isso faça referência unicamente ao Brasil. Mesmo no texto da peça, a personagem diz Brasil, Brasil, mas poderia ser em outro lugar. É uma história de tortura, de duas visões de mundo que se enfrentam, e o que é mais violento é que isso acontece na mesma família", diz Anne Théron.

 
A diretora da peça "Condor", Anne Théron.
A diretora da peça "Condor", Anne Théron. © Adriana Brandão/RFI

Dilma Rousseff

A atriz Mireille Herbstmeyer relaciona a personagem de Anna com o percurso da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff: “Faço parte de uma geração que conheceu o fluxo de refugiados políticos latino-americanos na França. Sem conhecer os detalhes da história, vi vários documentários como a conferência de Dilma Rousseff sobre essa espécie de reconciliação. Pensei muito nela. Em um momento dado, ela para de falar, e sentimos que ela é imbuída por alguma coisa. Um instante de verdade magnifico.  Foi interessante ver o testemunho das vítimas e dos torturadores."

Na peça, o personagem do irmão Paul diz que não fez mal a ninguém, que só queria que o mundo fosse melhor. O ator Frédéric Leidgens faz um paralelo com a atitude de criminosos nazistas: “Li há pouco tempo uma biografia um pouco romanceada sobre a vida do nazista Mengele (o médico nazista Josef Mengele que morreu em São Paulo sem nunca ter sido capturado e julgado) na Argentina e no Brasil. Ele consegue escapar, é isso é atroz. É uma imagem bastante justa deste tipo de criminoso, como Paul, que no fundo não reconhece nunca seus atos. A confissão é impossível. Não é para desculpá-los, mas esse tipo de gente não poderia continuar vivendo se reconhecessem o que fizeram.”

Anne Théron (centro), com os atores Frédéric Leidgens e Mireille Herbstmeyer.
Anne Théron (centro), com os atores Frédéric Leidgens e Mireille Herbstmeyer. © Adriana Brandão/RFI

A história se repete

O tema da peça Condor, que fala da polarização da sociedade latino-americana de 40 anos atrás, volta com força a atualidade não só no Brasil, mas em vários outros países. Essa repetição da história impressiona a diretora Anne Théron:

"É assustador a que ponto a história se repete. Vou dizer uma coisa de uma grande banalidade: não aprendemos nada! Repetimos os mesmos erros. É impressionante quando me propuseram esta peça para dirigir, foi antes das eleições no Brasil e no momento que comecei a montagem Bolsonaro foi eleito. Não sei como explicar, foi como um pesadelo. Me disse: não é possível", lembra a diretora.

A peça Condor, de Frédéric Vossier, dirigida por Anne Théron, fica em cartaz até 28 de novembro no MC93 de Bobigny, na periferia de Paris.

 
23
Ago21

Xadrez da Tempestade Perfeita Contra Bolsonaro

Talis Andrade

 

por Luis Nassif /Jornal GGN


Forma-se a tempestade perfeita. E, desta vez, contra Bolsonaro. Aparentemente, o pesadelo bolsonarista entra na fase agônica. Em breve, será substituído por outros pesadelos, de um país que abdicou do senso civilizatório.

O jogo é simples de entender.

Em qualquer organização criminosa, a coesão depende da capacidade do chefe de se mostrar poderoso.  Quando começa a vacilar, ocorre o desembarque dos aliados de ocasião e, principalmente, daqueles envolvidos em ações criminosas.

Era essa a percepção de Bolsonaro, quando ampliou-se seu conflito com o Supremo Tribunal Federal (STF). Gradativamente, seus principais seguidores foram sendo engolfados por denúncias e ações judiciais – os irmãos Weintraub, Ricardo Salles, general Pazuello. A CPI do Covid acelerou o processo, denunciando os militares envolvidos na esbórnia da saúde.

Montou-se um cabo de guerra, tendo de um lado Alexandre de Morais, Ministro do STF, e de outro Bolsonaro. Entende-se por aí o desespero de Bolsonaro. Se ele não enfrentasse e vencesse a contenda, haveria a debandada de seu grupo.

No desespero, tentou de tudo. Apelou para as Forças Armadas, blefou o quanto pôde, fez paradas de motos, convocou seguidores para manifestações, valeu-se o quanto pôde do Gabinete do Ódio. Nada deteve a marcha do STF.

E aí revelaram-se dois Bolsonaros, o da realidade virtual e o do mundo real.

O da realidade virtual tem a assessoria profissional de Steve Bannon, no objetivo único de animar seguidores. 

O do mundo real é cercado de uma mediocridade ampla e irrestrita, de generais da reserva oportunistas, sem lastro intelectual e sem conhecimento político. 

Só um completo analfabeto político faria como o Ministro da Defesa, Braga Netto, de blefar na ameaça ao Congresso, e não ter mais nenhuma carta à mão quando Congresso e STF pagaram para ver.

Paralelamente, o governo Bolsonaro passou a ser totalmente desacreditado no front econômico. 

No início, Guedes se sustentou com sua conversa de vendedor de biotônico e sua disposição de entregar ao mercado os grandes negócios da privatização. 

Era uma maneira de disfarçar sua gritante anomia em relação aos problemas reais da economia.

Gradativamente, as magias de Bolsonaro e Guedes foram cansando por falta de inovação. 

Sempre a mesma coisa, Bolsonaro criando eventos para chocar e Guedes manipulando conclusões econômicas falsas. O avanço inexorável da realidade esvaziou ambos os discursos.

Agora se tem a derrota plena de Bolsonaro nas seguintes frentes:

  • perdeu a batalha para o STF, depois de uma tentativa desastrada de tentar individualizar os alvos – Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Conseguiu a unanimidade do Supremo em defesa dos seus.
  • O blefe do impeachment de ambos os Ministros. Teve que voltar atrás na forma mais atabalhoada possível: em uma mesma live, dizendo-se aberto para rever a ambos e, ao mesmo tempo, reiterando as críticas. Um bufão!
  • O blefe da intervenção militar, claramente exposto pelo cantor Sérgio Reis. Bolsonaro só conseguiria mobilizar as Forças Armadas no bojo de grandes movimentações populares em defesa do golpe. Não conseguiu uma coisa nem outra. Já Sérgio Reis conseguiu um processo do qual não irá se livrar facilmente.
  • O blefe da ameaça de Braga Netto ao Congresso. Teve que aceitar uma convocação para uma audiência na qual ouviu de um deputado da oposição – Paulo Teixeira, do PT – que, se não acatasse a Constituição, seria preso.
  • A total desarticulação de Paulo Guedes com a reforma tributária, e tentando se equilibrar entre o auxílio-emergência – essencial para a recondução de Bolsonaro – e a Lei do Teto.
  • As declarações do presidente do Senado, que desceu do muro para atacar as ameaças às eleições.
  • O cerco implacável ao Procurador Geral da República Augusto Aras, obrigando-o a atuar com firmeza na denúncia dos quadros bolsonaristas que ameaçavam manifestações no dia 7 de Setembro.
  • Derretimento gradativo de sua popularidade.

Agora, o primarismo de Bolsonaro, que o habilita no máximo a jogos de porrinha, terá que enfrentar um xadrez complexo.

Se avançar mais, será impichado.

Se não avançar, perderá sua base.

Não tem a menor condição de propor um pacto nacional, por não ter dimensão política, nem credibilidade.

O pior é que, para ele, não há empate. Sendo apeado do poder, será julgado, condenado e amargará prisão por seus crimes. Não apenas ele como todos seus filhos.

Ele não tem nem dimensão política para negociar uma lei da anistia, igual àquela que preservou da Justiça militares sanguinários, que voltaram ao poder com ele.

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19
Ago21

Charges críticas de Gilmar despertam a esperança em um futuro melhor

Talis Andrade

Gilmar Machado no Twitter
 
Quase 85 milhões de pessoas no Brasil convivem, no mínimo, com a incerteza sobre o acesso a comida.Image
Carne, gasolina, luz... Tem muita gente assustada com os preços de itens básicos, que seguem crescendo. Enquanto isso, o presidente genocida segue em campanha eleitoral achando que vai se reeleger.
 
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Alexandre Garcia e Augusto Nunes. Não é burrice ou transtorno mental, é preço e cumplicidade.
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Val Gomes entrevista Gilmar Machado

O cartunista/chargista Gilmar Machado Barbosa acredita na força da arte, aliada à comunicação social, para fazer com que os leitores reflitam mais sobre a realidade e exerçam sua cidadania em busca dos direitos e da liberdade. Nesta entrevista à Rádio Peão Brasil, Gilmar fala também da necessidade de organização da categoria e da valorização dos cartuns e charges. “Não é hobby, é um trabalho que precisa ser respeitado e bem remunerado”.

 

Val Gomes Rádio Peão Brasil – O cenário atual para a classe trabalhadora e o movimento sindical é difícil e desafiador. Você busca em teus trabalhos refletir sobre este momento de que forma: com mais humor ou mais crítica?

Gilmar Machado – Certamente com menos humor. Se alguém rir com minhas charges recentes ficarei com um grande ponto de exclamação na cabeça. A situação é crítica, vivemos momentos de retrocesso e incertezas. Já fiz humor pelo humor. Hoje, diante da situação em que o País vive, faço charges críticas e reflexivas, retratando não só a dureza dos fatos, mas também um respiro de esperança. É o que estamos precisando no momento.

 

RPB – As entidades sindicais representativas e atuantes investem em departamentos de imprensa sindical, na produção de jornais, boletins, páginas na Internet e redes sociais. Nestes materiais, as charges, as ilustrações e os cartuns costumam tornar a leitura mais agradável. Por que este fenômeno ocorre? O que torna um desenho forte, expressivo e chamativo?

Gilmar – A charge, ilustração e a tirinha são muito objetivas e diretas pela forma gráfica. Faz uma ponte até o texto. Muitas vezes a charge por si só já passa a informação e, além disto, provoca o leitor a refletir e se indignar. É uma poderosa ferramenta de comunicação entre o Sindicato e trabalhador. O dirigente que tem esta visão e usa este trabalho certamente tem uma melhor comunicação com a sua base.

 

RPB – Além dos ataques aos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários da classe trabalhadora, há no País uma “onda” conservadora contrária aos avanços da democracia e à liberdade, inclusive artística. São realmente preocupantes estes sinais de autoritarismo e intolerância? O que devemos fazer para impedir os retrocessos?

Gilmar – Há uma artilharia pesada contra todos os avanços sociais e culturais. E as armas são estas mesmo: lutar, mobilizar e ir pra rua. Os movimentos sociais e culturais têm um papel fundamental nisto. Apesar de toda esta situação crítica, já não somos tão passivos, estamos aprendendo a ir pra rua e exigir o que nos é de direito.

 

RPB – Os chargistas e cartunistas são uma categoria unida e atuante ou precisam estar mais bem organizados?

Gilmar – É uma categoria que tem muita dificuldade de organização por conta da sua característica de trabalho muito isolada. Nosso trabalho é muito individual e solitário. Existem tentativas de organização como entidade, mas é muito frágil, sem sustentabilidade.

 

RPB – Quais as principais reivindicações de um chargista/cartunista no Brasil e em quais países a categoria está mais consolidada em direitos autorais e economicamente?

Gilmar – Eu vi muitos jornais e revistas morrerem, nossas principais fontes de trabalho. O mercado editorial impresso vive esta crise também por conta da metamorfose dos meios de comunicação. Estamos lutando para nos adequar e sobreviver às novas mídias virtuais e as reivindicações são as mesmas de sempre: reconhecimento profissional e remuneração decente. Muitos acham ainda que é um trabalho de hobby, que as imagens não têm direitos autorais, que aperta um botão e tá pronto, que porque está na Internet pode usar e alterar livremente, que apenas o crédito já é pagamento. Obviamente que na Europa, onde se tem uma valorização cultural muito maior, o trato com este tipo de profissional/artista é bem diferente.

 

RPB – Que trabalho atual teu você gostaria que os leitores vissem e por que ele é significativo?

Gilmar – Tenho explorado atualmente a figura da criança nas charges como forma de despertar a esperança e acreditarmos que um futuro melhor é possível.

Sobre Gilmar Machado

Gilmar Machado começou na imprensa sindical nos anos 1990 no Grande ABC, trabalhando nesta época para a maioria dos sindicatos. Depois migrou para a chamada “grande imprensa”, fazendo tiras diárias para o então Diário Popular. Faz charges e tiras para a Força Sindical e para o site Rádio Peão Brasil. Tem trabalhos publicados na Folha de S.Paulo, Diário de S.Paulo, Diário do Grande ABC, Jornal do Brasil, A Cidade, Tribuna de Vitória, Diário da Região, O Pasquim21, Jornal Vida Econômica de Portugal e Humor UOL e para as editoras FTD, Paulinas, Senac, Moderna, Abril e Globo.

É autor de livros de tiras/quadrinhos, entre eles: “Mistifório”, pela Editora Boitatá, com apoio cultural da Força Sindical e do Centro de Memória Sindical. Recebeu o prêmio HQ MIX de melhor cartunista brasileiro, e em 2006, conquistou o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

Acompanhe o trabalho do cartunista: Blog do Gilmar  Instagram Cartunista das Cavernas

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16
Mar21

‘Maior responsável pela tragédia da pandemia é Bolsonaro’, afirmam CNBB, governadores e entidades

Talis Andrade

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Encontro virtual teve a entrega de documento ‘O povo não pode pagar com a própria vida’, elaborado pela CNBB, OAB e outras instituições

Por Felipe Mascari, RBA

O negacionismo e a omissão de Jair Bolsonaro ante a pandemia, foram amplamente criticados nesta segunda-feira (15), em conferência organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O evento teve a participação de governadores, cientistas e entidades da sociedade civil. Para os participantes, em unanimidade, a tragédia causada pela covid-19, que já custou a vida de 278 mil brasileiros, tem o presidente da República como o maior responsável.

O encontro virtual teve como objetivo a entrega do documento “O povo não pode pagar com a própria vida” ao governador do Piauí e coordenador do Fórum Nacional dos Governadores, Wellington Dias (PT). A carta declara apoio aos esforços de governadores e prefeitos para garantir o cumprimento das medidas sanitárias de proteção, paralelamente à imunização rápida e consistente da população, neste que é o momento mais grave da crise causada pela pandemia.

A carta dos bispos afirma que “não há tempo a perder e negacionismo mata” e aponta o governo de Jair Bolsonaro como o “primeiro responsável” pela tragédia que assola o Brasil. “O vírus não será dissipado com obscurantismos, discursos raivosos ou frases ofensivas. Basta de insensatez e irresponsabilidade. Além de vacina já e para todos, o Brasil precisa urgentemente que o Ministério da Saúde cumpra o seu papel, sendo indutor eficaz das políticas de saúde em nível nacional, garantindo acesso rápido aos medicamentos e testes validados pela ciência, a rastreabilidade permanente do vírus e um mínimo de serenidade ao povo”, defende o texto.

Neste domingo (14), o Brasil bateu novo recorde na média móvel de mortes decorrentes da covid-19 dos últimos 7 dias, com 1.831 óbitos diários em média. Em pleno domingo, foram oficialmente notificadas mais 1.138 mortes pela doença, o que totalizou 278.327 óbitos, desde o início do surto, em março de 2020.

Incompetência de Bolsonaro

Durante o encontro, governadores e representantes de entidades civis fizeram duras críticas a Bolsonaro. O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, lembrou que a sociedade está “exausta, empobrecida e vive realidade aviltante”.

Ele ainda citou a provável saída do ministro da Saúde Eduardo Pazuello, divulgada pela imprensa, desde ontem, e a recusa do convite por parte da cardiologista Ludhmila Hajjar para assumir a pasta, nesta segunda-feira. “O pior ministro da Saúde da história do país, no governo mais incompetente da história do Brasil, não será substituído por uma médica. Pois nenhum médico em sã consciência comprará a agenda política do governo. Bolsonaro trabalha para ver o Brasil pegar fogo e ver romper os limites da institucionalidade. Precisamos estar prontos para defender a democracia. A covid-19 mata, mas a irresponsabilidade na condução da pandemia, por parte de Jair Bolsonaro, mata também a nossa democracia”, alertou o presidente da OAB.

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Governadores unidos

Os chefes estaduais de governo endossaram a culpa de Bolsonaro na ascensão da pandemia de covid no país e o colapso no sistema de saúde. Wellington Dias lembra que todos os estados enfrentam fila de UTI para atender as vítimas do vírus, o que comprova a necessidade de o Brasil aderir ao isolamento social, através de uma coordenação nacional.

“Precisamos criar um movimento nacional para que os protocolos de proteção sejam cumpridos. Não adianta fazer o trabalho nos estados e municípios sem o apoio do governo federal”, disse o governador do Piauí. Ele listou algumas das medidas necessárias. “Precisamos de apoio para a área da saúde. O governo federal apresentou, em 2021, um orçamento com R$ 43 bilhões a menos que o ano passado. Destaco ainda o apoio às medidas sociais, como o auxílio emergencial. Ele ajudará a deixar as pessoas em casa. É preciso fechar bares e comércios, mas dar suporte às pessoas para que fiquem casa”, acrescentou.

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Pauta única

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou que os verdadeiros defensores da economia e dos empregos, são os chefes de Estado que defendem a vida e a saúde. “Criar uma dualidade sobre as pautas é uma ideologia falaciosa, afastando o Brasil do rumo correto”, disse.

A carta das entidades, na avaliação de Dino, é um convite para um novo caminho a ser adotado pelos governos estaduais. “O problema do Brasil não está no ministro, vai além disso. Acreditar nisso é cair na armadilha do maior responsável pelo caos do Brasil. Precisamos endossar o humanismo, criar laços humanitários, porque é assim que se responde ao fascismo e sua política do ódio”, finalizou.

Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte, e Camilo Santana, governador do Ceará, ambos do PT, também atrelaram a tragédia da pandemia ao desprezo de Bolsonaro pela ciência. “Quando nós, governadores e prefeitos, adotamos medidas de restrição, fazemos pela absoluta necessidade e são avalizadas pela ciência”, explicou a governadora potiguar.

Entidade civil mobilizada

A carta da CNBB teve o apoio do presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Jonas Donizetti. Em sua participação no evento, ele afirmou que a entidade endossa as medidas de restrição e o aumento de investimento público para garantir renda e dinheiro para quem gera emprego.

Já o presidente da Comissão Arns, José Carlos Dias, lembrou que o isolamento social é o único caminho para o Brasil reduzir seus números de casos. Ele alertou ainda para a lentidão na vacinação da população: apenas 9,7 milhões de pessoas já receberam a primeira dose de vacina contra a covid-19, ou seja, 4,5% da população. “Precisamos estar sensibilizados e nos unir por mais vacinas. Temos estrutura para vacinação em massa, o processo se arrasta com uma lentidão inaceitável. A inoperância e negacionismo matam e o governo federal é conivente com a tragédia nos abate, que se omitiu na compra das vacinas e propalou risco para quem se imunizasse”, criticou.

Ciências e imprensa

O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, lembrou que, desde o começo da pandemia especialistas em saúde e ciência pedem medidas para salvar vidas. No entanto, tiveram seu clamor negado por Bolsonaro. “O governo não fez nada e continua a propagar opiniões negacionistas, oferecendo kit de cloroquina aos infectados, mesmo que ineficazes.O nosso manifesto é político e humanitário para lutar contra a insensatez que está causando muitas mortes no país. Devemos esperar até chegar a 300 mil mortos? Quantos aviões isso representa por dia?”, questionou.

Por fim, o jornalista Juca Kfouri, que representou a ABI, disse que a salvação para o país é o impeachment de Bolsonaro. “A ABI defende o auxílio emergencial pelo tempo que for necessário e somos a favor do impeachment de Jair Bolsonaro. Conclamamos os governadores a pressionarem suas bancadas no Congresso Nacional. Maior do que a covid-19 é a pandemia chamada Jair Bolsonaro que assola o país.”

Assinam o documento:

A carta endereçada aos governos estaduais, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF) é assinada, além da CNBB, pela:

  • Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
  • Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns;
  • Academia Brasileira de Ciências (ABC);
  • Associação Brasileira de Imprensa (ABI);
  • e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
31
Mar20

Os jornais são sempre mais pudicos do que qualquer obscena fantasia

Talis Andrade

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Por Maíra Vasconcelos/ GGN

E hoje, ao ler os jornais, percebi que a ficção está muito longe de qualquer palavra informativa e muito próxima de todas as realidades

 

Hoje, ao ler os jornais, percebi, mais uma vez, a impossibilidade de se fazer qualquer leitura das realidades e dos fatos sem o uso da ficção. Meu Deus. Como seria raso o entendimento do mundo sem a fantasia, seria tudo tão resumido como não é a própria vida. Quem diz e aponta o inconfessável da humanidade? Ora, apenas a ficção de qualquer arte. Mundo vive milésima pandemia e continua sem entender o valor da vida, diria uma não-notícia.

Afinal, diante de um comportamento aberrante, os jornais estão restritos a nada mais do que interrogar as autoridades públicas. Presidente, o senhor não se preocupa com as mortes, perguntariam os jornais. Enquanto a fantasia escreveria uma novela inteirinha para destrinchar o que simplesmente chamaria de horror. No Brasil, vírus já matou 159 pessoas, sendo 22 em um só dia, e mais de 4.500 estão infectadas.

E os jornais, mais uma vez, apenas escutariam o presidente: sabe qual é o problema? é você achar que ninguém irá morrer, quando todo dia morre alguém no mundo, e essas mortes ajudam no controle populacional, motivam a economia; não se pode pensar que toda morte é ruim, disse o presidente. Isso que a fantasia jamais escutaria sem transformar e evidenciar sua face humanamente monstruosa. Afinal, o desumano é muito humano, diria outra não-notícia.

E hoje, ao ler os jornais, percebi que a ficção está muito longe de qualquer palavra informativa e muito próxima de todas as realidades. Assim como tão longe e tão perto está das páginas de qualquer jornal o horror daquela face da guerra, de Salvador Dali. Ora, a pregação da morte não é uma irrealidade. Mas onde já viu uma pintura de Dali ser manchete de jornal, como se descrevesse a cara de um presidente? Afinal, jornais são sempre mais pudicos do que qualquer obscena fantasia.

31
Mar20

Coronavírus: Bolsonaro só acredita na ‘ciência’ quando o resultado lhe interessa

Talis Andrade
Manifestantes pró-governo descumprem a ordem do governador Hélder Barbalho e promovem carreata em Belém no dia 28/03. Polícia foi acionada para impedir a carreata e manifestantes foram conduzidos para a delegacia.

Manifestantes pró-governo descumprem a ordem do governador Hélder Barbalho e promovem carreata em Belém no sábado, 28 de março. Polícia foi acionada para impedir a carreata e manifestantes foram conduzidos para a delegacia. Foto: Filipe Bispo/Fotoarena/Folhapress

 
 
 
 
 
 

EM UMA AULA de antropologia da saúde que ministrei há uns anos, para falar sobre a importância de conhecimento popular na adesão a tratamentos médicos, eu contava um caso de Joyce, uma menina de periferia que não acreditava na eficácia da pílula. Para ela, era impossível que um remédio tão pequenininho fosse dar conta da quantidade de esperma ou do tamanho do pênis do namorado. Ela acreditava no que seus olhos conseguiam enxergar e a conta não fechava.

Quando ouviu a história, Roberto, um ex-aluno de uma universidade de elite, caiu na gargalhada, chamando Joyce de ignorante. Ele usava uma linguagem humilhante ao se referir aos pobres. Uma década depois, com base nas postagens que ele reproduz no Facebook, é fácil concluir que ele é fascinado por um presidente que acredita que vidro blindado não passa um “resfriadinho”, que nada acontece com pessoas que mergulham no esgoto ou que não há floresta na Europa – uma sobrevoada provaria isso.

Em ambos os casos, existe uma relação com a ciência que é imediata aos olhos. A grande diferença entre Joyce e Roberto é o fato que a primeira logo mudou de opinião depois de rodas de conversas com uma equipe do SUS. Roberto seguiu em carreata, demonstrando que, mesmo com toda a educação formal que teve, continua sendo um ignorante que só acredita no que vê, no que quer ver e, principalmente, nos interesses econômicos de sua família abastada.

As duas histórias são tão estereotipadas que parecem fanfic. Mas não são. A própria realidade se tornou caricata nos últimos tempos. Acompanhando Roberto nas redes sociais nestes últimos dias, tenho refletido no que leva pessoas estudadas das melhores escolas a ignorar consensos da ciência para validar sua própria crença. Para além do inegável interesse econômico de muitos, há também uma questão de dogma, de fé e de desejo – como recentemente disse o antropólogo Orlando Calheiros.

Tenho especulado se essa relação dogmática com a auto-verdade não estaria ligada à questão da masculinidade e ao poder patriarcal. Me parece que estamos sendo governados pelos tiozões do churrasco que, enquanto “explicam o mundo”, a família toda escuta. Me parece que estamos no mundo em que homens querem impor suas verdades egoicas. Afinal, quando a ciência fala, é justamente essa certa autoridade baseada na tradição que se sente ameaçada. (Continua

 

28
Fev20

de Eduardo de Paula Barreto

Talis Andrade

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GRADES DERRETIDAS

As máscaras dos hipócritas
Tornaram-se transparentes
E as candidaturas mitológicas
Mostraram-se incompetentes
Para lidar com a realidade
De um País que na verdade
Precisa de gente capaz
Para fortalecer a Democracia
E garantir a soberania
Sem comprometer a paz.


O Brasil já foi pujante
E respeitado em todo o Globo
Quando o seu governante
Era um homem do povo
Que teve como prioridade
Reduzir as desigualdades
E promover a inclusão
Desagradando as elites
Que nunca admitem
Que se reparta o pão.


Diante do fracasso dos golpistas
E de tantas amarguras
Muitos se tornaram saudosistas
E pediram o retorno de Lula
Que por ter certa a vitória
Sofreu a ação predatória
Que o fez prisioneiro
Para impedi-lo de voltar
À presidência e aumentar
A autoestima dos brasileiros.

 

Quanto maior a perseguição
Maior é a resiliência
Daquele que traz no coração
O apreço pela resistência
Que fortalece o destemido
Que vê em cada inimigo
Uma fonte de motivação
Para transformar as agruras
Em espada e armadura
Para cumprir sua missão.

 

O calor da indignação
E a chama da verdade
Derreteram as grades da prisão
Que foi fruto da arbitrariedade
De pessoas sem caráter
Que instalaram tais grades
Fundadas na injustiça
Pensando que assim
Decretariam o fim
Do espírito estadista.


A verdade venceu a mentira
O bem venceu o mal
E a lealdade venceu a perfídia
Que fingiu ser justiça imparcial
Agora para o Brasil ser feliz
O cidadão honorário de Paris
Deixará a injusta clausura
Para recolocar o País nos eixos
E o primeiro passo para tal feito
Será o seu nome nas urnas.

 

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