Vejas vídeos: Renato Freitas é notificado sobre o processo da supremacia branca corrupta que pede sua cassação
Assembleia racista do Paraná tem até 20 de dezembro para encerrar processo contra o negro Renato. Na terra da Liga da Justiça a excentricidade de um jurista negro. Na terra dos colonos brancos da direita volver o escândalo de um deputado negro defensor dos direitos humanos
O deputado Renato Freitas (PT) foi notificado nesta segunda-feira (30) sobre a representação disciplinar movida contra ele pelo presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o branco rei Ademar Traiano (PSD). Esta foi a decisão do presidente do Conselho de Ética, o deputado branco Delegado Jacovós, que odeia o nome português de José Aparecido, coordenou o trabalho da comissão nesta tarde. O deputado do PT foi denunciado por Traiano (PSD), por tê-lo chamado de corrupto na sessão do plenário do dia 9 de outubro. A reação de Freitas veio depois que Traiano cortou a palavra do deputado na tribuna.
O deputado Matheus Vermelho (PSD), nomeado relator na última reunião do conselho, disse que este caso possui os “requisitos mínimos de admissibilidade” e também “indícios materiais” que podem comprovar a quebra de decoro parlamentar. Por esta razão, o relator pediu ao presidente do Conselho de notificar Freitas para que possa apresentar a sua defesa.
Para Traiano, Renato um negro sujo porque abriga moradores famintos, moradores de rua, desempregados, crianças abandonadasdes, pessoas em situação de risco.
Por ser membro do Conselho de Ética, Freitas foi substituído pela deputada Ana Julia (PT). Na sessão desta segunda, a deputada corrigiu a data inicial do processo: parte do conselho queria que o prazo de 60 dias para os trabalhos começasse a contar a partir desta semana, mas Ana Julia fez valer a data certa, de quando o caso chegou ao Conselho de Ética. Ou seja: os 60 dias para conclusão dos trabalhos – o que inclui a possível votação de cassação em plenário – se encerrarão em 20 de dezembro.
O Conselho tem a faculdade de propor penas alternativas, como a advertência, a suspensão temporária do direito de fala ou suspensão do mandato por 60 dias.
Traiano nunca foi condenado, mas investigações esbarraram várias vezes em seu nome
Lava Jato, Quadro Negro e mais: veja quando o presidente da Assembleia, chamado de “corrupto” em plenário, foi mencionado em casos de desvio de verbas
Por Mattia Fossati
“Está registrado aqui, vossa excelência me chama de corrupto.” Essa foi a resposta do Presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano (PSD), diante de uma provocação do deputado Renato Freitas (PT) no começo deste mês. Freitas repetiu várias vezes a palavra “corrupto” em direção ao Presidente da Assembleia depois de ter tido a palavra cassada em plenário no dia 9. A disputa rendeu a Renato Freitas mais um processo de cassação no Conselho de Ética, por calúnia.
Traiano de fato não tem nenhuma condenação criminal por corrupção – e essa é a base para a alegação de calúnia. Ao longo dos últimos anos, porém, e especialmente durante os mandatos que teve como líder do governo Beto Richa (PSDB) e como presidente da Assembleia, Trai ano foi diversas vezes citado em investigações ligadas a escândalos de corrupção, como a Lava Jato e a Quadro-Negro.
No caso mais conhecido, Traiano foi investigado por um suposto esquema de rachadinha e contratação de funcionários fantasmas, que acabou sendo arquivado pelo Ministério Público do Paraná em fevereiro de 2023. De acordo com a Procuradoria Geral de Justiça (PGJ), não havia indícios suficientes para apresentar uma denúncia contra Traiano.
Naquele caso, o atual Presidente da Assembleia Legislativa foi investigado por conta da delação de uma funcionária da Assembleia que afirmou de ter recebido uma parte do salário de um comissionado supostamente indicado pelo Traiano. O dinheiro teria sido repassado ao deputado e a esta servidora enquanto o comissionado teria ficado com um salário mais baixo do que o previsto no contrato. O Ministério Público afirmou que o conteúdo da delação não tinha consistência.
Já em agosto de 2018, o Ministerio Publico havia pedido a instauração de um inquérito contra Ademar Traiano em relação aos desdobramentos da Operação Quadro Negro, uma investigação que apurava um desvio de R$ 20 milhões da construção e reformas de escolas publicas no Paraná durante o governo de Beto Richa. De acordo com a delação de Eduardo Lopes de Souza, dono da Construtora Valor que foi envolvida neste caso, o atual Presidente da Assembleia teria recebido parte desse dinheiro. Em particular, Eduardo Lopes contou aos procuradores sobre uma reunião ocorrida “quarenta dias antes das eleições” na casa do então governador Richa, durante a qual foi estabelecido que parte do dinheiro desviado da Secretaria da Educação teria sido destinado à campanha de reeleição de Traiano.
O atual Presidente da Assembleia Legislativa negou ter pedido ou recebido dinheiro ilícito. “São ilações, nunca me reuni com Eduardo Lopes mas conheci ele na Assembleia Legislativa”, disse Traiano durante uma entrevista concedida em 2018. Procurado pelo Plural sobre o andamento desse inquérito, o MP não havia se manifestado até a publicação da reportagem.
O nome de Ademar Traiano também foi citado nos autos da operação Lava Jato. Numa denúncia apresentada em dezembro de 2019, os procuradores da força-tarefa do Ministério Público Federal descobriram que o grupo Petrópolis estava usando algumas de suas empresas para repassar dinheiro da empreiteira Odebrecht a vários políticos por meio de fictícias doações eleitorais. No total, foram registrados 321 pagamentos por parte deste grupo a políticos de vários estados, inclusive paranaenses. Um dos nomes mencionados era o de Ademar Traiano, que em 2010 teria recebido R$ 100 mil da empresa Cervejaria Petrópolis para sua campanha eleitoral.
Em 2017, Ademar Traiano também foi mencionado em uma planilha da Odebrecht sob o apelido de “Praia”, de acordo com a qual ele teria recebido diretamente R$ 50 mil em caixa 2 em 2010. Para a RPC, a assessoria de Ademar Traino negou que o Presidente da Assembleia tenha se beneficiado de dinheiro ilegal. Apesar da suspeita de um possível financiamento ilícito por parte de Odebrecht, a força-tarefa da Lava Jato não abriu uma investigação sobre o atual presidente da Assembleia Legislativa.