Lula cantou a pedra sobre Padre Kelmon na véspera, e foi prudente
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por Johanns Eller e Julia Noia /Extra
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Candidato à Presidência pelo PTB, Padre Kelmon estreia em debates presidenciais neste sábado e chama atenção com trajes característicos da matriz ortodoxa da Igreja Católica e defesa enfática do movimento pró-vida. O candidato, ainda desconhecido por muitos na véspera das eleições, foi alçado a cabeça de chapa depois que a candidatura de Roberto Jefferson (PTB) foi indeferida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O baiano Kelmon Luís da Silva Souza, de 45 anos, se diz ortodoxo, mas nunca foi sacerdote das igrejas da comunhão ortodoxa no Brasil, como revelou a coluna de Malu Gaspar. Ainda assim, ele celebra missas e batismos na Bahia e ganhou notoriedade em grupos conservadores graças ao discurso bélico contra a esquerda.
A despeito de suas frágeis credenciais, já foi recebido pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, o cardeal Dom Orani Tempesta, participou de convocações para os atos golpistas do 7 de setembro no ano passado na condição de religioso e até recebeu um desagravo da deputada Carla Zambelli (PL-SP) nas redes sociais.
A batina, marca registrada do autointitulado sacerdote em eventos públicos, foi a vestimenta escolhida para a foto que vai aparecer nas unas no próximo dia 2. Ele também se diz admirador dos falecidos políticos Levy Fidélix e Enéas Carneiro, usa seu canal no YouTube para denunciar a “islamização” e a “perseguição” a cristãos no Brasil e já foi filiado ao PT.
Apesar de não atuar em nenhuma igreja ortodoxa no país, Kelmon fundou e coordena o Movimento Cristão Conservador Latino-Americano e esteve à frente do Movimento Cristão Conservador do PTB — ele se licenciou pouco antes de figurar como postulante ao Palácio do Planalto. O cargo hoje é ocupado pelo seu candidato a vice-presidente, o Pastor Gamonal, também do PTB.
Kelmon declara ter patrimônio de R$ 8.547,13, investidos em caderneta de poupança, e sua candidatura recebeu apenas uma doação nominal de R$ 5 mil, de seu vice. Além da doação, o autointitulado sacerdote tem acesso a R$ 1,54 milhão de Fundo Especial para a campanha
por Gustavo Krause
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Neste espaço, dia 24 janeiro de 2021, publiquei artigo intitulado O pesadelo. Tema: livro Guerra Pela Eternidade (Ed. Unicamp, 2020). Destaquei a análise do autor Benjamim Teitelbaum sobre o Tradicionalismo, fonte de inspiração ideológica dos populismos de extrema-direita como ameaça real às democracias liberais do ocidente.
Persistente, o autor ouviu três ideólogos do Tradicionalismo: o americano Steve Bannon, o brasileiro Olavo de Carvalho e o russo Aleksandr Dugin a partir da obra do patriarca René Guénon (1886-1951) e Julius Evola (1898-1974).
Descontadas divergências pontuais, todos exerceram real influência sobre governantes de três grandes países: EUA, Trump; Brasil, Bolsonaro; Rússia, Putin, cada qual com estilos e estratégias distintas.
Bannon ajudou a eleger Trump; indicou secretários de Estado em áreas estratégicas. (O conflito com a filha e o genro do Presidente causou uma demissão humilhante). Fortaleceu a direita americana com o legado do trumpismo; teve decisiva participação no resultado do Brexit: segue dando conselhos a peso de ouro.
O autor aproximou-se do ideólogo de Bolsonaro, Olavo de Carvalho a quem definia como um Tradicionalista heterodoxo. Língua solta e agressiva gerou frequentes atritos. Indicou Velez Rodriguez e Ernesto Araújo, genuíno tradicionalista, em áreas estratégicas para uma frustrada revolução cultural.
Dugin é o intelectual de maior densidade e ativista/guerreiro presente na brutalidade do conflito entre a Ossétia do Sul e a Geórgia. Rebelde e ousado, se movia no espaços de poder, lembrando Gregori Rasputin. Não tinha relacionamento oficial com o governo Putin.
Expressava o ódio às democracias ocidentais, em especial aos EUA, com a frase: “Tudo que é antiliberal é bom”. No seu livro, Fundamentos da geopolítica, encoraja os russos “a introduzir a desordem na atividade interna americana”. O secularismo corrompido era o grande adversário espiritual da guerra pela eternidade.
O objetivo estratégico Tradicionalista é a destruição dos valores iluministas: estado-nação, secularismo, direitos humanos, ciência, feminismo, instituições, globalismo. A proposta se alicerça no tempo cíclico e na hierarquia: a Idade do ouro (sacerdotes), prata (guerreiros), bronze (mercadores), sombria (escravos). A motivação central: a espiritualidade. Eles veem caos na estrutura, ordem nas ruínas e o passado no futuro.
A regeneração do tempo como um fim em si mesma é violenta. Múltiplas causas estão por trás dos bombardeios. A ideologia é o gatilho. Em 2014, Dugin convocou, em entrevista, os ouvintes a “matar, matar e matar” os leais a Kiev. Sonha com a unipolaridade eurasiana.
O cleptocrata Putin, hoje, obedece a voz cruel que ordena os crimes de guerra.
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