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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

"Brasil está de volta à cena internacional", diz Lula na China em posse de Dilma no Banco do Brics

22
Set23

Yalorixá e líder quilombola assassinada na Bahia

Talis Andrade

Yalorixá e líder quilombola é assassinada na Bahia

 

Uma morte escondida pela TV Globo

 

Quem mandou matar Mãe Bernadete Pacífico?

 

por NPC 

Na noite do dia 17/08/23, a Yalorixá Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA), foi executada a tiros dentro do terreiro onde vivia. Mais um crime cometido em consequência de disputas fundiárias em torno de terras das comunidades tradicionais.

A pressão e as ameaças feitas por grupos ligados à especulação imobiliária não são algo novo na realidade daquela região. Em 2017, Flavio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, filho biológico de Mãe Bernadete, foi executado com dez tiros. Ao longo desses seis anos que se passaram, a Yalorixá seguiu firma na luta por justiça pelo assassinato do filho e pelos direitos dos quilombolas, e por isso se tornou alvo de ameaças.

Ainda em 2017, ela foi incluída no Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), mas não foi suficiente. Em junho de 2023, já quase sem proteção, Mãe Bernadete denunciou sua situação para a presidenta do Superior Tribunal Federal (STF), a ministra Carmem Lúcia. A partir daí, as ameaças se intensificaram.

Agora, pouco mais de dois meses depois da denúncia, essa mulher que dava corpo a tantas lutas, como pela demarcação das terras quilombolas e contra o racismo religioso, entre outras, foi assassinada.

De acordo com o relatório Conflitos no Campo Brasil 2022, publicado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Bahia é o terceiro estado do país onde, nos últimos anos, foram registrados os maiores índices de conflitos por terra no campo, ficando atrás apenas de Maranhão e Pará. Com relação a ameaças de morte e agressões, os números mostram que, entre 2021 e 2022, houve um aumento de 175% no número de pessoas agredidas e 170% nas ameaças de morte no estado.

Há anos a comunidade do Quilombo Pitanga dos Palmares luta pela regularização fundiária de suas terras. Apesar de terem tido o direito reconhecido em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID, o processo tramita lentamente e ainda não foi concluído pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O resultado disso é que as 289 famílias que ali vivem, aproximadamente, seguem vulneráveis e expostas à pressão da especulação imobiliária, direta ou indiretamente, e correm riscos não apenas de serem expulsas do território, mas também risco de vida.  

Diante de um crime tão brutal, diversas entidades e lutadores se manifestaram em repúdio ao crime. Que possamos nos unir para, de maneira coletiva, fortalecer a luta pelos direitos humanos, pelos direitos das comunidades e povos tradicionais e contra o machismo, racismo e intolerância religiosa.

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04
Set23

Número de mortos da chacina no Guarujá do governo Tarcísio de Freitas sobe para 27

Talis Andrade

São Paulo de Tarcísio

 

Sanha assassina teve início após a morte do policial Patrick Bastos Reis, das Rondas Ostensivas da Polícia Militar de São Paulo em 27 de julho

 

Agência Brasil - O total de mortos durante da chacina no Guarujá chegou a 27, nesta segunda-feira (4). A operação foi anunciada oficialmente como uma estratégia de desmantelamento de redes do narcotráfico, mas tem recebido críticas, por gerar suspeitas de que se trata de retaliação a comunidades periféricas da Baixada Santista.

A chacina, que a PM passou a chamar de Operação Escudo, teve início após a morte do policial Patrick Bastos Reis, das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), da Polícia Militar, em 27 de julho. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) tem reiterado que as mortes ocorreram como resultado de confrontos entre as vítimas e agentes das forças policiais.

O clima de desconfiança quanto à conduta dos policiais militares chegou ao Ministério Público de São Paulo, que instaurou um inquérito civil na tutela dos direitos humanos, para verificar se há ilegalidade ou não na operação.

As dúvidas extrapolaram o estado e motivaram o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) a elaborar um relatório, a partir de denúncias que recebeu de violações de direitos que teriam sido cometidas. O teor do documento foi antecipado pela Agência Brasil e divulgado na última sexta-feira (1º), em evento na sede paulista da Defensoria Pública da União (DPU).

A reportagem soube de um grupo de jovens que, logo após deixar o evento na DPU, foi abordado por policiais militares, e recebeu ameaças por participar da audiência e, por conseguinte, questionar a atuação da corporação na Operação Escudo. A Agência Brasil questionou a Secretaria da Segurança Pública sobre o ocorrido e aguarda retorno.


Moradores, familiares de mortos e associações dizem que operação policial, em Guarujá (SP), foi 'chacina' — Foto: Diego Bertozzi/TV Tribuna

Moradores, familiares de mortos e associações dizem que operação policial, em Guarujá (SP), foi 'chacina' — Foto: Diego Bertozzi/TV Tribuna

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26
Ago23

O recado do governador da Flórida a brasileiros: 'Não tem direito de vir para cá'

Talis Andrade
 

XENOFOBIA NAZISTA

 


O governador da Flórida, o ultraconservador Ron de Santis, em agosto de 2023 em Iowa, nos EUA — Foto: Charlie Neibergall/ AP

O governador da Flórida, o ultraconservador Ron de Santis, em agosto de 2023 em Iowa, nos EUA — Foto: Charlie Neibergall/ AP

Mistura de Bolsonaro com Trump. Pré-candidato à Casa Branca Ron DeSantis quer política linha-dura para a imigração

TOPO

por Sandra Cohen

O Globo

Em campanha para obter a indicação do Partido Republicano à Casa Branca, o governador Ron DeSantis, da Flórida, disparou a retórica contra o fluxo de imigrantes brasileiros nos EUA com o intuito de angariar o voto conservador de seus correligionários.

“Se você está no Brasil, você não tem o direito de vir para este país”, afirmou, em entrevista à emissora de rádio WGIR, de New Hampshire.

 

A declaração, em referência a brasileiros em geral, reforça a política linha-dura de imigração do governador, considerado o único com chances de desbancar o ex-presidente Donald Trump na indicação do partido às eleições do próximo ano. DeSantis juntou a Polônia e o Brasil no mesmo saco para dizer que seus cidadãos não são bem-vindos nos EUA.

 

“As pessoas vêm porque o povo americano acha que é do nosso interesse receber pessoas”, atestou.

Com isso, ele descarta, se eleito, conceder anistia aos que estão em situação irregular no país e defende um sistema parecido com o do Canadá ou da Austrália, que foca nas habilidades e nas qualificações do imigrante para recebê-los.

Para ser mais específico, DeSantis quer acabar com a possibilidade de estender a cidadania à família do imigrante: “Um cidadão americano deve trazer ou cônjuge ou filhos estrangeiros. Mas trazer esses primos, tios e tal não é o caminho. Vamos nos livrar disso e nos concentrar mais nas necessidades dos americanos.”

 

Os EUA abrigam a maior população imigrante brasileira do mundo, segundo o Instituto de Política da Migração, ao think tank americano mantido pelo Carnegie Endowment for International Peace.
 
 

Metade dos brasileiros se concentra em três estados: Flórida (22%), Massachusetts (17%) e Califórnia (11%).

O governador DeSantis vem implementando medidas repressivas para combater a entrada de pessoas no estado. Em junho passado, ele delineou propostas para uma abordagem mais severa em relação à população em situação irregular.

Isso inclui o envio de militares dos EUA para a fronteira sul e a detenção e deportação de quem não tiver documentos apropriados. DeSantis defende o fim da cidadania norte-americana automática aos nascidos no país e a construção de um muro na fronteira sul — ideias assimiladas de Trump, seu principal adversário no partido.

DeSantis pretende superá-lo com uma abordagem mais severa. Aliás, o slogan “Sem Desculpas”, de sua plataforma anti-imigração, é também um recado direto a Trump – o de que ele não conseguiu cumprir promessas e combater, em seu mandato, a imigração ilegal.

 

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23
Ago23

Por que é indispensável uma reforma militar no Brasil

Talis Andrade
 
Arte: Carlos Lopes/Viomundo

 

por Manuel Domingos Neto

VioMundo

 

Ainda menino, ouvi falar em reforma agrária. Na juventude, debati reforma universitária. Leio sobre reforma política, reforma do Estado, reforma do Judiciário, reforma tributária, mas desconheço propostas de reforma militar.

Nas últimas décadas, a Política, a Estratégia e o Livro Branco de Defesa foram revisadas sem alterações de relevo nas Forças Armadas.

Quando D. Pedro I foi embora, o Exército foi reorganizado, a Guarda Nacional foi criada.

As mudanças foram tão significativas que Adriana Barreto afirma que o Exército nasceu em 1831.

Ao longo do XIX, registraram-se alterações no ensino militar. Depois do banho de sangue no Paraguai, circularam propostas reformistas. No início da República, Benjamim Constant, quis transformar oficiais em pregadores da religião da humanidade.

A última grande reforma militar começou antes da Primeira Guerra Mundial, quando o barão do Rio Branco e o marechal Hermes enviaram oficiais do Exército para estagiar na Alemanha. Voltaram deslumbrados, reclamando-se “apóstolos do patriotismo e do civismo”.

As mudanças se aceleraram a partir de 1919, sob orientação francesa. O Exército foi transfigurado. A aviação militar impactou. Os orientandos dos franceses chegaram ao topo da hierarquia em 1928.

Desconheço a cronologia da modernização da Marinha. O fato é que, depois de gastar muito, o Brasil não se preparara para enfrentar Hitler.

Alguns creem que, depois da Segunda Guerra, com a influência estadunidense, a novidade foi a adoção da doutrina de segurança nacional, que priorizou o “inimigo interno”.

Mas desde a Independência, esse “inimigo” esteve na mira. A Constituição de D. Pedro I reconhecia sua existência e Caxias firmou nome silenciando brasileiros “facinorosos”.

Hoje, as mudanças no jeito de guerrear, a dinâmica social e o cuidado com a democracia impõem uma reforma militar. Neste mundo conturbado, o Brasil precisa ter como se defender.

A reforma militar é necessária porque há generais e soldados em demasia e mal distribuídos no território.

A concentração de tropas no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul é perdulária e sem sentido. Brasília está repleta de generais.

A reforma é premente porque a supremacia da Força Terrestre não bate com uma Defesa Nacional que dissuada estrangeiro hostil. Proteção de imenso território, vasto mar e espaço cibernético não é para rambos.

A reforma é indispensável porque academias militares concedem diplomas a quem não merece. O povo custeia a formação de quem não lhe respeita.

A reforma precisa ocorrer para que crianças não sejam submetidas à formação militar. Estamos no Brasil do século XXI, não na Macedônia ou na Esparta de priscas eras.

Em que contribui para a defesa do Brasil, crianças aprenderem posturas e valores do castro?

A reforma é necessária para que as fileiras não continuem defendendo o legado colonial em pleno século XXI.

A Constituição determina: “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Por que não há mulheres no topo da hierarquia?

A reforma tem que ocorrer para que a esposa do oficial possa ter profissão estável e inserção social. A intensa rotatividade nos postos radicaliza a dicotomia civil-militar.

A reforma é imperiosa para ensejar a ascensão hierárquica dos negros. Com negros em comandos, queria ver Bolsonaro e Mourão desqualificarem afrodescendentes!

Com indígenas nas cúpulas, o estrago na Amazônia poderia ser melhor contido. Nenhum bajulador de quartel reclamaria do cheiro dos índios.

A reforma é indispensável para acabar com a endogenia. A honrosa condição de guerreiro deve ser estendida a todos e todas, sem primazia para a descendência de oficiais. Jovens pobres precisam ter direito de chegar ao topo.

A reforma é fundamental para suprimir a obrigatoriedade do serviço militar e dar vez a formação de reservas adequadas.

A reforma é necessária para que o quartel respeite a esquerda.

O pluralismo político fundamenta a República. Diz a Carta: “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”.

O militar pisa na Carta e empobrece a troca de ideias quando repele a esquerda. Como é possível alijar peremptoriamente boa parte da sociedade por prevenção descabida?

A reforma é indispensável para que a coesão dos brasileiros seja a viga mestra da Defesa Nacional.

A Carta determina “a dignidade da pessoa humana”. Não há homossexuais assumidos nas Forças Armadas, onde manifestações homofóbicas são comezinhas. A reforma deve permitir que homossexuais saiam do armário sem medo.

Quando o militar denuncia a “crise moral” e o “esgarçamento do tecido social”, defende de soslaio valores retrógrados.

A Carta não faz do militar guardião da moralidade. A reforma deve eliminar o medo das mudanças comportamentais.

A reforma é necessária para incluir as corporações nos esforços de desenvolvimento socioeconômico. A experiência universal indica ser impossível o desenvolvimento à revelia de soldados e policiais.

A reforma ajudará a industrialização. As corporações têm que parar de dar lucro aos complexos industriais de potências que não querem o bem dos brasileiros. Os escritórios das Forças Armadas nos Estados Unidos e na Europa precisam ser fechados.

Há mais razões. Mas encerro dizendo que a reforma permitirá, quem sabe, a superação do distúrbio de personalidade funcional que o Estado impinge ao militar.

Este servidor público poderá, talvez, mirar no estrangeiro cobiçoso e livrar-se de tarefas que não deveriam lhe caber. Poderá perceber, enfim, que o Brasil não é uma dádiva do quartel.

(Trecho do livro As fileiras que merecemos, que reúne apontamentos para uma reforma militar no Brasil)

Leia também:

Jeferson Miola: Exército premia com cargos importantes oficiais envolvidos em atos ilegais

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13
Ago23

'Tiraram um pedaço da minha vida', diz pai de Eloá, morta aos 5 anos pela polícia de Cláudio Castro 

Talis Andrade
 
Pai de Heloá, Gilgres Santos, chora morte da filha de 5 anos, assassinada com um tiro no peito
Pai de Heloá, Gilgres Santos, chora morte da filha de 5 anos, assassinada com um tiro no peito  pela polícia assassina do RJ

 

O presidente Lula condenou a expressão "bala perdida" após a morte de uma criança e de um adolescente em ação policial no Morro do Dendê, no Rio de Janeiro (vídeo)

 

247 - O pai da pequena Eloá Passos, de apenas 5 anos, compartilhou palavras de profunda tristeza em relação à morte de sua filha, que foi atingida por um disparo no peito na Ilha do Governador, região norte do Rio de Janeiro. Gilgres Santos expressou que nada poderá amenizar a dor que sente e que enfrentará o desafio de seguir adiante para cuidar de suas outras filhas.

"Infelizmente, tenho que continuar minha jornada e continuar cuidando das minhas filhas que estão em casa, pois minha filha foi levada de nós. Tenho duas outras para criar, vocês entendem?", disse ele em entrevista ao programa RJTV2, da TV Globo. Com os olhos marejados, ele adicionou: "Não há palavras suficientes para expressar a dor que estou sentindo. A perda da minha filha, que já se foi, é devastadora. Arrancaram um pedaço da minha vida, foi a minha filha".

A mãe da menina compartilhou que Eloá era uma criança extremamente alegre e amada por todos, destacando sua personalidade contagiante: "Ela chegava em qualquer lugar e conquistava a todos com sua alegria. Era uma criança muito radiante e generosa." Claudia da Silva de Souza, mãe de Eloá, expressou que a justiça que busca é a divina, deixando nas mãos de Deus o processo de justiça e equilíbrio.

O avô da menina, Fernando Santana, reforçou que o triste incidente ocorreu sem qualquer confronto no momento e criticou a ação da polícia, alegando que disparos foram efetuados sem necessidade. Ele revelou que Eloá foi baleada em seu quarto, ao lado da mãe, logo após acordar.

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09
Ago23

Brasil fez uma revolução em 1930 para acabar com a Política 'Café com Leite' que Zema pretende ressuscitar 

Talis Andrade

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Zema quer ping-pong nas eleições presidenciais 

 

A Política do Café com Leite, como ficou conhecida popularmente a dominação paulista e mineira do governo federal, só terminou com a Revolução de 1930, que destruiu as instituições políticas da República Velha. Observe que o nome da política refere-se ao café, de São Paulo e o leite, de Minas Gerais. Isso Romeu Zema chama de 'novo' na política, o acordo que marcou a República Velha

Escreve Vitor Amorim de Angelo:

A política do café-com-leite foi um acordo firmado entre as oligarquias estaduais e o governo federal durante a República Velha para que os presidentes da República fossem escolhidos entre os políticos de São Paulo e Minas Gerais. Portanto, ora o presidente seria paulista, ora mineiro.

O nome desse acordo era uma alusão à economia de São Paulo e Minas, grandes produtores, respectivamente, de café e leite. Além disso, eram estados bastante populosos, fortes politicamente e berços de duas das principais legendas republicanas: o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro.

A política do café-com-leite só pode ser entendida quando analisada dentro do quadro político-econômico da Republica Velha. Afinal, a prerrogativa dos paulistas e mineiros para a escolha dos presidentes correspondia, de outro lado, aos benefícios garantidos pelo governo federal às oligarquias das demais províncias - não se chamavam estados, na época.

Em troca da autonomia local e da não interferência do governo federal nas questões provinciais, as elites estaduais garantiam o apoio das suas bancadas ao presidente da República. Essa era a essência de um outro acordo mais amplo que a política do café-com-leite e no qual esta se encaixava: a política dos governadores. Dentro desse contexto, São Paulo e Minas Gerais controlaram o processo sucessório nacional justamente em razão do seu peso econômico, demográfico e político.

Alternância no poder

Formalmente, a política do café-com-leite teve início em 1898, no governo do paulista Manuel Ferraz de Campos Salles, e encerrou-se em 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. Da Proclamação da República, em 1889, até o início do governo Campos Sales, o Brasil teve dois presidentes militares: os marechais Deodoro da Fonseca, que governou o país até 1891, e Floriano Peixoto, que ocupou a Presidência até 1894.

Naquele ano, 1894, foi eleito o primeiro presidente civil da história republicana brasileira - Prudente de Moraes. Herdando do antecessor uma grave crise política, provocada por divergências entre os governos federal e provincial em torno dos rumos da nascente República, Prudente de Moraes enfrentou ainda algumas tensões político-sociais, como a revolta em Canudos, na Bahia, e a Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul.

Com a derrota dos seguidores de Antônio Conselheiro e dos federalistas gaúchos, restou ao sucessor de Prudente de Moraes, Campos Salles, a tarefa de estabilizar a relação do poder central com as províncias. Seu governo conseguiu equacionar as divergências provocadas pelas estruturas de dominação locais, abrindo um novo momento político na história do país, denominado de República Oligárquica.

Durante os mais de 30 anos em que perdurou a política do café-com-leite, o Brasil elegeu 11 presidentes da República, sendo 6 paulistas - incluindo Prudente de Moraes e Campos Salles - e 3 mineiros. Dois vice-presidentes assumiram o posto do titular ao longo desse período: o fluminense Nilo Peçanha, no lugar de Afonso Pena, falecido em 1909; e o mineiro Delfim Moreira, substituindo o paulista Rodrigues Alves, morto em 1918, antes mesmo de tomar posse naquele que seria seu segundo mandato como presidente.

 

Cisões na política do café-com-leite

Embora, no geral, o acordo entre São Paulo e Minas Gerais visasse a ocupação da Presidência da República pelos dois estados, houve momentos de grande tensão na aliança paulista e mineira, levando à escolha de candidatos de outras regiões do país. Este foi o caso, por exemplo, do gaúcho Hermes da Fonseca e do paraibano Epitácio Pessoa.

Em 1909, diante de divergências entre políticos mineiros quanto à escolha do candidato à sucessão presidencial, Pinheiro Machado, expressiva liderança política do Rio Grande do Sul, lançou o nome de Hermes da Fonseca. No caso de Epitácio Pessoa, sua eleição, em 1919, para suceder Delfim Moreira, que se afastara do cargo, foi um desdobramento dos problemas causados pela Primeira Guerra Mundial na economia brasileira.

De qualquer forma, mesmo nos momentos de crise, a eleição presidencial contou com o apoio das províncias de São Paulo e Minas Gerais. Isso é, ainda que não elegessem um paulista ou mineiro, as duas províncias sempre participavam das articulações para a escolha do novo presidente. Por outro lado, as divergências que envolviam o processo sucessório demonstravam que outras províncias, de importância menor, também aspiravam ao poder central.

A evolução dessa crise política acabaria levando ao movimento de 1930, liderado pela oligarquia gaúcha - tendo à frente Vargas - com o apoio da Paraíba, a quem foi dado o cargo de vice na chapa de Getúlio, e Minas Gerais, que abandonara a aliança com São Paulo quando o paulista Washington Luís optou pela indicação do também paulista Júlio Prestes. Embora vitorioso, nem mesmo chegou a tomar posse, atropelado pela intensa movimentação política que culminaria na instalação de um governo provisório, em novembro de 1930.

Zema queima largada para 2026

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por Miguel do Rosário

Peixe morre pela boca, diz o ditado popular, que se encaixa perfeitamente nessa entrevista do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ao Estadão.

A chamada provocativa do jornal, acentuando a parte da entrevista em que o governador efetivamente aposta num confronto entre regiões, também não o ajudou muito.

Antes de analisar a entrevista em si, vale nos perguntarmos: por que cargas d’água o Estadão cometeu o que poderíamos apontar como a chamada mais infeliz do século?

Zema disse isso mesmo?

Sim, Zema realmente afirmou que entende o Cosud, o Consórcio de Integração Sul e Sudeste como uma frente contra o Nordeste, e falaremos disso mais adiante.

O lado curioso, quase engraçado, é que a estupidez de Zema parece ter tocado uma nota sensível no espírito profundamente provinciano do Estadão. Isso explica eles – os editores do jornal – terem aceitado essa manchete. Possivelmente pensaram que estariam ajudando o governador a se cacifar como um grande líder dessas regiões “esquecidas”, “abandonadas”, Sul e Sudeste.  Como se trata de uma entrevista importante, exclusiva, um conteúdo valioso para qualquer periódico, acho difícil que tenha sido um erro casual. Foi um erro muito bem ponderado, nascido de uma cultura de preconceito.

Agora, vamos à análise da entrevista, que nos ajudou muito a entender os projetos da direita brasileira para 2026, e deste personagem em particular, Romeu Zema.

Tiremos a limpo, em mais detalhes, essa história de confronto entre regiões. O que exatamente Zema disse? Reproduzo aqui os trechos em que ele menciona o assunto.

“Temos o Grupo do Cossud. Na verdade, ele já existia, mas nós formalizamos o Consórcio Sul, Sudeste, que reúne os 7 Estados das duas regiões. A cada 90 dias, nós nos encontramos para trabalharmos de forma conjunta. A última reunião foi em Belo Horizonte. Tem muita coisa que um Estado faz melhor que o outro. Também já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político. Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por Estado. Nós falamos, não senhor. Nós queremos proporcional à população. Por que sete Estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não. Pode ter o Conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente.

A reforma tributária e a representatividade no Senado. Sempre vamos estar em desvantagem – 27, num total de 81. Temos feito o mesmo trabalho com o senadores de nossos Estados e o que nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos – que é necessário, mas tem um limite – de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada. A reforma tributária, fizemos outro questionamento. Está sendo criado um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade…Tem, sim. Nós também precisamos de ações sociais. Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta?”

Acima está o trecho completo, para o leitor entender a contextualização. Agora separamos as frases mais emblemáticas:

“Também já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político.”

“(…) queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido de (…) só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada.”

“Está sendo criando um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza?”

“Nós também precisamos de ações sociais. Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta?”

São frases que nos obrigam a respirar fundo, de tão repugnantes e desonestas. Pra começar é mentira. Em todos esses anos, os estados que mais receberam recursos do governo federal, bolsa família, obras de infra-estrutura, sempre foram os estados do Sudeste. Em 2023, o estado que receberá, individualmente, mais recursos do Bolsa Família, é… São Paulo, exatamente R$ 1,71 bilhão. Em número de famílias contempladas, São Paulo (2,55 milhões) fica ligeiramente atrás da Bahia (2,56 milhões), porém fica à frente em recursos, porque no estado há mais crianças de zero a seis anos que recebem o benefício.

Se você examinar os benefícios fiscais federais concedidos a grandes empresários, novamente encontrá o Sudeste e Sul à frente.

Historicamente, os estados do Sul e Sudeste sempre receberam muito mais investimento federal em infra-estrutura do que o Nordeste.

A ignorância, ou cinismo, de Zema é abissal: o sul e sudeste sempre tiveram “protagonismo” político do Brasil, desde o início da republica até hoje. A maioria dos ministros do governo são do Sudeste. A maioria dos ministros do STF e STJ são do Sudeste. Já tivemos Vargas, do Rio Grande do Sul, a frente do governo de 1930 a 1945, e depois de 1950 a 1954. Tivemos o período conhecido como república do café com leite, em que lideranças de Minas e São Paulo se revezavam na presidência da república.

O que chama atenção, o que realmente nos causa revolta, é a maldade, o egoísmo, a absoluta falta de espírito nacional.

Uma das razões mais dramáticas pela qual o Nordeste tem enfrentado tantas dificuldades econômicas, ao longo dos últimos cem anos, foi a associação entre uma absurda concentração fundiária, especialmente nas áreas mais férteis e com melhor índice de chuvas, e o clima inóspito, devastado por secas terríveis e periódicas.

Zema se gaba de ter vindo da iniciativa privada. Ele fala isso como se fosse o único. Lula também veio da iniciativa privada, só que ele era torneio mecânico, enquanto Zema nasceu numa das famílias mais ricas do país, proprietária do grupo Zema, do qual tem 30% das ações. Seu patrimônio declarado ao TSE em 2022 foi de R$ 129 milhões.

Além do preconceito, egoísmo e desonestidade, as declarações de Zema também revelam um político inábil, para usar um termo delicado. Na verdade, esse é o lado bom da entrevista. Ela realça um lado do governador que possivelmente muita gente não conhecia. É óbvio que suas declarações não agradarão nem as lideranças nem o povo nordestino. Ou seja, elas agravam um problema da direita, sobretudo em se tratando do voto para presidente da república: a falta de voto no Nordeste. Tampouco me parece que declarações tão antipáticas ajudarão a ampliar o voto conservador do Sul e Sudeste, onde esse espírito “separatista” não é partilhado pela maioria.

Em termos práticos, Zema acaba, portanto, de prestar um grande serviço a Lula, e queimar sua própria largada para 2026.

O governador comete outro erro primário, como um zagueiro que resolve brincar com a bola perto da área de seu time, e acaba dando oportunidade para o atacante adversário fazer um gol. Ao tentar se vender como uma “liderança do Sudeste e do Sul”, em busca de mais investimentos federais, ele esquece que Lula tem tanto ou mais interesse que ele em agradar os eleitores dessas regiões.

Com seu pequeno cérebro provinciano, pensando apenas como “governador”, e não como uma liderança política com horizontes maiores, Zema também ignorou uma matemática básica, a de que o Sudeste foi a região que, em termos de quantidade, sempre deu mais votos a Lula. Em 2022, Lula teve 22,8 milhões de votos no Sudeste, no segundo turno, contra 22,5 milhões no Nordeste. Somando Sul e Sudeste, Lula teve quase 30 milhões de votos no segundo turno, contra 28 milhões de votos de Norte e Nordeste somados.

O berço político de Lula é o estado de São Paulo.

A primeira capital administrada pelo PT foi Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. E a capital onde o PT venceu mais vezes foi… São Paulo.

Os estados onde o PT tem mais deputados são… São Paulo, onde o partido elegeu 11 deputados, e Minas Gerais, onde elegeu 10.

Tem outros pontos da entrevista que merecem análise.

Um deles é a relação curiosa de Zema com Bolsonaro. Ele o critica pelo negacionismo na pandemia. A propósito, isso é um aspecto positivo do governador. Por mais reacionário e conservador que um político se revele, precisamos sempre elogiar quando se respeita a vida e a ciência.

No entanto, apesar da crítica ao negacionismo de Bolsonaro, que resultou em centenas de milhares de mortes a mais do que poderiam ter ocorrido, Romeu Zema dá nota 8 para seu governo… O que significa que, para Zema, os crimes de Bolsonaro parecem ser apenas um detalhe. Isso é muito revelador, por outro lado, da cultura política da nossa elite. Os escândalos de corrupção, reais, exagerados ou fantasiosos, nos governos do PT, afetam muito mais o seu voto do que o genocídio.

Outro ponto interessante é sua aposta na polarização ideológica. Zema está jogando todas as suas fichas nessa divisão, provavelmente pela leitura que faz da correlação de forças no congresso e na sociedade, especialmente nos setores dominantes. A estratégia de Zema está clara: ele quer o eleitor do Bolsonaro, que preza muito esses rótulos. Mas talvez o governador não enxergue dois efeitos colaterais desse tipo de radicalização retórica. O primeiro é cortar inteiramente o diálogo com setores progressistas. Repare que Lula procura sempre deixar claro sua disposição de estabelecer boas relações com qualquer pessoa, independente dessa dicotomia direita x esquerda. E não porque Lula seja supra-ideológico, mas porque ele faz uma conta matemática simples: a esquerda já está com ele, então ele precisa de apoio – parcial pelo menos – de quem está do outro lado. Talvez Zema entenda que, no caso da direita, por ser maioria no congresso, não precise agir da mesma forma. Mas esse é um erro crasso, que os extremistas, e isso vale também para a esquerda, sempre cometem e que invariavelmente os isolam.

A radicalização retórica reforça a dimensão dialética da política e corta para os dois lados. Ou seja, ao insistir nessa polarização terminológica, Zema acaba empurrando todo mundo que não concorda com ele para o outro lado, a esquerda. Quando uma liderança insiste em bater no peito para afirmar, em alto e bom som, que é de “direita”, ela faz uma  parte importante da sociedade, especialmente o campo popular, abrir os ouvidos para a existência de uma “esquerda”. Naturalmente, tudo vai depender, como o próprio Zema admite, do desempenho da economia brasileira. Como governador de um grande estado, todavia, Zema é obrigado, caso suas ambições políticas de alçar voos maiores sejam autênticas, a fazer uma administração que gere empregos e renda ao máximo possível de mineiros. Ao fazer isso, ele ajuda a economia nacional como um todo. E isso ajuda Lula. E se Lula é de esquerda, então ajuda a esquerda.

A política, especialmente num regime democrático tão competitivo como o nosso, é cheia de sutilezas, armadilhas, reviravoltas dialéticas e desdobramentos irônicos.

A Lava Jato, por exemplo, tentou destruir Lula, o PT e o sistema político como um tudo. O resultado foi um Lula mais forte do que nunca, um PT revigorado, e um sistema político muito mais consciente sobre os perigos de um judiciário descontrolado. A história está repleta de casos similares, e por razões que os darwinistas sérios conhecem bem: para que haja uma evolução biológica ou tecnológica, como o crescimento do cérebro ou a invenção de novas ferramentas, é preciso que exista um obstáculo ou desafio que produza a necessidade de mudança, de modo a assegurar a sobrevivência e a reprodução da espécie.

Sobre o judiciário, a propósito, isso será assunto para outro texto, mas adianto apenas uma ponderação final:  tenho fortes suspeitas de que, passado esse momento de depuração, em que o Supremo Tribunal Federal teve que reagir com muita força a um movimento fascista que tinha apoio militar, as relações entre os poderes emergirão mais cuidadosas e estáveis, por um bom tempo.

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01
Ago23

Para Nikolas Ferreira piada sobre nazismo, negros, holocausto é liberdade de expressão

Talis Andrade

nazista__emanuele_del_rosso.jpg

 

Internautas pediram a cassação do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) após o parlamentar defender piadas sobre negros ou nazismo. No Twitter, as críticas ao congressista chegaram ao trending topic (tópico em tendência), um dos assuntos mais comentados da rede social. 

O deputado federal André Janones (Avante-MG) afirmou que vai cobrar da Procuradoria-Geral da República (PGR) providências contra o parlamentar bolsonarista. 

“Qualquer apologia ao nazismo, ainda que disfarçada sob a manta do “direito de expressão”, deve ser punido com cassação de mandato, inelegibilidade e, a depender da gravidade do caso, com PRISÃO!”, afirmou Janones, que escreveu:

"A fala do Deputado Federal Nikolas Ferreira, onde ele defende indiretamente o nazismo e relativiza o holocausto, apenas confirma o que venho falando TODOS OS DIAS: o bolsonarismo precisa ser criminalizado URGENTEMENTE, exatamente como a Alemanha fez com o Nazismo".

Em entrevista ao podcast “Irmãos Dias”, Nikolas Ferreira disse que a liberdade de expressão assegura aos comediantes a possibilidade de fazer piadas relacionadas ao holocausto e envolvendo pessoas negras. Segundo o parlamentar, a regulação de discursos que possam promover ódio contra grupos sociais deve ser uma responsabilidade compartilhada pela própria sociedade.

“A liberdade de expressão é uma discussão muito mais profunda do que as pessoas acreditam. Você tem um autor que relata que existem judeus que não são contrários a uma tese que foi feita por um estudioso que colocou o holocausto como se fosse mentiroso. Se for parar para pensar, o holocausto aconteceu, nós vamos deixar gente falar que o holocausto não aconteceu e ficar influenciando pessoas? A própria comunidade judaica deu a liberdade para esse cara falar isso, porque? Segundo ele, a liberdade de expressão é plena em uma sociedade que se autorregula, não é censurando as coisas, deixando que as coisas aconteçam e que as pessoas consigam analisar que aquilo é um absurdo”, inicia o parlamentar.

 “Nos EUA, por exemplo, tem o partido nazista, não tem relevância nenhuma. As pessoas vão olhar e falar: ‘isso é ridículo, não vou fazer parte daquilo’, mas tem também o outro lado: toda a liberdade tem o seu limite, você não tem uma liberdade de expressão para poder chegar dentro de um hospital e fazer uma piada com uma pessoa com síndrome de down, porque ali não é o ambiente e nem o local para isso”, acrescentou o bolsonarista.

Os colunistas Alberto Bombig e José Roberto de Toledo debateram sobre os limites da liberdade de expressão para parlamentares ao repercutirem o caso do deputado Nikolas Ferreira.

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31
Jul23

Milhões de Bolsonaros

Talis Andrade

Ganhar milhões após dilapidar o patrimônio público e atentar contra a democracia são 'feitos' que mostrarão que o crime compensa

 

por Eduardo Guimarães

- - -

Você já se deu conta de que Bolsonaro roubou, matou, sonegou, enganou, humilhou, depredou, injuriou, caluniou, difamou e o resultado de tudo isso foi ele receber uma avalanche de dinheiro em sua conta? 

Se a Justiça não punir o ex-presidente Jair Bolsonaro, a democracia continuará em risco no Brasil. É o que afirmam os autores do recém-lançado "O Caminho da Autocracia – Estratégias Atuais de Erosão Democrática".

A obra é de autoria de Adriane Sanctis de Brito, Conrado Hübner Mendes, Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral, Marina Slhessarenko Barreto e foi publicada pela Editora Tinta-da-China Brasil.

Os autores do livro apontam práticas de Bolsonaro que configuram crimes comuns, sanitários e eleitorais. Argumentam que, se o ex-presidente não for responsabilizado, mesmo que não possa voltar em 2026 por estar inelegível, vai fazer escola na política brasileira. 

A obra faz comparação internacional entre Bolsonaro e casos de Índia, Hungria, Turquia e Polônia. "Ao jogar luz em padrões que têm ocorrido em outros países, este livro apresenta um panorama comparado para chamar a atenção para processos que afetaram a realidade política do Brasil", afirmam os autores.

Agora, essa situação de vulnerabilidade do país diante do populismo de extrema-direita ganha um contorno mais sombrio com a avalanche de dinheiro que inundou as contas de Bolsonaro com quase vinte milhões de reais, doados por um exército de quase 800 mil brasileiros. 

Todos sabemos que a maioria esmagadora da classe política só quer saber de se eleger, custe o que custar. Ao menos no Brasil. Assim, se é mediocridade, burrice, má-fé, desonestidade, truculência, machismo, homofobia, racismo etc. que o povo quer, não faltará político para atender a esse setor tão amplo e doentio da sociedade. 

Bolsonaro não só precisa ser punido, mas precisa ser punido rapidamente para que os selvagens da extrema-direita não engolfem o país com um tsunâmi fascista que, se vier, irá erodir rapidamente a nossa ainda frágil democracia. 

Ora, ganhar todos esses milhões de reais após dilapidar o patrimônio público, abusar do cargo de todas as formas, incitar crimes, atentar contra a democracia são "feitos" que mostrarão à classe política que o crime compensa. 

Então, reflitamos: quem vai querer governar pautado pelo interesse da população se contrariar tal interesse é tão compensador?

Pode ter certeza de que, se Bolsonaro não for punido, surgirão milhões e milhões de Bolsonaros nos quatro cantos desta pátria mãe tão distraída, que ainda não se percebe subtraída nessas tenebrosas transações

Jair Bolsonaro (PL) recebeu R$ 17,1 milhões em suas contas por meio de transferências bancárias realizadas por Pix entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho deste ano. A informação foi registrada em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que também apontou que esse valor foi movimentado através de 769 mil transações feitas para a conta do ex-presidente. No UOL News, o colunista Ricardo Kotscho comenta o assunto.

 

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22
Jul23

O labirinto do genocídio

Talis Andrade

nani bolsonaro coronavirus.jpg

 

Desarquivar o processo que investiga omissão de Bolsonaro na pandemia abre caminho para responsabilizá-lo pelas 700 mil mortes no período
 
 

por Luiz Marques

Su 21

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Uma ampliação conceitual, a segregação explícita defendida na insígnia de um ente federativo, a mortandade premeditada por um governante em meio à proliferação do vírus e o menoscabo pelas culturas nativas são evocações de um fenômeno histórico. Perante a quarta vitória presidencial consecutiva do PT, as classes dominantes geraram a herança que responde por duas pragas letais: Bolsonaro e o bolsonarismo. Essas pragas agravaram a maldição de várias faces, o “genocídio”.

 

Ampliação do conceito

 

O crime de genocídio consta na Resolução 96, de 1946, da Organização das Nações Unidas (ONU). Vinculava uma intencionalidade subjetiva a um ato objetivo. A iniciativa fazia eco do Holocausto judaico nas câmaras de gás nazistas, na II Guerra Mundial. No Brasil, dez anos depois, o delito foi tipificado na lei pela “intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. Ilustrava: “I) matar membros do grupo; II) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; III) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial”. Reafirmou-se o nexo de causalidade. 

Em 1977, porém, o prócer do movimento negro Abdias Nascimento envia um manifesto, intitulado Genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado, ao Festival Mundial de Artes e Culturas Negras Africanas (Festac 77), na cidade de Lagos/Nigéria, informa o Dicionário dos negacionismos no Brasil, organizado por José Szwako e José Luiz Ratton. Ampliava-se o conceito. 

No libelo, o intelectual orgânico acusa o Estado de apagar a formidável contribuição negra à nação em todas as dimensões e, em simultâneo, problematiza a intencionalidade expressa como critério para uma conceituação. Os atos falam, per se, sem a obrigatoriedade de uma finalidade estipulada pela vontade dos sujeitos. À violência, sentido amplo, agregou-se o genocídio de afrodescendentes.

Os humanos são seres linguísticos. As palavras emitidas impulsionam ações com potencial para agredir, ferir e matar, analisa Judith Butler, em Discurso de ódio: uma política do performativo. O feminicídio, a homofobia e o bullying dão provas cabais. O sistema inocula o racismo institucional (estrutural) na vida social e na linguagem. Justifica-se a contraofensiva da narrativa “politicamente correta” para expulsar do espaço público as expressões discriminatórias. Os cínicos debocham. 

 

Massacre de Porongos

 

Recentemente, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para dificultar a alteração no hino sul-riograndense de um trecho racista: “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Como se escravizados fossem pessoas sem qualidades morais e, portanto, merecessem vegetar no cativeiro. Em última instância, a culpa pela escravidão seria da vítima, não do algoz. O raciocínio é perverso; a decisão dos deputados, idem. Maneira nada sutil de bloquear o debate sobre um genocídio que teima em persistir, na contemporaneidade.

O argumento favorável à permanência da frase mistificadora do supremacismo branco recupera o pensamento sociológico autoritário, do início do século XX, o qual incubou a noção totalitária de “Estado integral” da Ação Integralista Brasileira (1932). “A tradição mostra que somos um só povo”, alegou o porta-voz da extrema direita. O raciocínio é tosco: o povo é uno, a nação é una, o Estado é uno. Partidos políticos, sindicatos, etnias por representarem apenas partes são descartáveis. “Nosso partido é o Brasil”. Não haveria motivo para mexer na lírica tradicionalista. Reatualizou-se o covarde massacre de Porongos, local onde os lanceiros negros foram dizimados na Revolução Farroupilha (1835-45), pelo acordo traiçoeiro feito entre a elite provincial e o governo central.

A incapacidade de defender a diversidade na unidade é inerente a regimes fechados. Representantes do PT, PSOL e PCdoB votaram contra a PEC que ergueu barreiras, para impedir a história de mudar a letra hínica. Puxados pelos novos fascistas, outros fizeram coro com a discriminação selvagem. A racialização infame foi endossada pelo Parlamento. Após o flagrante de trabalho análogo a escravo em grandes viniculturas, coube aos neocolonialistas enterrarem a memória dos ideais igualitários de Giba Giba e Sirmar Antunes. Abdias Nascimento, que dá nome a um viaduto na Capital gaúcha, recusaria a homenagem oficial confrontado com o punhal no coração do apelo por reconhecimento. 

Não espanta que o governador Eduardo Leite, do PSDB, apoie o retrocesso avalizado pela sua base parlamentar que, hélas!, encampa o PDT e o PSB. Corrobora também o cabide de emprego dos quadros reservistas das Forças Armadas, os colégios militares, cuja doutrinação para a disciplina e a obediência domestica a mão de obra com vistas à ocupação de postos de baixa qualificação, no mercado de trabalho; ao revés de investir em uma pedagogia da liberdade, criatividade e liderança dos jovens com a expectativa de alavancar melhores oportunidades laborais, no futuro. O tucano adula o neofascismo, na ilusão perigosa de pescar votos centristas no pântano da Casa Grande.

 

Dívida do negacionismo

 

A decisão do ministro da Suprema Corte, Gilmar Mendes, para desarquivar o processo que investiga a omissão ou incúria do ex-presidente na pandemia abre caminho a uma responsabilização penal pelas 700 mil vítimas, no período. O negacionismo tem uma conta amarga a pagar para as famílias enlutadas. Com efeito, metade dos óbitos eram evitáveis. Toca à Procuradoria-Geral da República (PGR) posicionar-se sobre a retomada, ou não, da questão. Antes, arquivada a pedido da mesma. 

O anátema de genocida, o inelegível já possui. Na categoria, inclui-se o deputado general Eduardo Pazuello (PL/RJ), o ex-ministro da Saúde que banalizou o mal (“um manda, outro obedece”). Só uma rigorosa punição à hierarquia na cadeia de comando trará paz para a alma dos sobreviventes. 

Responsáveis, de direito, adotaram a estratégia da imunidade de rebanho em vez dos imunizantes. Boicotaram o isolamento social em prol da economia. Atrasaram a compra das vacinas ao custo de milhares de vidas. Propagaram remédios não recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Prevaricaram ao ser informados das negociações de autoridades oficiais na compra de doses vacinais fora dos meios legais, com propinas bilionárias. Não bastasse, escarneceram em lives a dor e o sofrimento de pacientes com falta de ar para respirar. “Gripezinha”, “Chega de mimimi”, “País de maricas”, “Quer virar jacaré?”, “É o destino”, “Todos vão morrer”, “Não sou coveiro, taoquei?”

“Bolsonaro nunca foi democrata e o bolsonarismo, embora vago e difuso, caracteriza-se por uma doutrina racista, autoritária, excludente e pelo cultivo do ódio e da mentira como uma forma de mobilizar seus militantes”, escreve Francisco Carlos Teixeira da Silva, no artigo “Bolsonaro: três golpes de Estado e um genocídio”, em Brasil sob escombros: desafios do governo Lula para reconstruir o país. Não é a ausência de empatia que está em foco, senão a responsabilidade pelo extermínio dos que foram privados na doença pandêmica do tratamento adequado, e factível.

 

Julgar, condenar, punir

 

Teixeira da Silva acrescenta outra bestialidade ao currículo do falso messias: “Soma-se a urgente necessidade de intervenção em situações emergenciais, como o caso do genocídio da comunidade Yanomami”. O caso envolve o diretor da Funai, pastor pentecostal fundamentalista, e a ex-ministra da Mulher, da Família e Direitos Humanos, Damares Alves, que não subiu na goiabeira para ajudar os guardiões da floresta. Suspeita-se de desvio de recursos financeiros e medicamentos para ONGs, ligadas às igrejas evangélicas. As cifras estão sendo apuradas, têm o tamanho exato do pecado.

O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e o ex-vice presidente general ora senador, Hamilton Mourão (Republicanos/RS), são suspeitos de facilitar a invasão de garimpeiros em terras indígenas. Procedimentos de aniquilação dos ancestrais tiveram o beneplácito do tenente, et pour cause da aposentadoria compulsória aos 33 anos, capitão, graças à promoção não merecida. O terrorista planejou explodir bombas-relógio para pressionar o aumento de salários da corporação. O ditador Ernesto Geisel cogitou a sua expulsão. Ao fim, premiou-o. 

O genocídio (físico e simbólico) protagonizado pelo complô civil-militar viabilizou o horror contra a população étnica. Bolsonaro merece ser julgado, condenado e punido pelas perversões cometidas nos quatro anos de desgoverno a serviço da nobreza rastaquera, que não gosta do país nem do povo. A reconstrução das instituições sob viés da democracia exige que crimes de lesa-humanidade saiam do anonimato e sejam expostos junto aos canalhas, pegos com a boca na botija. Anistia zero, a eles.

Não obstante, a justiça situa-se dentro da cosmovisão liberal, focada em indivíduos atomizados ou em uma formação de quadrilha. Para elevar a percepção plebeia ao nível da crítica dialética há que se apontar o papel, na necropolítica, das classes dirigentes ainda incógnitas na opinião pública.

 

O povo versus as elites 

 

A passagem da consciência real à consciência possível não é mecânica, livresca, diletante. Implica em uma participação ativa nos movimentos sociais e nas disputas ideológicas com o valor-guia da solidariedade, em alternativa à competição que converte o homem lobo do homem (homo homini lupus), na selva do capitalismo. Mais: convoca para um engajamento nas “guerras de posição” que forjam o consenso até a saída do labirinto do genocídio. O fio de Ariadne é a práxis política. 

Dos partidos e entidades progressistas (centrais sindicais, comunitárias, estudantis) esperam-se manifestações, de rua, que interpelem a informalidade, motoristas e entregadores de aplicativos, operadores de telemarketing, vendedores de cosméticos, etc. É nas camadas atingidas e humilhadas pela superexploração capitalista, que se desenvolve a utopia ou a distopia. Hoje, a luta de classes estabelece um divisor entre o “povo” e as “elites”. Os fatos respaldam o maniqueísmo populista.

A extrema direita simplificou a luta de classes. “A reação conservadora busca uma transformação profunda dos termos do discurso político e a criação de uma nova ‘definição de realidade’ que, sob a capa da ‘liberdade individual’, legitimaria desigualdades e restauraria as relações hierárquicas que lutas (emancipadoras) de décadas anteriores tinham destruído”, conforme Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, em Hegemonia e estratégia socialista: por uma política radical. Os atores coletivos, agora, constituem-se pelo antagonismo. Embora questionável, é vero que o “centro político” evaporou. De resto, não foi um fator civilizacional, exceto no mito da modernização neoliberal que alargou a distância do topo à base da pirâmide social. Ver entrevista de Paulo Arantes, n’A Terra é Redonda.

Nas condições atuais, a revolução democrática não se projeta no consenso dialógico intersubjetivo. Lênio Streck acerta: “CPMI trata a tentativa de golpe de Estado como furto de supermercado”. É um erro naturalizar a gravidade do emaranhado que culminou no putsch fracassado. As próximas eleições nos Estados Unidos e no Brasil incidirão no desfecho da trama, que assombra o porvir com a crise climática, a crise democrática e a crise geopolítica. As mudanças ao alcance do governo Lula 3.0 servem de dique a uma dinâmica com empuxe internacional. Em nossa época, decide-se a sorte do mundo pela barbárie ou pelo socialismo. Como adverte o poema, de Thiago de Mello: “O tempo é de cuidados, companheiro. / É tempo sobretudo de vigília. / O inimigo está solto e se disfarça.”

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18
Jul23

Um deputado negro e a supremacia branca bolsonarista e a elite boçal do Paraná

Talis Andrade

Renato Freitas é mais uma vez vitima de perseguição política racista

“E conhecerão a verdade e a verdade os libertará”

Evangelho de João cap 8 versículo 32

 

por Jaison Xanchão e Gabriel Santos

- - -

Renato Freitas é um dos maiores nomes do processo de renovação e formação de novas lideranças políticas do Brasil. Militante do movimento negro e do Hip Hop, filiado ao PT, Renato foi eleito deputado estudal pelo Paraná com mais de 59 mil votos. Dono de um discurso potente, direto e de oratória única, Renato não tem medo de falar a verdade para a elite paranaense e seus representantes. Utiliza o parlamento para denunciar as injustiças sociais e raciais que atingem os negros e pobres de seu estado.

Renato rompe com a lógica da normalidade. Em um espaço que historicamente foi um lugar de representação branca e da elite do estado, eis que aparece um jovem negro, vindo da periferia, com seu cabelo Black e sua língua presa. Um jovem que incomoda. Antes na Assembleia Legislativa do Paraná, deputados estavam acostumados a verem os corpos negros em funções subalternos, normalmente nos postos de recepção, limpeza, ou segurança, fazendo parte das equipes terceirazadas. Agora não. Eles vêm, mas se recusam a enxergar, que um negro está lado a dele deles, na tribuna, inclusive discursando melhor, representando mais pessoas, e enfrentando-os, de igual por igual.

Numa casa de leis, onde o povo e as classes populares não se costumam fazer presente para criar essas leis, ou discuti-las, também se faz ausente a verdade. A mentira é uma legalidade, assim como os abusos de poderes das classes dominantes. Confrontar os mentirosos, falar a verdade, é confrontar os donos do poder.

Justamente por isso Renato sofre mais um processo disciplinar. Foi o terceiro desde que assumiu como vereador em Curitiba e teve seu mandato cassado duas vezes.

 

As perseguições políticas contra Renato Freitas mais uma vez escolhido pela polícia para ser revistado em aeroporto

 

“A movimentação contra o racismo é legítima, fundamenta-se no Evangelho e sempre encontrará o respaldo da Igreja. Percebe-se na militância do vereador o anseio por justiça em favor daqueles que historicamente sofrem discriminação em nosso país. A causa é nobre e merece respeito”

Arquidiocese de Curitiba

 

A perseguição política de cunho racista teve início no mandato de Renato Freitas na câmara de vereadores de Curitiba. Num processo no mínimo estranho ele foi acusado de invadir uma Igreja Católica durante um ato contra o racismo. A Igreja soltou nota colocando que a missa havia sido encerrada e que a ação de Renato foi legítima e teve permissão dos líderes religiosos presentes.

Apesar disso, o mandato de Renato foi cassado com 25 votos favoráveis e 5 contrários em 22 de junho do ano passado. Alguns dias depois, o TJ-PR (Tribunal de Justiça do Paraná) suspendeu a sessão em que ocorreu a cassação por entender que ela não cumpriu os prazos legais. Mas a perseguição contra Renato seguiu e ele foi outra vez cassado, com 23 votos a favor, 7 contra e 1 abstenção. A votação foi em agosto de 2022. Renato entrou com recurso na Justiça e obteve decisão favorável no STF (Supremo Tribunal Federal), recuperando o mandato de vereador. O ministro Roberto Barroso, relator do texto, citou na decisão o racismo estrutural da sociedade brasileira. “Na situação aqui examinada, e talvez não por acaso, o protesto pacífico em favor de vidas negras, feito pelo vereador reclamante dentro de igreja, motivou a primeira cassação de mandato na história da Câmara Municipal de Curitiba”. Antes disso, enfrentou outro processo disciplinar por fala em debate na Câmara em fevereiro de 2021, em que foi acusado pela Comissão de Ética de quebra de decoro e intolerância religiosa, dessa vez por supostamente atacar membros da bancada evangélica durante debate em que discutia o uso da ivermectina no tratamento da Covid. Um absurdo que deixa evidente desde o princípio o caráter do processo.

Na Assembleia, Renato vem sendo acusado de quebra de decoro parlamentar. Em um processo de perseguição política por parte da direita que domina a Assembleia do estado.

Ao ver discurso do deputado de extrema direita Ricardo Arruda, do PL, criminalizando o MST e recheado de fake news sobre as produções orgânicas do movimento, Renato chamou o deputado de mentiroso. A posição do presidente da Assembleia foi repreender Renato por falar a verdade e buscar desmentir uma fake news, enquanto nada fez com aquele que utilizou a tribuna para mentir e realizar discurso de ódio.

O provável é que o processo disciplinar contra Renato leve a uma advertência, com o objetivo de seguir num acúmulo de advertências para justificar uma futura cassação do mandato, em uma prática persecutória.

Uma perseguição com viés racista, que marca toda a trajetória política de Renato. Sendo inúmeras vezes chamado de funkeiro, como se isso o diminuísse, de maconheiro, incapaz e de bandido, Renato sofre com rotulações e imposições de estereótipos raciais comuns a pessoas negras. Seus colegas de parlamento, homens e mulheres eurodescentendes, não aceitam que um jovem negro acesso aquele espaço de Poder da forma e os confronte. Afirmam que ele precisa entender o que é um parlamento, e que esta casa não está de brincadeira. Coisas que Renato, assim como Abdias Nascimento, Benedita da Silva, Matheus Gomes e outras lideranças negras que foram eleitas e ocuparam cargos legislativos já entenderam antes mesmo de estar dentro desses espaços.

 

Renato é um de nós

“Apenas um rapaz latino americano apoiado por mais de 50 mil manos.

Um efeito colateral do que o sistema fez.

Racionais, capítulo 4, versículo 3″

Mano Brown

 

O parlamento brasileiro é parte da estrutura racista da sociedade e reproduz a lógica do racismo brasileiro, garantindo às elites brancas vantagens econômicas e sociais. Atuar dentro desses espaços é ser contra hegemônico, ser minoria e se colocar para desafiar a ordem colonial que reina em nosso país. O novo momento do protesto negro brasileiro afirma: nada de nós sem nós. A população negra brasileira desafia o mito da democracia racial e afirma que num país racista teremos voz e representações para elaborar políticas públicas para nossa gente.

Renato é um de nós, negros, trabalhadores, periféricos. E por ser um de nós ele não está sozinho. Já diria a letra dos Racionais Mc’s: “um rapaz Latina americano, apoiado por mais de 50 mil manos”. O movimento negro de todo Brasil está com Renato na luta contra a Casa Grande e os senhores de engenho.

No Rio Grande do Sul, no Paraná e por todo território nacional: não abaixaremos a cabeça, seguiremos firmes até a vitória

Renato Freitas é advogado, mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná - UFPR. Pesquisador na área de Direito Penal, Criminologia e Sociologia da Violência, ele já trabalhou na Defensoria Pública do Estado do Paraná e atuava como professor universitário e advogado popular antes de se eleger vereador pelo PT em Curitiba em 2020. Cassado por uma maioria racista na Câmara de Vereadores, é hoje deputado estadual no Paraná, eleito com 58 mil votos

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