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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

09
Ago20

Assembléia de Deus: Estamos fazendo o trabalho da polícia

Talis Andrade

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Abordagem dos falsos policiais na periferia do Distrito Federal: Comissão de Direitos Humanos da Câmara Distrital vê constrangimento a cidadãos e encaminhamento forçado a internação em comunidades terapêuticas.Fotos: Reprodução/Facebook

 

II - PASTORES FINGEM SER PMS PARA INTERNAR USUÁRIOS DE DROGAS À FORÇA EM BRASÍLIA

por Amanda Audi

- - -

O pastor Bezerra, comandante do “batalhão”, é ligado à Assembleia de Deus do Guará, uma das unidades administrativas do Distrito Federal. Ele afirma liderar um grupo de 103 membros, com cerca de 40 pessoas ativas que se revezam em escala de plantão, tal qual uma força policial. Segundo seu líder, a tropa contém fiéis de várias denominações evangélicas.

Bezerra me disse ter comprado três “viaturas” com dinheiro do próprio bolso após vender uma pizzaria. A quarta, afirmou, foi doada por um supermercado de Ceilândia, uma das localidades mais pobres do Distrito Federal. São veículos comumente encontrados na frota de PMs brasileiras: três peruas Blazer, da Chevrolet (também usadas pela Rota, de São Paulo), e um Siena, modelo médio da Fiat. O grupo ainda dispõe de quatro motocicletas. Os custos de manutenção e combustível, me garantiu o pastor, são feitos por doações de fiéis. Pedi que me apresentasse recibos, que ele disse não ter por se tratar de pagamentos informais.

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As viaturas do Batalhão da Patrulha da Paz compradas pelo pastor Gilmar Bezerra Campos: similares às usadas pela Rota, da PM de São Paulo.

 

O pastor-comandante diz ter adotado os paramentos militares para dar um “tratamento diferenciado” a suas pregações e levar “conforto, segurança e confiança” aos atendidos. Também admitiu já ter sido confundido com a polícia. “Mas agora todo mundo já conhece a patrulha”, despistou.

Não é o que parece ao se assistir a outro vídeo da patrulha, gravado em 19 de junho. Abordado, um homem idoso chora ao ser acordado por um dos pastores enquanto dormia na rua. “Quem vê farda vai correr, porque pensa que vai preso, mas não, nós viemos libertar a vida pro senhor”, diz o pastor fantasiado.

Noutra situação, um morador de rua abordado se recusa a ouvir as palavras dos pastores, dizendo já possuir a própria convicção religiosa. “Se tivesse tomado a decisão de servir a Deus, nunca teria ficado desamparado”, ele ouve, em seguida.

página do grupo no Facebook reúne várias abordagens semelhantes. “Nós estamos em parceria (sic) com o estado, estamos dando apoio naquilo que está tendo uma precisão (sic) muito grande”, me disse Bezerra. “Estamos tirando esses infratores da rua e fazendo o trabalho deles [policiais]”, confessou.

A Polícia Militar não parece se incomodar com o dublê que percorre o Distrito Federal de bíblia na mão. Questionada a respeito, a corporação afirmou, via assessoria de imprensa, que cabe à polícia investigativa analisar esses fatos, e não a ela. A resposta enviada por e-mail diz, ainda, que o fato não chegou ao seu conhecimento – o que não combina com o que diz o pastor Bezerra.

O Batalhão da Patrulha da Paz surgiu em 2011 e desde 2014 é a atividade principal de Bezerra, segundo ele próprio. Pelo trabalho na patrulha e como pastor, ele afirma que não recebe salário. Quem paga suas contas, diz, é a esposa, manicure. O pastor inclusive registrou seu batalhão como organização da sociedade civil de interesse público, um tipo de ONG conhecido pela sigla Oscip e que tem facilidade para conseguir parcerias com governos.

Uma das comunidades terapêuticas abastecidas pelo batalhão do pastor Bezerra é a Casa Reino Unido, que funciona em Abadiânia, cidade goiana próxima ao Distrito Federal. Ligada à Assembleia de Deus, tem 30 vagas custeadas pelo governo – todas atualmente ocupadas. A clínica também presta atendimento particular a uma taxa única de R$ 500. A instituição afirma que não faz pagamentos à patrulha dos evangélicos.

Precavidos, nos vídeos em que mostram as internações, os patrulheiros pedem aos pacientes para que digam ter sido bem tratados e estar ali voluntariamente. Para a Comissão de Direitos Humanos, porém, a abordagem que simula uma batida policial deixa pouca opção para eles.

 
 
31
Ago19

“No Brasil a tortura não acabou”

Talis Andrade
 

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RFI - O psiquiatra Carlos Parada trabalha em várias frentes: crianças carentes, drogas e tortura. Diplomado em medicina pela Unifesp, fez residência em psiquiatria em Paris, onde mora desde 1987. Mas apesar de radicado na França, seu campo de ação sempre inclui o Brasil.

Depois de dirigir durante dez anos um centro de consultas ambulatórias para crianças em Paris, o dr. Parada é hoje psiquiatra responsável de um hospital-dia para crianças com distúrbios mentais graves na região parisiense.

Paralelamente, ele participa em São Paulo no Projeto Quixote, criado com cooperação francesa há quase 20 anos. A estrutura acolhe crianças em situação de rua (parcial ou completamente), onde cuidados médicos e assistência social se mesclam. “Sem a visão repressiva que existia no Brasil, quando se cortava o cabelo de uma criança, que era colocada na Febem, para limpar as ruas”, diz.

 

Tocar o cérebro e mudar o espírito

Em 2016, Carlos Parada lançou o livro “Toucher le cerveau, changer l’esprit”, que descreve como a tecnologia tentou alterar diretamente o espírito. “Ele conta a história da psicocirurgia a partir da lobotomia, criada por um português, Egas Moniz, que ganhou o prêmio Nobel em 1949, e depois como surgem os remédios psicotrópicos e como isso mudou a visão que temos da doença mental e do próprio sujeito”, explica.

Parada conta que a prática da lobotomia foi ampla no Brasil, onde as “moderações econômicas, éticas e sociais são mais indulgentes do que na França. “Lévy-Strauss já dizia que o Brasil tinha passado da barbárie à decadência sem passar pela civilização. Ou seja, um capitalismo sem transcendência. O Brasil foi então um grande praticante da lobotomia desde o início, com casos inclusive de o irmão de um esquizofrênico passar pelo procedimento por medida de prevenção“, relata.

A lobotomia caiu totalmente em desuso, mas Parada diz que a psicocirurgia deve voltar com os avanços da neurociência, como já se vê na China, México ou Estados Unidos. “Aqui na França as pesquisas são muito cuidadosas, mas como é que essas técnicas serão usadas no Brasil, onde quem paga leva? ”, indaga o médico.

“Hoje o Brasil é um grande consumidor de psicotrópicos. Um tema como a ritalina que é um medicamento muito usado para crianças com distúrbios de comportamento no Brasil é quase uma moda”, explica.

 

Tortura não acabou no Brasil

Carlos Parada também trabalhou no Centro Primo Levi, de Paris, para refugiados e vítimas de violência política e tortura. Para ele, a tortura cria uma fratura social, de medo e desconfiança entre as pessoas.

“A primeira consequência da tortura é na sociedade. Atendi torturados do mundo inteiro. Vi poucas, quase nenhuma pessoa torturada por causa de uma informação. Vi pessoas sendo torturadas durante um, dois meses, um, dois anos. Isso não é para obter informação, é para semear o horror. É para criar o medo e dar vazão à perversão de uns e de outros. E para mostrar à sociedade quem é que manda”, conta.

Carlos Parada acrescenta: “as pessoas que pensam que seria bom a volta de um regime que se dá o direito da tortura, como diz o atual presidente, elas se esquecem que elas próprias vão estar dentro de um regime de medo. No Brasil, a tortura não acabou. Acabou a tortura política. A tortura de classe, a que maltrata pobres e esfarrapados, é permitida e largamente praticada”.

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