Fica explicado porque Brasília reelegeu governador Ibaneis Rocha Barros Junior, e Damares Alves senadora. A Damares das crianças banguelas para fazer sexo.
Publica o Correio Braziliense hoje: Três mulheres foram presas suspeitas de manter um homem em cárcere privado em um prostíbulo na Asa Norte na quinta-feira (2/3). A vítima tinha uma dívida de R$ 300 reais com o estabelecimento e foi ameaçado para que efetuasse o pagamento.
De acordo com informações daTV Brasília, parceira doCorreio Braziliense, enquanto ainda era mantido no local, o homem conseguiu entrar em contato com a mãe e contou que estava em um estabelecimento na Asa Norte, sem dar mais informações.
Ainda neste telefonema, a senhora também tinha conseguido conversar com uma das mulheres que estava envolvida no crime. Identificada como uma mulher transsexual, ela ameaçou a mãe da vítima dizendo que o mataria a facadas caso a dívida não fosse paga.
Foi essa mulher que confirmou para a mãe da vítima que o filho estava preso em um prostíbulo na Asa Norte.
O delegado responsável pelo caso, Laércio de Carvalho, revelou àTV Brasíliaque a mãe da vítima fez vários contatos com as suspeitas e chegou a ser intimidada e ameaçada para não envolver a polícia.
Entretanto, foi ela quem foi até a 35ª Delegacia de Polícia de Sobradinho II para registrar a ocorrência.
A polícia foi até o local e identificou três suspeitas de envolvimento no crime e as três foram autuadas: uma por manter a casa de prostituição, outra por envolvimento com drogas e a mulher transsexual por ter tentado extorquir a vítima — que não efetuou o pagamento.
Retirantes da pobreza, da fome, do desemprego, o exilado brasileiro, a exilada brasileira tiveram de escolher: na ditadura militar, a ponta da praia na terra natal ou a esquina da rua nas capitais dos Estados Unidos e Europa.
O racismo nos Estados Unidos, a xenofobia das ditaduras nos países da Europa, e a extrema direita no mundo hodierno facilitaram a pecha infame: brasileiro, brasileira, inclusive em alguns dicionários, sinônimos de gay, de prostituta.
O presidente gigolô, do lema nazi=fascista "deus, pátria e família", para propagar a má fama, o turismo sexual, convidou: "Quem quiser vir fazer sexo com mulher, fique à vontade", disse Jair Bolsonaro.
Os estrangeiros jamais celebraram o carnaval brasileiro como uma diversão inocente, colorida, de serpentinas, confetes, da alegria nas ruas, dos blocos de papangus, a festiva brincadeira, pela participação de crianças, pela música, pela dança do samba, pelos passos do frevo.
Este ano o carnaval vai propagar o escândalo da orgia. Escrevem Taís Codesco, Luana Reis e Giovanna Durães:
Mamilos à mostra no carnaval: com política contra assédio, mulheres se sentem mais livres na folia do Rio.
Depois de dois anos de privação, nos blocos de 2023 só se fala em uma coisa: liberdade. Em meio às fantasias elaboradas , apenas uma hot pant e um tapa-mamilo, que estão em alta entre as mulheres, foram capazes de expressar a alegria desse momento. Não se sabe ao certo quando o adereço tomou conta dos cortejos, mas se tornou uma verdadeira tendência. Os acessórios lembram aqueles usados pelas dançarinas em espetáculos burlescos nos séculos XIX. Se antes remetia a sensualidade feminina, hoje foi ressignificado como um símbolo de autonomia do próprio corpo.
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É a primeira vez que Luciana Abud, 35 anos, de São Paulo, está saindo de casa para pular carnaval usando somente um pequeno pedaço de fita colante nos seios, a hot pant, uma peça que há vários carnavais virou hit. Ela conta que, a princípio, se sentiu insegura, e até levou uma blusa, mas depois o sentimento de liberdade foi tomando conta. O seu maior medo era o assédio, mas Luciana se surpreendeu com o respeito das pessoas nos espaços.
— Está sendo uma experiência muito legal. Todo mundo olha, isso é inevitável, até mesmo mulheres. Mas não me incomoda. Sinto que isso gera uma curiosidade — conta.
Sua amiga, Lorena Ribeiro, advogada de 28 anos e também de São Paulo, aderiu a um visual parecido, com uma blusa de renda transparente e sem nenhuma outra peça tapando os mamilos.
— É óbvio que os caras olham, mas eu acho que há 10 anos seria muito pior. Eu sinto que a gente venceu, mesmo que um pouquinho, mas só de conseguir andar pela orla sem ser importunado já é uma vitória. Isso para mim também é uma evolução pessoal, tanto mulher quanto como feminista, considero até mesmo uma licença poética — diz Lorena. Elas concordam que o visual é mais confortável, ainda mais em meio ao calor e à multidão dos blocos.
O Brasil devia realizar programas para eliminar a má dos brasileiros e brasileiras no exterior. O Governo Brasileiro precisa promover campanhas contra a xenofobia, o racismo, tormento dos exilados brasileiros nos Estados Unidos e países europeus, notadamente Portugal. Criar políticas que evitem o tráfico humano, a propaganda sexual, inclusive a permanência de sites pornôs 'verde e amarelo', as cores de uso exclusivo das prostitutas na Roma Antiga.
Publica a revista 'Veja':
O mistério sobre a assinatura de Carta Zambelli em site pornô
Suposto extrato do "Brasileirinhas" em nome da deputada circula pelas redes sociais
Desde a manhã desta quarta-feira, 22, circula pelas redes sociais um suposto extrato de débito, atribuído à deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), referente à assinatura mensal do site pornô Brasileirinhas. No recibo, não aparece o nome da parlamentar, apenas uma montagem com sua foto. O assunto tornou-se um dos mais comentados do Twitter. Desde que recuperou acesso às redes sociais, a parlamentar tem se manifestado sobre vários temas, mas ainda não tocou no caso Brasileirinhas, apesar das insistentes cobranças dos internautas.
Procurada pela reportagem de VEJA, a parlamentar não respondeu aos pedidos para confirmar ou não a informação. O diretor do Brasileirinhas, Clayton Nunes da Silva, em contato com a revista, afirmou que precisaria ter acesso aos dados pessoais da parlamentar para confirmar ou não se a assinatura realmente foi feita por ela. Ou seja, o mistério permanece.
Este proxeneta Clayton Nunes da Silva devia ser processado por usar o nome de "Brasileirinhas" em site pornô. Não é de estranhar tal absurdo, esse crime contra a imagem do Brasil, contra a mulher brasileira, que Paulo Guedes, que era super ministro da Economia de Bolsonaro, criou sites de relacionamentos, segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo. De acordo com o texto, Guedes é dono, ao lado do irmão, da empresa Nol Web Services, que se propõe a encontrar “soluções para solteiros que procuram um relacionamento sério”. O grupo Nol atua em inúmeras frentes, mantendo diversas marcas na área amorosa. “O Romance Cristão” é um site de relacionamento para evangélicos e “Nunca é Tarde para Amar” dedica-se à terceira idade. Já o “Namor o Online” é a versão mais liberal. Ao inscrever-se, o usuário pode dizer se tem interesse em amizade, namoro, sexo casual, casamento ou apenas em “ficar”. Há opções para heterossexuais e homossexuais.
Para as elites brasileiras são aceitáveis a xenofobia, o racismo, a misoginia, o machismo contra países com uma população de maioria negra.
A supremacia branca cassou o mandato do deputado Arthur do Val (Mamãe Falei) porque declarou as mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres".
Numa entrevista que concedeu ao jornal New York Times, Jair Bolsonaro disparou comentários relacionados ao canibalismo e agressões xenófobas às mulheres haitianas.
Em um dado momento da entrevista, Bolsonaro diz que estava numa tribo indígena e não comeu carne humana por falta de companhia.
Ele também disse que só não fez sexo com uma mulher haitiana “pela falta de higiene”.
Por Guilherme Amado, no Metrópoles -A cassação do mandato do deputado estadual Arthur do Val perdeu força nos corredores da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O ex-integrante do MBL não escapará de uma punição, mas as consequências para ele devem ser mais brandas.
Deputados da base governista e da oposição afirmam que Arthur poderá ter o mandato suspenso por um período de seis a oito meses. Apesar de encerrar a atuação legislativa do deputado, a pena preservaria os seus direitos políticos. Já a cassação do mandato tornaria Arthur inelegível por oito anos.
Procurado, o advogado do deputado, Paulo Bueno, disse que “a cassação de Arthur do Val é inviável juridicamente e os precedentes da própria Alesp demonstram isso”.
COPROFAGIA
O áudio sobre as ucranianas foi gravado para um grupo de amigos no WhatsApp e o conteúdo foi revelado pela coluna do Lauro Jardim, no O Globo. O deputado diz que contou o número de mulheres bonitas na alfândega e diz que vai voltar ao Leste Europeu quando a guerra acabar.
“Mano, eu juro pra você, eu contei: são 12 policiais deusas. Mas deusas que você casa e faz tudo que ela quiser. Assim, eu tô mal. Eu não tenho nem palavras para expressar”, declara no áudio.
Em outro trecho, faz uma comparação entre as ucranianas e as brasileiras. “Se você pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”, afirma o deputado.
O senador também vê como corrupção clara o fato de o ex-juiz ter lucrado milhões com a Lava Jato
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) classificou o ex-juiz Sergio Moro como "ladrão", assim que soube que ele recebeu cerca de R$ 3,7 milhões de uma consultoria estadunidense que embolsou R$ 42 milhões das empresas brasileiras que o próprio Moro quebrou na Lava Jato. Renan também insinuou que Moro pode ter escondido recursos em nome da "conje" Rosângela Moro. Confira
Renan Calheiros
Moro embolsou US$45 mil/mês de quem ele condenou como juiz. Um pé de meia malcheiroso (R$ 3,7 milhões). O juiz ladrão foi corrompido? Qual o trabalho dele para ficar milionário com dinheiro dos corruptores? Tem mais em nome de terceiros? Da “conje”? E o conflito de interesses?
Ignoradas pelos pais e pelo estado, crianças eram colocadas para adoção ou abrigadas por vizinhos e outras mulheres. Foto Jean Pavão para o Intercept Brasil
O GRANDE FLUXO DE CLIENTES e de dinheiro também abriu caminho para a exploração sexual infantojuvenil nos prostíbulos de Três Lagoas. “Como era muito famosa, de ganharem muito dinheiro, começou a surgir as meninas de menor, 15 anos, 16 anos. Aí começou o Conselho Tutelar vir junto com a polícia. Elas corriam e se abrigavam nas casas dos moradores da redondeza. Era tudo misturado, a família, a zona, a escola”, recorda Júlia Santos.
Corrupção e dissimulação alimentavam esse negócio ilegal. “A maioria mentia a idade. Tinha muito movimento, não dava tempo para procurar se era de maior ou não. Queria ficar, azar. Se a polícia levasse era problema delas”, esquiva-se Dalva. “Às vezes dava problema para a gente, tinha que pagar para não ir presa. Levava a menor, fechava a casa, ia lá e pagava a taxa, e eles liberavam de novo. O delegado fazia o papel e tinha que pagar no banco”, explica.
Segundo o policial aposentado Genésio Aparecido da Silva, que à época atuou na delegacia de Foz, o controle realizado nos prostíbulos não se resumia a coletar as taxas do alvará de funcionamento, servia também para evitar a presença de menores de idade nos bordéis. “Mas muitas arrumavam uma certidão fria, preenchiam e diziam que tinham 18 anos. Isso acontecia”, reconhece.
No Paraguai, do outro lado da fronteira, também havia adolescentes nas casas do bairro María Magdalena, que tinha 400 mulheres em 37 boates. “As proprietárias saíam ao interior para encontrar meninas e falavam aos pais sobre o futuro maravilhoso que elas teriam”, observa o jornalista Alcibiades González Delvalle. Ele foi à cidade de Hernandarias em 1979 para investigar a morte de uma adolescente e desvendou um esquema de corrupção envolvendo autoridades locais, o que acelerou o fim da área de prostíbulos.
A vítima seria Adriana da Silva, de 16 anos, de Medianeira, cidade paranaense a 60 km da fronteira. A morte não foi comunicada, e o corpo foi enterrado em um cemitério particular de um fazendeiro. A identidade não foi confirmada, e a investigação foi arquivada. Mas o jornalista descobriu que a esposa do juiz responsável pelo caso ia aos sábados à zona de prostíbulos para vender produtos de beleza às mulheres. “Ninguém mais podia vender, só ela. E os preços eram altos”, relata.
Assim como no Brasil, do lado paraguaio cada mulher tinha de pagar uma taxa à prefeitura para se registrar e outra mensal para trabalhar. Donos das boates pagavam todo mês para funcionar, além de um adicional ao delegado de polícia a título de “proteção especial”, que incluía o resgate das mulheres que porventura fugissem. “Ninguém podia sair”, recorda Delvalle.
As autoridades locais faturavam uma bolada com o comércio sexual de Hernandarias. O chefe do Centro de Saúde também cobrava uma quantia das mulheres a cada 15 dias, a pretexto de atendimento clínico. “Todos ganhavam, menos as meninas”, diz. O destino do que era arrecadado também nunca foi esclarecido.
A série de reportagens de Delvalle no jornal ABC Color marcou o início do declínio da zona de prostituição de Hernandarias. As casas foram sendo abandonadas, e as mulheres se espalharam por outros locais da fronteira. Algumas foram parar na zona de meretrício em Três Lagoas, em Foz do Iguaçu.
Jornal da época narra a derrocada da zona de prostituição, já no fim das obras da usina.
O fim da zona
O DECLÍNIO DA ZONA DE PROSTITUIÇÃO começou com a redução de clientes, o avanço da aids numa época em que a doença era tida como sentença de morte e o início da construção de um complexo penitenciário bem ao lado, hoje com quatro unidades. “Foi acabando, desmontando tudo”, conta Neusa, que trabalhou na boate Carinho da Noite, a última a fechar as portas, em 2018. As casas que não foram derrubadas ou queimadas hoje funcionam como moradias, oficina mecânica, marmoraria e até casa paroquial.
No canteiro de obras de Itaipu, mulheres eram exceção. A representação simbólica disso está expressa no painel de 25 metros de largura e dois de altura exposto no mirante da usina, uma homenagem aos barrageiros que ergueram a “obra do século”. Já as trabalhadoras do sexo que atendiam aos empregados de Itaipu vivem no esquecimento – a única lembrança são os filhos, já adultos, que surgiram daquelas relações.
Mas, sem elas, talvez as obras não tivessem sido as mesmas. “A prostituição foi considerada uma parte vital na construção da hidrelétrica”, diz o jornalista paraguaio Alcibiades González Delvalle. “Em uma lógica circular, os homens não poderiam trabalhar adequadamente sem relações regulares, e a hidrelétrica não poderia ser construída sem os trabalhadores da barragem”, concorda o historiador John Howard White. “Em suma, não poderia haver barragem hidrelétrica sem as profissionais do sexo”.
Delvalle descreve a hipocrisia e o descaso do alto escalão da Itaipu à época em relação a essas mulheres. A binacional planejou e construiu projetos habitacionais para seus trabalhadores, com educação, saúde, recreação, treinamentos. Os empregados, por sua vez, usufruíam da prostituição. “Itaipu não teve um papel direto, mas, sim, o ímpeto emanado de seus trabalhadores e como consequência indireta de suas atividades”, complementa White.
Para Delvalle, Itaipu e as subcontratadas deveriam ter reconhecido as prostitutas como uma categoria legítima de trabalhadoras, com os mesmos benefícios concedidos aos trabalhadores da barragem. Sugere ainda que o acompanhamento médico dessas mulheres deveria ter sido feito nos hospitais e clínicas operados por Itaipu, para evitar a exploração pelas autoridades de saúde.
Quarenta anos depois, Dalvalle lembra com certo desalento a confirmação da previsão que fez durante as obras: “quando a barragem for finalmente inaugurada, ninguém encontrará nenhuma placa para comemorar ou homenagear as jovens de Hernandarias”. Segundo ele, a prostituição era vista como uma necessidade, mas apenas tolerada enquanto permanecesse escondida.
Registro de uma das crianças em Três Lagoas. Não se sabe, ao certo, quantas foram fruto da prostituição; cidade, no entanto, registrou uma explosão no número de nascimentos na época das obras. Foto Jean Pavão para o Intercept Brasil
A FAMÍLIA DE JÚLIA DOS SANTOS foi impactada pela instalação dos prostíbulos no bairro Três Lagoas, ao lado da área rural onde ela nasceu e se criou. Da janela de casa, a menina via tudo acontecer.
“Na época não existia preservativo, então era muita criança”, conta Júlia. Apesar do zelo ao fichar e recolher as taxas das trabalhadoras do sexo, o estado era menos eficiente ao garantir métodos contraceptivos para elas. É difícil precisar o número exato de crianças nascidas das relações dos barrageiros com as prostitutas. Mas, de concreto, há 12.115 nascimentos registrados sem o nome do pai em apenas duas décadas de influência direta de Itaipu na demografia de Foz do Iguaçu.
A gravidez indesejada impunha uma decisão difícil. “A gente não sabe se era aborto espontâneo ou forçado, mas tinha muito aborto”, disse Santos. As mulheres que levavam a gestação adiante davam à luz na Maternidade Iguaçu ou no Hospital São Vicente de Paula. “Muitas tinham o parto em casa mesmo [no bordel]”. O destino dos bebês era variado. “Tinham crianças que as mães pagavam pensão para cuidar, outras davam, outras iam embora”, revela a ex-gerente de boate Dalva Pereira.
Eram tantos bebês que as famílias do entorno da zona do meretrício faziam um esforço coletivo para cuidar dos recém-nascidos. “Minha mãe chegou a acolher mais de 30 crianças, filhos das prostitutas”, lembra Júlia dos Santos. “Elas não podiam cuidar, porque tinham que trabalhar à noite, então eu me obrigava a cuidar”, confirma Maria Florinda dos Santos, hoje com 84 anos, então vizinha da zona.
Maria era a benzedeira do bairro e passou a fazer também o papel de mãezona ao acolher os filhos das trabalhadoras do sexo. Outras vizinhas fizeram o mesmo. “Não só a minha mãe, a Alice*, dona de uma boate, também criou muita criança. Tem a minha comadre Tereza também, que criou essas crianças”, lembra Santos. Alice, cujo nome real não será divulgado, foi proprietária da boate Carinho da Noite, uma das mais badaladas da fronteira, que só encerrou as atividades em 2018.
Maria Florinda dos Santos (à esquerda) chegou a acolher mais de 30 crianças que orbitavam os arredores de sua casa, vizinha da zona. Sua filha, Júlia (à direita) observava tudo. Foto Jean Pavão para o Intercept Brasil
Os donos de bordéis costumavam dispensar a mulher que engravidasse ou exigiam o aborto. Alice fazia diferente. Mantinha a garota na boate durante a gestação como faxineira ou cozinheira e assumia a responsabilidade de criar o recém-nascido. Montou uma casa num bairro a cinco quilômetros de distância, o Parque Imperatriz, para acolher essas crianças e destacou uma de suas funcionárias para cuidar. Ao todo, afirma que adotou 44 crianças – oito delas registradas em seu nome.
Por duas vezes, Alice se recusou a receber o Intercept na porta de sua casa, onde funcionava a boate. Neusa, a “segunda mãe”, a funcionária que trocou as fraldas e cuidou das crianças, explicou a razão: preconceito e perseguição. Também receosa, Neusa relutou a entrar no assunto e falou em meias palavras. Não foi fácil adaptar-se à vizinhança tendo a um só tempo até 38 filhos de prostitutas na mesma casa. Todo o peso da discriminação recaía sobre eles a ponto de quase ir parar na televisão. Eram meados dos anos 1990, Neusa não soube precisar o ano, quando um juiz bateu à porta, acompanhado de um cinegrafista e de um repórter.
Vizinhos haviam feito denúncia de maus-tratos. Mas, depois da vistoria e dos esclarecimentos, o juiz foi só elogios, segundo relato da cuidadora. As mais de 40 crianças cresceram com o estigma pelo modo como foram concebidas e pelo perfil socialmente negativo de quem as gerou. Incontáveis vezes, Neusa teve de ir à escola socorrer um dos seus, vítima de intolerância.
“Só porque é filho de prostituta não tem direito de viver?”, questiona. Não é sem motivo que Alice prefere o silêncio. Evita abrir as feridas do preconceito agora que os filhos são adultos. Prefere preservá-los, pois entre eles, diz Neusa, há servidor público graduado, chefe de cozinha, empresário, garçom e professora. “Todos estão encaminhados, nenhum virou bandido”, orgulha-se.
Segundo ela, havia homens cientes da gravidez. “Muitos até ajudaram essas meninas, muitos não quiseram ajudar nem conhecer. Quanta criança que tem nesse mundo que não sabe quem é o pai e às vezes pode tá conversando com ele? Quantas mães às vezes estão do lado do filho e não sabe por que ela doou o filho?”, questiona. Dá para imaginar quantas? “Ah, foram muitas. Muitas nasceram, muitas morreram, muitas foram abortadas. Era a lei da época. Porque, para a boate, a mulher tem que ser bonita, e a gravidez não deixa a mulher bonita”. (Continua)
Apesar de o estado e a empresa negarem, a prostituição era encarada como necessidade para o bom andamento das obras – um canteiro majoritariamente composto de homens solteiros. Foto Jean Pavão para o Intercept Brasil
ITAIPU SE RECUSAVA a assumir alguma responsabilidade ou discutir abertamente a zona de prostituição – ainda que a mudança no local das boates tenha ocorrido para atender aos seus interesses. E continua assim mesmo passados 45 anos. “Não temos registros de atuação da Itaipu para a remoção ou realocação de casas de prostituição em Foz do Iguaçu”, informou a empresa ao Intercept, por meio de e-mail.
Mas pesquisadores dizem outra coisa. “As autoridades da empresa e da cidade entenderam a necessidade de uma zona de tolerância que fosse suficientemente afastada do centro da cidade, facilmente acessível pela rodovia e ampla o suficiente para conter o número de casas necessárias para atender os milhares de trabalhadores da barragem que chegariam à fronteira”, diz John Howard White na sua tese de doutorado em filosofia da história pela Universidade do Novo México, dos EUA, sobre gênero e trabalho na fronteira entre Brasil e Paraguai.
“Os guardas de Itaipu controlavam os bordéis para que não acontecessem brigas e para que os trabalhadores não se embebedassem ao ponto de que quando voltassem ao trabalho pudessem sofrer ou ocasionar algum acidente”, salienta a geógrafa Patrícia Claudia Sotuyo no seu mestrado.
A zona de prostituição também era monitorada de perto pelo estado. Todas as trabalhadoras do sexo de Três Lagoas eram fichadas na Polícia Civil do Paraná. Eram cerca de 700 – mas, até o final da obra, esse número somou 10 mil.
O estado exercia controle sobre o corpo dessas mulheres ao emitir a “carteira de dançarina”, com foto e dados pessoais na frente e carimbos das visitas médicas no verso. Cabia à Polícia Civil, por meio do Fundo Especial de Reequipamento Policial, o Funrespol, o trabalho de fiscalizar os exames médicos das mulheres e cobrar as taxas de alvará das boates.
A prostituição em si não é proibida no Brasil, mas o Código Penal, de 1940, considera crime “tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça”. A pena prevista é de reclusão de um a quatro anos, e multa.
“As mulheres, para trabalhar, tinham que trazer um documento na delegacia, e a gente fazia a carteirinha de bailarina, com o nome original e o nome fantasia”, disse o policial aposentado Genésio Aparecido da Silva, chefe do Funrespol entre 1978 e 1986. “Todos os meses você anotava. Se uma desse furo, você falava ‘olha, cadê o exame do mês passado?’. Então era bem cobrado, a exigência tinha que ser cumprida”.
Cada boate recolhia uma taxa mensal ao Funrespol, convertida depois em equipamentos para as forças policiais. Mesmo considerado marginal, o trabalho das prostitutas era revertido para a compra de armas, munições e viaturas que serviam aos órgãos estatais de repressão.
Havia uma escala para receber os donos das boates. “Os proprietários sabiam que pagavam um alvará de funcionamento, e a gente já avisava que as mulheres tinham que ir lá no Funrespol fazer a carteirinha”, lembra Genésio. No início do mês, os policiais faziam uma ronda pela cidade para cobrar as taxas. “Você fazia uma vistoria e chamava a proprietária ou o proprietário. Tinha que levar os documentos, senão podia fechar o estabelecimento”.
“Eles vinham fazer vistoria, boate por boate, mulher por mulher”, conta Dalva Alves Pereira, 63 anos, ex-gerente de boates que hoje mora com o marido em um conjugado de quarto e sala no bairro. “Nós fazíamos exame no ginecologista para ver se não tinha doenças venéreas. Nós pagávamos, fazíamos no posto [de saúde] e particular. Às vezes eles vinham colher aqui [o sangue]”, diz. “Para poder pagar o alvará tinha que levar o exame na delegacia. Todo mês tinha que levar os exames das mulheres, todas, na delegacia”.
Os militares tomaram o poder à força em 1964 não só com o objetivo de eliminar as esquerdas. Havia o pretenso projeto de um “Brasil Grande”, apoiado em obras colossais e numa sociedade de princípios morais, cristãos e conservadores, pontua o antropólogo José Miguel Nieto Olivar. No livro “Devir puta”, resultado do seu doutorado, ele constata que o estado foi complacente com prisões, torturas e mortes de prostitutas.
Mas, em Itaipu, os militares preferiram usar a prostituição ao seu favor. A equipe da delegacia de Foz do Iguaçu enviava relatórios mensais de arrecadação ao comando da Polícia Civil, em Curitiba. Não há registros de quanto dinheiro a prostituição vigiada em Três Lagoas rendeu à ditadura militar. (Continua)
A prostituição no bairro entrou em decadência com o fim das obras e o avanço da aids. Os antigos bordéis hoje funcionam como residências, mercearia, oficina mecânica, marmoraria e até uma casa paroquial. Foto: Jean Pavão para o Intercept Brasil
(Continuação) - Os efeitos persistiram mesmo após a conclusão de Itaipu, pois um grande contingente de barrageiros, como eram chamados os trabalhadores da barragem da usina, permaneceu em Foz, inclusive milhares de migrantes que nem chegaram a trabalhar na obra. Ao fim dos trabalhos, o cartório registrou 7.605 nascidos vivos e 96 natimortos sem a paternidade reconhecida entre 1985 e 1994.
O Intercept foi até o bairro de Três Lagoas para ir atrás dos “filhos de Itaipu”, uma legião de crianças nascidas de encontros furtivos com prostitutas. Na época, centenas de mulheres – às vezes milhares – trabalhavam na zona com a anuência da ditadura militar. E, sem saber, com o dinheiro da venda de seus corpos, ajudavam a financiar armas e munições para os braços armados do estado. Seus filhos são uma das poucas lembranças da época em que a ditadura lucrou com prostituição.
Três dias de fervo
O BAIRRO TRÊS LAGOAS concentrou o maior número de prostíbulos da fronteira no auge das obras de Itaipu. “Tinha umas 25 casas grandes, fora os botecos. Dava umas 30, 35, entre tudo”, diz Dalva Alves Pereira, 63 anos, de codinome Regina quando gerenciou boates no lugar. O número de mulheres variava conforme o tamanho da casa. “Chegou a ter mais de 700, porque tinham as que moravam e as que vinham de fora fazer ponto. Ficavam uma semana, duas, um mês, dois. Tinha mais de 700, 800, contando tudo”.
Poucas casas eram de alvenaria e tinham piscina, um atrativo de luxo para seduzir a clientela. A maioria era de madeira, onde a sala de estar servia de pista de dança, ligada a um corredor que dava para os quartos. Era o lugar mais movimentado da fronteira, de dia e de noite, daí o apelido de “Paraíso da prostituição” dado pela imprensa local.
A empresa deu prioridade à contratação de solteiros, porque os dormitórios coletivos ficavam no interior do canteiro de obras. “Foram 12 mil empregados solteiros sob a responsabilidade da Unicon, empresa responsável pela administração e distribuição dos barrageiros nos alojamentos”, aponta a geógrafa Patrícia Claudia Sotuyo em seu mestrado sobre segregação urbana em Foz do Iguaçu no período da construção da usina.
Dalva Alves Pereira era conhecida como ‘Regina’ quando gerenciava boates. Foto: Jean Pavão para o Intercept Brasil
Os barrageiros passavam a semana batendo laje e nos dias de folga iam aos bordéis para aliviar as tensões de um extenuante trabalho controlado com rigor militar. “Existia um interesse por parte da empresa em que os funcionários fossem extravasar suas angústias, neuroses, desejos, na zona do meretrício”, afirma o historiador Luiz Eduardo Catta no seu mestrado sobre o cotidiano na fronteira durante a construção da usina. Estima-se que, ao longo dos 10 anos das obras, ao menos 10 mil mulheres trabalharam nas mais de 30 casas de prostituição de Três Lagoas.
Os dias de pagamento na obra ocasionavam preparativos frenéticos nos bordéis, prevendo a chegada de ônibus e carros com os barrageiros. Itaipu pagava o salário em dinheiro, em um envelope com as cédulas. Parte disso ia parar na zona ou nos bailinhos espalhados pela cidade. “Os caras desciam daquele caminhão com o dinheiro na mão. Aí tomava [bebia] um pouco, ia botar no bolso e tinha um punga que levava o dinheiro. Era uma loucura”, recorda o policial aposentado Genésio Aparecido da Silva, que prendeu muitos barrageiros metidos em confusão na zona. “Era bem agitado nos dias de pagamento”.
O ex-barrageiro João Carlos Chaves reservava parte do salário para se divertir nos bordéis de Três Lagoas. “Na metade do mês, eu ia para lá e não queria nem saber. A farra era boa”, lembra. “Passava a noite lá e às vezes nem vinha no domingo”, disse, às gargalhadas. “Às vezes vinha na segunda”. (Continua)
JOÃO BATISTA E MARIA FLORINDA DOS SANTOS saíram do interior do Rio Grande do Sul e chegaram em Foz do Iguaçu em 1969 com um filho no colo e outro na mão. Compraram um alqueire de terra no bucólico bairro Três Lagoas para plantar hortaliças e criar porcos e galinhas. De repente, se viram rodeados de bordéis naquele que seria o maior centro de diversão adulta da tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.
A nova zona de prostituição foi instalada a 400 metros de um ponto de ônibus na margem sul da BR-277. Era um efeito colateral da mega obra da usina hidrelétrica de Itaipu, usada pelos generais como símbolo do “milagre econômico”. A antiga zona da cidade havia sido removida pelos militares para dar lugar a um conjunto de casas para os operários, e os bordéis foram realocados para o pacato bairro rural, na época ocupado por produtores de milho. No pico das obras, Itaipu contava 40 mil empregados – 12 mil deles solteiros.
João e Maria estavam na margem sul da rodovia. João tinha oito filhos do primeiro casamento e nove com Maria. Mas, segundo Júlia, filha do casal, ele teria mais quatro com garotas de programa das boates – nenhum deles reconhecidos pelo pai. “É o que a gente sabe, pode ser mais”, admite Júlia, que tinha cinco anos quando a zona começou a se instalar. A família viveria um estranho paradoxo. De um lado, João tinha filhos com as trabalhadoras do sexo; de outro, Maria acolhia e cuidava dos filhos das garotas de programa que trabalhavam na zona.
Um levantamento inédito feito pelo Intercept (Mauri König) mostra que a história de João e Maria não é a única. As obras de Itaipu fizeram a população de Foz do Iguaçu explodir: subiu de 35 mil em 1975 para 140 mil habitantes em 1984, datas do início das obras e do início das operações da usina. No mesmo período, cresceu também o nascimento de crianças sem o nome do pai no registro. Naquela década, o cartório de registro civil de Foz do Iguaçu anotou o nascimento de 4.280 crianças vivas e 134 natimortas sem paternidade definida – números pelo menos cinco vezes maior do que na década anterior às obras da usina hidrelétrica. (Continua)