Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

23
Fev22

O fascismo vive em nós através do dispositivo do neoliberalismo

Talis Andrade

Nenhuma descrição de foto disponível.

 

Interrogar o fascismo radicalmente deve nos levar a uma reflexão séria acerca da democracia, pontua Rodrigo Karmy. Produção de sujeitos “dóceis”, que “amem” seu patrão e a precarização permanente de sua condição são características dessa conjuntura 

“Uma mutação radical da soberania moderna em uma definitiva inscrição biopolítica.” Assim o filósofo chileno Rodrigo Karmy caracterizaria o fascismo em nosso tempo. Um regime que não reconhece a lei, porém sua exceção permanente, “não conhece a técnica, senão como imperialismo; não sabe do outro mais do que como inimigo; não conhece o exército, senão como aparato policial; converte o silêncio em seu aliado mais forte, combinado com uma estetização completa da vida social; reduz a noção de progresso à extensão de suas rodovias e vislumbra o passado apenas como um mito que, tendo sido esquecido por muito tempo, é reeditado em e como presente”. Contudo, Karmy adverte que é preciso problematizar não apenas o fascismo, mas também o discurso humanista: “O fascismo, diríamos, é um humanismo. Para o fascismo, trata-se de salvar a ‘raça’ que serão os últimos propriamente ‘humanos’ que sobreviveram à invasão parasitária dos ‘outros’  (muçulmanos, judeus, índios, negros etc.)” E acrescenta: “Somente como ‘humanismo’ o fascismo pode identificar o ‘outro’ como não ‘humano’ e fazer do fascista um ‘humano’ nesse mesmo ato de exclusão – de sacrifício”.

De acordo com Karmy, o fascismo vive em nossos corpos, “porque o “revés” entre soberania e biopoder se aprofundou na cena capitalista contemporânea. Sob essa luz, o neoliberalismo seria o nome do fascismo feito dispositivo”, define. Sua consumação na sociedade contemporânea é um desdobramento da anarquia do capital como uma verdadeira e já explícita guerra civil global.

Karmy tece, ainda, uma profunda crítica ao neoliberalismo e sua disseminação até as camadas mais profundas da sociedade: “o neoliberalismo é uma doutrina aristocrática, pois privilegia os “melhores”. Um aristocratismo econômico, e não político, como se pode depreender a partir da tradição grega. Essa cena mostra que, no Chile, a vida está inteiramente financeirizada”.

O fascismo, observa Karmy, é uma espécie de “captura total da vida e a privação do seu mundo. 

Confira a entrevista de Rodrigo Karmy à Márcia Junges (Tradução Moisés Sbardelotto) aqui

Ilustração: “El nacimiento del fascismo” (1936) David Alfaro Siqueiros

Image

26
Jun21

Bolsonaro está em xeque e ninguém controla a situação

Talis Andrade

covaxin bozo.jpg

 

 

Ministros atravessaram a noite discutindo o tamanho do estrago produzida na imagem do presidente pelas falas dos irmãos Miranda

 

 
Resumo da ópera: o mais longo dos dias para o presidente Jair Bolsonaro, que começou há 72 horas com a grave denúncia de trapaça na compra da vacina indiana Covaxin, alcançou seu pior momento até aqui com a fala dos irmãos Miranda à CPI da Covid-19, e está cada vez mais longe de terminar.
 

Auxiliares do presidente da República entraram pela madrugada tentando dimensionar o tamanho do estrago produzido com a revelação de detalhes do encontro recente entre Bolsonaro, Luis Miranda, deputado do DEM do Distrito Federal, e Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde.

“Você sabe quem é, se eu mexer nisso aí sabe o que vai dar” – teria dito o presidente depois de ouvir o deputado contar como seu irmão tentava desmontar o esquema armado no ministério para comprar a vacina a preço superfaturado. O próprio Bolsonaro citou o nome de quem era: Ricardo Barros, líder do governo na Câmara.

Em seguida, prometeu que acionaria a Polícia Federal para que apurasse tudo, mas não o fez. O que significa, sem dúvida, que prevaricou, e que poderá ser acusado por esse e outros crimes, tais como os de corrupção passiva e ativa, peculato, improbidade administrativa e organização criminosa.

Por eles só seria processado ao término do seu mandato, o atual ou o próximo caso se reeleja. Mas nada impede a abertura na Câmara de um processo de impeachment. Nada, é modo de dizer. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é aliado de Bolsonaro. A fragilidade de Bolsonaro interessa a Lira e ao Centrão.

O grupo de ministros que cerca o presidente mais de perto não se arrisca a prever o que ele fará daqui para frente. Limitar-se-á a desmentir o que os irmãos Miranda disseram à CPI? Mandará suspender o contrato de compra da Covaxin que continua valendo? Dará um tiro no peito como fez Getúlio Vargas? Exagero, claro.

O relato dos irmãos Miranda pareceu convincente. Por que um deputado bolsonarista inventaria uma coisa dessas? Por que seu irmão, servidor público concursado, inventaria? Se Bolsonaro apenas suspender o contrato de compra da vacina, ouvirá a pergunta, certamente de uma jornalista: por que só agora?

Se Bolsonaro destituir Barros da função de líder do governo, a pergunta se repetirá: por que só agora se desde o início ele sabia do seu envolvimento com a maracutaia? Sempre poderá forçar Barros a renunciar à função sob o pretexto de que irá se dedicar à sua defesa. Mas o que poderá dizer Barros à CPI quando convocado?

Uma vez, diante de mais uma crise provocada por Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, observou: “A situação está sob controle, só não se sabe de quem”. Nem Bolsonaro, nem a CPI, nem ninguém controla a situação. Há muitos atores em cena e cada um escreve seu próprio papel.

devoto .jpg

 

21
Mar20

"A opção política de Bolsonaro e seus ministros é de, uma vez mais, penalizar, condenando à miséria e à morte quem depende do trabalho para sobreviver"

Talis Andrade

coronavírus aglomeração esfomeados .jpg

Entidades repudiam medidas anunciadas pelo governo e exigem compromisso com os direitos de quem trabalha

 

Em nota conjunta, seis importantes entidade da sociedade civil, entre elas a AJD, condenam por meio de uma nota pública as medidas anunciadas pelo governo para supostamente amenizar a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.  A opção do governo, segundo o texto das entidades, é mais uma vez penalizar, condenando à miséria e à morte quem depende do trabalho para sobreviver. Ao final, o texto das entidades exige a adoção de uma série de medidas que, postas em prática, protegerá a população que não tem como se defender e a classe trabalhadora.  Leia o texto na íntegra, abaixo:

NOTA PÚBLICA

Diante da evidência, até agora negada pelo governo, da gravidade da pandemia do novo coronavírus, Bolsonaro e seus ministros anunciam medidas, dentre as quais: possibilidade de redução de jornada com redução de salário, ampliação do banco de horas, abatimento das férias dos dias não trabalhados por falta de demanda, permissão de afastamento do trabalho sem pagamento de salário e reconhecimento de que contrair o novo coronavírus não configura doença laboral

A opção política é de, uma vez mais, penalizar, condenando à miséria e à morte quem depende do trabalho para sobreviver. Mais de 40% da população que trabalha está na informalidade, graças às reformas e ao incentivo a um falso empreendedorismo que precariza.

Essas trabalhadoras e trabalhadores já estão sentindo o desespero que decorre de não saber como irão pagar suas contas e alimentar seus filhos nas próximas semanas. Aqueles que ainda têm vínculo de emprego também estão assustados, porque impedidos de trabalhar em razão da pandemia e agora, graças ao plano anunciado pelo governo, correndo o risco sério de não receber salário ou ver suas férias sacrificadas pela quarentena imposta em razão de uma doença que provavelmente não existiria se as bases de convívio social e de distribuição de renda fossem diversas.

A opção política de promover exclusão social, precarização das condições de trabalho e aumento de informalidade fizeram do Brasil um país sem condições de suportar uma crise sanitária. Não é a classe trabalhadora quem deve suportar o ônus dessas opções. Por que não se exige o sacrifício de quem tem condições para tanto, por terem sido os mais beneficiados pela política econômica predatória dos últimos anos, como as instituições financeiras, por exemplo?

O desespero de quem vive nas ruas e está passando fome, a violência desmedida de policiais que também estão em pânico, porque expostos e com a missão impossível de confinar uma população inteira, e o medo de quem não sabe como será o dia de amanhã impõe seriedade daqueles que nos governam.

Não é possível que diante de tamanha crise, a resposta siga sendo o sacrifício de quem vive do trabalho e, portanto, a aposta no caos social. A lei 1079 estabelece como crime de responsabilidade “subverter ou tentar subverter por meios violentos a ordem política e social”.

As medidas anunciadas pelo governo promovem exatamente essa subversão e se revestem de uma violência simbólica gigantesca, pois não deixam opção à classe trabalhadora, convidando-a à penúria como única forma de “salvar a economia”, a partir da falsa premissa de que haverá alguma economia a ser salva em uma sociedade de indigentes.

É também crime de responsabilidade, segundo a mesma lei, “permitir, de forma expressa ou tácita, a infração de lei federal de ordem pública”. Quando o governo anuncia a possibilidade de dispensa de trabalho sem remuneração ou a eliminação das férias por compensação com o período de quarentena imposta está permitindo e incentivando infração à CLT e à Constituição da República.

As entidades abaixo nominados repudiam publicamente o pacote de medidas anunciado pelo governo, que fará de seus autores agentes diretamente responsáveis pelo adoecimento, morte e miséria social que tal opção política certamente provocará. Exigimos a adoção de medidas efetivamente aptas ao enfrentamento da crise imposta pela pandemia, como o retorno do Ministério do Trabalho, o reforço das estruturas de prevenção e fiscalização nos ambientes de trabalho, restrições à despedida, distribuição gratuita de alimentos e remédio à população, estabelecimento de uma renda básica mínima e decente, imposição de concessão de crédito sem juros pelas instituições financeiras, como forma de auxílio à classe trabalhadora e aos pequenos e médios empreendedores, que efetivamente geram emprego nesse país.


AJD - Associação Juízes para a Democracia
ABRAT - Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas
JUTRA - Associação Luso-brasileira de Juristas do Trabalho
AAJ - Associação Americana de Juristas
SINAIT - Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho
ALJT - Associação Latino-americana de Juízes do Trabalho

26
Jul18

O fracasso da agenda econômica do golpe e o caminho alternativo

Talis Andrade

Este artigo busca analisar a atual crise econômica e o significado da agenda econômica golpista. Ademais, apresenta uma agenda alternativa para o desenvolvimento econômico, em que o crescimento é movido pela redução das desigualdades e pelo aumento e melhoria da infraestrutura social

 

capitalismo ajuda economia banco indignados eutana

 

 

O golpe fracassou em construir uma agenda econômica capaz de retomar a trilha do desenvolvimento. Seus ideólogos esperavam que, ao promoverem austeridade fiscal e reformas liberalizantes que reduzem o papel do Estado e enfraquecem os trabalhadores, emitiriam sinais para o mercado, que por sua vez melhorariam as expectativas e promoveriam o crescimento do investimento. Com o crescimento em marcha, seria criado o ambiente necessário para a legitimação do golpe e sua agenda econômica neoliberal nas urnas. Esse plano fracassou e lançou o Brasil em uma crise econômica, social e institucional sem precedentes.

 

A crise econômica brasileira prossegue e as reformas neoliberais já revelam seu viés recessivo e antitrabalhador. Mais grave do que os impactos negativos da crise no presente são as perspectivas negativas para o futuro: com a reforma trabalhista e a limitação do crescimento dos gastos públicos, os direitos sociais, trabalhistas e o financiamento da Previdência Social ficam ameaçados.

 

A agenda econômica golpista: crise, precarização e desigualdade

A economia brasileira cresceu 1% em 2017. Leia mais no Le Monde aqui

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub