A delação que saiu a fórceps e a dinheiro. Muito dinheiro
O falso testemunho de Léo Pinheiro para legalizar os bens aquiridos com a corrupção, ter a grana desbloqueada e ficar livre, leve e solto e nomear o genro presidente da Caixa Econômica
As safadezas de Léo Pinheiro foram historiadas pelos próprios procuradores da corriola da Lava Jato, nas conversas que começaram a ser reveladas pelo The Intercept. Cinco anos da Lava Jato são apagados em menos de 30 dias de reportagens. Lava Jato parece mais uma represa da Vale do Rio que Era Doce. É toda lama tóxica que contamina juízes, procuradores, delatores super premiados, e que pode fechar mais uma indústria, a da delação premiada, e vazar o fundo criado com as multas generosas dos acordos de leniência e safadezas mil, como aconteceu com os secretos 2 bilhões e 567 milhões da Petrobras, depositados no dia 30 de janeiro último em uma conta gráfica na Caixa Econômica Federal de Curitiba. Escreve o jornalista Fernando Brito:
As negociações do acordo de delação de Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da OAS condenado a 16 anos de prisão, travaram por causa do modo como o empreiteiro narrou dois episódios envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A freada ocorre no momento em que OAS e Odebrecht disputam uma corrida para selar o acordo de delação.
Segundo Pinheiro, as obras que a OAS fez no apartamento tríplex do Guarujá (SP) e no sítio de Atibaia (SP) foram uma forma de a empresa agradar a Lula, e não contrapartidas a algum benefício que o grupo tenha recebido.
A abertura da reportagem da Folha (acima) publicada em 1° de março de 2016 ajuda a entender o contexto das mensagens trocadas entre procuradores da Lava Jato divulgadas hoje pelo jornal e que mostram como o executivo da empreiteira foi pressionado a mudar os termos de seu depoimento.
Em setembro daquele ano, Sérgio Moro manda prender outra vez Léo Pinheiro, que tinha sido posto em liberdade depois de ser revelado que a OAS pagara propina a diretores da Petrobras. A razão da prisão, vê-se agora apenas “cobertura”, era uma “obstrução” de Justiça, em outro caso.
No ano seguinte, em abril, finalmente, houve a entrega do “prêmio”: a acusação a Lula.
O timing que preocupava tanto Deltan Dallagnol, para que não parecesse recompensa pela incriminação do ex-presidente, foi cumprido: a pena de Pinheiro foi reduzida de 10 anos e 8 meses para 3 anos e 6 meses, em regime semiaberto.
A mudança nas delações de Pinheiro geraram até uma estranhíssima ação judicial: Adriano Quadros de Andrade, ex-gerente administrativo da OAS, entrou na Justiça do Trabalho, pedindo que a ele também se pagassem as “recompensas” que a empreiteira deu a outros dirigentes para “adaptarem” suas confissões.
Será preciso alguma outra coisa para mostrar que tudo isso foi uma montagem?