A pornografia começou no golpe contra a presidenta Dilma Roussef. Do Congresso partiu para as ruas.
Nada mais escandaloso, abominável, ignominioso, antidemocrático, que o voto do deputado Jair Bolsonaro, no impeachment de Dilma, defendendo o golpe, a ditadura militar de 1964, o coronel Ustra promovido a marechal de contracheque.
Nada mais imoral que um golpe comandado por Eduardo Cunha e outros Bolsonaro da vida de bordel.
O governo da extrema direita de Bolsonaro começou com o golpe eleitoral no Lula, que candidato seria vitorioso nas eleições de 2018, como venceu no primeiro e no segundo turno as eleições de 2022.
O golpe eleitoral da quadrilha da lava jato prendeu Lula, por 580 dias. A quadrilha vai muito bem, obrigado. O juiz Sergio Moro foi ministro de Bolsonaro, ganhou emprego numa empresa de espionagem dos Estados Unidos, e hoje é senador, e a esposa Rosangela Moro deputada federal. O procurador Deltan Dallagnol, empresário, investidor imobiliário, latifundiário, também é deputado federal.
Toda essa gente foi beneficiada pelos governos Temer e Bolsonaro que, com a certeza da derrota nas eleições de 2022, tramou mais um golpe, um golpe anunciado. Disse Bhon Gass de Bolsonaro:
Bolsonaro para derrotar Lula fez de tudo que no presta com suas pec dos negócios particulares, pec do Apocalipse, pec do calote, pec do rachadão, pec do teto complacente, pec kamikaze, pec do desespero, pec das eleições.
Foi um derrame de dinheiro, de um orçamento secreto, terceirizado e paralelo, que na esteira, na acossa, na rabeira, elegeu talvez os piores e já desacreditados deputados da extrema direita, da bancada da bala, inclusive serial killers, idem nazistas, adoradores do bezerro de ouro, e outros que baixam o nível dos discursos de ódio e baixarias.
Durante sessão no plenário da Câmara nesta terça (09), o deputado Chrisóstomo de Moura fez discurso, em tom de ameaça ao ministro da Justiça Flávio Dino: “Rapaz… Tu não tá em Cuba, não, sobrepeso! Vaza do Brasil!”, disse o deputado do PL de Roraima.
Daniel Silveira fez escola. É do mesmo nível e patente:
Finada Lava Jato esquece a pornofia diária de Bolsonaro e faz zoada para abafar o testemunho de Tacla Duran amanhã
Todo profano dia de fala de Bolsonaro no cercadinho do Palácio do Planalto, quando reunia o rebanho, o presidente capitão contava mentiras e baixarias, e a grande imprensa dava uma de surda. Veja seletas (vídeos abaixo) de frases de corar frades de pedra e virgens de hímen rompido. Com os pornôs de Bolsonaro, bentos nas igrejas evangélicas, pela irmã Michelle Bolsonaro despida de joias, jornais e tvs criavam alardes e manchetes. Os discursos e sermões louvando o golpe, e esmagando imaginários comunistas mais perigosos que a corte - disse o papa Francisco = do "diabo que se finge 'educado' e até toca a campainha apresentando-se como amigo, a ponto que o tens em casa sem te aperceberes do mal".
O juiz Eduardo Appio, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, intimou o advogado Rodrigo Tacla Duran para prestar depoimento nesta segunda-feira (27), por meio de videoconferência.
Nos últimos anos, o advogado espanhol denunciou os pedidos de cerca de cinco milhões de dólares em propina do advogado Carlos Zucolotto Junior, amigo íntimo do casal Moro, para ajudá-lo em processos da Lava Jato.
O Jornalista Chico Alves, colunista do UOL, escreve:
O presidente Lula deu nos últimos dias ao senador Sergio Moro (União-PR) todas as condições de terminar a semana como vencedor da disputa pessoal que os dois travam na política. Primeiro, pelo desabafo feito durante entrevista admitindo que, quando estava preso, tinha vontade de "foder" o então magistrado. Mas principalmente por chamar de "armação" o plano do PCC para matar ou sequestrar Moro, descoberto pela Polícia Federal, subordinada ao seu ministro da Justiça e Segurança Pública.
Como a coluna registrou, ao fazer acusação sem provas contra o senador — duvidando indiretamente da PF —, Lula marcou um dos maiores gols contra de toda sua trajetória política. Deu a deixa para Moro atacá-lo e fez dele vítima em dose dupla, tanto da ameaça do crime organizado quanto da leviandade de sua suspeita desprovida de base.
Desde a fala sobre "armação", Lula vem recebendo todo tipo de críticas, que vão das justificadas até aquelas exageradas, que comparam sua declaração com os piores momentos do bolsonarismo — como se as baixarias de Jair Bolsonaro e seus asseclas não fossem resultado de uma gigantesca e permanente estratégia de destruir reputações, algo muito diferente de uma rara fala condenável em que Lula usou o fígado para tratar de seu desafeto.
Nos últimos dias, por causa da incontinência verbal do petista, o lavajatismo saiu do túmulo e se juntou ao bolsonarismo para desancar o presidente.
O jogo estava bastante desfavorável para Lula. Até que ontem Sergio Moro jogou contra o patrimônio: também marcou um gol contra memorável.
Por conta da divulgação de que uma das contas de email investigadas entre as várias que serviram de ponto de partida para desbaratar o plano do PCC tinha o endereço lulalivre1063@icould.com, o senador jogou nas suas redes sociais uma suspeição irresponsável.
"Gostaria de entender por que um dos criminosos do PCC, investigado no plano de sequestro e assassinato, utilizava como endereço de email lulalivre1063?", questionou.
A acusação indireta de parceria entre PT e tráfico foi endossada por Deltan Dallagnol, fiel escudeiro de Moro — que, de quebra, requentou a lorota bolsonarista sobre a ida de Flávio Dino à favela da Maré:
"Finja surpresa: membro do PCC usava email 'lulalivre'. Em áudio que divulguei dia 22, PCC reclamou de Moro porque com ele não tinha conversa, enquanto com o PT tinha. Não surpreende também que o Ministro da Justiça de Lula entre livremente em área dominada pelo crime organizado", acusou Deltan.
A própria polícia explica que os integrantes do PCC usavam emails de terceiros para despistar. Assim como o fato de a juíza Gabriela Hardt tratar do caso das ameaças ao ex-juiz não dá a Lula o direito de dizer o que disse, o aparecimento de endereço eletrônico com o nome do presidente no meio da investigação é obviamente insuficiente para justificar qualquer suspeita infundada de Moro e Dallagnol. Mas nenhum dos dois levou isso em consideração antes de atacar o PT.
Com essa desprezível intriga, Moro marca a semana não apenas por ser vítima de um plano do PCC e passa também à lamentável categoria dos parlamentares que fazem politicagem com qualquer coisa — inclusive com eventuais desventuras.
Tanto a acusação leviana de Lula quanto a ilação inconsequente de Moro, rebaixam a já desvalorizada política nacional. Mas não é um empate.
O petista sempre poderá argumentar que tem motivos de sobra para ressentimento contra o ex-juiz que, em processo sem provas e recheado de ilegalidades, o obrigou a ficar 580 dias na prisão e entregou o país de bandeja para Bolsonaro.
Já Moro não explicou ainda a fixação que tem por Lula desde 2014 e que agora o faz perder o controle da situação.
Cientistas políticos parecem não dar conta. Talvez seja o caso de recorrer a Freud.
247- O Ministério Público Federal (MPF) pediu nesta quinta-feira (3) a abertura de um inquérito policial contra Nelson Piquet, por declarações antidemocráticas contra o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o processo eleitoral brasileiro. O MPF pediu que Piquet seja investigado sobre possível incitação pública a crime e ao conflito entre as Forças Armadas e os poderes constituídos. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Piquetdefendeu a morte do ex-presidente e falou em botar "Lula lá no cemitério".
De acordo com aCNN Brasil, o procurador Paulo Roberto Galvão de Carvalho afirmou que "as declarações proferidas por Nelson Piquet, em análise preliminar, aparentam não se limitar a meras expressões de opinião a respeito do governo eleito – situação em que seriam constitucionalmente asseguradas -, podendo constituir de forma concreta formas de incitação dirigida à população em geral, voltadas tanto à prática de violência contra o candidato eleito, assim como à animosidade entre as Forças Armadas e os poderes constituídos".
"Nessa linha, há fortes elementos extraídos das circunstâncias em que foram proferidas as declarações que autorizam a necessidade de investigação dos fatos", disse o procurador.
"Em segundo lugar, tratando-se de pessoa de notoriedade pública, também deveria ser sabido que as declarações teriam o potencial de alcançar centenas de milhares de pessoas, como de fato o fizeram. Em terceiro lugar, e como já exposto, as declarações teriam sido proferidas no bojo de manifestações em que parcela dos participantes de fato demandava a não admissão do governo eleito, inclusive com a formulação de pedidos de intervenção às Forças Armadas", continuou.
"Portanto, era facilmente deduzível ao representado que suas declarações poderiam – como ainda podem – realmente incitar a prática de atos concretos de violência contra o governante eleito ou contra o governo eleito", acrescentou.
O ex-piloto brasileiro Nelson Piquet, de 70 anos, participou das manifestações bolsonaristas contra a derrota de Jair Bolsonaro (PL) na disputa à reeleição. Um vídeo do tricampeão mundial de Fórmula 1 ao lado de um apoiador do presidente começou a circular nas redes sociais na tarde desta quarta-feira. "Vamos botar esse Lula filho de uma p* para fora disso", diz Piquet no vídeo. Ao fim da gravação, o eleitor de Bolsonaro repete o lema nazista do presidente, "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", e o ex-piloto completa a frase dizendo "E o Lula lá no cemitério, filho de uma p*."
Piquet fez uma doação de R$ 501 mil para a campanha de Bolsonaro. A informação, registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), veio a público no fim de agosto, transformando o ex-piloto e empresário no maior doador "pessoa física" do presidente à época.
Ainda em agosto, a empresa de Piquet, a Autotrac Comércio e Comunicações, recebeu um aditivo de cerca de R$ 6,6 milhões, correspondente a um contrato assinado em 2019, sem licitação, com o Ministério da Agricultura. O favorecimento veio apesar de a empresa dever impostos.
[Para avaliar quão Piquet é capacho, desleal, desonesto e praguejador, leia:]
NELSON PIQUET PAPARICA BOLSONARO EM MEIO A RISCO DE PERDER NEGÓCIO COM GOVERNO FEDERAL
Condenação de empresa do ex-piloto em processo tributário coloca em perigo contrato milionário com o Inmet
O EX-PILOTO NELSON PIQUET,tricampeão mundial de automobilismo na década de 1980, se tornou mais conhecido nos últimos tempos pelas manifestações toscasem defesa do governo e das pautas de Jair Bolsonaro.O ápice do alinhamento de Piquet ocorreu em 7 de setembro passado, quando ele se prestou ao papel dechofer no passeio no Rolls-Royce presidencialcom que Bolsonaro abriu o dia de manifestações contra a democracia, em Brasília.
Piquet é eleitor de Bolsonaro desde o primeiro turno, em 2018. Naquele ano, foi aplaudido e chamado de “mito” durante uma reunião da área comercial da empresa que preside, a Autotrac, quando disse, para risos da plateia: “Quem é o viado aqui que vai votar nesse PT?”.
Ele também gravou vídeos de apoio para candidatos bolsonaristas. “Tereza Cristina, nós estamos esperando você aqui em Brasília para ajudar o Bolsonaro a botar esse país em ordem, viu?”,ele pediu, se dirigindo à política do DEM de Mato Grosso do Sul que se elegeu deputada federal, mas nem assumiu o cargo — foiconvocada a ser ministra da Agricultura ainda em fins de 2018.
Tido como um piloto cerebral e disposto aatitudes antidesportivas para vencer nas pistas, Piquet, atualmente empresário, tem bons motivos para paparicar Bolsonaro. Uma de suas empresas, a Autotrac, travou uma batalha legal contra a União ao longo de mais de uma década. Ela terminou em maio passado, e a Autotrac perdeu: o Superior Tribunal de Justiça, o STJ, acondenou a pagarcontribuições previdenciárias que deixou de recolher. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, a PGFN, então,enviou ofício à Receita Federalinformando sobre a decisão e determinando que o órgão, subordinado ao Ministério da Economia, cobrasse a dívida da Autotrac.
Sem esperanças nos tribunais, a Autotrac, uma fornecedora de serviços de rastreamento via satélite de caminhões de que Piquet épresidente e garoto-propaganda, se vê ameaçada não apenas de ter que arcar com uma dívida grande, como também de perder umcontrato de R$ 3,5 milhões anuaiscom o governo federal, firmado sem licitação em 2019, no início do governo Bolsonaro. Mais especificamente, com o Instituto Nacional de Meteorologia, o Inmet, subordinado ao ministério comandado por Tereza Cristina.
A dívida tributária da Autotrac é mantida em sigilo pelas autoridades, mas é razoável estimar que é grande: a empresa deixou de pagar contribuição previdenciária sobre uma série de direitos de seus funcionários (são mais de 300, atualmente) ao menos desde 2011.
Após a condenação, o STJ enviou intimação à Receita Federal. Com isso, o órgão irá enviar carta-cobrança à empresa, na qual irão constar o valor da dívida e as condições de pagamento. Caso a Autotrac não pague ou opte por negociar, a Receita Federal inicia um processo de execução fiscal e inclui o débito na Dívida Ativa da União. Se isso ocorrer, a empresa de Piquet não poderá renovar nenhum dos contratos que mantém com entes públicos, inclusive o que tem com o Inmet — o único, atualmente, com o governo federal.
Por ser uma sociedade anônima, a Autotrac é obrigada a publicar balanços e divulgar seu faturamento, auditados pela consultoria Deloitte. Na mais recente assembleia geral, em março, a companhia informou que o lucro líquido apurado em 2020 foi de R$ 61,7 milhões. Por ser dono de 75,8% das ações da Autotrac, Piquet receberá da empresa a maior parte dos dividendos distribuídos por ela, que esse ano somam R$ 50 milhões.
Mas o contrato com o Inmet certamente não é desprezível: garante pagamentos de R$ 295 mil todo mês à empresa e prevê renovações seguidas e anuais até 2026. A próxima será discutida no vencimento do acordo, em 29 de novembro — ou seja, em menos de 60 dias.
Dá para entender a angústia de Piquet.
O Rolls Royce presidencial, com Piquet ao volante, no 7 de setembro: episódio mais recente da bajulação explícita do ex-piloto ao presidente de extrema direita. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Contrato sigiloso, dívida monumental
A inexigibilidade de licitação é permitida pela lei em casos específicos — por exemplo, quando a empresa contratada não tem concorrentes no mercado. Mas não é possível saber o motivo da dispensa de concorrência. O processo foi classificado como restrito no sistema do Ministério da Agricultura e, por isso, os documentos que embasam a dispensa de licitação não são públicos. Os contratos até estão disponíveis na página de transparência do site do Inmet, mas omitem os nomes dos representantes da empresa contratada.
A Autotrac foi condenada a pagar contribuições previdenciárias sobre o décimo-terceiro salário proporcional, aviso prévio indenizado, horas extras, adicionais noturno, de periculosidade, de insalubridade e de transferência. A empresa deixou de recolher esses tributos em 2011, quando ajuizou a primeira ação esperando escapar do pagamento deles.
Com o passar do tempo — e dos recursos judiciais — o caso chegou ao STJ, que o julgou em maio. Decisões monocráticas como a do ministro Gurgel de Faria nesse caso só são habituais, no STJ, em questões sobre as quais exista jurisprudência pacificada — ou seja, em que a corte tenha um entendimento sólido e convergente sobre a questão.
Os advogados da Autotrac podem questionar a decisão do STJ no Supremo Tribunal Federal. Mas, para isso, seria necessária uma nova ação judicial que questione a contribuição previdenciária em si. Ela não teria, contudo, o efeito de suspender os débitos que já existem. Um integrante do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o Carf, tribunal administrativo ligado ao Ministério da Economia, comentou o assunto sob a condição de sigilo e me explicou que o cálculo de uma dívida do tipo depende basicamente de dois fatores: o tempo decorrido sem recolhimento e o tamanho da folha de pagamento da empresa.
O valor da dívida pode chegar às centenas de milhares de reais, uma vez que a Autotrac possui mais de 300 funcionários e ficou sem recolher as contribuições durante quase 11 anos. Questionei a PGFN, que me respondeu apenas que “tal valor será calculado pela Receita Federal e discriminado no momento do lançamento”.
A Receita irá retomar a cobrança agora que foi intimada da decisão judicial, abrindo prazo de 30 dias para pagamento ou parcelamento da dívida. No entanto, o ofício da PGFN enviado à Receita Federal em 18 de agosto — três meses após a decisão do STJ — indica que a retomada da cobrança ainda não havia ocorrido. Amparada no artigo 198 do Código Tributário Nacional, que prevê o sigilo fiscal do contribuinte, a Receita Federal não informou o valor da dívida e me disse que não comenta casos específicos.
Para estar apta a renovar o contrato com o Inmet em novembro, a Autotrac precisará apresentar uma certidão negativa de débitos relativos aos tributos federais e à Dívida Ativa da União, atestando que a empresa não deve impostos ao governo federal. Durante os anos em que questionou os débitos tributários na justiça, a Autotrac assinou contratos públicos apresentando uma certidão positiva com efeitos de negativa, o que significa que ela tinha uma dívida com a União sob disputa judicial. Agora que o caso foi encerrado e a empresa foi condenada, não será mais possível enquadrá-la nessa categoria.
No meio tempo, uma esperança surgiu no horizonte. Mesmo que a Autotrac seja inscrita na Dívida Ativa da União, contará com condições favoráveis para quitar o débito. Em 22 de setembro, oDiário Oficial da União publicou portaria da PGFNreabrindo o prazo para adesão ao Programa de Retomada Fiscal, instituído em setembro de 2020 como forma de estimular empresas afetadas pela pandemia a quitarem suas dívidas com o governo.
Piquet esteve com Bolsonaro no 7 de setembro e em abril passado, levado ao Palácio da Alvorada por Luciano Hang, o véio da Havan.
A modalidade de transação extraordinária, acessível mesmo a empresas que não sofreram com a pandemia, prevê o pagamento de uma entrada correspondente a apenas 1% do total da dívida, dividida em até três vezes. O restante do valor — no caso de débitos previdenciários — pode ser parcelado em até 60 vezes, ou seja, em cinco anos. Conforme as regras definidas na Portaria 11.496, empresas inscritas na Dívida Ativa da União até 30 de novembro deste ano poderão aderir ao programa até 29 de dezembro.
Ter a Receita Federal sob controle, convém lembrar, está entre as prioridades de Jair Bolsonaro. O órgão é parte relevante nas investigações sobre transações suspeitas envolvendo os filhos parlamentares Flávio e Carlos, as ex-mulheres Ana Cristina Valle e Rogéria Bolsonaro e ex-funcionários dos gabinetes da família.
Em agosto, Bolsonaro publicou um decreto em que afrouxou os critérios para a nomeação de corregedor do órgão, abrindo espaço para a indicação de um auditor fiscal aposentado que é o preferido do senador Flávio Bolsonaro, do Patriota do Rio, para o cargo.Segundo o Valor, Dagoberto da Silva Lemos participou em julho de uma reunião com Flávio e Jair Bolsonaro para discutir sua futura atuação como corregedor da Receita.
Piquet, também ansioso por uma solução da Receita para os problemas da Autotrac, certamente teve tempo para explicá-los ao presidente — não apenas em 7 de setembro, mas já desde abril, quando o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, o levou para umavisita dominicalao Palácio da Alvorada.
Procurei Piquet e a Autotrac desde 27 de setembro para que dessem explicações sobre o caso narrado nesta reportagem. Enviei três e-mails e falei ao telefone três vezes com a assessoria de comunicação, mas não tive qualquer resposta. Enquanto isso, Piquet se tornou alvo de memes na internet, que o compararam até a motorista do Uber presidencial. Mas que importa aparecer como lacaio do presidente, afinal, se isso pode valer a solução de um grande pepino tributário e a renovação de um contrato polpudo? [Publicado in 4 de Outubro de 2021]
O presidente Bolsonaro e o ministro Tarcísio de Freitas trafegam pela Ponte de Abunã, na BR-364/RO, sem capacete e escoltados pela PRF. Foto: Divulgação/Palácio do Planalto. Quem paga essa farra, inclusive os serviços do fotógrafo?
Para a juíza Tamara Matos, “agressões e ameaças vindas do réu, que é nada menos do que o Chefe do Estado, encontram enorme repercussão em seus apoiadores, e contribuíram para os ataques virtuais e até mesmo físicos que passaram a sofrer jornalistas em todo o Brasil, constrangendo-os no exercício da liberdade de imprensa, que é um dos pilares da democracia
por Marco Weissheimer
Aos poucos, começam a aparecer algumas condenações do presidente da República, Jair Bolsonaro, porfalas de ódioe preconceito dirigidas por ele contra jornalistas. A 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) manteve por quatro votos a um, no dia 29 de junho, a condenação ao presidente Jair Bolsonaro, por ofensas dirigidas à repórter Patrícia Campos Mello, do jornalFolha de S. Paulo. O valor final da multa foi elevado de R$ 20 mil, decisão em primeira instância, para R$ 35 mil.
Bolsonaro já havia sido condenado em 2021, em primeira instância, após usar a expressão “furo”, um jargão jornalístico, com conotação sexual. Entre outras coisas, o presidente da República afirmou que a repórter queria “dar o furo” para obter informações. A jornalista Patrícia Campos Mello publicou reportagens sobre um esquema de disparo de mensagens em massa contra o PT para favorecer Bolsonaro nas eleições de 2018. Após essas reportagens, a jornalista passou a ser alvo de mensagens de ódio e ameaças vindas de apoiadores de Jair Bolsonaro.
No dia 7 de junho, a juíza Tamara Hochgreb Matos, da 24ª Vara Cível da Comarca de São Paulo, determinou que Jair Bolsonaro pague R$ 100 mil de indenização por ataques a jornalistas. Foi a primeira vez que um presidente da República em exercício foi condenado pela Justiça por dano moral coletivo à categoria. A ação foi iniciada no dia 7 de abril do ano passado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Para o coordenador da entidade, Raphael Maia, “esta é uma vitória enorme para os jornalistas e para o movimento sindical brasileiro: não conheço algum caso semelhante em que uma entidade sindical conquistou uma condenação por dano moral coletivo de uma categoria a um presidente da República em pleno exercício do mandato”.
Para a juíza Tamara Matos, “agressões e ameaças vindas do réu, que é nada menos do que o Chefe do Estado, encontram enorme repercussão em seus apoiadores, e contribuíram para os ataques virtuais e até mesmo físicos que passaram a sofrer jornalistas em todo o Brasil, constrangendo-os no exercício da liberdade de imprensa, que é um dos pilares da democracia”. Ela acrescentou:
“Ao ofender a reputação e a honra subjetiva de jornalistas, insinuando que mulheres somente podem obter um furo jornalístico se seduzirem alguém, fazer uso de piadas homofóbicas e comentários xenófobos, expressões vulgares e de baixo calão, e pior, ameaçar e incentivar seus apoiadores a agredir jornalistas, o réu manifesta, com violência verbal, seu ódio, desprezo e intolerância contra os profissionais da imprensa, desqualificando-os e desprezando-os, o que configura manifesta prática de discurso de ódio, e evidentemente extrapola todos os limites da liberdade de expressão garantida constitucionalmente”.
A repercussão que a violência verbal de Bolsonaro encontra entre seus apoiadores e as repercussões desse clima em atos de violência acabam se materializando na vida cotidiana do país. Em um artigo publicado em 2018, o antropólogo Luiz Eduardo Soares antecipou o que estava por vir a acontecer no Brasil. Soares lembrou nesse artigo que grande parte de nossas vidas é regida pelo que é invisível – emoções, afetos, expectativas, desejos, memórias, fantasias. Na política, não é diferente. Ele argumentou: “Não é preciso incluir no programa de governo referências a um plano de extermínio, não é preciso apresentar publicamente um programa genocida. Não é necessário exaltar a violência e o preconceito, ou incitar o ódio, explicitamente – ainda que isso tenha sido feito. O que põe em circulação a barbárie não está nos argumentos racionais da candidatura ou em suas propostas de políticas públicas. A mensagem já foi passada à sociedade. E a mensagem se resume a uma autorização. Autorização à barbárie. A morte foi convocada. A barbárie está autorizada. O horror saiu do armário”.
Além das condenações já proferidas na Justiça brasileira e das denúncias feitas contra Bolsonaro em tribunais internacionais, outras iniciativas semelhantes começam a aparecer dentro e fora do país. Ricardo Henrique Rao, indigenista especializado da Funai, que, para não ser morto, saiu do país em 2019, está ajudando a articular em Roma uma campanha para responsabilizar Bolsonaro pela morte de cidadãos brasileiros que também têm cidadania italiana, durante a pandemia de covid-19. A violência verbal e o posicionamento negacionista de Bolsonaro durante a pandemia já chegaram aos tribunais, para não falar de outras práticas do atual presidente brasileiro. [Publicado em 11 de julho de 2022]
Quantas palavras de baixo calão, referências homofóbicas, piadas misóginas e menções racistas não saem todos os dias da boca de Bolsonaro, em dissonância com a imagem que ele tenta vender de chefe de família exemplar, defensor dos bons costumes, religioso ao ponto de ter sido batizado nas águas do rio Jordão, em Israel.
Local de milagres, o rio Jordão foi cenário para diversas histórias da narrativa bíblica. Ali, Bolsonaro, em 2016, quando já plantava as sementes de sua futura candidatura a presidente, foi batizado pelo pastor Everaldo, então presidente nacional do PSC, partido ao qual ele era filiado. O pastor foi preso depois por corrupção.
O que causa perplexidade é que condutores do rebanho evangélico, a parcela mais fiel do eleitorado de Bolsonaro, responsável pelo segundo lugar que ele ocupa nas pesquisas de intenção de voto, não o censurem, por mais que ele se renda aos seus instintos mais primitivos. Nessas ocasiões, fazem de conta que não o escutam.
A religião evangélica está repleta de pastores picaretas, apenas interessados em enriquecer, que acenam com uma vaga no céu em troca do dinheiro alheio. Mas não dá para medir por seu comportamento falso e criminoso a sinceridade da fé que move os que lhe dão ouvidos e acreditam em suas palavras.
Disso eles se valem para construir fortunas; disso se valem também Bolsonaro e seus filhos para se manter no poder, e prosperar nos diversos ramos que exploram com base nas posições conquistadas. Flávio gosta mais de votos e conforto; Eduardo, de armas, cassinos, cursos digitais. Jair Renan é um aprendiz.
Nascida em família de baixa renda, Michelle, a quarta mulher de Bolsonaro, o conheceu na Câmara como servidora pública. À época, Bolsonaro padecia do mal de ter sido traído. Entre tapas e beijos (isso é só força de expressão), os dois souberam atravessar anos difíceis até que as portas do céu se lhes abriram.
Depois de muitas vezes comer pão amargo (outra força de expressão), Michelle provou do mel (mais uma força de expressão) de tornar-se a primeira-dama de um dos maiores países do mundo. E quem prova do mel nunca mais quer abrir mão de bebê-lo. Se tiver que abandonar a discrição, é o preço a ser pago.
Ele também ameaçou, em 2019, um PM que pediu o namorado em casamento com a farda
Por Julinho Bittencourt /Forum
O vereador bolsonaristaAnderson Alves Simões(Avante), de Mauá (SP), divulgou em suas redes na semana passada um vídeo em que ameaça o ex-presidenteLuiz Inácio Lula da Silva(PT) com uma arma.
O bolsonarista imitou ovídeo do deputado federalJunio Amaral(PL-MG). O parlamentar criticou um vídeo do petista em que ele sugere fazer um mapeamento das casas dos deputados, “conversar com a mulher dele, conversar com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele”, ao invés de fazer protestos em frente ao Congresso.
“Oi, Lula. Tudo bem? Estava aqui em casa, tomando café com minha família, nós vimos um vídeo seu falando para visitar os deputados federais, deputado federal tem família. Eu sou vereador, pré-candidato a deputado federal em São Paulo. Eu queria te convidar, convidar seu povo, para vir aqui em casa tomar um café comigo. Você eu sei que até esses dias morava em Curitiba, nas sela (sic) da Polícia Federal, não é isso? Agora a gente não sabe onde você mora. Fala para mim onde você mora. Eu quero visitar você aí também. Tomar um café com você. Vai ser um prazer te receber aqui em casa ou ir na sua casa tomar um café com você, tá bom? Tamo junto, Lula. Sou o Sargento Simões, tá?”, disse ele enquanto carregava uma pistola e segurava um rifle.
Sargento Simões, como é conhecido, teria atacado via redes sociais o policial após saber do pedido, feito próximo a uma base da PM em São Paulo. Entre palavras de baixo calão, o sargento disse que iria caçar o soldado e "ensiná-lo a virar homem na porrada, seu filha da p*** do c******".
Por Guilherme Amado, no Metrópoles -A cassação do mandato do deputado estadual Arthur do Val perdeu força nos corredores da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O ex-integrante do MBL não escapará de uma punição, mas as consequências para ele devem ser mais brandas.
Deputados da base governista e da oposição afirmam que Arthur poderá ter o mandato suspenso por um período de seis a oito meses. Apesar de encerrar a atuação legislativa do deputado, a pena preservaria os seus direitos políticos. Já a cassação do mandato tornaria Arthur inelegível por oito anos.
Procurado, o advogado do deputado, Paulo Bueno, disse que “a cassação de Arthur do Val é inviável juridicamente e os precedentes da própria Alesp demonstram isso”.
COPROFAGIA
O áudio sobre as ucranianas foi gravado para um grupo de amigos no WhatsApp e o conteúdo foi revelado pela coluna do Lauro Jardim, no O Globo. O deputado diz que contou o número de mulheres bonitas na alfândega e diz que vai voltar ao Leste Europeu quando a guerra acabar.
“Mano, eu juro pra você, eu contei: são 12 policiais deusas. Mas deusas que você casa e faz tudo que ela quiser. Assim, eu tô mal. Eu não tenho nem palavras para expressar”, declara no áudio.
Em outro trecho, faz uma comparação entre as ucranianas e as brasileiras. “Se você pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”, afirma o deputado.
Não sou filólogo, tampouco linguista. Mas, vivi o suficiente para observar que palavras entram e saem da moda; mudam ou assumem significados diversos de apreço ou desapreço, dependendo do contexto.
Quando fui me tornando gente, meu pai e minha mãe, embora liberais, cuidavam da nossa personalidade em formação com rigidez. Dizia ela: “se não tomar chá em pequeno, não desentorta e será sempre mal-educado”. Ensinavam a respeitar e pedir a bênção aos mais velhos (não precisava ser parente); ceder lugar, inclusive, às mulheres (arriscado, hoje, a levar uma reprimenda); não interromper quem estivesse falando e o irrenunciável mandamento: cultivar fraterna solidariedade com os mais humildes.
Provavelmente, não fui um aluno tão diligente por minha culpa, minha máxima culpa. Porém, a mais séria ameaça surgiu quando usei a palavra sacana. O mundo veio abaixo: “dobra língua e se repetir palavrão boto um ovo quente na sua boca”. Sei que ela jamais cumpriria. Em compensação, pelo menos nos limites da casa, era um menino de boca limpa.
Na rua, as coisas mudavam de figura; no campo de pelada o “palavrão” que não significa apenas palavra grande, mas palavra obscena que corria solta: “filho da puta, porra, puta que pariu, vá tomar no… prefiro não escrever. O leitor compreenderá.
Com o tempo, as coisas foram mudando, os costumes e a linguagem também. Hoje um estádio inteiro saúda a mãe do juiz ou o manda para o mais recôndito órgão do corpo humano. Porra virou vírgula ou exclamação, entre moças rapazes, e “carai” uma espécie de ponto final usado pela geração Z.
Estas breves considerações vêm a propósito do “caguei” do Presidente Bolsonaro, expressão chula e afrontosa que ele usou para responder às perguntas da formuladas pela Comissão Parlamentar de inquérito do Senado sobre questões suscitadas nos interrogatórios.
Não vou citar o variado repertório ferino e golpista que ele tem utilizado largamente. Desta vez, o ato escatológico dirige-se a um dos Poderes Constitucionais do Brasil. Vai além do “palavrão”, é um desrespeito ao decoro republicano ao revelar, como já revelado em outras ocasiões, grave desprezo pelas Instituições Democráticas.
CARTA PÚBLICA DA CAMPANHA #MOROMENTE feita pela ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia)
O Brasil vive uma crise institucional sem precedentes.
Um governo eleito no pleito mais controverso da história, com perfil explicitamente autoritário, neoconservador e fundamentalista religioso, impondo retrocessos vertiginosos a direitos e conquistas democráticas, atuando por meio de decretos e medidas provisórias como forma de consolidar um projeto antipopular e antinacional.
Um governo liderado por um Presidente que constrange o seu povo diariamente, das mais diversas formas, envergonhando a todos com preconceitos incontidos, palavras chulas e desconcertantes, violentando o acúmulo de civilidade conquistado com muita luta social.
Bolsonaro planeja destruir os espaços de participação social, projeta interferir na autonomia escolar e universitária, decide dilapidar o patrimônio ambiental e multicultural, aposta em arruinar as relações com outras nações. Mais que isso, orgulha-se em servir aos interesses de outra nação e projeta raiva, ódio e discórdia entre o povo brasileiro.
No centro deste deprimente retrato, está o sistema de justiça, setores do Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal emparedados diante das evidencias espantosas que demonstram o cometimento de crimes contra a democracia e a soberania nacional.
O Brasil tornou-se famoso pela utilização do sistema de justiça com fins alheios ao devido processo legal. Algo que já era percebido e denunciado por juristas , mas que agora revela-se nas minúcias.
Documentos obtidos pelo jornalista Glenn Greenwald e sua equipe confirmam a desconfiança de todos nós, juristas, de que a força-tarefa anticorrupção serviu para maquiar a interferência política e a desestabilização democrática por intermédio de procedimentos judiciais supostamente legítimos, uma espécie de “lawfare à brasileira”. Sob o pretexto de combater a corrupção a qualquer preço, procuradores e juízes violaram leis processuais e garantias constitucionais, como a presunção de inocência.
Mas as revelações são muito mais graves. Os procuradores da Lava Jato, hipervalorizados pela mídia hegemônica, com o tempo conquistaram poderes e competências excepcionais para criar uma força-tarefa especial, atraindo para uma só repartição judicial, na cidade de Curitiba, processos judiciais que não deveriam originalmente ser julgados ali. Desta forma esses processos, forçosamente conexos, foram submetidos a um mesmo juiz.
Foi assim que Sergio Moro se consagrou herói nacional, legitimando-se como saneador da corrupção sistêmica, centralizando todos os processos e desfrutando de popularidade jamais vista na magistratura.
O estilo do juiz de primeiro grau sempre foi singular, destoando da discrição recomendada pela lei da magistratura. A extravagância de comparecer a eventos sociais e premiações, além de sua forte presença nos meios de comunicação, produziu grande poder midiático e o constrangimento das demais instâncias do judiciário, em parte inebriadas pela comoção popular midiaticamente forjada, em parte convencida das mentiras comunicadas por aquele que, subterraneamente, atuava na chefia de um conluio entre colegas do Judiciário e membros do MP e da PF.
Esse alinhamento entre a instância judicial de Curitiba, a mídia empresarial e a opinião pública criou condições para que a lei penal fosse aplicada de forma cada vez mais arbitrária. Exemplo são as chamadas “conduções coercitivas”, transformadas em espetáculos midiáticos, e as longuíssimas prisões preventivas a fim obter delações premiadas que, espelhada no modelo estadunidense, foram negociadas com ampla margem de liberdade e abuso pelos acusadores. Acrescenta-se ainda que a mídia empresarial obtinha semanalmente informações privilegiadas de inquéritos e processos sigilosos, vazados criminosamente por agentes públicos que estavam obrigados a protegê-las, o que era utilizado para a construção de um clima manipulado de indignação pública.
Os processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como exemplo, foram os mais violentos e midiáticos, sendo em tudo excepcionais: nos prazos, na prisão antecipada, no uso de provas e testemunhas, e nas negativas aos direitos políticos e civis, desrespeitando até mesmo decisão obrigatória das Nações Unidas.
Os diálogos divulgados sugerem que o juiz Moro orientava clandestinamente os trabalhos da acusação, chefiando e subordinando os procuradores, o que contraria a Constituição brasileira, que obriga a imparcialidade dos magistrados. Aquele que acusa não pode ser o mesmo que prolata a sentença, e o juiz/acusador Moro atuou ao mesmo tempo em um dos lados do processo, o que é uma violação primária do Direito.
O conjunto de informações reveladas até o momento confirma o que os juristas pela democracia já sabiam desde muito: que no Brasil uma trama complexa e perversa sequestrou a autonomia e a independência do Poder Judiciário.
Esse conluio comprometeu o destino político do Brasil desde 2016 e talvez muito antes. Num cenário de crise econômica e desestabilização política, as eleições presidenciais de 2018 foram, em grande medida, também decididas pela Lava-Jato e pelo juiz Moro, abrindo espaço para a eleição de Jair Bolsonaro, que posteriormente premiou o juiz que condenou Lula, fazendo dele seu Ministro da Justiça.
A campanha #MoroMente busca explicar à sociedade brasileira as consequências para a justiça quando um magistrado assume um dos lados do processo, desequilibrando a balança para condenar previamente adversários e desafetos políticos. A campanha também visa conscientizar sobre os riscos que a democracia corre quando o povo é enganado por fake news e pelo uso arbitrário e perverso do direito.
É com este compromisso que a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), entidade jurídica criada para defender o Estado Democrático de Direito, vem a público dizer, em alto e bom som: Moro Mente! Mentiu como juiz, mentiu como Ministro.
É com a disposição de reestabelecer a verdade dos fatos que a ABJD cobra dos poderes constituídos respostas à sociedade. Não aceitaremos que se naturalizem os graves fatos revelados como se lícitos fossem.
Esperamos: Que o Parlamento constitua CPIs para averiguar responsabilidades e eventuais crimes cometidos por servidores públicos; que sejam verificadas as condições contratuais dos acordos de leniência de empresas estatais e nacionais no contexto da Lava Jato; que sejam tornadas públicas as investigações e os documentos que protegem autoridades que participaram do conluio entre MP e judiciário; que sejam correicionados os juízes que atuaram contrariamente à lei, violando o princípio basilar da imparcialidade e as garantias do devido processo legal. Que seja devolvido ao povo brasileiro a confiança no poder judiciário contaminado pela corrupção funcional e pela mentira.
Ninguém está acima da Lei e a verdade histórica prevalecerá
Com relação a Moro nós fizemos duas representações no CNJ:
1) Quando ele impediu o cumprimento do HC do Lula em julho de 2018
2) Quando ele aceitou o cargo de Ministro sendo juiz, em dezembro de 2018
Com relação a Dallagnol fizemos 3 representações:
1) sobre as palestras em fevereiro de 2018
2) Sobre a Fundação Lava Jato em maio de 2019 (e fizemos junto com a AJD uma carta à PGR pedindo providências)
3) Sobre as revelações do The intercept em julho de 2019
Ninguém mais tem o direito de desconfiar de que o Brasil está se tornando um pária no mundo, seja pelas escolhas do governo em matéria de política externa, seja por sua atuação em organismos e fóruns multilaterais, seja por sua política ambiental, seja pelo incentivo à barbárie cultural, à estupidez e à ignorância mais rombuda.
Tudo isso se conjugou nesta quinta no discurso do chanceler Ernesto Araújo durante solenidade de formatura no Instituto Rio Branco. Os formandos escolheram como patrono o diplomata e poeta João Cabral de Melo Neto, que morreu em 1999.
É o autor do célebre poema "Morte e Vida Severina", de 1955, que virou peça de teatro em 1966, com música de Chico Buarque. É, sim, uma obra de crítica social, mas já então a artesania do verso se mostrava evidente num texto que trata das mazelas da seca e das "vidas severinas" que a tudo suportam em busca de alguma transcendência — a esperança que seja.
João Cabral nunca foi esquerdista ou escreveu obra de militância. Ao contrário: parte da crítica engajada apontava o seu alheamento das questões políticas e seu suposto apego excessivo ao formalismo. É preciso ser um tarado ideológico, dotado de uma ignorância profunda, para apontar viés esquerdizante na sua poesia.
Ainda que houvesse, pergunta-se: e daí? Isso impede a boa obra? Arte e política não costumam formar uma mistura tranquila, tampouco eficaz. Assim como as revoluções não geram necessariamente boa poesia, é uma tolice supor que poesia possa fazer revolução, embora, por óbvio, a arte se deixe marcar por seu tempo. Mas aquela que permanece transcende as disputas mundanas.
João Cabral foi um poeta gigantesco, seja pelo rigor formal, seja pela dimensão humana, transcendente e, a seu modo, metafísica da obra, que passou longe de vulgatas do pensamento de esquerda ou de direita. Toda arte carrega, é evidente, valores ideológicos intrínsecos, mas estes não são o desiderato do discurso artístico.
Acontece que o olavista — discípulo do astrólogo Olavo de Carvalho — Ernesto Araújo não passa de um prosélito medíocre e de um recém-convertido ao pensamento de extrema direita. Então as brutalidades que o seu mestre consegue sigilar num discurso mais elaborado — quando não está dedicado a proferir palavrões e a fazer digressões sobre o orifício excretor alheio —, ele o faz de modo grosseiro, extravasando a sua ignorância arrogante.
O pêndulo de Bolsonaro vinha se deslocando para o centro, ainda que muito distante dele. Para os acordos com o Centrão, a conversa vale. Mas é evidente que decidiu que é chegada a hora de fazer concessões a seus soldados de extrema-direita. O ataque à vacina do Instituto Butantan é um sinal para juntar a tropa. E o mesmo se diga do discurso de Araújo.
O chanceler resolveu deixar claro como Brasil vê o mundo e como nele se vê, com ataques à ONU e, claro, genuflexão no altar de Donald Trump. Afirmou:
"Nos discursos de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, por exemplo, os presidentes Bolsonaro e Trump foram praticamente os únicos a falar em liberdade. Naquela organização, que foi fundada no princípio da liberdade, mas que a esqueceu. Sim, o Brasil hoje fala em liberdade através do mundo. Se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária. Talvez seja melhor ser esse pária deixado ao relento, do lado de fora, do que ser um conviva no banquete do cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e dos semicorruptos. É bom ser pária. Esse pária aqui, esse Brasil; essa política do povo brasileiro, essa política externa Severina -- digamos assim -- tem conseguido resultados".
É mesmo? Quais resultados?
Que o agronegócio ouça. Que os industriais fiquem atentos. Que os mercados abram os ouvidos. Por alinhamento ideológico, o ministro das Relações Exteriores resolveu transformar o país num pária internacional e se orgulha disso.
O último resultado vistoso de Araújo foi a imposição de sobretaxa, pelos EUA, para o alumínio brasileiro.
Aí ele resolveu falar sobre o que não sabe e não leu, não sem deixar claro que, na sua mentalidade, o papel das Severinas e Severinos é servir a gente como Araújo, mas crendo em Deus e temendo o comunismo.
Contou que uma emprega doméstica que trabalhava em sua casa na década de 80 chamava-se... Severina. E que ela odiava o comunismo porque este é "contra Deus".
E atacou João Cabral, que teria se voltado "para o lado errado, para o lado do marxismo e da esquerda".
E mandou ver:
"Sua utopia, esse comunismo brasileiro de que alguns ainda estão falando até hoje, constituía em substituir esse Brasil sofrido, pobre e problemático por um não-Brasil. Um Brasil sem patriotismo, sujeito, naquela época, aos desígnios de Moscou e, hoje, nesse novo conceito de comunismo brasileiro, sujeito aos desígnios sabe-se lá de quem".
É tanta bobagem reunida que nem errado ele consegue ser.
Chulo, vulgar e ignorante, acusou a esquerda de reduzir tudo a "conceitos como gênero e raça" e de querer promover "a ditadura do politicamente correto e da criação de órgãos de controle da verdade".
Sempre que um extremista de direita ataca o que chama de "ditadura do politicamente correto", fiquem certos: está com vontade de ofender mulheres, negros e gays e acha um absurdo que a lei puna o que ele considera ser "liberdade de expressão".
E emendou frases de efeito:
"Todo isentão é escravo de algum marxista defunto. Tratar os conservadores de ideológicos é o epítome da prática marxista-leninista: chame-os do que você é, acuse-os do que você faz".
"Isentão" é vacabulário de bloqueiro arruaceiro e fascitoide.
Não perguntem a Araújo em que livro Lênin escreveu essa frase, que é carne de vaca do olavismo, porque ele terá de perguntar ao mestre, que responderia: "Sei lá eu, porra! Isso sou eu lendo Lênin".
Ah, sim: a questão ambiental seria só uma orquestração da esquerda, também parte da "estratégia comunista". E, terríveis que são, os esquerdistas aproveitaram o coronavírus para tentar implementar um "gigantesco aparato prescritivo, destinado a reformatar e controlar todas as relações sociais e econômicas do planeta". A isso ele chamou "covidismo".
Não era um discurso no hospício. Era o chanceler brasileiro numa cerimônia de formatura.
Que as pesquisas se cumpram e que Biden vença a eleição nos EUA. Quem sabe as escolhas do povo americano façam com que nos livremos da delinquência intelectual no Itamaraty.