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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

07
Fev22

A força da farsa

Talis Andrade

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por Marcia Tiburi

- - -

O ano eleitoral está aí e a força da farsa que conhecemos em 2018 será renovada. 

Rememoremos: no 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx apontou para uma relação fundamental entre estética e política ao afirmar que a história se repete como tragédia e como farsa. 

A farsa é uma imitação da tragédia que intensifica seu efeito utilizando o grotesco como estilo. Lembremos que a farsa do Ubu Rei de Alfred Jarry, que em tudo lembra Bolsonaro em seu desejo de comer e matar, já era uma imitação debochada da tragédia de Macbeth de Shakespeare. 

Tragédia e farsa são duas formas teatrais, mas são também parâmetros estéticos da política. Se a tragédia pauta o mundo pelo heroísmo, pelo belo, pelo sublime e pelos altos valores, a farsa pauta-o pelo contrário disso tudo. Nesse contexto, a oposição entre Lula e Bolsonaro é evidente e dispensa explicações. 

Todo o governo de Bolsonaro se dá no clima da farsa, cada um dos seus ministros é um farsante que destrói aquilo que deveria construir e ele é o próprio bobo da corte que usurpou o lugar do Rei preso por mais de 500 dias com a ajuda de personagem secundário, o juiz ladrão, que, com a ajuda da mão nem tão invisível do Império, resolveu ele mesmo ocupar o papel principal. 

Não é demais repetir que o governo bolsonarista é uma farsa que imita a tragédia da ditadura militar, em si mesma farsesca. Moro é continuação da farsa, na condição de ex-ministro de Bolsonaro, o “Bolsonaro que sabe usar talheres” ou pelo menos não finge comer no cocho com direito a set de filmagem em volta, como ficou exposto nas redes há poucos dias. A produção cinematográfica de Bolsonaro está ainda na frente da produção jornalística da rede Globo que sabe muito bem como construir personagens e tramas. Contudo, as novelas do jornalismo não são tão bem feitas como as novelas propriamente ditas e o segredo do roteiro no qual o corrupto que grita contra a corrupção é, ele mesmo, um corrupto, está claro demais para conquistar espectadores para um próximo capítulo. 

Antes se seguir com a análise dessa narrativa que está sendo construída diante dos olhos costurados com as próprias tripas dos espectadores, é preciso ter em mente que, apesar da desvantagem essencial de uma imitação, o efeito de poder continua vivo nela. A cultura do escamoteamento e da camuflagem serve para os procedimentos estéticos, como implantes capilares e dentes falsos atualmente em moda, para bolsas e roupas de marca fabricadas na China, mas também para a política. Porém, nesse jogo pérfido, quem tentar parecer melhor do que é, tende a se dar mal (isso vale para todo o espectro político). 

Além disso, lembremos que os personagens infames, ridículos ou grotescos produzem efeitos de poder justamente por meio da desqualificação de seus discursos. No discurso desqualificado Moro é bom, mas ele ainda precisará intensificar a sua performance se quiser assumir o lugar de Bolsonaro. Quando se escolhe um ator para um trabalho, ele é escolhido justamente por competências prévias, mas a recepção das massas parece estar sendo mal calculada nesse caso. Os fascistas sempre subestimam a população e precisam emburrecê-la para poder contar com ela. A enganação precisa ser bem feita, porque as massas são maleáveis e podem mudar de direção se perceberem que outros podem ter razão.

Assim, para ser um bom candidato, Moro precisa de um pouco mais de apelação carismática, algo que e ele naturalmente não tem e que Bolsonaro esbanja. Para este último era fácil, bastava capitalizar o mau gosto, que é um capital maior do que nunca na cultura depois da guerra contra a democracia. Moro resiste a fazer esse papel. Em que pese a tentativa de começar a tentar falar grosso, evitando a sonoridade vocal que lhe rendeu o apelido de Marreco de Maringá, ele não tem a virilidade necessária exigida no momento fascista em que o machismo histérico tem sido bem importante (falaremos sobre isso em um próximo artigo). 

Todos os personagens da direita-extrema-direita que querem aceder ao poder têm buscado se inscrever no padrão estético do grotesco ou do ridículo desde 2016. Nesse sentido, para Moro, melhor seria assumir o “marreco” do que tentar disfarçar. Ele poderia conquistar o voto de indignação ou o voto por deboche que levou figuras como Tiririca ao poder. Janaína Paschoal, Kim Kataguiri, Alexandre Frota e tantos outros chegaram ao poder em 2018 apenas porque se inseriram nessa mesma lógica estética. 

Nesse contexto, Bolsonaro foi um sucesso a partir do Golpe de 2016 ao produzir um tipo de farsa na segunda potência. Ao assumir a sinceridade da farsa ele conseguiu re-enganar a todos e, senão livrar-se da marca da mentira, pelo menos redimensiona-la a seu favor. Para o seu eleitorado a sua paradoxal “sinceridade” vale mais do que tudo. Ele pode praticar todo tipo de crime e ilicitude e ainda será defendido pelas pessoas identificadas com o ídolo. A mentira diária de Bolsonaro é parte da retórica do desnorteio que ele pratica tão bem e que funciona num looping renovando diariamente o estupor dos críticos, assim como o êxtase de seus adoradores. 

Bolsonaro não finge quando é falso. Eis o sentido da farsa autêntica. Por isso, pode aparecer encenando como um porco sem perder o seu eleitorado. Assim, enquanto Moro permanecer tentando parecer o que não é, não haverá futuro para ele. É preciso que ele assuma a sua verdade como um bom cínico deve fazer se quiser tornar o cinismo uma tecnologia de poder efetivo. Moro precisa fazer mais circo agora que não tem mais seu Lula preso e nem o espetáculo da Lava-Jato para se capitalizar como um punitivista como gosta a sociedade conservadora. Todas as vezes em que ele fez isso, ele cresceu na opinião pública. Ao resistir de se entregar ao Moro ele acaba com o seu maior potencial. Não basta ser ridículo, é preciso entregar-se ao papel.   

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A farsa é a forma da política na era da razão publicitária, uma estrutura estética, narrativa, teatral, performática. Ela é o único modo pelo qual muitos fazem política e chegam ao poder. E como há um viés de ficção na farsa política, e não de simples mentira, fica muito difícil para a população perceber que se trata de um jogo, de uma cena. A mentira se explicita, a ficção se escamoteia e tudo se torna tecnologia política. Uma tecnologia política é um dispositivo composto de estratégias e táticas, discursos e práticas, entidades e instituições, todas unidas pelo mesmo princípio.

Se a farsa é uma tecnologia política, isso quer dizer que o jogo é a mentira, a enganação, a desinformação em geral, daí as fábricas de fake news, as empresas que se alimentam de ódio, um afeto que ajuda a instaurar o clima de guerra necessário ao processo de conservação do poder. O gabinete do ódio é o maior negócio da nação e não há previsão de sua derrocada, ao contrário. O que deu certo em 2018 continuará em ação de modo turbinado em 2022. 

Por isso, nesse momento, todos devem se unir contra a grande farsa fascista, mas sem consciência disso e lançados em jogos de poder, muitas vezes infantis, não será fácil superar a extrema-direita e suas habilidades inescrupulosas que reforçam a cada dia a força da farsa.

Mídia NINJA on Twitter: "Quem assistiu ao pronunciamento de ontem comenta  aqui uma mentira que Bolsonaro falou. Charge @AroeiraCartum  #Bolsonaromentiroso https://t.co/jhyOmz06Qx" / Twitter

04
Fev22

Opositores repercutem frango com farofa de Bolsonaro: 'Piada com a cara do povo'

Talis Andrade

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Políticos apontaram cena como tentativa de desviar o foco dos gastos elevados com cartão corporativo
04
Fev22

Bolsonaro aparece todo sujo de farofa após revelação sobre gastos estrondosos no cartão corporativo

Talis Andrade

 

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O presidente Jair Bolsonaro parece ter substituído o tradicional "marketing" do pastel de feira do ano eleitoral por um frango com farofa

 

Por Lucas Rocha /Revista Forum
 

Em ano eleitoral é comum ver políticos abusando do pastel de feira para tentar passar uma imagem popular. O presidente Jair Bolsonaro, que não perde uma oportunidade de tentar parecer o que não é, protagonizou uma cena insólita neste domingo (30) ao substituir o lanche popular por outro. O episódio ocorreu logo após virem à tona os gastos estrondosos com cartão corporativo.

Em vídeo publicado por assessores nas redes sociais, Bolsonaro aparece todo sujo de farofa em mais uma tentativa torpe de querer parecer “humilde”. Entre os que publicaram a gravação está o ministro das Comunicações, Fábio Faria.

Bolsonaro perambulou por Brasília neste domingo e fez uma parada para comer frango com farofa. No vídeo, o presidente aparece todo sujo de farinha, com cabelo bagunçado e olhando de relance para a câmera para confirmar que a cena ridícula estava sendo filmada.

A porcaria feita pelo presidente foi exaltada pelos apoiadores de Bolsonaro, que enxergaram no sujeito imundo uma espécie de “homem do povo”, “humilde”, “sem frescura”, “do povão”.

Bolsonaro gasta mais com cartão corporativo

Essa ideia contradiz com os gastos milionários no cartão corporativo da Presidência revelados neste domingo.

Bolsonaro já gastou R$ 29,6 milhões com cartões corporativos nos três anos de mandato, um salto de 18,8% quando comparados aos quatros anos anteriores, de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

Ao longo de todo o ano de 2021, foram torrados R$ 11,8 milhões nestes cartões, o que representa o maior valor nos últimos 7 anos.

“Deplorável”

A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) criticou a cena. “Deplorável! A tentativa é de humanizar um genocida? É impossível! Nem coberto de toda a farofa do mundo Bolsonaro convence que tem algum tipo de humanidade dentro de si. Vergonhoso”, tuitou.

08
Jul21

Temos senadores na CPI que carregam porcos nos ombros

Talis Andrade

porco – Ivo Viu a Uva

Eu já tinha visto, pela TV Senado, um senador carregando um porco, mas não quis acreditar nos meus olhos cansados.

Podia ser um jabuti. Desses que sobem em árvore. Se sobe em árvore... 

Escreveu, domingo, o doutor Gustavo Krause: "No jogo político, é um bicho 'misterioso' que surge nos textos. Quando se dá fé, o jabuti que, segundo a sabedoria popular 'não sobe em árvores', se 'subiu' é porque alguém botou. Quem?"

Lendo o doutor Lenio Luiz Streck agora tenho certeza: 

Não é porque a tecnologia é superinteligente; você é que é preguiçoso

 

por Lenio Streck

- - -

Não existe intelectual bronzeado (é uma metáfora). Direito é coisa séria. E é um fenômeno complexo. Por isso luto por uma coisa chamada epistemologia, coisa que parece que os facilitadores do Direito não compreendem. Porque é complexo. E não dá para desenhar.

Por isso tenho feito críticas ao uso da inteligência artificial e às fórmulas facilitadores da comunicação jurídica, mais especificamente o visual law e o legal design.

Já fui chamado de conservador, jurássico (para minha honra e glória), afora as ofensas proferidas por pessoas do grupo Columba Livia, composto por especialistas em vencer disputas argumentativas inspiradas no famoso model chess game with pigeons e “de como ofender pessoas sem argumentos”.

Mas não quero perder o “foco”. Impressiona, por exemplo — e quem me alertou sobre isso foi o professor Arthur Ferreira Neto, maior especialista em metaética no Direito do Brasil — a bela contradição performativa dos entusiastas do visual law, que, ao apresentarem longa defesa dessa inovadora metodologia, valem-se apenas do “tradicional e conservador discurso textual analítico”, com introdução, desenvolvimento e conclusão. Usam até as serôdias notas de rodapé. Tudo para defender o novo modelo comunicacional. E eu acrescento: Nenhuma defesa com setinhas! E emojis. E também não dá para preencher plataforma lattes (ups, o que seria isso?) com setinhas e sinais.

Jurássico, conservador, reacionário, ultrapassado. Todas as setinhas apontando a “Lenio Streck”. Deltanianamente!

Bem que podia. Mas não vi nenhuma figura ou desenho maneiro que facilitasse a nossa compreensão dos argumentos por eles defendidos!!

Lembro que o gaiato quem disse que o livro de papel iria acabar escreveu a grande nova em… um livro… de papel. E o mundo está repleto de gordos vendendo remédio para emagrecer. E calvos oferecendo o milagre da multiplicação capilar. E gente oferecendo facilidades na área jurídica. Sem considerar o neopentecostalismo jurídico, a epistemologia da prosperidade concurseira, que, aliás, chegaram antes do visual law.

O velho paradoxo do filósofo pragmático, que diz que as teorias filosóficas não servem para nada e, para isso, elaboram uma teoria filosófica.

A nova algocracia

O pesquisador John Danaher diz que isso tudo faz parte da nova algocracia. Sim, a algoritmo-cracia. Ele mostra como já somos reféns dos algoritmos, designs e quejandos.

Ele fornece uma porção de exemplos do domínio da algo-cracia. Bom, cada um de nós sabe bem disso. Basta entrar nas redes sociais. Ou receber uma intimação de Tribunal às duas da manhã. Algoritmos não dormem.

Escreva a palavra “prova” ou “exame” em um recuso especial ou extraordinário. O robô, feito um sniper, fulminará seu pedido. São os grupos de extermínio de recursos.

Diz Danaher: toda a informação que chega até nós pelas redes sociais passa por uma “curadoria algorítmica”…!

Aboliram a filtragem institucional da mediação e, no lugar, colocaram um algoritmo. Quem programa o algoritmo?

Ele diz mais (algo que eu já digo há mais tempo): terceirizamos o ato de pensar, perdemos o ato de raciocinar sozinhos, perdemos a nossa autonomia. Esse é o busílis. Meu problema não é com este ou aquele tik-toker. É com a terceirização do raciocínio, do pensamento, da reflexão com rigor e critério.

Mas a parte mais interessante do pesquisador é esta frase: não é porque a tecnologia é superinteligente; nós é que somos preguiçosos.

E ele diz que é preciso reagir.

Concordo. É o que estou tentando fazer de há muito. Comecei denunciando o ensino prêt-à-porter, pret-à-parler e prêt-à-penser. De há muito demonstro que resumos e resuminhos emburrecem. Também brado há anos contra concursos quiz shows.

Mas eles foram avançando. Agora já nem querem resumir. Querem desenhar. E colar figurinhas. O que virá depois?

Mas para dizer isso e me criticar ainda precisam de longos textos. Com notas de rodapé.

Danaher tem toda a razão! Já denunciava isso em 2016.1 A algo-tyrannos; a tirania algorítmica.

Não sei se são bons em xadrez. Mas vencem sempre!

Post scriptum: Quem colocou o porco no meu ombro? Porco safado! Processemos o porco!

Assistindo a CPI da Pandemia e ouvindo os depoentes (a do Roberto Dias é exemplar!), lembro de um causo que se conta na cidade de Itaqui, minha primeira Comarca.

O gaiato foi preso em flagrante furtando um porco. Levava o suíno nos ombros, segurando em cada lado as pernas do bicho.

Levado à Delegacia, foi interrogado.

Delegado: “O senhor furtou o porco?”

Resposta: “Porco? O que é um porco? E o que é ombro? Defina ombro, por favor, senhor delegado. E mais: se esse porco existe, então alguém o colocou no meu ombro, considerando que também eu tenha ombros. Conclusão: nada sei sobre suínos.”

Na CPI, depoentes fazem a mesma coisa. E ainda vem um senador em sua defesa, dizendo:

“Esse porco é realmente ousado. Onde se viu pular nas costas de um sujeito honesto e ali se fixar, indevidamente?”

Oh, Catilina… Oh, Catilina…

Tempos em que não há mais fatos; só há narrativas…

Simulacros e simulações! O que é um porco? Ombros? Esses porcos… Costumam pular nos ombros de inocentes transeuntes…


1 Danaher, John. (2016). A ameaça da algocracia: realidade, resistência e acomodação. Filosofia e Tecnologia , 29 (3), 245-268.

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