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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

15
Jan24

Jornalista Ivan Maurício

Talis Andrade
 
 

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Morreu em Olinda, no dia 2 último, o jornalista pernambucano Ivan Maurício. Ele tinha 72 anos e, ao longo de mais de 50 anos de carreira, passou por diversos veículos de comunicação do estado e foi secretário de imprensa do governo de Pernambuco, além de diretor de comunicação da Câmara Municipal de Olinda

O jornalista morreu em casa. Em agosto de 2023, ele sofreu um edema pulmonar causado por uma crise hipertensiva. Depois, também teve uma infecção urinária grave. Ivan Maurício passou 42 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Ivan Maurício trabalhou no antigo Diario da Noite e foi chefe do Jornal Vanguarda, de Caruaru, no Agreste. Também foi diretor-geral do Diario de Pernambuco.

Foi secretário de imprensa do ex-governador João Lyra Neto (PSDB), em 2014, no período em que Eduardo Campos (PSB) deixou o governo para disputar a presidência do Brasil.

Além de jornalista, ele também foi político e chegou a disputar as eleições para o Senado pelo PSD, em 1985, e a vereador de Olinda pelo MDB, em 2020.

O velório e sepultamento de Ivan Maurício aconteceram no Cemitério de Santo Amaro, no Centro do Recife.

 

Repercussão

 

A governadora Raquel Lyra (PSDB), que é filha do ex-governador João Lyra Neto, emitiu uma nota de pesar e disse que recebeu com tristeza a notícia da morte de Ivan Maurício, "com quem convivi mais de perto no período em que foi secretário de imprensa do governo João Lyra".

O prefeito de Olinda, Professor Lupércio (PSD), disse que "Ivan Maurício foi referência no jornalismo pernambucano. Passou pelos principais veículos de comunicação e teve destaque pelo grande comprometimento com a informação".

Afirmou, também, que recebeu com tristeza a notícia da morte do jornalista e pediu "que Deus conforte a família e os amigos neste momento tão difícil".

João Lyra Neto, também por meio de nota, lamentou a morte do jornalista: "O meu abraço de solidariedade à família e inúmeros amigos de Ivan Maurício, que nos deixou ontem, 02. Ivan foi jornalista competente em todos os projetos profissionais que abraçou, tanto na longa carreira nos veículos de comunicação, como também como secretário de Imprensa, quando tive a honra de governar o nosso Estado. 

Ivan deixa também em seu legado um defensor, incansável, da democracia. Pernambuco se despede de um de seus jornalistas mais respeitados e eu, particularmente, de um amigo de muitos anos. Que Deus console a todos!".

Apesar das campanhas eleitorais, Ivan nunca foi um político, e sim um estudioso da sociedade e do povo, um jornalista por vocação, um cientista político, um artista, e uma alma de santo franciscano.

02
Out23

O humor e a política

Talis Andrade

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Nos dias atuais, relacionar humor à política é uma heresia enorme. A experiência demonstra que, somente a mordacidade, a sátira, daria alguma graça ao espetáculo circense da antipolítica. Os sentimentos que prevalecem em relação aos “atores” são de rejeição, ressentimento, raiva, no mínimo indiferença ou, nos extremos ideológicos, o fanatismo com o forte tempero da bajulação.

As circunstâncias históricas deram um tom raivoso, odiento sobre, pasmem, os escolhidos como nossos representantes. Porém, o ambiente, ainda que com certa hostilidade, nunca chegou, como agora, ao “horror político”, alimentado pelo humor cáustico, em pílulas digitais, tendo como fonte inesgotável a natureza humana e sua capacidade de ser razão do ridículo e da satisfação do riso.

Nos círculos do poder, o humor se manifesta ora como virtude, senso de humor, ora como um risco permanente de produzir cenas patéticas que, somente, os poderosos são capazes ser, ao mesmo tempo, autor e vítima do bizarro.

“Não se leve muito a sério”. Mais do que um conselho esta advertência é uma lição de sabedoria. Soma leveza, uma das “Seis propostas para o próximo milênio” (Companhia das Letras, 1990 – O autor faleceu antes de pronunciar as palestras) à seriedade. E inspira a definição de senso de humor.

Na vida pública, em especial, o senso de humor é a virtude-chave para enfrentar crises recorrentes. Elas entram no gabinete da Excelência com um tamanho gigantesco e saem reduzidas e, muitas vezes, resolvidas.

No primeiro impacto, é fundamental não entrar no clima. Arrodeia. Puxa por um assunto capaz de baixar o ímpeto da adrenalina. Em seguida, deixa que o suplicante esvazie a cabeça cheia de problemas para dividir com ele as alternativas de soluções, se houver.

Assim se tratam assuntos com seriedade o que não se confunde com sisudez, a máscara da hipocrisia. O sisudo tem por hábito esconder por traz da cara fechada de brabo, muita sacanagem. E se acha o cara mais honesto do mundo; declama loas à moralidade e, na verdade, é um grande sacana. O rigor da sisudez é um mecanismo de defesa que alimenta mitos e encobre grandes mentiras interiores

De um deles, ouvi uma sincera confissão em virtude da Lei 6091 de 15 agosto de 1974 – Lei Etelvino Lins que adotava providências moralizadoras sobre a oferta de transporte e alimentação aos eleitores. “E agora, Deputado, está mais difícil “comprar” voto no “curral”! Ele, calmamente, respondeu: “Tô tranquilo. Não compro, vendo”. Naquele tempo, não se comprava por atacado. Era um modesto varejo.

29
Abr23

Novo contrato social

Talis Andrade
Imagem: Alexander Zvir

 

 

Direitos humanos, sociabilidade, condição humana

 

por Vinício Carrilho Martinez & Josana Carla Gomes da Silva /A Terra É Redonda

- - -

É preferível avisar ao leitor que esse texto não se propõe ser uma tese, no sentido habitual (combatida por antíteses) e nem acadêmica, como se fosse um recorte de tese de doutorado. Tampouco é uma tese sobre a história, como as de Walter Benjamin. Trata-se apenas de um ensaio, como os de Francis Bacon, e assim deve ser lido – talvez, na melhor das hipóteses, possa ser inspirador de alguma tese.

A humanidade só tem um contrato social: das condições e determinantes da interação social. Assim, na verdade, não há “novo contrato social”, posto que é o mesmo contrato social que a humanidade refaz, reafirma continuamente. Sob condições, revezes drásticos, perigos extenuantes de desintegração social ou, ao invés disso, apostando-se na reafirmação da interação social, é ainda o mesmo contrato social, motivador do processo civilizatório.

Este é o processo refeito desde Lucy, o “grito primal” ou Prometeu, ou desde que a humanidade aportou na super-ação do homo sapiens. Ou desde que nos reconheçamos como humanidade, o homo sapiens sapiens: o humano que reconhece sua potencialidade, capacidade de sapiência (pensamento e ação), enquanto super-ação com vistas à intencionalidade política, como sociabilidade política: super-ação vocacionada à política (decisão) e que é a fonte primária da superação humana – no sentido de que o ser social (homo sociologicus) converte-se (superando-se) na insurgência do “animal político” (zoon politikon).

É óbvio que superação é transformação e ninguém transforma a si sem contribuir com a modificação do meio. Veremos que o vice-versa também é correspondente. Obviamente que as condições determinadas, impostas e independentes das escolhas individuais (via de regra pelo poder econômico) são ou podem ser decisivas – ao menos por algum período de tempo. Porém, não são deterministas, irrevogáveis, pois, se fossem, não haveria mudanças significativas ou somente haveriam transformações controladas, nunca para fora do sistema e de sua lógica.

Na prática, não haveria Lucy, Prometeu ou o proletariado insurgente – esta é uma regra básica da teoria social moderna. Portanto, também é óbvio que a força social – especialmente a que alavanca as transformações sociais – deve, precisa, ser vista dentro e fora do sistema, “de um suposto processo determinado a acontecer”, dentro e além das condicionantes exteriores, mesmo que globais: a concepção funcionalista não se dá bem com a história política.

Não é o caso desse texto, no entanto, podemos pensar que existem indivíduos desviantes ou que, até mesmo as dificuldades podem ser arroladas como motivações irresistíveis à mobilidade e ao impulso decisivo de forças não contidas, previstas, “programadas”. Assim, o desvio que outrora era tido como uma abominação vem a ser uma diferença (SILVA, 2021). Diferença essa que nos torna humanos, que nos humaniza e transforma nossa vivência.

De acordo com Goffman (1988), a sociedade encara o desvio da norma como algo que coloca em risco a espécie humana, no entanto é fato que desde o paleolítico as comunidades incluíam seus anciãos e pessoas com alguma dificuldade de locomoção ou deficiência (SILVA, 1984). Seriam essas comunidades “pré-históricas” mais humanas, mais desenvolvidas intelectualmente que o homem moderno/nós?

Num discurso elevado de Sêneca (à maneira dos estoicos), Bacon nos disse que: “As coisas boas que acompanham a prosperidade são desejadas, mas as coisas boas que vem com a adversidade são admiradas […] Mas em geral a virtude da prosperidade é a temperança; a virtude da adversidade é a fortaleza; a qual, a moral é a virtude mais heroica […] Até mesmo no Antigo Testamento, se você escutar a harpa de Davi, ouvirá muito de marcha fúnebre – assim como canto alegre; e a pena do Espírito Santo laborou mais descrevendo as aflições de Jó do que a felicidade de Salomão. Prosperidade não vem sem muito medo e desgosto; e adversidade não está sem confortos e esperanças […]. Certamente a virtude é como o olor precioso, mais fragrante quando ele é queimado ou esmagado, pois a prosperidade descobre melhor o vício, mas a adversidade descobre melhor a virtude”. (BACON, 2007, p. 22-23).

As necessidades nos levaram a cruzar o Rio Estige, em busca desesperada pelo banquete dos deuses – como nos contou Bacon (2002), em sua narrativa peculiar, na forma de um mundo de política, polis, e que mesmo não tendo no espaço público um amplo salão para alojar todo o povo ainda forjaria o nascimento da política, sob a era do neolítico inventivo de outra fase, uma das mais profícuas, do interminável processo de hominização.[i]

Processo esse que ocorre face a face, o homem se torna homem quando em face de seu igual, a cultura e o ambiente são modificados e adaptados em função do homem, a humanidade normaliza tudo a sua volta de modo que o ambiente o beneficie. A cultura e o ambiente são influenciados e influenciadores da natureza humana, essa humanidade que conhecemos é construída através e a partir das relações estabelecidas entre homem e homem, homem e cultura, homem e ambiente e modificadas de acordo com o lugar e período em que ele se encontre (VYGOTSKY, 2008).

Desse modo, quando Marx (2003) dize, no famoso Prefácio, que “a humanidade não se propõe problemas que não possa resolver” está reafirmando nossa capacidade de superação nas intenções e ações decisivas de humanização. Está observando a fabricação social do homo sapiens (nós), em um ininterrupto contínuo de superação das determinações iniciais – por meio, exatamente, da inteligência social – da humanidade, que se fez e se faz enquanto espécie e nunca isoladamente.

Trata-se da inteligência coletiva (social), da superação das necessidades persistentes pela exímia potência humana. Essa mesma que deu início ao que conhecemos como códigos: linguístico, social. A partir dos códigos instituímos os símbolos e seus significados (VYGOTSKY, 2008) que orientam e regem o que chamamos de sociedade e codificam o modus operandi com o qual necessitamos nos enquadrar e guiar nossa conduta num sistema que impele à produção contínua.

Entenda-se essa potência de superação de duas formas: síntese e super-ação. Esta super-ação é uma ação decisiva, a decisão política, a práxis revolucionária que sempre supera as dificuldades, necessidades, e as transforma em possibilidades, acionando-se as potencialidades que (movendo-se) nos fazem continuamente humanos – ou mais humanos, para o bem e para o mal.

Esta super-ação age coletivamente, com a consequência de (continuamente) nos fazer (obrigar a sermos) seres sociais capazes de atuarmos na práxis de superação da própria humanidade – de modo genérico, e na hominização que há em nós. Portanto, não se trata de ação isolada, mas de força social atuante na fabricação social de seres sociais destacados e impulsionados pela capacidade de superação dos atuais níveis limitadores da inteligência social.[ii] A super-ação é uma dialética, um moto contínuo formador de indivíduos sociais e de capacidade socializadora (intencional) e transformadora das necessidades resistentes em potencialidades revigorantes.

O que não se desprende de uma suposição de haver elos substantivos de um forte contrato social; com a diferença de que se supõe um contrato social que considera as dificuldades negadoras – até mesmo da socialização e humanização. Bem como se destaca a capacidade de enfrentar tais restrições, negações, com a mesma infindável capacidade humana de nos afirmarmos no seio social – ainda que, em muitas circunstâncias, já venha desintegrando-se enquanto ligações, relações sociais. Afinal, essa potencialidade de superação não pertence a um ou poucos, uma vez que é a condição essencial da humanidade e de seu incontido processo civilizatório.

Nisto está a dialética – essa disposição genética, ontológica, teleológica –, tão móvel quanto a síntese: a super-ação que é sempre decisiva no fazer-se humano. Esse contrato social nos exige, em consciência e ação, (re)fazer um pacto conosco: o de sermos melhores humanos amanhã do que fomos capazes de sermos hoje.

É um pacto severo, indócil, exigindo-nos conexão, interação, nos níveis e valores humanos mais difíceis de serem alcançados e mantidos no córtex decisivo dos indivíduos sociais decididos em hominização. É um pacto que nos exige uma superação a cada dia (humanos melhores amanhã, do que hoje): superar a si implica na interação social que corrobora a superação da espécie.

É fácil perceber que não há como ser diferente, afinal a humanidade (e cada um de nós) não se supera por inércia, por forças metafísicas ou geração espontânea. Ao contrário disso, o processo civilizatório decorre do pacto consciente, ativo (não só reativo), contínuo, de sempre fazer-se humano. É esse o custo individual do pacto social: a humanidade sempre se modifica, modificando-nos a todo custo. É da nossa quantidade, de super-ação, que advém a qualidade humana superior.

É possível aprender com erros ou mediante as adversidades? Por suposto que sim e a trajetória humana com suas criações técnicas ou sociais demonstra isso. A questão mais relevante nos diria que mais importante do que responder à questão anterior (bastante óbvia) nos diz que “apreender a diversidade”, tomar para si as experiências humanas efetivamente socializadoras, ajuizando-se em benefício da inteligência social, é muito mais produtivo do ponto de vista da hominização: aprender com a heterogeneidade, com as diferenças, diversidades, nos permite ver que a humanidade é muito mais ampla do que o espelho nos revela.

Esta é ainda a lógica dos Direitos Humanos: avançar na adversidade, superar as dificuldades, as desigualdades, consolidar a “unidade na diversidade”. é assim que o direito se revela humanizador, profundamente ético, antropológico, sociológico. É o que somos, um contrato de apostas futuras.

no espectro dos direitos humanos, podemos inferir que a interação social se avoluma quando ocorre inclusão social modificada pela heterogeneidade, na medida em que atua como fonte de socialização: sociabilidade crescente na diversidade. Este é o poder dos direitos humanos, alargar as raias do processo civilizatório, sempre repactuando com a humanidade os valores humanos mais inclusivos, socializadores e progressivos.

Enfim, esta é ainda uma forma válida e justificável de observarmos os direitos humanos como força social – pacificadora, no sentido de que promulga e revigora as forças sociais inerentes à socialização como processo contínuo e faz inibir as forças sociais degenerativas da sociabilidade. Este é o efetivo poder social dos direitos humanos – um contrato social em que os valores humanos são a origem e a razão da pacificação social.

Por fim, pode-se ver claramente que é neste conjunto que se constitui a matriz da heterogeneidade: a capilaridade social que move as diversidades para o reencontro no eixo humanizador do direito. Estamos bem longe disso? Não há resposta única, determinista, especialmente porque esta é a força de nossa origem e condição essencial enquanto espécie: super-ação (agir para adaptar e superar) e síntese progressiva. Em todo caso, aprimoremos nossa filosofia e práxis desde já. Isto nos fará ainda mais humanos.

Referências


BACON, FRANCIS. A sabedoria dos antigos. São Paulo: Editora da UNESP, 2002.

BACON, FRANCIS. Ensaios. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

BENJAMIN, WALTER. Obras escolhidas – Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1987.

GOFFMAN, ERWIN. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução: Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos -LTC, 1988. 158 p.

MARTINEZ, VINÍCIO CARRILHO. Necrofascismo: Fascismo Nacional, Necropolítica, licantropia política, genocídio político. Curitiba: Brazil Publishing, 2022.

MARX, KARL. Prefácio à Contribuição à Crítica da Economia Política. São Paulo : Martins Fontes: 2003, p. 03-08.

SILVA, JOSANA CARLA GOMES DA SILVA. Dupla excepcionalidade: identificação de altas habilidades ou superdotação em adultos com deficiência visual. Dissertação (Mestrado em Educação Especial). Universidade Federal de São Carlos. São Carlos: UFSCar, 231 f. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/14750/Disserta%c3%a7%c3%a3o_Silva_JCG_2021.pdf?sequence=1&isAllowed=y.

SILVA, OTTO MARQUES. A epopeia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1987. 470 p.

VYGOTSKY, LEV SEMENOVICH. Pensamento e linguagem. 2008.

Notas


[i] Igualmente, não é o intuito desse ensaio navegar pelas formas mais contundentes da negação da Política, as formas de ataque mais viscerais em conflito com a sociabilidade e de confrontação aos níveis essenciais de Interação Social, quer sejam sistêmicas – como limitações intrínsecas a qualquer sistema social de respostas igualmente sociais – quer sejam as modalidades de achaque que se desenrolam por meio das sistemáticas crises do capital financeiro, tais como o Fascismo clássico ou Fascismo resiliente, altamente reprodutivo e ajustável aos tempos de redes antissociais e do Estado Rentista. Como ensaio talvez nem precisasse do anúncio formal de seus objetivos; no entanto, citaremos ao menos um: delinear um “contrato social” em que a sociabilidade seja guia da Interação Social (enquanto objeto da Sociologia) e no contexto afirmativo dos Direitos Humanos Fundamentais – no sentido de que são direitos fundamentais ao povo pobre, excluído, negro, expropriado até mesmo do Princípio da Dignidade Humana.

[ii] Veja-se, pontualmente no atual deslinde histórico, a força determinante que meia dúzia de empresas globais de comunicação, tecnologia e entretenimento, exercem sobre o caminho traçado à própria inteligência humana, condicionando-se os valores humanos aos hábitos de ostentação, consumismo, de “alienação da política”, como quem foge da luta social nas ruas para o ninho do sofá, com os dedos em riste a fim de lacrar ou cancelar teses, relações humanas, negócios ou outras pessoas.

03
Jan23

O primeiro discurso de Raquel Lyra depois de eleita

Talis Andrade

 

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB, lilás), ao lado da vice, Priscila Krause (Cidadania, verde), ao empossar os secretários estaduais — Foto: Reprodução/TV Globo

A governadora de Pernambuco Raquel Lyra ao lado da vice Priscila Krause 

 

 

Boa noite, gente. Que bom poder estar aqui hoje com vocês. Quero iniciar minhas palavras cumprimentando Priscila Krause, vice-governadora eleita, companheira de jornada. Obrigada, Priscila. O que vem pela frente ainda é muito melhor e maior do que a gente construiu até agora. Que Deus nos abençoe. 

Eu quero começar esse meu primeiro discurso como governadora de Pernambuco em um dia histórico para a nossa sociedade me dirigindo especialmente às mulheres. Pela primeira vez desde que nos tornamos uma unidade federativa, uma mulher igual a cada uma de vocês, eleita pela vontade do povo vai ocupar este lugar. É uma honra, um orgulho e uma enorme responsabilidade que esta mulher seja eu. Tendo ao meu lado Priscila Krause, vice-governadora eleita.

Tenham a certeza e a confiança que assim como as heroínas de Tejucupapo, estaremos alertas, vigilantes e determinadas a defender nossa terra, seja qual for o desafio. Junto conosco estão os sonhos e as esperanças de muitas outras. De minha mãe, Mércia Lyra, minhas irmãs Nara e Paula, de tantas Severinas, Marinas, Vanessa, Paulas, que têm esperança de um futuro melhor. 

Esperança, essa palavra feminina que junto de uma outra, a coragem, vão levar Pernambuco para um novo tempo. Quem se dirige a vocês no dia de hoje é a nova governadora de Pernambuco mas, antes de tudo, a mãe de João e Nando, amores da minha vida. E que me deram a força para chegar até aqui. Vocês, meus filhos, tenham a certeza de que tudo que farei aqui será sempre para que no final de cada dia vocês tenham orgulho da mãe que têm.

Se cheguei aqui hoje é porque eu tive ao longo de muitos anos um parceiro de fé inabalável que sonhou meus sonhos comigo, lutou minhas lutas e, dessa maneira, fez com que todo sonho e toda luta não fossem apenas meus, mas fossem nossos. Deu certo, ‘nego’. Você estará comigo aqui hoje e sempre.

 

Raquel Lyra e Fernando Lucena no carnaval

 

Eu quero nessas primeiras palavras trazer a inspiração do que vi na vida. Do que a política me mostrou de melhor. Porque é pela política que podemos garantir a democracia, unir pessoas e melhorar a vida delas olhando de forma especial para os que mais precisam da ação do poder público. Aquelas que se sentem invisíveis porque governo nenhum chega nelas.

Há muitos anos eu ainda era uma menina e meu pai, João Lyra, então prefeito de Caruaru, me levava junto com minha mãe para rodar a cidade inteira, ver quais eram os problemas. Os buracos nas ruas, olhar nos olhos das pessoas, conversar. Numa dessas andanças lembro de algo que me marcou para sempre. Eu vi a fome, o rosto dela. Seus cabelos e olhos escuros. Era uma mulher e seus filhos. Uma família que tinha muito pouco, quase nada. Só tinham a si mesmos e a esperança de que alguém fizesse por eles. 

Passados tantos anos, aquela menina está aqui diante de vocês como governadora. Mas a fome ainda permanece no rosto de milhões de mães, pais e filhos de Pernambuco. Não podemos seguir com esse que é o sinal mais claro e doloroso da falta do Estado na vida do povo. É por aí que a mudança vai começar, com mães de Pernambuco. No auxílio financeiro que vai chegar para quem mais precisa para ajudar a colocar comida no prato. 

Meu tio, Fernando Lyra, que foi o ministro da Justiça que assinou a Lei que acabou com a censura no Brasil afirmou certa vez que o maior problema brasileiro era o apaartheid social. Como se existissem países diferentes dentro do mesmo território. Como se existissem Pernambucos diferentes dentro de um mesmo território. Dividindo os mais ricos e os que não têm nada.

Diminuir estas fronteiras levando educação, trabalho, moradia, saúde, cidadania e dignidade não é apenas uma meta para mim. É, antes de tudo, uma definição de vida. É o que me motiva a estar aqui. É o que vamos perseguir diariamente. 

Neste novo ciclo que começamos a construir juntos a partir de agora, ainda há mais a ser feito do que havia em 2007, quando Eduardo Campos e João Lyra assumiram o Governo de Pernambuco. Muito do que foi construído em um passado recente foi perdido nos últimos anos. 

O Pernambuco que recebemos lidera indicadores nacionais de desemprego, miséria, violência e desalento. Não podemos aceitar sermos uma sociedade em que parte das pessoas não come enquanto outra parte não dorme com medo da violência.

Os ingredientes da paz social são o amor, o trabalho e o pão. A pobreza novamente é um desafio a ser enfrentado exigindo de todos nós unidade, capacidade de dialogar e entrega de trabalho. Sabemos que as pessoas esperam de nós uma gestão pautada, Priscila, pela Justiça. Sensível às desigualdades, criativa em busca das soluções e com agilidade para fazer mais.

Dom Helder Câmara costumava dizer que é graça divina começar bem. Graça maior, persistir na caminhada certa. Mas, graça das graças, é não desistir nunca e a gente não desiste. O nosso governo persiste e não desistirá. Não podemos mais dar raízes para os problemas. temos que dar gotas das soluções.

Para combater a violência que aflige nosso Estado, vamos construir uma política pública eficiente, chamando todas as forças envolvidas nesse processo para participar e ajudar a pacificar as ruas.

Quem mora aqu não pode continuar vivendo com medo. Quem vem nos visitar tem que voltar para casa com o desejo de retornar mais vezes à nossa terra. O Juntos Pela Segurança vai ser uma das nossas prioridades, assim como a saúde que anda tão combalida. 

É preciso requalificar os hospitais e construir novas instalações. Agir emergencialmente para reduzir as filas de exames e consultas. Não é do dia para a noite que a gente resolve essas questões. Mas a gente vai trabalhar exaustivamente para que pouco a pouco, passo a passo, elas passem a ser solucionadas.

Como afirmamos durante a  campanha olhando nos olhos das pernambucanas e pernambucanos, vamos trazer de volta as oportunidade para que o povo tenha trabalho. Para que os jovens possam estudar, se qualificar e depois tenham uma  vaga de emprego.  Para que as mães vejam filhas e filhos crescendo com segurança.

O Governo tem a tarefa de induzir o desenvolvimento, de preparar o Estado e facilitar a vida de quem quer empreender e gerar os novos negócios  no nosso estado. De quem vive aqui e de quem pode chegar de fora para investir no Estado que já foi líder do Nordeste brasileiro, gerando um ambiente de negócio que seja dinâmico, arrojado e ativo. 

O Desenvolvimento não pode e não estará restrito a apenas uma região do nosso Estado. Sou filha do Interior. A primeira a ser eleita governadora de Pernambuco. Eu sei das dificuldades para quem vive e quer trabalhar por lá. Conheço esse Estado inteiro, cada região. Sei das suas diferenças, das suas vocações e possibilidades. 

Mas sei também que ninguém faz nada só. Não iremos governar de cima para baixo, sob a força da caneta, da coação e nem do medo. Vou continuar percorrendo Pernambuco, escutando as pessoas e fazendo as escolhas com elas. Quem tem habilidade para escutar mais certamente vai errar menos.

Desde os tempos em que éramos uma colônia portuguesa, Pernambuco sempre teve uma postura de liderança. Mesmo sendo um Estado pobre, Pernambuco se fazia ouvir e respeitar com voz, altivez, coragem e atitude. Esse protagonismo estava apagado, está apagado. Teremos importância e relevância no cenário nacional. Tenho convicção: esse tempo acabou. Essa página está virada. 

Nós vamos trazer de volta a força dos pernambucanos. Nos colocando nos debates nacionais, participando e discutindo a pauta brasileira. Pernambuco sempre foi e vai novamente fazer  questão de ser ouvido. Nossa bandeira e nossas mãos vão estar o tempo inteiro prontas a erguer pontes, mas sem nunca deixar que sejamos subjugados ou colocados em segundo plano.

Estamos assumindo no dia de hoje, no Governo do Estado, em uma casa que ao que tudo indica está bagunçada e mal cuidada. E nisso, o olhar de não apenas uma, mas muitas mulheres que entram nesse governo junto comigo, fará toda a diferença.

Teremos dificuldades, mas vamos superá-las. teremos dias ruins, mas se seguirão de dias bons. teremos pedras no  caminho, mas o nosso caminho nunca foi fácil. Dessas pedras construiremos as pontes que nos levarão ao futuro. 

Aqui, bem perto das pontes que caracterizam nossa capital. Que unem os dois lados do capibaribe, eu reafirmo que vocês terão em mim uma líder capaz de construir o Estado construindo pontes, jamais muros.

Pontes com os nosso representantes no Legislativo, a quem agradeço a confiança, a presença. No Legislativo Estadual, no municipal, aos milhares de vereadoras e vereadores que tem no Estado de Pernambuco, na Câmara dos deputados e no Senado federal. Com nossos prefeitos e prefeitas, como um governo amigo das cidades, sempre atendo às suas demandas e às suas especificidades. Pontes com o Judiciário, com o Ministério Público, com os representantes da sociedade civil e ponte com o Governo Federal.

Estarei em Brasília em breve para apresentar nossas demandas emergenciais e aquelas que são estruturais. Farei isso quantas vezes for necessário. Eu torço para que o presidente Lula, eleito pela vontade do povo brasileiro, que também tomou posse hoje, não falte ao nosso estado e trabalharei para que isso não aconteça.

Se somos conhecidos como Leões do Norte, coragem temos de sobra para buscar os recursos, apoios e parcerias necessários a garantir os investimentos para que Pernambuco saia desse estado de marasmo.

O Brasil e boa parte do mundo vivem um momento em que a polarização política deixou de fazer adversários para fazer inimigos. As eleições acabaram, não há mais palanques na praça. Nosso mandato foi dado pelo povo de Pernambuco e queremos governar para todas as pessoas. As picuinhas e desavenças não vão nos ajudar em nada nem nos levar a canto algum. 

Aprendi que um governante precisa estar disposto a conversar com franqueza e serenidade. Diferente de nós, é um direito que só a democracia nos dá e é por isso que ela é tão delicada. Respeitar a opinião dos contrários e encontrar nas críticas motivos que nos façam refletir, mostrar a maturidade de quem governa. 

Estou sempre pronta e de coração aberto para as pessoas que quiserem debater Pernambuco mas, sobretudo, construir um novo Pernambuco independente das suas preferências políticas. Com a mesma serenidade que me trouxe até aqui irei governar o nosso Estado. 

Eu e Priscila. Olhando para as pessoas, fazendo o agora acontecer e mirando o futuro. Temos a pressa de quem precisa caminhar veloz porque o tempo não vai nos esperar. Temos a fé de nossa gente, a certeza da caminhada e a raça de uma mulher pernambucana. 

Sem ódio, sem medo e com o coração tomado de coragem, amor e esperança. Que Deus nos proteja nessa nossa jornada. Eu conto com vocês.

 

25
Out22

Com Aristóteles, clamamos: deuses e bestas, fiquem fora da política!

Talis Andrade

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Por Lenio Luiz Streck

Na crise da democracia, devemos ir aos clássicos. Aristóteles dizia que o homem é um ser sociável por natureza. É um politikon zoom, animal político. Ou isso, ou somos deuses. Ou somos bestas.

Por isso, foi enfático: a política é uma ciência estritamente humana, não é assunto nem de bestas nem de deuses.

Também Aristóteles dizia que, por ser um animal político, o ser humano busca parceiro(a) para se unir e formar família, grupos e assim vai.

Talvez hoje em dia o homem (ou mulher) busca parceiros de WhatsApp para formar neocavernas. É o novo "homowhatszapiens".

Acima dos grupos humanos estão os grupos de WhatsApp. Viva. E o TikTok, é claro.

Platão, professor de Aristóteles, talvez tenha sido o primeiro a criticar as bestas, os néscios. Contra esses, formulou a Alegoria da Caverna.

As sombras são sombras, denunciava. Mas de nada adiantava. O rei filósofo foi apedrejado ao dizer que as sombras não eram a realidade.

Hoje em dia já não há fatos. Há apenas narrativas. Mas, como vimos, isso é coisa velha. E, pior, sempre cabe qualquer narrativa. Eis o novo mundo. Vasto mundo. Que, assim, pode, sim, ser chamado de Raimundo, para desdizer o poema de Drummond.

Hoje já é possível dar às palavras o sentido que se quer, dando razão ao personagem Humpty Dumpty, de Alice Através do Espelho, de Lewis Carroll.

Como exercitar a democracia nestes tempos em que já não há fatos? Eis a pergunta de 2.500 anos de filosofia. E de política.

Pergunta-se: do modo como se apresentam, hoje, as redes sociais são compatíveis com a democracia?

As redes, com seus algoritmos e quejandos, criam seus próprios critérios de verificação. É esse o ponto. Daí a incompatibilidade com a democracia.

A democracia moderna é uma questão de linguagem pública. Há critérios para se dizer as coisas — e esses critérios são públicos, construídos intersubjetivamente.

Por isso não surpreende os "outsiders". Outsider é quem vem de fora do jogo de linguagem da política. As redes facilitam isso. Por quê? Ora, exatamente porque criam seus próprios critérios de verdade.

O que é uma república? A resposta é polis. É res pública. Coisa pública. Política. Coisa essencialmente pública. Porém, quando o meio de se fazer política passa a ser as redes, privatiza-se os critérios de verificação. Desaparece a mediação.

Daí passam a valer todos os paradoxos e paroxismos: gente contra a corrupção que tem orgulho de sonegar. Médico a favor de cloroquina. Médicos que possuem autonomia absoluta para receitar cloroquina; mas canabidiol, não. Pastores e evangelizadores que apoiam tortura, misturam o que é de Deus e o que é de César para prosperar (anti)politicamente com base na fé alheia. Fracassamos? A pergunta é retórica.

As redes permitem isso, porque, assumindo o já paradoxal papel de meio — porque não há mediação —, substituem a política, pública e tradicional, por um simulacro em que os critérios são ad hoc.

A mentira como critério da verdade.

A política foi degenerada — pelos tais outsiders — e, fundamentalmente, "evangelizada": pastores da fé e da carteira alheia, "padres" de festa junina — os outsiders de um Estado que é laico.

A esperança? Recuperar o politikon zoom. O animal político. E não as bestas "políticas".

Afinal, fatos existem, por mais que as narrativas queiram se impor. E, sim, as sombras eram mesmo sombras.

Às vezes, o padre é mesmo só de festa junina. E o que é de Deus não é de César.

A política é pública. Como disse Aristóteles, a política não é assunto nem de bestas nem de deuses.

Logo, como os tais "outsiders" e os protagonistas — que misturam religião e sua (anti)política — à toda evidência não são deuses, resta-lhes a segunda hipótese, segundo o velho Aristóteles: bestas.

 

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07
Out22

Ex-líder estudantil que confrontou parlamentares em ocupação de escolas no Paraná, Ana Júlia é eleita deputada estadual; conheça

Talis Andrade

Aos 16 anos, quando era estudante do ensino médio, Ana Júlia confrontou deputados na tribuna da Alep — Foto: Arquivo RPC e Rodrigo Fonseca/CMC

Aos 16 anos, quando era estudante do ensino médio, Ana Júlia confrontou deputados na tribuna da Alep — Foto: Arquivo RPC e Rodrigo Fonseca/CMC

 

por Caio Budel, g1 

- -

Seis anos após a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) presenciar o discurso de uma estudante do ensino médio em prol da educação, a Casa de Leis voltará a ter a presença da jovem Ana Júlia (PT). Hoje com 22 anos, ela foi eleita deputada estadual.

Ana Júlia ganhou destaque em 2016 como uma das líderes do movimento estudantil nacional que ocupou pelo menos 850 colégios do Paraná e chegou a 20 estados do país.

Na época, ela utilizou a tribuna da Alep para protestar contra a reforma no ensino médio e sobre a morte de um jovem durante uma ocupação, momento em que acusou os deputados estaduais de estarem com a "mão suja com sangue" por omissão. Relembre a trajetória dela abaixo.

A atual vereadora de Curitiba foi eleita no domingo (2) com 51.845 votos – a 5ª mais votada do partido, que fez sete cadeiras na Alep, e a 26ª mais votada entre os 54 eleitos.

 

Eu estou maravilhada e só tenho a agradecer. Foi a esperança, um movimento que conquistou os estudantes, que conquistou a juventude e agora está eleito, sendo colocado na Assembleia Legislativa".

 

 

Estudante faz discurso na Assembleia Legislativa do Paraná; reveja o momento na íntegra

 

A eleição de 2022 foi o segundo pleito eleitoral disputado por Ana Júlia. Antes deste, ela tinha concorrido para vereadora de Curitiba, em 2020, ficando na suplência do PT. Na época, a jovem recebeu 4.538 votos, reflexo de uma campanha pautada principalmente na defesa da educação pública.

Atualmente, ela ocupa na Câmara uma vaga do então titular Renato Freitas (PT), também eleito deputado estadual. Ele teve o mandato cassado em julho, mas pôde concorrer após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

"Eu comecei lá [Alep] e naquele momento eles tinham uma impressão que eu era uma doutrinada, um fantoche, queriam cortar a minha palavra [...] Diferente de outros mandatos jovens de mulheres que já assumiram, eu não venho de uma família tradicional da política. Imagino que vai ser um desafio e eu espero conseguir mostrar o quanto a nova proposta de se fazer política tem a contribuir e como o fato da pouca idade também é uma coisa boa", disse a deputada eleita.

 

Projeção

 

Ana Júlia contou que a trajetória política dela começou dentro do movimento secundarista.

A projeção do nome da deputada eleita aconteceu de maneira mais significativa em outubro de 2016, quando Ana Júlia tinha 16 anos e participou de uma sessão na Assembleia para defender as ocupações de escolas estaduais do estado.

Na época, um discurso emocionado dela na tribuna da Casa de Leis viralizou e ganhou destaque nacional. Ela defendia investimentos na educação, respeito aos estudantes, e protestava por um colega que morreu dentro de uma escola ocupada.

Em outubro de 2016, as ocupações no Paraná atingiram cerca de 850 escolas, 14 universidades e três núcleos por meio do grupo Ocupa Paraná. As manifestações eram contra uma medida provisória que previa alterações no currículo do ensino médio, e uma PEC que delimitou um teto para os gastos públicos, inclusive na educação.

Relembre:

Parlamentares acompanhavam o discurso de Ana Júlia em silêncio, enquanto ela falava das preocupações dos jovens com o futuro. Houve embate, entretanto, quando a então estudante do ensino médio cobrou responsabilidade dos deputados sobre a morte de Lucas Mota, 16 anos, assassinado a facadas em uma ocupação.

Ao dizer que as mãos dos deputados "estavam sujas de sangue", ela foi aplaudida por participantes que acompanhavam a sessão, mas repreendida por parlamentares e pelo presidente da Alep, deputado Ademar Traiano (PSD), que cobrou respeito. Ela se desculpou logo após, mas fez tréplica:

 

 

"Eu peço desculpas, mas o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes, nossos estudantes é da sociedade, da família e do estado [...] Nós estudantes não somos vagabundos como dizem aqui, como a sociedade lá fora diz".

 

 

Mais jovem da Alep

 

Hoje com 22 anos, Ana Júlia é a deputada estadual mais jovem eleita para a Alep, segundo informações da Casa de Leis.

 

Eu vivi outras coisas, tive inúmeras outras experiências [...] Eu construí política estudantil, universitária, no terceiro setor, exerci mandato, concorri a duas eleições... por óbvio que isso tudo nos muda. Mas o que permanece igual é o mais importante: eu faço política porque eu acredito nela. Porque acredito que ela é instrumento para mudar as nossas vidas".

 

Antes dela, três parlamentares estavam empatados com o título de mais jovens da Alep: Maria Victória, Evandro Júnior e Boca Aberta Júnior, todos eleitos com 23 anos.

Segundo Ana Júlia, por ser jovem, ela enfrentou resistência em alguns ambientes, incluindo a própria Câmara. Mas acredita que a "pouca idade" é um diferencial bom para o debate democrático.

"Eu já enfrentei resistência por ser jovem, ouvi pessoas me chamando de vereadora estagiária, aprendiz... E por mais que isso tenha sido falado algumas vezes de forma amigável, inconscientemente isso cria uma imagem de que a pessoa não é capacitada o suficiente, ou não teria condições de estar fazendo articulações [...] Mas acredito que mostrei e provei que não era bem por aí... Tive um bom diálogo", disse Ana Júlia.

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01
Out22

Carta de Marcia Tiburi: Querido presidente Lula

Talis Andrade

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Querido Presidente Lula,  

Nem acredito que estou a escrever para você, dois dias antes de poder votar em você; depois de anos catastróficos; da tua prisão injusta marcada por tantos eventos tristes; dos horrores vividos no Brasil, do exílio que eu vivo e que vejo se tornar cada vez mais comum, quando hoje várias pessoas são obrigadas a deixar o Brasil. Que bom te ver sorrindo, irradiando coragem e esperança. Que bom te ver como fênix voltando a ser candidato, na iminência de se tornar presidente de novo e, mais uma vez, a abrir possibilidades, a despertar as potencialidades apagadas do país massacrado que temos em comum. É terrível pensar que nosso país experimente tal catástrofe social e política desde o golpe de 2016. 

Há poucos dias escrevi uma carta para um homem mau. Hoje eu poderia dizer que esse pequeno bilhete aberto vai para o homem bom que você é.  

Mas você é mais que um homem bom. Você é um líder popular mundialmente reconhecido, você é um fenômeno histórico. 

E você é brasileiro.  

E você está ao nosso alcance.  

Você é alguém que muitos brasileiros, inclusive eu, aprenderam a reconhecer. Demorei a te entender. Demorei a entender a tua generosidade, o teu jeito de ser, demorei a compreender o teu destino e a tua missão. Demorei a perceber que deveríamos estar todos contigo desde sempre. 

Demorei a saber que um país é um corpo e um espírito que avançam juntos no tempo.  

Demorei a entender que não deve ter sido nada fácil segurar tantas ondas, respirar fundo e voltar à tona.  

Depois de compreender o que somos, como país colonizado e ameaçado desde o seu nascedouro, entendi rapidamente que nunca será fácil.  

E que mesmo assim, você estará aí, sempre pronto para a luta.  

Você é um grande exemplo de resiliência e superação.  

Te vendo tão firme e forte penso que o Brasil é também possível.  

Você que veio da fome e da miséria, que conhece os piores sofrimentos na pele, sabe o quão mágico é estar orientando um país inteiro na direção do diálogo e do amor.

Eu te agradeço por não desistir nunca.

A gente que vota em você não vai desistir também.  

Obrigada por me ensinar tanto.  

Gratidão e amor e #lulanoprimeiroturno  

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Professora de Filosofia, escritora, artista visual, Marcia Tiburi encontra-se exilada em Paris, depois de candidata à governadora derrotada nas eleições de 2018 no Rio de Janeiro, ex-Cidade Maravilhosa, zona de guerra miliciana

 

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13
Set22

Representantes indígenas reafirmam que mortes de Bruno e Dom não foram fato isolado

Talis Andrade

Mudança de legislação pode beneficiar grandes desmatadores da Amazônia,  dizem especialistas. | ASMETRO-SI

Gritos da Amazônia. Juca Kfouri entrevista Eliane Brum. O presidente do Indigenistas Associados (INA), Fernando Vianna, disse que o brasileiro e o inglês foram mortos numa região onde, em 2019, um colaborador da Funai também foi assassinado por conta de seu trabalho de fiscalização no combate a atividades ilícitas

 

Fonte Agência Senado

Representantes de entidades indigenistas insistem na tese de que o assassinato do ativista Bruno Araújo e do jornalista britânico Dom Phillips não foram fatos isolados e estão num contexto de criminalidade crescente na região Amazônica, em especial no Vale do Javari. A violência na Amazônia foi debatida, nesta terça-feira (22), em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH) e da Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte

A iniciativa partiu do presidente da CDH, senador Humberto Costa (PT-PE), que alegou que o desmatamento tem aumentado de forma acelerada no país. Ele também acusou o governo federal de se omitir no combate a atividades criminosas no setor e de desmontar instituições responsáveis pelo combate a crimes ambientais e pela proteção dos povos indígenas. 

— É interesse do Senado e do Congresso Nacional e tenho convicção que tudo será feito pelo Poder Legislativo para evitar a repetição de fatos como esse — afirmou, referindo-se às mortes que tiveram repercussão internacional. 

 

Críticas à Funai

 

O presidente do Indigenistas Associados (INA), Fernando Vianna, disse que desde o início, quando soube do desaparecimento das duas vítimas, ficou muito preocupado, pois sabia que se tratava de um fato inserido num contexto mais amplo.

Segundo ele, o brasileiro e o inglês foram mortos numa região onde, em 2019, um colaborador da Funai também foi assassinado por conta de seu trabalho de fiscalização no combate a atividades ilícitas.

— Há todo um quadro de invasão de pessoas que ingressam nas terras para atividades ilegais. Junto com os crimes ambientais mais costumeiros, como pesca e caça ilícitas, há articulações com forças do crime muito mais complexas, com conexões com o narcotráfico internacional e o comércio de armas — afirmou. 

Fernando Vianna ainda fez críticas ao trabalho atual da Funai, que, segundo ele, tem uma diretoria comprometida não com direitos indígenas, mas com interesses econômicos e de setores que disputam a posse de terras e querem se apoderar de recursos naturais. 

Ele ainda fez um pedido aos senadores que ajudem na articulação com o Ministério da Justiça, já que os servidores da Funai estão em estado de greve.

  

Diretoria marcada

 

Além de pedir à Polícia Federal uma investigação mais ampla sobre os assassinatos de Dom e Bruno, o representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliesio Marubo, afirmou que a diretoria toda da Univaja está marcada e ameaçada de morte, que se intensificaram a partir de 2019, assim como a violência na região.

Ainda segundo ele, a atuação da instituição é toda pautada no interesse das comunidades, uma vez que o Estado é omisso na região. 

— Gostaria muito de ouvir o que a Funai tem a dizer. O que o MP fez com tantas denúncias que temos feito? É importante esse acompanhamento da comissão, para darmos respostas às famílias e à sociedade. Certamente teremos mais casos na região. Vários integrantes da diretoria da Univaja estão ameaçados. Continuaremos de cara limpa brigando pelos nossos parentes e exigindo que o Estado cumpra sua obrigação — lamentou. 

A pedido do presidente da Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Eliesio Marubo também explicou aos parlamentares a situação de Bruno Araújo, que havia pedido licença da Funai, depois de alegar estar sendo perseguido pela cúpula da instituição. 

— Ele nos relatava muito a perseguição sofrida pela atuação dele contra principalmente a caça e pesca ilegais. São atividades com reflexo no mundo político. Quem realiza essas condutas aparentemente simples, porém ilegais, são famílias grandes, que têm títulos de eleitor. E os políticos locais, que tem seus padrinhos, precisam demonstrar apoio — acusou. 

 

Irritação

 

O coordenador-geral substituto de Índios Isolados e Recém-Contatados da Fundação Nacional do Índio, Geovanio Oitaia Pantoja, informou que a Funai soube do desaparecimento de Bruno e Dom na segunda-feira de manhã e, no mesmo dia, entrou nas buscas, que já estavam sendo feitas desde domingo pela Univaja. 

— Em todo o momento a ideia era encontrá-los vivos. A Funai esteve presente em todo o processo de busca e acompanhamento juntamente com outras instituições — explicou. 

Ainda segundo ele, a Funai tem feito ações de repressão e fiscalização dentro de territórios indígenas com apoio da Força Nacional de Segurança Pública e Polícia Militar. 

Depois de ter pressionado o representante da Funai para esclarecer mais detalhes sobre a atuação da entidade na região e para saber de quantas operações de fiscalização ele havia participado, Randolfe reagiu ao constatar que Geovanio estava em Brasília, mas participando da audiência pública por meio virtual. 

— Ele está aqui em Brasilia falando conosco por via remota! O senhor estar falando daqui é um desrespeito a essa comissão! — afirmou. 

O servidor da Funai ainda respondeu algumas perguntas do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), relator da comissão temporária. Mas, insatisfeito, Randolfe sugeriu que Geovanio seja convocado ou convidado futuramente para prestar mais esclarecimentos. 

O comparecimento presencial de Geovanio foi requisitado também pelo vice-presidente da comissão temporária, senador Fabiano Contarato (PT-ES), para quem a situação da Funai é muito grave. 

— Esse governo está armando grileiros e enfraquecendo órgãos de fiscalização em todos os cantos do país. O mesmo governo que enfraquece os órgãos fiscalizadores estimula crimes ambientais, por isso essas duas comissões precisam jogar luz nesta situação — avaliou.  

 

Prevaricação

 

No fim da reunião, o senador Humberto Costa deu a palavra a lideranças indígenas que participaram da audiência. Em comum, prestaram solidariedade às vítimas; cobraram demarcações de terra; criticaram a atuação da direção da Funai; denunciaram crimes; e pediram providências e respeito aos direitos consagrados pela Constituição. 

As comissões também receberam dos ativistas um documento da Univaja contendo as denúncias feitas pela instituição a diferentes órgãos e entidades locais e federais. Os senadores informaram que vão enviar comunicado a cada uma das autoridades que em algum momento recebeu denúncias e cobrar providências sobre o que foi feito desde então.

Randolfe lembrou que entre as denuncias feitas pela Univaja está um ofício de abril, já dando noticias sobre pesca ilegal na região com a participação de um homem conhecido como Pelado, apontado como um dos assassinos de Bruno e Dom. 

— Esse ofício é quase uma premonição. Dá informações sobre quem faz a atividade ilegal, onde mora, como atua e que está armado. Não demorou 60 dias, mataram Bruno e Dom [...] Deixaram ocorrer esses homicídio, no mínimo, com a prevaricação criminosa do Estado brasileiro — disse Randolfe. 

 

04
Set22

Nem tudo que reluz é ouro

Talis Andrade

Gustavo Krause e a Amazônia | João Alberto Blog

 

por Gustavo Krause

- - -

Em política, o que parece é mesmo não sendo e as versões superam os fatos. Na disputa eleitoral, os candidatos são treinados, maquiados, para ajustar o discurso político às expectativas do eleitorado. Vale tudo na batalha de percepção. É preciso cautela: o brilho pode não ser ouro 18.

O show midiático não chega a ser um baile de máscara, um festival de mentiras, mas é o espaço onde a aparência vale mais do que a essência dos competidores.

No entanto, não custa alinhar conceitos, princípios e, até mesmo, virtuosos conselhos sobre a conquista e a manutenção do poder.

Unir na mesma cabeça sabedoria e poder é o ideal platônico. O afamado, incompreendido e difamado, Maquiavel (1469-1527) advertia: “O Príncipe deve aconselhar-se, mas quando ele próprio e não outrem, o julgue conveniente […] Daí se conclui que bons conselhos nascem da sabedoria do Príncipe, e não que a sabedoria nasça dos bons conselhos”.

No Testamento Político, o notável iluminista Maurício de Nassau (1604-1679) nos legou um atualíssimo preceito: “Devem Vossas Senhorias abster-se de lançar novos impostos, pois tributos geram indisposições no povo”.

O Cardeal Mazzarino (1602-1661), Primeiro-Ministro da França, sucessor do Cardeal Richelieu, em 1643, escreveu no Breviário dos Políticos 15 axiomas, entre eles, “O centro vale mais que os extremos” e cinco regras: “1. Simula. 2. Dissimula. 3. Não confies em ninguém. 4. Fala bem de todo mundo. 5. Prevê antes de agir”.

Apesar do tempo histórico, as reflexões permanecem válidas. Neste sentido nada mais justo do que mencionar trechos atualíssimos das duas cartas do estadista Pedro II para a filha Isabel, regente, de março de 1876 a setembro de 1877, por conta da viagem do Imperador aos EUA, Canadá e Europa.

Eis os “conselhos”: “Sem educação generalizada nunca haverá boas eleições […] Escuso observar que as estradas são o mais importante melhoramento material […] Veja se as obras existentes não param, ainda que não possam ir todas depressa, conforme permitam os recursos do Tesouro […] A magistratura vem provocando bastante queixas. Muito escrúpulo na primeira escolha […] Todos os negócios importantes não devem ser resolvidos, sem serem primeiro examinados, em conferência dos ministros, e depois em despacho com o imperador […] Reprovo a despesa que se faça por conta do ministério com a imprensa […] Os ataques ao imperador não devem ser considerados pessoais, mas apenas manejo ou desabafo partidário”.

No Brasil, a eleição caminha entre um presente angustiante e um “museu de grandes novidades”.

 
 
22
Mai22

A resistência da democracia (por Gustavo Krause)

Talis Andrade

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por Gustavo Krause

- - -

A irreverência de Nelson Rodrigues definiu o prazer da releitura: “Deve se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três a quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obstinada pertinácia”.

Carinhosamente, retirei da biblioteca um livro com as marcas de frequentes consultas – O Tempo da Memória – De senectute e outros escritos autobiográficos – do admirável pensador Italiano (Turim), Noberto Bobbio (1909-2004).

“A velhice é um tema não-acadêmico. Sou um velho professor. Permitam-me falar, desta feita, não como professor, mas como velho”, à época, com 84 anos, dizia que ultrapassara a terceira se encontrava na quarta idade.

O livro é um emocionante tratado de sabedoria humana. Filósofo da Política e do Direito, Bobbio foi, também, “um filósofo militante” no enfrentamento à monstruosidade das ditaduras, a exemplo do fascismo que assassinou Carlo Rosselli, jovem autor de: “O socialismo liberal”.

Paradoxal, era um “dualista impenitente”; declarava fervorosa afeição pelos clássicos; pertencia a linhagem dos que acreditam que “a virtude está no meio”; exerceu, sempre, a moderação na função mediadora do intelectual diante de dogmatismos opostos; rejeitava os “ismos”, porque “os ismos fecham”, o que conferiu a Bobbio a singularidade de ser moralmente liberal, radicalmente democrata e teleologicamente socialista.

Ao longo da releitura, fiquei a imaginá-lo, defensor da democracia, dos direitos humanos e da paz, testemunhando as graves ameaças da sedução populista, do desrespeito aos direitos do indivíduo e à paz mundial.

Os índices que medem o estado da democracia no mundo não são animadores. O relatório do Instituto V-DEM sobre a variação das democracias, ligado à Universidade de Gotemburgo num ranking de 202 países, 450 indicadores, revelou que a população mundial, sob regimes ditatoriais, subiu, na última década de 49% para 70%. O Brasil foi o quarto que mais se afastou da democracia.

Por sua vez, o Índice de Democracia, criado pela revista The Economist, avalia 167 países, com base em cinco critérios, para definir democracia plena, democracia imperfeita, regimes híbridos e regimes autoritários. O Brasil se enquadra na categoria imperfeita em 52% lugar.

É preciso resistir às reiteradas tentativas de retrocesso democrático.

Com a experiência de “filho do século XX”, Bobbio diria: “Prefiro falar de transformação e não de crise, porque ‘crise’ nos faz pensar num colapso iminente. A democracia não goza no mundo de ótima saúde, como de resto jamais gozou no passado, mas não está à beira do túmulo”.

Charge: tribunadainternet.com.br

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