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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

21
Set23

Resistência do governo do Rio a ordem do STF pode gerar responsabilidade penal

Talis Andrade

O vírus que mata nas favelas

 

Por Rafa Santos

No dia 5 de junho deste ano, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, manteve a ordem de uso de câmeras corporais por policiais do Rio de Janeiro. Na ocasião, o magistrado lembrou que o prazo de 180 dias concedido pelo Plenário do STF ao governo fluminense, em fevereiro do ano passado, já havia se esgotado e questionou quanto tempo mais seria necessário para que fosse cumprida a determinação do Supremo, garantindo-se, assim, que todas as unidades de operações especiais estivessem usando as câmeras.

A ordem do ministro se deu na apreciação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635 — conhecida como ADPF das favelas —, que tramita no STF desde 2019. A ação foi ajuizada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e questiona decretos estaduais relacionados à segurança pública frente às recorrentes violações de direitos humanos pelas forças policiais nas favelas do Rio. 

Uma das decisões provocadas pela ADPF ocorreu em 2020. Na ocasião, o Supremo impôs novas restrições à atuação dos agentes de segurança pública fluminenses, como veto ao uso de helicópteros blindados como plataforma de tiros e às operações em perímetros escolares e hospitalares. 

Essa decisão também foi desrespeitada pelo governo do Rio. Em maio de 2021, uma operação policial deixou 28 mortos na Favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro.

Na esteira das decisões que visavam a combater a letalidade policial no estado, Fachin determinou o uso de câmeras corporais (as bodycams) pelas forças de segurança fluminenses. Países como Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Chile e China utilizam o equipamento. No Brasil, o estado de São Paulo adotou a ferramenta e o resultado foi uma redução de 85% nas mortes em confrontos com policiais nas 18 unidades em que a novidade foi implantada, na comparação com o mesmo período de 2020.

Resistência
Por meio de ofícios, representantes das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro se opuseram de forma clara ao uso de câmeras corporais. E, de 2019 para cá, a administração estadual do Rio têm adotado um comportamento, no mínimo, errático frente ao que foi determinado pelo ministro.

Em abril deste ano, o governador Cláudio Castro afirmou que não pretende obrigar forças especiais de segurança a utilizar o equipamento. Ele alegou que o uso do equipamento pode colocar em risco a segurança dos policiais. 

"Sou contra nas questões específicas, de estratégia policial. Você mostra por onde anda, por onde entra. Enquanto eu não garantir essa segurança, e hoje não há como garantir, continuo sendo contra."

Operação no Jacarezinho, em 2021, já havia desrespeitado decisões do ministro Fachin
Reprodução/TV Globo

 

Desde dezembro do ano passado — quando Fachin determinou pela primeira vez o uso das câmeras pelas forças policiais fluminenses —, houve muitos recursos do governo do estado contra a decisão e poucos atos administrativos para cumpri-la. Assim, a revista eletrônica Consultor Jurídico procurou juristas e advogados para entender as possíveis consequências jurídicas da "rebeldia" do Rio. 

O jurista Lenio Streck explica que, ao se negar a cumprir ordem do STF, o gestor público pode responder pelo crime de desobediência, descrito no artigo 330 do Código Penal. 

"Em caso de reiteração de condutas, pode-se aplicar as regras de concurso de crimes, notadamente o concurso material (artigo 69, CP), quando há uma somatória das penas aplicadas; ou crime continuado (artigo 71, CP), que ocorre quando se aplica a pena e dela se aumenta até 2/3. Há de se pensar ainda acerca da possibilidade de responsabilizar o gestor público por omissão imprópria." 

O advogado Geraldo Barchi, do escritório MFBD Advogados, diz que, no caso em questão, o governador pode responder por improbidade administrativa, conforme indica a atual redação do artigo 11 da Lei 8.429/1992, que foi inserida no ordenamento jurídico por meio da Lei 14.230/2021.

Na mesma toada, Mozar Carvalho, sócio fundador do escritório Machado de Carvalho Advocacia, afirma que, além de responder por ato de improbidade, o governador pode cometer crime de responsabilidade ao descumprir determinação judicial. 

"Em algumas situações, é possível que a recusa em cumprir uma ordem judicial seja caracterizada como crime de responsabilidade, previsto na Constituição Federal. Nesse caso, o governador poderia ser alvo de um processo de impeachment e até mesmo sofrer as consequências políticas e jurídicas decorrentes."

O advogado Caio Almeida, do escritório Lopes & Almeida Sociedade de Advogados, também entende que a conduta do governador pode configurar crime de responsabilidade e que o caso deve ser apurado segundo o regramento legal estadual que estabelece o procedimento do impeachment.

Imagens apagadas
No último dia 26 de agosto, o jornalista Guilherme Amado, do portal Metrópoles, informou que um levantamento da Defensoria Pública do Rio de Janeiro apontou que a PM fluminense apagou e manipulou imagens das câmeras corporais. 

Segundo a Defensoria, entre abril e julho deste ano, o órgão fez 90 pedidos de acesso a imagens de câmeras corporais e de viaturas. Desses, apenas oito foram atendidos. Mesmo assim, desses oito, três deram acesso a links sem imagens e quatro eram gravações manipuladas. 

A revelação adicionou uma nova camada ao imbróglio, já que, além de não cumprir o determinado pelo STF em sua totalidade, as forças de segurança do Rio de Janeiro podem estar trabalhando contra a transparência nas ações policiais, objetivo da adoção das câmeras corporais.

Para Fernando Gardinalli, sócio do Kehdi Vieira Advogados, a prática — se comprovada — poderia ser enquadrada no crime de fraude processual, previsto no artigo 347 do Código Penal ("Inovar artificiosamente (...) o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito").

"Já se a manipulação da gravação tiver sido realizada com o objetivo de dificultar a investigação sobre um fato (isto é, não tiver havido alteração da cena do crime; a câmera, por exemplo, ficou dentro da viatura policial, sem filmar uma abordagem violenta ou mesmo ilegal), a hipótese seria de prevaricação, prevista no artigo 319 do Código Penal: 'Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal'", sustenta o advogado.

Lenio Streck entende que o caso pode ser enquadrado no crime de "supressão de documento" (artigo 305, CP), que, se público, pode chegar a uma pena de até seis anos de reclusão. "Porém, penso que somente poderia se falar na existência de tal delito em caso de destruição ou ocultação das imagens das câmeras. Isso por questão de taxatividade do tipo penal. Também entendo que, se a intenção do agente é apagar imagens de uma execução ou algo do gênero, também poderá se falar no crime de fraude processual (artigo 347, CP, com o aumento de pena previsto em seu parágrafo único)", explica ele. 

No último dia 15 de agosto, o jornal O Globo informou que, enquanto as ordens para redução da letalidade policial são discutidas no bojo da ADPF 635, ao menos dez crianças morreram no Rio de Janeiro vítimas da violência armada — três em operações policiais. 

Em janeiro, já havia sido divulgado estudo do Instituto de Segurança Pública (ISP) que informou que as forças de segurança do Rio mataram 1.327 pessoas no ano passado. O número representa 29,7% de todas as mortes violentas no estado. Ainda assim, as imagens das ações da polícia fluminense continuam escassas.

20
Ago23

A ressaca do 8 de janeiro não acaba

Talis Andrade
 
 
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por Ana Dubeux

Correio Braziliense

O 8 de janeiro de 2023 tornou-se histórico no Brasil. Vai figurar nos livros como o dia em que vândalos bárbaros num surto coletivo e criminoso invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes da República numa tentativa desastrada de golpear a democracia. O patrimônio público foi recuperado (o que deu para salvar), muitos foram presos e estão sendo julgados, mas o patrimônio moral de Brasília sofreu e continua sofrendo grande abalo. 

A operação da última sexta-feira serviu para reaquecer o fogo que arde em nós. Longe de mim julgar e condenar o alto escalão da Polícia Militar de Brasília antecipadamente. Mas as provas constantes na denúncia da Procuradoria-Geral da República, que motivaram a prisão de sete oficiais da força de segurança, por si só, já nos causam lamento, revolta e tristeza por Brasília e também pela grande parte da corporação que segue fazendo seu trabalho sem participar de tramas golpistas. 

Segundo a denúncia, existia uma rede de desinformação entre os membros do alto comando, com o repasse de mensagens falsas que colocavam em xeque a lisura do processo eleitoral brasileiro, entre várias outras acusações. Ou seja, não foi apenas a omissão no dia 8 de janeiro. Houve conspiração antidemocrática antes mesmo do término do processo eleitoral. 

Uma das polícias mais bem pagas e competentes do país entregue a um comando que se omitiu diante de informações de que o acampamento em favor de Bolsonaro concentrava extremistas e que ali era um ponto de organização para a prática de atos antidemocráticos voltados a garantir a permanência do ex-presidente no poder. 

A justificativa de falhas operacionais e apagão de inteligência não colam mais, assim como não convenciam já no início das investigações. Incompetência, a gente sabe, não é o forte de Brasília. Temos um valoroso efetivo que já demonstrou seguidas vezes o quanto é capaz de atuar em situações desafiadoras. Mas é triste perceber que quem devia zelar pela nossa segurança cruzou os braços em nome de um alinhamento ideológico golpista. 

Vai longe essa ressaca. Esperamos que a justiça seja feita e que nem o brasiliense, nem a própria corporação se tornem reféns eternos desse triste episódio. Que todos os responsáveis sejam punidos e que o governador Ibaneis Rocha faça escolhas sensatas e livres de viés ideológico para a nossa PM.

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19
Ago23

Terroristas comandavam a PM de Brasília e tramaram o golpe fracassado de 8 de janeiro dia da infâmia

Talis Andrade

Prisão de comandantes da PM-DF é luz no fim do tunel

 

por Paulo Moreira Leite

 

Em 1 de janeiro, data da posse de Lula para cumprir um inédito terceiro mandato no Planalto, ouviu-se um grito de guerra em Brasília. "Sem anistia", gritou a massa de brasileiros presentes à Capital Federal, numa referência a sombra golpista que acompanhou a campanha eleitoral.

Oito meses depois, ao determinar a prisão dos sete comandantes da Polícia Militar do Distrito Federal, acusados de se omitir "no cumprimento do dever funcional de agir" contra "a expectativa de mobilização popular para garantir Jair Bolsonaro no poder, em desrespeito ao resultado das eleições presidenciais" a Polícia Federal assumiu uma atitude sem paralelo recente, na história brasileira, para punir adversários da Constituição e Estado Democrático de Direito.

Os argumentos empregados para sustentar as prisões são inquestionáveis. Conforme a Procuradoria Geral da República, que determinou a operação, "em diálogos entre si, os mais altos oficiais demonstraram que ansiavam por um levante popular, com tomada violenta pelo poder," mostrando-se adeptos "de teorias conspiratórias sobre fraudes eleitorais e teorias golpistas".

Neste ambiente, flagrou-se um major alinhado com golpistas, capaz não só de enviar mensagens onde sustenta que seria uma "ilusão acreditar em eleições limpas" de recomendar sem reodios a tropa: "Na primeira invasão é só deixar invadir o Congresso". Dito e feito em 8 de janeiro, certo?

Até agora, sabíamos que havia ocorrido uma tentativa de tumultuar a instalação do governo Lula em 8 de janeiro -- mas não se tinha notícia de uma única providência para localizar e punir os responsáveis, situação que ameaça reproduzir as piores tradições de nossa República, que é perseguir o andar debaixo e garantir conforto e impunidade para quem comete atos ilegais em benefício de ricos e poderosos.

A iniciativa no Distrito Federal merece aplausos demorados mas nem não é possível ignorar seus limites. A conspiração bolsonarista não limitou-se a Brasília nem foi uma exclusividade das Policias Militares.

A tentativa de "mobilização popular para garantir Jair Bolsonaro no poder, em desrespeito ao resultado das eleições presidenciais" foi essencialmente uma iniciativa de comandantes do Exército e das outras Armas Militares.

Em atitude óbvia de estímulo, comandantes chegaram a permitir, estimular e sustentar acampamentos nas vizinhanças dos quartéis nas principais capitais do país, sinalizando uma sombra permanente contra a democracia.

Na época, uma das poucas tentativas de dispersar os acampamentos golpistas foi um bem sucedido ato de bravura dos militantes e torcedores da Gaviões da Fiel no bairro do Canindé, na periferia de São Paulo.

Hoje, é preciso apurar, investigar e punir quem tive conspirado contra a democracia. Como já escrevi aqui outras vezes, não custa recordar o pensamento de Edmund Burke (1729-1797) um dos mais aplicados estudiosos da condição humana: "um povo que não conhece sua história está condenado repetí-la".

Alguma dúvida?

A Procuradoria-Geral da República disse ter constatado “profunda contaminação ideológica” da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal. O subprocurador Carlos Frederico dos Santos disse que encontrou mensagens de comandantes em apoio ao golpe de Estado. As informações são da âncora da CNN Raquel Landim

19
Ago23

Coronel golpista da mala de R$ 1 milhâo em espécie é também terrorista

Talis Andrade

 

De acordo com relatório da PGR enviado ao STF, o coronel da PMDF Jorge Eduardo Naime tinha
De acordo com relatório da PGR enviado ao STF, o coronel da PMDF Jorge Eduardo Naime tinha "relações econômicas aparentemente ilícitas" com outro indivíduo e usou a estrutura da PMDF para transportar valores milionários - (crédito: Rinaldo Morelli/CLDF)

 

Denúncia feita pela Procuradoria-Geral da União (PGR) afirma que há "indícios de corrupção" contra o coronel Jorge Eduardo Naime

 

por Aline Gouveia

Correio Braziliense

O coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Eduardo Naime, preso desde 7 de fevereiro, é suspeito de usar a estrutura da corporação para transportar R$ 1 milhão em espécie de São Paulo para Brasília, em 12 de junho de 2021.

A denúncia foi feita pela Procuradoria-Geral da União (PGR), que descobriu indícios de que o militar promoveu “escolta no transporte de valores, bem como elementos da provável origem espúria dos recursos, além de potencial lavagem de dinheiro". A descoberta foi feita durante as investigações do órgão sobre a responsabilidade da PMDF com a falha de segurança que permitiu a invasão de prédios públicos no 8 de janeiro. 

O relatório da PGR provocou uma operação contra a cúpula da PMDF na sexta-feira (18/8), após o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes atender aos pedidos de busca e apreensão e prisões preventivas feitos pelo órgão. A PGR solicitou o reforço da prisão preventiva de Naime, o que foi atendido por Moraes. 

O órgão diz ao STF que vê "indícios de corrupção" nas relações econômicas de Naime, mas deixa claro de que o esquema não está relacionado com os ataques às sedes dos Três Poderes. Segundo a PGR, a competência para a tomada das providências cabíveis nesse caso é do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e não do Supremo Tribunal Federal.

No relatório, a PGR também cita a suspeita de que Naime teria se beneficiado da condição de presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal para firmar contrato para supostos serviços de “assessoria e marketing”.

"Naime, aparentemente, utilizava-se da posição de presidente da Associação para desviar os recursos angariados pela entidade por meio da contribuição de seus próprios pares. É possível, ainda, que o contrato tenha sido uma forma de desviar os recursos que, quando transferidos a NAIME, funcionavam como recebimento de vantagem indevida em razão do cargo", pontua o órgão.

O coronel teria feito diversos depósitos de dinheiro em espécie "sem identificação de depositantes e sem indicação de origem", na tentativa de driblar os mecanismos de fiscalização e controle, dificultando a identificação da origem, da localização, da propriedade e da própria movimentação dos valores.

 
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27
Jul23

Justiça condena União, Funai e MG por campo de concentração indígena durante ditadura militar

Talis Andrade
A ditadura militar brasileira removeu o povo Krenak de suas terras e o levou para um campo de concentração chamado Fazenda Guarani, onde indígenas de diversas etnias eram submetidos a trabalho forçado, tortura e outros tipos de violência física e psicológica. A população Krenak foi reduzida a apenas 50 indivíduos durante aquele período. Foto: Márcio Ferreira, 1989 / Instituto Socioambiental (ISA).

O povo Krenak foi expulso de suas terras e obrigado a viver confinado em uma fazenda. O governo ainda criou uma prisão indígena e formou uma guarda composta por pessoas de várias etnias para causar desagregação da cultura

Por Thais Pimentel, G1

A 14ª Vara Federal de Minas Gerais condenou a União, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o governo do estado por violações dos direitos humanos e civis do povo indígena Krenak – que vive na Região do Vale do Rio Doce – durante a ditadura militar.

Em 1972, homens, mulheres e crianças foram expulsos de suas terras pelo governo e obrigados a viver confinados na Fazenda Guarani, pertencente à Polícia Militar (PM), em Carmésia, a mais de 300 quilômetros de distância de suas terras. A medida foi tomada para facilitar a ação de posseiros vizinhos que tomaram os mais de 4 mil hectares dos indígenas.

“Era um campo de concentração. Famílias inteiras ficaram confinadas, presas mesmo, por anos nesta fazenda”, disse o procurador da República Edmundo Antônio Dias, autor da ação que tramitava há seis anos.

Em 1969, o governo militar já havia criado o Reformatório Agrícola Indígena Krenak, um presídio que chegou a abrigar 94 pessoas de 15 etnias, vindas de 11 estados brasileiros.

“Eles não sabiam por que estavam sendo presos. Alguns eram detidos por causa de bebida ou por terem saído de áreas demarcadas. Não havia julgamento. A tortura era comum. Eles ainda eram obrigados a fazer trabalhos forçados”, disse o procurador.

 

Guarda e tortura

 

Outra violação foi a criação da Guarda Rural Indígena, composta por pessoas das aldeias que vigiavam e puniam os presos. A primeira turma foi treinada pela Polícia Militar de Minas Gerais e era composta por 84 indígenas de diferentes etnias e regiões do país, entre elas Craós (Maranhão), Xerente (Goiás), Carajás (Pará), Maxacali (Minas Gerais) e Gaviões (Tocantins).

A medida causou desagregação dentro do grupo, ferindo a cultura e o espírito de irmandade entre os povos.

A única foto que documenta uma cena de tortura durante a ditadura militar é de um indígena em um pau-de-arara sendo "exibido" em Belo Horizonte, na presença de autoridades como secretários de estado. O evento era a formatura da 1ª turma da Guarda Rural Indígena.

 

O que determina a Justiça

 

Segundo a decisão da juíza federal Anna Cristina Rocha Gonçalves, a União, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o governo do estado terão que realizar, em um prazo de seis meses, "após consulta prévia às lideranças indígenas Krenak, cerimônia pública, com a presença de representantes das entidades rés, em nível federal e estadual, na qual serão reconhecidas as graves violações de direitos dos povos indígenas, seguida de pedido público de desculpas ao Povo Krenak".

A Funai também terá que concluir o processo administrativo de delimitação da terra de Sete Salões, considerada sagrada para os indígenas. Só em 1993 que os Krenak conseguiram parte dos 4 mil hectares originais de volta. Porém, esta área ficou de fora.

“A decisão acontece em um momento muito importante que é a discussão do marco temporal das terras indígenas. Se esta questão vigorasse, e não o que determina a Constituição, estas pessoas jamais teriam conseguido retornar para sua terra. Porque isso só aconteceu depois da constituição de 88. Eles ainda estavam na Fazenda Guarani’, disse o procurador.

06
Abr23

Estudantes de Blumenau se juntaram em foto para formar suástica nazista

Talis Andrade
 
 
 
MASSACRE EM BLUMENAU: FALHAMOS COMO PAÍS? - Tudo ok Notícias
Massacre em Blumenau de tradições nazistas 
 
 

 

Ideli Salvatti, ex=ministra dos Direitos Humanos diz que a propaganda neonazista está espalhada em Santa Catarina, sobretudo em Blumenau, onde houve ataque a creche. O assassino nazista filho de pai militar nazista bolsonarista, que atacou duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, tem proteção policial para uma confortável vida 

 

por Joaquim de Carvalho /Brasil 247

O ataque a uma creche de Blumenau chamou a atenção pela crueldade do assassino, que matou crianças com golpes de machado, mas não só por isso. A cidade e seu entorno têm sido notícias que as associam ao nazismo, a ideologia que tem o ódio como elemento central.

A ex-ministra dos Direitos Humanos Ideli Salvatti, que foi senadora por Santa Catarina, ouviu na semana passada o relato de que alunos de um câmpus do Instituto Federal de Ensino se fotografaram em posição que, no conjunto, formava a suástica.

"Os alunos deitaram no chão, fizeram a suástica com os próprios corpos e fotografaram como logo da escola", contou, em entrevista à TV 247. Segundo ela, o caso foi encaminhado para a procuradoria do Instituto Federal, para providências legais.

Ideli disse que o caso é mantido sob sigilo, porque poderá haver repercussão judicial junto aos pais dos adolescentes, que são menores de idade. Para ela, o caso revela que há uma ação organizada do movimento neonazista para cooptar os mais jovens.

"O movimento nazifascista bolsonarista está focado. Eles estão focados no ambiente escolar. Eles estão fazendo cooptação de juventude, de crianças e adolescentes, para operacionalizar as suas ações. Isso está visível. Então, tem que ter ação, ação de governo, e tem que ter ação não só do Executivo, do Judiciário, que tem que ser mais rápido, tem que ser mais ágil", comentou.

O Ministério Público de Santa Catarina já identificou mais de 500 células nazistas no estado. "Quantas que eles já desmontaram? Não dá para fazer assim: 'a gente está fazendo'. Fazendo para quando, cara pálida? Então, é urgente. E o Legislativo não dá para ser conivente mais", afirmou.

Santa Catarina é um dos estados em que Jair Bolsonaro teve proporcionalmente mais votos – 62,21% – e é governado por um ardoroso defensor da política armamentista, Jorginho Melo (PL).

No ano passado, quando era senador, Melo gravou vídeo de apoio ostensivo ao Proarmas, entidade que defende a liberação total do porte de armas e patrocina candidatos nas eleições, sobretudo parlamentares. Dirigindo-se aos participantes de uma convenção do Proarmas, ele disse que o presidente da entidade, Marcos Pollon, despachava em seu gabinete e mandava nele.

“Ele [Pollon] é senador, quando eu não estou no gabinete ele assume. Ele vai lá, ele faz emenda. Ele, de forma muito carinhosa; ele que é um dedicado, apaixonado pelo que faz… Então não precisa dizer muito que somos parceiros, ele que manda em mim. E a pauta dele é a minha pauta”, declarou.

Em Blumenau, Jorginho Melo teve 75,49% no segundo turno das eleições de 2022. A cidade já teve escolas com pichações de suástica e de apoio a Hitler. Em 2017, cartazes comemorativos do aniversário do líder nazista alemão foram afixados no centro da cidade.

"Heróis não morrem. Parabéns, Führer - 20/04/1889", dizia a propaganda, com foto de Hitler.

A ex-ministra Ideli Salvatti entende que o ataque à creche na cidade é fruto do disseminação do discurso de ódio e apologia do nazifascismo bolsonarista e, por isso, o movimento que ela ajudou a criar, o Humaniza, programou para segunda-feira, às 19 horas, reunião na cidade para definir ações específicas naquela região.

"Não dá para esperar. Precisamos agir, é urgente", disse.

.x.x.x.x.

 

Procurei o Instituto Federal de Ensino, mas, em razão do feriado (que foi estendido para esta quinta-feira), ninguém atendeu. Quando a instituição se manifestar, atualizaremos este artigo.

Recado desde correspondente, ex-professor de História (cursos de vestibular), e de Filosofia (Escola Normal de Natal) de Jornalismo, de Propaganda, de Publicidade, de Relações Públicas (Universidade Católica de Pernambuco): quem faz suruba nazista participa de orgia sexual. Meninas de 12, 13 anos, que ainda são virgens têm os nomes pichados, execrados.

Adolescente usa arma do pai e símbolo nazista em ataque a escolas

Filho de policial militar, jovem diz que planejava ação há dois anos

 
 
Folha de S.Paulo on Twitter: "Adolescente vítima de ataque a escolas em  Aracruz (ES) está intubada https://t.co/tdav50XIXs" / Twitter
O estudante admirador de Hitler autor do massacre em duas escolas em Aracruz, Espirito Santo, com o pai (que teve a identidade protegida) em uma motociada de Bolsonaro candidato a presidente em 2022
 
 
 
A Agência Brasil publicou condescendente reportagem, chorando pelos pais do adolescente psicopata, que aprendeu a atirar sozinho, a dirigir carro sozinho, a ler sozinho livros nazistas encontrados na biblioteca de casa e do quartel, inclusive a proibida autobiografia de Hitler. 
 
Eis o texto de 25/11/22: 
 
Após ser apreendido como principal suspeito de autoria do ataque a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, um adolescente de 16 anos confessou o crime, informou a Polícia Civil do estado. O jovem contou que vinha planejando a ação há pelo menos dois anos. O adolescente é filho de um policial militar.
 
"Os pais estavam destruídos e colaboraram muito com o nosso trabalho", disse o delegado da Polícia Civil, João Francisco Filho, que apresentou os detalhes da apreensão ao lado do governador Renato Casagrande, do secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo, e do secretário de Segurança Pública, Marcio Celante. De acordo com o delegado, o adolescente foi encontrado em um dos imóveis da família no município. A operação foi tranquila e houve cooperação tanto dos pais quanto do autor do crime.
 

Já se sabe que o adolescente usou duas armas de responsabilidade do pai: um revólver de calibre .38, de propriedade privada e uma pistola .40 pertencente à Polícia Militar. Ele também levava três carregadores. O governador Renato Casagrande confirmou que, no momento do crime, o adolescente usava uma braçadeira com um símbolo nazista.

Imagens das câmeras de segurança registraram a ação. O atirador vestia roupa camuflada e uma máscara de esqueleto, similar à usada em fotos nas redes sociais por um dos autores do massacre ocorrido em 2019 na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, São Paulo.

 
A Agência Brasil esqueceu as vítimas do horrendo e covarde massacre:
 

O Setor Educação da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu uma nota em solidariedade a comunidade escolar e aos familiares das vítimas do atentado a duas escolas em Aracruz (ES), que matou quatro pessoas e feriu 12.

As vítimas são a estudante Selena Sagrillo, de 12 anos, e as professoras Maria da Penha Pereira de Melo Banhos de 48 anos, Cybelle Passos Bezerra, de 45 anos e Flávia Amboss Merçon Leonardo. O corpo das vítimas já foram enterrados. De acordo com a Polícia Civil do Espírito Santo, o assassino tem 16 anos, usou duas armas no ataque, uma do pai, outra da Polícia Militar. O adolescente está apreendido desde a tarde do crime.

12
Jan23

Tradição de impunidade desde redemocratização levou ao caos de Brasília, diz historiadora francesa

Talis Andrade
 
Brasil inicia buscas por responsáveis de invasão a sedes dos Três Poderes
Brasil inicia buscas por responsáveis de invasão a sedes dos Três Poderes AP - Eraldo Peres

Para contextualizar e entender o ataque de militantes radicais bolsonaristas à Praça dos Três Poderes nesse domingo (8), a historiadora francesa Juliette Dumont, professora do Instituto de Altos Estudos da América Latina (IHEAL) da Universidade Sorbonne Nouvelle de Paris, volta ao fim da Ditadura Militar. Ela ressalta a Lei da Anistia, essa “tradição de impunidade”, “esse pecado original da redemocratização”.

Segundo Juliette Dumont, a invasão de Brasília mostra “que essa impunidade leva ao caos e a uma anomia”.

A comparação com o ataque ao Capitólio por militantes trumpistas é pertinente, mas ao contrário dos Estados Unidos, no Brasil houve “leniência” das forças de segurança, diz a professora do IHEAL. A exemplo de vários intelectuais e políticos brasileiros, a historiadora francesa pede que, desta vez, não haja anistia e que os responsáveis por esse ataque anunciado à democracia brasileira sejam punidos, com rigor.

“A questão é saber se o novo governo Lula vai poder realmente ter uma margem de manobra”, questiona a especialista em história do Brasil.

 

RFI: Qual é a sua reação após a invasão de militantes radicais bolsonaristas contra a Praça dos Três Poderes, em Brasília?

Juliette Dumont: É uma dupla reação. Primeiro o espanto diante de cenas totalmente alucinantes e, ao mesmo tempo, a sensação de que isso era muito previsível. Faz meses que, como historiadora, comentarista do que está acontecendo no Brasil, eu e meus colegas dizemos que um cenário como o do ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos, era possível. Tudo o que aconteceu desde o dia 12 de dezembro, com a diplomação de Lula e as violências por parte de bolsonaristas em Brasília, que não foram punidas pela Polícia Militar, a tentativa de atentado no aeroporto de Brasília, a movimentação dos bolsonaristas em direção da capital, os acampamentos diante dos quartéis do Exército, tudo isso mostrava uma agitação muito forte.

Além disso, sabíamos, com as eleições e a margem muito curta com o que o Lula ganhou, as eleições também no Congresso e nos governos estaduais, que o bolsonarismo estava bem instalado. Então, claro, não foi uma surpresa, mas uma consternação. Uma tristeza imensa também de ver tamanho ataque às instituições da República brasileira como as destruições feitas ao patrimônio brasileiro, obras de artes, prédios de arquitetos famosos. Consternação, tristeza e também certa angústia com os dias e os meses que virão.

 

Quais são as responsabilidades do ex-presidente Bolsonaro e de outras personalidades por esse crime anunciado contra a democracia?

JD: Faz mais de um ano que o Jair Bolsonaro anunciava como presidente que se ele não ganhasse as eleições, ele iria contestar o resultado; que se ele não ganhasse, era prova de fraude. Essa retórica ele manteve quase o tempo todo, até o segundo turno das eleições. Esse discurso, que também foi respaldado por outros políticos, outros responsáveis nas redes sociais, criou realmente a crença nos militantes bolsonaristas de que as eleições foram fraudadas, assim como o Trump fez nos Estados Unidos. A primeira responsabilidade é sim de Jair Bolsonaro que, como presidente, nunca legitimou as instituições democráticas. Mas também penso no procurador-geral da República, Augusto Aras, que também tem uma responsabilidade forte porque, como procurador-geral, nunca tomou as providências necessárias contra as violências por parte dos bolsonaristas. Responsabilidade também de personalidades como Sérgio Moro, agora senador da República, que no início dessa tarde de domingo, ainda dizia que o novo governo estava mais preocupado em fazer repressão aos oponentes que a governar. Dizendo repressão aos oponentes, ele coloca essas manifestações, esses acampamentos e essa truculência, como normais, como democráticas.

A segunda responsabilidade, a meu ver, é essa leniência, uma palavra que volta muito (a ser usada) desde ontem. O fato de considerar que ataques à democracia, que seja nas redes sociais, na rua ou no Congresso, por parte de políticos, é uma coisa que banaliza totalmente os ataques à democracia. Há a responsabilidade da Polícia Militar, do governo do Distrito Federal, do secretário da Segurança Pública do governo do Distrito Federal. Ou houve negligência ou houve cumplicidade. Os vídeos de policiais militares que fazem selfies e não impedem os manifestantes, ou melhor, os terroristas, de entrar na Praça dos Três Poderes são muito reveladores do problema que existe com a Polícia Militar no Brasil. E é um problema que não é de hoje. Não é simplesmente o resultado de quatro anos de bolsonarismo, mas de uma impunidade que data desde a redemocratização e a falta de processos de condenação das ações da Polícia Militar durante a ditadura militar. Então é toda uma cultura também democrática, que não existe entre a maioria dos policiais militares, que também está em jogo aqui.

Quando muitas personalidades dizem que não deve ter anistia e que o Brasil tem de parar com essa tradição da anistia, eu acho muito justo, muito importante, porque tem uma tradição sim, de anistia, de impunidade. O que mostra a invasão de Brasília ontem é que essa impunidade leva ao caos e a uma anomia. Não se pode falar de um golpe de Estado. Não é uma ação muito bem organizada para tomar o poder, mas uma estratégia de caos e de acabar com a legitimação dos poderes e das instituições da democracia brasileira.

A historiadora Juliette Dumont
A historiadora Juliette Dumont RFI

 

Com essa estratégia de caos, se apostava numa ação do Exército Brasileiro. Como você analisa a posição do Exército Brasileiro nesse momento?

JD: Uma posição muito ambígua. Primeiro, porque há acampamentos em frente a prédios do Exército desde o segundo turno, sabemos muito bem que muitas personalidades, muitas pessoas do exército se beneficiaram dos quatro anos de bolsonarismo e que alguns pregavam uma intervenção do Exército, que agiram contra a democracia e o jogo das instituições. Então tem uma investigação que tem de ser feita e responsabilidades também têm de ser identificadas no Exército. O silêncio dos principais responsáveis do Exército desde ontem revela essa ambiguidade. Então eu acho que vai ter que observar de maneira muito fina o que vai acontecer e como o governo, o Executivo, mas também o Legislativo e o Poder Judiciário podem agir com o Exército, mas também contra o Exército. E o que vemos é a dificuldade do novo governo, que só tem uma semana, de não se confrontar de maneira direta tanto ao Exército como os acampamentos de bolsonaristas, com medo de que isso seja visto como revanchismo ou com o medo que isso possa gerar uma tentativa de desestabilização por parte de certas pessoas do Exército face ao novo governo.

 

Você lembrou a invasão do Capitólio de 6 de janeiro de 2021. Essa comparação com a invasão ontem em Brasília continua pertinente?

JD: Sim, mesmo se há diferenças importantes, continua pertinente. Primeiro porque o próprio Jair Bolsonaro, quando houve a invasão do Capitólio, parabenizou o Trump e os que invadiram o Capitólio dizendo que era o povo que estava se expressando para retomar seus direitos. Ele nunca escondeu que se ele perdesse um cenário como a invasão do Capitólio, seria possível. E vemos isso. E vemos também os manifestantes, vândalos, terroristas que estão com uma “raiva de destruição”. As cenas que assistimos ontem foi isso, as de destruição de todos os símbolos.

Agora as diferenças. Primeiro que no Capitólio, as forças de segurança de segurança realmente resistiram. Não houve essa benevolência, essa leniência, das forças de segurança que observamos com a Polícia Militar do governo do Distrito Federal. Nos Estados Unidos, só foi o Capitólio que foi que foi atacado e não os três poderes ao mesmo tempo. E, para voltar nesse papel da Polícia Militar e o que há de diferente com os Estados Unidos, é realmente essa história da segurança pública no Brasil desde a redemocratização. Esse pecado original da redemocratização, de não ter apurado o funcionamento e a cultura da Polícia Militar e de instituições do Estado que reprimem e violentam o próprio povo. Então isso, a meu ver, é uma diferença muito grande entre o que aconteceu nos Estados Unidos e o que aconteceu ontem no Brasil.

 

Você falou que está preocupada, inquieta com o futuro. Quais os desdobramentos você vê dessa crise brasileira?

JD: A questão é saber se o novo governo vai poder realmente ter uma margem de manobra. Já falei da questão do Exército. Como é que o Exército vai ou não vai cumprir as diretivas do novo governo do presidente Lula? Assistimos ontem a uma união sagrada dos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo. Quanto tempo essa união sagrada vai perdurar? Sabemos que o Congresso, tanto o Senado como a Câmara dos Deputados, hoje tem uma maioria de deputados de direita, de extrema direita, ligada ao bolsonarismo. Como esses deputados e senadores vão se empenhar para realmente defender e fortalecer a democracia? Como esses deputados e senadores vão contribuir para reconstruir as instituições do Estado brasileiro que realmente foram muito enfraquecidas durante esses quatro anos do Bolsonaro?

Outra questão também é a questão da mídia, da grande mídia, que teve um papel importante desde 2013 e, sobretudo, a partir de 2016 e do impeachment contra Dilma Rousseff. Eu lembro de uma capa da Veja,  em novembro de 2017, com uma foto do Lula e do Bolsonaro dizendo “os políticos que nos assombram”. Esse paralelo feito sempre entre extrema direita e esquerda, de criminalização da esquerda, é o discurso que permanece tanto nas palavras, por exemplo, do Jair Bolsonaro no Twitter ontem, ou do Silas Malafaia, ou de alguém como o Sérgio Moro, mas também na grande mídia, dizendo bom, houve ataques de bolsonaristas, mas, por exemplo, o MST tem práticas de vandalismo, de ocupação, etc... Eu assisti as lives da Folha, da GloboNews, da CNN Brasil, e o que me chamou a atenção foi o fato de os jornalistas passarem rapidamente a chamar as pessoas que invadiram a Praça dos Três Poderes de terroristas e vândalos. Eu realmente espero que esse choque seja forte o suficiente para parar com essa narrativa equidistante entre extrema direita e esquerda, que é uma banalização de uma certa maneira da retórica da extrema direita.

Outra coisa vai ser a como os inquéritos, os julgamentos, as prisões que o presidente Lula prometeu, que o Flávio Dino também prometeu, que o Arthur Lira chamou de necessários, o Alexandre de Moraes também, como isso vai ser possível num estado que realmente está enfraquecido e num estado onde os partidários do Bolsonaro ainda são muito numerosos? E como o Lula vai conciliar o seu discurso de unidade e de pacificação da sociedade brasileira com uma necessária resposta muito firme e punitiva diante do que aconteceu? Os atos que aconteceram são muito graves. Cabe ao presidente Lula, ao seu governo, mas também aos outros poderes, manterem essa linha muito firme de não perdoar e não fazer a anistia tanto contra as pessoas que estavam na Praça dos Três Poderes como os responsáveis pela invasão. Responsáveis tanto intelectuais, vamos dizer, políticos, como as pessoas que financiaram a possibilidade dessa invasão.

04
Dez22

Chacina de Aracruz teria motivação político-ideológica?

Talis Andrade

Assassino entrou nas escolas de arma em punho e com roupas camufladas
 

 

Por que a professora Flávia Amboss Merçon teria sido o primeiro alvo do atirador?

 

Por Aloísio Morais Martins /Jornalistas Livres

Com a confirmação de que a professora Flávia Amboss Merçon Leonardo, de 38 anos, foi a primeira pessoa atingida pelos tiros disparados pelo garoto de 16 anos na Escola Estadual Primo Bitti em Praia do Coqueiral, no município de Aracruz, no Centro do Espírito Santo, ficou reforçado o indicativo de que a chacina tramada durante dois anos pode ter motivação político-ideológica. Afinal, por que o ex-aluno da escola foi direto à sala das professoras? O assassino matou três delas, uma aluna de 12 anos e deixou 12 pessoas feridas, cinco delas ainda internadas em estado grave. Várias manifestações de protesto estão sendo realizadas e programadas na região para denunciar a chacina e exigir punição dos responsáveis. O pai do adolescente é tenente da Polícia Militar, que já instaurou processo administrativo contra o policial. No dia 29, ele e a mulher prestaram depoimento à Polícia Civil.

 

 

Primeiramente, é bom situar o ambiente do crime, que a chamada ‘grande imprensa’ tem escondido: A chacina aconteceu dentro de um condomínio criado pela empresa Aracruz Celulose há algumas décadas, quando se implantou na cidade que acabou adotando seu nome. Fica em local privilegiado, próximo à Praia do Coqueiral e distante 22 quilômetros do centro nervoso da cidade de Aracruz, instalada no interior. O condomínio destinado a funcionários de altos cargos da empresa cresceu e, hoje, virou local de moradia de famílias de alta e média classe média, deixando de ser exclusivo dos servidores da empresa.

O menor, que usava um símbolo nazista no momento dos crimes, é filho de um tenente bolsonarista da Polícia Militar que já fez postagens sobre o livro Minha Luta, do genocida Adolf Hitler, que comprou a pedido do filho. “O livro é péssimo. Li e odiei”, disse. Mas o militar é, sobretudo, uma pessoa de direita. Nas redes sociais o garoto aparece todo garboso ao lado do pai em manifestação bolsonarista. Por sinal, ostentando o mesmo chapéu usado no momento da chacina.

 

Flávia Merçom era militante de esquerda e muito querida

Já a professora Flávia Amboss Merçom Leonardo, era conhecida como uma pessoa nitidamente de esquerda. Tinha pós-graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo, doutorado em Antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, e militava no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que no ES tem atuação destacada desde o rompimento da barragem da Vale em Mariana, MG, quando as águas do Rio Doce foram tingidas há cinco anos pelo barro da mineração até a foz, no litoral capixaba. Flávia dedicou sua trajetória acadêmica aos estudos junto às comunidades pesqueiras e nativas do ES. Por que a professora teria sido escolhida como primeiro alvo do assassino? Mera coincidência ou o estudante teria algum ranço ideológico com Flávia? Com a palavra os investigadores.

 

Material apreendido pela Polícia Civil na casa do autor da chacina no condomínio Praia do Coqueiral

 

Vale destacar que o garoto assassino dá bons sinais de que aprendeu muita coisa com o pai, certamente, seu ídolo. Apesar de menor, os vídeos dão mostras de que aprendeu muito bem como conduzir um veículo, inclusive em alta velocidade. Além de sua desenvoltura, os vídeos mostram muito bem como sabe manusear bem as armas que portava. E é bom de pontaria. Com quem aprendeu? Em suas primeiras confissões liberadas pela polícia, ele diz que agiu sozinho e que aprendeu a atirar escondido do pai. Dá pra acreditar? Estaria ele querendo livrar a cara do paizão? A polícia terá que avançar nas investigações destes aspectos. Enfim, essa chacina promete intrigantes capítulos nestes tempos de endeusamento das armas (que esperamos estar chegando ao fim). Vejamos!

E, aliás, não custa perguntar: será que o pai do assassino defende a maioridade penal aos 16 anos, como boa parte dos bolsonaristas? Será que para ele ‘bandido bom é bandido morto?’. Pimenta é muito boa nos olhos dos outros, né não?

 

 

Como pano de fundo da tragédia, temos no Espírito Santo, hoje, um nítido predomínio da direita no estado, onde Bolsonaro, por exemplo, obteve 58,04% dos votos, contra 41,06% de Lula no segundo turno da eleição. Quem esteve lá, como eu, às vésperas da eleição, pôde sentir isso bem claro nas ruas e avenidas, onde carrões e as caminhonetes cabines duplas dominavam o ambiente com suas acintosas propagandas bolsonaristas. A supremacia é de tal forma que o presidente eleito não pôde fazer comícios no estado por falta de palanque. O governador reeleito Renato Casagrande, do PSB, preferiu acender uma vela a deus e outra ao diabo, colhendo votos de lulistas e de bolsonaristas ao descartar posar ao lado do petista.

 

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O pai e o filho assassino em uma manifestação de bloqueio golpista de rodovia pró Bolsonaro ditador
 
 
[A Polícia Militar de Renato Casagrande esconde as fotografias, o nome do pai e o nome do filho. Revelou que o pai era tenente. Tenente tenente ou tenente coronel? A mãe do assassino é ou foi professora das escolas tiroteadas pelo assassino em massa?]
 
 
21
Out22

Jornalistas fazem ato em defesa da democracia e debate sobre voto evangélico (charges curralzinho)

Talis Andrade

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A relevância nestas eleições do voto evangélico e a defesa do jornalismo e da democracia são temas de dois eventos, organizados por entidades de jornalistas relacionados às eleições. O primeiro deles, pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, avaliará em que proporção a população evangélica está no centro do debate eleitoral deste ano. Isso em razão da sua relevância numérica e, principalmente, por ser por ela que a extrema direita se aproveita da chamada pauta de costumes para implementar sua agenda ultraconservadora.

A organização do debate avalia que as eleições deste ano podem ser definidas como “um plebiscito entre a civilização e a barbárie”. “(A população evangélica foi) decisiva em 2018, na eleição que alçou o fascista Jair Bolsonaro ao poder impulsionada por uma impiedosa máquina de mentiras e desinformação fortemente calcada em temas como costumes e religião, a escolha eleitoral de milhões de brasileiros pode não estar selada como antes”, afirma o Barão, em nota.

Três especialistas participaram do debate sobre o voto evangélico: A pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Romi Bencke; o sociólogo e líder ecumênico metodista Anivaldo Padilha; e o repórter autor do livro O Reino – A história de Edir Macedo e uma biografia da Igreja Universal, vencedor de 10 prêmios de jornalismo pelo conjunto de sua obra, Gilberto Nascimento

 

O reino: A história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal  (Portuguese Edition) eBook : Nascimento, Gilberto: Amazon.de: Kindle-Shop

 

Jornalismo e democracia

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Entidades jornalísticas e organizações que defendem a liberdade de imprensa e os direitos humanos, entre elas a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), realizaram, na noite desta terça-feira (27/09), um ato em defesa das e dos profissionais de imprensa e da Democracia, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), na zona oeste de São Paulo.

“Estamos reunidos aqui hoje porque o jornalismo e a própria democracia estão sob forte ataque nos últimos anos. E essa gravíssima situação chegou agora ao ápice. Estamos aqui juntos para dizer que basta!”, afirmou Paulo Zocchi, vice-presidente da FENAJ, que discursou em nome das 16 entidades organizadores do evento.

“Em situações normais, o jornalismo não é, nem poderia ser, uma profissão de risco. Mas no Brasil, nos últimos anos, a violência contra profissionais é preocupação constante e crescente de nossa categoria”, disse Zocchi.

Segundo Zocchi, os profissionais são agredidos pelo poder de Estado, notadamente pela Polícia Militar; são perseguidos judicialmente, e aí se inclui infelizmente até mesmo o Supremo Tribunal Federal; e também são agredidos, em grande medida, por Bolsonaro e por apoiadores incentivados pelas ações do presidente.

O dirigente sindical citou levantamento da FENAJ de acordo com o qual, em 2018, foram registrados 135 casos de agressões a jornalistas, contra 430 em 2021. “Com Bolsonaro no governo, há três vezes mais agressões a jornalistas do que havia antes. É mais do que uma por dia! Desde que chegou à Presidência, ele é o principal agressor: em 2021, Bolsonaro realizou 147 agressões a jornalistas, 34% do total nacional”, destacou.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou 353 ataques a jornalistas entre o início deste ano e a semana passada. Outra entidade do setor, a Repórteres Sem Fronteiras, contabilizou no primeiro mês de campanha eleitoral mais de 2,8 milhões postagens com conteúdos ofensivos a jornalistas brasileiros.

 

A repórter da Folha de S. Paulo, Patrícia Campos Mello, participou do evento e fez relatos sobre as agressões que tem sofrido nos últimos anos. Ela foi vítima de ataques sexistas de Bolsonaro.

Patrícia é autora de uma série de reportagens que revelou um esquema de contratação de empresas para realizar disparos em massa durante as eleições de 2018, que fizeram dela alvo preferencial de bolsonaristas nas redes sociais.

“É muito estranho que, desde 2018, nós jornalistas, nós repórteres, tenhamo-nos transformado em alvo. Em um país democrático, supostamente democrático, que tem um governo eleito democraticamente, mas que a imprensa se transformou em um alvo, especialmente as mulheres”, disse Patrícia.

Ela lembrou os ataques que recebeu, entre eles, ligações, e ameaças de agressão física. Ela também recebeu muitas mensagens com conteúdo pornográfico.

O Negócio do Jair - Juliana Dal Piva - Grupo Companhia das Letras

Além de Patrícia, Bianca Santana, Juliana dal Piva, Flávia Oliveira, Carla Vilhena e outras jornalistas de diversos veículos de todo o Brasil participaram do evento com depoimentos em vídeo.

As profissionais contaram alguns dos casos de ataques sofridos e falaram sobre as consequências das agressões. Medo de exercer a profissão, depressão, e danos a saúde mental, foram alguns dos efeitos relatados.

Daniela Cristóvão, da Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB, também esteve no evento e afirmou que quando um jornalista é ameaçado no desenvolvimento da sua profissão a cidadania de todos está ameaçada.

Na mesma linha ocorreu a participação de Ana Amélia, advogada e membro do grupo Prerrogativas. “A liberdade de imprensa é essencial ao jornalismo. Não existe democracia sem a liberdade de imprensa e sem o papel essencial, sério, informativo do jornalista”, disse.

“A principal aliada é a imprensa na luta pelos direitos humanos”, disse Ariel de Castro, do Tortura Nunca Mais. “Imagina o que acontece com os jornalistas que estão na periferia, no interior, que não estão em grandes órgãos de imprensa. E o assédio judicial?”, questiona.

O evento foi organizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), FENAJ, Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Abraji, Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Repórteres sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Associação Profissão Jornalista (ApJor), Barão de Itararé, Intervozes, Fotógrafas e Fotógrafos Pela Democracia, Associação Paulista dos Jornalistas Veteranos, Centro Acadêmico Vladimir Herzog e Centro Acadêmico Benevides Paixão.

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13
Out22

Fazendo ‘talibaminions’

Talis Andrade

Rogério Correia denuncia ao MP prefeita de Uberaba por fazer exposição de armas de fogo e bombas a crianças: “Frontal violação aos direitos delas”; vídeos

 

por Fernando Brito

- - -

Há dois dias, escrevi que Bolsonaro e o “modo de não pensar” a que ele conduz o país estavam “talibanizando” o Brasil.

Creio que, depois das cenas chocantes de ontem, no Rio e em Uberaba (MG), com crianças sendo levadas a imitar operações bélicas e a manusear granadas e armas, como parte dos “festejos” do dia em que se as homenageia, não é possível deixar de entender que isso não é força de expressão.

Qual é o prazer mórbido que se pode ter vendo meninos e meninas, alguns mal aguentando o peso de coletes blindados, saindo de um veículo com “fuzis” para fazerem uma operação de guerra?

Talvez se precise encontrar algum remanescente do Exército Islâmico ou consultar livros sobre a Alemanha nazista para saber os processos mentais que levam a submeter a isso nossas crianças.

Talvez o mesmo que leve um arcebispo, como o de Aparecida, a ser vaiado por dizer que se deveria enfrentar e vencer “o dragão da fome”.

Mas esta gente, que naturalizou a barbárie, é menos perigosa do que a omissão de parte das nossas elites que também praticam o “isentismo” que atribui uma falsa equivalência, como se os dois lados estivessem travando uma “guerra religiosa” ou uma “pauta de costumes”.

Não é isso, mas a nossa sobrevivência dentro de padrões de civilização, de humanidade, de vida harmônica.

Grave é que estejamos aceitando “e daí?” para 700 mil mortes, para a discriminação e o ódio religioso, interracial e social, para a venda indiscriminada de armas e, pior ainda, para a glorificação disto, ao ponto de ser uma prática desejável até para crianças.

O que nos pode acontecer não é preciso adivinhar, basta olhar os livros de História.

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