Era uma vez a carestia?
por Gustavo Krause
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Desde criança, ouvia de minha mãe: “a carestia tá braba, na feira, o dinheiro não dá pra nada”! Meu pai, dentista em Vitória de Santo Antão, determinava: “Aperta os cintos”. Não tinha o que apertar. O básico estava garantido: feijão com arroz, aluguel e a mensalidade escolar. Não existiam as tentações do consumismo.
Carestia trocou de nome: inflação. Fenômeno complexo e devastador das nações, inclusive o Brasil que, por décadas, desafiou, em conjunto, a ciência econômica e a arte da política. De 1980 a 1994, alguns dados ilustram o grau de instabilidade do País: 5 Presidentes da República, 15 Ministros da Fazenda, 14 Presidentes de Banco Central, 6 planos de estabilização, um confisco, 6 moedas e 720% de inflação média anual.
Crise brutal e impeachment de Collor, levaram Itamar Franco à Presidência da República. O três primeiros ministros da Fazenda foram breves. O Senador Fernando Henrique realizou o improvável: venceu a inflação, ganhou a eleição, avançou na gestão pública e nas políticas sociais.
Puxando pela memória, adoto, como marco inicial do percurso, 18/8/93, data da primeira conversa do Presidente Itamar, Fernando Henrique e Edmar Bacha (autor da leitura inaugural de 2022, No País Dos Contrastes – Memórias da Infância ao Plano Real. Acertei em cheio: consistência, simplicidade e a leveza do humor).
Edmar é mineiro e maneiro. Obedeceu a FHC: “não precisa entrar em detalhes”. Foi direto no coração de Itamar ao definir inflação: “A nossa ‘Belíndia’ tem duas moedas: o dinheiro que queimava no bolso dos pobres e os depósitos que se valorizavam nas contas remuneradas dos ricos. A ideia é criar uma moeda forte, a mesma para pobres e ricos”. Na saída, pediu ao conterrâneo um autógrafo para os filhos Julia e Carlos Eduardo. Bingo!