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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

15
Jul23

Depoimento relata socos em garota de programa que assessor de deputado do PL levou para o motel

Talis Andrade

 

Daniel Donizet

 

Exame confirmou violência sexual. Orgia do deputado Daniel Donizet e assessor com três acompanhantes de luxo em Brasília

 

247 - Uma garota de programa, de 25 anos, denunciou à Polícia Civil ter sido vítima de agressões físicas e sexuais por parte de Marco Aurélio Oliveira Barboza, assessor do deputado distrital Daniel Donizet (PL), informa o Metrópoles. De acordo com a garota de programa, o parlamentar estava presente no mesmo motel, no Núcleo Bandeirante, em março deste ano, e teria ouvido e percebido os crimes. O deputado nega que estivesse no local. 

Donizet está em seu segundo mandato na Câmara Distrital e se apresenta como defensor dos animais. O gabinete do deputado divulgou nota sobre o ocorrido: “Trata-se de uma denúncia infundada. O deputado Daniel Donizet não estava presente no local e não participou do evento. O inquérito policial corre em sigilo e, por essa razão, não pode passar outras informações sob pena de atrapalhar as investigações. Marco Aurélio segue lotado no gabinete.”

Para a polícia, a acompanhante de luxo disse que, além de ter recebido tapas e socos, o suspeito teria retirado o preservativo e forçado sexo com ela contra a sua vontade. A prática é denominada de “stealthing” e pode caracterizar crime de violação sexual mediante fraude. Dentro do quarto de motel, estariam outras duas garotas de programa e o deputado distrital.

A vítima registrou boletim de ocorrência dias após os supostos crimes, que foram investigados pela 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante). O Metrópoles apurou que as conclusões do laudo do Instituto Médico Legal (IML) e outros arquivos resultaram “reunidos elementos de informação que evidenciam a procedência parcial das informações contidas” e “controvertida a existência do crime, em tese, de lesão corporal simples”.

Em depoimento, outra acompanhante contou que um homem a convidou para ir ao motel. A mulher não se recorda das características do referido carro, mas que nele estavam dois homens, sentados na frente, e três mulheres. Em determinado momento, diz ter ouvido a pronúncia dos nomes “Daniel Donizet” e “Marco Aurélio” , sendo ditos pelos indivíduos. Vídeo aqui

As denúncias não param por aí, após a TV Globo veicular o acontecido, apareceram outras vítimas de assédio moral e sexual praticadas pelo deputado Daniel Donizet. Estas vítimas estiveram no Ministério Público na manhã desta sexta-feira (14) e, em depoimento, denunciaram o distrital por abuso sexual e assédio moral. Leia reportagem de Mino Pedrosa aqui. Que relata bacanal com seis pessoas, e engavetamento policial do processo.

03
Jun23

Marco temporal: os indígenas contra o fim do mundo imposto pelos bandeirantes de terno

Talis Andrade

HELICÓPTEROS DA PM SEGUIAM OS MANIFESTANTES EM VOOS RASANTES, DERRUBANDO GALHOS DE ÁRVORES E COLOCANDO EM RISCO INDÍGENAS E PROFISSIONAIS DA IMPRENSA. FOTOS: FERNANDO MARTINHO/SUMAÚMA

 

DIÁRIO DE GUERRA

Movendo-se pela vida

 

- - - 

Em São Paulo, o principal protesto indígena foi organizado pelo povo Guarani, da aldeia Tekoa Pyau, na Rodovia dos Bandeirantes, uma das principais vias de acesso à capital da maior cidade do Brasil. Os Guarani se reuniram às 18h de segunda-feira para iniciar seus rituais de rexistência. Por volta de 5h30 de terça-feira, numa madrugada gélida, com os corpos pintados, bloquearam a rodovia com pneus e atearam fogo.

Por volta de 7h começou uma negociação com a Polícia Militar de São Paulo, estado hoje governado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Os indígenas concordaram em liberar uma pista para passagem de ambulâncias e casos emergenciais. Mas, às 8h30, com a chegada da Tropa de Choque da PM, o diálogo foi interrompido, sob forte tensão. Quatro indígenas restaram feridos, um por balas de borracha e três deles por bombas de gás de “efeito moral”.

Ao mesmo tempo, um helicóptero da PM perseguia num voo rasante os manifestantes que corriam de volta às aldeias, assustando crianças indígenas que estavam na escola pela manhã. Galhos caíam das árvores e colocavam em risco os manifestantes e jornalistas que acompanhavam o protesto. A PM alegou, em nota, que “após três horas de negociação, a Tropa de Choque precisou agir com técnicas de dispersão de multidões”. Na conta da polícia, “ninguém foi preso e não houve relato de feridos”.

“Não é legítimo nos subjugar, mais uma vez”, defendeu o indígena Karai Djekupe.  A ideia original dos manifestantes era caminhar até a Marginal Tietê, uma das principais vias expressas de São Paulo. Os sonhos, segundo Djekupe, aconselharam seu povo a rezar para o espírito adoecido do rio Tietê, que era mãe verdadeira e se tornou um símbolo da poluição.

Em Brasília, indígenas Kaingang, Terena, Guajajara, Pankararu, Tikuna, Kayapo, Xikrin, Potiguara, Tuxá, Tukano, Pankará, Kariri-xokó, Satere-mawe e Pataxó-hã-hã-hãe caminharam da Biblioteca Nacional/Museu da República até o gramado da Alameda dos Estados, em frente ao Congresso. Eram poucos, mas estavam lá.

Enquanto os indígenas tentavam ser escutados pelo país, os parlamentares defensores do marco temporal insistiam em se apresentar como os verdadeiros protetores dos povos originários, com rajadas de estupidez: os indígenas “não vivem de comer minhoca”, “têm mais terra que o tamanho de Portugal”, “são escravizados pela esquerda”. Segurança jurídica e “respeito à propriedade” eram as duas expressões mais ouvidas nos discursos dos parlamentares que querem ter o poder de demarcar – ou não demarcar nunca mais – as terras indígenas.

A deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG) pintou as mãos com a pasta vermelha de urucum, para simbolizar que o voto pelo marco temporal era o voto não dos que tinham sangue indígena nas veias, como muitos deputados alegavam, mas daqueles que tinham sangue indígena nas mãos. Também afirmou que na Câmara se “negociava a mãe”, referindo-se à mãe Terra.

Ao passar por cima dos povos indígenas, os deputados passaram mais uma vez a boiada sobre a Amazônia e todos os enclaves de natureza que ainda resistem. Os homens de terno não tratoravam apenas o futuro, mas também a inteligência. A precariedade dos discursos, o negacionismo disfarçado de informação, a ignorância esgoelada com orgulho era também apocalíptica. Onipotentes, a maioria dos deputados parece sequer perceber que cava o abismo com seus sapatos de gabinete.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no auge de seu poder, definiu com o cinismo habitual: “A maioria sempre vence a minoria”. A deputada Érica Kokay (PT-DF) resumiu a votação: “O absurdo, definitivamente, está perdendo a modéstia no Brasil”.


Revisão ortográfica (português): Elvira Gago
Tradução para o espanhol: Meritxell Almarza
Tradução para o inglês: Mark Murray
Edição de fotografia: Marcelo Aguilar, Mariana Greif e Pablo Albarenga
 

ARA POTY ACUSOU O GOVERNO DE SÃO PAULO DE INIMIGO DOS INDÍGENAS QUE, SEGUNDO ELA, FAZIAM UM PROTESTO PACÍFICO CONTRA O MARCO TEMPORAL. FOTO: FERNANDO MARTINHO/SUMAÚMA

CRIANÇAS DO POVO GUARANI TAMBÉM SE UNIRAM AOS PROTESTOS, NA RODOVIA DOS BANDEIRANTES, CONTRA O MARCO TEMPORAL. FOTO: FERNANDO MARTINHO/SUMAÚMA

A INTERRUPÇÃO DOS PROCESSOS DE DEMARCAÇÃO É UM DOS IMPACTOS MAIS IMPORTANTES DA TESE DO MARCO TEMPORAL PARA OS INDÍGENAS. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA

O MARCO TEMPORAL REPRESENTA UM RETROCESSO NA DEFESA DOS DIREITOS AOS TERRITÓRIOS DOS POVOS ORIGINÁRIOS. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA

JOVENS ACOMPANHAM, AO VIVO EM BRASÍLIA, PELO CELULAR, OS VOTOS DOS DEPUTADOS NO PL DO MARCO TEMPORAL. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA

A DEPUTADA CÉLIA XAKRIABÁ (AO CENTRO): O VERMELHO DO PROTESTO SIMBOLIZA O SANGUE INDÍGENA NAS MÃOS DOS QUE VOTAM NO MARCO TEMPORAL. FOTO: PABLO VALADARES/CÂMARA DOS DEPUTADOS

LIDERANÇAS INDÍGENAS, IMPEDIDAS DE SE APROXIMAR DO CONGRESSO, FIZERAM UMA VIGÍLIA EM FRENTE AO PRÉDIO, AGUARDANDO O RESULTADO DA VOTAÇÃO. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA

06
Abr23

Estudantes de Blumenau se juntaram em foto para formar suástica nazista

Talis Andrade
 
 
 
MASSACRE EM BLUMENAU: FALHAMOS COMO PAÍS? - Tudo ok Notícias
Massacre em Blumenau de tradições nazistas 
 
 

 

Ideli Salvatti, ex=ministra dos Direitos Humanos diz que a propaganda neonazista está espalhada em Santa Catarina, sobretudo em Blumenau, onde houve ataque a creche. O assassino nazista filho de pai militar nazista bolsonarista, que atacou duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, tem proteção policial para uma confortável vida 

 

por Joaquim de Carvalho /Brasil 247

O ataque a uma creche de Blumenau chamou a atenção pela crueldade do assassino, que matou crianças com golpes de machado, mas não só por isso. A cidade e seu entorno têm sido notícias que as associam ao nazismo, a ideologia que tem o ódio como elemento central.

A ex-ministra dos Direitos Humanos Ideli Salvatti, que foi senadora por Santa Catarina, ouviu na semana passada o relato de que alunos de um câmpus do Instituto Federal de Ensino se fotografaram em posição que, no conjunto, formava a suástica.

"Os alunos deitaram no chão, fizeram a suástica com os próprios corpos e fotografaram como logo da escola", contou, em entrevista à TV 247. Segundo ela, o caso foi encaminhado para a procuradoria do Instituto Federal, para providências legais.

Ideli disse que o caso é mantido sob sigilo, porque poderá haver repercussão judicial junto aos pais dos adolescentes, que são menores de idade. Para ela, o caso revela que há uma ação organizada do movimento neonazista para cooptar os mais jovens.

"O movimento nazifascista bolsonarista está focado. Eles estão focados no ambiente escolar. Eles estão fazendo cooptação de juventude, de crianças e adolescentes, para operacionalizar as suas ações. Isso está visível. Então, tem que ter ação, ação de governo, e tem que ter ação não só do Executivo, do Judiciário, que tem que ser mais rápido, tem que ser mais ágil", comentou.

O Ministério Público de Santa Catarina já identificou mais de 500 células nazistas no estado. "Quantas que eles já desmontaram? Não dá para fazer assim: 'a gente está fazendo'. Fazendo para quando, cara pálida? Então, é urgente. E o Legislativo não dá para ser conivente mais", afirmou.

Santa Catarina é um dos estados em que Jair Bolsonaro teve proporcionalmente mais votos – 62,21% – e é governado por um ardoroso defensor da política armamentista, Jorginho Melo (PL).

No ano passado, quando era senador, Melo gravou vídeo de apoio ostensivo ao Proarmas, entidade que defende a liberação total do porte de armas e patrocina candidatos nas eleições, sobretudo parlamentares. Dirigindo-se aos participantes de uma convenção do Proarmas, ele disse que o presidente da entidade, Marcos Pollon, despachava em seu gabinete e mandava nele.

“Ele [Pollon] é senador, quando eu não estou no gabinete ele assume. Ele vai lá, ele faz emenda. Ele, de forma muito carinhosa; ele que é um dedicado, apaixonado pelo que faz… Então não precisa dizer muito que somos parceiros, ele que manda em mim. E a pauta dele é a minha pauta”, declarou.

Em Blumenau, Jorginho Melo teve 75,49% no segundo turno das eleições de 2022. A cidade já teve escolas com pichações de suástica e de apoio a Hitler. Em 2017, cartazes comemorativos do aniversário do líder nazista alemão foram afixados no centro da cidade.

"Heróis não morrem. Parabéns, Führer - 20/04/1889", dizia a propaganda, com foto de Hitler.

A ex-ministra Ideli Salvatti entende que o ataque à creche na cidade é fruto do disseminação do discurso de ódio e apologia do nazifascismo bolsonarista e, por isso, o movimento que ela ajudou a criar, o Humaniza, programou para segunda-feira, às 19 horas, reunião na cidade para definir ações específicas naquela região.

"Não dá para esperar. Precisamos agir, é urgente", disse.

.x.x.x.x.

 

Procurei o Instituto Federal de Ensino, mas, em razão do feriado (que foi estendido para esta quinta-feira), ninguém atendeu. Quando a instituição se manifestar, atualizaremos este artigo.

Recado desde correspondente, ex-professor de História (cursos de vestibular), e de Filosofia (Escola Normal de Natal) de Jornalismo, de Propaganda, de Publicidade, de Relações Públicas (Universidade Católica de Pernambuco): quem faz suruba nazista participa de orgia sexual. Meninas de 12, 13 anos, que ainda são virgens têm os nomes pichados, execrados.

Adolescente usa arma do pai e símbolo nazista em ataque a escolas

Filho de policial militar, jovem diz que planejava ação há dois anos

 
 
Folha de S.Paulo on Twitter: "Adolescente vítima de ataque a escolas em  Aracruz (ES) está intubada https://t.co/tdav50XIXs" / Twitter
O estudante admirador de Hitler autor do massacre em duas escolas em Aracruz, Espirito Santo, com o pai (que teve a identidade protegida) em uma motociada de Bolsonaro candidato a presidente em 2022
 
 
 
A Agência Brasil publicou condescendente reportagem, chorando pelos pais do adolescente psicopata, que aprendeu a atirar sozinho, a dirigir carro sozinho, a ler sozinho livros nazistas encontrados na biblioteca de casa e do quartel, inclusive a proibida autobiografia de Hitler. 
 
Eis o texto de 25/11/22: 
 
Após ser apreendido como principal suspeito de autoria do ataque a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, um adolescente de 16 anos confessou o crime, informou a Polícia Civil do estado. O jovem contou que vinha planejando a ação há pelo menos dois anos. O adolescente é filho de um policial militar.
 
"Os pais estavam destruídos e colaboraram muito com o nosso trabalho", disse o delegado da Polícia Civil, João Francisco Filho, que apresentou os detalhes da apreensão ao lado do governador Renato Casagrande, do secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo, e do secretário de Segurança Pública, Marcio Celante. De acordo com o delegado, o adolescente foi encontrado em um dos imóveis da família no município. A operação foi tranquila e houve cooperação tanto dos pais quanto do autor do crime.
 

Já se sabe que o adolescente usou duas armas de responsabilidade do pai: um revólver de calibre .38, de propriedade privada e uma pistola .40 pertencente à Polícia Militar. Ele também levava três carregadores. O governador Renato Casagrande confirmou que, no momento do crime, o adolescente usava uma braçadeira com um símbolo nazista.

Imagens das câmeras de segurança registraram a ação. O atirador vestia roupa camuflada e uma máscara de esqueleto, similar à usada em fotos nas redes sociais por um dos autores do massacre ocorrido em 2019 na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, São Paulo.

 
A Agência Brasil esqueceu as vítimas do horrendo e covarde massacre:
 

O Setor Educação da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu uma nota em solidariedade a comunidade escolar e aos familiares das vítimas do atentado a duas escolas em Aracruz (ES), que matou quatro pessoas e feriu 12.

As vítimas são a estudante Selena Sagrillo, de 12 anos, e as professoras Maria da Penha Pereira de Melo Banhos de 48 anos, Cybelle Passos Bezerra, de 45 anos e Flávia Amboss Merçon Leonardo. O corpo das vítimas já foram enterrados. De acordo com a Polícia Civil do Espírito Santo, o assassino tem 16 anos, usou duas armas no ataque, uma do pai, outra da Polícia Militar. O adolescente está apreendido desde a tarde do crime.

21
Mar23

Pátria Voluntária: mais um rolo de Michelle

Talis Andrade
 
Charge: Fredy Varela

 

Por Altamiro Borges

Paparicada pelo chefão do PL – o que tem gerado ciumeira no maridão que fugiu para os EUA –, Michelle Bolsonaro não está com essa bola toda para disputar a presidência da República ou outro cargo eletivo. O seu telhado de vidro é enorme. Na semana passada, o site Metrópoles revelou que “uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União encontrou uma série de ilegalidades no programa Pátria Voluntária, chefiado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro”. 

Segundo documento obtido com exclusividade pelo site, o TCU “constatou que o programa, que obtinha arrecadações privadas e as direcionava para entes privados, não respeitava o princípio da impessoalidade orçamentária e não usava critérios objetivos, amparados pela legislação, para definir quem recebia doações. Por considerar que o modelo de gestão adotado era ilegal, o tribunal chegou a indicar que recomendaria a extinção do programa”. 


Ingerência sobre o destino dos recursos

De acordo com o relatório assinado pelo ministro Antônio Anastasia, “o programa de voluntariado era uma maneira de agentes públicos promoverem arrecadações para, depois, terem uma ingerência sobre o destino de recursos privados sem autoridade para isso. Em tese, os recursos eram geridos pela Fundação Banco do Brasil (FBB). A auditoria descobriu, porém, que no Conselho de Solidariedade, criado na pandemia, o governo Bolsonaro definiu a destinação de algumas arrecadações. Além disso, o TCU verificou que os beneficiários das doações eram escolhidos pela Casa Civil”. 

“Embora a arrecadação dos recursos financeiros e a sua gestão sejam de competência da FBB, a seleção das entidades beneficiárias era efetuada no âmbito da Casa Civil”, escreveu o ministro, apontando a grave ilegalidade. No programa, não havia “critérios objetivos e isonômicos para a seleção de instituições sociais a serem beneficiadas com recursos financeiros oriundos de doações privadas”. Os gestores do programa tampouco tinham respaldo legal para administrar os recursos. 


Negociatas na compra de vacinas para Covid
 
Esse não é o único caso escabroso envolvendo a ex-primeira dama – que já tinha o apelido de Micheque, em alusão aos R$ 89 mil em cheques que recebeu do miliciano Fabrício Queiroz, e que agora passou a ser chamada também de MisSheik, em referência às joias de R$ 16,5 milhões que recebeu da ditadura saudita. No início de 2021, no pico das mortes na pandemia do coronavírus, por exemplo, ela foi denunciada por suposto envolvimento nas negociatas para a compra de vacinas. 

Na ocasião, a revista Veja publicou que “uma nova leva de mensagens do cabo da PM Luiz Paulo Dominguetti, em poder da CPI da Pandemia, insere um novo personagem na nebulosa negociação de vacinas superfaturadas com o governo. Trata-se da primeira-dama Michelle Bolsonaro”. O militar citou o reverendo Amilton Gomes de Paulo, que operava como lobista no Ministério da Saúde e “atuou para aproximar os supostos vendedores das vacinas do gabinete presidencial”. 

“Dominguetti comenta assustado sobre os avanços do reverendo. 'Michele [sic] está no circuito agora. Junto ao reverendo. Misericórdia', escreve. O interlocutor se mostra incrédulo diante do nome da primeira-dama. 'Quem é? Michele Bolsonaro?'. E Dominguetti retorna: 'Esposa sim'”. O depoimento bombástico faz parte do relatório da CPI do Genocídio, que infelizmente foi esquecido – para a sorte da hoje “presidenciável” ex-primeira-dama. Mas ele pode ser recuperado em uma futura campanha eleitoral.
 
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09
Mar23

Um vexame que os militares nunca enfrentaram

Talis Andrade
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As notícias nas capas dos jornais, sobre a vigilância da Receita Federal aos movimentos do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, são constrangedoras para as Forças Armadas.

Um almirante era monitorado por auditores das alfândegas, muito antes da apreensão das joias para Michelle, porque viajava demais.

Foram 10 viagens em 2019. Caíram para três no ano seguinte, por causa da pandemia, mas a intensidade dos compromissos fora do país voltou em 2022.

No ano passado, ele ficou apenas cinco meses no cargo, de janeiro a maio, mas realizou sete viagens internacionais.

Bolsonaro atraiu a desconfiança até mesmo da Receita sobre os movimentos dos seus militares.

É um tenente da Marinha o homem que trouxe as joias das arábias numa mochila. Um sargento da Marinha, sob as ordens de um coronel do Exército, tentou recuperar as joias apreendidas.

Um contra-almirante, José Roberto Bueno Junior, então chefe de gabinete de Bento Albuquerque, também tentou reaver as joias, sem sucesso.

E agora essa informação sobre as viagens monitoradas de um ministro com patente de almirante.

Quando, mesmo na ditadura, um almirante provocou desconfianças em servidores do governo porque viajava demais?

Dos militares que conviveram de perto com Bolsonaro, poucos escaparam de envolvimento em casos escabrosos.

E uma das notícias de ontem, na capa do Globo, dizia que Michelle Bolsonaro estava articulando sua defesa no caso das joias, como os militares do PL.

Os militares reunidos com Michelle eram, segundo o Globo, Braga Netto, que agora é líder político, e seus auxiliares, todos com passagens pela caserna.

Ou seja, militares são considerados decisivos para a definição da estratégia de defesa de Michelle. Faz sentido.
Sérgio A J Barretto
@SergioAJBarrett
Para tentar liberar os diamantes da Arábia Saudita, o Bolsonaro usou os três componentes das Forças Armadas. Avião, da Aeronáutica, o Mauro Cid, do Exército, e o Bento Albuquerque, da Marinha. Mas foi tudo pelo patriotismo?
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31
Dez22

Plano de golpe de Bolsonaro incluía Braga Netto comandando militares e Valdemar agindo no Congresso

Talis Andrade

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Braga Netto colocaria os militares nas ruas e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, seria responsável por "acalmar" a classe política

 

247 - "Durante o período do primeiro turno das eleições, enquanto aparecia atrás nas pesquisas e com risco de perder, Jair Bolsonaro (PL) planejou dar um golpe de Estado", é o que conta o jornalista Daniel Cesar, do IG, que ouviu "um aliado do entorno da Presidência".

"O presidente reuniu os chefes das Forças Armadas e avisou que pretendia usar o artigo 142 da Constituição", diz o aliado. O golpe estaria marcado para a segunda quinzena de novembro, após o segundo turno da eleição, portanto.

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Com Lula eleito em 30 de outubro, Bolsonaro se isolou, abalado pela derrota, mas assessores teriam prosseguido com o plano de golpe. 

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O candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, teriam papéis centrais para levar o golpe adiante. "O general Braga Netto seria o responsável por reunir as Forças Armadas em torno da ruptura e colocar os militares nas ruas. O primeiro passo seria anunciar o fechamento do STF por fraude nas eleições". Valdemar teria o papel de "acalmar" a classe política. "O Congresso não seria fechado e os políticos teriam a garantia de que seus mandatos seriam preservados".

Bolsonaro ainda nomeou aliados no exterior para buscar respaldo internacional ao golpe. De acordo com a fonte ouvida pelo jornalista, até mesmo uma ligação ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi feita para buscar apoio.

No Brasil, bolsonaristas teriam passado a financiar e incentivar apoiadores do atual governo a sair às ruas pedindo intervenção militar, em um "teatro" para "obrigar" Bolsonaro a agir com mais firmeza. "Era tudo teatro".

"No dia 30 de novembro veio a decisão de que não haveria uma ruptura por falta de apoio e Bolsonaro se sentiu abandonado", conta a fonte.

O plano teria começado a ir por água abaixo quando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, condenou o PL a pagar uma multa por litigância de má-fé ao questionar as urnas eletrônicas. Valdemar, então, recuou do golpe. "Sem dinheiro para pagar os funcionários e apoiadores, Valdemar não tinha força".

Na sequência, Bolsonaro teria recebido a informação de que não teria o apoio de Putin para o golpe. Os Estados Unidos avisaram que também não apoiariam o golpismo bolsonarista e que, se preciso fosse, enviariam forças para restaurar a ordem no país. A decisão norte-americana teria feito com que os militares brasileiros abandonassem o plano.

"Justo no dia 30, quando Bolsonaro estava animado para anunciar a ruptura, ele ficou isolado e furioso", conta a fonte. 

05
Dez22

As críticas de Gandra ao STF e a história do crocodilo debaixo da cama

Talis Andrade

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Por Lenio Luiz Streck

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1. E não haverá golpe... desde que...!

Há uma anedota sobre um paciente que vai ao psiquiatra todas as semanas e se queixa que há um crocodilo debaixo de sua cama. O psiquiatra lhe tranquiliza e lhe diz: é imaginação sua. Fale-me mais sobre sua infância etc. etc. Na quinta semana o paciente não compareceu. Fora comido pelo crocodilo.

O professor Ives Gandra age como o psiquiatra e nos diz, sobranceiramente, em artigo aqui na ConJur, como se fosse porta-voz dos insurrectos e das vivandeiras que bulem com os granadeiros os instando a fazerem extravagâncias: "Não haverá golpe". Como disse o psiquiatra: o crocodilo não existe..., mas se você não se comportar, o crocodilo pode, realmente, comer você.

Sim, porque Gandra coloca algo depois da frase "não haverá golpe": "...mas o STF tem de respeitar os demais poderes". Isto é: o STF deve "ficar na dele". Caso contrário, pode haver golpe.

O artigo soa quase que como uma ameaça...! Digamos que foi uma ameaça que confirma as teorias conspiratórias, porque coloca na conta do Supremo Tribunal Federal a culpa pelo atual estado "vivandeirístico" que atravessamos. Digamos que foi uma ameaça elegante feita, como ele mesmo diz, por "um velho professor".

Pois um professor também "não tão novo assim" vem aqui para discordar. Com elegância. Como sempre faço.

O artigo 2º da CF diz que são poderes harmônicos entre si Legislativo, Executivo e Judiciário. E a CF também diz que o STF é o guardião da CF. Portanto, se se prega o fechamento do STF, como está visível nas manifestações de civis e militares (e de eclesiásticos, pasmem; não pagam impostos e pregam golpe), quem defende o STF? Sem o guardião da Constituição não tem nem Constituição, nem democracia. Qualquer análise sistêmica liquida com qualquer argumento ad hoc que pretende fazer textualismos ad-hoc. Elementar!

Não poderia deixar de exprimir em que ponto reside minha divergência doutrinária em relação àqueles que pretendem interpretar o artigo 2 da CF como um salvo-conduto para que o Judiciário deixe de exercer sua função jurisdicional de mantenedor do regime democrático, bem como de órgão de cúpula que deve prezar pela autonomia do Direito. Ora, o artigo 1º, que vem antes do 2º, diz que todo o poder emana do povo por meio de seus representantes. Mas o artigo 102 diz que o STF é o guardião da Constituição.

E, por favor, não esqueçamos que a Constituição é remédio contra maiorias. E é o estatuto jurídico do político. De onde interpretar a norma que prescreve a imperiosidade da independência e da harmonia dos poderes da República não pode(ria) conduzir à ideia de que qualquer um deles possa agir sem prestar contas tanto do ponto de vista interno quanto externo. Viver numa democracia significa isto: accountabillity.

 

2. Os três argumentos de Ives Gandra

O primeiro não é exatamente um argumento, mas uma postulação — dada a partir de uma inferência: a de que o risco de ruptura institucional no Brasil é zero. Gandra diz isso do alto de sua docência em cátedras de escolas militares.

Porém, o professor ignora alguns fatos. Noticiou o colunista Marcelo Godoy, do jornal O Estado de S. Paulo (aqui) (do qual o Dr. Ives é contumaz colaborador), que 221 militares da reserva — entre os quais 46 oficiais generais (33 da FAB, dez da Marinha e três do Exército) —, todos do grupo autodenominado Guardiões da Nação, assinaram uma petição aos comandantes das três Forças na qual pedem que intervenham contra as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, que afastou a contestação sem provas feita pelo PL contra a vitória de Lula. O primeiro nome da lista é o do general e deputado federal bolsonarista Eliéser Girão (PL-RN). E ignora o Twitter (de novo) do general Villas Bôas. E as ameaças do próprio presidente...

Lembro de novo da anedota do psiquiatra e do crocodilo. Tem ou não tem um crocodilo aí?

Pois bem.

Seria possível achar que vivemos em um ambiente de normalidade democrática quando duas dezenas de militares (incluindo o presidente e seu vice) se recusam a aceitar o resultado legítimo do sufrágio pelas urnas, que o professor declara ter certeza de que será respeitado? Como ter essa certeza com número tão grande de indivíduos que se recusam a aceitar o resultado das eleições? É fato ou não é fato que o PL ingressou com ação fajuta? E com perícia fake paga com dinheiro da viúva.

Ainda: qual é o conceito de "ruptura institucional" que tem o professor Ives? Baseado em que o professor faz essa afirmação "com tranquilidade"? Se está tranquilo, por que escrever e colocar mais lenha na fogueira com o seu artigo?

Ora, a depender do conceito adotado, até eu estou tranquilo. Nenhum tanque invadiu o Congresso. Ainda estou escrevendo na ConJur, ninguém ainda mandou me prender ou queimou meus livros. Circulando, circulando, pois.

Ocorre que há, nisso, um ponto de extrema relevância, que não pode passar batido. Ives Gandra ignora que a simples discussão de possibilidade de ruptura já, em si, é uma ruptura simbólica. Por quê?

- Porque quando estamos em democracia não discutimos a (possibilidade de) ditadura.

- Porque quando estamos em democracia não se admite que um militar (ou professores) digam: tranquilo, tranquilo, não haverá golpe.

Alguém se dá conta dessa "ruptura simbólica"? Alguém se dá conta da violência simbólica produzida por manifestos militares e de textos produzidos por professores que admitem a discussão de ruptura? Eis o busílis. Ora, se eu aceito a possibilidade de golpe (ruptura), não adianta dizer que não ocorrerá. Antes disso já produzi a violência simbólica. "Tranquilamente".

O segundo argumento do ilustre jurista versou sobre as decisões que livraram totalmente o presidente eleito Lula de seus processos (colocaram o novo presidente em total estado de inocência), do qual resultou sua elegibilidade. Também aqui há um "argumento" repleto de postulações.

Pois bem. O professor Ives Gandra afirma ter lido a decisão. Confesso minhas dúvidas sobre se o professor leu a decisão dos ministros Gilmar e Fachin.

Analisemos o tema mais uma vez. Quando o ex-juiz Moro deixou de cumprir o devido processo penal, o Direito restou desprezado [1] e acertada foi a decisão do Supremo que, sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes, declarou a parcialidade do ex-juiz (HC 164.493). Vale enumerar os motivos (que não são poucos):

a) ilegal condução coercitiva de Luiz Inácio Lula da Silva;

b) arbitrária quebra do sigilo telefônico do paciente, de familiares e até de advogados;

c) divulgação ilegal de áudios;

d) a atuação do juiz Sergio Moro para impedir a ordem de soltura contra Lula;

e) a condenação imposta pelo juiz Sergio Moro ao ex-presidente Lula;

f) o fato de, na última semana antes do primeiro turno das eleições, o juiz Sergio Moro, de ofício, ter levantado o sigilo de parte da delação premiada de Antônio Palocci Filho, cuja narrativa buscava incriminar o ex-presidente; e

g) o fato de o juiz Sergio Moro ter assumido o "Ministério da Justiça ampliado", do governo do opositor político do paciente.

É pouco? Estivéssemos sob a égide do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, a parcialidade de Moro geraria consequências maiores do que a simples declaração de nulidade.

Mais: quando setores da justiça deixaram de cumprir as regras de competência, acertada foi a decisão Supremo Tribunal que reconheceu a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para o processo e julgamento da denúncia ali oferecida. Por isso:

a) Quando um juiz orienta o agir estratégico do Ministério Público, acerta uma corte que declara sua parcialidade.

b) Quando um processo é anulado por ter sido conduzido por juiz incompetente e parcial, acerta o tribunal que proíbe o aproveitamento de seus viciados materiais.

Tomemos a questão da incompetência, ainda objeto de equívocos na comunidade jurídica. O professor Ives argumenta — postula — que o ministro Fachin "descobriu" uma incompetência, dando a entender que o ministro assim o fez por motivos eleitoreiros, já que a suposta incompetência, se correta fosse sua identificação, já deveria ter sido declarada de antemão. Primeiro, o professor faz grave acusação ao ministro. Sei que não é de seu feitio. Talvez um pequeno obnubilamento ideológico o tenha levado a esse ponto fora da curva.

Segundo, temos de interpretar a decisão pelos autos. Repito: vale a (re)leitura. Tratava-se de um habeas corpus. O ministro Fachin não "descobriu" absolutamente nada; julgou o habeas corpus, e, provocado pela defesa — que argumentou pela incompetência da jurisdição de Curitiba para julgar o caso —, decidiu corretamente, tendo sua cautelar sido referendada pela 2ª Turma posteriormente. Teria a 2ª Turma também "descoberto" a nulidade?

Na sequência, o professor diz que "não viu" cerceamento de defesa. Eis aí outra postulação. Argumente-se em favor do ponto. Eu também não "vi". O ponto é exatamente esse. Ninguém "viu" Moro orientando Deltan (até) sobre operações policiais. Ninguém "viu" o grampo no advogado. Descobrimos depois. É exatamente porque ninguém "viu" é que foi cerceamento de defesa. Há que (re)ler a decisão do ministro Gilmar. E o voto de Lewandowski e de Fachin.

 

3. O terceiro argumento: o "fator Loewenstein".

Opina o professor que o pensamento de Loewenstein teve adaptações, tendo mudado ao longo sua visão já nos anos 1950, tempo em que ele se afastava da "realidade alemã" da reconstrução europeia contida em seus estudos anteriores.

Ora, o livro de Loewenstein que embasa o argumento de Ives Gandra é outro. A concepção de democracia ali "não fica expressa de forma clara como citado em seus estudos anteriores". Bem, é claro… é outro livro. E isso é o de menos. Veja-se.

Ainda que houvesse reconhecida mudança no pensamento desse autor — fato que se aplica à maioria dos teóricos com décadas de carreira —, observa-se que o argumento de Loewenstein de democracia militante parece (e é) muito mais sofisticado do que o entendimento utilizado pelo dr. Ives. Trata-se de conceito mais sofisticado e complexo do que uma mera defesa jurídico-formal da democracia pela via judicial, contravalente aos esforços legais do (nazi)fascismo contra a democracia. A questão de fundo, numa palavra, está em dizer que governos democráticos devem poder ter mecanismos para defender a democracia.

É novamente aqui que ganha relevância a discussão teórica conceitual. O que entendemos por direito, o que entendemos por democracia, por um Estado de Direito? Ora, podemos partir de uma discussão de Loewenstein. E do teórico que for. O ponto é que uma concepção responsável de direito e democracia dispõe que direitos subvertidos já não mais direitos. Quem abusa de um direito em abstrato não está mais agindo dentro do direito e para o direito, isto é, agindo democraticamente. Logo, abuso de direito já não é direito propriamente dito.

Em outras palavras, não há nenhum direito sendo sacrificado quando na defesa da democracia se faz a diferença, por um lado, entre liberdade de expressão e de manifestação, e discurso de ódio, de incitação à violência ou em favor da ruptura com a democracia, de outro. Ataques à democracia não configuram liberdade de expressão. Simples assim.

Gandra diz, e nisso está certo, que estamos em 2022, enquanto Loewenstein escrevia em 1937. Ora, a atual ordem democrática criou mecanismos legítimos para se combater ameaças à democracia sem que isso implique qualquer violação a direitos. Porque isso passa por aquilo que entendemos como direito. O direito precisa preservar a si mesmo.

Mas eu devo insistir: o que importa não é fazer uma exegese de Loewenstein e ver se o conceito de democracia militante reaparece com força no livro de 1957 [2]. Não há qualquer "inadaptação", como alega o professor Gandra, quando tudo o que se faz é recuperar a experiência de um intelectual para dizer que constituições não são pactos suicidas. A democracia não é um pacto suicida [3]. De novo, simples assim.

O mesmo Loewenstein denunciava a "cegueira legalista". Parafraseando Saramago, esta minha coluna é um ensaio sobre a cegueira: a cegueira de quem vê a árvore, discute os tons de verde de suas folhas… para deixar a floresta pegando fogo. Manifesto de militares, pastores enlouquecidos, conspirações a mil e o professor Ives "tranquiliza" o país colocando a culpa do STF. "Não vai ter golpe" ... desde que...! Esse "desde que" é que assusta.

Repito, a discussão não é sobre uma exegese do que escrevia Karl Loewenstein. A discussão é sobre uma concepção complacente e acomodada de democracia que cita até Martin Luther King — e que acredita que os militares, via artigo 142, são um poder uma espécie de poder moderador. A discussão é sobre a reivindicação de conceituações abstratas, para fazer uma crítica a uma Suprema Corte que, atacada tantas vezes pelo Executivo (para dar um exemplo e para dizer o mínimo), não foi defendida pelos atores institucionais responsáveis por defendê-la. Aliás, como é grande o débito institucional do Ministério Público — para citar apenas um ator político.

Se alguém quiser tratar isso como apropriação de Loewenstein, que seja. Se alguém quiser chamar isso de "militância democrática", que chame. Mas leiamos Loewenstein então em sua íntegra, em todos seus escritos — inadaptação é considerar uma outra obra única e desconsiderar os escritos anteriores, nunca rejeitados pelo autor, apenas porque "escritos anteriores".

Leiamos os sinais de uma floresta que pega fogo. Quando Ives Gandra sustenta que o STF deve respeitar independência dos poderes, concordo, obviamente. Mas discordo veementemente quando pretende sustentar a partir disso um textualismo ad hoc, como se liberdade de expressão significasse analogia à defesa de uma liberdade de defesa de ruptura institucional ou discursos de ódio ao diferente. Tal como vale o artigo 2º da nossa Constituição, valem as demais leis, eleitorais, penais, civis, processuais e todas as demais — e isso vale para qualquer Estado constitucional — sendo eles regimes parlamentaristas ou presidencialistas.

De novo os conceitos: qual é o conceito de liberdade de expressão, qual é o conceito de "separação" ou "integração" de poderes, que consegue acomodar ataques a uma Suprema Corte? E ataques à própria democracia?

O direito é o critério institucional que filtra a política, a moral e a economia. Há maior ruptura institucional do que o desprezo pelo Direito?

A democracia morre de várias formas. Inclusive a partir de violência simbólica de professores, deputados, pastores e militares. O professor afirma "com tranquilidade" que não há ruptura institucional. Como Hobbes, tenho medo. Tenho pânico institucional. Tenho medo do crocodilo. E do psiquiatra que diz que o crocodilo é manso.

Tenhamos medo. O excesso de tranquilidade pode matar a democracia.

Aproveitando a tônica, faço outra confissão: tenho também uma angústia. Como é possível isso? Como é possível que se tenha uma concepção de direito capaz de acomodar um juiz parcial e incompetente, incompetente e parcial, que manda grampear advogados? E se fosse o seu processo? Como é possível que, em meio a tudo isso, a Suprema Corte seja vista como o problema do país? Não fosse o Supremo Tribunal, professor Ives... O senhor, no seu íntimo, sabe bem disso. O STF salvou a democracia brasileira. Vamos dar o nome que as coisas têm. Já não somos Macondo, onde as coisas eram tão recentes que ainda tínhamos que apontar com o dedo...!

Numa palavra final: entre a democracia militante e a militância contra a democracia, não prefiro nenhuma. Trata-se de um falso dilema. Entre essas alternativas temos de ser a favor é da democracia constitucional. Porque as constituições não são pactos suicidas.

- - -

[1] Cf: (i) STRECK, Lenio; CARVALHO, Marco Aurélio de (org.). O livro das suspeições. São Paulo: Grupo Prerrogativas, 2020. (ii) STRECK, L.; PRONER, Carol; CARVALHO, Marco Aurélio de; SANTOS, Fabiano Silva dos (org.). O livro das parcialidades. Rio de Janeiro: Telha, 2021.

[2] Para uma leitura crítica da teoria constitucional de Loewenstein, remeto o leitor para i imperdível e sofisticado livro de Marcelo Cattoni, "Contribuições para uma teoria crítica da constituição". 2ed. Belo Horizonte: Conhecimento, 2021.

[3] O livro do Loewenstein não é de 1956, mas de 1957 (na versão em inglês) e de 1959 (na versão alemã). Political power and the governmental process. The University of Chicago Press, Chicago 1957, traduzido por Rüdiger Boerner als Verfassungslehre. Mohr-Siebeck, Tübingen 1959.Image

 

27
Nov22

PL é um instrumento da guerra fascista contra a democracia

Talis Andrade

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por Jeferson Miola       

O PL encampou a trajetória antidemocrática da sua chapa militar à Presidência e se assumiu como uma organização incompatível com a democracia. O PL é, hoje, um instrumento da guerra fascista contra a democracia.

Na realidade, o PL é uma máquina de fachada nominalmente presidida por Valdemar da Costa Neto, mas manietada e controlada de fato pelas cúpulas partidarizadas das Forças Armadas – que, muito provavelmente, “têm o Valdemar na mão” e, por isso, têm mais “eficiência de comando”.

A ação do Partido no TSE para anular votos de 279 mil urnas não buscava garantir um direito legítimo, mas tinha como objetivo central alimentar o clima de hostilidade fascista contra o Tribunal Eleitoral e atiçar os atos terroristas da extrema-direita em frente aos quartéis e em várias rodovias do país.

O presidente do TSE Alexandre de Moraes interceptou a manobra e denunciou a “total má-fé” do PL com o “esdrúxulo e ilícito pedido, ostensivamente atentatório ao Estado Democrático de Direito e realizado de maneira inconsequente com a finalidade de incentivar movimentos criminosos e antidemocráticos que, inclusive, com graves ameaças e violência vem obstruindo diversas rodovias e vias públicas em todo o Brasil”.

No despacho, Moraes considerou “descabida” a afirmação de que as urnas não podem ser diferenciadas porque possuem o mesmo número de patrimônio. O presidente do TSE considera esta suposição do PL como “evidente má-fé” baseada em argumentos “absolutamente falsos”.

Moraes não economizou adjetivos para desnudar a farsa e, ao mesmo tempo, desmontar tecnicamente os argumentos “fraudulentos”, “pueris” e “falsos” da petição do PL. Por litigância de má-fé, o PL foi multado em R$ 22,9 milhões.

Moraes afiançou que “o Poder Judiciário não tolerará manifestações criminosas e antidemocráticas atentatórias ao pleito eleitoral”.

Valdemar da Costa Neto e Carlos Cézar Rocha, autor do relatório farsesco, foram incluídos no inquérito das milícias digitais por “possível cometimento de crimes comuns e eleitorais com a finalidade de tumultuar o próprio regime democrático brasileiro”.

As medidas do ministro Alexandre de Moraes, corajosas na defesa da democracia, além dos efeitos criminais relevantes, asfixia financeiramente, o que vale dizer ao Valdemar que o crime fascista contra a democracia pode ser um péssimo “negócio político”.

É urgente um debate sobre a cassação do registro do PL. O sistema jurídico-político e a sociedade brasileira precisam enfrentar este debate histórico com coragem.

A vasta literatura sobre “como morrem as democracias” comprova, empiricamente, que a naturalização de práticas antidemocráticas como algo tolerável na democracia, pode favorecer a expansão de mecanismos letais à própria democracia.

Uma das principais conquistas da vitória da democracia sobre o fascismo, representada na eleição de Lula/Alckmin, foi determos o avanço fascista ameaçador; e, junto com isso, podermos colocar em pé um grande esforço de desfascistização do país.

O primeiro passo para isso é erradicar todos os nódulos da doença; um por um, e todos eles.

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Lula pretende rever arsenal pesado de CACs

 
 
20
Nov22

Lula assume o comando da transição

Talis Andrade

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por Fernando Brito

- - -

Até agora – e muito corretamente – Geraldo Alckmin teve o comando do processo de transição de Governo. Comparando à aviação, coube ao vice-presidente fazer o check list da preparação para a decolagem e, dentro de pouco tempo, caberá a Lula a decolagem.

Esta é a divisão de tarefas que já está clara: Alckimin conversa e Lula, a partir daí, decide. Claro que não autocraticamente, apoiado no rumo que a prosa com os agentes políticos toma, mas preservando-se para só assummir compromissos já esboçados e com acordos alinhavados.

E os acordos estão se encaminhando, apesar de todos os ruídos criados na (ou pela) mídia, até mesmo com a ajuda do bolsonarismo, que vai se colocando em posição de isolamento, à medida em que teima em seguir nas tragicômicas “rebeliões” de porta de quartel e beira de estrada e, agora pela boca do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, sugerindo que se deveria anular “apenas” 250 mil urnas (metade de todas as utilizadas no país), porque não teriam a identificação física do numero da urna em seus registros eletrônicos.

Nem percamos tempo com o primarismo de tal alegação não ser fato percebido nos diversos testes de integridade do sistema eletrônico: ponha-se apenas no lugar da bancada eleita pelo partido diante da possibilidade de uma anulação que, além do voto presidencial, anularia a de todos eles.

Evidente que, no Judiciário, tal tipo de asneira não tem a menor chance de prosperar, mas emite um sinal proibitivo para que o “Centrão” se deixe submeter a acordos com o comando do PL, pois evidencia que Jair Bolsonaro tem o seu controle. Pragmáticos como sempre, não vão colocar seus destinos atrelados a um insano agora sem poder.

É nesse cenário que Lula chega terça-feira a Brasília e se entrega à negociação da emenda constitucional essencial para viabilizar um início de governo, ao menos do ponto de vista orçamentário, tranquilo, deixando os primeiros três meses dedicados apenas à mudança do clima político-institucional do país e completar a montagem do governo, que não seguirá o esquema “porteira fechada” na entrega de ministérios aos aliados.

O tamanho e a diversidade dos grupos de transição fazem parte desta montagem “em frente” do comando da administração, colocando freios e contrapesos nos órgãos públicos a partir de janeiro: ninguém será “dono do pedaço”.

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20
Nov22

Michelle Bolsonaro é convidada a se tornar presidente do PL Mulher de Valdemar Costa Neto

Talis Andrade

A atual primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, foi convidada a ser presidente do Partido Liberal (PL) Mulher nesta segunda-feira (14). A intenção é que a esposa de Jair Bolsonaro (PL) atraia uma maior participação feminina para o partido.

A ala específica do Partido Liberal é um braço para chamar mulheres ao partido e coordenar como filiadas do PL devem agir na Câmara, Senado e assembleias legislativas pelo Brasil. Em 2022, duas deputadas federais foram eleitas pelo partido: Carla Zambelli e Rosana Valle. Outras aliadas, como a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) e Rosângela Moro (União Brasil), se elegeram por meio de outras siglas.

Segundo especulações, Michelle já aceitou o convite, que faria parte de uma articulação do PL para relançar Bolsonaro à presidência em 2026. A primeira-dama se filiou ao partido em maio deste ano, enquanto o atual presidente foi convidado a permanecer na instituição. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, já afirmou que fará de tudo para manter o casal.

O PL saiu da eleição de 2022 como o partido com maior representação na Câmara dos Deputados. A coligação que apoiou a candidatura de Lula (PT), formada pelo PT, PCdoB e PV, conseguiu eleger 68, sendo assim o segundo grupo que ocupa mais cadeiras na casa.

Michelle muda gabinete para o Planalto após gastar R$ 328 mil para reformar sala na Esplanada

Em julho, Michelle havia reformado todo o espaço na Esplanada dos Ministérios para abrigar 10 assessores, cujos salários variam entre R$ 1,6 mil a R$ 5,2 mil, e tocar seu projeto, chamado Pátria Voluntária. Depois do Planalto, Michelle vai para luxuouso e fechado gabinete no PL de Valdemar Costa Neto

 

Por Redação /Revista Forum

Pouco mais de seis meses depois de gastar R$ 328,8 mil em dinheiro público na montagem e decoração do gabinete em que ocupa no bloco A da Esplanada dos Ministérios, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, decidiu mudar seu "escritório" para o Palácio do Planalto, para despachar em uma sala próxima ao marido, Jair Bolsonaro. Como primeira-dama, Michelle não tem direito a salário. Ela também não dá expediente todos os dias no local, segundo funcionários do ministério. Com a mudança, o gabinete reformado será ocupado pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. Em julho, Michelle havia reformado todo o espaço na Esplanada para abrigar 10 assessores, cujos salários variam entre R$ 1,6 mil a R$ 5,2 mil, e tocar seu projeto, chamado Pátria Voluntária. A esposa de Bolsonaro é presidente do conselho do Programa Nacional de Incentivo ao Voluntariado e, por conta disto, o local onde foi trabalhar ficava no mesmo bloco dos ministros Osmar Terra (Cidadania) e Damares Alves (Direitos Humanos)

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