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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

20
Jul22

Milhares de pequenos tiranos

Talis Andrade

Imagem: Engin Akyurt
 
 

La Boétie e os cúmplices do tirano e de suas crueldades

 

por Alexandre Aragão de Albuquerque /A Terra É Redonda

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“O tirano não ama, nunca amou. A amizade só se dá entre pessoas que cultivam o apreço mútuo. Não pode haver amizade onde há crueldade, onde há falsidade, onde há injustiça”. Somos todos companheiros, comemos do mesmo pão da existência. A Natureza colocou-nos todos em companhia uns dos outros. Esta é a compreensão central do pensador francês do século XVI Etienne de La Boétie, em seu clássico Discurso da servidão voluntária, sobre a existência humana. Por sermos todos companheiros, somos todos livres; cada um nasce de posse de sua liberdade, com a afeição para defendê-la.

Desta concepção decorre uma sua indagação: como podem tantos homens suportar o tirano o qual tem apenas o poder concedido por eles? Coisa estranhíssima preferirem tolerá-lo do que contradizê-lo. É lastimável ver um milhão de homens servir miseravelmente, com o pescoço em jugo, como que encantados e enfeitiçados por um mito, a quem não deveriam suportar suas maldades, pois age de forma desumana e feroz para com muitos. E complementa: o que faz com que um único homem trate milhões de humanos como cachorros e os prive de sua liberdade? (No Brasil, do governo Bolsonaro, há 33 milhões de pessoas submetidas ao jugo da fome).

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Para La Boétie, é o próprio povo que ao se sujeitar, se degola. Tendo a escolha entre ser servo ou ser livre, abandona a sua liberdade e aceita o jugo, colocando-se numa condição subumana. Incrivelmente, segundo o autor, quando um povo se sujeita, adormece e perde a dimensão da liberdade perdida, tornando-se difícil acordar para ir em sua busca. Humanos nascidos sob o jugo e educados na servidão, contentam-se em viver como nasceram. Assim, a primeira razão da servidão voluntária é o costume. Sob o governo tirano é-lhes tirada toda a liberdade de fazer, de falar, de livre pensar, de se opor e de resistir. Todos se tornam limitados e uniformizados em suas fantasias, entorpecidos por prazeres oferecidos pela propaganda e por políticas de entretenimentos (motociatas, jetskiatas etc.), jogos, cultos religiosos miraculosos, atrativos desenvolvidos continuamente para adormecer o povo.

Mas o ponto central da tirania, a força e o segredo da dominação, segundo Etienne de La Boétie, são os cúmplices do tirano e de suas crueldades, todos aqueles que dele se aproximam e lhe declaram: “estamos juntos!”, tornando-se assim sócios dos resultados da pilhagem do bem comum promovida pelo tirano. São milhares de pequenos tiranos visando, pelo oportunismo e interesse próprios, às benesses e ao manejo do dinheiro, da riqueza e dos privilégios, para poderem isentar-se do cumprimento das leis e de suas penas, usando a tirania em proveito próprio. É essa gente que gera o tirano.

No Brasil, em julho deste ano, um jovem com epilepsia foi executado publicamente numa câmara de gás montada por policiais rodoviários federais na viatura oficial com a qual realizavam sua ação de violência contra aquela pessoa; nesta mesmo período ocorreu um estupro jurídico por meio de uma juíza ao impedir a interrupção legal da gravidez de uma menina de 11 anos violentada pelo seu tio; em seguida, um homem branco e agente público – promotor municipal – agrediu aos socos e pontapés sua colega de trabalho, pelas lentes do fantástico; recentemente foi apanhado em flagrante um médico anestesista estuprando mulheres durante procedimentos cirúrgicos hospitalares; os ativistas ambientais, engajados na defesa dos povos indígenas, Dom Philips e Bruno Pereira foram covardemente esquartejados na Amazônia, cujo crime ainda não foi totalmente elucidado; por fim, no último dia 10 de julho, em Foz do Iguaçu (PR), foi assassinado por motivo torpe, de natureza política, o militante do Partido dos Trabalhadores, Marcelo Arruda, durante sua festa de aniversário, pelo policial bolsonarista Jorge Guaranho, com tiros à queima roupa.

O cultivo ao ódio é característico do presidente da República. O gatilho do crime de Foz de Iguaçu foi acionado por este, na medida em que alimenta sistematicamente essa cultura da violência. Para a antropóloga Adriana Dias, estudiosa de grupos nazistas e conspiracionistas brasileiros, há uma escalada de ódio e de violência no Brasil, alimentada com muita força nos grupos bolsonaristas da deep web. Um dos exemplos da escalada de violência política apresentado por Adriana é a quantidade de cocaína apreendida na Amazônia com símbolos da suástica nazista.

Em 2018, em plena campanha eleitoral, o ex-capitão Jair Bolsonaro, então candidato à presidência da República, informou que sua “especialidade é matar”. Anteriormente já havia proposto diante das câmeras de televisão a necessidade de uma guerra civil para fazer o trabalho que a ditadura de 1964 não fez, isto é, matar uns 30 mil, começando por Fernando Henrique Cardoso.

Além disso, expôs claramente sua posição favorável ao “pau de arara” e à tortura. E, em comício no Acre, também em 2018, afirmou: “vamos fuzilar a petralhada”. Mesmo diante de todas estas afirmações, há entre os seus apoiadores, aqueles que se declaram “estar juntos” a ele, achando-o uma pessoa de grande sabedoria, inspirada por Deus e defensor da vida. Como afirma La Boétie, “os hipócritas criam suas mentiras para poderem fazer com que as pessoas acreditem nelas”. É preciso reagir já!Image

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08
Jul21

A CPI em campo minado

Talis Andrade

capitao cloroquina.jpg

 

 

por Cristina Serra

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A CPI da Covid acertou a mão em corrupção grossa no ministério da Saúde e por isso foi alvo de uma tentativa de implosão por meio do policial militar Luiz Paulo Dominguetti. Nas horas vagas, ele fazia bico como vendedor de vacinas. Ao que parece, vendia vento para incautos. 

Sua principal missão foi tentar tirar a credibilidade do deputado Luís Miranda (DEM-DF), que lançara no ventilador os nomes de Bolsonaro e de seu líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), ao juntá-los no caso Covaxin, que envolve também o empresário Francisco Maximiano. O mesmo que teve as portas do BNDES abertas pelo filho 01 e senador, Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). 

É bem verdade que Luís Miranda tem seus interesses comerciais na área da saúde, o que merece a atenção da CPI. Mas isso não invalida a denúncia que fez junto com o irmão, o servidor do ministério Luís Ricardo Miranda. 

Apesar da confusão que causou, Dominguetti também fez revelações sobre outro esquema, envolvendo militares e funcionários, entre eles Roberto Dias, há pouco exonerado. Dias é personagem chave por aparecer nas duas denúncias, a da Covaxin e a de Dominguetti, e por ser ligado a Barros.

O que se viu até agora indica uma disputa de facções no ministério da Saúde em torno da pilhagem do orçamento público. No reino animal, seria algo como hienas tentando participar de um banquete até então exclusivo para os leões da savana. 

Antes de terminar, um registro sobre o não depoimento de Carlos Wizard. Esse sujeito é a cara dos endinheirados no Brasil. Para os pobres, cloroquina e morte. Para a família dele, o melhor tratamento nos Estados Unidos. Foi difícil segurar a náusea ao vê-lo arreganhar os dentes e zombar de quem morreu. Wizard é dono de várias empresas. Uma busca na internet mostra quais são. Sócios no genocídio devem ser atacados no único lugar onde têm alguma sensibilidade: o bolso. Boicote neles. 

 

04
Dez20

O mundo encantado da Lava Jato quem já viu? l

Talis Andrade

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Em julho de 2019, a 7ª Vara Federal Criminal do Rio informou que, em 25 desdobramentos da "lava jato", havia apreendido 699 imóveis, além de navios, aeronaves, joias e R$ 1,7 bilhão.

ConJur perguntou à Justiça Federal no Rio quantos imóveis foram apreendidos por ordem do juiz Marcelo Bretas e quantos estão sob administração da 7ª Vara Federal Criminal. A assessoria de imprensa do órgão disse que não poderia precisar o número. "Em contato com a 7ª Vara Criminal nos foi informado que, infelizmente, não há possibilidade para a realização do levantamento no momento", disse o órgão. O Ministério Público Federal também informou que não conseguiria apontar o dado.

Essa pergunta já foi feita ao juízes da Lava Jato, ou melhor da 13a Vara Federal de Curitiba  Sérgio Moro, Gabriela Hardt, Luiz Antonio Bonat?

Escreve Jeferson Miola:

Moro ocupou o vértice da cadeia de comando da guerra de ocupação e pilhagem do país. Ele ocupou o topo do poder hierárquico da República de Curitiba; foi o verdadeiro capo di tutti capi, o chefe de todos os chefes daquilo que o ministro do STF Gilmar Mendes um dia classificou como uma organização criminosa. Para alcançar este desonroso posto, Moro dedicou mais da metade da sua carreira na perseguição a Lula, o seu objeto de obsessivo desejo, finalmente convertido em prisioneiro político por ele mesmo, Moro, para permitir a tomada de poder na marra pela extrema-direita.

Quantos imóveis, inclusive ilhas, terras a perder de vista, ferrovias, portos, aeroportos foram apreendidos por ordem dos juizes da autodenominada Lava Jato da República de Curitiba ou Liga da Justiça? Quanto em bufunfa, incluindo acordos de delações mais do que premiadas, de leniência e bichos outros e botijas de jóias, de ouro, de prata, de pedras preciosas (da máfia libanesa de Alberto Youssef, para um exemplo), de lítio, de urânio & malas de dinheiro? Idem o ajuntado pelos proprietários e/ou executivos de empresas transnacionais como a Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Braskem, Petrobras, Eletrobras etc?

Por que tudo é segredo na Lava Jato de Curitiba?

Só aparece aquele dinheiro depositado pela Petrobras em uma conta gráfica. Dinheiro pouco. Dois bilhões e quinhentos milhões, que ninguém presta contas. Foi até gasto para apagar fogo nas florestas e acender luz no Amapá. Dinheiro que jamais será auditado. Que juiz, procurador, delegado de polícia não levam jeito na trabalheira, na burocracia de prestar contas. 

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30
Out20

Prefeito tucano de Porto Alegre é precursor da política do Bolsonaro que privatiza o SUS

Talis Andrade

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Por meio do Decreto 10.530 publicado nesta 3ª feira [27/10], o governo Bolsonaro criou o programa que fomenta estudos sobre a transferência, à iniciativa privada, da gestão e da operação da atenção primária em saúde do SUS – Sistema Único de Saúde.

Este programa de privatização da atenção primária do SUS – disfarçado com o nome de “Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República – PPI” – sequer é executado pelo ministério da Saúde do “general cloroquina”, aquele subserviente que apenas obedece ao que o capitão manda.

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O programa, sugestivamente, é coordenado pela Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos do Ministério da Economia do agente das finanças Paulo Guedes.
 
A privatização pura e simples da atenção primária do SUS é uma espécie de 2ª geração das políticas fracassadas de transferência da gestão dos serviços públicos de saúde para as Organizações Sociais [OS’s].

O inventário da experiência com as OS’s é desastroso. Nas cidades onde foi implementado, aumentou enormemente o custo de financiamento do sistema, a qualidade do atendimento e a eficácia do cuidado em saúde da população piorou, e a corrupção e os desvios de verbas públicas alcançou patamares inauditos. A situação calamitosa do Rio de Janeiro é o exemplo vivo disto.

Este projeto que Bolsonaro quer impor para o SUS em todo país já está sendo desenvolvido em Porto Alegre pelo governo ultraliberal do tucano Marchezan Júnior/PSDB.

O prefeito tucano foi complacente com a extinção do Instituto Municipal de Saúde da Família [IMESF] e, em plena pandemia, irresponsavelmente se empenha em completar a demissão de parte dos 1.800 trabalhadores que atuam na atenção primária do SUS na cidade. Só não conseguiu completar a “obra” por impedimento judicial da justiça do trabalho.

Marchezan Júnior decidiu extinguir o IMESF para, assim, transferir a gestão e a operação de mais de 110 unidades básicas de saúde de Porto Alegre a 4 hospitais privados. Tudo feito sem licitação e mediante procedimentos administrativos de questionável legalidade e constitucionalidade, que certamente serão revertidos numa eventual administração municipal de Manuela e Rossetto [PCdoB/PT].
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O prefeito tucano de Porto Alegre, um político eleito em 2016 com o apoio do MBL e de perfil de extrema-direita, é precursor da política do Bolsonaro que privatiza a atenção primária do SUS. Marchezan Júnior transformou a capital gaúcha num laboratório de experimentos ultraliberais e privatizantes que deram errado no mundo inteiro.

No afã de transferir o orçamento público municipal de quase R$ 8 bilhões anuais para grupos privados, Marchezan Júnior tentou privatizar e terceirizar praticamente todas atividades e políticas públicas da cidade – Mercado Público, praças, parques, iluminação pública, Hospital de Pronto Socorro, empresa pública de transportes etc. Mais recentemente, preparou o plano de privatização do Departamento de abastecimento d’água [DMAE] em parceria com o governo Bolsonaro através do BNDES.

O bolsonarismo é a forma que o ultraliberalismo assumiu no Brasil; é o estágio mais destrutivo jamais visto da soberania nacional e das conquistas civilizatórias do povo brasileiro.

O bolsonarismo é um projeto que transcende o clã miliciano, pois abarca o conjunto das frações da oligarquia dominante – DEM, PP, Patriotas, Novo, Solidariedade, PTB, MDB, PSD, PSDB etc – que se unem na divisão do botim extraído no maior processo de pilhagem e saqueio do Brasil.

A eleição municipal, em vista desta ofensiva do grande capital por meio do governo fascista contra os interesses nacionais e populares, adquire enorme importância. É um momento de denúncia, resistência e afirmação de alternativas de governo capazes de interromper os ataques perpetrados pela oligarquia e que destroem conquistas fundamentais do povo brasileiro, como o SUS.

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