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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

02
Jul22

Carol Benjamin abrindo a Caixa Preta da Ditadura

Talis Andrade

 

 

“Dizer a palavra não é um ato verdadeiro se isso não está ao mesmo tempo associado ao direito de auto expressão e de expressão do mundo, de criar e recriar, de decidir e escolher e, finalmente, participar do processo histórico da sociedade. Na cultura do silêncio as massas são ‘mudas’, isto é, elas são proibidas de criativamente tomar parte na transformação da sociedade e, portanto, proibidas de ser.” 

 Paulo Freire, Ação Cultural para a Liberdade, 1970

 

 

A saga de três gerações da família Benjamin, atravessada pela Ditadura Militar, é o foco de “Fico Te Devendo Uma Carta Sobre o Brasil” (Daza Filmes, 2019, 88min), de Carol Benjamin. Em sua estréia como diretora de um longa-metragem documental, Carol “investiga a persistência do silêncio como ferramenta de apagamento da memória”, como sintetiza a sinopse oficial. 

cultura do silenciamento asfixia a democracia, ensinou Paulo Freire, proibindo as massas de ser. Já a produção cinematográfica brasileira mais relevante de nossa época é aquela que rasga as mordaças, afronta a História Oficial escrita pelos opressores, e vai abrindo caminhos para a autêntica participação social.

Uma das histórias que estão no âmago do documentário é a prisão ilegal do pai de Carol, César Benjamin (click e acessa os artigos dele publicados pela Ed. Contraponto): aos 17 anos de idade, ele tornou-se preso político da Ditadura empresarial-militar instalada no país com o Golpe de 64. Aprisionado em Agosto de 1971, ficou 3 anos e meio em uma cela solitária. Depois, mais 2 anos em prisão comum. 

Por pressão da Anistia Internacional, que o declarou o “Preso Político do Ano” em 1975, César consegue ser deportado para a Suécia em 1976, indo ao encontro de seu irmão mais velho, Cid Benjamin, que também havia sido preso político da ditadura e já morava à época em Estocolmo.  

A avó de Carol e mãe de César, Iramaya Benjamin, também manifesta-se como figura histórica de relevância: o filme a celebra em sua infatigável luta em prol da anistia ampla, geral e irrestrita para os perseguidos pelo terrorismo de Estado. 

 

 

Na crítica publicada pela Revista Cult, destaca-se que “o prisma que Carol procura mover e contar é o das cartas trocadas entre Iramaya e Marianne Eyre, membra da Anistia Internacional em Estocolmo, na Suécia, onde César se exilou quando saiu da prisão até a anistia falseada de João Batista Figueiredo (em 1979), quando pôde retornar ao Brasil.” (Por Manoel Ricardo de Lima, Out. 2020)

Carol Benjamin vai em uma jornada de reconstrução de uma história que não é só familiar, é coletiva. Para tal fim precisa ir até a Suécia, pesquisar nos arquivos da Anistia Internacional de Estocolmo, em busca de pistas que lhe permitam compreender melhor os destinos de seu pai, seu tio e sua avó, realizando um belíssimo filme “composto de muitos falares e alguns silenciares” (como escreveu Carlos Alberto Matos). 

Deste modo, este filme-ensaio se alça à dimensão de uma reflexão poética e filosófica sobre a memória (individual e coletiva, entretecidas). É uma obra audiovisual de sabor um tanto Proustiana, um Em Busca do Tempo Perdido que se passa nos anos-de-chumbo: Carol quer capturar os rastros e vestígios que o regime militar quis rasgar, entregar para as novas gerações as caixas pretas já todas arrombadas, disponíveis para que possamos dar vazão às verdades que os opressores de ontem e hoje desejam mudas e mortas.

Para juntar os cacos e construir com eles seu caleidoscópio fílmico, Carol precisa afrontar o silêncio, tanto aquele imposto pelo regime autoritário e opressor (que deseja massas mudas e esforça-se por extinguir a efetiva participação popular no poder) quanto o calar-se que acomete os traumatizados. Protagonista de seu próprio filme, Carol Benjamin se coloca na postura audaciosa de quem quer abrir uma série de caixas pretas e, como Audre Lorde, quer afirmar que não é o silêncio que vai nos proteger. 

Assim como fez Petra Costa em Democracia e Vertigem, Carol não tem pudores de narrar em primeira pessoa do singular uma saga familiar que ela sabe ser de importância coletiva. Os silêncios familiares que ela vivencia, sem saber explicar ao certo, instigam-na a decifrar o mistério num mergulho imersivo na Psiquê dos presos políticos da ditadura. Explora assim, com evocações de Fernando Pessoa e planos sombrios, em que as grades confinantes na tela convivem com uma voz em off que busca dar carnalidade à vivência do encarcerado.

Uma hipótese desponta: aqueles que foram torturados, maltratados, postos no pau-de-arara, expostos às mais horrendas formas de degradação humana, acabaram saindo do confinamento torturante imposto pela ditadura com uma atitude de trancamento em sua subjetividade, uma atitude que se manifesta por sintomas de afasia, uma dificuldade tremenda para expressar as vivências de sofrimento indizível impostos pelo aparato ditatorial de repressão. 

Para além dos esforços hercúleos que o preso precisa realizar para manter a sanidade mental e não surtar, há a crônica dos interesses intelectuais do jovem César Benjamin, de seu devir-filósofo, de sua avidez pelo estudo. Detrás das grades, além de testemunhar a vida cotidiana das lagartixas e das aranhas que lhe acompanham na cela solitária, Benjamin traduz textos (como fez Lênin) e vai tornando-se  algo semelhante a um Gramsci brasileiro. Tentaram prendê-lo para calá-lo, mas não sabiam que sua mente se recusaria à servidão, que seria sempre curiosa, crítica, criativa. Apesar de sua situação kafkiana, preso sem ter sido processado, engulido por um cárcere ilegal e escandaloso.

Em um dos momentos de alívio cômico do filme, Iramaya relata que tentava levar livros para o filho no cárcere, mas quase todos eram proibidos. Os milicos não deixavam entrar nem mesmo O Pequeno Príncipe, nem mesmo obras sobre os filósofos pré-socráticos. Com uma ginga malandra digna de Garrincha, Iramaya um dia convenceu os carcereiros do filho a entregarem a ele uma obra de Althusser que fazia a análise crítica do marxismo. Aí passou…

Iramaya, no filme, é alçada a um status de heroína cívica brasileira, em um processo através do qual Carol Benjamin age de maneira Górkiana, revelando o devir de uma mulher que antes era pacata, casada com um oficial do Exército, mas que politizou-se diante das injustiças sofridas por sua prole.

Iramaya foi se engajando até tornar-se uma das lideranças mais importantes do país ao fundar o Comitê Brasileiro pela Anistia. Denunciou bravamente a tortura como crime hediondo e gritou em alto e bom som que torturadores não podem e não devem ser anistiados!

De algum modo, Iramaya Benjamin também evoca outras mães lationo-americanas que sofreram com a desaparição ou o assassinato, pelos Estados ditatoriais, como as célebres Madres de La Plaza de Mayo na Argentina

 

César, Iramaya e Cid Benjamin (1998)

 

Ousando também começar a decifrar a esfinge do presente e compreender porquê o Brasil está atravessando esta distopia grotesca que é o empoderamento do Bolsonarismo, Carol resolve dar voz a Brilhante Ustra, chefe do Departamento de Repressão da ditadura entre 1970 e 1974. O ídolo dos bolsonaristas foi o único mililtar brasileiro oficialmente reconhecido como um criminoso, violador sistemático dos direitos humanos fundamentais do cidadão brasileiro, e seu “A Verdade Sufocada” é um dos livros de cabeceira de Jair Messias Bolsonaro, seu admirador confesso. 

Quando Dilma Rousseff inaugurou a Comissão Nacional da Verdade, apontando sua importância para a “consolidação da democracia”, falou do “direito à verdade” e do “direito de prantear e sepultar” entes queridos.

César Benjamin, “sobrevivente de mim mesmo como um fósforo frio” (como ele gosta de dizer, com versos de Fernando Pessoa), veio a público para esquentar seu fósforo em fala pública para a CNV em 2021. Qualquer cidadão brasileiro deveria prestar atenção ao que ele revela nestas cenas que provam que o filme pode ser veículo para um testemunho histórico que deveríamos valorizar por todo o ensinamento que pode comunicar. 

Contra a cultura do silenciamento, Carol afirma que “os silêncios são as borrachas da História” – e a cineasta quer escrever uma história nova ao invés de trabalhar para o apagamento sistemático das biografias que Ustras e Bolsonaros gostariam de ver sepultadas no esquecimento. 

No Brasil da barbárie bolsofascista, desgovernado pelo monstro moral que faz apologia da tortura e diz que “quem procura osso é cachorro” para se referir aos pais e mães que demandam saber a verdade sobre seus entes queridos trucidados pela ditadura, Carol Benjamin abre caixas pretas e realiza a tarefa indispensável de resgate da memória com um fim prático: que nunca se esqueça, e “que aquele Brasil que houve nunca mais aconteça”, como diz Eric Nepomuceno:

 

“Há mães que até hoje, a cada vez que soa o telefone, a cada vez que alguém toca a campainha da porta, pensam: ‘É ele, é meu filho’. São mães que esperam por filhos que estão desaparecidos, que estão mortos; mas elas não se convencem, não querem se convencer. Querem ver ao menos o que restou de seus filhos. E pelo menos esse direitos essas mães têm. As famílias têm. O direito de não só ter a memória resgatada: de resgatar os restos dessas pessoas desaparecidas. Do que sobrou da sua dignidade. Esse é um ponto de honra da nossa geração. Que alguma vez poderá dizer: nunca mais. Um ponto de honra: resgatar a memória. Para que ninguém esqueça, para que nunca mais aconteça.” (NEPOMUCENO, Eric. A Memória de Todos Nós, 2015, pg 59)

Outro ingrediente importantíssimo do filme de Carol está em lembrar a todo cidadão brasileiro de uma das características mais sórdidas do processo repressivo no Brasil: as atrocidades cometidas pelo regime burguês-militar contra menores de idade e jovens universitários. A verdade intragável que Bolsonaristas e Ustristas querem esconder foi revelada em livros como Cativeiro Sem Fim, de Eduardo Reina, e é tema de reportagens assinadas por alguns dos melhores jornalistas brasileiros.

Os militares “mataram garotos”, como apontado pela reportagem de Cynara Menezes, do blog Socialista Morena, que “fez um levantamento por idade entre os mortos e desaparecidos e descobriu que 56% deles eram jovens como Edson Luis [assassinado em 1968 no Calabouço]: tinham menos de 30 anos de idade. 29%, ou quase um terço dos mortos e desaparecidos da ditadura, tinham menos de 25 anos. São esses meninos que os defensores do coronel Brilhante Ustra falam que pretendiam implantar a ‘ditadura do proletariado’ no País e por isso foram barbaramente torturados e executados.” (MENEZES, Cynara. Maio de 2016)

 

ASSISTA EM JORNALISTAS LIVRES: LIVE CONTRA A CENSURA (31/03/21) - #Ditaduranuncamais

Assista no Facebook ou no Youtube do Jornalistas Livres
 

SAIBA MAIS:

O filme foi realizado pela produtora audiovisual Daza que Carol fundou em parceria com a atriz Leandra Leal e a roteirista Rita Toledo. Fazem parte do catálogo da Daza outros documentários como “As Mil Mulheres”, “Divinas Divas”, “Capoeira – Um Passo a Dois” e “Aquele Abraço”, além de alguns filmes de ficção.

 

OUTROS CONTEÚDOS PERTINENTES:

 
 

Podcast da 02 Filmes (In Jornalistas Livres, 29/03/2021)

05
Mai20

Até quando?

Talis Andrade

robô bolsonaro.jpg

por Petra Costa

 - - -

Virou costume que, aos domingos, Bolsonaro ataca o Supremo e o Congresso, faz comício pela “intervenção militar” com faixas golpistas, diz que tem Deus e as Forças Armadas ao lado dele e fala como aspirante a ditador. Na segunda-feira, finge recuar e na terça começa tudo de novo.

A repetição constante das ameaças golpistas (que começaram antes de ele chegar ao governo) permitiu a Bolsonaro produzir aos poucos uma “nova normalidade”, expressão agora tão de moda pela pandemia. E nós, brasileiros, já nos acostumamos a viver ameaçados pelo presidente.

A gente se acostumou, como se fosse normal, a ter o filho do Bolsonaro falando em fechar o Supremo Tribunal Federal com “um cabo e um soldado” ou em fazer “um novo AI-5”. E agora o próprio presidente fala em comícios que têm faixas com essas ameaças e ninguém se surpreende.

A gente se acostumou à existência do “gabinete do ódio” e a imprensa se refere a ele como se fosse mais um ministério. Tem um gabinete no Planalto que se dedica a produzir e distribuir fake news, difamar adversários políticos, jornalistas e artistas e incentivar o ódio. Normal.

A gente se acostumou a ver jornalista sendo agredido na rua por seguidores do presidente com camisas da seleção e bandeiras do Brasil. Normal. A gente se acostumou a ver pessoas difamadas pelo presidente ao vivo pelas redes e depois ameaçadas de morte por seus apoiadores. Normal.

A gente se acostumou a assistir a falas de ministros negando a ciência e divulgando teorias conspirativas toscas. Normal. A gente se acostumou a ver sites de fake news divulgados pelos filhos do presidente. Normal. A gente se acostumou às ameaças de golpe. Normal.

A gente se acostumou a ver passeatas contra a quarentena onde os seguidores do presidente debocham dos mortos e até dançam com caixões. Normal. A gente se acostumou a ouvir deputada bolsonarista falando que tem governador enterrando caixões vazios. Normal.

A gente se acostumou a ver cada dia mais mortos pela pandemia do COVID19, enquanto o presidente se dedica a negar o problema e tenta desviar o foco: difamando o @jeanwyllys_real, atacando o @RodrigoMaia, falando baixarias contra a imprensa e ameaçando o STF. Normal.

Eu pergunto: até quando? O que mais precisa para o Brasil reagir a tanta desumanidade, tanto cinismo, tanta mentira, tanta desonestidade, tanta crueldade, tantas ameaças, tanto desprezo pela democracia, tanta incompetência, tanta burrice, tanta falta de civilidade? Chega.

 

17
Abr20

Há quatro anos, golpe contra a democracia, direitos e soberania (vídeos)

Talis Andrade

golpe quarto aniversário.jpg

 

Capítulo mais vergonhoso e degradante da história da República, impeachment sem crime de responsabilidade da presidenta Dilma Rousseff foi aprovado na Câmara no dia 17 de abril de 2016

Com muita luta, à custa de sangue e o sacrifício de milhares de vidas, o povo brasileiro reergueu a democracia em 1985. Depois de 21 anos nas trevas da ditadura militar, o Brasil voltara, enfim, a experimentar a brisa fresca da liberdade.

A promulgação da Constituição de 1988 deu voz inédita ao povo, estabelecendo o direito à saúde e à educação universais. Essa voz ecoaria bem mais alto com a chegada do primeiro operário à Presidência da República, em 2003.

Combinados, os mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva e de sua sucessora, Dilma Rousseff, abriram caminho para 13 anos de uma revolução social sem precedentes na história.

Mas, ardilosa, a raposa do obscurantismo manteve-se à espreita. Há quatro anos, no dia 17 de abril, a democracia brasileira sofreu novo golpe fatal, com a aprovação, pela Câmara, de um impeachment sem crime de responsabilidade contra Dilma Rousseff.

A farsa do impeachment, o capítulo mais vergonhoso e degradante da trajetória republicana, foi baseado nas chamadas “pedaladas fiscais”. Acusada de praticar manobras contábeis, procedimento rotineiro nas administrações de vários presidentes que a precederam, Dilma foi julgada e afastada sem que pesasse sobre ela qualquer suspeita de enriquecimento ilícito ou de corrupção.

Hoje, a história segue confirmando a sua inocência, ao contrário de seus algozes na Câmara: à época do julgamento, 40 deputados dos que votaram pelo “sim” eram réus em ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF), investigados por crimes como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e desvio de verba pública.

Uma ironia que não passou despercebida pela imprensa global. Conceituados jornais e publicações de todo o mundo estamparam em suas manchetes o golpe jurídico-midiático-parlamentar que resultou na morte da democracia brasileira.

Mais recentemente, o golpe brasileiro voltou a percorrer o planeta graças ao documentário “Democracia em Vertigem”, da cineasta Petra Costa. Exibido pelo canal Netflix, o filme recupera os principais fatos políticos do país a partir de 2013, traçando um paralelo com as manipulações de massa que levaram à queda de Dilma. O documentário, com depoimentos inéditos de Dilma e Lula, ganhou indicação ao Oscar deste ano.

Golpe de 2016

camelo golpe.jpg

 

“Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições”, advertiu Dilma, em discurso proferido após a aprovação definitiva do impeachment no Senado, no dia 31 de agosto.

“Não ascendem ao governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado”, ressaltou.

Dois dias antes, a ex-presidenta demonstrara a mesma bravura ao enfrentar os golpistas na tribuna do Senado, encarando olho no olho os traidores da democracia. Em sua fala histórica, Dilma revelou que o verniz republicano do julgamento escondia, em última instância, a velha luta de classes.

“O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos: os ganhos da população, das pessoas mais pobres e da classe média; a proteção às crianças; os jovens chegando às universidades e às escolas técnicas; a valorização do salário mínimo; os médicos atendendo a população; a realização do sonho da casa própria”.

E prosseguiu: “O que está em jogo é, também, a grande descoberta do Brasil, o pré-sal. O que está em jogo é a inserção soberana de nosso País no cenário internacional, pautada pela ética e pela busca de interesses comuns”.

 

 

13
Abr20

Alexandre García reclama compra de respiradores para os pobres do SUS

Talis Andrade

Ex-jornalista da Rede Globo Alexandre Garcia escreveu artigo no jornal paranaense Gazeta do Povo no qual afirma que a pretendida compra de 65 mil respiradores artificiais pelo Brasil para o combate à epidemia do coronavírus seria "excesso de gastos".  No texto, diz ainda que os governadores estariam "se aproveitando da situação de emergência para gastar demais". 

Alexandre Garcia é um idoso. Está no grupo de risco. Mas ele não faz parte dos desvalidos que vão parar no SUS.

Quem vai morrer, com quase certeza nesta pandemia, é o vehinho que não tem acesso ao teste, não tem acesso ao remédio, não tem acesso à entubação.

Sob o título "65 mil respiradores para o Brasil não é excesso de gastos?", Alexandre Garcia escreveu por egoísmo, maldade, ou por ser um bolsonarista fanático. Se tivesse lido as capas dos jornais do Equador hoje, talvez tratasse doutro assunto: da esmola de 50 reais que o governador Ratinho Jr oferece aos sem teto, aos desempregados nestes tempos de peste.

Que Alexandre faça a leitura dos jornais de hoje do Equador:

ec_comercio. 13ab.jpg

Raposa velha, Alexandre Garcia mente: "(...) o Brasil está adquirindo 65 mil respiradores artificiais novos. As estatísticas mostram que a Itália usou 5 mil desses respiradores, o mundo usa hoje 50 mil, então por que 65 mil só para o Brasil? Será que não estão se aproveitando da situação de emergência para gastar demais? Tomara que os Tribunais de Contas da União e dos estados estejam de olho nisso. Tem muitos governos estaduais que estão com a corda no pescoço e podem estar se aproveitando da situação. Espero que não seja isso".

Veja a repercussão a partir de uma notícia no portal 247: 

🇧🇷🇻🇳🚩💃A máscara da familícia hipócrita caiu@jojoletthy
 

Alexandre Garcia abriu mão do respirador dele caso venha a precisar?
Vai ajudar o governo a enomizar trocados com sua própria vida, enquanto o governo gasta bilhões para socorrer bancos que querem "menos estado"?

Daniel Gobeti@danielgobeti

Acordo, vejo Alexandre Garcia nos TTs e, infelizmente, eu vou conferir o que é. O assessor e lambe-botas da ditadura sugerindo que o Brasil comprou respiradores demais, que talvez tenha sido um gasto excessivo. Velho, vai faltar inferno pra essa galera.

William De Lucca
@delucca

O Alexandre Garcia é um cara ótimo pra provar que sempre dá pra descer o nível for um pouquinho mais

Petra Costa
@petracostal
 
A dança dos bolsominions na Paulista com o caixão do meme, além de ser um desrespeito aos mortos e uma encenação bizarra da necropolítica, é também uma pergunta gritante que deveria nos interpelar: que classe de líder é capaz de produzir aquilo na cabeça dos seus seguidores?

 

15
Mar20

A LEI DO CONTÁGIO Sergio Moro condena a irresponsabilidade de Bolsonaro no mano a mano com o povo, no corpo a corpo com o coronavírus

Talis Andrade

Image

 
 
Estadão
 
@Estadao
Bolsonaro atuou 'com requintes de sadismo' promovendo atos em meio a pandemia, diz presidente da OAB
Bolsonaro atuou 'com requintes de sadismo' promovendo atos em meio a pandemia, diz presidente da...
Orientado a ficar em isolamento, presidente foi ao encontro de manifestantes em Brasília e divulgou imagens de manifestações pró-governo nas redes sociais
politica.estadao.com.br
 
Image
 
Image
 
Sergio Moro escreveu possíveis ações legais para evitar o contágio do coronavírus, que apagou depois de ver pela internet o capo Bolsonaro comandando marchas, em Brasília, contra o STF e o Congresso.
 
Mesmo assim Sergio Moro deixou, covarde e safadamente, sua críticas indiretas ao Presidente irresponsável, desequilibrado, inconsequente, transcrevendo recomendações do Ministério da Saúde.
 
Você está com sintomas de gripe e não sabe o que deve fazer?
O esclarece sua dúvida. Confira no vídeo.
 
#coronavírus #H1N1 #gripe #SUS #VacinaBrasil
Sergio Moro
@SF_Moro
Ministro da Justiça e Segurança Pública - sallus populi suprema lex esto
Brasília, Brasiljustica.gov.brJoined April 2019
 
Sergio Moro
@SF_Moro
 
Sergio Moro
@SF_Moro
 
Devido ao novo coronavirus, Senacon/MJSP recomenda que consumidores e aéreas ajustem eventual remarcação de viagens a turismo nos próximos 60 dias sem a cobrança de multa. A nota abaixo tem os detalhes. Force majeure.
Quote Tweet
Ministério da Justiça e Segurança Pública
 
@JusticaGovBR
·
Senacon recomenda que consumidor possa remarcar suas passagens sem custos. Veja todas as recomendações em: bit.ly/2vkIwIj
 
 
Image
 
Henrique Mandetta
@lhmandetta
 
Conto com cada um de vocês para a divulgação dessas importantes informações. Não há motivos para pânico! Basta que cada um faça sua parte com responsabilidade e empatia. Estamos atentos
Vera Magalhães
@veramagalhaes
 
E aqui estamos indo às ruas no #CoronaDay. Esse dia será lembrado nos livros de história. Podem anotar. 15/3/2020. Não é 2015, talkey? E a imagem do presidente cumprimentando pessoas em meio à pandemia irá para as páginas.
 
Petra Costa
@petracostal
Intervenção médica já!
Apesar de apelo da Saúde, Bolsonaro toca nas mãos de apoiadores
O presidente contrariou uma recomendação da OMS de evitar usar as mãos em saudações para combater o alastramento do coronavírus no mundo
metropoles.com
 
marcia tiburi
@marciatiburi
Tratar o #coronavirus como algo banal significa praticar o « mal radical ». Na Idade Média se acreditava nos « reis taumaturgos » cujo toque curaria escrófulas. Agora um « presidente » espalha a peste? Que tempos apocalípticos...
 
Emir Sader
@emirsader
Bolsonaro abre guerra aos Poderes com irresponsabilidade sanitária - 15/03/2020 - Poder - Folha
Bolsonaro abre guerra aos Poderes com irresponsabilidade sanitária - 15/03/2020 - Poder - Folha
Cenas insólitas deste domingo fazem conversas sobre impeachment deixarem de ser tabu
folha.uol.com.br
 
 
19
Jan20

‘Democracia em vertigem’, um filme que nunca termina

Talis Andrade

Indicação ao Oscar resgata e amplia ao mundo a dúvida sobre “golpismo” e o perigo das tentações autoritárias

oscar lucas thiago .jpg

 

por Xico Sá

Os filmes precisam ter um fim, subir os créditos. Nas ficções, a imaginação cuida de continuá-los nas nossas cabeças – Taxi driver (1976) segue rodando ad eternum, talvez agora na pele de um neurótico “empreendedor” brasileiro motorista de Uber e bartender free-lancer.

Nos documentários, a vida real ou o jornalismo se encarregam de dar sequência. Democracia em vertigem, por exemplo, não acabaria com letreiro informando que o ex-ministro Sergio Moro, o mesmo que mandou prender o Lula durante a corrida presidencial de 2018, tomou posse na condição de ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro. Seguiria com as memórias do subsolo reveladas pelo The Intercept Brasil em parceria com veículos como este EL PAÍS. O uso de métodos explicitamente corruptos em nome do combate à corrupção fariam do ex-juiz e dos procuradores da Lava Jato personagens ainda mais relevantes na trama.

É só um exercício de montagem da história pra gente falar duas ou três coisas sobre o filme de Petra Costa indicado ao Oscar 2020. A própria diretora revelou que, se soubesse, teria esperado pelos segredos recolhidos por Glenn Greenwald e equipe. Seria importante para termos um documento audiovisual de um capítulo sequestrado da história pela televisão brasileira, mas em nada enfraquece a obra. Ao contrário. Praticamente lança a demanda por uma parte II, a missão Vaza Jato.

Uma terceira etapa também já se sustenta como roteiro: a deterioração da democracia na era bolsonarista, com ataques à imprensa, aos conselhos ambientais, sociais, surtos de censura às artes, cultura e ciência, desmonte de fundações como a Casa de Rui Barbosa, no Rio, etc. Uma amostra consistente do cenário você encontra nesta reportagem de Naiara Galarraga Gortázar.

O Brasil é uma mina, uma Serra Pelada para documentaristas de todas as visões e tendências. Petra sabe disso e a partir de um léxico familiar destrinchou em imagens a turbulência política mais recente dos tristes trópicos. São várias camadas dramáticas na escolha parcial -não há filme imparcial desde a primeira sombra projetada na parede pelos irmãos Lumière- e o conflito caseiro entre a empreiteira do avô e a utopia esquerdista revolucionária dos pais é uma tomada afetiva capaz de justificar qualquer premiação. A construtora é a Andrade Gutierrez, de origem mineira, protagonista ou coadjuvante em escândalos de superfaturamento em governos militares ou civis de todas as cores ideológicas. Os governantes mudam, os empreiteiros estarão sempre nos palácios ou nos castelos kafkianos, como espiamos na mesma lente da diretora.

O conflito caseiro ganha outra camada histórica quando uma certa pureza da utopia dos pais é baldeada com a lama da “real politik” brasileira e o envolvimento do PT em escândalos como o do Mensalão. Acrescenta-se a este ponto a autocrítica do “cavaleiro solitário” Gilberto de Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência nos governos petistas. Não uma autocrítica tão profunda assim, como recomendaria a patente do velho marxismo-leninismo, mas raríssima.

Duas ou três coisas que eu sei ou vi no filme dela, como diria meu Jean-Luc GodardDemocracia em vertigem reabre e universaliza a mais acirrada discussão que tivemos na taba Tupi de 2016 para cá: a queda da ex-presidente Dilma Rousseff foi golpe ou não foi golpe? Sei que muita gente não aguenta mais esse drama hamletiano e preferia ficar, ad infinitum, com a versão oficial do impeachment. É um roteiro bem mais cômodo. O poder da imagem, porém, projeta inquietações e fantasmas sobre o telão das nossas crenças.

Em sendo golpe, de que tipo o classificaríamos: inteiramente parlamentar (“tem que manter isso aí”, entra a voz do Temer sobre a mesada ao Eduardo Cunha); jurídico-parlamentar (“com Supremo com tudo”, diz em off o senador Romero Jucá) ou midiático-jurídico-parlamentar (corta para uma emissora de TV abrindo um programa de futebol direto da “manifestação família” da avenida Paulista ou de Copacabana).

Dois ou três dedinhos de prosa mineira, com direito a uma pinga de Januária... À sombra da indicação ao Oscar, até a aliança Bolsodória foi restaurada no escurinho do cinema. O PSDB do governador paulista e o staff do presidente ironizaram o documentário como obra de ficção. Quem é mestre em fake news tem autoridade moral para a crítica?

O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, acrescentou terror e comédia às características do filme. Medo, mas também faz sentido: uma das cenas mais terríveis da noite da votação do processo de impeachment foi marcada pela homenagem ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra –“o pavor de Dilma Rousseff”, segundo o então deputado federal e hoje presidente da República.

Flash back. O coronel Ustra, só para aterrorizar um pouco a memória, tinha entre os seus requintes o uso de ratos nas vaginas das presas políticas. O traço de comédia do documentário, caro general, está nas dedicatórias ao estilo Maguila (o boxeador) dos parlamentares durante a mesma votação. Dedico esse voto à minha esposa, ao meu papagaio, ao meu cachorro Rex etc, etc.

Democracia em vertigem é forte porque cinema. O poder da imagem fechando nas mãozinhas do então vice Temer na rampa do Planalto ao lado de Lula, Dilma e Marisa Letícia. As mãozinhas também representam uma trama de marionetes, cada dedo é um personagem da traição ou do golpe -escolha você mesmo como nomear as coisas. Uma marmota, munganga com digitais, um mamulengo dos infernos.

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