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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

30
Dez23

Pausas de calcificação

Talis Andrade
 
por Gustavo Krause
 

Não adianta resistir ao lugar comum: a semana de transição anual se impõe com a sensação de que o relógio/calendário para. De fato, “A vida necessita de pausas”, título do poema de Drummond, poeta apaixonado, para quem a pausa era “Dítono da vertente ...de toda minha loucura de amar/ Cada vez se torna mais difícil o pausar...na vida acelerada de minha saudade”.

Para nós, pessoas comuns, pausa é uma parada nas tarefas da sociedade do cansaço; um “fazer nada” ou um “ócio criativo” à Domenico de Masi; um intervalo para reflexão interior e, serenamente, encarar as dobras do tempo.

Desta forma, pouparei o leitor de uma espécie de contabilidade existencial que agrupa exaustivamente os fatos ocorridos em colunas de créditos e débitos; de valores e desvalores. A partir de uma escolha arbitrária e, confessadamente, limitada, me ocuparei de três registros.

O Primeiro trata do assustador 08/1 marcado, para sempre, pela violenta afronta à democracia com palavras envenenadas e gestos de efetiva agressão à Lei, às Instituições e aos símbolos nacionais. Prevaleceu a ordem democrática.

No entanto, a explosão do ódio não foi o começo e não será o fim das ameaças à democracia no Brasil e no mundo.

Seguem expostos “fios desencapados” às faíscas da intolerância, ao ambiente da antipolítica onde predomina a expansão dos extremos, alimentados pelo fenômeno persistente e crescente da polarização.

A rigor, a polarização não é intrinsecamente má desde que se manifeste no espectro do pluralismo o que move a sociedade democrática, respeitadas as divergências na busca da construção de consensos sociais.

E quando a polarização soa as trombetas do conflito e propõe o extermínio do outro divergente? Aí transmite a grave patologia da “calcificação” do tecido social, estrangulando o centro político e colocando em risco a estabilidade democrática.

Deve-se esta expressão – calcificação – aos autores do livro Biografia do Abismo: Como a polarização divide famílias, desafia empresas e compromete o Brasil (dezembro/2023), de autoria do cientista político Felipe Nunes e o jornalista Thomas Traumann.

A obra nasce histórica, não somente pela consistência do diagnóstico, fundamentado em dados de pesquisas, mas também, porque, propõe o remédio para “doença da democracia, mais democracia” numa sociedade de cidadãos. Devo acrescentar outro atributo de todo bom livro: inquieta o leitor, logo não é aconselhável para quem pretende desfrutar a leveza da pausa.

O segundo registro refere-se ao paroxismo da estupidez humana: a guerra no Oriente Médio e a continuidade de idêntico filme de terror que é a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Em fevereiro completa dois anos.

No limite da minha ignorância diante da tragédia, faço apenas um comentário para revalorizar a democracia. Democracia e Paz caminham juntas e são valores convergentes. A História ensina: em todos os confrontos bélicos, uma das partes, ou as duas eram e são governadas por autocratas, ditadores, tiranos. Jamais ocorreu guerra entre estados democráticos. A Paz é o espaço da democracia.

Como terceiro registro, a realização da COP28 merece uma atenção especial.

No berço da civilização dos combustíveis fósseis, os Emirados Árabes, duas centenas de países concordaram, passados trinta e um anos da Eco-92 e oito do Acordo de Paris com o começo do fim da era do Petróleo.

A ministra Marina Silva fez um comentário certeiro e realista: “O mundo resolveu ouvir a ciência. Só que uma coisa é estabelecer este tipo de consenso e outra coisa é a gente viabilizar o consenso. O balanço geral da COP28 é que ainda estamos insuficientes”.

Na mesma linha, Al Gore, ex-vice-presidente do EUA menciona que o reconhecimento da crise climática “como uma crise dos combustíveis fósseis é um marco importante”.

Convém ressaltar que a humanidade se defronta com um desafio bem maior do que operar a complexa transição energética que é mudar radicalmente um padrão civilizatório com todas as implicações que uma transformação desta ordem envolve.

Nada menos do que 2.456 lobistas defendiam os interesses econômicos dos produtores de petróleo que evitaram, na declaração final da COP, expressão equivalente a eliminação gradual (phase out, em inglês), substituída pelo compromisso de fazer “uma transição dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, de forma justa, ordenada e equitativa, de modo a atingir emissões líquidas zero até 2050, de acordo com a ciência”.

Com razão, dirão os críticos dos acordos internacionais que há uma distância nem sempre percorrida entre falar, escrever e fazer, especialmente no cumprimento de obrigações financeiras. O remédio é manter a mobilização o trabalho contínuo e articulado com a COP29 no Azerbaijão e a COP30 no Pará.

Para o Brasil, soluções econômicas baseadas na natureza são uma oportunidade estratégica para o nosso protagonismo ambiental e desenvolvimento sustentável como nação benfeitora e beneficiária do patrimônio natural.

PS. Ao leitor(a), desejo, agora e sempre, Saúde e Paz. Pausa: até o primeiro domingo de fevereiro.

19
Nov23

Artistas franceses marcham em Paris pedindo paz no Oriente Médio

Talis Andrade

Atrás de uma grande bandeira branca e sem qualquer slogan, milhares de pessoas, incluindo as atrizes Isabelle Adjani e Emmanuelle Béart, marcharam em silêncio, no domingo, em Paris, pela paz no Oriente Médio e contra o ódio

Personalidades do cinema francês marcharam neste domingo pedindo paz.
Personalidades do cinema francês marcharam neste domingo pedindo paz. AFP - BERTRAND GUAY
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As duas atrizes lideraram o cortejo de 3.600 pessoas, segundo a polícia, que partiu sob o sol da praça do Instituto do Mundo Árabe (Ima) para chegar simbolicamente ao Museu de Arte e de História do Judaísmo.

Ao seu lado estiveram as atrizes Julie Gayet, Ariane Ascaride, a cantora Yael Naïm, a jornalista Laure Adler, a realizadora Yamina Benguigui e a atriz Lubna Azabal, vista recentemente no filme "Le bleu du caftan", na origem da iniciativa.

 A ministra da Cultura, Rima Abdul Malak, juntou-se aos manifestantes, a maioria idosos, alguns com braçadeiras brancas, para "estar ao lado daqueles que estão engajados (...) neste movimento da sociedade civil sem bandeira, sem slogan, em silêncio, com dignidade".

 “Não é uma marcha de silêncio, é uma marcha em silêncio”, disse a ministra à AFP.

A manifestação foi incentivada por um “texto poderoso”, lembrou, em referência a uma plataforma assinada por cerca de 600 artistas, que faz um apelo por “carregar a voz da unidade” e a não tomar posição na disputa.

"As pessoas estão lá para apaziguar. Não pensam necessariamente a mesma coisa. Apoio totalmente esta demonstração de unidade", declarou Jack Lang, presidente do Ima, à frente do cortejo.

Usando cachecol e gorro brancos, Isabelle Adjani segurou, durante o desfile, um exemplar do livro “Planeta em guerra, planeta em paz” com uma pomba e uma jovem atrás do arame farpado na capa. Ela se recusou a falar.

“Optamos pela neutralidade absoluta em resposta ao barulho das armas, à vociferação do extremismo”, declarou ao diário Libération Lubna Azabal, presidente do coletivo “Outra voz”, um dos organizadores da marcha.

(Com informações da AFP)

01
Nov23

Governo federal resgata mais 33 brasileiros que estavam na Cisjordânia

Talis Andrade

 

Expectativa o voo de repatriação decole de Amã, na Jordânia, ainda nesta quarta-feira

 

247 - Uma nova fase da Operação Voltando em Paz foi executada na Cisjordânia na manhã desta quarta-feira (1), resultando no resgate de 33 brasileiros de 12 famílias. A iniciativa, organizada pela Representação Brasileira em Ramala, teve como objetivo repatriar cidadãos manifestando interesse em deixar a zona de conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas. 

“Os veículos foram identificados com a bandeira do Brasil. Para fins de segurança, as placas, trajetos e listas de passageiros foram informados às autoridades da Palestina e de Israel", explicou o embaixador Alessandro Candeas. A caravana, composta por 12 homens, 10 mulheres, 11 crianças e seis idosos, foi transportada de 11 cidades da Cisjordânia para Jericó em três veículos, entre ônibus e vans alugadas, onde realizaram os trâmites migratórios.  >>> Primeiros estrangeiros e palestinos feridos deixam Gaza rumo ao Egito. Brasileiros não são liberados

Em seguida, o grupo seguiu para a fronteira com a Jordânia, sendo direcionado até Amã em um ônibus fretado pelo Governo Brasileiro. A operação culminará com o embarque em uma aeronave da Presidência da República, com destino à Base Aérea de Brasília e posterior distribuição para Foz do Iguaçu, São Paulo, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Goiânia, Brasília e Porto Alegre.

Com este resgate, a Operação Voltando em Paz, liderada pelo Governo Federal, já repatriou 1.446 passageiros em nove voos vindos de Israel e Jordânia. O esforço inclui 1.443 brasileiros, três bolivianas e 53 animais de estimação.

Enquanto isso, um grupo de 34 brasileiros na Faixa de Gaza aguarda autorização para cruzar a fronteira com o Egito, visando outro voo da Força Aérea Brasileira (FAB). A fronteira foi aberta pela primeira vez desde o início do conflito nesta quarta-feira, permitindo a saída de palestinos feridos e estrangeiros. 

Além dos esforços de repatriação, a diplomacia brasileira, liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, continua empenhada em negociar ajuda humanitária, um cessar-fogo e a abertura de fronteiras para o retorno seguro dos brasileiros. As iniciativas incluem diálogos com líderes de diversos países desde o início do conflito em outubro. 

19
Set23

Discursos de Lula e Zelensky monopolizam atenções na ONU, avalia imprensa francesa

Talis Andrade
Lula terá reunião com Zelensky em Nova York. Foto de arquivo.
Lula terá reunião com Zelensky em Nova York. Foto de arquivo. © Ricardo Stuckert/PR

 

por Rádio França Internacional

As ausências do francês Emmanuel Macron, do britânico Rishi Sunak, do chinês Xi Jinping e do russo Vladimir Putin, por motivos variados, enviam um sinal negativo de que o mundo não só está cada vez mais fragmentado, como também dividido, assinala o Les Echos. "E nada mudou do ano passado para cá, quando o secretário-geral da ONU já alertava para esta situação", acrescenta o jornal. 

Em relação à bilateral prevista entre Lula e Zelensky, na quarta-feira (20), os jornais Le Parisien e Sud-Ouest France recordam que as relações entre os dois líderes são tensas, pelo fato de o presidente brasileiro ter declarado várias vezes que a responsabilidade pelo conflito era compartilhada entre Rússia e Ucrânia, apesar de ter condenado recentemente a invasão russa, contextualizam os dois veículos. 

"Esses comentários foram duramente criticados por Washington, que acusou o Brasil de 'ecoar a propaganda russa e chinesa sem levar em conta os fatos'", sublinha o Sud-Ouest France. "Ao contrário de várias potências ocidentais, o Brasil nunca impôs sanções financeiras à Rússia ou concordou em fornecer munições a Kiev, e está tentando se posicionar, juntamente com a China e a Indonésia, como um mediador do conflito", acrescenta o diário regional.

"O chefe de Estado brasileiro deve ter cuidado com discursos excessivamente ideológicos. Alguns jovens líderes de esquerda, como o chileno Gabriel Boric, já o criticaram publicamente por seu apoio inabalável a Nicolás Maduro na Venezuela", aponta uma reportagem da RFI em francês.

 

Uma semana para defender a Ucrânia

Na avaliação do jornal Le Parisien, Zelensky, que viaja acompanhado da mulher, Olena Zelenska, tem uma semana para defender a causa de seu país perante os líderes mundiais e a opinião pública americana.

Além da reunião com Biden, marcada para quinta-feira na Casa Branca, Zelensky também deve visitar o Capitólio para se reunir com as lideranças republicana e democrata. O ucraniano vai defender a aprovação de um novo pacote de ajuda militar de US$ 24 bilhões dos Estados Unidos para Kiev, que é discutido há várias semanas no Congresso americano. 

"As negociações estão particularmente difíceis na Câmara dos Deputados, controlada pelos republicanos, onde alguns membros conservadores se recusam a liberar mais recursos para a Ucrânia. Essa posição está enfurecendo republicanos no Senado, que uniram forças com os democratas no último ano para desbloquear cerca de US$ 120 bilhões em ajuda (militar, econômica, humanitária, etc) para Kiev", assinala o Le Parisien.

 
17
Jul23

Depende, comparado a quê? É relativo

Talis Andrade

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por Gustavo Krause

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No início da década de setenta, fui aluno de um talentoso e irônico professor argentino no curso de especialização tributária promovido pela OEA. Na conversa boa e instrutiva dos intervalos e encontros extracurriculares, ele sempre transmitia sabedoria e bom-humor.

Entre vários, ficou gravado o seguinte conselho: “Diante de uma pergunta complexa, empulhativa, embaraçosa, responda em ordem crescente e quando chegar a ‘relativo’, fique certo de que a busca pela verdade é um belo exemplo de curiosidade sem resposta”.

Na sequência, o Professor acrescentava: “quando a resposta for ’é relativo’, fique certo de que dificilmente se saberá qual o ‘relativismo utilizado’”.

Se ouviu falar na Teoria da Relatividade, é bom tirar o cavalo da chuva. Trata-se de um conceito revolucionário da Física que um génio da humanidade – Albert Einstein (1879-1955) subiu nos ombros de outro gênio – Isaac Newton (1643-1727) e unificou a ideia de espaço-tempo (A propósito, “As eras são todas iguais, mas o gênio está sempre acima da era em que vive”); se ouviu falar em relativismos é uma referência que teve em Franz Boas (1858-1942) o fundador da antropologia cultural e mestre de Gilberto de Freyre (1900-1987).

Difícil acreditar em tamanha sofisticação: o entrevistador estava, apenas, empenhado em cumprir a missão jornalística de apurar grave contradição do Presidente e o Presidente, por sua vez, na ausência de argumento convincente saiu-se com o, chamemos… “relativismo popular”.

Não saiu, foi encurralado e manchou o argumento que lhe garantiu a vitória eleitoral: a defesa de uma democracia ameaçada.

Democracia é um substantivo que dispensa adjetivos muito embora os vários institutos de pesquisas mundiais avaliem formações ou deformações do regime, adicionando qualificativos como democracia imperfeita, semidemocracia, até chegar ao oxímoro “democracia iliberal”.

Com efeito, esta tentativa de hibridismo “democracia iliberal” tão exaltado por Viktor Orban e adotado pelos critérios e pontuações das plataformas de classificação (DI, V-Dem, Freedom House etc…) legitimam a erosão das instituições que sustentam os pilares da liberdade individual e a limitação do poder político, elementos constitutivos da democracia liberal.

Na dinâmica da sociedade humana, o mais remoto conflito é o da felicidade dos afetos com a força negativa da opressão. Um liberta, o outro domina, escraviza. Daí a necessidade existencial de assegurar a fruição de liberdade pela ausência de constrangimentos, ampliada pela capacidade de participar das decisões que dizem respeito ao destino de cada indivíduo e ao da comunidade que constituem.

Historicamente, os raios da ação do homem livre, a exemplo da liberdade de consciência, crença e de autorrealização, foram ampliando um estatuto de cidadania universalmente aceito, mas nem sempre respeitado, ou o que é mais grave, violados, com frequência, exatamente, por “um relativismo” que abala os alicerces da notável construção do espaço de convivência chamado Democracia.

Nesta matéria, convém reler alguns trechos do notável Noberto Bobbio (1909-2004) que viveu intensamente o século XX e nos repassa a luz de sua experiência de vida. Talvez sirvam de lição aos relativistas.

“Aprendi a respeitar as ideias alheias, a deter-me diante do segredo de cada consciência, a compreender antes de discutir, a discutir antes de condenar”

“A atitude do bom democrata é a de não se iludir sobre o melhor e não se resignar com o pior”.

“A democracia é um conjunto de regras que estabelece quem está autorizado a tomar decisões coletivas e com quais procedimentos”.

“Direitos do homem, Democracia e Paz são três momentos necessários do mesmo momento histórico: sem direitos do homem conhecidos e protegidos, não há democracia; sem democracia não existem condições mínima para a solução pacíficas dos conflitos. Em outras palavras, a democracia é a sociedade de cidadãos e os súditos se tornam cidadãos quando lhes são reconhecidos direitos fundamentais; haverá paz estável, uma paz que não tenha a guerra como alternativa quando existirem cidadãos não mais deste ou daquele estado, mas do mundo”.

04
Nov22

Lula e um país em carne viva

Talis Andrade

nove crimes de bolsonaro vaccari.jpeg

 

por Cristina Serra

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Bolsonaro, nunca mais teus maus bofes, tua vulgaridade e tuas mentiras, tuas agressões às mulheres, teus arrotos e palavrões, tuas ofensas aos negros, aos povos indígenas e aos brasileiros do Nordeste, teu ódio aos pobres.

Nunca mais teus fardados bolorentos, teus valentões de Twitter, tuas falanges raivosas, tuas milícias terroristas. Como disse o anônimo haitiano que te enfrentou, em 2020: “Bolsonaro, acabou”.

Bolsonaro nunca mais? Não, seus 58 milhões de votos não permitem tal afirmação. As urnas mostraram que vencedores e vencidos têm projetos de país inconciliáveis e pouquíssima capacidade de se comunicar, mas, ao realizar a façanha de se eleger para o terceiro mandato, Lula já diz a que veio.

Lula tem pressa. E o Brasil também. Em seu primeiro discurso pós-eleição, falou de paz e diálogo. Engrandecerá sua biografia se conseguir unir este país em carne viva. Sua trajetória alcança contornos épicos. Lula foi capaz de reafirmar sua liderança depois do golpe de 2016, de uma prisão injusta e de ter tido sua reputação emporcalhada por uma conspiração judicial-midiática. Ao completar seu mandato, em 2026, será o presidente que por mais tempo terá exercido o poder consagrado pelo voto popular.

Sobre a luta permanente por democracia e justiça social, um belo livro dos anos 1970 nos serve como reflexão neste momento crucial de reconstrução. É o pungente “Em câmara lenta”, de Renato Tapajós, em nova edição (editora Carambaia), 45 anos depois da primeira.

Amazon.com.br eBooks Kindle: Em câmara lenta, Tapajós, Renato

Um dos personagens reflete sobre os anos de combate à ditadura: “(…) mudar o mundo é transformá-lo sempre – nossa contribuição nunca está dada. Por maior que tenha sido ela, por maior que tenha sido qualquer vitória, nossa contribuição está sempre por fazer. Os que se satisfazem com qualquer vitória desertam no momento mesmo em que se satisfazem. (…) As coisas que valem a pena são aquelas que ainda não foram feitas.” É o que Lula precisa fazer.

 

24
Out22

Bispo é agredido verbalmente por bolsonaristas após missa na Paraíba

Talis Andrade

Bispo de Guarabira é agredido verbalmente por bolsonaristas após missa

 

Sem mencionar candidatos, religioso teria orientado fiéis a votar em quem ajuda os pobres. Diocese emitiu nota repudiando o ataque

O bispo Dom Aldemiro Sena dos Santos foi agredido verbalmente por apoiadores do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) em uma igreja em Guarabira (PB). O caso aconteceu após uma missa na Catedral de Nossa Senhora da Luz, nesse domingo (23/10). O bispo, sem fazer menção direta a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), teria orientado os fiéis a votar em quem ajuda os pobres.

Em nota, a Diocese de Guarabira repudiou os ataques contra o bispo e afirmou que “atitudes de violência, como a que foi sofrida pelo Bispo de Guarabira, sinalizam a existência de perseguição ao cristianismo autêntico que tem sua opção pelos mais pobres, vulneráveis, estigmatizados e marginalizados”.

Armas de Bolsonaro destroem as famílias

 
 
25
Jul22

O bolo da matança

Talis Andrade

O bolo da matançaFoto: Reprodução/Redes Sociais

 

por Moisés Mendes /Extra Classe

O gesto mais forte, mais incisivo, mais afirmativo de uma posição, depois do assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu, não veio de instituições, da OAB, da Igreja, de políticos ou de celebridades que dizem frases de combate à brutalização do país.

O gesto de maior impacto, que mereceu as capas dos jornais, veio de onde sempre vem a reação a esse tipo de episódio. Partiu da própria extrema direita.

Foi o gesto de Eduardo Bolsonaro ao apresentar um bolo com uma arma dentro, no dia do seu aniversário. Uma ideia pronta para quem fez 38 anos: é só mostrar um revólver calibre 38 como decoração.

Um gesto simbólico que os democratas não conseguem ter, mas a extrema direita sempre apresenta nos momentos em que parece acuada.

Depois da festa de aniversário interrompida por um extremista com uma arma, outra festa de aniversário com um bolo e uma arma.

A alegoria do garoto quase quarentão é a resposta do fascismo ao crime em Foz. Com mais deboche, agressividade, mais armas e mais incitação à matança.

Não há nada equivalente do lado dos democratas ou dos chamados genericamente de progressistas e/ou de esquerda.

Eduardo Bolsonaro produziu o gesto de impacto que sempre falta aos que tentam conter a fúria da extrema direita. E sem muito esforço.

O fascismo transmite mensagens que alcançam o seu público sem volteios. É tudo direto, sem a necessidade de frases explicativas.

A extrema direita passa hoje, com meia dúzia de palavras e alguns objetos, principalmente armas, recados destruidores dos esforços humanistas.

E as esquerdas brasileiras há muito tempo não têm como passar nenhuma síntese do que desejam e do que combatem, mesmo que tenham sido vitoriosas em eleições em países da vizinhança.

Perderam força os slogans libertários que vieram dos anos 60 e as mensagens do século passado com pombas da paz.

Uma pomba da paz hoje não significa nada mais para os que vieram do século 20 e tampouco para os jovens do século 21.

Nenhuma palavra de ordem das esquerdas funciona mais ou funciona pouco. É proibido proibir. Abaixo a ditadura. Tortura nunca mais. Sejam realistas, exijam o impossível. A política está nas ruas, não nas urnas. Democracia já.

Democracia, diferenças, liberdades, direitos humanos. Quase nada funciona. Nem as ruas funcionam mais no Brasil. Nem o apelo ambientalista sensibiliza, mesmo que a Amazônia seja nossa.

Enquanto isso, a extrema direita vai se divertindo com a descoberta de que as pessoas assimilam com mais facilidade mensagens que transmitam ódio, violência, desavença, ruptura e morte.

Um dia depois do assassinato em Foz do Iguaçu, quem conseguiu produzir a mensagem mais poderosa foi o filho mais bélico de Bolsonaro, porque tem poder de síntese para falar com os 30% que apoiam seu pai e o fascismo.

Ninguém sabe o que disseram a Igreja, a OAB, as autoridades, os líderes da oposição, nem mesmo o que Lula disse. As mensagens de condenação do assassinato são levadas por qualquer vento.

O que fica é o bolo do sujeito que já havia produzido a mais lembrada imagem do golpe, a de que um cabo e um soldado, mesmo sem jipe, podem fechar o Supremo.

É a realidade. A democracia não tem força para criar algo com o impacto de um bolo com uma arma e com uma vela sendo assoprada por uma criança.

É aterrador, mas é o que temos para o momento. E com o apoio de um terço da população brasileira. A mensagem da matança está vencendo.

Editorial - Bangue-Bangue bolsonarista: indicações e primeiras baixas -  Jovens Cronistas

12
Jul22

"Bolsonaro faz discurso violento, típico de um covarde", diz Lula

Talis Andrade

Correio Braziliense

 

Lula critica duramente o chefe do Executivo e fala sobre combate à fome

 

por Carlos Alexandre de Souza, Ana Dubeux, Denise Rothenburg, Ana Maria Campos /Correio Braziliense

 

Lula chega nesta terça-feira (12/7) a Brasília para participar de um ato público, às 17h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Também vai cumprir agenda com empresários de vários segmentos da economia. Uma programação para, entre outros assuntos, tentar desconstruir o antipetismo com a ideia de uma aliança ampla para "reconstruir o Brasil".

Nesta entrevista, o ex-presidente explica que quer manter o auxílio de R$ 600 e que seu compromisso é novamente tirar o Brasil do Mapa da Fome da ONU. "Isso é um compromisso de vida. É a prioridade."

Sobre ataques do bolsonarismo aos seus apoiadores ou ameaças ao processo democrático das eleições, Lula diz que "Bolsonaro faz um discurso violento, cheio de bravata, bem típico de um covarde, que tenta estimular a violência no país". Também chama o atual presidente de "mentiroso".

 

No primeiro mandato, o senhor disse que não descansaria enquanto alguém passasse fome no Brasil. A fome voltou. Vai repetir esse compromisso?

Sim. Isso é um compromisso de vida. Conseguimos, com toda a sociedade, criar políticas públicas e promover inclusão social que tirou o Brasil do Mapa da Fome da ONU, e agora estamos de volta. Essas políticas públicas foram desmontadas, e a fome voltou. Não tem por que o Brasil ter milhões de pessoas, milhões de famílias e crianças passando fome. Nós vamos resolver isso, é a maior prioridade.

 

Acredita que Bolsonaro vai respeitar o resultado da eleição?

Ele tem de respeitar. Não é opção dele.

 

O senhor já disse que é contra as RP9, as emendas de relator ao Orçamento, e que vai acabar com elas. Porém, para acabar, é preciso acertar com o Congresso. O Congresso, hoje, manda no Orçamento e, para 2023, vai tornar impositivas também essas emendas de relator. Como fará para acabar com elas, uma vez que até na oposição tem gente que apoia essas emendas e diz ser melhor ficar independente do governo?

Vamos conversar sobre isso com o Congresso eleito pelas urnas de 2022. Por isso, será muito importante o voto para deputado e senador nesta eleição. Eu acho que o país não pode ter algo chamado "orçamento secreto". Eu quero que o país tenha um orçamento participativo, com as pessoas podendo participar pela internet, opinar no destino dos recursos dos seus impostos.

 

Se vencer a eleição, vai manter o Auxílio Brasil a R$ 600?

Eu quero manter. O PT queria que o Auxílio fosse de R$ 600 já em 2020. Bolsonaro que fez uma coisa engraçada: criou uma série de benefícios em período eleitoral que duram até dezembro. Depois disso, vale a palavra do Bolsonaro, que não vale nada, como o mundo sabe, porque todo mundo sabe que ele é um mentiroso.

 

O senhor é contra o teto de gastos. E Bolsonaro encomendou uma bomba fiscal de R$ 41 bilhões? Isso não é irresponsabilidade fiscal?

Eu governei oito anos com responsabilidade fiscal, social, econômica, com todo o tipo de responsabilidade possível, sem precisar de teto nenhum. Em nenhum país existe esse teto. Nem no Brasil, onde a toda hora se cria uma exceção ao teto. O maior problema de teto no Brasil são as milhares de famílias que viraram sem teto nas grandes cidades, morando nas ruas. Esse é o teto que me preocupa.

 

Derrotar Bolsonaro é seu objetivo. Mas ele tem aliados em diversos estados. Onde estão os maiores desafios?

O povo brasileiro viveu meu governo. Saí da presidência com grande aprovação. E o povo brasileiro tem lutado para sobreviver ao governo do Bolsonaro, em que muitos morrem de covid, de fome, de tiro. Em que as pessoas buscam osso, buscam carcaça de frango, porque não podem comprar carne. Ele não tem muitos aliados, porque estão vendo nas pesquisas que não é uma boa se associar a ele. Então, em Minas, no Rio de Janeiro, em São Paulo os candidatos dos partidos dele estão é escondendo ele.

 

E no Distrito Federal? Ibaneis é aliado do presidente.

Vamos ver se essa aliança vai se firmar, inclusive pelo comportamento de Bolsonaro, que está longe de ser alguém confiável ou estável. Acho triste, no Distrito Federal, com tantos servidores públicos, as pessoas votarem em alguém que desrespeitou tanto o funcionalismo como Bolsonaro.

 

O PT já reconheceu todos os seus erros?

O PT é o maior partido do país, com centenas de milhares de filiados e milhões de simpatizantes. Governamos vários estados e cidades do país, várias vezes, com pessoas diferentes. Nada na vida é perfeito, sempre podemos aprender e melhorar, mas sempre respeitamos a democracia. Não sei se todos que desrespeitaram a democracia, derrubando uma presidenta honesta e elegendo um fascista, achando difícil a escolha entre ele e um professor que é um dos gestores públicos mais qualificados do país, não sei se eles reconheceram todos os seus erros.

 

Por que o antipetismo ainda é tão forte?

Porque o petismo é forte. E porque, para derrotar o PT após quatro vitórias eleitorais, foi necessário acumular muita mentira, estimular muita gente de extrema direita a sair do armário para derrotar um partido que construiu políticas sociais contra a fome e a pobreza, que foram inspiração e modelo no mundo todo.

 

Bolsonaro pode perder, mas o bolsonarismo continuará. Concorda?

Em qualquer país existe parte da população, uma minoria pequena, de extrema direita. A diferença é que Bolsonaro os estimulou, fez parecer bonito ser ignorante, exibir grosseria e preconceito, ser violento. Vamos ver depois da eleição como ficará o bolsonarismo. Bolsonaro foi, por 28 anos, um deputado irrelevante. Agora, será um grande trabalho consertar o estrago que ele fez no país: na questão ambiental, ao espalhar armas, atuando contra a ciência, a educação, contra nossas universidades. Será um grande trabalho que eu, junto com Alckmin, com a nossa experiência, e com toda a sociedade brasileira, não quero perder tempo, quero, desde a primeira hora, trabalhar para consertar o país.

 

Seus adversários mais ferrenhos afirmam que o PT jamais fez o mea-culpa do mensalão e do petrolão e que o senhor não foi inocentado. Como está se preparando para responder a essas argumentações ao longo da campanha?

Quem diz que eu não fui inocentado é alguém desesperado, que não tem a grandeza de admitir que me acusou injustamente, depois de termos provado a abertura de processos completamente forjados e parciais contra mim, como disseram meus advogados desde a primeira defesa que apresentaram, ainda em 2016. Eu venci em mais de duas dezenas de casos na Justiça. Juristas de renome internacional, da Alemanha, dos Estados Unidos, da Itália, da Argentina, ficaram chocados com o absurdo da minha condenação por "atos indeterminados", quando leram a sentença do Moro. Fui absolvido na Justiça em Brasília da acusação de envolvimento em desvios na Petrobras e em outras empresas públicas, por meio de decisão definitiva. Nem os procuradores de Brasília recorreram da sentença que falava que as acusações tinham objetivos políticos. Eu fui o político mais investigado do país, e não acharam nada contra mim. Mas, depois de tantas e tantas mentiras contra mim e minha família, tem gente que não quer dar o braço a torcer.

A denúncia do tal "petrolão" foi recusada pela Justiça de Brasília. Pessoas foram condenadas no mensalão por um voto, que deve ter sido escrito pelo Moro, que admitia que não tinha provas contra mim. A Lava-Jato de Curitiba soltou executivos de empresas e diretores da Petrobras que eles descobriram que roubavam desde os tempos do PSDB, em troca de um bando de mentiras em delações. E destruíram as empresas, destruíram projetos de desenvolvimento, destruíram empregos. Os delatores foram soltos com parte do dinheiro, não tem nenhum mais preso, e milhões de trabalhadores honestos das empresas ficaram desempregados. Os adversários mais ferrenhos apostam nisso porque não sobrou mais nada para dizer, depois do desastre deles na economia, na educação e, inclusive, no combate à corrupção. Na época dos governos do PT, foram feitas as principais leis de combate à corrupção e também foi feita a Lei da Transparência. Hoje, com Bolsonaro, tudo é sigilo de 100 anos.

 

Sua campanha já foi vítima de dois ataques, um no triângulo mineiro, com um drone que atirou fezes sobre os seus apoiadores, e, na última quinta-feira, no Rio de Janeiro, com uma bomba caseira de fezes atirada contra o público. Como o PT e o senhor vão tratar desses temas? Como vai se preparar, por exemplo, para o 7 de Setembro, que hoje preocupa alguns partidos e até a Justiça Eleitoral?

Eu não gosto de comentar segurança, temos os responsáveis pela área, que cuidam disso. Em ambos os casos que citou, reagiram rápido, o sujeito do drone foi preso, o homem que jogou a bomba, também. O Bolsonaro faz um discurso violento, cheio de bravata, bem típico de um covarde, que tenta estimular a violência no país, inclusive, tivemos essa tragédia em Foz do Iguaçu. Isso de 7 de Setembro, ele, inclusive, já tentou antes. Não deu certo aquela vez e não vai dar certo de novo.

 

A redução no preço dos combustíveis tem sido difundida pelos bolsonaristas nas redes sociais como uma vitória do presidente e a PEC dos Benefícios é vista como um gol de Bolsonaro, porque não deixou margem para o PT votar contra a proposta, restou a obstrução. Como vai lidar com esse tema na campanha?

Também estamos tranquilos com isso. Tem gente que pensa que o povo é bobo. O Bolsonaro ficou três anos e meio no poder, não liga para nada, fica passeando de moto e espalhando mentira; chega perto da eleição, tenta comprar o voto do povo, que está em uma situação difícil, vendo o preço de tudo subir cada vez que vai ao supermercado. Aliás, em vez de reduzir os preços dos combustíveis enfrentando a questão da paridade internacional dos preços da Petrobras, abrasileirando os preços dos combustíveis aos custos em reais, monta esse pacote em cima de um calote nos governadores e prefeitos, tirando dinheiro da saúde e da educação nos estados e municípios. Se essa verba chegar para o povo, o povo tem mais que pegar o dinheiro — o PT não vai ser contra auxílio — e depois votar com sua consciência. O povo vai avaliar como Bolsonaro tem desrespeitado os trabalhadores, as mulheres, como foi um desastre na pandemia, que não tem nada de bom para apresentar, e vai votar contra ele.

 

Muita gente confunde Lula com o PT. Há quem diga que o partido só faz o que senhor quer e há quem diga que o senhor só faz o que o PT quer. Quem está certo?

Nenhuma das duas falas. Quem diz isso não conhece o PT, o que é até uma pena para quem acompanha política não saber da diversidade e da vida interna intensa do PT. No PT tudo é discutido, tudo precisa ter convencimento, se ouvem as divergências, se vota. O PT não é um partido que o secretário-geral fala, e ninguém responde. O PT é um partido nacional, espalhado em todo o país, com diretórios estaduais, municipais. E eu tenho muito orgulho de ser um dos fundadores do PT, mas, ao mesmo tempo, eu não quero ser candidato só do PT. Quero ser, junto com o Alckmin, candidato de uma aliança que, hoje, tem sete partidos, que tem apoio de pessoas de outros partidos, além desses sete, e quero ser candidato de um movimento de reconstrução do Brasil para ser presidente de todos os brasileiros.

Eu quero me reunir em janeiro, talvez até em dezembro, com os 27 governadores eleitos, para, juntos, resolvermos os problemas do país. Me reunir com os prefeitos. Não importa se gostam ou não de mim. Eu, quando fui presidente, respeitei a todos. Não fiquei pedindo para empresário me apoiar, não fiquei perguntando se ele votava em mim. Respeitei todas as religiões, todos os brasileiros, representei este país no exterior, busquei investimentos externos e mercados para nossas exportações. Eu sou uma pessoa que respeita a democracia, que gosta de ouvir a opinião dos outros, e respeito a divergência. O Brasil precisa voltar a ter diálogo, ter paz e ter um presidente que trabalhe para resolver os problemas. É a isso que quero dedicar os próximos quatro anos da minha vida.

 

20
Jun22

O futuro é feminino (por Gustavo Krause)

Talis Andrade

genero oportunidades igualdade sahar ajami.jpeg

A energia do feminino é a força de atributos capazes de operar uma paz transformadora

 

 

por Gustavo Krause

- - -

Longe de mim a pretensão da profecia, até porque o ofício de profeta é perigoso. As previsões de grandes pensadores sobre o curso da história universal revelaram-se erradas. A minha referência independe de gênero. Trata-se de uma energia, de forças que circulam, de forma complementar, dentro de cada ser humano.

O título do artigo pode soar estranho e remeter para a o conflito político entre os gêneros, uma luta que revelou, ao longo de séculos, a mais violenta opressão do homem em relação à mulher. Violenta, culturalmente predominante e institucionalmente legitimada.

Atualmente, apesar das conquistas e avanços, todos os dados relativos à renda, ao emprego, à remuneração, à pobreza, à multifacetada violência, recaem sobre a mulher com novas responsabilidades e séculos de preconceitos. O mundo que aparentemente fora construído por homens e para homens vem mudando, reivindicando e ampliando o nobre espaço para emprestar ao feminino o significado de que não pertence, apenas, às mulheres.

Importante o registro por uma simples razão: não fora um embate permanente, conquistas graduais e um empoderamento social crescente, a energia a que nos referimos seria um apanágio a se revelar no ser masculino provavelmente em doses insignificantes.

A força a que me refiro é a que envolve paciência, afeto, acolhimento, compaixão, subjetividade, intuição, resiliência, e tantas outros atributos, gerando sociedades que exaltam, generosamente, feitos heroicos dos homens, mas são avarentas em reconhecer a jornada das heroínas.

É perceptível o desejo de viver a vida com a leveza proporcionada pelas virtudes do feminino: novo padrão civilizatório que não será uma dádiva dos antigos dominadores. Exige firmeza e coragem das mulheres para quebrar paradigmas

Eis o que diz a agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), construída a partir dos resultados da Rio+20, em 2015, por 193 países: meta 5.5 Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.

Pois bem, o Brasil, politicamente dividido, partidariamente fragmentado e socialmente empobrecido, parecia caminhar para o aprofundamento da crise político-institucional. Para o eleitorado, restava optar entre o atraso e o risco autoritário.

A terceira via ou o centro democrático eram dados como liquidados. Não é bem assim. Na semana passada, uma brisa refrigerou o ambiente: a energia feminina é a Senadora Simone Tebet por uma paz transformadora.

O eleitor não precisa fugir da urna.

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