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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

03
Dez22

Quantas músicas foram censuradas na ditadura militar?

Talis Andrade

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Ditadura militar e zoofilia de serial killers (sadismo sexual)

 

Quais são as músicas censuradas na ditadura militar?

7 músicas censuradas durante a ditadura militar

  • Apesar de Você (Chico Buarque)
  • Tiro ao Álvaro (Adoniran Barbosa)
  • Vaca Profana (Caetano Veloso)
  • Cálice (Gilberto Gil/Chico Buarque)
  • Milagre dos Peixes (Álbum – Milton Nascimento)
  • Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Geraldo Vandré)
  • Acender as Velas (Zé Keti)

 

Quantas músicas de Chico Buarque foram censuradas?

Os principais cantores censurados pela Ditadura Militar foram: Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Kid Abelha, Milton Nascimento, Raul Seixas, Paulo Coelho, Toquinho, Vinícius de Morais, Odair José e Torquato Neto. Chico Buarque de Hollanda, por sua vez, teve pelo menos 10 canções censuradas.

 

Quem censurava as músicas na ditadura militar?

As músicas da ditadura militar expressavam o descontentamento dos artistas com as barbáries cometidas durante esse período da história brasileira. E assim como as peças de teatro, filmes, poesias e outras obras elaboradas nesse período, a produção musical estava susceptível à censura por parte dos militares.

 

Quantos livros foram censurados na ditadura militar?

A quantidade exata de livros censurados na ditadura ainda é desconhecida. Desde 1970, o Departamento de Censura de Diversões Públicas (DCDP) do Ministério da Justiça tornou-se responsável pela censura a livros. Entre 1970 e 1982, o órgão analisou oficialmente pelo menos 492 livros, dos quais 313 foram vetados.

Quais foram os cantores que foram exilados na época da ditadura?

 

Artistas brasileiros que foram exilados na Ditadura Militar

  • Caetano Veloso
  • Gilberto Gil
  • Oscar Niemeyer 
  • Chico Buarque
  • Raul Seixas
  • Geraldo Vandré

 

Quais foram os principais cantores que se opuseram à ditadura militar?

Em 1979, João Bosco e Aldir Blanc compuseram “O bêbado e a equilibrista”, que fala sobre os exilados. É um retrato do Brasil no final do período ditatorial, com mães chorando (Choram Marias e Clarisses) pela falta de seus filhos, os “Carlitos” tentando sobreviver (alusão a um personagem de Charles Chaplin.

 

O que é o AI-5?

O AI5 é uma norma legal instituída pelo governo militar que estabelecia prerrogativas para que os militares pudessem perseguir os opositores do regime. Consistia basicamente em uma ferramenta que dava legalidade jurídica para o autoritarismo e a repressão impostos pelos militares desde 1964.

 

Porque a música Jorge Maravilha foi censurada?

Em Jorge Maravilha, Chico cantava: “você não gosta de mim, mas sua filha gosta”, o que gerou a especulação de que Amália Lucy, fã declarada dele e filha de outro presidente militar, o general Geisel, tinha sido ahomenageada da canção. Chico sempre negou que tenha composto a música para Amália.

 

Quem lutou contra a ditadura militar?

Neste cenário, lançaram-se à luta armada dezenas de organizações, das quais destacaram-se a Ação Libertadora Nacional (ALN), o Comando de Libertação Nacional (COLINA), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e a Vanguarda Armada …

 

Porque a música Tiro ao Álvaro foi censurada?

O documento oficial que veta “Tiro Ao Álvaro” (canção de 1960) dá a justificativa de “falta de gosto”. A letra brinca com a oralidade do povo de São Paulo ao contar com as palavras “tauba”, “automorve” e “revorve”.

 

Quais livros foram censurados?

Censurado: 6 livros que foram tirados de circulação

  • O casamento, de Nelson Rodrigues. …
  • Feliz ano novo, de Rubem Fonseca. …
  • A crucificação rosada, de Henry Miller. …
  • Lolita, de Vladimir Nabokov. …
  • Madame Bovary, de Gustave Flaubert. …
  • O crime do padre Amaro, de Eça De Queiroz.

 

Quais os livros proibidos no Brasil?

Confira abaixo os títulos e onde foram censurados:

  • 1984, de George Orwell.
  • Lolita, de Vladimir Nabokov.
  • O crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós.
  • Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca.
  • Tessa: A gata, de Cassandra Rios.

 

Quem era os exilados?

Significado de Exilado substantivo masculino Pessoa que, por razões políticas, foi obrigada a deixar sua pátria, seu país; expatriado, desterrado: os exilado voltarão ao Brasil. … Etimologia (origem da palavra exilado). A palavra exilado deriva como particípio do verbo exilar, pela junção de exílio-, e -ar.

 

Quem eram as pessoas torturadas na ditadura militar?

A casa dos horrores torturou até a morte jovens opositores do regime militar. Outros viveram a perversidade de serem torturados na frente de filhos crianças, como Amélia e Cesar Teles. O casal, de pouco mais de 20 anos, foi preso em dezembro de 1972, e apanhou seguidamente. Geraldo Vandré enloqueceu na tortura. Ficou atoleimado. Virou um farrapo humano. Ficou viciado em drogas para aliviar as dores da tortura. Exilado no Chile passou a ser informante em troca de cocaína. Vandré virou a soma de tortura + dor + droga + loucura + leseira. A ditadura torturou bebês, crianças. Vários serial killers foram forturadores. Torturadores que praticavam todo tipo de sadismo sexual, usando inclusive diferentes animais. 

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17
Dez21

Alvaro Dias leva “invertida” de Paulo Coelho no Twitter

Talis Andrade

 

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Para promover Sérgio Moro, senador tentou fazer uso político de versos da canção Tente Outra Vez 

 

05
Out20

Kassio Nunes é portador de um silêncio valioso

Talis Andrade

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Motivo real de Bolsonaro para indicá-lo é grande incógnita

por Janio de Freitas

- - -

O melhor a dizer sobre a indicação de novo integrante do Supremo é se tratar de dupla incógnita. O desempenho no tribunal depende da combinação de fatores como saber jurídico e orientação doutrinária, experiência de vida, concepção de ordem social, e outros, todos permeados pela qualidade do caráter. E nada disso se fez conhecido, de fato, na personalidade de Kassio Nunes, o que ficou demonstrado na vaguidão dos metros de noticiário sobre o personagem inesperado.

No caso, a incógnita é menos ruim do que era conhecido e previsto. A especulação que ruiu, ao fim de meses, dividia a preferência de Bolsonaro entre André Mendonça e Jorge Oliveira. O primeiro atenderia à escolha de alguém “terrivelmente evangélico”, qualificação que sintetiza todo um conjunto de ideias planas e pedregosas anti-ideias. Ministro da Justiça, apressou-se em reavivar a ditatorial Lei de Segurança contra o articulista Hélio Schwartsman e o cartunista Aroeira. Seria, pois, um magistrado terrivelmente previsível —embora não o único.

Discreto secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira chegaria ao tribunal com a cicatriz indelével de membro do grupo palaciano. De um daqueles que endossam, com seu passado e seu futuro, os desmandos de Bolsonaro e suas consequências funestas. Não é incomum que ministros do Supremo aparentem despir-se de sua origem política, e alguns o façam mesmo. Metamorfose, convenhamos, que não é para qualquer um. E não era pressentida em Jorge Oliveira, ao menos de modo absoluto.

A outra incógnita na indicação de Kassio Nunes Marques é o motivo real de Bolsonaro para adotá-lo. Porque foi indicado pelo presidente do PP, para amarrar mais o centrão, como gesto de afastamento do grupo ideológico, essas e outras especulações apenas preencheram o vazio informativo.

Certo é que Bolsonaro e seu grupo têm objetivos definidos que conflitam com vários preceitos da Constituição e com inúmeras leis. Assuntos, quando não possam ser impostos como a devastação ambiental, para interferência do Supremo. E Bolsonaro tem ainda os problemas judiciais que ameaçam filhos, o próprio Bolsonaro e até a mulher, todos sob risco de chegar ao Supremo.

Com tais expectativas, conhecer um desembargador na tarde de uma quarta-feira, reencontrá-lo à noite em jantar de políticos na casa da senadora Katia Abreu e, ali mesmo, anunciá-lo como sua indicação, convenhamos, compõem um percurso inconvincente.

Mais ainda, para fazer o que seria esperável de André Mendonça, Jorge Oliveira ou João Otávio Noronha, Bolsonaro não precisaria de um neófito nas suas relações. Kassio Nunes Marques é portador de um silêncio valioso.

A serviço

Ainda antes de se refazer da acusação de tentar distorcer investigações da Lava Jato, a procuradora Lindôra Araújo confirma sua disposição. Pediu ao Supremo que rejeite a denúncia contra o deputado Arthur Lira por corrupção.

A originalidade está em que a acusação foi feita pela própria Lindôra Araújo, assegurando então que “a investigação comprovou o repasse de propina ao parlamentar”. Agora a procuradora acusa a mesma denúncia de “fragilidade probatória”. No intervalo, Lira tornou-se bolsonarista de liderança no centrão.

Se não punida por denúncia com falsa comprovação, Lindôra Araújo teria de sê-lo por retirar denúncia com comprovação verdadeira. Mas talvez nem valha o trabalho. Punição no Ministério Público Federal é ficção.

Mais fogueiras

Discriminado por muito tempo como escritor, Paulo Coelho acabou calando os detratores, movidos a arrogância ou inveja, ou ambas. Volta a ser atacado. Livros seus são queimados por bolsonaristas nas redes, servindo à informação de que já chegamos também a esse estágio da boçalidade celebrado no nazismo. Parabéns a Paulo Coelho.

Demolição

Os negócios sombrios do esquartejamento da Petrobras em mais um capítulo: agora autorizada por pequena maioria de dois votos no Supremo, a Petrobras vai vender sem licitação oito refinarias por R$ 8 bilhões. Valor que a operação dessas empresas lhe daria e seguiria rendendo. O que está óbvio na existência de pretendentes à compra.

Em paralelo à venda “para fazer caixa”, a Petrobras está na iminência de adquirir a parte da francesa Total em cinco áreas na foz do Amazonas. A Total sai porque já houve quatro recusas de licença ambiental para a exploração da área.

Sempre

Projeto muito interessante, mandado por Bolsonaro ao Congresso na quinta-feira (1º): tirar mais R$ 1,5 bilhão da Educação para obras.

28
Dez19

Porta dos Fundos: Cadê a PF do Moro?

Talis Andrade

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Por Ricardo Kotscho
 
“Se os terroristas que atacaram o Porta dos Fundos não forem imediatamente punidos, isso vai empurrar o país para conflito de proporções gigantescas”, alertou o escritor Paulo Coelho no Twitter.

Já se passaram 72 horas desde o atentado terrorista, às vésperas do Natal, quando duas bombas molotov foram atiradas contra a sede da produtora do grupo de humor Porta dos Fundos, no bairro do Humaitá, na zona sul do Rio.

Até o momento em que escrevo, Sergio Moro, o ministro da Justiça, sempre tão ágil e prestativo quando se trata de defender os interesses do governo, não deu um pio, não anunciou nenhuma providência e, até onde se sabe, não acionou a Polícia Federal, que só continua preocupada com Lula.

Só quem se mobilizou até agora foram os evangélicos, mas para apoiar o atentado e pedir punição contra o grupo de humoristas, por ter exibido na Netflix o programa especial de Natal “A Primeira Tentação de Cristo”, que apresenta uma versão gay de Jesus.

Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o evangélico Eduardo Tuma, eventual substituto do prefeito Bruno Covas, entrou com uma ação na Justiça, junto com o Conselho Nacional dos Conselhos de Pastores do Brasil, para pedir uma indenização de R$ 1 milhão por dano moral coletivo e mais R$ 1 mil “a todos os cristãos que se sentirem lesados”.

Um abaixo-assinado já com mais de 2,4 milhões de nomes circula na internet pedindo o veto total à produção do Porta dos Fundos.

“O ato não é isolado, mas fruto de um ódio que vem sendo espalhado no Congresso e na internet. Vale repensar, no aniversário de Cristo, se compreenderam o que ele quis dizer”, afirmou o ator Gregório Duvivier, que faz o papel de Jesus.

Câmeras de segurança identificaram a placa da caminhonete usada no atentado do Humaitá, em que um dos terroristas aparece com o rosto descoberto, mas a polícia carioca também não se manifestou até o momento.

Dá para imaginar a reação fulminante de Moro e Bolsonaro, se o atentado tivesse sido cometido contra um dos templos frequentados pelo presidente.

Já teriam convocado todas as tropas para sair às ruas.

Mas parece que só Paulo Coelho e eu estamos preocupados com isso, porque até a classe artística não se manifestou ainda exigindo a prisão dos terroristas.

Enquanto todo mundo finge que nada de grave aconteceu, um grupo que se diz integrante do redivivo Movimento Integralista, a extrema-direita que infernizou o país entre 1932 e 1938, reivindicou num vídeo a autoria do atentado contra o Porta dos Fundos.

No vídeo, divulgado pelas redes sociais, um homem lê o “manifesto” dos supostos integralistas, para dizer que se trata de uma “ação direta revolucionária para justiçar os anseios de todo povo brasileiro contra a atitude blasfema, burguesa e antipatriótica”.

Posso estar enganado, mas as lembranças da ditadura militar me fazem pensar que esta história da volta dos “camisas verdes” de Plínio Salgado, assumindo o ataque contra o Porta dos Fundos, é apenas um despiste para esconder os verdadeiros autores.

Se a PF de Moro estiver mesmo interessada em chegar aos verdadeiros responsáveis, pode começar procurando nos porões dos órgãos de segurança e dos xiitas fundamentalistas que querem colocar fogo no país.

Mudam os personagens, mas não mudam os métodos daqueles agentes que atuam nas sombras, como aqueles que participaram do célebre atentado ao Riocentro, nos tempos do general Figueiredo.

Paulo Coelho está certo: o terror voltou, e não encontra reação.

Vida que segue.
 
09
Ago19

Entregue por Raduan e Fernando Morais, carta de juristas emociona Lula

Talis Andrade
Escritor e biógrafo receberam a missão de entregar ao ex-presidente documento assinado por juízes e desembargadores em repúdio à sua prisão política
 

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Por Henrique Nunes
---

É preciso reconhecer que um encontro entre um biógrafo, um escritor e um líder popular mantido em cárcere político por um crime que jamais cometeu dificilmente aconteceria por acaso. É preciso admitir também que somente alguém da grandeza de Luiz Inácio Lula da Silva motivaria a visita de nomes de peso da cultura nacional como o do biógrafo Fernando Morais e do escritor Raduan Nassar.

Ambos já haviam se encontrado com o ex-presidente no injusto cárcere, mas separadamente. Nesta quinta (8), no entanto, entraram juntos na sede da Polícia Federal com uma missão ainda maior: entregar a Lula a carta de representantes da Associação de Juízes para Democracia (AJD) em defesa de sua libertação imediata e pelo restabelecimento da democracia brasileira.

Com a verve literária que o consagrou, Morais filosofa sobre a tarefa recebida dos juízes e desembargadores que assinam o documento – escrito antes da tentativa intimidatória de transferir Lula de Curitiba para São Paulo. “Lula se emocionou muito com a carta. Nietzsche e Paulo Coelho diziam que não há coincidências. Não por acaso esta carta foi entregue por mim e pelo Raduan no dia seguinte de uma nova violência contra o Lula (…) Cumprimos com muita honra e alegria a tarefa que vocês ( juristas e desembargadores) nos deram”, explica o biógrafo, cujo próximo livro será justamente sobre as duas prisões políticas de Lula em 1980 e a que está em curso.

Conhecido pela fala concisa a franca, Raduan foi direto ao ponto: “Eu encontrei o presidente extraordinariamente decidido a lutar pela soberania do Brasil. Lula livre o mais rápido possível! Lula é um presidente preso politicamente e isso é insuportável para todos nós”.

A luta por soberania nacional, por sinal, é dos mais ávidos desejos de Lula e tem o apoio incondicional de Fernando Morais. “O Raduan sintetizou muito bem aquilo que o presidente deseja que seja a palavra de ordem de todos os democratas brasileiros: lutar com todos os meios possíveis pela defesa da soberania nacional, seja material, seja do pré-sal, seja da Embraer, seja humanística”, reitera o escritor, para quem o apoio dos juristas é a mais perfeita” tradução para o Brasil de que há juízes e juízes”.

 

30
Mar19

Paulo Coelho descreve em artigo como foi torturado: “É isso que Jair Bolsonaro quer celebrar?”

Talis Andrade

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“Dizem que não quero cooperar, jogam água no chão e colocam algo nos meus pés, e posso ver por debaixo do capuz que é uma máquina com eletrodos que são fixados nos meus genitais", descreve o escritor

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Forum - O escritor Paulo Coelho publicou, nesta semana, artigo no Washington Post onde, por conta do anúncio do presidente Jair Bolsonaro de querer comemorar ‘devidamente’ o golpe de 31 de março, descreve tortura sofrida por ele durante o regime militar.

O escritor conta que, em 28 de maio de 1974, seu apartamento foi invadido por um grupo de homens armados. “Começam a revirar gavetas e armários – não sei o que estão procurando, sou apenas um compositor de rock”, diz.

“Sou levado para o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), fichado e fotografado. Pergunto o que fiz, ele diz que ali quem pergunta são eles. Um tenente me faz umas perguntas tolas, e me deixa ir embora. Oficialmente já não sou mais preso: o governo não é mais responsável por mim. Quando saio, o homem que me levara ao DOPS sugere que tomemos um café juntos. Em seguida, escolhe um táxi e abre gentilmente a porta. Entro e peço para que vá até a casa de meus pais – espero que não saibam o que aconteceu”, afirma.

O relato do escritor toma outro rumo: “No caminho, o táxi é fechado por dois carros; de dentro de um deles sai um homem com uma arma na mão e me puxa para fora. Caio no chão, sinto o cano da arma na minha nuca. Olho um hotel diante de mim e penso: ‘não posso morrer tão cedo’”, escreve.

“Sou levado para a sala de torturas, com uma soleira. Tropeço na soleira porque não consigo ver nada: peço que não me empurrem, mas recebo um soco pelas costas e caio. Mandam que tire a roupa. Começa o interrogatório com perguntas que não sei responder. Pedem para que delate gente de quem nunca ouvi falar. Dizem que não quero cooperar, jogam água no chão e colocam algo nos meus pés, e posso ver por debaixo do capuz que é uma máquina com eletrodos que são fixados nos meus genitais”, destaca.

O relato ganha ares de dor. “Entendo que, além das pancadas que não sei de onde vêm (e portanto não posso nem sequer contrair o corpo para amortecer o impacto), vou começar a levar choques. Eu digo que não precisam fazer isso, confesso o que quiser, assino onde mandarem. Mas eles não se contentam. Então, desesperado, começo a arranhar minha pele, tirar pedaços de mim mesmo”, diz o escritor, numa cena parecida com a que descreve em seu livro “Hippie”.

No dia seguinte, outra sessão de tortura, com as mesmas perguntas. “Depois de não sei quanto tempo e quantas sessões (o tempo no inferno não se conta em horas), batem na porta e pedem para que coloque o capuz. O sujeito me pega pelo braço e diz, constrangido: não é minha culpa. Sou levado para uma sala pequena, toda pintada de negro, com um ar-condicionado fortíssimo. Apagam a luz. Só escuridão, frio, e uma sirene que toca sem parar.”

“Quando acordo estou de novo na sala. Luz sempre acesa, sem poder contar dias e noites. Fico ali o que parece uma eternidade. Anos depois, minha irmã me conta que meus pais não dormiam mais; minha mãe chorava o tempo todo, meu pai se trancou em um mutismo e não falava”, escreve.

“Já não sou mais interrogado. Prisão solitária. Um belo dia, alguém joga minhas roupas no chão e pede que eu me vista. Me visto e coloco o capuz. Sou levado até um carro e posto na mala. Giram por um tempo que parece infinito, até que param – vou morrer agora? Mandam-me tirar o capuz e sair da mala. Estou em uma praça com crianças, não sei em que parte do Rio.”

O retorno à casa não deixa de ser dramático. “Minha mãe envelheceu, meu pai diz que não devo mais sair na rua. Procuro os amigos, procuro o cantor, e ninguém responde aos meus telefonemas. Estou só: se fui preso devo ter alguma culpa, devem pensar. É arriscado ser visto ao lado de um preso. Saí da prisão mas ela me acompanha. A redenção vem quando duas pessoas que sequer eram próximas de mim me oferecem emprego. Meus pais nunca se recuperaram.”

 

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