Histórico de falas misóginas e sexistas começa muito antes de 2018, quando foi eleito presidente da República
por Inara Chagas /Brasil de Fato
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Mesmo antes de ser presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) já possuía um extenso histórico de falas e ações que atacam diretamente algumas minorias, como é o caso das mulheres. A lista é composta por falas e ações envolvendo apologia ao estupro, agressão física e políticas públicas de dignidade menstrual.
Não à toa, em 2022, os atos do Dia Internacional da Mulher (8M) carregam como lema “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome”, já que as falas de Bolsonaro trazidas nesta matéria também contribuíram para o cenário atual, em que mulheres ainda precisam lutar contra o machismo. Confira.
1. Histórico de violência física
Em 1998, já como deputado federal e em campanha para reeleição, Jair Bolsonaro agrediu fisicamente Conceição Aparecida Aguiar, na época gerente da Planajur, empresa de consultoria jurídica e que atendia ao Exército. Segundo o Jornal do Brasil, que apurou a agressão, Conceição foi agredida pelas costas durante uma discussão com “uma das correligionárias” de Bolsonaro.
Em 2018, durante sua campanha para a presidência da República, a matéria que relatou o caso foi encontrada no acervo digital da Biblioteca Nacional e repercutiu nas redes sociais.Questionada pela revista Piauí, Conceição afirmou que, mesmo sendo vítima de violência por Bolsonaro, ainda votaria nele, pois, segundo ela, o candidato seria o único a ter caráter.
2. Boa educação
No extinto programa da Band TV “Custe o que Custar” (CQC), Bolsonaro foi sexista e misógino. O ano era 2011, e o alvo da vez foi a cantora Preta Gil, que entrevistava o político. Na ocasião, a cantora perguntou como o então deputado reagiria se algum de seus filhos se envolvesse com uma mulher negra. “Eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”, afirmou Bolsonaro.
Tempos depois, o político se pronunciou, alegando que não tinha entendido corretamente a pergunta.
A frase proferida por Jair Bolsonaro (PL) em 2014 lhe rendeu uma condenação por danos morais. Na época, em entrevista ao portal Zero Hora, Bolsonaro disse que não estupraria a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merecia.
“Ela não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro foi condenado em 2017 pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF). O então ministro do STF, Marco Aurélio Mello, manteve a condenação por danos morais, com indenização de R$ 10 mil para Maria do Rosário.
Ainda em entrevista ao portal Zero Hora, Bolsonaro afirmou que é difícil ser patrão no Brasil, com “tantos direitos trabalhistas”. “Quando o cara vai empregar, entre um homem e uma mulher jovem, o que que o empregador pensa? "Poxa, essa mulher aqui tá com aliança no dedo, não sei o quê, ela vai casar, é casada, daqui a pouco engravida, seis meses de licença-maternidade, bonito para c*, para c*, ". Quem que vai pagar a conta? É o empregador”.
Ao ser questionado sobre a situação das mulheres trabalhadoras que decidem ser mães, Bolsonaro insinuou que elas deveriam ganhar menos e, caso não estejam contentes, que busquem outro emprego.
Em 2017, durante uma palestra feita na sede do Clube Hebraica no Rio de Janeiro, Bolsonaro aumentou sua lista de frases misóginas. Ao se referir sobre o gênero de seus filhos, o chefe do Executivo proferiu: “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.
Carlos Bolsonaro (Republicanos) e Eduardo Bolsonaro (PSL), políticos e filhos de Bolsonaro, afirmaram em suas redes sociais que a fala do pai não passou de uma brincadeira. Segundo o deputado federal de São Paulo, "Quando ele [Jair Bolsonaro] brinca, o pessoal do politicamente cai nele”.
6. Um novo conceito de "equilíbrio"
Em discurso feito no Dia Internacional da Mulher de 2019, já na condição de presidente, Bolsonaro afirmou que, "pela primeira vez na vida, o número de ministros e ministras está equilibrado". De 22 ministros do Executivo, Bolsonaro nomeou apenas duas mulheres: Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento). A justificativa para considerar o número de ministras equilibrado foi a "energia” das ministras.
"Pela primeira vez na vida, o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres. Somente um pequeno detalhe: cada uma dessas mulheres que está aqui equivale a dez homens. A garra dessas duas transmite energia para os demais", disse o chefe do Executivo.
7. Turismo sexual? Temos por aqui
Em mais uma fala sexista e, dessa vez, homofóbica, Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil não poderia ser um país de turismo gay, mas que “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher fique à vontade”.
Em resposta, várias entidades, organizações e estados brasileiros se manifestaram repudiando a fala do presidente. Cleone dos Santos, da Marcha Mundial de Mulheres e coordenadora do grupo Mulheres da Luz, na época,afirmou que a fala foi um retrocesso. “Temos uma luta histórica contra o turismo sexual e hoje temos um presidente da República desconstruindo isso. É o maior retrocesso que já vivemos”.
Em fevereiro de 2020, Bolsonaro se pronunciou sobre o depoimento de Hans River do Rio Nascimento para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das fake news. Hans, ex-funcionário da empresa Yacows, afirmou que a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, teria oferecido relações sexuais em troca de informações.
Ao se pronunciar sobre o caso, Bolsonaro disse: “Ela [Patrícia] queria um furo. Ela queria dar um furo a qualquer preço contra mim", utilizando a expressão “dar o furo” com duplo sentido. O chefe do Executivo foi responsabilizado pelo ato, sendo condenado a pagar R$ 20 mil para a jornalista, por danos morais.
Além de falas machistas por parte de Bolsonaro, temos a sua atuação política, que também ataca pessoas que menstruam. Em 2021, o presidentevetou trecho de uma lei que distribuiria absorventes de forma gratuita para pessoas em vulnerabilidade social. Segundo o chefe do Executivo, não havia previsão orçamentária no Projeto de Lei para custear a medida. Meses depois, no Dia Internacional da Mulher de 2022, Bolsonaro sancionou um decreto viabilizando a ação.
Embora o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual (lei 14.214) tenha sido aprovado, houve repúdio por parte da sociedade civil pelo veto ao artigo. Isso porque a proposta (PL 4.968/2019), da deputada federal Marília Arraes (PT-PE), era de combater a precariedade menstrual, ofertando gratuitamente absorventes higiênicos para estudantes de baixa renda em escolas públicas, além de mulheres em situação de rua ou vulnerabilidade social extrema e privadas de liberdade.
Ex-capitão se entregou à política do centrão, busca voto das mulheres e enfrenta hoje maior rejeição que há quatro anos
por Cristiane Sampaio /Brasil de Fato
Lançado à Presidência da República pela primeira vez em 2018, após 27 anos de vida parlamentar, o personagem político Jair Bolsonaro (PL), que agora busca a reeleição, traz um discurso que encontra semelhanças no passado de quatro anos atrás, mas que também evoca algumas diferenças.
Arthur Lira e Jair Bolsonaro hoje são aliados, especialmente naquilo que se refere a pautas da agenda econômica
A identificação ficou clara diante do que se viu no palanque de Bolsonaro no Rio de Janeiro (RJ) no último domingo (24), quando o líder extremista teve o nome confirmado pelo PL como candidato à reeleição.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP, estiveram entre os destaques do evento, que reuniu ainda ministros e ex-ministros da atual gestão, além de outros nomes. Os dois estão entre as principais lideranças do centrão, grupo que reúne partidos da direita liberal e fisiológica que mandam no Congresso Nacional.
O general Augusto Heleno, que cantou “Se gritar 'pega Centrão', não fica um, meu irmão...”, agora diz que o Centrão nem existe. Acho que ele vai trocar a letra dessa música pra alguma coisa assim: “Se gritar ‘pega Centrão’, o governo inteiro levanta a mão...” Leia mais no Diário de Bolso, in Jornalistas Livres aqui. Os marechais do Centrão comandam o Orçamento Secreto: Ciro Nogueira chefe da Casa Civil, Lira na Câmara, Collor no Senado
Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), apesar do discurso antissistema, Bolsonaro “percebeu que não tem força suficiente nem apoio para dar um golpe”, como acenou por seguidas vezes que faria, e, com isso, acabou se curvando ao xadrez que há tempos domina a lógica da política institucional no Brasil.
“O presidente aprendeu a jogar de acordo com as regras do jogo, que é justamente através de uma maioria no Congresso. E esse grupo, historicamente, desde a proclamação da República, é formado por uma maioria de latifundiários, enfim, uma elite conservadora e reacionária que forma o centrão”, aponta Ramirez.
Em um resgate no tempo, é possível identificar uma série de manifestações antigas de Bolsonaro contra a linha de atuação de políticos do centrão. Em uma delas, em maio de 2018, por exemplo, chegou a dizer que o termo que designa o grupo seria sinônimo de “palavrão”.
Em outro momento, em junho do mesmo ano, o então deputado federal ironizou, via Twitter, ao afirmar que o centrão estaria contra a sua candidatura “em nome do patriotismo e da ética”.
- O Centrão, em nome do "patriotismo e da "ética", contra Jair Bolsonaro.
“A postura dele anti-institucional permanece. A diferença é que ele tem agora o apoio de uma parte importante do Congresso”, observa o professor Pablo Holmes, do Ipol/UnB.
Ao mesmo tempo em que apresenta hoje, em 2022, um discurso mais fragilizado de combate à corrupção, Bolsonaro também busca ganhar a simpatia de grupos com os quais jamais flertou em outras campanhas, sobretudo na de 2018.
“Ele tenta hoje se aproximar um pouco mais tanto do eleitorado nordestino como do feminino, que era uma coisa que ele não fazia muita questão de fazer. Sem dúvida, é a tarefa mais difícil que ele terá”, comenta o cientista político, ao examinar os números das últimas pesquisas de opinião.
Os levantamentos mostram Bolsonaro com ampla desvantagem diante dos dois segmentos. Entre eleitores da região Nordeste, o panorama é desanimador para o atual líder do Planalto: pesquisa PoderData divulgada em 12 de julho mostrou que Bolsonaro perderia de 62% a 28% para Lula em um eventual segundo turno especificamente entre nordestinos. De acordo com o estudo, essa é a única das cinco regiões onde o quadro eleitoral se mostra consolidado para o líder da chapa do PT.
O presidente tem histórica postura preconceituosa contra nordestinos e já fez diferentes gestos nesse sentido. Antes e depois da eleição de 2018, referiu-se por diversas vezes aos cearenses como “cabeçudos”, por exemplo.
Já no atual momento o ex-capitão tenta amaciar o discurso dirigido ao público do Nordeste para capturar votos na região. Em visita a Salvador (BA) no começo deste mês, por exemplo, Bolsonaro afirmou que “o Nordeste é uma parte importantíssima do nosso Brasil” e que “somos um só povo, uma só raça”.
Eleitorado feminino
Enquanto isso, lançando o olhar para outro segmento, a última pesquisa BTG Pactual, divulgada na segunda (25), mostra que entre as mulheres o presidente tem apoio de apenas 24% do grupo. Já o petista Luíz Inácio Lula da Silva, que está à frente do ex-capitão em todos os levantamentos e por isso é seu principal adversário, tem 46% das intenções de voto do grupo.
Foi justamente o segmento das mulheres que, em 2018, mobilizou-se de forma organizada e foi às ruas, antes do pleito daquele ano, em mais de 100 cidades do país em protestos marcados pelo conhecido coro do “Ele, não” (vide tag), em alusão a um voto “anti-Bolsonaro”.
Ato em Curitiba em 2018 pelo "Ele, não", com participação de cerca de 50 mil pessoas / Lia Bianchini
Foi também contra essa fatia da população que o atual presidente da República se colocou em diferentes momentos ao longo do mandato, a exemplo do que fez em outubro de 2021, quando vetou a previsão de distribuição gratuita de absorventes íntimos para mulheres pobres.
A política pública foi aprovada pelo Congresso e convertida na Lei nº 14.214, cujos vetos foram derrubados depois por deputados e senadores, em março deste ano. A isso se soma ainda um conjunto de posturas e declarações de cunho sexista e machista do presidente ao longo destes três anos e meio de mandato. Em abril de 2019, por exemplo, Bolsonaro chegou a fazer apologia ao turismo sexual ao dizer que “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher fique à vontade”.
O aceno gerou uma cascata de reações críticas, bem como ocorreu com outras declarações do tipo. Foi o caso do episódio em que o chefe do Executivo ofendeu a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de São Paulo, sugerindo que ela supostamente teria trocado informações por relações sexuais para reportagem relacionada a Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário da empresa Yacows, investigada pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) das Fake News, no Congresso.
Concentração do ato "Ele, Não" na Cinelândia, Rio
"Ele, não" em Porto Alegre, com Manu, Manuela d'Ávila
“Ela [Patrícia] queria um furo. Ela queria dar um furo a qualquer preço contra mim", disse Bolsonaro, em fevereiro de 2020, ao jogar com um duplo sentido da expressão “dar o furo”. O ex-capitão chegou a ser condenado judicialmente a desembolsar R$ 20 mil para a repórter por danos morais causados à jornalista. É nesse mesmo cenário que o atual presidente da República busca a reeleição e acena agorapara o eleitorado feminino,tentando conquistá-lo na campanha.
“E por que em 2018 eles não tiveram tanta preocupação em fazer isso? Porque houve ali um momento mais ou menos concomitante às manifestações do ‘Ele, não’ em que Bolsonaro começou a crescer. Eles se despreocuparam com isso. Agora, que estão vendo o Lula ainda com uma vantagem muito grande, o Bolsonaro tenta esse apaziguamento da própria imagem perante o público feminino”, observa o cientista político Thiago Trindade, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB).
Maior rejeição
No meio disso, o Bolsonaro de 2022 enfrenta o desafio de ter que lidar com o avanço da rejeição ao seu nome. “Uma coisa que chama a atenção hoje é que o antibolsonarismo agora é maior que o antipetismo, e isso naturalmente coloca ele numa posição muito difícil”, identifica o professor Pablo Holmes, do Ipol/UnB.
Pesquisa Datafolha de maio deste ano mostrou que o ex-capitão é o mais rejeitado entre todos os pré-candidatos, com 54% do eleitorado refutando a possibilidade de votar por uma continuidade da gestão. Enquanto isso, Lula acumula 33% de rejeição, mantendo-se dentro do patamar histórico da legenda nos últimos pleitos.
Concentração do ato "Ele Não" no Largo da Batata, em São Paulo (SP), onde mais de 500 mil pessoas saíram às ruas em 2018 / Mídia Ninja
Pauta do voto "anti-Bolsonaro" ganhou as ruas há quatro anos, com multidão de mulheres vocalizando discurso contra a opressão de gênero / Giorgia Prates
Com a gestão marcada por escândalos de corrupção, pela má gestão da pandemia, pelo negacionismo com que lidou com a pauta da covid e, por exemplo, pelo controverso “orçamento secreto”, que irriga políticas definidas a partir de decisões coordenadas majoritariamente pelo centrão, o presidente que em 2022 tenta atrair nordestinos e mulheres para a sua massa de eleitores encontra no país um cenário menos favorável do que tinha à sua figura há quatro anos.
Bolsonaro perde para Lula em todas as pesquisas e todos os cenários divulgados até o momento
“O governo viveu crise sobre crise e, depois disso, continuou criando outras crises – crise contra o STF, contra a Justiça Eleitoral, contra as urnas, contra a Petrobras, contra os Estados Unidos, contra a França. É um governo que produz muita crise, e as coisas só pioraram. Esses fatores contam porque existe uma confusão permanente no país e ele não consegue gerar estabilidade. É esse o Bolsonaro que vejo hoje”, descreve Holmes.
Mesmo após anos de evidências e fatos, como o assassinato de Marcelo Arruda, jornalistas e veículos ainda investem em uma polarização que nunca existiu
A ROUPA MAIS PREZADApela maioria dos jornalistas é aquela costurada com o fio da objetividade. Sentem-se não apenas mais bonitos, mas principalmente mais blindados e, portanto, mais seguros, com ela. Tornam-se semi-deuses: enxergam tudo do alto, sem se misturar com mesquinharias cotidianas como posicionamento político (coisa de ativista) e as questões do machismo (problema das mulheres), do racismo (problema dos negros) e do classismo (problema dos pobres).
Para costurar essa roupa-escudo, os jornalistas usam como principal matéria-prima os fatos e as evidências. É algo que vai na mesma linha do “cientificamente demonstrado”. Se algo aconteceu daquele jeito, só pode ser explicado pela descrição da ocorrência, como se um acontecimento não tivesse passado, contexto, futuro, raiz.
Pois bem, vamos brincar de Jornalista Equilibrado Usando Terno e Dono de Algum MBA Gringo e levar em consideração que os fatos são suficientes para explicarmos as coisas que ocorrem “lá fora”.
Moa do Katendê: assassinado com 12 facadas por um eleitor de Bolsonaro durante o primeiro turno das eleições presidenciais em 2018 após declarar seu voto em Fernando Haddad.
Jornalista espancada com pedaço de ferro e ameaçada de estupro também no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Saía do local no qual havia acabado de votar quando dois homens a arrastaram pelo braço ao verem seu crachá de jornalista. Os agressores disseram que ela era “de esquerda”. Um deles usava calça jeans e uma camiseta preta com a foto de Jair Bolsonaro (PSL) e os dizeres “Bolsonaro Presidente”.
Jair Bolsonaro concede indulto ao deputado Daniel Silveira,condenado pelo STFapós atacar a corte e dizer que imaginava ministros“levando uma surra”.
Nas últimas semanas, diversos atos violentos em eventos envolvendo a campanha de Lula foram registrados, desde a explosão debombas caseiras com fezesà invasãode reuniões.
O assassinato do guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Aloizio de Arruda, que comemorava seu aniversário de 50 anos quando foi atacado pelo policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho. O caso possui semelhanças com o ocorrido com Moa do Katendê: no caso deste, o criminoso se envolveu em uma discussão, foi até em casa e se armou com uma faca do tipo peixeira. No segundo, o assassino deixou mulher e filha em casa e voltou com sua arma de fogo. Mas Marcelo também estava armado: morreu após disparar contra Guaranho.
Eu sei, eu sei: você já leu tudo isso que está aqui. A gente se engana achando que jornalismo trata necessariamente de novidade. Na verdade, ele tem muito de repetição. E é exatamente isso que está acontecendo desde o último terrível fato elencado aí em cima, o assassinato de Marcelo. Mesmo após anos de evidências e fatos que desenham um ambiente político novo no Brasil, no qual o bolsonarismo passa a mirar diariamente uma arma real ou simbólica contra nossas cabeças, uma penca de jornalistas insiste em colocar o campo democrático na mesma balança do discurso de morte e extermínio do presidente.
Mas não é de qualquer “campo democrático” que estamos falando: é preciso nomear o ex-presidente Lula para entender melhor o fenômeno dos jornalistas e/ou articulistas “objetivos” que ignoram os adorados fatos quando o ex-metalúrgico ou o Partido dos Trabalhadores estão na roda.
Nos últimos dias, artigos como o escrito porRicardo Kertzman, na IstoÉ (coloca Lula e Bolsonaro como “as bestas do apocalipse”), e o de Fábio Zanini, naFolha(“Ato de bolsonaristas pelas armas, fala de Lula e crime no Paraná mostram clima desfavorável à pacificação”), entre outros, nos mostraram como barbárie também se desenha a partir do ar-condicionado do home office ou das redações.
“Nesse ambiente, eventos banais tornam-se mortais, especialmente se os dois lados estiverem armados”, diz um trecho do artigo do último colunista. Essa é uma falsa equivalência estarrecedora, e não somente pelo fato de dezenas de eventos violentos pulularem após o espraiamento do bolsonarismo no país, mas por diminuir o peso imenso da caneta e do discurso de alguém que está no poder – e ainda turbinadíssimo pelo Centrão.
Um lado é o presidente do Brasil. O outro é um candidato.
Um lado é o presidente do Brasil. O outro é um candidato.
Vou repetir: um lado é o presidente do Brasil. E ele é parte máxima de nossa institucionalidade.
A polarização política sempre existiu no país. O que é novo entre nós e que continua a ser tratada com punhos de renda é a violência do bolsonarismo
A polarização política sempre existiu no país. O que é novo entre nós e que continua a ser tratada com punhos de renda é a violência do bolsonarismo. O que não é novo entre nós é uma imprensa dotada de uma visão precária de democracia. Acho muito ruim que o candidato elogie atos violentos como o realizado pelo ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, conhecido como Maninho do PT, como fez em um evento no fim de semana. Mas comparar essa fala infeliz ao paredão de violência do bolsonarismo é forçar a barra.
Perdi a conta do número de pessoas que me disseram ter vontade de se expressar politicamente usando bandeiras ou adesivos em seus carros, janelas, roupas. Não o fazem por uma razão simples: medo de apanhar na rua. Ou, como no caso de Marcelo, de serem assassinadas.
Vocês têm notícias de bolsonaristas com medo de usar adesivo do presidente ou pendurar em seus carros bandeirinhas do Brasil?
Estão chamando “um lado” (para usar o termo raso) que tem apanhado, morrido, se lascado e está em parte acuado, de “extremista”?
Nos últimos anos, a palavra “polarização” vem sendo repetida por uma estrutura midiática acostumada a binarismos diversos, explícitos em termos como “gente do bem” e, vejam só, “dois lados”.
Nessas lógicas binárias não se associam Daniel Silveira, funk misógino e os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips, por exemplo. Ou incentivo ao garimpo, racismo e xenofobia. Divide-se o bolsonarismo em gavetinhas e, usando-o aos poucos de cada vez, tem-se a impressão que ele pode não ser tão terrível assim.
Parte de nossa imprensa continua a tropeçar nas próprias platitudes ao se negar a trabalhar com a complexidade lá fora. Assim, constrói mitos e heróis, vilões e desgarrados, tudo a depender das suas necessidades econômicas e políticas no momento. A questão não são fatos, nem a leitura mais acurada dos mesmos, no final. A questão é – em nome de uma ideologia, bom dizer – instrumentalizá-los, mesmo quando flertam com a destruição de vidas.
Toda vez que equipara Bolsonaro e o bolsonarismo a qualquer coisa que já tenha acontecido na política brasileira, o jornalismo pula o cercadinho e vai fazer companhia ao presidente.
A democracia brasileira conviveu durante décadas com o pluripartidarismo sem que repórteres e editores precisassem recorrer a toda hora a termos que conformassem as legendas como “extremistas”. Isso era termo usado, no máximo, para tratar aquelas com poucas chances de atingir postos majoritários, como o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o PSTU, e o Partido da Causa Operária, o PCO, ambos à esquerda, ou o Partido de Reedificação da Ordem Nacional, o Prona, já extinto, à direita. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, hoje Movimento Democrático Brasileiro, MDB, o Partido dos Trabalhadores, o PT, ou o Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, por exemplo, transitavam entre centro, centro-direita e centro-esquerda, sem ocuparem os postos máximos da radicalização política.
Se nosso espectro político majoritário foi historicamente “equilibrado” ao centro com matizes à esquerda e à direita, o que muda no cenário para que a imprensa e mesmo nós, sociedade perpassada mais pelo senso comum do que pelo senso crítico, passássemos a ver tudo pela lente “radical”?
A instrumentalização da objetividade jornalística ajudou não só a propagar um racismo estrutural e epistêmico quanto nos trouxe de presente um Jair Bolsonaro
A resposta está no crescimento da ultra-direita brasileira, uma explosão de visibilidade embalada por ao menos três fatores. O primeiro é a consolidação de um contexto político e social mais conservador em todo o mundo, no qual se misturam, entre outros componentes, o colapso político de vários países causado por violentas disputas internas e uma onda inédita de imigração (foram 272 milhões de imigrantes em 2019, 51 milhões a mais do que em 2010, segundorelatórioda ONU). A precarização global do trabalho, resultando em um aumento de preconceito e violência sobretudo entre populações imigrantes, somente agrava essa questão.
O segundo fator se ancora na agudização dos sentimentos de raiva, impotência e medo derivados do contexto esboçado acima: trata-se da instrumentalização política de dados e algoritmos, principalmente nas redes sociais. O mais célebre escândalo desse uso indevido de informações foi protagonizado pela Cambridge Analytica, empresa que utilizou dados pessoais de usuários do Facebook para influenciar as eleições presidenciais americanas em 2016.
O terceiro fator para o crescimento da extrema direita no Brasil, apesar de seu precedente também global, ainda é pouco investigado entre nós – e é sobre ele que precisamos atentar: ele decorre dessa insistência em tratar Bolsonaro e o bolsonarismo como um extremo em oposição a outro, supostamente existente.
Vou repetir: de um lado está o presidente do Brasil. É o cargo máximo de nossa institucionalidade. Do outro, são movimentos sociais, candidatos, população.
Bolsonaro, como já escrevi, não nasceu somente graças ao Superpop e ao CQC, sejamos claros. Essa é outra platitude que só serve para manter bonitinhos os ternos e MBAs dos Jornalistas Equilibrados. Ele sofreu um banho de loja realizado pela imprensa que se autointitula como “profissional” e transformou o autor da frase “o erro da ditadura foi torturar e não matar” (dita em 2008 e 2016) em um cara “controverso”.
Desde a madrugada de domingo, a respeito do assassinato de Marcelo, li várias vezes que um lulista e um bolsonarista “trocaram tiros”.
Alguém tem a festa invadida, a própria vida e a da família e amigos ameaçada por um homem armado. Usa seu próprio revólver para se defender. E o resumo é “troca de tiros”.
Poderia ser “legítima defesa”, mas estamos falando de algo que envolve o PT.
O fato é que o jornalismo “neutro”, empresarial, das redes e conglomerados mais assentados, passou a se constituir como norma. Tudo aquilo que não está conformado nele seria, assim, um desvio, uma anormalidade situada, como já colocou a pesquisadora e jornalista Márcia Veiga. Um veículo como, por exemplo, esteThe Intercept Brasil, foi e é criticado por se posicionar demais, ou, pior, por ser “ativista”. Mas, se entendemos que o Interceptfoi “ideológico” ao publicar as mensagens da Vaza Jato, devemos pensar o mesmo em relação ao Jornal Nacional no momento em que este vazou a ligação telefônica entre Dilma Rousseff e Lula.
Para marcar esse lugar que parece limpo e equilibrado, esse “estar acima das paixões”, nossos veículos naturalizaram o discurso criminoso de um político celebrizado midiaticamente. Primeiro, ele era apenas um cara controverso; depois, já presidente, um extremista que está em uma ponta enquanto Lula (cujo governo foi marcado por alianças com partidos como PMDB, hoje MDB, está na outra.
É fundamental perceber como o ex-presidente vai ser continuamente construído como o Bolsonaro do outro lado do espelho. Está posta a “polarização” que – sugerem esses veículos – nos apequena enquanto sociedade e da qual precisamos nos livrar; afinal, precisamos valorizar a democracia à brasileira, na qual indígenas e pretos são tratados como cidadãos de segunda classe e uma distribuição de renda mais justa é uma ideia estapafúrdia. A instrumentalização da objetividade jornalística (através, por exemplo, do jornalismo declaratório) ajudou não só a propagar um racismo estrutural e epistêmico quanto nos trouxe de presente um Jair Bolsonaro.
Enquanto imprensa e outras instituições fundamentais para a manutenção de nossa relutante democracia assinarem embaixo das práticas autoritárias e preconceituosas, enquanto normalizarem Bolsonaro o colocando como um espelho reverso de Lula, vamos seguindo o bonde em direção ao precipício. No volante, alguém “autêntico” que foi confundido pela imprensa séria como um tiozão do pavê que às vezes soltava um impropério.
Engraçado.
Folclórico.
Controverso.
“O avesso do fantoche é o terrorista”, escreveu o sociólogo Derrick de Kerckhove, que analisa democracia, dados e novos fenômenos da política. É uma análise que é também um retrato de um Brasil, onde, depois de pouco mais de um ano na presidência, o presidente resolveu levar até à imprensa que o ajudou a chegar ao poder, um humorista, o Carioca, vestido como ele mesmo, Jair Bolsonaro. Na ocasião, o presidente foi questionado sobre o PIB que crescera apenas 1,1% em 2019. Em vez de falar com repórteres, BolsonaroestimulouCarioca a distribuir bananas e a responder em seu lugar. Caos instaurado, perguntas não respondidas, bananas jogadas, selfies, apoiadores transmitindo ao vivo, gargalhadas, “mito”.
Vou repetir: é o presidente do Brasil. É o cargo máximo de nossa institucionalidade.
Há algo muito importante naquele dia e que talvez ainda não tenhamos entendido: Bolsonaro agiu com imensa coerência quando colocou um humorista para ser nosso presidente. Ali nos deu, jornalistas, uma lição: ao ajudarmos a eleger um cara “meio controverso”, demonstramos que podemos ser tratados como idiotas. Dos atos tantas vezes violentos contra a imprensa, talvez aquele tenha sido um dos mais didáticos, e mesmo lúdico: tivemos uma experiência única de ver alguém sem qualquer capacidade para responder pela República ocupar os holofotes da política para fazer graça, distrair, ocupar a nossa atenção.
Eu não estou me referindo ao humorista, e sim ao fantoche. Falo do seu avesso.
Vou repetir: ele é o presidente do Brasil.
*Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2021 o Brasil registrou 430 casos de violência contra jornalistas. Foram mais casos que em 2020, quando foram registrados 428 ocorrências. É um recorde na série histórica, iniciada em 1990.
Quem já trabalhou com a jornalista brasileira Juliana Dal Piva, 36 anos, diz que ela dorme e acorda pensando em reportagem, seus olhos brilham com uma boa história e que ela não desiste fácil quando encontra dificuldades durante uma apuração.
Foi essa persistência que fez com que a jornalista ganhasse diversos prêmios. Entre eles, o prêmio Relatoría para la Libertad de Expresión (RELE), da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, pelo trabalho “Em 28 anos, clã Bolsonaro nomeou 102 pessoas com laços familiares”, com a equipe do Jornal O Globo, em 2019, e o prêmio Cláudio Abramo de jornalismo de dados, em 2021, pelo conjunto de reportagens “Anatomia da Rachadinha”, com a equipe do núcleo investigativo do portal UOL.
Dal Piva começou a investigar, em 2018, as suspeitas de que assessores do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e de seus três filhos que possuem mandatos legislativos (Flávio, Eduardo e Carlos), não atuavam, de fato, como assessores parlamentares. Na época, ela trabalhava nas redações integradas do jornal “O Globo” e revista “Época”.
“Em 2018, eu fui à uma missão especial no México junto com a Cruz Vermelha para fazer uma matéria sobre a crise dos desaparecidos no país, e foi uma experiência muito importante para mim. Eu já tinha feito meu Trabalho de Conclusão de Curso da faculdade sobre trabalho escravo na Bolívia, além dos meus estudos sobre América Latina. Eu vi questões no México que estavam conectadas com as coisas que estavam acontecendo na campanha eleitoral brasileira”, contou Dal Piva.
Segundo Dal Piva, o conhecimento sobre a América Latina é essencial para compreender melhor o Brasil. Formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na região sul do Brasil, a jornalista também estudou História Argentina e História Social Latino-Americana, na Universidade de Buenos Aires. De volta ao Brasil, fez seu mestrado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getulio Vargas, onde analisou as investigações sobre a morte do deputado Rubens Paiva no período da ditadura militar.
Para mim, foi muito marcante o período que passei em Buenos Aires, porque a questão da ditadura militar e da memória do que aconteceu é muito presente. Então, quando eu voltei para o Brasil, esse tema estava muito forte porque sempre lidamos muito mal com o nosso passado. O Brasil tem uma ideia de esquecimento, de virar a página, como se fosse possível deixar para trás aquilo que aconteceu sem justiça, sem verdade, sem memória. E isso tem consequências que, inclusive, estamos vendo hoje”, conta a jornalista.
Em 2010, quando Dal Piva estava iniciando sua carreira, o Brasil estava para julgar uma possível revisão sobre a chamada Lei da Anistia, uma lei aprovada em 1979 que concedeu a anistia a todos que cometeram crimes políticos ou eleitorais e àqueles que sofreram restrições em seus direitos políticos. A lei protegeu os agentes da ditadura contra qualquer responsabilização pelos crimes cometidos contra opositores do governo.
Entre os beneficiados pela Lei da Anistia estava o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou, entre 1969 e 1973, um centro de tortura no extinto Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), órgão de repressão da ditadura militar. O presidente do Brasil já afirmou que considera Ustra um “herói nacional” e concedeu honrarias ao torturador.
Durante a gestão da presidente Dilma Rousseff, em 2011, o Estado criou a Comissão Nacional da Verdade (CNV) que, até 2014, investigou os casos de torturas, mortes, desaparecimentos e ocultação de cadáveres durante a ditadura. Dal Piva, então, se debruçou na cobertura dos trabalhos da CNV em todos os veículos onde trabalhou.
“O que me levou a cobrir Bolsonaro [que foi eleito presidente em 2018] foi o trabalho que eu fiz cobrindo a ditadura, porque eu conhecia muitos militares do entorno dele”, afirma a jornalista.
Em 2019, Dal Piva publicou no jornal “O Globo” a reportagem “Entrevistados em filme pró-ditadura reconhecem que houve golpe em 64”, sobre o documentário “1964: O Brasil entre Armas e Livros”, da produtora com viés conservador Brasil Paralelo. Foi a primeira vez que recebeu ameaças por seu trabalho.
“Eu fiz uma matéria simples depois de assistir ao filme. Eles queriam combater um fato histórico consolidado – que é a existência de um golpe militar -, e apresentar uma visão como se a existência da ditadura e do golpe estivessem em discussão. Só que, no meio do filme, os próprios entrevistados faziam referência à data como o golpe. A produtora criou uma situação em cima da minha matéria para divulgar o filme e eu comecei a receber milhares de xingamentos. Foi um linchamento virtual. Recebi mensagens no meu Twitter falando que eu ia morrer. Aquilo me fez muito mal, eu fiquei assustada. E uns dias depois disso fizeram um trote, ligaram na casa dos meus pais dizendo que eu tinha sido sequestrada”, contou a jornalista.
Na época, Dal Piva diz que não conseguiu fazer uma queixa formal. “Eu fui lidando como a gente lidava antigamente, que é simplesmente deixar passar. Mas a experiência me assustou e eu me fechei muito, não falava sobre isso. Até porque também estava no início das minhas investigações sobre o gabinete do Bolsonaro e seus filhos”.
Foto: Lucas Lima/UOL.
A jornalista lembra que recebeu importante apoio de duas colegas que também tinham sidoameaçadas por apoiadores do governo Bolsonaro,Patrícia Campos Melloe Constança Rezende. “A Patrícia nos deu coragem para não tratar aquilo como normal, que ignorar não é a melhor maneira. Ameaça é crime, essas pessoas não podem fazer isso e ficar impunes”.
Ainda em 2018, Dal Piva, em conjunto com outros jornalistas de “O Globo”, publicou a reportagem “Em 28 anos, clã Bolsonaro nomeou 102 pessoas com laços familiares“. De grande repercussão, a investigação mostrou um padrão de nomeação de funcionários nos gabinetes parlamentares da família Bolsonaro na Câmara dos Deputados, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e na Câmara dos Vereadores do Rio com indícios do esquema conhecido como “rachadinha”, a entrega ilegal de grande parte do salário do assessor para o parlamentar.
A ameaça mais grave sofrida por Dal Piva ocorreu em 2021, após a publicação do último episódio do podcast “UOL Investiga – A vida secreta de Jair”, também de grande repercussão.
“Quando eu fui convidada para trabalhar no portal UOL, eu entendi que, depois de anos abordando diferentes informações em diferentes reportagens, era preciso fazer uma reunião de todo esse material para contar a história toda para as pessoas compreenderem melhor o entorno do presidente Bolsonaro. Para mim, era muito claro que as pessoas não tinham entendido a essência e o papel de alguns dos personagens centrais envolvidos”. Assim nasceu o podcast que foi produzido por Dal Piva junto com a equipe do portal.
Um dos personagens da produção é Frederick Wassef, que atua como advogado do presidente e de seus filhos em alguns casos. Em 2020, Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, amigo do presidente e policial militar da reserva, foi preso dentro do sítio de Wassef, durante a investigação do esquema de “rachadinha”. Queiroz ficou escondido no local por um ano e meio.
“O Wassef já tinha uma relação difícil com vários colegas jornalistas e comigo há algum tempo. Ainda na época do Globo, durante meses, negociamos uma entrevistas. No entanto, ele recusava. Depois, marcava e não aparecia. Para o podcast, eu usei uma entrevista que tinha feito em março de 2021 e, quando precisamos complementar com ele, foi ok. Passou uma semana com o material sendo publicado e ele não me procurou para falar nada. Nem para reclamar. Quando estreou o 4º e último episódio do podcast, numa sexta-feira, no fim do dia, ele me mandou aquela mensagem no Whatsapp”, conta Dal Piva.
“Faça lá o que você faz aqui no seu trabalho, para ver o que o maravilhoso sistema político que você tanto ama faria com você. Lá na China você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo. (…) Por que não experimenta primeiro na sua pele o que é a esquerda, para depois lutar tanto para atingir o presidente de seu país e trazer o comunismo para o meu amado Brasil? Você é inimiga da pátria e do Brasil. (…) A esquerda te paga??? Você está feliz e realizada por atacar e tentar destruir o Presidente do Brasil, sua família e seu advogado?????”, escreveu o advogado à jornalista por aplicativo de mensagens.
Não foi a primeira vez que o advogado ameaçou algum/a jornalista durante o exercício da profissão.
Embora assustador, o comportamento de Wassef, infelizmente, não surpreende: em 1º de outubro de 2019, ele foi até a porta do Supremo Tribunal Federal e me coagiu a entrar no carro dele para reclamar de uma matéria. Não é fato isolado. Minha solidariedade à incrível repórter Juliana Dal Piva”, publicou a repórter do jornal “Valor Econômico”, Luísa Martins, em seu Twitter na ocasião.
As ameaças também atingiram a família de Dal Piva. Após aconselhamentos, inclusive do Comitê para a Proteção de Jornalistas, a jornalista teve que alterar sua rotina por um período de tempo, além de adotar medidas de segurança no ambiente virtual.
“Quando eu li a mensagem com um monte de xingamento, a questão do seu corpo desaparecendo, de ser inimiga da pátria, vai um tempo até entender o quão problemático é tudo aquilo”, confessa.
A jornalista entrou com ação civil e criminal contra Wassef. O primeiro depoimento sobre o caso, no entanto, ocorreu apenas em março deste ano, oito meses depois da abertura do processo.
“É muito difícil fazer um processo judicial, ter que reviver tudo isso e, ao mesmo tempo, não ter garantia de nada. A Patrícia [Campos Mello] me aconselhou muito nesse caso e foi muito importante para mim. Estou fazendo um caminho parecido com o dela na Justiça. É preciso passar um recado de que é necessário respeitar o trabalho da imprensa e que eles passaram do limite. É preciso nos respeitarmos como seres humanos. Foi importante ouvir a Patrícia e outras pessoas que foram ameaçadas como eu”.
Dal Piva tem contado com o apoio do escritório de advocacia Carvalho Siqueira, da organização não governamental de direitos humanos Artigo 19 e, também, do portal UOL. As eleições presidenciais deste ano no Brasil a preocupam.
“Os últimos episódios de jornalistas acompanhando, sobretudo, o presidente Jair Bolsonaro, são episódios que envolvem agressões. Acredito que precisamos criar um grupo que possa treinar colegas para que auxiliem quando acontecer esses episódios. Tanto para acolher, quanto para prestar os primeiros aconselhamentos jurídicos. Quando acontece, a gente fica sem saber exatamente o que fazer. É muita coisa para pensar e não estamos preparados para enfrentar essa situação”, afirma.
No entanto, como persistência é uma das principais características da jornalista, as ameaças não a desanimam de fazer seu trabalho.
“Nós, jornalistas, temos que fazer nosso trabalho, mas nunca perder a noção de que a história é a protagonista e que a gente contribui para esse primeiro rascunho da história. Todas essas dificuldades mexem com a nossa vida, mas minha motivação é ajudar a construir conhecimento, sobretudo histórico. Não importa o que aconteça, o presidente Bolsonaro já faz parte da história do Brasil e acho que as pessoas não o conheciam realmente antes da eleição. Depois de muito trabalho meu e dos meus colegas, nós sabemos melhor quem ele é”, ressalta Dal Piva.
O Tribunal de Justiça/SP decidiu que não é aceitável o presidente da República ofender, usando insinuação sexual, uma jornalista. Parece óbvio, mas nos tempos em que
vivemos se faz cada vez mais necessário reafirmarmos o justo. Parabéns à Patrícia
GOVERNO INIMIGO DAS MULHERES! Agora é o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que responde por assédio sexual. Funcionárias denunciam os abusos sofridos durante o trabalho. Os relatos são enojantes!
Que orgulho! Sideral é o "Melhor Curta Internacional" do Festival Internacional de Curtas de Palm Springs!
Somos o "Melhor Curta Internacional" do Palm Springs — Festival Internacional de Curtas! O Palm Spring é o mais importante festival de curtas dos Estados Unidos e é um forte indicador de filmes que podem chegar à reta final do Oscar! Por aqui estamos vibrando de felicidade!
Mais de 33 milhões de brasileiros passam fome e quase 60% população do país está com alguma dificuldade para se alimentar. Não é hora de jogar pessoas na rua!
O legado do governo Bolsonaro para a população é a volta da fome, mais pobreza e a maior queda de renda desde 2012.
Enquanto o presidente é investigado pelos gastos milionários no cartão corporativo, vive de motociatas e passeios de jet ski, mais de 200 mil pessoas não tem um teto para morar. São 33 milhões de pessoas passando fome!
Fernando Haddad
Bolsonaro é sinônimo de destruição e morte.
Rayane Andrade
Até quando povos originários e indigenistas serão vitimas de garimpeiros e latifundiários? Toda solidariedade às famílias de Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips. Queremos justiça! Precisamos saber quem são os mandantes! Esse crime é fruto do golpe de 16 e do bolsonarismo!
JUSTIÇA POR GENIVALDO Não podemos deixar que esse crime bárbaro caia no esquecimento e que seus assassinos não respondam devidamente.
Encontrados os corpos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. Causa muita indignação saber que o governo brasileiro nada fez para proteger as vidas, pedir agilidade nas buscas e apoiar a família. Mais um duro crime que recai sobre o governo da morte
Uma CRIANÇA de 11 anos, grávida após ser vítima de estupro, está sendo induzida criminosamente pela justiça de Santa Catarina a evitar que interrompa a gestação. Querem submetê-la à segunda violência de ter um filho de um estuprador. Que a menina tenha seus direitos respeitados!
A gente sabe o motivo do desespero! Toda solidariedade à companheira
Na Comissão de Direitos Humanos da Camara, há pouco o deputado José Medereiros partiu pra cima do @pauloteixeira13. Medeiros quis censurar pergunta da @taliriapetrone ao ministro da Justiça, Anderson Torres, sobre o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips. Veja vídeo
15 JUNHO é o aniversário daquela que orgulha o RN, dessa companheira aguerrida que defende o povo com coragem e ternura. Feliz aniversário, deps! Estamos com você na defesa das coisas mais belas #EquipeNatáliaBonavides
“A verdade é que linchamentos virtuais funcionam como uma censura informal. Toda vez que vou escrever uma reportagem investigativa que envolve o governo, respiro fundo e imagino o que pode vir do outro lado. Será que vão ultrajar pessoas da minha família ou fazer memes obscenos? Penso várias vezes se vale a pena. E suponho que vários jornalistas estejam experimentando a mesma sensação e de alguma maneira acabem se autocensurando.”
Por Luiz Roberto Serrano
A frase acima está no livro A Máquina do Ódio, da experiente e reconhecida jornalista Patrícia Campos Mello, modestamente classificado na capa como “Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”. Com 294 páginas, em formato de livro de bolso (120x180mm), é uma ambiciosa reportagem descritiva e analítica que relata histórias e experiências pessoais da jornalista e descreve o preocupante e assustador ambiente brasileiro e internacional onde se criam e distribuem fake news e os propósitos de seus mentores.
Com 25 anos de carreira, formada em Jornalismo pela ECA-USP, Patrícia foi correspondente deO Estado de S. Pauloem Washington e atualmente é colunista e repórter especial daFolha de S. Paulo. Realizou incontáveis coberturas internacionais. E, entre outros importantes prêmios, acabou de receber o cobiçado Moors Cabot, da Columbia University, nos EUA, que abriga um dos mais respeitados cursos de jornalismo do mundo.
No dia 18 de outubro, entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial de 2018, em que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad estavam na disputa, Patrícia iniciou a publicação, naFolha de S. Paulo, de reportagens mostrando que empresas haviam contratado o envio de milhares de mensagens eleitorais, via WhatsApp, atacando a candidatura do PT. Foram ações ilegais, pois a legislação eleitoral não permite tal iniciativa, mesmo que tenha sido financiada diretamente por empresas, sem que os recursos trafegassem por comitês eleitorais da campanha do candidato, no caso a de Bolsonaro.
A partir desse momento a vida de Patrícia virou um inimaginável inferno, pois sobre ela e sua família desabaram e se espalharam pelas redes sociais grosseiríssimas mensagens de desqualificação pessoal, moral, profissional, que são corajosamente relatadas no livro.
A tempestade que desabou sobre Patrícia explica o parágrafo do livro que inicia este texto. Mas a própria publicação do livro mostra que ela não se deixou abater e foi à luta, que é amplamente relatada no livro. Sua publicação não poderia ser mais oportuna. Ao condensar em suas páginas o amplo relato de como as máquinas do ódio agem e distribuem suas nefastas fake news pelo Brasil e pelo mundo, dá uma valiosa contribuição para os debates sobre uma legislação para coibir sua distribuição que são travados, no momento, no Congresso brasileiro.
O Brasil deverá ter eleições municipais em novembro próximo, e o resultado disso terá fundamental importância para a administração dos mais de 5 mil municípios brasileiros e também para o quadro político/partidário da próxima disputa presidencial em 2022 , quando também serão eleitos ou reeleitos governadores, deputados federais e parte dos senadores. O livro de Patrícia recorda como as mídias sociais e as fake news tiveram papel decisivo nas últimas eleições estadunidenses, que levaram Donald Trump à Casa Branca e também em pleitos na Índia e na Hungria, que escolheram líderes nacionalistas autoritários para comandá-las. Há lições a aprender nesses relatos sobre o papel das mídias sociais em eleições.
Os mandatários acima citados, eleitos por poderosos sistemas de distribuição de fake news, também empenham-se com vigor em desclassificar a mídia profissional, sem esconder seu objetivo final de ultrapassá-la como fonte de informação para a sociedade e inundá-la com notícias só de seu agrado, asfixiando o debate democrático. O combate às fake news é essencial para a democracia, assim como o uso positivo e bem-intencionado das mídias sociais, ampliando a discussão de ideias e projetos de toda natureza para o país, fortalece a democracia.
O debate sobre a regulação das mídias sociais, atualmente travado no Congresso, é delicado pois o tema é complexo. “A regulação, ao lidar com ferramentas e tecnologias de comunicação, pode afetar a liberdade de expressão e a privacidade. Portanto, a regulação deve ser muito cuidadosa e o debate, amplo”, afirmou Juliano Maranhão, professor do Departamento de Filosofia e Teoria do Direito da Faculdade de Direito da USP, ementrevista concedida nesta semana aoJornal da USP no Ar.
Mas é ingenuidade acreditar nos discursos em prol da liberdade de expressão dos porta-vozes das máquinas do ódio, pois basta acompanhar o que elas divulgam para constatar que são fontes de ultrajante desqualificação moral, pessoal, política etc., de adversários e dos que não concordam com suas ideias e propostas.
Liberdade de expressão nada tem a ver com libertinagem na expressão.
A Máquina do Ódio, livro de Patrícia Campos Mello, traça um amplo quadro de como elas não devem se confundir.
O debate em torno das fake news deve ajudar a construir um ambiente em que nenhum jornalista, como escreveu Patrícia, tenha de pensar duas vezes antes de escrever uma reportagem de denúncia, com receio de que a máquina do ódio desabe sobre a sua vida.
Os números são inegavelmente altos e batem recordes a cada ano. A violência e os ataques contra jornalistas estão nas mídias digitais, nas ruas, nos palácios governamentais. Casos que se repetem e têm ganhado repercussão, especialmente quando atingem profissionais que estão na mídia tradicional. Alguns indícios, que coletei nas pesquisas que desenvolvo, ainda apontam para uma subnotificação nesses dados. O poço é ainda mais profundo do que se apresenta.
Os dados mais recentes vêm da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O relatório Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil, divulgado pela Fenaj considerando os dados de 2021, registra 430 casos de agressão contra profissionais e ataques à categoria e veículos de imprensa no Brasil. É o maior número desde 1998, quando a entidade começou a coletar as informações.
A Abraji ainda não publicou seus números gerais, mas confirma que o total é parecido com o coletado pela Fenaj. A entidade, no entanto, divulgou seu relatório com números da violência de gênero contra mulheres jornalistas. Ao longo de 2021, foi registrado um total de 119 ataques contra jornalistas mulheres ou ataques de gênero. Esse número representa uma média de um ataque a cada três dias. Novamente, os números são expressivos e colocam a categoria em alerta.
Em A máquina do ódio, livro no qual que narra parte das violências que sofreu após as eleições de 2018, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, faz uma breve análise que me chamou bastante a atenção. Em um dado momento (na página 49) ela diz:
“Cabe aqui uma autocrítica. (…) Mais do que nunca, não basta se apoiar na ‘autoridade’ do jornalista, ou do veículo de imprensa para respaldar uma reportagem – é preciso descrever da forma mais transparente possível como foram obtidas as informações”
A jornalista fazia uma reflexão sobre o que viveu após a publicação da reportagem na qual narrava como empresários estavam bancando o disparo em massa de mensagens via WhatsApp em favor do então candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro. Chama a atenção o fato de que, antes do maremoto de ataques que colocaram em risco inclusive a família da jornalista, a primeira reportagem sobre o tema vinha sendo criticada, inclusive na coluna da então ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa.
As críticas se perderam em meio aos ataques, em um processo sobre o qual venho refletindo e que comentei nesse texto aqui no ObjETHOS. A própria Patrícia Campos Mello viria a aprofundar os dados da reportagem em outras matérias, tornando o esquema ilegal mobilizado pelos apoiadores de Bolsonaro mais claro. A reflexão da ombudsman, no entanto, parece ter feito sentido para a repórter. No livro ela segue a sua autocrítica:
“Mesmo em uma apuração sensível como aquela, que supunha fontes em off porque se tratava de participantes de esquemas ilegais de financiamento em plena campanha eleitoral, deveríamos ter explicado de forma detalhada quem eram essas fontes e mostrado as trocas de mensagem na medida do possível, tomando cuidado para não violar o anonimato pedido por essas pessoas”.
Transparência
Como reflete a jornalista, um jornalismo mais transparente é possível. Mesmo que, por vezes, as publicações sejam resistentes em implementar mecanismos que auxiliem o público no entendimento dos processos editoriais que resultam nas reportagens, é possível que as próprias matérias situem o leitor quanto aos processos realizados para que aquela versão da realidade chegasse às suas mãos. O processo de apuração é o que diferencia o jornalismo do boato, a notícia da opinião. A informação exaustivamente apurada é o que de mais importante temos a oferecer à sociedade. Por que então nós não explicamos o processo ao público?
Patrícia Campos Mello continua:
“Se tivéssemos descrito com pormenores como foi feita a reportagem, e explicitado como um jornalista trabalha para obter informações, a campanha para descredibilizar a matéria e a autora não teria ganhado tanta tração (…)”.
Veja, não trata-se aqui de culpar a vítima. Não é sobre isso que estamos falando, Patrícia e eu. Os ataques e a violência contra jornalistas é inaceitável e injustificável sob qualquer ponto de vista. Essa realidade, no entanto, existe e precisamos evoluir nos mecanismos de combate a essa situação. E nesse contexto, é importante considerarmos a transparência jornalística, os mecanismos de accountability, como aliados.
Um publico que entende o que diferencia o jornalismo do boato tende a conseguir elaborar uma crítica (sim, crítica, não ataque) mais assertiva. Hoje já está claro que parte dos ataques que sofrem os jornalistas, especialmente os que atuam no jornalismo político, vem de campanhas orquestradas. A situação vivida pela repórter da Folha parece ter sido exatamente essa. Mesmo assim, quantas pessoas acabam dando engajamento a campanhas difamatórias por não entender o básico sobre como uma notícia é produzida?
Explicitar o processo de apuração, a consulta a fontes, mostrar o caminho de onde a informação vem, todo o trabalho de checagem que um jornalista sério executa para construir uma reportagem, é um mecanismo também de defesa contra os ataques. Mais do que isso, é uma ação educativa em um país com altas taxas de analfabetismo funcional e com pouquíssimas ações e educação para a mídia.
Esse texto é uma provocação. E se o jornalismo for mais transparente?por
Em votação nesta sexta-feira (18), a Justiça de São Paulo manteve a condenação em primeira instância que obriga o deputado estadual André Fernandes (Republicanos-CE) a indenizar em R$ 50 mil a jornalista Patrícia Campos Mello. A repórter da Folha entrou com uma ação judicial após ser alvo de ataques misóginos do parlamentar bolsonarista pelas redes sociais.
A decisão foi tomada por consenso pelos desembargadores da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo Erickson Gavazza Marques, Mônaco da Silva e James Siano. Ainda cabe recurso às cortes superiores, mas tudo indica que a sentença será mantida em função da debilidade dos argumentos apresentados pela defesa do deputado.
Segundo a Folha, “a repórter acionou a Justiça após ser insultada pelo deputado no Twitter, que acusou Patrícia de trocar sexo por informações prejudiciais ao presidente Bolsonaro (PL)... O recurso de Fernandes voltou a dizer que a declaração feita por ele era protegida pela imunidade parlamentar, que lhe daria ‘supraliberdade de expressão’”.
Tuite asqueroso e criminoso
O tuite do bolsonarista foi asqueroso: “Se você acha que está na pior, lembre-se da jornalista da folha de SP [sic] que oferece SEXO em troca de alguma matéria para prejudicar Jair Bolsonaro. Depois de hoje, vai chover falsos informantes pra cima desta senhora. Força, coragem e dedicação Patrícia, você vai precisar”. Ele ainda acrescentou: “Sou tão inocente, que até hoje pensava que FURO JORNALÍSTICO se tratava de outra coisa”.
Diante dessa agressão, o André Fernandes foi condenado pela primeira vez em julho de 2011 em sentença dada pelo juiz Vitor Frederico Kümpel, da 27ª Vara Cível de São Paulo. O bolsonarista recorreu e agora sofre nova derrota. Para a advogada jornalista, Taís Gasparian, “o valor de R$ 50 mil nem de perto poderá recompor o sofrimento da jornalista, mas é simbólico o suficiente”.
Aumento de 79% nos ataques contra mulheres jornalistas
A premiada Patrícia Campos Mello não é a única jornalista a sofrer agressões das milícias bolsonaristas. Segundo um mapeamento publicado no início de março pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o ano passado registrou um aumento de 79% no número de ataques contra mulheres jornalistas ou com viés de gênero.
Ao todo, foram 119 ocorrências desse tipo – o que corresponde, em média, a um episódio de violência a cada três dias. A pesquisa ainda revelou que 52% dos autores identificáveis pelos ataques eram autoridades públicas. Nesse segmento, os que mais agrediram mulheres jornalistas foram o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Carlos Jordy, com oito ataques cada, o vereador Carlos Bolsonaro e o assessor especial da Presidência Tercio Arnaud Tomaz, contabilizando sete ataques cada, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, responsável por cinco outros ataques.
Ainda segundo reportagem de Mônica Bergamo na Folha, “os termos mais utilizados nos insultos às profissionais fazem referência a aspectos de gênero, como ‘vagabunda’, ‘puta’, ‘fofoqueira’, e a supostos vieses ideológicos das jornalistas, como ‘militante’, ‘esquerdista’ e ‘comunista’. ‘O apelo ao gênero e à sexualidade não é incidental: em sociedades com presença de valores conservadores, esse tipo de ataque é uma forma de minar a credibilidade do jornalismo profissional e de desviar a atenção do conteúdo da notícia’, afirma a Abraji”.
A deputada federal participou da 1ª Cavalgada da Reforma Agrária do RN! "Satisfação estar ao lado dessa companheirada que quer reconstruir nosso país ao lado do presidente @LulaOficial. Muito obrigada pela recepção!
Do campo, a deputada federal Natalia Bonavide rumou para o V Congresso da Juventude.
Marcha Mundial das Mulheres
@marchamulheres
Estamos junto com Natália Bonavides! Respeitem as mulheres na política
Patricia Campos Mello
@camposmello
Natália Bonavides
O apresentador Ratinho sugeriu que eu fosse metralhada, em programa visto por milhares de pessoas. Incitar homicídio é crime! Ele coloca a minha vida e minha integridade física em risco. Ratinho ainda disse que eu fosse lavar as cuecas de meu marido.
Bolsonaro mantém no governo o slogan nazista da campanha: "Deus acima de todos. Brasil acima de tudo".
Diante da apologia da violência, do ódio, a divindade de Bolsonaro da Teologia da Prosperidade é bem primitiva, e renovada pela a xenofobia, o racismo, a homofobia, a misoginia nazistas.
Pela exibição do ministro Marcelo Queiroga, esta semana em Nova Iorque, o deus Priapus, evocado com a apresentação do dedo do meio.
O gesto de arma com os dedos, símbolo da campanha de Bolsonaro a presidente, outro signo fálico, considerado representativo dos templários, relacionado a Baphomet, Bafomete ou ainda Bafomé, uma representação de satã criada pelo Papa Clemente V na perseguição aos templários.
Teve propaganda de Bolsonaro em que ele aparece como cruzado no combate "Deus acima de todos" contra o comunismo, a corrupção, religiões indígens e afro-brasileiras, e pecaminosos costumes como o kit gay, a mamadeira de piroca, o aborto.
Eliminados os templários, o culto a Bafomé passou a ser associado aos judeus, mas recentemente ao ocultismo, à maçonaria, que motivou o ataque de Adelio Bispo de Oliveira a Bolsonaro.
Anderson Bahia escreveu em 13 de outubro de 2018: Muita gente anda espantada como a representação de algumas ideias, consideradas toscas, ganharam tanta força recentemente. Que a maioria da população concorda com a frase “bandido bom é bandido morto”, já se sabe há algum tempo. Mas daí a arma feita com os gestos das mãos virar uma onda no país e, pior, ser um dos principais símbolos do candidato que lidera as pesquisas para a Presidência da República parece um absurdo para alguns.
No esforço de entender como isso se deu, algumas respostas vão surgindo. Uma delas é dizer que há uma ascensão das ideias fascistas na sociedade. Sugere que a violência se legitima como prática social e se apoia na ampliação do clima de intolerância que insiste ganhar o tom de “novo normal” do Brasil. Fatos recentes como o assassinato de Moa do Katendê e da jovem que teve uma suástica marcada por canivete em seu corpo parecem corroborar essa compreensão.
Não se pode negar o crescimento do fascismo, mas também não é possível atribuir a ele a resposta única ou principal para o fato da arma ter se tornado um símbolo na proporção que virou. Acreditar nisso é deixar de considerar outros fatores.
Em 3 de setembro de 2017, quase um ano antes da campanha eleitoral para presidente, Kiko Nogueira observava o "drama das pistolinhas de Eduardo Bolsonaro", o filho 03 de Jair Bolsonaro:
Em suas “Conferências Introdutórias sobre Psicanálise”, Sigmund Freud incluiu em suas interpretações dos sonhos as armas como símbolos da genitália e, em particular, do pênis.
“Todas as armas e ferramentas são símbolos do órgão masculino: por exemplo, martelo, arma, revólver, punhal, espada, etc”, escreveu.
Preciso falar com vocês algo que tem me incomodado. Não será uma confissão tipo Sandy e Júnior, mas foi algo que me atingiu profundamente. Em minhas andanças por aí passei por um aeroporto em que a funcionária do raio-x quis encrencar com meus chaveiros de arminhas pendurados em minha mochila. Um revolverzinho de ferro e uma pistolinha de borracha (foto) , ambas com alguns centímetros de comprimento. Sem a minha permissão ela saiu abrindo o zíper da minha mochila e tratando de esconder os chaveiros dentro da mochila. Perguntei o porquê daquilo e ela disse ser uma norma que era proibido ter no aeroporto qualquer coisa que lembrasse uma arma. Eu falei algo que na minha cabeça era óbvio – mas talvez para ela não fosse – disse que aqueles chaveirinhos não atiravam, que ninguém acharia que era um objeto ameaçador.
Ela insistiu, disse que poderia sujar para ela caso alguém visse e etc. Vendo tamanho abismo decidi ser impossível seguir numa argumentação, falei que aquilo estava ferindo meus princípios, minha pessoa, minha moral, tudo – falei isso para evitar de falar outras coisas – tirei os chaveiros escondidos de dentro da mochila, deixo-os a mostra novamente e simplesmente saí dali. Não xinguei, não resmunguei, não fiz cara feia, não queria estressar a menina, apenas saí. Mas saí com vontade de sair do Brasil também. Ridículo uma pessoa se prestar àquilo. Se fosse um chaveiro de metal imitando folha de maconha ou uma genitália de borracha certamente eu não teria tido esse problema…
O sinal dos dois dedos eram usados antes das armas de fogo, do descobrimento da pólvora. Antecede ao deísmo judaico, ao surgimento do cristianismo e do islamismo. Impressionantemente chefes de igrejas, beatas e crianças passaram a exibir o sinal dos dois dedos que, na Idade Média, os tribunais religiososos puniriam com as torturas de Ustra, as fogueiras da Santa Inquisição.
Em uma imagem recente, vide os códigos ocultos de polêmica escultura de Bafomé nos Estados Unidos.
O crescimento da ultra direita como política ou religião, que apela para os mais baixos instintos inconscientes, não é só um fenômeno do bolsonarismo, realisticamente um movimento internacional pela presença dos propagandistas de Trump, viagens internacionais de Bolsonaro a países governados por ditadores ou pela extrema direita, visitas de lideranças alemãs ao Palácio do Planalto, a supremacia branca e a multiplicação de cédulas nazistas, principalmente no Sul e Suldeste, a transformação das escolas do Paraná em miniquartéis.
Steve Bannon participou da campanha presidencial. Outros agitadores da extrema direita estiveram no Brasil, nas semanas que antecederam as manifestações golpistas de 7 de Setembro: Jair Bolsonaro se reuniu com dois membros da cena conspiracionista e negacionista da pandemia na Alemanha. Vicky Richter e Markus Haintz, ligados ao Querdenken ("pensamento lateral" em alemão), movimento que organizou no último ano protestos contra as medidas do governo alemão para frear a pandemia de covid-19. Em abril, o serviço de inteligência interno alemão colocou setores do movimento sob vigilância nacional por suspeita de "hostilidade à democracia e/ou deslegitimação do Estado que oferece riscos à segurança".
Em julho, o presidente recebeu no Planalto a deputada alemã de ultradireita Beatrix von Storch. Filiada à AfD, Von Storch é uma figura influente da ala arquiconservadora e cristã do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem membros acusados de ligações com neonazistas. Uma organização ligada ao partido também chegou a ser colocada sob vigilância dos serviços de inteligência alemães no início do ano. Neta do antigo ministro das Finanças de Adolf Hitler, Von Storch ficou conhecida na Alemanha por publicações e afirmações xenófobas.
Deus Priapus exibindo o dedo do meio
Em 2 de junho de 2019, a Folha de S. Paulo publica reportagem sobre a "obsessão fálica" do presidente. Uma impetuosidade que atinge os quatro filhos e membros do governo.
Em 17 de junho de 2020, a secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, tinha a visão de que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tinha um pênis na porta.
"É um órgão que tem um poder imenso, porque durante anos eles controlaram, através do movimento sanitarista, que foi todo construído pela esquerda, a saúde do país”, disse a capitã Cloroquina.
A imprensa da Espanha publicou. Eliane Brum, em 19 de junho de 2019, no El País, alertou: "Ei, Bolsonaro, até o pênis está diminuindo". A excelente jornalista pretendeu chamar a atenção dos bolsonaristas: "as liberar agrotóxicos numa velocida inédita, o governo envenena o Brasil".
"Pesquisa feita com jovens da bucólica região do Vêneto, na Itália, foi publicada no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, em novembro de 2018. Mas só ganhou repercussão no último fim de semana nas redes sociais no Brasil. Os cientistas analisaram 212 jovens expostos ao veneno, comparando-os a um grupo de controle, de não expostos, de 171. A média de idade era de 18 anos. Embora seja um grupo pequeno, a investigação foi conduzida dentro dos critérios corretos, por uma equipe respeitável. O trabalho aprofunda aspectos que já vinham sendo investigados por outros cientistas. Os jovens expostos aos produtos tinham pênis menores, menor contagem de espermatozoides, menor mobilidade dos espermatozoides e uma redução da “distância anogenital” (distância entre o ânus e a base dos testículos), uma medida que os cientistas consideram uma marca de saúde reprodutiva. A porcentagem de espermatozoides de formato normal no grupo exposto era pouco mais da metade comparada ao grupo de controle. Como os produtos químicos são transferidos das mães para os bebês, é provável que os jovens tenham sido contaminados antes do nascimento.
Como se sabe, a palavra “pênis” é poderosa. Atrai especial atenção nos dias atuais por conta da obsessão de Bolsonaro, que não para de criar oportunidades para falar de pinto e de tamanho de pinto. Os japoneses que o digam. Em 15 de maio, Bolsonaro foi abordado por um homem com traços asiáticos no aeroporto de Manaus. O estrangeiro disse duas palavras: “Brasil” e “gostoso”. O antipresidente reagiu com “Opa!”, levantou os braços, aproximou o polegar do dedo indicador e perguntou: “Tudo pequenininho aí?”.
Dias depois, ao comentar a reforma da Previdência, apresentada ao país como a cura para todos os males da terra com todos os males, afirmou: “Se for uma reforma de japonês, ele (o ministro da Economia Paulo Guedes) vai embora. Lá (no Japão), tudo é miniatura”. No Carnaval, o antipresidente postou no Twitterum vídeo de dois homens fazendo “golden shower” (modalidade sexual em que um urina no outro), para tentar provar que a festa mais popular do Brasil – e que satirizou todas as trapalhadas do seu governo – era uma versão contemporânea de Sodoma e Gomorra. Não colou – e Bolsonaro passou (mais uma) vergonha.
A recorrente referência a pintos segue por mais episódios do que há espaço em um artigo sobre o risco dos agrotóxicos. A inclinação foi amplamente analisada pelo jornalista Naief Haddad, na Folha de S. Paulo de 2 de junho: “De ‘golden shower’; a piada com japoneses, obsessão fálica marca Bolsonaro. Especialistas comentam fixação do presidente com genitais e sexualidade”.
Quando a notícia de que havia um agrotóxico relacionado a redução do tamanho e da largura do pênis repercutiu no Twitter, criou-se a expectativa de que talvez fosse possível chamar a atenção antipresidencial para o que seu governo anda fazendo. Afinal, nada poderia ser mais promissor: pinto e Twitter, duas obsessões de Bolsonaro finalmente juntas. Aparentemente, porém, não completou-se a sinapse no cérebro antipresidencial. Informações que atrapalham as conveniências da família e os lucros dos aliados funcionam como uma espécie de criptonita. Se forem científicas, pior ainda. O fato de jovens poderem estar sofrendo alterações no pênis e na fertilidade já antes do nascimento não parece ser um assunto capaz de interessar Bolsonaro. Importante mesmo é “golden shower” e “piada” com japoneses.
Eliane colocou o título certo, por vários motivos. Em 25 de abril de 2019, Bolsonaro alertava sobre o risco de homens terem pênis amputado por falta de higiene. Falou o presidente:
"Uma coisa muito importante, para complementar aqui. Dia a dia, né, a gente vai ficando velho e vai aprendendo as coisas. Tomei conhecimento uma vez que certos homens ao ir para o banheiro, eles só ocupavam o banheiro para fazer o número 1 no reservado", afirmou o presidente, que em seguida citou um "dado alarmante": mil amputações de pênis por ano no Brasil "por falta de água e sabão".
"Quando se chega a um ponto desses, a gente vê que nós estamos realmente no fundo do poço. Nós temos que buscar uma maneira de sair do fundo do poço ajudando essas pessoas, conscientizando-as, mostrando realmente o que eles têm que fazer, o que é bom para eles, é bom para o futuro deles, e evitar que se chegue nesse ponto ridículo, triste para nós, dessa quantidade de amputações que nós temos por ano", declarou.
Fazer o numero 1, o numero 2 são eufemismos da nossa língua para ir ao banheiro (fazer as necessidades fisiológicas). Fazer o numero 1= urinar. Fazer o numero 2= defecar.
Bolsonaro esqueceu que milhões de brasileiros são miseráveis (vide tag) moradores de favelas, de áreas de risco. Residem em casebres sem banheiro, sem água encanada, e não possuem dinheiro para comprar sabão ou sabonete.
Temos os moradores de rua. De acordo com a representante do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Tatiana Dias, a estimativa entre fevereiro e março do ano passado, momento de eclosão da pandemia, era de 221 mil pessoas. Tudo indica que o número aumentou, como reforça Veridiana Machado, representante do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua (Ciamp-Rua). “Não sabemos quantas pessoas estão em situação de rua, mas com a pandemia, é algo que nos salta os olhos. O número é expressivo, inclusive de crianças nos sinais pedindo dinheiro. Basta ir à rua e ver”, destacou.
O vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos), compartilhou nas suas redes sociais um vídeo ironizando as convocações de panelaço contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na noite desta sexta-feira, 15 de janeiro último. Nas imagens, um homem aparece batendo panela com um pênis de plástico enquanto grita "Fora, Bolsonaro".
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) atacou as parlamentares mulheres da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), nesta quinta-feira (8), dizendo que elas são “portadoras de vagina”.
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) vai protocolar uma representação contra o filho 03 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e, segundo ela, deputadas de todos os partidos devem endossar o documento.
“Ele agrediu todas as parlamentares, inclusive as do partido dele”, disse Joice.
Eduardo Bolsonaro tuitou: "MENINOS TEM PÊNIS, MENINAS TEM VAGINA". A frase é d um menininho no filme "Um tira no jardim de infância" (Arnold Schwarzenegger, anos 90). Mas se passar hoje na tv causará alvoroço na esquerda que acusaria o guri de transfóbico ou algo do gênero.
“Ai, meu Deus! Eu escondo esse álbum dele! Deus me livre!” Heloísa Wolf Bolsonaro, mulher de Eduardo, o filho Zero Três do presidente da República, está zangada com o marido. Ele acaba de pegar o book de fotos que fez quando tentou ser modelo na adolescência para mostrá-las à piauí. “Tu vai vazar?”, ela questiona, insistindo que não quer ver as imagens publicadas na imprensa. Nelas, Eduardo aparece com a pele bronzeada e o cabelo loiro em formato tigela, à la Nick Carter, o integrante bonitinho dos Backstreet Boys. Em uma das fotos, está apenas de sunga vermelha, recostado em uma mureta com as pernas cruzadas, em pose insinuante. “Coisa brega!”, reclama Heloísa. Eduardo olha para o seu segurança e dá um sorrisinho, como quem se diverte com o incômodo da mulher. Conta que nunca mostrou à imprensa o álbum de modelo. “Não me chama de homofóbico, mas nessa época sempre tinham uns caras que queriam ou me comer ou dar para mim”, diz ele. Vigilante, Heloísa observa: “Essa tua frasezinha foi anotada, Eduardo.”
Duda, como Eduardo Bolsonaro era chamado na infância e adolescência, cresceu na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Embora o bairro fosse longe da praia, ele vivia pegando onda. Subiu numa prancha de body-board aos 12 anos, inspirado por Flavio, o primogênito. Um ano depois, interrompeu a prática do novo hobby para ser submetido a uma cirurgia para corrigir uma ginecomastia, que é o crescimento excessivo das mamas em homens. Sofreu na mão dos colegas de escola. Seu apelido virou Buba, o nome de uma personagem intersexual na novela Renascer, exibida pela Rede Globo, em 1993. “Falavam que eu tinha vagina e pênis”, diz. “Eu dava risada. Às vezes caía na porrada.”
Curioso que numa família racista, homofóbica e sexista, o filho 04, Renan Bolsonaro postou um vídeo em suas redes sociais onde afirma que tem um pai de criação homossexual e negro.
“Domingo é aniversário do meu pai de criação. Ele é homossexual negro. Meu pai botou dentro da minha casa, da nossa casa pra cuidar de mim. No domingo é aniversário dele e vocês vão saber”, disse Renan.
No domingo (20), o filho de Bolsonaro postou a homenagem em seu Instagram: “Marcelo, ao longo desses anos todos, você tem sido um grande amigo para mim. Você me ensinou muito, especialmente a como me tornar uma boa pessoa. Sua empatia e seu carinho são contagiantes, e eu serei eternamente grato a Deus por tê-lo colocado em nosso caminho. Que neste aniversário seu coração possa transbordar com o dobro da felicidade que você trouxe para nossa família! Obrigado por tudo! Parabéns! Felicidades…”, escreveu.
Em 18 de fevereiro, o antipresidente Jair Bolsonaroprecisava tirar o foco da morte do miliciano Adriano da Nóbrega, pessoa-chave para esclarecer o esquema de “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro, a relação da família Bolsonaro com as milícias que atuam no Rio de Janeiro e também quem mandou matar Marielle Franco – e por quê. A eliminação de Nóbrega, com vários indícios de execução, voltava a colocar em destaque as relações dos Bolsonaros com as milícias. Era preciso desviar a atenção. Como de hábito, Bolsonaro usou o velho truque: criou um novo fato ao atacar a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo. A repórter, uma das mais competentes da sua geração, estava entre os jornalistas que denunciaram o uso fraudulento de nomes e CPFs para disparos de mensagens no WhatsApp em benefício de Bolsonaro. Uma de suas fontes, Hans River, ao depor na CPMI das Fake News do Congresso, disse que Patrícia teria tentado obter informações “a troco de sexo”, embora as trocas de mensagens entre os dois provem exatamente o contrário. Em sua coletiva informal diante do Alvorada, a mesma em que costuma mostrar bananas para os jornalistas, Bolsonaro atacou: “Ela [Patrícia] queria um furo. Ela queria dar o furo [pausa para risos] a qualquer preço contra mim”.
Este episódio, amplamente divulgado, revela mais do que o truque do manual dos novos fascistas para desviar a atenção do público. Bolsonaro tem problemas com furos. Em vários sentidos. Sua obsessão com o que cada um faz com seu ânus é notória. Está sempre tentando regular onde cada um coloca o próprio pênis. Volta e meia dá um jeito de falar de cocô, como fazem as crianças pequenas. Para ele, a vagina é um furo, visão bastante surpreendente para um homem com mais de 60 anos que já deveria, para o próprio bem, ter conhecido um pouco mais sobre o órgão sexual das mulheres. Chegou a dizer que a Amazônia “era uma virgem que todo tarado de fora quer”. Só um/a psicanalista que um dia recebesse Bolsonaro no seu divã poderia encontrar pistas para o que essa redução da sexualidade a uma coleção de furos – uns feitos para o estupro, outros proibidos para o sexo – significa. Nós, os governados por tal homem, só conseguimos entender que ele tem obsessão por furos, por cocô e por pênis. E que isso determina seu Governo.
No "Ensaio sobre fertilidade e esterilidade na Bíblia hebraica", Suzana Chwarts começa historiando:
"No que diz respeito à fertilidade, Israel é como todas as outras culturas do mundo. O ideal bíblico é o de fecundidade, abundância e multiplicidade – impulsos naturais de todas as civilizações. Este ideal está expresso no Si 128 :3-4 “Sua esposa será como vinha fecunda, na intimidade do seu lar. Seus filhos, rebentos de oliveira, ao redor de sua mesa. Essa é a bênção para o homem que teme o Eterno”.
Todas as bênçãos de Israel focalizam a abundância e a fecundidade. Em Lv 26 Deus promete que trará
(...) chuvas no seu devido tempo, a terra dará os seus produtos, e a árvore do campo seus frutos (...) comereis vosso pão até vos fartardes, voltar-me-ei para vós e vos farei crescer e multiplicar; depois de vos terdes alimentado da colheita anterior, tereis ainda de jogar fora a antiga, para dar lugar à nova.
Em Dt 28:4,
bendito será o fruto do teu ventre, o fruto do teu solo, o fruto dos teus animais, a cria das tuas vacas e a prole das tuas ovelhas. Bendito será o teu cesto e a tua amassadeira (...) Deus te concederá abundância de bens no fruto do teu ventre, no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, este solo que Deus jurou a teus pais que te daria.
Aqui a "Fertilidade" tem a mesma importância que a "Abundância" que os cristãos nos Estados Unidos, na década de 1940, vão propagar como Teologia da Prosperidade, e importada para o Brasil somente na década de 1970.
Em 2015, tendo como fonte o Infomoney, a revista Piauí destacava a impressionante riqueza dos pastores brasileiros:
1. Edir Macedo – fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, que também tem templos nos Estados Unidos, é de longe o pastor mais rico no Brasil, com um patrimônio líquido estimado pela Forbes de US$ 950 milhões, ou cerca de R$ 1,9 bilhão.
2. Valdemiro Santiago – fundou sua própria igreja, chamada Igreja Mundial do Poder de Deus, que tem mais de 900 mil seguidores e 4 mil templos. Segundo estimativa da Forbes, seu patrimônio líquido é de US$ 220 milhões, ou aproximadamente R$ 440 milhões.
3. Silas Malafaia – líder da maior igreja pentecostal do Brasil. O pastor está constantemente envolvido em escândalos relacionados à comunidade gay. “Ele é defensor de uma lei que poderia classificar o homossexualismo como uma doença e é uma figura proeminente no Twitter, onde tem mais de 440 mil seguidores”, disse a publicação.
4. RR Soares – é o mais ativo em multimídia entre os pregadores evangélicos. O religioso é compositor, cantor e televangelista. Como fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, Soares é um dos rostos mais conhecidos na televisão brasileira. Com isso, sua fortuna estimada pela Forbes, é de US$ 125 milhões, ou R$ 250 milhões.
5. Estevam Hernandes Filho e sua esposa Sonia – fundadores da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Apóstolo Estevam Hernandes Filho e sua esposa, Bispa Sonia, supervisionam mais de mil igrejas no Brasil e no exterior, incluindo a Flórida. Juntos, o casal tem um patrimônio líquido estimado pelo site em US$ 65 milhões dólares, ou R$ 130 milhões.
O deus da Prosperidade esteve bem representado no grande comício golpista de Jair Bolsonaro no dia 7 de Setembro último. Comentou Juan Arias:
"Um dos muitos detalhes simbólicos foi o surgimento na cena de um pênis gigante com as cores verde e amarelo da bandeira do Brasil, que foi apropriada pelas forças mais golpistas do país. O pênis inflado estava colocado sobre um carrinho vazio de supermercado. Estava rodeado por homens de idade.
Dizem que o presidente não sabe chorar, e muito menos pela dor alheia. Sua melhor identidade é a raiva; seu lema, a destruição; sua vocação, a terrorista; sua sexualidade, misteriosa; seu sonho de poder absoluto depois de ter ameaçado todas as instituições, com o agravante de que essas instituições parecem amedrontadas e acovardadas pelas ameaças fanfarronas do aprendiz de ditador e terrorista.
Melhor, mais simbólico e mais real do que o pênis gigante e grotesco verde e amarelo da avenida Paulista teria sido uma fila de carrinhos vazios de supermercado para simbolizar o drama que aflige e faz chorar em silêncio tantas famílias vítimas da incapacidade de governar de quem há muito deveria estar fora do poder para permitir que o país recupere a esperança que lhe foi tragicamente roubada. E como ensina a psicologia, nada é mais difícil para uma pessoa e para uma nação do que a desesperança que seca a alma e arrasta para a depressão".
Bolsonaro perder a eleição porque fez um péssimo governo é um julgamento do eleitor. Voto contra Bolsonaro cidadão.
Para que não voltem a ser usados pela misteriosa Terceira Via, a campanha de Lula, para exemplificar, deve ser contra os slogans e símbolos que elegeram Bolsonaro. O ideário. As ideologias da direita, da extrema direita, do nazismo, do fascismo, do integralismo. Para que jamais sejam utilizadas novas cores para propagar antigas mensagens de um Brasil escravocrata, racista, preconceituoso, colorista, fundamentalista, com um militarismo golpista e cruel e um judiciário elitista e parasita.