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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

11
Dez23

A Guerra e a Terra

Talis Andrade

 Nossas instituições não salvarão as democracias, temos que salvá-las nós mesmos; ou seremos democracias multirraciais no século XXI ou não seremos democracias

 

por Gustavo Krause

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A guerra, retumbante fracasso da Política, é uma severa agressão ao Planeta em contraste com as sábias palavras de Francisco na Encíclica Laudato si, Louvado sejas, cujo subtítulo: sobre o Cuidado da Casa Comum (2015) exaltam os cuidados com a Terra.

O Professor Clovis Cavalcanti, economista ecológico avant la lettre, recomendou uma leitura reflexiva e me disse, feliz, que tínhamos um Papa que compreendera a dimensão do cântico de São Francisco de Assis ao pregar: “a nossa casa comum se pode comparar ora a uma Irmã, com que partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços”.

Que me perdoem os cientistas, dedicados pesquisadores, notáveis filósofos, pensadores e os bem-intencionados líderes empresariais e políticos, mas o texto papal é insuperável. Revoluciona a base conceitual dos padrões civilizatórios contemporâneos e propõe uma relação fraterna entre o Homem e a Natureza de modo a assegurar equilíbrio e integridade planetária para as novas gerações.

O gatilho da releitura foi um cotidiano repleto de violências da guerra que nos chegam todos os dias, ao vivo e em cores, exemplos do extremo desamor humanitário. A destruição em larga escala do meio ambiente se soma também, às pequenas e grandiosas maldades, criminosas, que vão do corte da árvore, à poluição do ar, à contaminação da água e ao envenenamento da terra como se o papel da natureza se limitasse a alimentar um sistema de produção capaz de atender o consumo desenfreado e a ambição incontida.

Ao lado estrondoso da guerra, também, nos chegam eventos em proporções nunca vistas de enchentes, incêndios, vendavais, calor intenso e frio paralisante, ameaçando o ritmo da natureza e, por consequência, colocando em risco a biodiversidade, a cadeia produtiva e a segurança alimentar.

Ora, não foi por falta de aviso das instituições internacionais e de vozes esclarecidas que o abuso da natureza por uma equivocada dominação humana e o uso desenfreado dos recursos naturais, afetaria o clima, acelerando mudanças e provocando graves emergências climáticas. Tudo com base científica, ignorada pelo obscuro, delinquente negacionismo e desmedida ganância do enriquecimento.

É inegável que as inovações tecnológicas e os avanços da ciência ajudam, a mitigar os impactos, mas estão longe de ser um Deus ex-machina. O verdadeiro poder está na consciência das pessoas; é um impulso de dentro para fora que enxergue uma relação amorável com cada pedaço e cada ser do universo.

Neste desafio de profunda transformação cultural, há uma componente vital: a ética do bem comum. Inviável trilhar este caminho sem a companhia de um regime político que assegure a força da alteridade, da solidariedade, do diálogo e dos consensos. Este regime político é a democracia.

A guerra e a autocracia são inimigas do futuro da Terra.

Neste sentido, o argumento democrático vem sofrendo ameaças em decorrência do avanço da polarização política, do discurso antistabilshment, apropriado pelo populismo extremista. É uma doença que tem sérios sintomas endêmicos. Os aliados da antidemocracia, revela recente e farta literatura política, promovem a erosão das instituições e destroem o regime com os próprios mecanismos que dão sustentação às democracias liberais. Sem tanques, a arma é a cooptação e desmoralização dos mecanismos da representação popular até o capítulo final da captura do poder. A Hungria é um caso exemplar.

A propósito, os autores, Levitsky e Ziblatt, de Como as democracias morrem, (Zahar, 2018) lançaram uma obra atualíssima Como salvar a democracia (publicada no Brasil no dia 17 do corrente mês pela Editora Zahar), com um prefácio comparativo das situações entre o Brasil e os EUA, enfatizando ao longo da obra o fenômeno trumpismo/republicanos e um olhar comparativo da ascensão dos extremismos mundo afora.

De outra parte examinam com acurácia algumas circunstâncias a serem enfrentadas: a banalização do autoritarismo, a semilealdade, atributo dos personagens aproveitadores de qualquer espaço de poder, a tirania das minorias (a reversão da “tirania da maioria”).

E ao constatar a perda de prestígio da democracia, os autores defendem estretégias capazes de lutar contra o perigo autoritário, entre elas, coalizões centristas, democracia militante e defensiva, reformismo institucional, reafirmando que “a cura de todos os males da democracia é mais democracia”.

Sem meias palavras, os autores concluem com firmeza: nossas instituições não salvarão as democracias, temos que salvá-las nós mesmos; ou seremos democracias multirraciais no século XXI ou não seremos democracias.

30
Abr23

É dando que se recebe

Talis Andrade

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O jogo do clientelismo político brasileiro profanou o significado da oração franciscana: cuidar da natureza e dos mais pobres

 

por Gustavo Krause

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O tópico da Oração de São Francisco, a meu ver o mais belo e tocante cântico religioso, foi manipulado de forma desavergonhada para dar um torpe significado à troca de favores no jogo político do clientelismo brasileiro.

Aqui, o sentido é completamente diferente: é o chamamento para solidariedade e fraternidade humana, graves carências do nosso tempo. Padroeiro da ecologia, Giovanni Di Bernardone, (a quem o pai chamava “Francesco”), nascido em Assis, filho de família rica, desfrutou de uma vida burguesa, mundana e extravagante. Foi também um valoroso guerreiro.

O belo processo de conversão teve o testemunho de Tomas Celano, discípulo e seu primeiro hagiógrafo. Na literatura moderna foi alvo de enorme devoção de Hermann Hess a quem se referiu como o Poverello de Assis, “mensageiro e semeador divino”.

É possível que um leitor imagine que virei pregador, deixando de lado tantos temas importantes que têm levado pensadores, filósofos, estudiosos a debaterem sobre a natureza dos desafios superpostos que estamos vivendo se é ou não uma policrise. Independente da correção do conceito, o momento histórico é muito grave.

Ocorre que o Santo, fonte de inspiração do Papa Francisco, se dedicou a defender inteira e humildemente às duas causas impiedosamente fustigadas: a Natureza pelos maus tratos; aos mais pobres entre os mais pobres pela indiferença.

E o que dizemos nós diante da permanência das lições franciscanas? O que dizem os líderes políticos com a dissipação de portentosos gastos? O que dizem os tiranos em guerra com o cortejo fúnebre que geram? O que dizem os magnatas, os bilionários com seus gastos ostentosos? O que dizemos ou fazemos nós, cidadãos comuns, como membros de uma comunidade global em agonia?

Com o esgotamento da ideia de progresso como crescimento econômico a qualquer preço, nossa sobrevivência passou a depender da observância de três letras mágicas: ESG. Tirando o G (Governança) que é instrumental, ficamos diante de duas realidades: Social/Desigualdade e o Meio Ambiente que foram enxergadas, compreendidas e sentidas por São Francisco de Assis (1181-1226), como a sororidade entre os que moram sob o mesmo teto, aquecidos pela luminosidade do (irmão) Sol e encantados pelo brilho da (irmã) lua.

A salvação é transformar a solidariedade e a fraternidade em ações concretas e mobilizadoras. De fato, existem políticas públicas, políticas corporativas, iniciativas filantrópicas importantes, mas insuficientes para libertar as pessoas da forme, da sede e do universo ameaçado.

A argamassa que une uma mobilização global para enfrentar o risco da hecatombe é a disseminação de uma “a cultura da ajuda”, em grandes proporções, para enfrentar a tragédia da emergência climática e a vergonha que é a urgência da fome.

Preferi não citar nomes ou instituições e, até mesmo países, em que já se pratica algo como doar aos vivos e aos que vão nascer tudo ou quase tudo que construímos em vida. Uma espécie de contribuição voluntária ao futuro, assegurada por adequados arranjos institucionais.

Vou me olhar para avaliar se, na minha pequenez, estou dando para receber o retorno de uma consciência menos intranquila, a Natureza mais viva, e os bem-aventurados pobres abrigados no reino da dignidade humana.

19
Mar23

O orçamento secreto dos militares no exterior

Talis Andrade

 

 

Quando se pensa que estamos perto do fim do precipício em que os militares jogaram o país, descobre-se um degrau ainda mais baixo. O fundamental é não se surpreender, porque sempre pode ser pior do que se imagina.

É o que comprova a nova descoberta sobre o orçamento secreto e particular, livre do controle republicano, mantido pelos comandos das Forças Armadas no exterior. Uma espécie de offshore fardada.

O orçamento secreto foi inventado pelo governo fascista-militar para comprar apoio ao plano brutal de pilhagem do Brasil e para assegurar a blindagem do Congresso em relação aos mais de 100 pedidos de impeachment do Bolsonaro.

Deu certo. Ao custo, porém, de uma corrupção bilionária, de malversação em escala industrial e do desvio sistemático de verbas públicas. Com efeitos devastadores para o país.

Coube a um general – sempre eles, os militares, metidos em todo tipo de trampa de/no governo – a condução do assunto em linha com o colaboracionista Arthur Lira, presidente da Câmara.

O general Luiz Eduardo Ramos foi o principal operador do esquema de corrupção em troca do apoio congressual. Vale lembrar que o general Ramos é aquele que confessou ter atuado na coordenação da campanha da chapa militar Bolsonaro/Mourão na eleição de 2018.

Um detalhe importante: Ramos ainda estava no serviço da ativa e era o comandante militar do Sudeste. Apesar disso, contudo, do mesmo modo que com o general e ex-ministro da Morte Eduardo Pazuello, nada aconteceu com o delinquente fardado.

Para não fugir à regra infalível da existência da digital dos militares ou do envolvimento de militares em todo tipo de irregularidade do governo fascista-militar, conhece-se agora mais este escândalo: o orçamento secreto das Forças Armadas no exterior.

Monica Bergamo relata na Folha de São Paulo [18/3] que o Tribunal de Contas da União [TCU] enviará uma equipe de auditores aos EUA “para fazer uma devassa em compras feitas pelos comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica naquele país entre 2018 e 2022”.

A cifra envolvida está dentro do “padrão orçamento secreto”: foram cerca de R$ 20 bilhões pagos pelos militares no período através das três comissões das Forças Armadas brasileiras instaladas nos EUA, e das outras duas na Europa.

O envio de auditores do TCU para apurarem in loco os gastos deriva “da quantidade de transações detectadas e da recusa dos fardados em conceder acesso integral ao sistema de compras”, informa a jornalista.

Este é mais um caso indecente da coleção interminável de ilícitos e crimes envolvendo militares e que, no entanto, são enfrentados de maneira equivocada pelas instituições civis: ou com leniência, ou com temor, ou com jeitinhos e acomodações.

É absolutamente descabido, porque é inconstitucional e ilegal, o TCU aceitar a recusa das Forças Armadas em conceder o acesso pleno ao controle das despesas públicas. Assim como os servidores civis, os militares também estão sujeitos às normas da Administração Pública; e, quando cometem ilícitos, devem ser demitidos, a bem do serviço público.

Este escândalo evidencia, também, que é equivocado o governo brasileiro manter missões das Forças Armadas no exterior, onde oficiais passam temporadas se locupletando e amealhando fortunas pessoais sem nenhum benefício aos interesses nacionais e à defesa do país.

Em Washington, por exemplo, quase duas centenas de militares se aboletam de tempos em tempos em revezamento num trenzinho da prosperidade; uma estrutura mais inchada que as principais e maiores representações diplomáticas do Brasil no estrangeiro.

Os militares se envolveram de maneira sistêmica e profunda com ilícitos, desvios, corrupção e ilegalidades. Delinquentes fardados são o pior exemplo de servidor público; desonram as Forças Armadas de qualquer Nação.

A sociedade brasileira tem diante de si a melhor oportunidade dos últimos 50 anos para encerrar em definitivo o delírio das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas, que reivindicam a fantasia alucinógena de atuar como Poder Moderador.

Desaproveitar esta oportunidade e deixá-los outra vez impunes poderá ter como preço o surgimento futuro de uma nova intentona fascista-militar contra a democracia.
 

Bolsonarista acreditava ser um ET

 
 
Enquanto tentava se explicar sobre sua atuação diante dos atos terroristas de 8 de janeiro, um coronel da PM do Distrito Federal disse que os bolsonaristas estavam em um “mundo paralelo” e que tinha até gente que dizia ser extraterrestre

Alienígenas ajudariam exército a dar um golpe

Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos, promovida pela Assembleia Legislativa do Distrito Federal, o coronel Jorge Eduardo Naime, da PM-DF, afirmou que os bolsonaristas acampados em frente ao quartel-general do Exército em Brasília “viviam em um mundo paralelo”. “Teve um que me abordou e falou para mim que era um extraterrestre, que ele estava ali infiltrado e que assim que o Exército tomasse, os extraterrestres iriam ajudar o Exército a tomar o poder”, relatou o coronel nesta quinta-feira 16. “Eles consumiam só informações deles, era só o que era falado no carro, estavam em uma bolha.”

Bolsonaristas "pediram ajuda extraterrestre"

com luzes de celulares no RS

O fotógrafo Marcelo Nunes compartilhou um vídeo de manifestantes reunidos na frente do Comando Militar do Sul, no Centro Histórico de Porto Alegre, no domingo (20). Eles estão segurando os celulares sobre a cabeça e pedindo socorro a um "general". Mas, não se sabe se de fato a quem eles estariam pedindo ajuda: aos ETs ou ao general do Exército.

28
Out22

CNBB reforça pedido do papa Francisco por menos ódio nas eleições: 'templos foram profanados'

Talis Andrade

www.brasil247.com - Bolsonaristas causam tumultos em AparecidaImage

 

"O convite é para o exame de nossas atitudes, verificar se de fato há coerência com o evangelho de Jesus"

 

 

247 - O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, divulgou um vídeo nesta sexta-feira (28) reforçando o pedido do papa Francisco por menos ódio, intolerância e violência no Brasil, em um contexto de eleições presidenciais acirradas.

 

"O papa Francisco, em preces à Nossa Senhora Aparecida, rainha e padroeira do Brasil, pede à Maria Santíssima que nos livre do ódio, da intolerância e da violência. Vamos dar um basta aos sentimentos que estão contaminando o processo eleitoral, dividindo famílias e rompendo amizades. Até templos foram profanados com sacerdotes a serviço do altar desrespeitados", afirmou Dom Walmor.

Vale lembrar que em 12 de outubro, no Dia de Nossa Senhora Aparecida, Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores causaram tumultos na Basílica Nacional de Aparecida, bebendo álcool em locais sagrados, encurralando funcionários da TV Aparecida e vaiando o arcebispo Dom Orlando Brandes após ele afirmar que "o Brasil precisa vencer o dragão do ódio, da mentira, do desemprego, da fome e da incredulidade."

"Situações graves que refletem a ausência de senso crítico, inviabilizando o adequado exercício da cidadania. O convite é para o exame de nossas atitudes, verificar se de fato há coerência com o evangelho de Jesus que nos pede compromisso e amor fraterno, a não violência, o incansável serviço aos pobres e excluídos", acrescentou a mensagem da CNBB.

"Em profunda unidade com a mensagem do Papa Francisco, suplico à mãe Aparecida que interceda pelo povo brasileiro, livrando-nos do ódio, da intolerância e da violência, que haja paz, celeridade e esperança", concluiu o vídeo.

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27
Out22

Uma escolha entre um futuro ou um retrocesso

Talis Andrade

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Carta do Papa Francisco para Lula

 

Por Luiz Roberto Serrano /Jornal USP

Entramos na contagem regressiva. Neste fim de semana, o Brasil irá às urnas, votando, escolhendo entre o futuro e o retrocesso, entre um país que abre perspectivas para os seus habitantes ou uma nação voltada para uma minoria privilegiada pairando sobre uma massa esfalfada na construção do dia a dia de sua sobrevivência. Não acho que exagera quem diz que estamos diante da eleição mais importante de nossa história.

Momentos dramáticos, vivemos muitos.

Acompanho eleições desde 1955, tinha oito anos de idade, lembro de Juscelino Kubitscheck vencer eleitoralmente seus adversários, um ano após o suicídio de Getúlio Vargas, presidente democraticamente eleito em 1950, graças à lembrança popular de seu governo autoritário/populista de 1930 a 45. JK tomou posse graças ao respaldo militar do ministro da Guerra, Henrique Teixeria Lott, que abafou a reação dos direitistas inconformados, eternamente aliados à caserna.

Seu sucessor eleito e adversário, Jânio Quadros, ex-governador de São Paulo, tentou dar um golpe contra o que chamava de “forças ocultas”, na verdade um Congresso conservador, que tratou de defenestrá-lo. Em seu lugar, assumiu o herdeiro de Getúlio Vargas, João Goulart, já que naquela quadra da vida nacional presidente e vice-presidente eram eleitos separadamente. Simplificando, em 1964 Goulart foi apeado do poder por um golpe militar que durou 21 anos.

Depois do duro e repressivo hiato ditatorial, houve uma eleição indireta, sem voto direto do povo, em que a promessa de uma Nova República foi esmaecida pela morte de seu proponente, Tancredo Neves, que tinha como vice, José Sarney, baldeado do antigo para o novo regime – que teve que conviver com as propostas progressistas consagradas na Assembleia Nacional Constituinte de 1987-88.

Eleição presidencial direta só ocorreu por votação popular, novamente, em 1990, sendo que o cometa Fernando Collor, respaldado pela falta de hábito popular em votar para eleger o primeiro mandatário do País, conquistou o Palácio do Planalto. Do qual foi também defenestrado, em função de sua postura imperial na cadeira presidencial. Seu vice, Itamar Franco, que nada tinha a ver com ele, consagrou-se graças ao Plano Real, que derrotou a crônica e histórica inflação que atazanava os brasileiros há décadas.

Fernando Henrique Cardoso, verdadeiro artífice do Plano Real com uma equipe de criativos economistas escolada no combate à inflação, sucedeu-o por oito anos e tocou um governo modernizante, em meio a muitas disputas em torno de desestatizações e controvérsias a respeito da criação do instituto da reeleição. Depois dele, Luiz Inácio Lula da Silva chegou lá com seu combativo Partido dos Trabalhadores, registrando-se uma elegante transferência de governo, que há muito não se via em Brasília.

Nos seus oito anos de governo, Lula promoveu uma aplaudida distribuição de renda no País, entre outras políticas, e, embora tisnado pela acusação de promover o Mensalão, sistema de compra de votos de parlamentares, viu sua chefe de gabinete, Dilma Rousseff, tornar-se sua sucessora.

O governo de Dilma não chegou ao fim pois, depois de uma reeleição, suas ações políticas e econômicas mais sua falta de traquejo político chocaram-se, cada vez mais, com o espírito conservador dominante no Congresso Nacional. Resultado: deu-se o segundo impeachment da Nova República. Sentou-se na cadeira presidencial o vice-presidente Michel Temer, em torno do qual aconteceram algumas histórias mal explicadas.

Em seguida, ocorre o inesperado. Depois de levar uma surpreendente facada na campanha, o deputado Jair Bolsonaro é eleito presidente da República, concorrendo com Fernando Haddad, que concorre no lugar de Luiz Inácio Lula da Silva, afastado da competição por condenação no processo da operação Lava Jato – processo esse que foi anulado depois da eleição.

Essa longa saga de um país em busca de seu destino teve altos e baixos, avanços e recuos, embates, predominâncias civis ou militares, tensões diversas, mas de um modo ou de outro, o Brasil andou.

Andou, mas devagar, deixando um significativo rastro de carências sociais e econômicas nessa caminhada. Para sermos o país do futuro, prognosticado pelo exilado Stefan Zweig nos longínquos 1930, faltava muito. Imaginem hoje, quanto ainda falta.

É a possibilidade de nos tornarmos esse país do futuro que estará em jogo neste domingo, 30 de outubro.

Mais um momento dramático em nossa história.

Estará diante dos eleitores escolher, na hora de votar, entre a frente que reúne os brasileiros que propõem empurrar o Brasil século 21 adentro, via democracia com pautas sociais, econômicas e culturais progressistas e contemporâneas. O futuro.

Ou os que apontam para a regressão, com suas pautas autoritárias atrasadas, regressivas, paralisantes, até mesmo agressivas, típicas de um governo que aposta num país onde impere o salve-se quem puder. O retrocesso.

Eu voto na democracia com pautas sociais, econômicas e culturais progressistas e contemporâneas.

No futuro.

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27
Out22

Por que Bolsonaro não foi a beatificação da caririense Benigna Cardoso da Silva?

Talis Andrade
Papa menciona Beata Benigna durante audiência no Vaticano. E rezou pelos brasileiros
por ROBSON ROQUE
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Ainda durante a audiência, o Papa Francisco mencionou as eleições no Brasil, e disse: “Rezo a Nossa Senhora Aparecida para que proteja e cuide do povo brasileiro, que o liberte do ódio, da intolerância e da violência”.

24
Out22

Bispos católicos de todo o país lançam carta contra reeleição de Bolsonaro: "despreza os pobres"

Talis Andrade

O Papa Francisco se encontrou, nesta quinta-feira (13), com o ex-presidente Lula. — Foto: Reprodução/Twitter Lula Oficial/Ricardo Stuckert

 

Bolsonaro e seus apoiadores "abusaram do nome de Deus para legitimar seus atos"

 

por Caroline Oliveira

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Um grupo de bispos católicos brasileiros lançou, na manhã desta segunda-feira (24), uma carta contra a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) à Presidência da República, sem citar diretamente o presidente.  

Intitulado “Bispos do Diálogo pelo Reino”, o coletivo reúne bispos da Igreja Católica de várias regiões do Brasil e, no documento, afirma que o segundo turno das eleições coloca a população brasileira “diante de um desafio dramático” que não permite a neutralidade.  

 O contexto, segundo os religiosos, impõe um posicionamento acerca de “dois projetos de Brasil, um democrático e outro autoritário; um comprometido com a defesa da vida, a partir dos empobrecidos, outro comprometido com a ‘economia que mata’ (Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, 53); um que cuida da educação, saúde, trabalho, alimentação, cultura, outro que menospreza as políticas públicas, porque despreza os pobres”, apontam.   

Os bispos pontuam ainda que o atual governo “virou as costas para a população mais carente, principalmente no tempo da pandemia”, e que, junto de seus apoiadores, abusou “do nome de Deus para legitimar seus atos e ainda o usam para fins eleitorais”, condenando ainda a disseminação de fatos inverídicos. "Vivemos quatro anos sob o reinado da mentira, do sigilo e das informações falsas. As fake news (notícias falsas veiculadas como se fossem verdades) se tornaram a forma 'oficial' de comunicação do Governo com o povo." 

“Enquanto dizia ‘Deus acima de tudo’, o Presidente ofendia as mulheres, debochava de pessoas que morriam asfixiadas, além de não demonstrar compaixão alguma com as quase 700 mil vidas perdidas para a covid-19 e com os 33 milhões de pessoas famintas em seu país. Lembramos que o Brasil havia saído do mapa da fome em 2014, por acerto dos programas sociais de governos anteriores”, afirmam. 

 No fim, os bispos pedem que a população brasileira veja “Jesus no rosto de cada pessoa, especialmente dos pobres que sofrem e não em autoridades humanas que os manipulam em nome de um projeto ideológico de poder político e econômico”.  

O Papa Francisco se encontrou, nesta quinta-feira (13), com o ex-presidente Lula. — Foto: Reprodução/Twitter LulaOficial/Ricardo Stuckert

 

“A GRAVIDADE DO SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES 2022  

 

 Irmãos e irmãs,  

 Somos bispos da Igreja Católica de várias regiões do Brasil, em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em plena comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB que, no exercício de sua missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da justiça e da paz. Lideramos a escrita de uma primeira Carta ao Povo de Deus, em julho de 2020. Diante da gravidade do momento atual, nos dirigimos novamente a vocês.  

 O segundo turno das eleições presidenciais de 2022 nos coloca diante de um dramático desafio. Devemos escolher, de maneira consciente e serena, pois não cabe neutralidade quando se trata de decidir sobre dois projetos de Brasil, um democrático e outro autoritário; um comprometido com a defesa da vida, a partir dos empobrecidos, outro comprometido com a “economia que mata” (Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, 53); um que cuida da educação, saúde, trabalho, alimentação, cultura, outro que menospreza as políticas públicas, porque despreza os pobres. Os dois candidatos já governaram o Brasil e deram resultados diferentes para o povo e para a natureza, os quais podemos analisar.  

 Iluminados pelas exigências sociais e políticas de nossa fé cristã e da Doutrina Social da Igreja Católica, precisamos falar de forma clara e direta sobre o que realmente está em jogo neste momento. Jesus nos mandou ser “luz do mundo” e a luz não deve ficar escondida (Mt 5,15).  

 Somos testemunhas de que o atual Governo, que busca a reeleição, virou as costas para a população mais carente, principalmente no tempo da pandemia. Apenas às vésperas da eleição, lançou um programa temporário de auxílio aos necessitados. A 59ª Assembleia Geral da CNBB constatou “os alarmantes descuidos com a Terra, a violência latente, explícita e crescente, potencializada pela flexibilização da posse e porte de armas […]. Entre outros aspectos destes tempos, estão o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos. A fome é certamente o mais cruel e criminoso deles, pois a alimentação é um direito inalienável” (Mensagem da CNBB ao Povo Brasileiro sobre o Momento Atual). A vida não é prioridade para este governo.  

 O chefe de Governo e seus apoiadores, principalmente políticos e religiosos, abusaram do nome de Deus para legitimar seus atos e ainda o usam para fins eleitorais. O uso do nome de Deus em vão é um desrespeito ao 2º mandamento. O abuso da religião para fins eleitoreiros foi condenado em nota oficial da presidência da CNBB (11/10/2022), para a qual “a manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil”.  

Enquanto dizia “Deus acima de tudo”, o Presidente ofendia as mulheres, debochava de pessoas que morriam asfixiadas, além de não demonstrar compaixão alguma com as quase 700 mil vidas perdidas para a covid-19 e com os 33 milhões de pessoas famintas em seu país. Lembramos que o Brasil havia saído do mapa da fome em 2014, por acerto dos programas sociais de governos anteriores. Na prática, esse apelo a Deus é mentiroso, pois não cumpre o que Jesus apresentou como o maior dos mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22, 37). Quem diz que ama a Deus, mas odeia o seu irmão é "mentiroso" (1Jo 4,20).  

Os discursos e as medidas que visam armar todas as pessoas e eliminar os opositores estão em contradição tanto com o 5º mandamento, que diz “não matarás”, quanto com a Doutrina Social da Igreja, que propõe o desarmamento e diz que “o enorme aumento das armas representa uma ameaça grave para a estabilidade e a paz” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 508).  

Vivemos quatro anos sob o reinado da mentira, do sigilo e das informações falsas. As fake news (notícias falsas veiculadas como se fossem verdades) se tornaram a forma “oficial” de comunicação do Governo com o povo. Isso fere o 8º mandamento, de não levantar falso testemunho, mas mostra também quem é o verdadeiro "senhor" dos que, perversamente, se dedicam a espalhar falsidades e ocultar informações de interesse público. Jesus diz que o Diabo é o pai da mentira (Jo 8, 44), enquanto Ele é o “caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).  

A Mensagem ao Povo Brasileiro, da 59ª Assembleia Geral da CNBB, alertou-nos, também, de que “nossa jovem democracia precisa ser protegida, por meio de amplo pacto nacional”. No entanto, o atual governo e os parlamentares que o apoiam ameaçam modificar a composição do Supremo Tribunal Federal para criar uma maioria de apoio aos seus atos. O controle dos poderes Legislativo e Judiciário sempre foi o passo determinante para a implantação das ditaturas no mundo. 

 Os cristãos têm capacidade para analisar qual dos dois projetos em disputa está mais próximo dos princípios humanistas e da ecologia integral. Basta analisar com dados e números e perguntar: qual dos candidatos concorrentes valorizou mais a saúde, a educação e a superação da pobreza e da miséria e qual retirou verbas do SUS, da educação e acabou com programas sociais? Quem cuidou da natureza, principalmente, da Amazônia e quem incentivou a queima das florestas, o tráfico ilegal de madeiras e o garimpo em terras indígenas? 

 Não se trata de uma disputa religiosa, nem de mera opção partidária e, tampouco, de escolher o candidato perfeito, mas de uma decisão sobre o futuro de nosso país, da democracia e do povo. A Igreja não tem partido, nem nunca terá, porém ela tem lado, e sempre terá: o lado da justiça e da paz, da verdade e da solidariedade, do amor e da igualdade, da liberdade religiosa e do Estado laico, da inclusão social e do bem viver para todos. Por isso, seus ministros não podem deixar de se posicionar, quando se trata de defender a vida do ser humano e da natureza. Nossa motivação é ética e não decorre do seguimento de um líder político, nem de preferências pessoais, mas vem da fidelidade ao Evangelho de Jesus, à Doutrina Social da Igreja e ao magistério profético do Papa Francisco.   

Deus abençoe o povo brasileiro e o Espírito Santo de sabedoria e verdade ilumine nossas mentes e corações, na hora de votarmos nesse segundo turno das eleições de 2022. Vejamos Jesus no rosto de cada pessoa, especialmente dos pobres que sofrem e não em autoridades humanas que os manipulam em nome de um projeto ideológico de poder político e econômico. 

 Em 24 de outubro de 2022, Memória de Santo Antônio Maria Claret, bispo.  

 Bispos do Diálogo pelo Reino” 

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PT - Partido dos Trabalhadores - A carta do Papa Francisco para o  presidente Lula é uma mensagem de esperança e fé para todos os brasileiros.  http://bit.ly/2Mdz6Gl | Facebook

21
Out22

O amor cristão e o ódio do deputado bolsonarista que ameaça queimar estudantes como aconteceu na boite kiss

Talis Andrade

Veja a íntegra da leitura da carta de Lula aos evangélicos - Vídeo  DailymotionNexo Jornal

Um menino reza pelo Brasil, pela vitória de Lula, na leitura da Carta aos Evangélicos. Outro pergunta ao Papa Francisco se o pai ateu, "um bom bom" que morreu recentemente, está no céu.

Dois lindos momentos do cristianismo. Quando o malígno deseja que os estudantes de Santa Maria, porque denunciaram a corrupção do orçamento secreto no Ministério da Educação, sejam queimados vivos como aconteceu na boite Kiss.

Deputado diz que estudantes têm de ser queimados vivos

O deputado federal bolsonarista Bibo Nunes (PL-RS) critica um protesto feito pelos universitários de Santa Maria contra o bloqueio de verbas do MEC (Ministério da Educação) promovido pelo governo Bolsonaro. Ele também cita os alunos da Universidade Federal de Pelotas, usa termos como vergonha, escória do mundo, miseráveis e coitados para se referir aos estudantes e faz referência a uma cena do filme “Tropa de elite”. “É o filme Tropa de elite. Sabe o que aconteceu. Olha o um. Olha o filme um. Pegaram aqueles coitadinhos. Que coitadinhos? Aqueles riquinhos, ajudando pobre, se deram mal. Queimaram vivo dentro de pneus! Queimaram vivo dentro de pneus! E é isso que esses estudantes alienados, filhos de papai, que têm grana, merecem”, diz o parlamentar, com o tom de voz bastante elevado.

Foi na cidade gaúcha de Santa Maria que ocorreu o incêndio na boate Kiss, em janeiro de 2013. Na ocasião, chamas causadas por fogos de artifício detonados dentro da danceteria se alastraram de forma descontrolada, o que resultou na morte de 242 pessoas. Entre as vítimas, havia 113 estudantes da universidade citada por Nunes no vídeo

Nesta sexta, a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) anunciou que vai denunciar Nunes ao Conselho de Ética da Câmara e ao Ministério Público. “Inadmissível fazer uma ameaça sórdida de que os estudantes da UFSM deveriam ser queimados vivos, ainda mais na cidade que sofreu a tragédia da Boate Kiss”, afirmou a parlamentar. Também houve reação do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Maria, Paulo Burmann, que foi candidato a deputado federal pelo PDT, mas não se elegeu. Ele postou um vídeo nas redes sociais classificando as falas do bolsonarista como “um ataque arrogante, carregado de ódio, sem nenhum sentimento humano”.

Antes de entrar para a política, o gaúcho Bibo Nunes trabalhou como apresentador e repórter em diversos veículos de imprensa do Rio Grande do Sul, como a RBS TV Cruz Alta, o jornal Zero Hora e a TVE RS. Concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSD, em 2014, e a ao cargo de vereador de Porto Alegre pelo PMDB, em 2016, mas não obteve sucesso em nenhuma das ocasiões. Em 2018, se associou ao bolsonarismo e foi eleito deputado federal pelo PSL, com mais de 91 mil votos. Migrou para o PL em 2021 e tentou a reeleição em 2022, mas não conseguiu.

Discurso de ódio bolsonarista na boca malígna de Bibo Nunes

Papa consola criança que perguntou se seu pai ateu estava no céu

Cidade do Vaticano - O papa Francisco afirmou neste domingo que Deus não abandona as pessoas boas, ao responder a uma pergunta feita por um menino que queria saber se seu pai, que era ateu e morreu há pouco tempo, estava no céu.

Durante uma visita à paróquia do bairro de Corviale, na periferia de Roma, Francisco respondeu às perguntas dos fiéis, entre os quais estava Emanuele, um menino de oito anos, cuja voz estava embargada pelo choro.

Diante desta situação, o papa lhe encorajou a fazer sua pergunta perto de seu ouvido, lhe abraçou e ambos conversaram durante alguns minutos. Posteriormente, o pontífice pediu permissão ao menino para revelar sua inquietação.

Francisco explicou então que Emanuele lhe contou que seu pai havia morrido há pouco tempo e que, embora não fosse crente, tinha batizado seus quatro filhos, mas sua dúvida era "se o papai estava no céu".

"Que lindo que um filho diga que seu pai era bom. Um lindo testemunho daquele homem para que seus filhos possam dizer dele que era um homem bom. Se esse homem foi capaz de ter filhos assim, é verdade que era um grande homem", declarou o papa.

Francisco ressaltou que embora este homem "não tivesse o dom da fé, não fosse crente, fez batizar os filhos" e, perante a dúvida de Emanuele, respondeu: "Quem diz quem vai para o céu é Deus".

Então Francisco perguntou aos presentes: "Deus abandona seus filhos quando são bons?", ao que responderam "não" em coro.

"Bom, Emanuele, esta é a resposta. Deus seguramente estava orgulhoso do seu pai, porque é mais fácil batizar os filhos sendo crente que batizá-los não sendo crente. E seguramente Deus gostou muito disso", acrescentou.

E concluiu: "Fale com seu pai, reza ao seu pai. Obrigado, Emanuele, pela sua valentia ".

Outra das perguntas ao papa foi se todos, "inclusive os não batizados", somos "filhos de Deus", ao que Francisco explicou: "Somos todos filhos de Deus, inclusive os que são de outras religiões distantes".

"Inclusive os mafiosos, embora estes prefiram comportar-se como filhos do diabo", completou.

As crianças também lhe questionaram sobre o que sentiu quando foi escolhido papa e Francisco respondeu que "não sentiu medo, nem uma grande alegria (...), mas uma grande paz". EFE

Campanhas de Lula lançam cartas aos evangélicos desde 1989; veja a primeira
A liberdade religiosa era o compromisso número 1 da carta lançada na eleição contra Collor. Veja íntegra do exemplar obtido por CartaCapital


A carta aos evangélicos lançada na quarta-feira 19 pelo ex-presidente Lula (PT) não foi a primeira a ser divulgada por uma campanha do petista ao Palácio do Planalto: a iniciativa pioneira ocorreu em 1989, na campanha que disputou contra Fernando Collor, que lançou as mesmas mentiras hoje repetidas por Jair Bolsonaro de fechar igrejas. 

Carta de Lula aos religiosos rebate fake news dos fariseus e cita Evangelho de São João

por Vinicius do Valle 

Depois de semanas de discussão e especulação sobre a possibilidade de Lula lançar uma carta para evangélicos, saiu ontem, no dia em que se comemora Nossa Senhora Aparecida, um documento da campanha petista, assinado por Lula, destinado aos religiosos do Brasil. O documento sai após uma versão anterior, destinada especificamente aos evangélicos, ter sido vazada para a imprensa – revelando a dificuldade da campanha petista em lidar com o tema de forma interna.

Para muitos do comitê eleitoral petista, a campanha de Lula deveria focar na agenda econômica e social, as quais Lula teria muito a mostrar, ao invés de alimentar a agenda moral e religiosa. No entanto, a enxurrada de fake news de conteúdo religioso e o alívio relativo nas condições de vida de parcela da população, gerado pelo auxílio Brasil turbinado e redução do preço da gasolina – feitos sob medida para a campanha bolsonarista e com prazo de duração limitado — tornaram a agenda moral inescapável.

A versão final do documento parece, nesse sentido, ter ficado no “meio termo” entre a posição de não entrar no embate religioso e a de um documento voltado especificamente ao segmento evangélico, com compromissos específicos e fechados. Na carta, Lula afirma o respeito ao direito à religião e à liberdade religiosa. Reconhece o papel das religiões na sociedade brasileira, e se compromete a respeitar a Constituição, todas as religiões, os templos e locais de culto, públicos ou privados. Cita ainda o evangelho de João, capítulo 10 e versículo 10, manifestando o desejo de construir uma sociedade em “que todos tenham vida em abundância”.

 

21
Out22

É perigoso usar religião como instrumento de poder, alerta dom Odilo Scherer

Talis Andrade

 

 

Dom Odilo Pedro Scherer sorrindo

Dom Odilo foi criticado por seguidores porque, em sua foto no Twitter, usa trajes religiosos vermelhos

  • por Edison Veiga /BBC News

O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, figura aos 73 anos no alto da hierarquia católica. Com um currículo sólido, ele mantém um relacionamento muito próximo com os que vivem no Vaticano — papa Francisco, inclusive.

Scherer comanda a Arquidiocese de São Paulo desde 2007 e, no mesmo ano, foi feito cardeal — atualmente, há apenas oito brasileiros nesse seleto grupo da alta cúpula da Igreja. Em tempo de nomeação, só perde para o arcebispo-emérito de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, que ascendeu ao colégio de purpurados em 2001.

 

 

No último domingo (16/10), Scherer foi alvo de ataques nas redes sociais motivados pelo atual clima político do país, em que a religião vem ganhando cada vez mais espaço na campanha eleitoral.

Ele foi criticado por seguidores porque, em sua foto no Twitter, usa trajes religiosos vermelhos. De acordo com os detratores, isso significaria um apoio ao Partido dos Trabalhadores (PT), do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, pela coincidência com a cor da legenda.

"Se alguém estranha minha roupa vermelha, saiba que a cor dos cardeais é o vermelho (sangue), simbolizando o amor à Igreja e a prontidão ao martírio, se preciso for. Deus abençoe a todos", escreveu ele.

Ainda na rede social, Scherer demonstrou preocupação com o atual momento político. "Tempos estranhos esses nossos! Conheço bastante a história. Às vezes, parece-me reviver os tempos da ascensão ao poder dos regimes totalitários, especialmente o fascismo. É preciso ter muita calma e discernimento nesta hora!", postou no mesmo dia.

Em entrevista à BBC News Brasil na quarta-feira (19/10), dom Odilo explicou como vê a cena política atual. "Os ânimos estão muito acirrados. Há um envolvimento muito claro, eu diria assim, com as religiões. As igrejas, sobretudo as cristãs, foram arrastadas para dentro do debate. Não só do debate, o que seria legítimo, mas para a briga política."

Na visão do cardeal, há sinais de fascismo na cultura brasileira atual. "É uma doutrinação, eu diria até mesmo, de ideias fascistas ou fascistoides, que agora se expressam de alguma forma dentro dessa polarização política", afirma, citando o exemplo do debate político em que candidatos são retratados como "o bem" e "o mal".

"Existem claramente causas em que precisamos ter uma definição: não podemos ser mais ou menos a favor da vida, mais ou menos a favor da justiça; a gente precisa ser a favor. Porém, isso não nos deve levar a demonizar quem pensa diferente ou quem tenha argumentos diferentes".

 

Dom Odilo vê riscos para a democracia do Brasil, mas diz esperar que ela resista. "Tem havido manifestações, não agora simplesmente neste momento, mas de mais tempo para cá que apontam para esse risco. Por exemplo, o questionamento das instituições. Não um questionamento qualquer, mas uma forma de ameaça às instituições democráticas", afirma.

"Isso, sim, indica um risco, um risco para as instituições democráticas. Mas eu espero que isso não aconteça. O Brasil tem resistido a essas, digamos, ameaças. Creio que nossa democracia aguentou bastante e vai aguentar também essa. E vai se sair melhor."

Ao longo de toda a conversa, Scherer demonstrou um especial cuidado em não mencionar, nominalmente, nem o candidato a reeleição Jair Bolsonaro (PL), nem o seu oponente, Lula. "Os clérigos, aí me refiro aos diáconos, aos padres, aos bispos, eles devem se abster de expressar opção partidária e até mesmo por candidatos."

 

Edison Veiga entrevista dom Odilo Scherer

 

BBC News Brasil - Nos últimos dez dias, observamos uma série de acontecimentos de natureza político-partidária no meio da Igreja Católica. Houve a confusão quando a comitiva de Bolsonaro esteve na Basílica de Aparecida, no dia 12 de outubro, missas interrompidas por manifestações partidárias e, no último domingo, o senhor foi atacado porque demonstrou preocupação com acirramento dos ânimos no contexto eleitoral. O que está acontecendo com os cristãos brasileiros?

Dom Odilo Scherer - Estamos em campanha eleitoral, este é o contexto. E o que está acontecendo é que os cristãos acabaram sendo envolvidos na polarização político-ideológica que é geral, que não é só brasileira, e isso está se expressando agora de maneira toda especial na proximidade do segundo turno das eleições presidenciais. Os ânimos estão muito acirrados. Há um envolvimento muito claro, eu diria assim, com as religiões. As igrejas, sobretudo as cristãs, foram arrastadas para dentro do debate. Não só do debate, o que seria legítimo, mas para a briga política.

 

BBC News Brasil - No Twitter, o senhor citou uma preocupação como avanço do fascismo no Brasil. Que setores fascistas seriam esses? O que seria esse avanço?

Scherer - Existem sinais, que não são de agora, naturalmente, que vêm de mais tempo, de certa tendência fascista, sim, que está na cultura. É uma doutrinação, eu diria até mesmo, de ideias fascistas ou fascistoides, que agora se expressam de alguma forma dentro dessa polarização política. Isso se expressa de forma muito especial nessa absolutização de um pensamento sem permitir interlocução serena com quem pensa diferente. Essa absolutização é configurada como luta entre "o bem" e "o mal", de modo genérico, e como tal se apresenta alguém que é detentor ou identificado como aquele que é promotor "do bem" e outro identificado como o promotor "do mal". E quem adere politicamente ao que promove "o bem" é tido como "do bem". E quem é identificado como apoiador de quem supostamente promove "o mal" é tido como "do mal".

Isso é absurdo. O próprio papa Francisco tem dito que o bem não está todo de um lado nem o mal está todo de um lado. A coisa não é tão simples nem tão clara, tão preto no branco. Existem claramente causas em que precisamos ter uma definição: não podemos ser mais ou menos a favor da vida, mais ou menos a favor da justiça; a gente precisa ser a favor. Porém, isso não nos deve levar a demonizar quem pensa diferente ou quem tenha argumentos diferentes e levar à instrumentalização das massas em função do pensamento, digamos, ideológico e, claro, com o objetivo de alcançar o poder, tornar as massas irrefletidamente fanáticas em torno de uma proposta ou de um determinado projeto.

Isso claramente não está dentro do esquema democrático, está indicando mais para regimes totalitários do que para sistemas democráticos, abertos, que aceitam o contraditório e que aceitam conviver com o plural, sem a pretensão de eliminar, pelo menos culturalmente ou idealmente, quem pensa diferente. Nossa sociedade é pluralista em todos os aspectos, temos de reconhecer e aceitar. A manipulação da religião é o que está acontecendo muito fortemente. A meu ver este é um fator preocupante.

O que se queria evitar de nossa parte, pelo menos da parte da Igreja Católica, acabou acontecendo: o envolvimento mais explícito, até mesmo de clérigos, que devem se abster. Isso não significa que o povo católico não tenha posição política, partido, candidato… Claramente, é um direito do povo católico fazer isso. Mas os clérigos, aí me refiro aos diáconos, aos padres, aos bispos, eles devem se abster de expressar opção partidária e até mesmo por candidatos. Isso é da norma da Igreja, porque divide a comunidade. Temos de promover a comunhão da comunidade na sua pluralidade e não podemos pôr a perder valores maiores por causa de uma disputa política.

 
 

BBC News Brasil - A manifestação partidária de clérigos é inclusive proibida pelo Código de Direito Canônico, certo?

Scherer - Sim. É contrário às normas da Igreja.

 

BBC News Brasil - E o que vem sendo feito, no caso da sua arquidiocese, para coibir ou punir casos de padres e bispos que estejam se manifestando a favor de algum candidato?

Scherer - As coisas estão acontecendo. Depois de acontecidas, a gente vai resolver o que faz. Naturalmente, estamos no fervor dos fatos, mas isso merecerá claramente uma reflexão de nossa parte, na medida que estiver em nosso alcance. A gente está tentando justamente controlar isso, mas, claramente, fugiu do controle.

 

BBC News Brasil - Existe punição prevista para casos assim?

Scherer - O uso [político-partidário] da palavra na igreja, no púlpito, na hora da celebração é proibido, até pela lei [eleitoral] brasileira. E, portanto, tem sim, sanções canônicas que podem ser de uma censura até de uma suspensão se o caso for para tal.

 

BBC News Brasil - Os casos concretos ainda serão analisados?

Scherer - Claro, os canonistas precisam olhar claramente. Mas, no momento, não estamos, porque, claramente, o assunto ainda está acontecendo. Não tem como fazer isso agora… Esta iniciativa será tarefa para depois.

 

BBC News Brasil - No mês passado, o senhor esteve no Vaticano com o papa Francisco. Ele demonstrou alguma preocupação com o período eleitoral brasileiro?

Scherer - Certamente o papa está muito informado sobre o que vem acontecendo em todo o mundo e, portanto, antes que nós falássemos, ele já sabia. Está acompanhando o que está acontecendo com o Brasil. Isso foi assunto também de nossa conversa com o papa em nossa visita a ele.

 

BBC News Brasil - Algo de concreto dessa conversa pode ser tornado público?

Odilo Scherer - Não há nada de especial a não ser informações sobre o que se passa na campanha eleitoral, sobre as tendências que estão presentes e como o povo católico está se posicionando… Essas questões…

 

BBC News Brasil - Voltando à questão de que os padres não podem se manifestar partidariamente: em um contexto em que determinados religiosos estão pedindo votos abertamente, quem fica em silêncio não pode dar a entender que toda a Igreja está fechada com determinado candidato? Qual a postura mais adequada, então, nesse caso específico?

Scherer - Permanece válido o que a Igreja continua a dizer. Infelizmente, nem sempre isso é observado. No calor da campanha eleitoral, muitas vezes se esquece essa recomendação, que não é só uma recomendação, para os padres. Agora, a Igreja não deve ser identificada somente como os clérigos. A Igreja é o povo. E o povo tem o direito e até o dever de participação política, partidária, de se manifestar em favor de candidatos. Isso está no pleno direito do povo católico. São os clérigos — os diáconos, os padres e os bispos — que não devem, para não dividir a comunidade.

 

BBC News Brasil - Em períodos eleitorais, acabam sendo explorados com mais força alguns temas que são caros à doutrina católica, como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Como tratar disso?

Scherer - Nas igrejas, essas temas são tratados como temas morais, e, naturalmente, a posição da Igreja em relação a eles é conhecida. E, mesmo em tempo de campanha eleitoral, nada impede que se trate e continue a tratar desses temas, que são temas morais, não são temas políticos em primeiro plano. Claro que, no tempo da campanha eleitoral, acabam sendo politizados, o que é uma pena. Pareceria que quem ganha a eleição então ganha a posição política em relação a determinado tema. Não, os valores morais são universais, não são valores de partido ou de governo. São valores universais que devem valer para todos os partidos, independentemente de quem ganha a eleição.

Por isso, é uma pena que se faça politização de valores morais. Esses deveriam valer para todos, e não simplesmente serem trazidos para a campanha político-partidária. Mas é inevitável que isso aconteça. Então, ao se falar de valores e posições da Igreja em relação a valores morais, nem por isso a Igreja está fazendo campanha partidária. Está falando de suas convicções e de sua doutrina, e isso vale tanto para clérigos quanto para leigos.

 
 

BBC News Brasil - Mas há alguma orientação aos católicos, no sentido dos valores morais, para ajudar a nortear a escolha dos candidatos?

Scherer - Como em tudo, a moral não se impõe. Ela se propõe. Como uma questão de princípio. E cada um deve escolher, em sua consciência, e aderir a esses valores em consciência e depois responder em consciência, diante de si, diante dos outros e diante de DEus.

 

BBC News Brasil - O posicionamento da Igreja é o mesmo quando a gente coloca a questão do armamentismo?

Scherer - Certamente. Esta também é uma questão moral, sim.

 

BBC News Brasil - Muitos cristãos que defendem o porte de armas acabam citando uma passagem do evangelho de Lucas, onde Jesus orienta seus seguidores a venderem suas capas e comprarem uma espada. Como explicar esta passagem à luz do atual debate?

Scherer - Tem que estudar melhor o significado dessa expressão no contexto do Evangelho. Jesus não justifica de forma nenhuma o armamentismo com isso. Jesus, naquele momento, fala da força interior que se deve ter para testemunhar em favor da fé, do Reino de Deus que ele está trazendo e convidando a aderir. Jesus não está convidando ninguém a fazer guerra contra os outros.

 

BBC News Brasil - Por que a pauta religiosa se tornou tão preponderante neste ano eleitoral?

Scherer - Na verdade, ela aparecia antes também. Mas acredito, interpretação minha, que é porque o uso da religião, do nome de Deus e assim por diante é muito frequente por parte de um dos candidatos. Isso é público e é conhecido. E isso se tornou argumento da campanha eleitoral.

 

BBC News Brasil - Este mesmo candidato, que o senhor não cita nominalmente, insiste que há uma perseguição a cristãos no Brasil. O senhor concorda?

Scherer - Existe, de fato, sim. Ultimamente, tem aparecido. Até na Basílica de Aparecida, houve uma forma de desrespeito ao momento religioso, ao momento de culto dentro da Basílica [aqui, Scherer se refere aos apoiadores do candidato à reeleição Jair Bolsonaro que causaram confusão durante as celebrações de Nossa Senhora Aparecida no feriado alusivo a ela, no último dia 12]. Há outros momentos em que pessoas interrompem missas para provocar ou, então, criar arruaça dentro da celebração. Isso são manifestações de intolerância, se não são de perseguição. São de intolerância. E a intolerância é muito preocupante. Por isso mesmo é perigoso tornar a religião de alguma forma instrumento de busca do poder e argumentar com base em argumentos religiosos para conseguir o voto das pessoas. Isso é perigoso e pode desencadear consequências incontroláveis depois.

 

BBC News Brasil - Consequências incontroláveis? O senhor enxerga algum risco para a democracia no Brasil?

Scherer - Tem havido manifestações, não agora simplesmente neste momento, mas de mais tempo para cá que apontam para esse risco. Por exemplo, o questionamento das instituições. Não um questionamento qualquer, mas uma forma de ameaça às instituições democráticas. Um poder contra outro poder. Ou até pretender ter um controle total sobre o Judiciário, por exemplo. Isso, sim, indica um risco para as instituições democráticas. Mas eu espero que não aconteça. O Brasil tem resistido a essas, digamos, ameaças. Creio que nossa democracia aguentou bastante e vai aguentar também essa. E vai se sair melhor.

 

BBC News Brasil - Qual o papel da Igreja Católica na contribuição ao fortalecimento desse processo democrático?

Scherer - Primeiramente, a Igreja tem um papel próprio. Não é um papel político-partidário. A Igreja, e aí também a Conferência dos Bispos [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB], não é um partido, não é uma facção a favor ou contra o governo. A Igreja é povo. E, na Igreja, existem pessoas de várias cores partidárias, legitimamente. A Igreja, por isso mesmo, é inclusiva. Não é seletiva de ideologias ou de partidos, de posições partidárias. A Igreja está no meio do povo, é o povo. É dos que aderem a ela e estão batizados, portanto, fazem parte dela. Por isso, a Igreja está na sociedade, é parte dela, e, através da ação da Igreja, ela procura educar — a palavra parece meio inadequada neste contexto, mas o trabalho de evangelização é, sim, um trabalho de formação das pessoas em função de valores, de reconhecimento do próximo e da dignidade humana, dos valores de justiça e retidão. Este é o papel formador que a Igreja tem na sociedade.

A Igreja, através de suas múltiplas formas de presença, está na sociedade como colaboração. Ela não substitui nem a sociedade nem o governo. A Igreja não é uma coisa separada da sociedade, está dentro da sociedade, com creches, hospitais, escolas, com inúmeras iniciativas de presença junto aos pobres, doentes, etc. Então, dessas formas, a Igreja está colaborando, contribuindo para uma vida melhor na sociedade. Com o governo, a Igreja está disponível para colaboração naquilo que é legítimo e possível. E aí não tem o governo A ou B. Com qualquer governo, quando isso seja possível e coerente com aquilo que é a sua convicção.

 

BBC News Brasil - E qual o papel da Igreja no período eleitoral?

Scherer - A Igreja tem dado orientações quanto a parâmetros, balizas que devem orientar a busca do voto, ou então a quem dar o voto. A escolha dos candidatos, quais os critérios que, segundo a convicção da Igreja, deveriam ser levados em consideração na escolha. Isso a Igreja faz, tem feito.

Damos, naturalmente, critérios que possam ajudar os cristãos que queiram ter referências. E o povo espera isso, pede, quer referências para a escolha dos candidatos. Claro que o povo queria muitas vezes ouvir "vote em A", "vote em B". Normalmente, não fazemos isso, porque a gente sabe que a nossa indicação já introduziria a divisão na comunidade. Oferecemos critérios pelos quais as pessoas devem se orientar. São aqueles que normalmente já são conhecidos. Primeiramente, olhar a capacidade, a idoneidade moral do candidato que se apresente. Depois a sua, diria assim, sua ficha, seu histórico, se ele merece a nossa confiança, se ele representa nossas convicções.

Depois, por outro lado, claro, aquele programa que ele tem ou defende, ele ou o partido ou o conjunto de partidos. Esse programa vai bem? Ele contraria nossas convicções? São essas coisas que a gente propõe normalmente. Além de ter oferecido critérios que, esperamos, tenham todos, agora a gente está fazendo o papel de acalmar os ânimos. Para evitar que, no calor da campanha, se produzam lacerações nas relações sociais, humanas e até mesmo dentro das famílias, comunidades cristãs que, depois, dificilmente serão superadas.

Entendemos que há valores que vão além de uma campanha eleitoral. Claro que, em uma campanha, temos muitas coisas em jogo e muitas coisas apreciáveis. Porém, depois da eleição, temos de continuar vivendo, temos de continuar a viver juntos. E só um pode ganhar. Quem ganha deve governar, e esperamos que governe bem. E quem perde vai para a oposição, que controle quem governa e faça seu papel. Por outro lado, é preciso compreender que, no Brasil, temos um regime democrático, republicano, presidencialista. Não somos parlamentaristas e muito menos imperial, portanto o presidente não pode tudo. O presidente não governa de maneira absoluta, e nem queremos que governe de maneira absoluta. Tem de levar em conta os outros dois poderes, o Congresso e o Judiciário. E levar em conta a população. O grande poder é o povo, e o próprio povo deve controlar quem governa, em todas as instâncias e acompanhar as ações do governo e ver se estão de acordo com aquilo que o povo pretende. Que o povo se manifeste também depois das eleições. Nosso voto é apenas uma parte do processo político. Nossa participação política não termina na urna. Ela continua depois, ao longo de todo o governo.

 

BBC News Brasil - Quando o senhor diz "nossa participação", inclui também a Igreja como instituição?

Scherer - Exatamente, o papel político dos organismos da Igreja é legítimo, não é negado. Ele é previsto e reconhecido pelas instituições da sociedade. Gostaria de acrescentar uma palavra que o papa Francisco tem usado e que se aplica bem ao período eleitoral: que os adversários não sejam considerados inimigos. Adversários políticos pensam diferentes. Mas não devem ser considerados inimigos, porque isso depois cria situações realmente não só constrangedoras, mas insuportáveis e insustentáveis. Deve prevalecer a amizade social, o respeito e a tolerância. E cada um que lute por aquilo que acredita. Esperamos que seja assim.

 

 

20
Out22

Cartilha de Orientação Política 2022

Talis Andrade

Cartilha de Orientação Política 2022 é inspirada na encíclica Fratelli  Tutti | Diopuava

Neste ano, a Cartilha possui uma característica original, pois está embasada no pensamento do Papa Francisco quanto à política, expresso na sua mais recente encíclica social: “Fratelli Tutti – Sobre a fraternidade e a amizade social”. No documento, o Papa dedica um capítulo inteiro à política, ao qual intitula “A política melhor”.

Para a produção dessa Cartilha de Orientação Política, o Regional Sul 2 contou com uma comissão, composta pela assessoria política da CNBB, por bispos, padres e leigos peritos em várias áreas do conhecimento e da comunicação. Todas as etapas da produção, desde a escolha dos temas e da capa, até a assessoria para os conteúdos e a revisão do texto e diagramação foram acompanhadas por essa equipe.

A capa da Cartilha foi desenvolvida pelo designer gráfico Hélder de Castro. Ele trabalhou o conceito de que “o altar dos leigos é o mundo” (Cf. Evangelii Gaudium, 102), mostrando pessoas de várias faixas etárias, em diferentes áreas de atuação: política, educação, saúde, comunicação, economia, segurança, agricultura, esportes e vários tipos de trabalho. Além disso, sobre o mapa está a urna eletrônica, que representa a democracia, e uma Bíblia, que representa a dimensão da fé cristã.

A cor verde, predominante em toda capa, foi escolhida por remeter à esperança e à vida. Além disso, é a cor que representa a natureza e um dos temas propostos na cartilha é a ecologia integral.

A cartilha tem 24 páginas, é colorida, possui imagens, ilustrações e indicações para vídeos, por meio de QR Codes. O conteúdo é apresentado de forma didática, com uma linguagem simples e de fácil compreensão. Ao final de cada um dos três blocos, são propostas duas questões para o diálogo em pequenos grupos.

Confira mais informações sobre a Cartilha nas redes sociais da Diocese:

Instagram: https://www.instagram.com/p/Cjs_CXrpj...

Facebook: https://www.facebook.com/comunicacaod...

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