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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

11
Out21

O vídeo com Marcos do Val obriga a CPI da Covid a reconvocar Carlos Wizard a depor

Talis Andrade

RETRATO DE CARLOS WIZARD MARTINS

Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil; Folhapress

 

Reunião secreta revela que o gabinete paralelo do Ministério da Saúde não era informal, mas organizado e com amplo acesso à alta cúpula do governo, inclusive ao presidente

 
 
por João Filho /The Intercept

 

EM JUNHO deste ano, a CPI da Covid recebeu um vídeo que confirmou a suspeita dos senadores sobre a existência de um Ministério da Saúde não oficial, que ficou conhecido como gabinete paralelo. Nele, é possível ver Bolsonaro em uma reunião com Osmar Terra e outros médicos negacionistas defendendo o tratamento precoce com remédios comprovadamente ineficazes contra covid.

Lá também estava o biólogo negacionista Paolo Zanotto, grande amigo de Jair Bolsonaro e contra a vacinação em massa. No vídeo, Zanotto fala abertamente sobre o gabinete paralelo, o qual ele chama de “shadow board” e coloca em dúvidas a eficácia da vacinação — contrariando todas as evidências científicas. As imagens da reunião deixaram claro porque Pazuello foi negligente no processo de compra das vacinas. Ele não era o ministro de fato, mas uma marionete comandada pelas decisões desse gabinete paralelo.

No mês passado, apareceu mais um vídeo do gabinete paralelo. Dessa vez, Zanotto aparece em uma reunião online com Pedro Batista Jr., diretor-executivo da Prevent Senior. A conversa entre os dois deixou claro que o protocolo macabro idealizado pela Prevent Senior para aplicar os medicamentos do kit covid em pacientes era de conhecimento do governo federal. O gabinete paralelo não só sabia que a Prevent Senior tratava pacientes como cobaias humanas como acompanhou de perto os experimentos.

Nesta semana, o Intercept publicou um outro vídeo que traz novos elementos sobre o gabinete paralelo. As imagens mostram uma reunião online secreta em junho deste ano comandada pelo empresário Carlos Wizard. Wizard é aquele bilionário bolsonarista que fugiu da CPI como o diabo foge da cruz, e quando finalmente apareceu, preferiu se esconder atrás da Bíblia e fazer proselitismo religioso.

O empresário carola teve a oportunidade de demonstrar sua inocência na CPI, mas preferiu se proteger atrás de um habeas corpus. O silêncio soou como um berro de confissão de culpa. Se ele ficou quieto na CPI para não se incriminar, no escurinho da reunião secreta ele era o mais falante e atuava claramente como um coordenador das ações negacionistas do gabinete paralelo.

No vídeo, Wizard parece atuar como um diretor-executivo do gabinete das sombras. Médicos representantes de 27 estados participaram da reunião. Entre eles estava Emmanuel Fortes, um dos vice-presidentes do Conselho Federal de Medicina, o CFM. Suas declarações no vídeo confirmam que a entidade trabalha 100% alinhada ao governo na implementação do tratamento precoce em massa. Fortes chegou a dizer na reunião que é “mais seguro” para médicos receitar do que não receitar a cloroquina — o que, já naquele momento, contrariava todas as evidências científicas.

O médico nunca escondeu sua admiração por Jair Bolsonaro. Pelo contrário, fez questão de demonstrar isso ao publicar uma foto ao lado do presidente em suas redes sociais em março deste ano. O vice-presidente do CFM aproveitou a postagem para tecer elogios e prometer fidelidade ao genocida em suas redes sociais: “Estive em solenidade onde estava o presidente Bolsonaro e aproveitei para fazer o registro e declarar que continuo confiando em seu governo”. E completou prometendo apoio à sua reeleição e contando uma série de mentiras sobre a atuação do presidente na presidência: “Estarei consigo em 2022 porque, nesses últimos trinta anos foi o presidente que mais investiu em construir a infraestrutura em normativos, leis, decretos, portarias e programas para efetivamente termos políticas de estado, não políticas de governo”.

A presença de Fortes nessa reunião e em diversas outras lives públicas com médicos negacionistas do Médicos pela Vida demonstram como o CFM investiu diretamente no impulsionamento das mentiras sobre o kit covid.

Emmanuel Fortes ao lado do presidente Jair Bolsonaro, para quem fez campanha em 2018.

 

Outra figura importante da tropa de choque negacionista é o senador Marcos do Val, do Podemos do Espírito Santo. Ele, que é integrante da CPI da Covid, aparece no vídeo dizendo que trabalha para convencer autoridades sobre a eficácia do kit covid e organizar a sua distribuição. Na reunião fica claro que Do Val atuava como um dos braços políticos do esquema negacionista. Ele revelou ter tratado do assunto com políticos, militares e integrantes do Ministério Público.

Do Val era uma espécie de faz-tudo do gabinete paralelo para ajudar a promover medicamentos comprovadamente ineficazes. No vídeo, Wizard apresenta o senador como um representante do grupo “seja diante do Ministério Público, seja diante de alguma questão com a Anvisa, seja diante do Exército (…) seja alguma intermediação com o seu governador, com o prefeito local”. Ou seja, temos um senador bolsonarista atuando como lobista dos interesses de um gabinete que é objeto de investigação da CPI, da qual ele é membro.

O “padrinho” do gabinete paralelo atuava dos dois lados do balcão, fingindo investigar o grupo para o qual trabalhava com afinco. Trata-se de um escândalo por si só.

Durante o depoimento de Wizard na CPI, o senador mentiu ao dizer que o gabinete nunca lhe pediu alguma coisa. Já no depoimento do deputado Luis Miranda, em que ficou demonstrada a prevaricação do presidente diante de uma denúncia de corrupção no Ministério da Saúde, Do Val levantou-se da cadeira e o empurrou como um cão de guarda do bolsonarismo.

 

Mas ninguém pode se dizer surpreso com a desfaçatez da atitude do senador. Ele é o cara que se elegeu na onda do bolsonarismo depois que conquistou milhões de seguidores nas redes sociais se vendendo como um ex-policial da Swat sem nunca ter sido um policial da Swat. Do Val nem policial é. É um professor de taekwondo que deu treinamentos de imobilizações táticas para a polícia americana.

 

Teve algum destaque no Senado como relator na Comissão de Constituição e Justiça do pacote anticrime proposto pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro. Graças à sua atuação na defesa da flexibilização de armas nessa CCJ, ele foi condecorado pelo presidente da República com a Ordem do Mérito da Defesa. Entidades da sociedade civil apontaram conflito de interesses pelo fato do senador ter um histórico de relacionamento com a Taurus, fabricante de armas. Do Val é também aquele senador que demitiu a namorada do seu próprio gabinete para que ela pudesse ser recontratada graças à ajuda de “amigos do Senado” que lhe deram um cargo na Diretoria-Geral do Senado, onde passou a receber um salário maior.

Então ficamos assim: a tropa de choque do Ministério da Saúde paralelo era liderado por um bilionário bolsonarista, protegido politicamente por um senador bolsonarista e contava com o apoio de um médico bolsonarista integrante do CFM — e mais um punhado de médicos que flertam com o charlatanismo. O “”Conselho Científico Independente” — nome eufemístico que Wizard deu para o gabinete negacionista — tinha largo acesso às principais figuras do governo, inclusive ao presidente da República, e contava com grande espaço na estatal TV Brasil para boicotar as vacinas e difundir um tratamento comprovadamente ineficaz.

vacinação vista por bolsonaro.jpeg

 

Enquanto estendia o tapete vermelho para a picaretagem, o governo federal dava um perdido na Pfizer e boicotava a compra de vacinas. Quantas mortes podem ser colocadas na conta de um gabinete que trabalhou contra um medicamento que salva-vidas de pacientes com covid e investiu pesado em outros que comprovadamente não salvam? Quantas vidas seriam poupadas se esse gabinete paralelo não tivesse se mobilizado para difundir o protocolo macabro da Prevent Senior à revelia da ciência?

Hoje, depois de todas as provas divulgadas pela imprensa e pela CPI, dizer que houve um genocídio comandando pelo governo Bolsonaro e sua tropa de choque é a mera constatação de um fato. Mas, se a CPI ainda quiser mais provas, bem poderia reconvocar o falante Carlos Wizard para se sentar no banco dos depoentes.

MAIS VÍDEOS

 

Nos EUA, rede de saúde de direita ganha milhões com kit covid de hidroxicloroquina e ivermectina

 
03
Out21

“Pacto da cloroquina” explica por que médicos bolsonaristas odeiam colegas cubanos

Talis Andrade

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por Cynara Menezes /Socialista Morena

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Médicos de Cuba fizeram um pacto secreto para promover um medicamento ineficaz contra o coronavírus e assim beneficiar o governo do país, gerando na população a falsa impressão de que a pandemia estava sob controle, às custas das mortes de centenas de milhares de pessoas. Isso te deixou indignado? Agora troque por “médicos do Brasil”, porque foi isso que aconteceu, segundo o depoimento à CPI do Genocídio da advogada Bruna Morato, que representa 12 profissionais da operadora de saúde Prevent Senior.

 

De acordo com Bruna, seus clientes foram constrangidos pela Prevent Senior a utilizarem nos pacientes o “kit Covid”, coquetel de remédios comprovadamente ineficazes para combater a doença, sob orientação do “gabinete paralelo” do governo.

Existia um conjunto de médicos assessorando o governo federal e esse conjunto de médicos estava totalmente alinhado com o ministério da Economia”, contou a advogada. “O que me explicaram foi que existe um interesse do ministério da Economia para que o país não pare. E se nós entrarmos nesse sistema de lockdown teremos um abalo econômico muito grande. Então existia um plano para que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo.”

Os médicos envolvidos foram citados nominalmente por Bruna Morato: os bolsonaristas e negacionistas Anthony Wong (que teria morrido de Covid-19, mas a Prevent ocultou), Nise Yamaguchi e Paolo Zanotto, cada um deles com uma missão específica.

A “estratégia” que eles desenvolveram era “dar esperança para as pessoas irem às ruas, e essa esperança tinha um nome: hidroxicloroquina”, disse a advogada. “A Prevent Senior iria entrar para colaborar com essas pessoas, é como se fosse uma troca, o qual nós chamamos na denúncia de ‘pacto’, porque assim me foi dito. Alguns médicos descreveram como ‘aliança’, outros médicos descreveram como ‘pacto’.”

Randolfe Rodrigues 
ATENÇÃO! Informação importante: a advogada Bruna Morato, que representa os médicos da Prevent Senior, disse à CPI que a empresa fez “pacto” com médicos do gabinete paralelo que estariam alinhados com o Ministério da Economia. 

Bruna disse ainda que os médicos que se negavam a ministrar o “kit Covid” eram repreendidos publicamente, demitidos ou tinham seus plantões reduzidos. E os pacientes foram induzidos a assinar um termo que não era de consentimento quando recebiam os medicamentos, sem serem informados dos estudos desautorizando peremptoriamente o uso da hidroxicloroquina, da ivermectina e de outros remédios do “kit” para tratar a doença.

Traduzindo: por questões ideológicas e econômicas, médicos orientaram outros a utilizarem remédios que não funcionam em pacientes com Covid-19. Uau. Está explicado o ódio dos bolsonaristas pelos médicos cubanos. Elogiados pelo secretário-geral da ONU por seu trabalho humanitário, não há notícia de que os médicos cubanos tenham se curvado a um governo, rasgando o juramento de Hipócrates e deixando de salvar vidas, missão primordial da profissão.

Leonardo Rossatto
@nadanovonofront
A BRUNA MORATO EXPÔS UMA DENÚNCIA DE QUE A PREVENT SENIOR DIMINUIA DELIBERADAMENTE A OXIGENAÇÃO DOS PACIENTES APÓS 14 DIAS DE INTERNAÇÃO NA UTI PARA "LIBERAÇÃO DE LEITOS". ELES TRABALHAVAM COM O PRINCÍPIO DE QUE "ÓBITO TAMBÉM É ALTA". HOMICÍDIO SIMPLES ASSIM.
 
O ódio dos médicos de extrema direita aos colegas cubanos começou em 2013, quando a presidenta Dilma Rousseff lançou o programa Mais Médicos e importou profissionais da ilha para atuar nos lugares onde os brasileiros se recusavam a trabalhar (e depois que eles foram embora continuam a recusar, sobretudo nos distritos indígenas). Uma das cenas emblemáticas do período aconteceu em Fortaleza, na chegada do primeiro grupo de cubanos ao Brasil, quando médicos foram ao aeroporto hostilizar os colegas, com vaias e gritos de “volta pra senzala”.

 

Não por acaso, entre eles estava a médica Mayra Pinheiro, a “capitã cloroquina”, secretária de Gestão do Trabalho do ministério da Saúde de Jair Bolsonaro.

Lola Aronovich
@lolaescreva
Conheça a história da pediatra Mayra Pinheiro, a Capitã Cloroquina. Na foto de 2013, ela grita "Volta pra senzala" pra médico cubano q chegava ao aeroporto de Fortaleza. Ela foi candidata à dep fed (2014) e senadora pelo PSDB (2018), mas ñ se elegeu. Essa desgraça é do Ceará.
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Antes de assumir o cargo, Bolsonaro ofendeu tanto os médicos cubanos, duvidando inclusive de sua formação, que o governo da ilha decidiu, em novembro de 2018, chamar de volta os 8300 profissionais. O CFM (Conselho Federal de Medicina), bolsonarista de primeira hora e que tem apoiado todas as decisões absurdas do governo em relação à Covid-19, também combateu ferozmente o programa, uma das razões do ódio de classe ao PT que culminou no golpe contra Dilma, ao lado da PEC que garantiu direitos trabalhistas às empregadas domésticas. E sobre o “pacto da cloroquina”, o que dirá o CFM?

Se dedicar a salvar vidas deve mesmo gerar muito ódio em médicos que só pensam em ideologia, grana e poder. Ser um profissional de saúde comprometido com o bem estar e a vida das pessoas deve mesmo gerar muito ódio. Médico fazendo pacto para dar remédio que não funciona a paciente? Sem dúvida os cubanos jamais seriam cúmplices de atitudes criminosas assim.

 

01
Out21

Doentes atrapalham a economia

Talis Andrade

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por João Paulo Cunha

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Em meio a tantos absurdos que se somam a cada dia, foi revelado de forma quase natural a raiz de tanto horror no combate à pandemia pelo governo federal: doentes fazem mal à economia. 

Depois de uma sequência de inépcia, descaso, militarização, charlatanismo, falta de empatia, desprezo à ciência, crueldade, corrupção e outros crimes, a verdade final foi dita com todas as letras. Havia um pacto, uma aliança, uma estratégia ditada a partir da economia. Ou melhor, como foi explicitado, do Ministério da Economia. As digitais de Paulo Guedes não estão apenas nas planilhas dos péssimos números das finanças públicas, mas nas quase 600 mil vidas perdidas.

Todos devem se lembrar da antiga e insensata disputa apresentada entre a dimensão sanitária e econômica da pandemia. Parecia que havia se estabelecido um dilema entre sanitaristas e economistas, sobre a melhor forma de enfrentar a doença e suas consequências para a sociedade. Na falsa contraposição, um lado não se importava com as baixas para os negócios e empregos; o outro não tinha sensibilidade para a dor das famílias. O desprezo pelas ciências da vida se escorava numa preocupação com a vida material. Chegou-se a dizer que padeceríamos de mais mortes por desemprego e suicídio do que pelo vírus.

Na verdade, a divisão foi apresentada pelo governo federal como anistia para sua ação negacionista no combate à doença, que apostava na morte como saída biológica inevitável, travestida na ideia de imunidade coletiva ou de rebanho. Por isso não cabia investir em testes, vacinas, atendimentos e medidas não farmacológicas. Era só deixar a morte fazer seu trabalho saneador e suspirar um desumano: “e daí, todo mundo morre um dia”. Há um componente sadomasoquista no fascismo. De um lado, defende-se o extermínio dos fracos; de outro, submete-se ao poder como forma de se sentir próximo a ele. O fascista é antes de tudo um covarde.

O que vem sendo revelado nos últimos dias é mais grave e profundo. Não houve apenas uma abordagem equivocada em termos científicos, mas um plano traçado estrategicamente para que chegássemos aonde chegamos. As mortes por covid-19 não foram uma consequência, mas um instrumento utilizado com método. Além do Ministério da Saúde, foram convocados tanto alguns profissionais da área, como falsos profetas do tratamento precoce, como empresas e planos de saúde. A ordem foi dada: matem os brasileiros doentes porque eles fazem mal aos negócios. O comando foi assassino, mas travestido de liberalismo.

Progressão do terror

Frente a isso, a incompetência gerencial, a falta de uma política consequente e até os esquemas de corrupção traçados para a compra de vacinas, com toda sua gravidade, são ações de criminosos menores e até certo ponto medíocres. Há uma progressão de terror entre um burocrata, comerciante ou deputado que combina a compra de insumos com propina e um dirigente de plano de saúde que mata seus pacientes para fechar as contas e nutrir a falsa esperança de que está tudo bem e que já passou a hora de sair às ruas. No primeiro caso a morte é uma consequência hedionda, no segundo é o motivador da ação.

O que a CPI da covid revelou nos últimos dias, com os procedimentos experimentais que só encontram paralelo no nazismo, praticados pela Prevent Senior, além de estarrecedor é metódico. E coletivo, já que defendidos, entre outros, por Nise Yamaguchi e Paolo Zanotto (e até Anthony Wong, mártir da própria infâmia) e financiado por empresários como Luciano Hang. 

O que foi feito, às custas da vida de pessoas que pagaram para receber atenção, é exatamente o cumprimento do que foi chamado de “pacto”, a partir de uma demanda do Ministério da Economia. Vale tudo no campo sanitário para devolver a dinâmica dos negócios e fazer girar a roda da economia, dos tratamentos ineficazes à falsa sensação de segurança conferida por eles. De quebra, se abre uma franja de oportunidades para empresários inescrupulosos dispostos a lucrar com a pandemia.

No entanto, não se trata apenas de um projeto genocida para salvar a vida material, mas de um programa que visava também aumentar os ganhos da operadora disposta a levar esse alinhamento à frente. Um prêmio macabro pela subserviência ao poder e indigência ética na condução de seu negócio. Em outras palavras, além de contribuir para o propósito de criar uma impressão de normalidade para empurrar as pessoas para as ruas e o contágio, a Prevent Senior agia em nome de seus próprios interesses econômicos.

Em primeiro lugar, apresentando-se como opção de baixo custo para seus clientes. Em seguida, pela busca de protagonismo em protocolos que utilizavam tecnologias e medicamentos ineficazes e perigosos. Para isso, criou falsos procedimentos de pesquisa, deturpou dados e pretendia se lançar como alternativa assistencial reconhecida mundialmente. Para levar adiante esse projeto, usou pacientes como cobaias, encurtou tratamentos e tirou pacientes graves de respiradores. Há uma relação entre a morte e a liberação de leitos.

Não se sabe onde se localiza a maior desumanidade, se na obediência aos interesses de Guedes e do mercado ou na deturpação da assistência para garantir corte de custos. Nos dois casos, o imperativo da economia era apresentado como um valor e os doentes, sobretudo os mais graves, como um problema a ser retirado do horizonte. Valia tudo: falsear dados de pesquisas, retirar diagnósticos do prontuário, deslocar pacientes da UTI para unidades paliativas sem informação aos responsáveis, fornecer medicamentos inservíveis como alternativa para famílias desesperadas, ameaçar médicos e outros profissionais que não concordassem com a farsa. Falsificar atestados de óbito e praticar eutanásia.

Horror

Como relatou a advogada dos médicos da empresa, Bruna Morato, havia uma aliança direta entre os interesses do Ministério da Economia e a empresa, para que o país “não parasse”. Os profissionais que compuseram o gabinete paralelo, muitos deles com passagens pelo plano de saúde e sedentos de poder e cargos, garantiram que o plano para fazer a economia seguir sem percalços tinha respaldo em decisões técnicas, o que não era verdade e deixava a cada dia um rastro maior de mortes e sofrimento.

O alinhamento entre a economia e a política de saúde executada pelo governo federal, com contribuição criminosa de alguns profissionais ambiciosos e empresas deformadas moralmente, não tem outro nome: horror. Não é incompetência, ganância ou negacionismo. Vai além da política pública, sobrepuja a corrupção, está muito distante da mera ignorância. É um pacto com o mal, no sentido mais profundo da expressão. Não é possível ir mais baixo na escala humana.Image

O que pode acontecer com a Prevent Senior?

 
 
01
Out21

A Wannsee brasileira e seu programa de extermínio

Talis Andrade

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por Alexandre Aragão de Albuquerque

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A Conferência de Wannsee consistiu num jantar, realizado nos arredores de Berlim, com membros superiores do governo nazista alemão juntamente com líderes das SS, organização miliciana, sob a chefia de Heirinch Himmler (1929-1945), sendo a principal polícia paramilitar de vigilância e terror durante o período da Alemanha nazista. O objetivo da reunião era o de coordenar todos os esforços dos chefes dos ministérios do governo e de seus servidores na implementação da Solução Final pela qual grande parte dos judeus das regiões europeias invadidas pela Alemanha seria deportada para os campos de concentração na Polônia para serem eliminados em massa.

A primeira grande dúvida apresentada pelos participantes girou em torno de qual tratamento deveria ser dispensado àqueles que não eram 100% judeus: deveriam ser mortos ou apenas esterilizados? A segunda questão centrou-se na definição de quais métodos de matar seriam utilizados para o genocídio. A reunião não durou mais que uma hora e meia; depois que foram servidos drinques e todo mundo almoçou, ficou decidido que 11 milhões de judeus tinham de ser assassinados. (ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém. Companhia das Letras, 1999, 16ª. impressão).

Ontem, a CPI da Covid, instalada no Senado Federal, cumprindo um papel histórico de desvelamento da realidade obliterada pela orquestração da estrutura de poder que assaltou o país desde o Golpe de 2016 (Temer, PSDB, PMDB, Mídia, Militares, Judiciário, Capital, Religião e EUA), tornou público, por meio do histórico depoimento da advogada Bruna Morato, a permissão que a Prevent Senior tinha para matar, em nome de uma orquestração nefasta desenvolvida no seio de setores do governo bolsonarista.

A advogada afirmou que os administradores e médicos da cúpula da operadora de saúde se sentiam seguros para utilizar seus protocolos de morte, cientes de que não seriam fiscalizados pelo Ministério da Saúde, sob o comando do General Pazzuelo. De acordo com ela, existia um pacto, intermediado pelo Gabinete Paralelo (Nise Yamagushi, Paolo Zanoto, Anthony Wong, entre outros médicos) pelo qual a seguradora poderia implementar suas experiências com medicamentos ineficazes, que  nos casos de aplicação em pacientes idosos eram repetidamente letais. Em 20 de maio de 2020, a doutora Mayra Pinheiro (PSDB-CE), que continua ainda hoje como secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde, apresentou uma nota informativa pela qual fazia recomendações sobre o uso da hidroxicloroquina. Neste mesmo período, o maior garoto-propaganda do tratamento precoce era Jair Bolsonaro. Mayra Pinheiro citou a Prevent Senior como se fosse um “case” de sucesso. Portanto, a Prevent Senior estava no centro das artimanhas concertadas pelo poder. (https://www.brasildefato.com.br/2021/09/28/prevent-senior-tinha-permissao-para-matar-em-nome-de-formula-milagrosa-diz-senador).

O senador Rogério de Carvalho (PT-SE), membro da CPI, resumiu o depoimento da seguinte forma: “Estamos falando de homicídio abertamente. A Prevent Senior tinha autorização do governo, tinha autorização do Conselho Federal de Medicina, autorização do Ministério da Saúde, tinha autorização para matar em nome de uma “fórmula milagrosa” para apresentar à sociedade a fim de ela retornar ao trabalho”, como, por exemplo, defenderam desde o início Paulo Guedes e Jair Bolsonaro.

Em meio a toda essa fetidez criminosa, recorde-se que, em seu delírio de poder, o general do twitter, ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, em 11 de janeiro de 2019, sentiu-se empolgado para anunciar em discurso de despedida o “Novo Rio da História”, fundado, segundo ele, na conjugação de três linhas ideológicas de práxis autoritária: o fascismo bolsonarista, a persecução-jurídica morista e a força armada braganetista. Afirmou o general naquela ocasião: “a nação brasileira festeja os sentimentos coletivos que se desencadearam a partir da eleição de Bolsonaro”. Indaga-se: que sentimentos seriam? Os mesmos da Wannsee alemã? Sentimentos de extermínio da população brasileira?

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26
Set21

O dia em que Moro posou com uma camiseta da Prevent Senior

Talis Andrade

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O ex-juiz e parcial Sergio Moro já posou com uma camiseta da Prevent Senior, que pode responder por pelo menos três crimes: falsidade ideológica, omissão de notificação de doença e homicídio.

Em 2016, ainda no comando da Lava Jato, Moro recebeu uma camisa do São Paulo de presente. Ele posou com o uniforme em uma postagem nas redes sociais do falecido conselheiro Itagiba Francez Junior.

Na época, o tricolor paulista era patrocinado pela Prevent Senior. A empresa que está envolvida em diversas polémicas deu destaque ao brilho dos olhos de Moro.

Prevent Senior

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A CPI da Covid acredita que merece atenção a possível relação da Prevent com o governo Jair Bolsonaro. A apuração é a suspeita de o Ministério da Saúde ter usado um protocolo da operadora para incentivar a utilização do chamado “kit Covid”, com remédios ineficazes contra a doença.

Também afirmam que os novos fatos trazem mais uma vez para o foco a atuação do gabinete paralelo da pasta, grupo de médicos que assessorava informalmente o presidente da República a favor de tratamentos sem eficácia contra a Covid-19. O ponto de ligação entre a Prevent e o gabinete paralelo estaria principalmente nos médicos Nise Yamaguchi e Paolo Zanotto.

Moro com medo

Moro, por sua vez, parece que desistiu de vez de disputar as eleições 2022 para presidente. O ex-juiz está desanimado com o cenário político e com a rejeição que seu nome vem tendo em pesquisas recentes. A aliados, o ex-ministro de Bolsonaro já cravou que não se vê com chance.

Nanico nas pesquisas, o ex-chefe da Lava Jato desanimou. “Não tenho chances”, teria dito ele em um grupo de mensagens para seus apoiadores. Mesmo assim, ele aceitou vir ao Brasil hoje (23) para conversar sobre uma eventual candidatura.

As suspeitas que recaem sobre a pesquisa supostamente desenvolvida pela operadora
21
Jun21

A saúde e a lógica miliciana

Talis Andrade

 

por João Paulo Cunha /Brasil de Fato


O chamado gabinete paralelo da saúde já deixou de ser uma desconfiança a ser apurada pela CPI do Senado. É hoje um grupo reconhecido, consolidado, com hierarquia definida e poder de influência, formado por nomes que vão da ponta mais doentia do negacionismo científico aos propagadores de mentiras sem qualquer credencial de conhecimento.

Além de criar um descaminho perigoso para a política oficial de saúde, ele opera com o álibi de não passar pelo crivo das instituições, sejam elas de controle ou de prática profissional e validação científica. Um bando avulso, nem por isso menos perigoso.

Assim como as milícias assassinas atuam no vazio da política de segurança, o shadow cabinet bolsonarista leva para a saúde o mesmo método. Como patrono, nos dois casos, a morte. No caso da segurança pública, como objetivo principal; no terreno sanitário, como objeto de manipulação e temor.

Os milicianos se sustentam em torno da insegurança estrutural, ampliando a sensação de abandono e de descrença no poder público, oferecendo violência como solução para a violência. Em substituição aos comandos geridos por bandidos, a milícia profissional herda o cenário do crime e suas consequências, sob a gestão de profissionais. Tocam o terror e recolhem a grana.

Na saúde, parece que a coisa se sofistica um pouco mais, mas a mecânica é a mesma. Em primeiro lugar, a exacerbação do problema como resultado da falta de coragem do sistema em enfrentá-lo. Afinal, saúde sempre foi um caos e a saída são os planos e seguros privados. Além disso, incorpora-se ao discurso a fundamentação do SUS como obra de sanitaristas de esquerda, quando não de comunistas infiltrados via Cuba.

Como é impossível derrotar o sistema por dentro, o melhor é torpedear as estruturas públicas e montar uma operação nas sombras. Para tanto, o governo fez seu trabalho habitual: sabotou e desconstruiu o que funcionava.

Para isso, seguiu a cartilha destrutiva habitual do governo federal em todas as áreas da administração e do repertório de direitos. Cortou verbas, extinguiu ações de atenção básica e distribuição de medicamentos, dinamitou o Mais Médicos (com Mandetta à frente) e atacou programas humanizados como o de saúde mental.

Substituiu ministros em meio à pandemia pela recusa em utilizar drogas ineficientes e nomeou militares incompetentes para cargos importantes, inclusive o de ministro de Estado, com a calamitosa e mortífera gestão de Pazuello. Tudo isso sem chegar às antecâmaras da pandemia propriamente dita.

Como o combate à doença tem consenso planetário a partir da OMS e entre universidades, institutos de pesquisa e especialistas mais respeitados, era preciso romper com a lógica oficial para instituir um programa paralelo que não fosse alvo de repúdio internacional. Ou seja, jogar para a plateia enquanto sabota por trás.

O governo nunca enfrentou verdadeiramente a emergência sanitária, chegou a confrontar com outros países, como a China, mas precisava enviar um sinal mínimo de racionalidade para se manter no concerto das nações, mesmo com o desonroso título de pior programa de combate à pandemia em todo o mundo.

Mesmo fazendo tudo errado – deixando de testar, abrindo mão da oferta de vacinas, contribuindo por inépcia para a falta medicamentos para intubação e oxigênio, criando conflito entre instâncias de governo, investindo em drogas imprestáveis, incentivando aglomerações, desprezando orientações não farmacológicas, entre outros absurdos sanitários –, o governo federal precisava manter-se no jogo. Seu foco era mais o comércio internacional que a saúde da população.

Duas caras

Assim, criou-se uma situação de dupla face. A primeira, voltada para as conveniências, mesmo estúpida e destruidora em sua organização a partir do governo federal, mantém alguma relação com a saúde pública. O Ministério da Saúde segue atuando minimamente, as agências e órgãos públicos da área, com muita dificuldade, remam contra a maré do descaso da política oficial, governos estaduais e municipais correm por fora para impedir o colapso.

Está armado um péssimo programa nacional de combate à covid, que na verdade sequer chegou a ser oficialmente constituído.

Mas há uma segunda face, que abdica da oficialidade da política pública para disseminar o projeto que de fato alimenta a perspectiva do governo federal. Preocupado fundamentalmente com a economia e míope para entender que a normalidade só viria com as vacinas, Bolsonaro põe em ação seu plano assumidamente genocida: a única saída é espalhar a doença e a morte até que o limite do contágio impeça a circulação do vírus.

Entram em cena, então, as duas instâncias fundamentais do programa necrossanitário brasileiro: o desprezo à ciência e a indústria da mentira.

O gabinete paralelo é fruto desse projeto. Ele foi criado com o fim de sustentar as ações anticiência, o individualismo irresponsável, o incentivo ao retorno à situação pré-pandêmica para aquecimento da economia, o proselitismo da cura milagrosa, o charlatanismo de parte de corporações e militarização do setor.

Para isso, era preciso, como no caso da segurança pública, criar a sensação de profunda insegurança e apontar soluções drásticas que apostassem na defesa dos mais fortes contra a indigência dos fracos.

Por isso, nomes como Nise Yamaguchi, Paolo Zanotto, Osmar Terra, Arthur Weintraub e Carlos Wizard não fazem parte apenas do ministério paralelo, mas de uma força miliciana que se reúne, age e orienta o governo à margem da transparência, do controle público e das normas constitucionais. Assim como milicianos no mundo do crime fazem justiça fora da lei, os protomilicianos sanitários defendem o combate da pandemia longe dos preceitos da ciência e da verdade dos fatos.

Os cientistas, médicos, integrantes de conselhos, políticos, jornalistas, publicitários, militares, familiares do presidente e outros recrutados para o gabinete paralelo se dispuseram a sustentar a farsa. Alguns por mero oportunismo, outros por ambição e inveja, e, ainda, alguns por convicção doentia na palavra de um líder obtuso.

O importante é que todos eles têm o que lucrar com esse comportamento, tanto material quanto simbolicamente.

Como os milicianos que vendem proteção armada em face à ineficiência do sistema e se tornam senhor dos territórios conflagrados, os neomilicianos prometem a cura mesmo que entreguem apenas a morte na forma de uma inviável imunidade coletiva pelo contágio. E ganham sua recompensa pela proximidade ao poder e pela vingança contra o descrédito que recolhem entre seus pares.

O gabinete paralelo é a afirmação infeliz desse comportamento ressentido. Seria um caso de psicopatologia social, se antes não fosse um crime contra a humanidade.

 

 

 
13
Jun21

Bolsonaro e o gabinete da morte

Talis Andrade

Vídeo reforça a tese da CPI da Covid sobre a existência de gabinete  paralelo no Planalto para tratar de pandemia | Jornal Nacional | G1Decidiam e mandavam Pazuello fazer', diz Omar sobre gabinete paraleloMédica que atua em CG participou de reunião do "gabinete paralelo" com  Bolsonaro | Paraíba JáGOVERNO GENOCIDA COLOCA EM RISCO A VIDA DA CLASSE TRABALHADORA - Sintsprev  MG

por Cristina Serra

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Desde o começo da pandemia, Bolsonaro fez o que pôde para que os brasileiros acreditassem na cilada da cloroquina e continuassem saindo às ruas, como gado a caminho do matadouro. A aposta foi na imunidade de rebanho. Nada de parar a economia ou planejar a compra de vacinas. Novas provas desse crime surgiram nos últimos dias em vídeos de conteúdo estarrecedor.

Para que o intento criminoso fosse bem sucedido, seria preciso arregimentar um bando de vigaristas que desse credibilidade à fraude do “tratamento precoce”. É exatamente isso que o vídeo publicado pelo site Metrópoles comprova, ao mostrar uma reunião do tal “gabinete paralelo”, que, mais apropriadamente, deveria se chamar “gabinete da morte”.

Na reunião, o virologista Paolo Zanotto fez ressalvas às vacinas, recomendando que Bolsonaro tivesse “cuidado enorme” com elas. Foi dele também a sugestão para que os membros do grupo não fossem expostos à “popularidade”. Deveriam agir à “sombra”. Nessa ocasião, ofertas de vacinas da Pfizer jaziam sem resposta em computadores da Esplanada. 

Em outro vídeo que circula em redes sociais, Arthur Weintraub, ex-assessor de Bolsonaro, se vangloria de ter recebido do presidente a missão de formar o gabinete paralelo. Foi assim: “Magrelo, você que é porra louca (…) vai lá e estuda isso daí [ a pandemia]”. Ele conta, ainda, como informava o chefe: “Mando [artigos] no zap”. Outro médico que prestou serviços ao covil do Planalto foi Luciano Azevedo que, segundo Weintraub, tem uma “networking” da hidroxicloroquina, conforme vídeo divulgado nesta Folha.

Arthur Weintraub é um tipo tão reles quanto o irmão mais famoso, Abraham, ex-ministro da Educação. Delirante, disse em rede social que não gosta de usar máscara porque é um “broche do partido comunista”. O “gabinete da morte” reuniu o que há de pior na medicina para conspirar contra o povo brasileiro. Sua atuação configura formação de quadrilha e permite caracterizar com clareza o comando desse genocídio.

 

 

10
Jun21

CPI quebra sigilo de Pazuello, Ernesto e membros do "gabinete paralelo"

Talis Andrade

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por DW

A CPI da Pandemia aprovou nesta quinta-feira (10/06) a quebra do sigilo telefônico e telemático dos ex-ministros Eduardo Pazuello, da Saúde, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e de outros alvos da investigação. Também foi autorizada a quebra do sigilo bancário e fiscal de quatro empresas.

A comissão no Senado atua desde 27 de abril e visa investigar ações e omissões do governo do presidente Jair Bolsonaro durante a gestão da pandemia de covid-19.

A transferência de sigilo telefônico e telemático dá aos senadores acesso, por exemplo, aos registros de conversas telefônicas, conversas por aplicativos de mensagens, históricos de pesquisas na internet e registros de locais visitados por meio de aplicativos de localização, como o Google Maps.

Entre os alvos da quebra de sigilo há uma série de pessoas ligadas ao Ministério da Saúde, como o ex-secretário executivo Élcio Franco, que atuava como número dois de Pazuello, e a secretária Mayra Pinheiro, conhecida como "capitã cloroquina". Ambos já prestaram depoimento à CPI.

A lista também inclui o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, e o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo, que pediu exoneração do cargo no início desta semana após ser alvo de uma operação da Polícia Federal que mira a alta cúpula do governo estadual por desvios na saúde durante a pandemia.

Outro nome do Amazonas é Francisco Ferreira Filho, que coordenou o comitê de crise do estado durante a catástrofe da falta de oxigênio hospitalar no início deste ano.

Também tiveram os sigilos telefônico e telemático quebrados pessoas ligadas ao suposto "gabinete paralelo", uma espécie de centro de aconselhamento para temas da pandemia à parte da estrutura do Ministério da Saúde. O grupo é suspeito de assessorar Bolsonaro de maneira extraoficial na tomada de decisões sobre a crise do coronavírus.

Entre os nomes relacionados ao gabinete estão o empresário bilionário Carlos Wizard e os médicos Luciano Dias Azevedo, defensor da cloroquina, e Paolo Zanotto.

Em reunião com Bolsonaro, Zanotto teria recomendado "tomar um extremo cuidado" com o uso de vacinas. Segundo senadores da CPI, o virologista também admitiu ter enviado uma carta a Arthur 

Weintraub, ex-assessor do presidente, sugerindo a formação de um "shadow cabinet" (gabinete das sombras) para orientar o Palácio do Planalto na pandemia.

Outro nome que teve a quebra de sigilo aprovada foi o auditor afastado do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa e Silva. Ele produziu um estudo paralelo afirmando que metade dos óbitos por covid-19 no Brasil não teria ocorrido. A informação falsa foi citada por Bolsonaro para minimizar o impacto do coronavírus. Depois, o presidente se desculpou por divulgar o dado incorreto.

Confira a lista de quem teve a transferência de sigilo telefônico e telemático aprovada

  • Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde;
  • Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores;
  • Filipe Martins, assessor internacional da Presidência da República;
  • Marcellus Campêlo, ex-secretário de Saúde do Amazonas;
  • Francisco Ferreira Filho, coordenador do comitê de crise do Amazonas;
  • Francieli Fontana Fantinato, coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI);
  • Élcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde;
  • Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde;
  • Zoser Hardman, ex-assessor especial do Ministério da Saúde;
  • Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde;
  • Flávio Werneck, ex-assessor de Relações Internacionais do Ministério da Saúde;
  • Camile Giaretta Sachetti, ex-diretora do departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde;
  • Arnaldo Correia de Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde;
  • Francisco Emerson Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos, que representa a vacina Covaxin no Brasil;
  • Túlio Silveira, representante da Precisa Medicamentos;
  • Carlos Wizard, empresário;
  • Paolo Zanotto, médico;
  • Luciano Dias Azevedo, médico;
  • Alexandre Figueiredo Costa e Silva Marques, auditor do TCU.

Já as empresas que tiveram sigilo bancário e fiscal quebrado são:

  • Associação Dignidade Médica de Pernambuco;
  • Empresa PPR – Profissionais de Publicidade Reunidos;
  • Calya/Y2 Propaganda e Marketing;
  • Artplan Comunicação;

Novas convocações

Nesta quinta-feira, os senadores da comissão aprovaram ainda a convocação do ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, para prestar depoimento.

Também foram autorizados convites (quando o comparecimento não é obrigatório) ao presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto, e um representante do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), a ser definido. Os depoimentos serão agendados pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

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04
Jun21

Exclusivo: vídeos mostram “ministério paralelo” orientando Bolsonaro contra vacinas

Talis Andrade

Reunião de Jair Bolsonaro com médicos, na qual ouve ressalvas às vacinas; na mesa, Osmar Terra ao lado de Bolsonaro, com o virologista Paolo Zanoto sentado à direita, na foto, de camisa cinza e cabelos longos

Imagens trazem o virologista Paolo Zanoto, a imunologista Nise Yamaguchi e o deputado federal Osmar Terra em reunião com o presidente

 
 
 

Imagens obtidas pelo Metrópoles mostram o aconselhamento do chamado “ministério paralelo” sendo feito diretamente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) – com trechos explícitos de ressalvas à aplicação de vacinas. Trechos de uma reunião, ocorrida em 8 de setembro, também confirmam que Arthur Weintraub intermediava os contatos entre o grupo e o Palácio do Planalto.

Entre os participantes do encontro, estão a imunologista Nise Yamaguchi, o deputado Osmar Terra, o virologista Paolo Zanoto e outros médicos de diversas especialidades. Confinados em uma sala de reuniões do Planalto, nenhum dos profissionais usa máscara.

As imagens também apontam Osmar Terra como o cacique intelectual do grupo. “Uma honra trabalhar com o senhor neste período” afirmou Nise Yamaguchi ao deputado. Na CPI da Covid, ela negou a existência de um gabinete paralelo, e disse que prestava apenas “aconselhamento”.Reunião de Jair Bolsonaro com médicos, em 8 de setembro de 2020; na foto, imunologista Nise Yamaguchi está no microfone

Nise Yamaguchi discursando no Ministério da Morte

 

Tratado com deferência especial, o virologista Paolo Zanoto parece ter intimidade com Bolsonaro. O presidente faz questão de que ele saia da plateia e se sente ao seu lado. Para cumprimentá-lo, o presidente da República bate continência.

Na ocasião, Zanoto aconselha Bolsonaro a tomar “extremo cuidado” com as vacinas contra a Covid-19. “Não tem condição de qualquer vacina estar realisticamente na fase 3”, diz. Na data do encontro, e-mails da Pfizer estavam sem resposta nos computadores do Ministério da Saúde.

A orientação antivacina prossegue. “Com todo respeito, eu acho que a gente tem que ter vacina, ou talvez não”, afirma o virologista, enquanto uma médica balança a cabeça de forma negativa. Ele baseia sua argumentação em um suposto problema dos coronavírus no desenvolvimento vacinal, sem apresentar qualquer evidência.

Veja vídeo aquiReunião de Jair Bolsonaro com médicos, em 8 de setembro de 2020; na foto, Osmar Terra está entre o presidente e o virologista Paolo ZanotoZanoto, sem paletó, na mesa diretora do ministério da morte, do Brasil sem vacinas, da imunidade de rebanho

 

Zanoto deu uma série de entrevistas durante a pandemia avaliando que não seria “uma boa ideia” fazer vacinação em massa no Brasil. Em 8 de dezembro de 2020, por exemplo, em programa da RedeTV, o profissional, formado em biologia na USP e com doutorado em virologia em Oxford, sustenta:

Aqui no caso do Covid-19, do Sars-CoV-2, isso é um vírus que causa muito mais mortalidade em grupos etariamente bem definidos e com comorbidades. Então é óbvio que, se você tem uma função, uma distribuição de risco, deveria ser também uma distribuição de risco associada com, digamos assim, um incentivo a essas pessoas se vacinarem. Por outro lado, vacinar em massa todo mundo não é uma boa ideia, porque a gente não tem uma ideia muito boa de tudo o que acontece com essas vacinas, pois elas não foram desenvolvidas em prazo razoável para se estimar efeitos adversos de baixíssima frequência.”

As imagens também confirmam algo que o Metrópoles revelou na semana passada. O ex-assessor especial da presidência Arthur Weintraub fazia a ponte entre o “ministério paralelo” e Bolsonaro. Zanoto diz que encaminhou a Weintraub a sugestão do que ele chama de “shadow board”, um grupo de supostos especialistas em vacinas para aconselhar o governo sobre o tema.

Na sua vez de falar, o presidente Jair Bolsonaro reforça a retórica antivacina. Ele revela que vetou uma lei que estipulava celeridade da Anvisa na aprovação de fármacos.

“O projeto foi aprovado na Câmara e eu vetei o dispositivo. O veto foi derrubado depois, o que dizia? O que chegasse aqui para combater o coronavírus, a Anvisa tinha 72 horas para liberar [na verdade, o prazo era de 5 dias]. Se não liberasse, haveria aprovação tácita. Eu perguntei: ‘Até vacina? Até vacina.’”

O presidente também expressou desconfiança sobre imunizantes já aprovados no exterior. “Mesmo tendo aprovação científica lá fora, tem umas etapas para serem cumpridas aqui. Você não pode injetar qualquer coisa nas pessoas, muito menos obrigar”, disse, enquanto uma médica reagia com as mãos aos céus e agradecia a Deus.

A atuação de Osmar Terra como uma espécie de “ministro” do gabinete paralelo é explicitada quando ele apresenta a Bolsonaro um cardiologista que seria o primeiro a dizer que não existe risco ao coração no uso da hidroxicloroquina. Bolsonaro endossa a tese com um suposto exemplo de “um amigo” e lança a teoria de que os riscos do medicamento são potencializados para amedrontar as pessoas. “Provavelmente por ser um remédio muito barato”, completa.

Naquele 8 de setembro do ano passado, o Brasil tinha 127.517 mortes por Covid-19 confirmadas, e 4.165.124 casos registrados. Nesta sexta-feira (4/6), o país soma 469.388 vidas perdidas para a doença, e 16.803.472 contaminados. 

A imunidade pretendida não é pela vacina, mas pela contaminação, que tem o preço alto de milhares de mortes, ou milhões. O quê Bolsonaro e o ministério paralelo entendem que seja imunidade de rebanho

 

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