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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

24
Dez22

Deputado jagunço detona covardia de Bolsonaro

Talis Andrade

bolsonaro nazista.jpg

 

por Altamiro Borges

O chorão Jair Bolsonaro está cada dia mais desmoralizado e isolado. Nem seus jagunços o respeitam mais. Nesta semana, o ainda presidente foi “traído” pelo deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), um bajulador pegajoso que sempre prestou os serviços mais sujos ao “capetão” – como o de viajar até Foz do Iguaçu para tentar cooptar familiares de Marcelo Arruda, o dirigente petista paranaense covardemente assassinado por um policial bolsonarista em julho deste ano. 

Em entrevista a um site fascistoide, o oportunista fez duras críticas à reclusão do seu “mito” no Palácio da Alvorada após as eleições e afirmou que seu silêncio “beira a covardia”. Para o deputado, que é vice-líder do governo na Câmara Federal e também posa de pastor evangélico, a atitude de Jair Bolsonaro representa uma traição aos seus seguidores – os fanáticos que acampam em frente aos quartéis, incendeiam carros e ônibus e atacam a sede da Polícia Federal em Brasília. 

Manipulação dos otários nos quartéis


“O silêncio do presidente, e pior do que o silêncio, as frases enigmáticas, as fotos enigmáticas, isso está fazendo tão mal ao povo. Isso está, chega a beirar, e eu sei que a palavra que eu vou usar é muito forte, mas isso chega a beirar uma covardia, uma manipulação do povo”, afirmou o parlamentar em transmissão ao vivo pelo YouTube. Eleitoreiro, ele fez questão de bajular os golpistas fanatizados, afirmando que muitos já se divorciaram, enfrentam crises em seus casamentos, perderam seus empregos e passam por situações “lamentáveis” porque estão há vários dias lutando por uma intervenção militar. 

“Eles são movidos pelo amor à Pátria, pela confiança no presidente da República. Ele não tem o direito de estar em silêncio ou de liberar frases enigmáticas. Bolsonaro precisa falar claramente ao seu povo. Se ele não fizer, sairá pequeno. Sofrerá a maior derrota de todas, que não foi nas urnas... Se ele não parar de blefar, aí sim, sua derrota será avassaladora”, disse. Ele também relatou que “estive com o presidente Bolsonaro talvez uma, duas ou três vezes após a eleição... Eu o encontrei muito abatido, já com aquela ferida na perna e ele estava psicologicamente muito abatido. Naquele momento, eu tive a certeza de que nada seria feito”.

General "não vale o que meu cão come"

Durante a entrevista, que durou 21 minutos, Otoni de Paula previu que seria execrado por seus ex-comparsas milicianos. “Eu vou ser chamado de traidor por aqueles que acham que o presidente vai agir e eu, olhando na sua câmera, digo: não vai, não vai. E digo: não se iludam. Saiam das portas dos quartéis. Vocês serão presos e não haverá ninguém que os defenda. Assim como eu tenho certeza, absoluta, que o senhor Alexandre de Moraes [ministro do STF] está esperando o recesso parlamentar para nos prender, eu não tenho dúvida disso”.

O deputado-jagunço não é o único que está acuado e ensaia abandonar o “capetão”. Vários outros oportunistas já não vacilam em criticar publicamente o mito – que hoje mais se parece um mico. No início de dezembro, o general da reserva Paulo Chagas também detonou a “covardia” de Jair Bolsonaro, exigindo que ele tomasse atitudes duras contra o Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, o filhote 02 do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, tomou as dores do paizão deprimido.

Pelo seu Twitter, Carluxo Pitbull detonou o general de pijama do Exército: “Um oportunista contumaz posando de machão para dividir, conquistar e se fazer! Isso nunca valeu o que meu cão come!” – @CarlosBolsonaro, 8 de dezembro de 2022.

Padre-fake Kelmon expulso da Igreja Ortodoxa

 
 

Alckmin mostra desastre do governo Bolsonaro

 
 
29
Out22

Policiais federais atingidos por Roberto Jefferson têm estilhaços no quadril e no crânio

Talis Andrade

Agente da Polícia Federal ferida durante ataque de Roberto Jefferson: pontos no rosto e na coxa — Foto: Reprodução

Agente da Polícia Federal ferida durante ataque de Roberto Jefferson: pontos no rosto e na coxa 

 

 

 

Por Arthur Stabile e Eliane Santos, g1

No depoimento prestado à Polícia Federal, o ex-deputado Roberto Jefferson afirmou que não teve em nenhum momento intenção de matar os policiais federais. Mas os laudos e os depoimentos dos agentes feridos por ele mostram outro cenário. Uma agente ficou com estilhaço de granada no quadril, e um delegado disse ter ficado com dois fragmentos, possivelmente de estilhaço, no crânio.

Jefferson disparou com um fuzil 5.56 mm e atirou três granadas contra os policiais federais que foram até sua casa em Comendador Levy Gasparian, no domingo (23), para cumprir ordem de prisão do ministro Alexandre de Moraes.

A agente Karina Oliveira e o delegado Marcelo Villela foram feridos e precisaram de atendimento médico.

 

Policial desmaiou em meio aos tiros

 

Karina foi ferida primeiro. Teve ferimentos no rosto e na coxa, onde levou pontos, e tem estilhaços de granada no quadril, como mostra o laudo a que o g1 teve acesso. Por causa dos ferimentos, a policial precisará ficar cinco dias afastada do trabalho.

 

Em seu depoimento, ela contou que chegou a perder os sentidos. No entanto, antes ela havia passado sua pistola para o policial Daniel, já que a dele deu pane durante o confronto com o ex-deputado.

No momento em que se abrigava e tentava socorrer a policial, o delegado Marcelo Villela foi ferido na cabeça.

 

Estilhaços na cabeça

 

Em seu depoimento, ele contou que Roberto Jefferson dizia que “não iria se entregar de jeito nenhum” ou que só “sairia de sua casa morto”, e que na “sequência sentiu o sangue descer de sua cabeça; que em determinado momento a quantidade de sangue era muito grande, atrapalhando a visão do olho direito”.

 

Marcelo disse ainda que após raio-X, teve dois fragmentos, possivelmente de estilhaços, constatados em seu crânio.

 

Cunhado socorreu

 

O delegado destacou, ainda, em seu depoimento que Jefferson aguardava a Polícia Federal e agiu de forma premeditada.

Os policiais contaram também que foram socorridos por alguém que apareceu se apresentando como cunhado de Roberto Jefferson.

 

'Vai dar m...'

 

O policial federal Heron Peixoto, que pulou o muro da casa do ex-deputado, para tentar abrir o portão para os outros agentes, contou ainda que tocou a campainha da casa de Jefferson, e que foi advertido por uma mulher que era para ir embora: “vai embora”, “vai embora que vai dar merda”.

O policial que intermediou as negociações com Roberto Jefferson contou que o ex-deputado federal oscilava muito de humor. Que em um primeiro momento dizia que só sairia do local morto, que era para “preparar o cemitério, pois ele iria para lá”, e em outros se acalmava e topava conversar.

25
Out22

Bandido bom é bandido Jefferson?

Talis Andrade

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por Fernando Brito

- - -

São estarrecedoras as cenas publicadas nas redes sociais (veja ao final) da conversa entre Roberto Jefferson, depois de ter atirado 30 vezes sobre a equipe da Polícia e atirado duas granadas que feriram uma agente e um delegado, e um dos agentes que finalmente efetuou sua prisão.

Um clima de descontração, risadas, e até de crítica do policial aos seus colegas feridos (“são burocráticos”), deixando claro que ali se estaria tratando com pessoa digna de especialíssima consideração, alguém de um mundo absolutamente oposto ao de qualquer bandido que se dispõe a disparar tiros de fuzil contra a polícia.

Ninguém, é claro (ou talvez só Jefferson) queria que saísse dali um cadáver ou mesmo alguém baleado, mas olhar o convescote risonho que se passou, ainda mais quando estava evidente que se poderia ter imobilizado e algemado o atirador senil, que não tinha condições de oferecer resistência, ainda mais com pelo menos dois outros agentes policiais na sala, é demais.

Espera-se, aliás, que os delegados de Polícia, que emitiram nota óbvia, repudiando os ataques de Jefferson a policiais, ajam no sentido de saber se a delicada simpatia do policial que “passava pano” para o agressor de seus colegas agiu assim por orientação superior ou simples simpatia política.

Quando se defende que as ações da polícia sejam dentro da lei e não atirando para matar, quando se trata de pessoas pobres e de comunidades faveladas, ninguém está dizendo que tudo deve ser no papo amigável, no qual só faltaram salgadinhos e bebidas para parecer uma confraternização. Ou será que não faltou nada?

Jair Bolsonaro, agora, chama Jefferson de “bandido”. Agora só falta dizer que “bandido bom é bandido Jefferson”.

@tiagobarbosa_
Essa reverência a um bandido que tentou assassinar policiais federais e confessou ter atirado granadas é uma das mais sórdidas humilhações contra o país e a polícia imposta pelo bolsonarismo. O sujeito rebaixa os colegas alvejados diante de um crápula.

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Sérgio A J Barretto
@SergioAJBarrett
O boné do Lula era uma homenagem às favelas do Brasil. Mas esse aí, do filho do Onix, é a bandeira Gadsden, símbolo usado pelos neonazistas que invadiram o Capitólio nos Estados Unidos. Essa gente não é a escória humana?Image
17
Out22

Como "Deus, Pátria e Família" entrou na política do Brasil

Talis Andrade

تويتر \ Jéferfon Menezes على تويتر: "Eu não tinha visto essa que o slogan  do novo partido do Bozo era Deus, Pátria e Família. ... Que, por sua vez,  era o sloganDeus, pátria e família – Wikipédia, a enciclopédia livre

 

 

Manifesto divulgado 90 anos atrás pelo autor Plínio Salgado lançou o integralismo. Movimento de extrema direita é antecessor de discursos ultraconservadores da atual política nacional.

 

por Edison Veiga

- - -

Eram princípios conservadores, de inspiração cristã e fortemente influenciados pelo fascismo italiano e pelo integralismo português, os formulados pelo escritor e jornalista Plínio Salgado (1895-1975). Ele chamou seu arrazoado de Teoria do Estado Integral, e em 7 de outubro de 1932 lançou o Manifesto de Outubro. Ali nascia a Ação Integralista Brasileira (AIB), a versão nacional da extrema-direita que ganhava corpo na Europa.

Dividido em dez partes, o manifesto trazia já em seu primeiro item a importância da valorização de Deus, da Pátria e da Família – os três termos com inicial maiúscula. Salgado tinha a companhia de outros intelectuais na elaboração dessa doutrina, entre eles o escritor e advogado Gustavo Barroso (1888-1959) e o advogado, filósofo e professor Miguel Reale (1910-2006).

Com seus símbolos ultranacionalistas, os trajes verdes e o discurso de oposição ao comunismo, o movimento cresceu. Estimativas publicadas pela imprensa dão conta de que, em 1936, eram quase 1 milhão os adeptos e simpatizantes. "Os integralistas alçaram cargos políticos, com vários prefeitos e vereadores integralistas pelo país", enfatiza o historiador Leandro Pereira Gonçalves, professor na Universidade Federal de Juiz de Fora e autor de O fascismo em camisas verdes: Do integralismo ao neointegralismo.

Manifestações públicas eram organizadas e havia um interesse claro de Salgado em cada vez mais influenciar os rumos da nação. "Fazia parte do cotidiano do brasileiro. É considerado o primeiro movimento de massa da história do Brasil, a primeira grande organização política do século 20", sublinha Gonçalves.

 

Trajetória de Plínio Salgado

Salgado se apresentou como pré-candidato à presidência para as eleições de 1938 – mas a disputa não ocorreu porque Vargas deu o autogolpe que criaria o Estado Novo – e chegou a pleitear o posto de ministro da Educação no governo Getúlio Vargas (1882-1954).

Como não conseguiu seus objetivos e ainda viu Vargas decretar a proibição dos partidos políticos, deixando a AIB na clandestinidade, Salgado e outros integralistas organizaram um levante. Em 11 de maio de 1938, atacaram o Palácio da Guanabara, cerca de 1.500 foram presos. Salgado exilou-se em Portugal.

"Oficialmente, o ataque representa o fim do integralismo, que já havia sido encerrado com o decreto do Estado Novo, quando passou para a ilegalidade", diz Gonçalves. Mas é claro que a ideologia não desapareceu.

"Milhares de seguidores e simpatizantes permaneceram ativos e ocuparam cargos fundamentais no Estado", ressalta o historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coautor do livro Passageiros da tempestade: fascistas e negacionistas no tempo presente. "Nas Forças Armadas, a Marinha, seu oficialato era dominantemente integralista. Muitos integralistas, com seu ideário, permaneceram ativos na magistratura, nas academias militares e na política."

Em Portugal, Salgado aprofundou sua doutrina, num intercâmbio com a intelectualidade católica conservadora. Quando, em 1945, partidos tornaram a ser permitidos no Brasil, o integralismo voltou, mas com outra roupagem.

"No pós-Segunda Guerra, um partido fascista não teria sucesso no Brasil. Então eles formam o PRP [Partido de Representação Popular], com formação fascista, com grupos fascistas, mas sem dizer que era fascista. Foi um fascismo legalizado, mas no discurso se dizia democracia cristã", relata Gonçalves. Pela legenda, Salgado candidatou-se à presidência em 1955. Depois acabaria eleito deputado federal.

O idealizador do integralismo foi um dos oradores da famosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 1964, e apoiador do golpe militar que instauraria a ditadura naquele mesmo ano.

"Na ditadura, o destino político dos integralistas foi a Arena [partido da Aliança Renovadora Nacional]. Com a morte de Salgado [em 1975], há o fim do integralismo, já que os adeptos ficam sem o chefe, a referência", explica Gonçalves.

 

Neointegralismo e Bolsonaro

Segundo o historiador, os anos 1980 assistem ao início de um movimento que pode ser qualificado de neointegralismo, quando os simpatizantes das ideias se relacionando com skinheads neonazistas nas grandes cidades brasileiras. "Na década de 1990, eles voltam a participar de partidos políticos existentes, como o Prona [Partido da Reedificação da Ordem Nacional], de Enéas Carneiro e também o PRTB [Partido Renovador Trabalhista Brasileiro], de Levy Fidelix. Eles tentam, sem sucesso, fundar um partido político próprio", contextualiza Leandro Pereira Gonçalves.

Nessa época, grupos integralistas passam a utilizar a ainda incipiente internet para divulgar suas ideias e congregar os simpatizantes. No início do século 21, com o advento das redes sociais, eles também ingressam nessas plataformas.

De acordo com o pesquisador, em 2022 há três grupos integralistas relevantes em atividade: a Frente Integralista Brasileira (FIB), o Movimento Integralista e Linearista Brasileiro (Milb) e a Associação Cívica e Cultural Arcy Lopes Estrella (Accale).

"Nas eleições deste ano, o legado integralista está presente no PTB [Partido Trabalhista Brasileiro]. Padre Kelmon, que foi candidato do partido, participou de reuniões integralistas e possui relações [com o movimento]", destaca Gonçalves.

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Em texto publicado em seu site em setembro, a FIB recomendou nominalmente o voto nos candidatos "que demonstram compromisso de lutar por Deus, pela Pátria, pela Família" e citou nominalmente a pastora e ex-ministra Damares Alves, eleita senadora pelo Distrito Federal, entre outros nomes.

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Da farda verde à camisa da Seleção

Gonçalves lembra que essa ética integralista é enfatizada de forma recorrente nos discursos do presidente e candidato a reeleição Jair Bolsonaro. "'Deus, Pátria e Família' é o slogan fascista mais repetido ao longo deste governo. Foi naturalizado dentro da política. O integralismo representa a extrema direita mais ideologicamente consistente da história do Brasil."

Para o historiador e sociólogo Wesley Espinosa Santana, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, é possível fazer uma analogia com o uso do uniforme da seleção brasileira em manifestações políticas de direita hoje com a farda verde dos integralistas de Plínio Salgado.

"Temos uma situação muito parecida: o Bolsonaro dizendo que é o dono do verde-amarelo, que quem é adepto dele é Brasil e quem é contra não é Brasil. Isso é integralismo puro, psicológico e simbólico. O discurso é :'Ou você está ao meu lado ou é contra a pátria'. O fascio italiano e a AIB previam isso, em meio à tríade Deus, pátria, família."

Na visão de Teixeira da Silva, "o fascismo à brasileira é um amálgama complexo de fatores culturais de longa duração". "A extrema direita e o bolso-fascismo brasileiro hoje possuem várias fontes doutrinárias", comenta, citando o integralismo, suas inspirações portuguesa e italiana, e o nazismo alemão. "Mas possui também bases puramente nacionais, como o racismo anti negros e pardos."

Santana vê, nas pautas de Bolsonaro, o legado do integralismo, expresso no conservadorismo, do militarismo, da defesa das armas e do que ele chama de "cristianismo enviesado". Além, é claro, do ultranacionalismo.

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01
Out22

Kelmon, o "padre de festa junina", apresentou ao TSE diploma de teologia com indício de falsidade

Talis Andrade

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Em razão da suspeita de fraude, o tribunal obrigou o padre a fazer prova de alfabetização, como Tiririca, alguns anos atrás

 

por Joaquim de Carvalho

- - -

No debate da Globo, a candidata a presidente pelo União Brasil Soraya Tronicke expôs o que muita gente sensata desconfia: a de que o seu concorrente Kelmon Luís da Silva Souza, do PTB, seja uma grande farsa. “O senhor não fez extrema unção porque é um padre de festa junina”, disse.

Ela não foi a primeira pessoa a suspeitar que o padre cometa fraude, a começar pela formação teológica que afirma ter. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não aceitou os diplomas de bacharel em teologia e de licenciatura em filosofia que ele apresentou como prova de alfabetização.

Emitidos por um tal Mosteiro São Basílio e São Tomé, com brasão da República do Brasil e selo de uma tal Iglesia Católica Apostólica Ortoxa del Perú, os diplomas "não contêm indicativo de registro no âmbito do sistema federal de ensino”, conforme anotou o Ministério Público Eleitoral. 

Em razão disso, a exemplo do candidato Tiririca, alguns anos atrás, o padre Kelmon foi obrigado a se submeter a uma prova de alfabetização. Segundo documento juntado em seu processo de registro de candidatura, no dia 22 de agosto deste ano ele escreveu, de próprio punho:

“Declaro para fins de registro de candidatura que sou alfabetizado e cursei filosofia e teologia”.

A prova teria sido feita na presença da servidora Noeli Menezes Nogueira, no Tribunal Regional Eleitoral, em Campo Grande, o que, por si, gera estranheza.

O padre Kelmon mora em Salvador e, desde que se candidatou, usa como endereço profissional a sede do PTB em Brasília. 

Se o local da prova de alfabetização fosse Cuiabá, aumentaria a desconfiança, já que a capital do Mato Grosso é o endereço da empresa de marketing para a qual a campanha do padre Kelmon destinou 97% dos recursos que obteve.

Mas, como Campo Grande é a capital do Mato Grosso do Sul, nenhum pecado relacionado à prova de alfabetização pode ser atribuído ao padre.

Seja como for, a prova de alfabetização foi juntada ao processo de registro da candidatura às 14h10 de 22 de agosto. 
 
A prova de alfabetização do padre Kelmon
A prova de alfabetização do padre Kelmon (Photo: Reprodução)

 

No mesmo dia, às 22 horas, seus advogados juntaram uma cópia da CNH como prova de que o padre sabe ler e escrever.

Se apresentou a CNH, por que fez a prova? O ministro ministro Carlos Horbach, do TSE, aceitou a CNH como prova de alfabetização, o Ministério Público Eleitoral não se opôs e a candidatura do padre Kelmon foi deferida.

Mas, pelos documentos apresentados, o padre Kelmon não está livre de problemas. Se os diplomas não têm lastro no sistema federal de ensino nem há indicação de endereço do Mosteiro no Brasil, os documentos podem ser falsos.

Neste caso, ao declarar que possui ensino superior completo, padre Kelmon pode ter cometido crime de falsidade ideológica, previsto no artigo 299 do Código Penal.

O diploma apresentado pelo padre: sem endereço do Mosteiro e sem registro do sistema federal de ensnino

O diploma apresentado pelo padre: sem endereço do Mosteiro e sem registro do sistema federal de ensnino (Photo: Reprodução)

 

O documento de identidade juntado pelo padre para registro da candidatura também chama a atenção por uma informação errada.

O RG 50.019.293-5, emitido pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, informa que ele é nascido em Salvador, Bahia.

Só que, pela certidão de nascimento, o local onde foi registrado é o cartório de Acajutiba, a cerca de 200 quilômetros da capital baiana.

Pode ter sido um descuido do servidor que fez seu RG em São Paulo, mas o mesmo erro não ocorreu em outro registro que ele possui, o da Secretaria de Segurança da Bahia: 680746625.

Ter registro de identidade em Estados diferentes não é crime, mas é uma prática incomum. 

Pode indicar que alguém esteja querendo dificultar ser localizado, sobretudo quando o local de nascimento de um documento não bate com o anterior, emitido em outro Estado.

O registro de formação universitária de Kelmon Luís da Silva Souza também chama a atenção pela inconsistência dos dados e das versões tornadas públicas, por via oblíquas.

O diploma de licenciatura em filosofia é de 20 de fevereiro de 2003 e o de bacharel em teologia, de 7 de dezembro de 2006. Apesar de supostamente terem sido emitidos com três anos de diferença, ambos apresentam as mesmas falhas.

Não têm o número do RG e ambos afirmam que é natural de Salvador, Bahia, embora, como se disse acima, sua certidão de nascimento seja de Acajutiba.

Quem assina os diplomas como diretor acadêmico do Mosteiro São Basílio e São Tomé, que funcionaria no Brasil, é Angel Ernesto Morán Vidal, cidadão peruano que já foi alvo, em seu país, de acusação feita pela imprensa de ser falso padre.

Angel Ernesto Morán Vidal, que se apresenta como arcebispo da Igreja Apostólica Ortodoxa do Peru, deu declarações esta semana para assegurar que Kelmon é, sim, padre reconhecido por sua organização.

A questão é que a organização de Angel Ernesto Morán Vidal não é reconhecida pelas igrejas ortodoxas tradicionais.

A Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, a mais tradicional igreja ortodoxa no Brasil, informa em seu site que foi procurada em 2015 por Angel Ernesto. Ele manifestou "o desejo de ser aceito por ela como bispo juntamente com todo seu clero e comunidades no Peru”.

Mas as tratativas não prosperaram, depois que Dom Tito, arcebispo para as Igrejas Sirian Ortodoxas de Antioquia em missão no Brasil, verificou o trabalho de Angel, inclusive com visitas ao Peru.

"A Igreja no Brasil descobriu questões de ordem particular que impediam que Ángel Ernesto Morán Vidal fosse aceito como bispo e foi então ENCERRADO o acompanhamento do pedido de ingresso na Igreja por parte de Dom Tito e, consequentemente, por parte de toda Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia. Em outras palavras, apesar das visitas tanto no Peru, quanto no Brasil e na Síria, eles NÃO FORAM ACEITOS EM NENHUM MOMENTO na Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia”, informa o site da igreja.

A igreja mantém em sigilo as “questões de ordem particular” que impediram a aceitação da igreja peruana. Apesar disso, seus membros, como o padre Kelman, usam símbolos da Igreja Sirian Ortdoxa de Antioquia.

O próprio site informa que não pode fazer nada quanto a isso, já que, pela Constituição brasileira, há liberdade de credo, e, para ser reconhecida como religião, basta fazer registro em cartório. 

"O Brasil é um país laico e com liberdade religiosa, onde as pessoas podem ir a um cartório e fundar uma igreja ou uma religião como quiserem, mesmo usando termos que historicamente identificam as Igrejas tanto no ocidente quanto no oriente por séculos, como “católica” ou 'ortodoxa'. Essas comunidades, perante a lei brasileira, não são 'igrejas falsas'. Contudo, temos o dever de esclarecer que, dentro do entendimento (e do também direito que temos de entender assim) tanto das Igrejas Orientais Ortodoxas quanto da Igreja Católica Romana, essas comunidades não são canônicas, não tem comunhão, nem 'semi-comunhão', nem 'comunhão parcial', nem são filhas, primas ou sobrinhas dessas Igrejas históricas, não estão em processos de aceitação ou qualquer coisa parecida. Temos o dever de respeitá-los como cidadãos brasileiros que exercem seu direito constitucional de liberdade religiosa, mas temos, dentro do mesmo direito, o dever que esclarecer o que, para nós, é a verdade”, destaca a igreja.

Apesar disso, Angel Ernesto faz um malabarismo retórico para tentar se ligar à igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia. Em 2019, quando foi acusada pela imprensa peruana de enganar fiéis e de cobrar por sacramentos e arrecadar recursos para construção de igrejas como se fosse a Igreja Católica Romana, o líder da organização afirmou que abraçava tradição da Igreja Síria Ortodoxa de Antioquia, mas não tinha com ela nenhum laço formal ou informal.

O que parece claro é que, diferentemente da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, a igreja de Angel e do padre Kelmon tem uma rede internacional com atuação política de extrema direita. 

Tanto que a notícia sobre a suposta formação teológica do padre Kelson saiu em uma publicação latina de conteúdo extremista, que define a imprensa brasileira como “alinhada à esquerda”, o Panam Post.

“Padre Kelmon é de fato parte da Igreja Ortodoxa. Esta é a história dele”, diz o título do artigo, que apresenta foto de quando ele supostamente estudava no Mater Ecclesiae dos Legionários de Cristo, seminário instalado em Itapecerica da Serra, Grande São Paulo.

O Legionários em Cristo, que surgiu no México, estaria no centro de um escândalo alguns anos depois quando se descobriu que seu fundador e principal líder, Marcial Maciel Degollado, tinha abusado de adolescentes na igreja, e, bissexual, teve mulheres e seis filhos, dois dos quais também foram vítimas de seus abusos. Era viciado em morfina, crimes que admitiu perante o Vaticano.

A reportagem do Panam Post diz que Kelmon passou três anos seminário do Legendários em Itapecerica e teria se desligado sem a ordenação. Em 2003, teria entrado no Mosteiro São Brasílio e São Tomé, dando início a seu “mergulho” na igreja ortodoxa.

O problema é que a Igreja Católica Ortodoxa do Peru, supostamente mantenedora do Mosteiro São Basílio e São Tomé, nem existia nessa época. 

Além disso, a considerar verdadeiro um dos diplomas do padre Kelmon, ele teria se formado lá em 2003. Portanto, não poderia ter entrado no mosteiro nesse ano para cursar Filosofia. Ele teria que ter se matriculado pelo menos três anos antes.

A reportagem chapa branca do Panam Post informa ainda que, depois de formado pelo Mosteiro e sem ser ordenado padre, Kelmon continuou na “vida missionária”, através da associação chamada “Theotokos”, em São Paulo.

Registros na Junta Comercial mostram que, nessa época, ele criou uma empresa para fabricar jóias e bijuterias, a Jabuti, CNPJ 11.533.829/0001-76, com sede em Brasília.

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Padre Kelmon pode não ter animado festa junina, como de maneira muito inteligente definiu Soraya Tronicke, mas que ele não é um padre a que se deva confessar, como disse Simone Tebet, isso está fora de dúvida.

Sua história está cheia de furos e pode esconder fatos mais sérios. Que é um laranja, como definiu Lula, é certo. Mas seria laranja apenas de Bolsonaro? 

 

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25
Set22

Lula cantou a pedra sobre Padre Kelmon na véspera, e foi prudente

Talis Andrade

Grigori Rasputin | OverSimplified Wiki | Fandom

 

Petista justificou na sexta sua ausência no debate: tinha candidato "novo" na disputa e que ainda precisava "estudá-lo"; era o petebista

 
 
 

Na sexta-feira, em entrevista coletiva em Ipatinga (MG), Lula foi perguntado da razão de sua ausência no debate do SBT, que ocorreu ontem. E deu uma resposta que intrigou.

O petista respondeu que, além de compromissos anteriormente marcados, “tem candidato novo e que a gente não sabe quem é, não estudou ainda”.

Era uma referência ao Padre Kelmon. O único “novo” na disputa, que substituiu Roberto Jefferson, como candidato do PTB.

Quem estava acompanhando programas eleitorais já sabia que Kelmon, mais que alinha auxiliar, é um garoto-propaganda de Jair Bolsonaro. E foi o que se viu no debate.

A campanha petista, diante do que aconteceu no debate, não teve dúvida que a ausência de Lula foi a melhor decisão.

[O falso padre é o Rasputin de Bolsonaro]

25
Set22

Quem é Padre Kelmon, o candidato a presidente do PTB que estreia em debates e nunca foi sacerdote

Talis Andrade

Jornal Estado de Minas | Notícias Online

 

por Johanns Eller e Julia Noia /Extra

- - -

Candidato à Presidência pelo PTB, Padre Kelmon estreia em debates presidenciais neste sábado e chama atenção com trajes característicos da matriz ortodoxa da Igreja Católica e defesa enfática do movimento pró-vida. O candidato, ainda desconhecido por muitos na véspera das eleições, foi alçado a cabeça de chapa depois que a candidatura de Roberto Jefferson (PTB) foi indeferida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O baiano Kelmon Luís da Silva Souza, de 45 anos, se diz ortodoxo, mas nunca foi sacerdote das igrejas da comunhão ortodoxa no Brasil, como revelou a coluna de Malu Gaspar. Ainda assim, ele celebra missas e batismos na Bahia e ganhou notoriedade em grupos conservadores graças ao discurso bélico contra a esquerda.

A despeito de suas frágeis credenciais, já foi recebido pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, o cardeal Dom Orani Tempesta, participou de convocações para os atos golpistas do 7 de setembro no ano passado na condição de religioso e até recebeu um desagravo da deputada Carla Zambelli (PL-SP) nas redes sociais.

A batina, marca registrada do autointitulado sacerdote em eventos públicos, foi a vestimenta escolhida para a foto que vai aparecer nas unas no próximo dia 2. Ele também se diz admirador dos falecidos políticos Levy Fidélix e Enéas Carneiro, usa seu canal no YouTube para denunciar a “islamização” e a “perseguição” a cristãos no Brasil e já foi filiado ao PT.

Apesar de não atuar em nenhuma igreja ortodoxa no país, Kelmon fundou e coordena o Movimento Cristão Conservador Latino-Americano e esteve à frente do Movimento Cristão Conservador do PTB — ele se licenciou pouco antes de figurar como postulante ao Palácio do Planalto. O cargo hoje é ocupado pelo seu candidato a vice-presidente, o Pastor Gamonal, também do PTB.

Kelmon declara ter patrimônio de R$ 8.547,13, investidos em caderneta de poupança, e sua candidatura recebeu apenas uma doação nominal de R$ 5 mil, de seu vice. Além da doação, o autointitulado sacerdote tem acesso a R$ 1,54 milhão de Fundo Especial para a campanha

 

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Folha de S.Paulo
@folha
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