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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

07
Nov22

O Brasil escapou de ser a Hungria do Hemisfério Sul

Talis Andrade

Bolsonaro chama Orbán de irmão e exalta conservadorismo

Na Hungria, Bolsonaro chama Viktor Orbán de irmão e exalta conservadorismo

 

Guilherme Wisnik celebra a vitória da democracia brasileira nas urnas e diz que o Brasil se livrou, por um triz, de se render a forças políticas autoritárias e fascistas

 

por Guilherme Wisnik / Rádio USP

Em sua coluna desta semana, o professor Guilherme Wisnik celebra a “volta de uma esquerda democrática, com grande pacto, uma aliança de centro-esquerda ao poder depois desse período fascistoide e autoritário”. No entanto, ele usa sua coluna também para fazer um alerta “sobre o iminente risco que nós corremos. A gente chegou, no final das contas, numa eleição apertadíssima e teve, por muito pouco, por consolidar um projeto fascista de poder que, se acontecesse no segundo mandato, derreteria a democracia brasileira e todo o pacto que foi firmado desde o fim da ditadura, com a Constituição de 88”. Na opinião dele, o risco de ruptura foi muito grande, não fosse o governo Bolsonaro, “desde o início, baseado no aparelhamento das Forças Armadas, no apoio aos setores agro, evangélico, com a pauta de costumes, do capital financeiro da Faria Lima, de São Paulo como símbolo de tudo isso do Brasil”.

Ainda segundo Wisnik, só faltava ao governo Bolsonaro aparelhar o STF, como já havia feito com a Procuradoria-Geral da República e com a Polícia Rodoviária Federal. Caso isso acontecesse, o Brasil “se converteria numa espécie de Hungria do Hemisfério Sul”, com todas suas instituições derretidas e corroídas por dentro pelos próprios procedimentos da democracia, por mais inacreditável que isso pudesse ter ocorrido num país de dimensões continentais como o Brasil e, o que é ainda pior, tudo isso movido pelas próprias forças que o compõem, “que não poderiam de forma nenhuma flertar com esse risco fascista, autoritário, que nós corremos”.

Ele conclui: “Esse governo foi fruto, de fato, de uma grande massa fanatizada, uma massa radicalizada pela ideologia de uma extrema direita que vigora no mundo, por diversas razões, e que se alimentou de uma nova lógica mundial dada pelas redes sociais e pelo novo papel da tecnologia na vida cotidiana e no modo como ela raqueia a política”. A democracia brasileira sobreviveu a isso, porém, Wisnik observa que “só poderá sobreviver, de fato, se afastar esse tumulto da sua frente, e, para tanto, vai precisar, realmente, punir de verdade os personagens que causaram tudo isso e que agem para minar a democracia, começando por Carla Zambelli, por Daniel Silveira, por esses peixes menores, que são inaceitáveis dentro de uma democracia, e depois, é claro, pela própria família Bolsonaro, que nós esperamos ver atrás das grades”.

27
Out22

A reta final?

Talis Andrade

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O atual presidente é sobretudo a expressão brasileira de um processo social e histórico que tem âmbito mundial

 

por Daniel Aarão Reis /A Terra É Redonda 

 

Estamos na reta final, muitos argumentam, pensando no dia 30 de outubro próximo.

Trata-se, sem dúvida, de um dia decisivo, quando a sociedade brasileira será chamada a decidir se quer ou não continuar com o tempo de horrores que tem sido proporcionado ao país pelas alianças políticas e partidárias que assumiram o poder desde janeiro de 2019.

É certo que o atual presidente é um mal em si mesmo, mas ele é sobretudo a expressão brasileira de um processo social e histórico que tem âmbito mundial, suscitado por uma revolução científico-tecnológica que tem subvertido em profundidade – e numa velocidade vertiginosa – todas as dimensões da vida social, envolvendo a economia, a política, a cultura, fazendo com que “tudo que é sólido se desmanche no ar”.

Este processo tem provocado, conforme demonstrou Thomas Piketty, uma concentração demencial da riqueza, aprofundando dramaticamente as desigualdades sociais e favorecendo os grandes monopólios numa escala ainda desconhecida nos marcos da história do capitalismo. Tudo isto tem gerado nas gentes desconforto, angústia, desespero, desamparo.

As forças democráticas não têm sido capazes de oferecer soluções para estes problemas, ao contrário, uma vez no poder, conciliam com as tendências monopolistas e o crescimento das desigualdades sociais, com a limitação dos direitos sociais, culturais e ecológicos, dificultado ou impedindo a “democratização da democracia”, ou seja, sua extensão às vastas camadas populares, contribuindo, assim, mesmo que involuntariamente, para o descrédito das instituições e para a naturalização das desigualdades e da violência.

Fortalecem-se, em consequência, lideranças políticas e propostas religiosas messiânicas, autoritárias, que adquirem dimensão popular e se espalham pelo mundo. Entre outras, destacam-se o trumpismo articulado com as religiões neopentecostais nos Estados Unidos; as tendências autocráticas de Vladimir Putin em comunhão com a Igreja Ortodoxa na Rússia; a democracia iliberal de Viktor Orbán, e os apelos de um cristianismo integrista na Hungria; a ditadura mal disfarçada de Recep T. Erdogan na Turquia, aliada a correntes fundamentalistas islâmicas; o despotismo político na China, confirmado agora pela investidura ditatorial de Xi Jinping; o racismo institucional de Narendra Modi na Índia apoiado no integrismo hinduísta; a ditadura teocrática no Irã, chefiada por Ali Khamenei. Todas estas múltiplas formas de autoritarismo político, muito diferentes entre si, têm um ponto central em comum: consagram o desprezo pela democracia e pelos valores democráticos. Como nos anos anteriores à II Guerra Mundial, o autoritarismo já não se disfarça, afirma-se abertamente e sem complexos.

Jair Bolsonaro e suas articulações religiosas com o neopentecostalismo exprimem, no Brasil, a reemergência de propostas autoritárias com base popular. Adquiriram força social e política graça à erosão do prestígio da mal-chamada “Nova república”. Cavalgam na descrença dos valores democráticos. Farão tudo para impedir a posse de Lula e para infernizar o seu governo.

A campanha de Lula, ampliando alianças, consideradas indispensáveis para vencer o inimigo comum do regime democrático, pecou pela falta de propostas claras de como pretende governar. É certo que, premido pelas circunstâncias e por pressões diversas, esclareceu alguns pontos programáticos no contexto do segundo turno. Mas subsistem ainda muitas dúvidas e incertezas quanto ao rumo e ao sentido de seu governo.

Ora, uma vez eleito presidente da República, Lula terá que formular opções. Não terá pela frente uma conjuntura internacional e nacional favorável como nos seus dois primeiros mandatos.

O mundo de hoje, vinte anos depois, transformou-se num cenário marcado por uma instável multipolaridade. Na Ucrânia, desenvolve-se uma guerra de resultados ainda incertos, com promessas de radicalização. Outros conflitos anunciam-se na Ásia e no Oriente Médio. Afirma-se igualmente a possibilidade de uma nova crise econômica de âmbito mundial, com redução de crescimento e mesmo recessão em vários países.

No plano nacional, Lula será pressionado por uma extrema direita raivosa, pela avidez tradicional do capital financeiro e pelos interesses de suas bases populares. Tentará equilibrar-se no seu estilo habitual de mestre em negociar e arbitrar conflitos, mas é duvidoso que estas habilidades serão suficientes para manter sob controle as tensões e contradições sociais emergentes.

Neste quadro é uma ilusão imaginar que estamos numa “reta final”. Parodiando W. Churchill, a provável vitória de Lula não será o começo do fim, mas apenas o fim do começo.

As ameaças da extrema direita bolsonarista só serão superadas se a democracia for ampliada e aprofundada em nosso país. Se a renda for efetivamente distribuída. O racismo, combatido com firmeza. A tutela militar, afastada. A segurança provida, não apenas para as classes médias e as elites, mas para todo o povo. As polícias, desmilitarizadas. A devastação ambiental, erradicada. A educação e a saúde públicas, garantidas e aperfeiçoadas. A corrupção com os dinheiros públicos, controlada.

Será virtualmente impossível alcançar estes objetivos apenas através da ação do Estado e de líderes carismáticos. Será imprescindível a mobilização e a auto-organização das gentes.

Vivemos e viveremos ainda tempos sombrios. À espera, espreitam-nos grandes desafios. Decifrá-los e enfrentá-los será tarefa de uma geração.

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2023 será o Brasil da Esperança?

 
 
07
Out22

O avanço do “eterno fascismo”

Talis Andrade

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Marília Fiorillo parte de um livro de Umberto Eco e da eleição de Giorgia Meloni na Itália para analisar o avanço do fascismo, em suas diversas formas, e seu apelo sobre as massas

 

“Vale ler e reler um discurso de Umberto Eco, feito em 1995 na Universidade de Columbia e depois transformado em livro, O Fascismo Eterno. Chave para entender a vitória do fascismo na Itália, com a eleição de Giorgia Meloni e a ascensão da extrema- direita na Suécia, Hungria e Polônia. A insidiosa peculiaridade do ‘fascismo eterno’, segundo Eco, é que o termo fascismo é proteico, isto é, adapta-se a regimes diversos, mantendo um núcleo comum. ‘Tirem do fascismo o imperialismo e teremos Franco ou Salazar; tirem o colonialismo e teremos o fascismo balcânico. Acrescentem ao fascismo italiano um anticapitalismo radical (que nunca fascinou Mussolini) e teremos Ezra Pound,’ escreveu. Meloni não é Viktor Orbán, o que ficou claro em seu apressado apoio à Otan e desejo de continuar a receber fundos da União Europeia  – assim como a Itália, único país que teve um partido comunista realmente de massa, está longe de ser a Hungria. Mas, se há um espectro que ronda o mundo, hoje, é o da ‘nebulosa’ fascista. Basta que alguns sinais dessa nebulosa se manifestem para que se identifique o UR-fascismo (do prefixo UR, originário ou paleo). Entre eles, o nacionalismo atávico, o culto ao heroísmo (ou figura-mito), a concepção da vida como luta pela luta, não importa o propósito, o desprezo a valores iluministas, a visão do discordante como intruso e inimigo a despedaçar e o eterno apelo à família, pátria e Deus como remédios contra a ‘degradação moral’.  Enquanto as forças progressistas insistirem em chavões caquéticos, como fantasiar que a Rússia UR fascista ainda é comunista (o que nunca chegou a ser), ou que o povo é uma entidade imaculada, cujo apoio está garantido de partida, o eterno fascismo avançará. Quem vota é a massa da população (composta ‘massivamente’ pelo povão, um truísmo enigmaticamente negligenciado). A deterioração das condições de vida, dos direitos humanos e das liberdades civis tornaram esse apelo tentador. Pobreza, desemprego, frustração e humilhação da maioria das pessoas, atordoadas com crises crônicas e nenhuma solução à vista, seduzem para o UR fascismo. E seduzem não só a classe média, mas os estratos C, D e E, que se veem subalternos e abandonados pelas democracias tradicionais. É com o povo ou a massa da população, e não com a bolha ilustrada, que se precisaria conversar, isto é, ouvir antes de falar. E talvez então persuadir. E talvez convencer. O autoengano nunca foi bom conselheiro”.

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