28 civis trucidados para vingar a morte de um soldado lembram as vinganças nazistas nos territórios ocupados
Presidente do CNDH, André Carneiro Leão, diz ao Portal Vermelho que outras recomendações para redução da letalidade (28 pessoas mortas para vingar morte de um pm) continuarão sendo monitoradas em São Paulo.
Após 40 dias, o governo de São Paulo anunciou nesta terça-feira (5) o fim da Operação Escudo (denominada de Chacina do Guarujá), iniciada no fim de julho no litoral paulista após o assassinato de um soldado das Rondas Ostensivas Tobias (Rota) durante uma ação policial em Guarujá. A Operação Escudo deixou ao menos 28 pessoas mortas, numa das operações mais letais já realizadas. O anúncio foi feito pelo secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, durante uma entrevista coletiva.
A interrupção foi anunciada logo após a Defensoria Pública de São Paulo e a ONG Conectas Direitos Humanos entrarem com uma ação civil pública na segunda-feira (4) com pedido de tutela antecipada para que a Justiça obrigue o governo de São Paulo a instalar câmeras corporais nos policiais militares e civis que atuam na Operação Escudo, na Baixada Santista. Caso não fizesse isso, a ação também exige que a operação seja imediatamente suspensa, sob pena de multa diária. Na semana passada, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) também cumpriu missão em São Paulo para verificar a atuação das polícias e fez dezenas de recomendações para reduzir a letalidade das operações.
Em entrevista aoPortal Vermelho, o presidente do CNDH, André Carneiro Leão, entendeu que essa decisão (de encerrar a Operação Escudo) atende à primeira recomendação do Conselho à Secretaria de Segurança Pública e ao Governo de São Paulo. “Mas entendemos que existem outras mais de 20 recomendações que ainda não foram cumpridas pelo Governo do Estado de São Paulo”, acrescentou.
Segundo o Derrite, o litoral paulista continuará com o apoio da Operação Impacto, que estava em andamento na região antes da Operação Escudo. Com a mudança, os policiais do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) que estavam no local para dar apoio voltarão para suas bases.
O governo de São Paulo, por sua vez, afirma que a Operação Escudo visa combater o tráfico de drogas e o crime organizado na Baixada Santista e que, desde o início da operação, foram presas 747 pessoas, sendo 291 foragidas da Justiça, e apreendidos mais de 934 kg de entorpecentes, causando um prejuízo estimado em mais de R$ 2 milhões ao tráfico. Além disso, alega que nenhum desvio de conduta foi tolerado e que até o momento nenhuma denúncia de abuso durante a operação foi registrada.
Em relação às operações que ele disse que continuam, segundo o que foi informado, o CNDH entende que são operações padrões, que já ocorriam anteriormente. “Mas a nossa leitura é de que, na verdade, independentemente do nome que a operação tenha, o que precisa mudar é a política de letalidade. Isso é que precisa ser de fato alterado e conformado aos parâmetros internacionais de direitos humanos”, explicou.
O conselheiro também comentou o fato de ter havido uma grande movimentação no comando de batalhões, na segunda-feira (4), inclusive da própria Rota. Derrite teria justificado como movimentações naturais de carreira na polícia. “De fato, há uma série de equívocos na gestão da Segurança Pública de São Paulo e, talvez, isso esteja se refletindo na organização interna com insatisfações que têm sido manifestadas de algumas representações das forças de segurança do alto escalão”, pondera.
André não sabe se isso pode ser atribuído à intervenção do Conselho, ou da movimentação ocorrida por parte de outros órgãos e entidades de Direitos Humanos. “Mas o que podemos dizer é que essas mudanças talvez sejam reflexo dessa incerteza, dessa insegurança na gestão pública”, avalia.
O defensor público diz que o CNDH “lamenta muito” que a Operação Escudo tenha ocorrido. “O fato dela ter ocorrido, nas condições em que ocorreu, com acusações de que se tratava, na verdade, de uma vingança”, disse André.
Do ponto de vista técnico do CNDH, houve uma modificação da política de segurança pública no Estado de São Paulo. Antes da posse de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de Derrite, a política vinha no sentido de redução da letalidade policial. A Operação Escudo, no entanto, representa parte dos dados concretos, que foram contabilizados já nesse ano, de um aumento dessa taxa de letalidade. “Então, aquilo que deveria ser uma política de Estado, uma política independentemente de partido político ou de pensamento ideológico, de conformação das atuações da polícia de acordo com o Estado de Direito, parece que agora vai num sentido inverso e nos preocupa”, diz ele.
No entanto, o conselheiro ressalta que o fato de a Operação ter sido encerrada não impede a atuação do Conselho. “Muito pelo contrário, como eu disse, essa foi apenas a primeira das recomendações. Existem outros que precisam ser responsabilizados e as vítimas reparadas. Então o Conselho seguirá acompanhando a gestão até que efetivamente situações como essa não voltem a acontecer”, garantiu.
Durante este período de violência nas abordagens policiais, a questão das câmeras nos uniformes se tornou uma questão crucial, conforme a SSP-SP se negou a entregar imagens, alegando problemas na captação. O defensor público diz que esta é uma das uma das recomendações do CNDH, que São Paulo apresente um plano de ampliação da implementação das câmaras corporais em todos os batalhões, em especial nos batalhões de operações especiais da polícia.
Desde o início da operação, a Defensoria Pública enviou cinco funcionários à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, solicitando informações sobre as investigações das mortes e a utilização de câmeras corporais pelos policiais. No entanto, as respostas recebidas até o momento não foram suficientes para esclarecer os fatos.
“Nós vamos seguir acompanhando e monitorando. Nós tivemos um diálogo com o Procurador-Geral de Justiça e nessa conversa ele manifestou também ser favorável à ampliação do uso das câmaras. Nós encaminhamos uma recomendação também ao Ministério da Justiça, porque pensamos que essa é uma política pública que deve ser nacionalizada, ou seja, deve ser expandida para todos os estados do país e vamos cobrar também do Ministério da Justiça que alinhe essa política, que oriente a forma de implementação dessa política”, completou.
Operação Escudo (Chacina do Guarujá)
A Operação Escudo (Chacina do Guarujá), iniciada em julho de 2023, foi deflagrada pela Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo em resposta à morte do soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Patrick Bastos, no Guarujá. Inicialmente previsto para durar cerca de um mês, a operação continuou por tempo indeterminado, resultando em 28 mortes até a segunda-feira (4).
Segundo a SSP, todas as mortes decorrentes de intervenção policial estão sob investigação, e os laudos oficiais das mortes não registraram sinais de tortura ou qualquer incompatibilidade com os relatos das ocorrências.
Os laudos do Instituto Médico Legal, por sua vez, revelam que de 24 mortos na Baixada Santista durante os 30 dias da Operação Escudo, 46 tiros atingiram as vítimas. Os promotores de justiça estão analisando esses laudos para determinar as estatísticas das mortes. Até o momento, as imagens das câmeras corporais usadas pelos policiais trouxeram informações importantes para as investigações, mostrando tanto confrontos com crimes quanto falhas operacionais.
Chuva forte causa estragos em cidades do RS — Foto: Reprodução/ RBS TV
Associação de PMs pretende que a chacina de Guarujá seja chamada de Operação Escudo - de defesa de Brasília contra os atos golpistas e terroristas
247- A Federação Nacional de Entidades de Praças Militares Estaduais (Fenepe), que representa mais de 40 entidades de oficiais militares das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros no Brasil, moveu um processo contra as emissoras Globo, Band e TV Cultura. O motivo central do processo é a contestação do uso do termo "chacina" nas reportagens que cobriram a Operação Escudo, realizada pela Polícia Militar no litoral de São Paulo, após o assassinato do soldado Patrick Bastos Reis. Chamar de "escudo" a chacina da polícia de Tarcísio de Freitas é desmoralizar o programa escudo de defesa de Brasília contra atos terroristas e golpistas de extremistas bolsonaristas. Que resultaram na prisão do alto comando da PM do DF.
De acordo com reportagem dojornalFolha de S. Paulo, que teve acesso a documentos judiciais do caso, que tramita na 32ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), a Fenepe alega que os telejornais, como Jornal Nacional, Bom Dia Brasil, Jornal da Cultura, Jornal da Band e Brasil Urgente, veicularam o termo "chacina" para descrever a ação policial, o que é considerado pela associação como uma "ofensa à corporação".
Segundo a Fenepe, essas reportagens estariam prejudicando a imagem dos policiais/praças militares perante a sociedade civil, gerando uma deterioração na opinião pública sobre a corporação e criminalizando as ações dos policiais envolvidos na Operação Escudo.
A associação solicitou inicialmente uma liminar que impedisse as emissoras de utilizarem os termos "chacina", "extermínio" ou "tortura" em suas reportagens sobre a operação, além de requerer uma multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento dessa medida.
Entretanto, o juiz do caso, Fábio de Souza Pimenta, negou a concessão de uma tutela de urgência em primeira instância. O magistrado alegou que, de imediato, não era possível determinar a ilegalidade na conduta das emissoras, visto que o direito constitucional à livre manifestação de pensamento deve ser respeitado. A decisão final ficará pendente até que as emissoras apresentem suas defesas no processo.
A Defensoria Pública de São Paulo e a organização Conectas Direitos Humanos equipararam a Operação Escudo ao Esquadrão da Morte. As organizações entraram com uma ação civil pública na segunda-feira (4) exigindo que a Justiça obrigue o governo de São Paulo a equipar policiais com câmeras corporais durante a Operação Escudo, em andamento no Guarujá e em outras localidades da Baixada Santista. Caso não seja possível cumprir essa determinação, a Defensoria solicita a suspensão da operação, destaca ojornalFolha de S. Paulo.
A Operação Escudo já resultou em 28 mortes, tornando-se uma das ações policiais mais letais desde o Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, quando 102 presos foram mortos por policiais militares.
Temporais no RS: com 4 mortos, ruas submersas e energia cortada
A forte chuva que atinge o Rio Grande do Sul, com granizo e ventos fortes, causou estragou e deixou vítimas pelo estado. Conforme levantamento divulgado pelas autoridades na tarde desta segunda-feira (4), são 353 desalojados (pessoas que saem de suas residências e vão para as casas de familiares, amigos ou vizinhos). Há registro de quatro mortesnesta segunda-feira (4). Todos os óbitos ocorreram na Norte do estado, uma das regiões mais afetadas pelo temporal.
Tarcísio de Freitas e o secretário de Segurança Guilherme Derrite – Rogério Cassimiro/Governo de SP
Quando se reúnem 600 homens armados para supostamente encontrar o assassino de um policial, não há como esperar inteligência ou eficácia. Chacina era o que se esperava da operação – planejada por um ex-PM afastado por excesso de homicídios. Um serial killer...
O secretário de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas, Guilherme Derrite, chamou de “narrativas” as denúncias de execução e violência policial feitas por moradores atingidos pela operação vingança no Guarujá – depois estendida para a Baixada Santista e o litoral norte do estado.
Foi essa suarespostaà deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP), precedida de um preâmbulo revelador: “Achei que a senhora, como mulher, ia defender a policial que tomou tiros de fuzil pelas costas do crime organizado”, disse a Sâmia, que o inquiria como parlamentar.
Guilherme Derrite, um ex-PM que chegou a serafastado da Rota– a mais violenta força policial do estado – por excesso de homicídios, deixou evidente a motivação vingativa da Operação Escudo, que até o momento já matou 16 pessoas sob dois pretextos: o primeiro, “investigar” e “prender” os responsáveis pela morte de um policial, também da Rota; o segundo, convenientemente adicionado depois, combater o crime organizado. Cobrar o comportamento legal de agentes do Estado, pagos para exercer suas funções como funcionários públicos, e não para também agir como bandidos, não tem nada a ver com ser homem ou mulher.
Mas, na cartilha de Derrite, o papel da polícia é “tocar o terror”, prática conhecida por pretos pobres do Rio, da Bahia, de São Paulo e de onde mais houver favelas e o jogo de arreglos e acertos entre policiais e facções. Quando se reúnem mais de 600 homens armados para supostamente encontrar o assassino de um policial, não há como esperar inteligência ou eficácia. A chacina era o resultado esperado da operação planejada, patrocinada e aplaudida pelo governo Tarcísio de Freitas. Lei mais aqui
Capitão Derrite, o matador, já afirmou que policial bom tem que ter pelo menos 3 homicídios no currículo
Por g1 SP
Guilherme Muraro Derrite, de 38 anos,deputado federal nomeado pelo governadorTarcísio de Freitas(Republicanos)secretário da Segurança Pública de São Paulo, já defendeu que é "vergonhoso" para um policial não ter ao menos "três ocorrências" por homicídio no currículo.
O áudio foi revelado em junho de 2015 pelaPonte Jornalismo.
"Os tenentes, principalmente os oficiais, que nos últimos 5 anos se envolveram em três ocorrências ou mais que tenha o resultado evento morte do criminoso estão sendo movimentados. E o Telhada se encaixa nessa lista, até eu que estou fora da rua há dois anos me encaixo, porque o camarada trabalhar cinco anos na rua e não ter [...] três ocorrências [em casos em que suspeitos morreram a tiros disparados pelo policial], na minha opinião, é vergonhoso, né?", diz Derrite na gravação, segundo a Ponte.
No áudio, veiculado em uma rede social, Derrite respondia sobre a transferência do tenenteRafael Telhadadas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar(Rota)para o 2º Batalhão do Choque daPolícia Militar (PM)e criticava as ações da polícia para reduzir a letalidade durante ocorrências. Ele chegou a ser detido pelaCorregedoriada corporação por causa da gravação, de acordo com a reportagem. Esse caso chegou a ser arquivado depois pelaJustiça militar, no entanto.
O futuro secretário chegou a ser condenado pelaJustiça comuma pagarR$ 20 mil de indenização por dano moralà família de um homem morto pela PM, em 24 de fevereiro de 2020 em Osasco, na GrandeSão Paulo. Derrite postou que a vítima era criminosa e que iria usar "fantasia do capeta", mas na verdade era um encanador que tinha ido comprar leite e foi morto acidentalmente pela polícia(saiba mais abaixo).
Derrite é ex-policial militar com passagem pelas Rota da PM e com forte ligação com a família do presidenteJair Bolsonaro(PL). Ele participou ativamente da campanha pela reeleição do presidente e o acompanhou em diversas agendas. Ele é formado em direito e oficial da reserva da PM. Assumirá a pasta da Segurança sem ter chegado ao topo da carreira, diferente de seus últimos antecessores, como, por exemplo, o atual secretário, generalJoão Camilo Pires de Campos.
Post sobre ida de Bolsonaro e Derrite a São Paulo — Foto: Reprodução
O deputado nasceu em Sorocaba, no interior paulista, e começou a carreira como militar no ano de 2003. Ele se tornou 1º Tenente da PM em 2010, quando assumiu o comando da Rota e ficou até 2013. Derrite também fez parte doCorpo de Bombeirose foi eleito deputado federal peloPartido Progressista (PP)no ano de 2018.
Em 5 de junho de 2020, Derrite postou em seu Twitter o trecho de um vídeo no qual explicava em entrevista àJoven Pano motivo de sua saída forçada da Rota antes de ser realocado nos Bombeiros.
"Eu saí por que eu não brincava em serviço. Eu quando eu trabalhava na Rota eu pra rua pra trabalhar, pra defender a população. Eu fui transferido de maneira covarde do batalhão da Rota porque eu tive várias ocorrências com resultado, com troca de tiro. Infelizmente, a política à época do governo do PSDB que me tirou do serviço operacional. Eu dediquei minha vida à Polícia Militar, ao batalhão da Rota... eu enfrentei o crime organizado, enfrentei o PCC [a facção criminosa Primeiro Comando da Capital], eu não fugi do confronto. Eu me arrisquei na vida inúmeras vezes, troquei tiros inúmeras vezes com criminosos e o reconhecimento que eu tive foi a transferência. Não guardo mágoas de ninguém. Eu fui tirado das ruas por ser um bom policial e defender a população", comentou Derrite.
Derrite aparece como um dos policiais militares "declarantes" em dois processos por homicídio simples na Justiça comum em Osasco, nos anos de 2008 e 2009, e em outro de 2011, na capital paulista. No total, aparecem os nomes de sete vítimas. A reportagem não conseguiu checar o que aconteceu com o processo de 2008. O de 2009 continuava em aberto. E o de 2011 foi arquivado.
Em março de 2022, Derrite migrou para o partido de Bolsonaro, o PL e foi reeleito deputado federal.
Derrite é coautor do Projeto de Lei 2310/2022 apresentado em agosto deste ano pelo deputadoSubtenente Gonzaga(PSD-MG) que prevê que a Polícia Militar tenha poder de formalizar investigações e pedir ao Judiciário mandados de busca e apreensão. O projeto passou pelaComissão de Segurança Pública de Câmara dos deputadose aguarda parecer do relator da Comissão de Constituição e Justiça(CCJ).
Parabeniza 'CPFs cancelados'
Publicação de Derrite em redes sociais. — Foto: Reprodução.
Popular nas redes sociais e com mais de 2,8 milhões de seguidores noFacebook, Derrite se tornou conhecido por defender pautas conservadoras e as mortes de suspeitos de crimes em confronto com a polícia.
Ele costuma compartilhar vídeos marcando uma página chamada'CPFSCancelados', elogiando policiais e civis que atiram em suspeitos, sobretudo, quando o caso termina em morte.
Bandido armado anuncia assalto a uma agência dos Correios. Policial de folga garantiu o envio da encomenda para a eternidade...Mais um Cadastro de Pessoa Física devolvido para a Receita Federal. @CPFsCancelados", escreveu Derrite em uma publicação de 23 de dezembro de 2019.
"O fato dos policiais do 16º BPM/M estarem entre os que mais “matam” criminosos só mostra a qualidade dos homens e mulheres que compõem o efetivo deste ilustre Batalhão. Quem escolhe o destino é o criminoso, bandido que atira pra matar está sujeito a tomar tiro para morrer", segundo postagem dele em 11 de dezembro de 2019.
Derrite também defende sempre a atuação da Rota e costuma escrever "uma vez rota, sempre rota", nas redes sociais.
Condenado a R$ 20 mil por dano moral
Derrite havia postado que vítima de tiro acidental da PM era criminoso, mas comprovante ao lado mostra que ela tinha ido comprar leite — Foto: Reprodução
Justamente por causa das postagens nas redes sociais é que Derrite foi condenado pela Justiça comum a pagar R$ 20 mil de indenização por dano moral à família de um homem morto pela PM em 24 de fevereiro de 2020 em Osasco.
O secretário da Segurança Pública o tratou como um criminoso armado, mas ele era um encanador que tinha ido comprar leite num mercado e foi atingido na cabeça por um disparo de um policial militar que perseguia um suspeito. No mesmo dia, Derrite, que já era deputado federal à época, postou no seu Twitter que"um criminoso trocar tiros com a PM e vai curtir o Carnaval no inferno. Esse vai aproveitar o Carnaval e já vai usar a fantasia do Capeta".
O homem morto deixou a esposa e o filho criança. Ele não estava armado. Seus parentes constituíram advogados e entraram na Justiça com um pedido de indenização contra Derrite. E em março deste ano ela decidiu condenar Derrite pelo dano moral.
O que causou mais dor e indignação aos familiares da vítima é que mesmo após o Capitão Derrite descobrir que se tratava de um erro policial que vitimou uma pessoa inocente, ele nunca se retratou de sua postagem ou pediu desculpas", disse ao g1 o advogado Felipe dos Anjos, que atua na defesa da família da vítima ao lado dos também advogados Tiago Ziurkelis Mafaldo e Igor Henrique Moreira Martins.
A defesa de Derrite alegou no processo que a publicação foi genérica e não fazia referência à vítima da bala perdida, mas a um suposto criminoso envolvido na ocorrência.
[O nome da vítima] não foi citado na publicação e sua honra jamais foi colocada em sopesamento pelo Senhor Guilherme Muraro Derrite, que, como deputado federal, recorrentemente se manifesta com críticas incisivas ao crime em geral e ao crime organizado, mas não indicando nomes”, pontuou o advogado, que ainda pediu redução do valor da causa para R$ 3 mil.
A defesa do condenado recorreu da sentença aoTribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, que ainda não julgou o recurso.
Câmeras em uniformes policiais
PM de SP usa câmeras nos uniformes — Foto: Marcelo S. Camargo/Frame/Estadão Conteúdo (Arquivo) e Divulgação PM de SP
247- A repórter Danielle Zampollo, da TV Globo, foi para a comunidade Prainha, localizada na cidade costeira do Guarujá, para ter acesso às informações sobre as mortes da Operação Escudo, que deixou 16 mortos, sendo 12 em Guarujá e 4 em Santos. No entanto, a profissional se deparou com uma situação de pânico, após um policial apontar um fuzil para ela, durante a reportagem. As informações sãodo G1.
A repórter relata que decidiu se apresentar ao chegar no local. “Eu sou jornalista, posso perguntar que trabalho vocês vieram fazer aqui hoje?”
O policial não respondeu. A jornalista então pegou o celular e começou a registrar a entrada dos policiais na comunidade.
Danielle falou mais uma vez: “Tô mostrando o trabalho de vocês, tá bom?". O policial começou a apontar o fuzil em direção a ela – ação que durou 17 segundos.
“Quando ele começou a apontar o fuzil pra mim, e manteve a arma apontada, eu estranhei. Achei que estivesse acontecendo alguma coisa. Olho pra trás e não tem ninguém. Só eu, numa viela estreita. Aí que eu vi que era comigo. Ele ficou 17 segundos apontando o fuzil pra mim, sem parar.”
A repórter conta que decidiu se proteger após a ação do policial.
O relato da jornalista veio à tona nesta terça, durante a exibição do Profissão Repórter. Antes disso, o policial em questão já havia gravado as cenas e criado a versão de que ele estaria sendo perseguido pela repórter. As imagens viralizaram nas redes.
Profissão Repórter
@profreporter
REPÓRTER NA MIRA | O #ProfissãoRepórter desta terça (15) fala de letalidade policial. A repórter Danielle Zampollo foi à comunidade Prainha, no Guarujá, apurar informações sobre as 16 mortes da Operação Escudo. Um policial apontou um fuzil para a jornalista durante a reportagem.
O vídeo mostra Michelle Bolsonaro acompanhada por seu maquiador e amigo, Agustin Fernandez, que inicialmente direciona palavras insultuosas à mulher filmando a cena, utilizando termos ofensivos. A seguir, a ex-primeira-dama se aproxima da mesa onde a mulher está e responde de forma agitada à pergunta sobre as joias, expressando sua irritação com a seguinte declaração: "Você está tão desinformada que nem sabe onde as joias estão." Durante esse momento, ocorre um som, sugerindo que o maquiador jogou um copo de gelo em direção à mulher que estava filmando.>>>Deputados pedem que STF retenha passaportes de Bolsonaro e Michelle
A assessoria da ex-primeira-dama emitiu uma nota em que esclarece que Michelle apenas respondeu aos insultos afirmando que as pessoas em questão estavam mal informadas, e então deixou o local. O blog também buscou entrar em contato com a equipe de Agustin Fernandez para obter posicionamento, enquanto a mulher que gravou o vídeo preferiu manter anonimato, temendo possíveis represálias.
No mesmo dia, a Polícia Federal lançou uma operação intitulada "Lucas 12:2", fazendo referência a um versículo bíblico que declara: "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido." Esta operação teve como alvo a suposta tentativa, envolvendo membros militares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, de comercializar ilegalmente os presentes recebidos pelo governo de delegações estrangeiras.
Mães e mulheres negras da Baixada Santista assumem a posição de porta-vozes das denúncias em ato realizado nesta quarta (3/8) no Guarujá | Foto: Ailton Martins
À frente da manifestação ou subindo o morro junto de filhos e maridos, elas garantem a vida diante do massacre promovido pela PM. Ouvidoria escuta famílias das 16 vítimas fatais, que denunciam invasão de casas, tortura e tiros à queima-roupa
Evandro Belém tinha 34 anos, era ajudante de obras, mas, nas palavras de um familiar, era o parente mais bondoso entre os seus, o cara que vivia convicto de que não precisava desejar mal para ninguém. “E sabe, eu acho que é por isso que ele morreu: afinal ele não correu e ficou no lugar quando a polícia apareceu, porque, na cabeça dele, não tinha motivo para ter medo, já que ele não tinha machucado policial nenhum e, se soubesse da morte de algum, ele ia era rezar por ele”, conta o familiar, que preferiu não se identificar, mas compareceu ao ato “Ser Pobre Não É Crime”, organizado por movimentos sociais da região da Baixada Santista, litoral do estado de São Paulo, na tarde desta quarta-feira (2/8) na praça 14 Bis, em Vicente de Carvalho, distrito do Guarujá.
Os movimentos da região promoveram um encontro entre moradores da Baixada com uma comitiva formada pela equipe da Ouvidoria das Polícias, Defensoria Pública e parlamentares da Câmara Municipal de São Paulo e da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), além de pesquisadores e organizações diversas da capital, preocupados com a situação vivida pelos caiçaras.
Orientados por movimentos sociais da região, o ouvidor das Polícias, Claudio Aparecido da Silva, também percorreu as comunidades para começar a escutar as famílias das 16 vítimas fatais da Operação Escudo, ação policial deflagrada após a morte do PM Patrick Bastos de Oliveira, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), na quinta-feira passada (27/7). A operação,que deve durar 30dias segundo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), foiconsiderada “vingança”por especialistas ouvidos pela Ponte.
“Ser pobre não é crime”, o tema da manifestação, combate o que a advogada Dina Alves aponta como o alvo da Operação Escudo: o extermínio de negros e periféricos | Foto: Ailton Martins
Claudinho conta que deve publicar um relatório completo nas próximas semanas, para apontar irregularidades cometidas pela polícia durante as mortes – que, frisa o ouvidor, certamente ocorreram – e indicar até que ponto as versões oficiais de confronto entre vítimas e agentes do Estado foram reais ou estão muito distantes das versões dos sobreviventes – invasões à residências, relatos de tortura e tiros à queima roupa.
“As pessoas que estamos escutando não estão pedindo nada demais, elas querem paz. Nós vamos produzir um relatório com conteúdos probatórios de irregularidades que estão sendo feitas, e o Estado não tem o direito de cometê-las contra pessoas comuns que ele deveria estar acolhendo”, comenta o ouvidor.
Encruzilhada pela memória dos mortos
O ajudante de obras morreu na tarde da última sexta-feira, 28 de julho, enquanto recolhia entulhos para ajudar na reforma da casa de uma moradora da comunidade da Aldeia, no município do Guarujá. Ele foi abordado por policiais que, segundo testemunhas, já chegaram atirando. Evandro morreu no local.
A família de Evandro compareceu no ato da praça 14 Bis após ter enterrado o caiçara horas antes. Até o momento da despedida, familiares contam que enfrentaram uma longa jornada a partir do instante em que receberam o primeiro aviso da sua morte: precisaram contar com a ajuda de amigos para comprar a passagem até a delegacia, só para ouvir que não teriam acesso a informações corretas; depois precisaram de ajuda para viajar por mais de duas horas de balsa e de ônibus até o Instituto Médico Legal, na cidade de Praia Grande, para ouvirem, lá, que precisariam pagar caso quisessem o acesso completo ao laudo que indica como Evandro morreu:
“A mulher para quem ele estava catando entulho foi nos avisar que ele não tinha voltado, aí a gente foi procurando e começamos achar que ele era a pessoa que a polícia tinha matado ali naquela tarde. A gente teve que escutar no IML da Praia Grande que, para saber como ele morreu, teríamos que pagar R$ 75 e só mostraram uma foto dele no computador”, denuncia um dos familiares. A pessoa também conta que a comunidade local teria visto o momento em que uma segunda vítima foi colocada no camburão da polícia e levado para a comunidade da Conceiçãozinha, onde teria sido morto.
Mulheres à frente
Por não serem o principal alvo, são as mulheres que também aceitaram falar com a imprensa presente no local. Única moradora da região que escolheu sair do anonimato, Edna Santos compartilhou o que soube da morte de Cleyton, um dos assassinatos que mais revoltou os moradores do Guarujá.
“A mídia fica passando que teve troca de tiros com a polícia, que ele estava com droga, mas era tudo mentira. Tem inocente morrendo também, até quem não tem passagem pela polícia”, contou.
A sensação de que as mulheres precisam ser a principal fonte de denúncia das mortes faz parte de uma estratégia de sobrevivência. Nas comunidades em que a polícia aparece invadindo casas, são as chefes de família que lembram que é proibido entrar em residência sem mandado judicial. Para subir o morro, os homens estão pedindo para que suas mães, companheiras e filhas estejam do seu lado.
“Eu preciso falar isso sempre, porque é impressionante que meu filho adolescente não pode sair para ir na esquina que já leva enquadro. Na minha casa ninguém entrou não, mas é difícil segurar e acabei vindo aqui falar porque sou mãe de seis e também não quero que outras mães continuem aceitando isso que estamos passando”, falou uma moradora da favela da Prainha, que pediu para não ser identificada. Ela conta que mora há 37 anos na comunidade e que nunca viu ações parecidas como as que estão sendo realizadas pela Rota nos últimos dias.
Movimentos de mães de vítimas de outros massacres, como as Mães de Paraisópolis, vieram de São Paulo apoiar as famílias do Guarujá | Foto: Ailton Martins
As mulheres também lideram as ações de solidariedade entre mães e esposas enlutadas. Mãe de Luis Fernando, assassinado em fevereiro de 2023, Sandra veio para o Guarujá com as Mães de Maio porque queria, segundo ela, demonstrar o apoio de uma dor que ainda está construindo a partir do seu luto recente:
“Todas nós que estamos aqui não dormimos direito, não comemos, porque a gente sabe o que essas famílias estão passando e isso precisa mesmo acabar”, conta.
Para Luana de Oliveira, integrante da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, é importante que os movimentos sociais que compuseram o ato reforcem o compromisso de permanecer lado a lado com os movimentos da Baixada Santista. Ela assegura que as manifestações só começaram e que devem haver mais atos.
“Temos que fazer outros atos, já que o governador disse que está satisfeito e que as operações não vão parar”, pontua.
Na manifestação, ela também trouxe a necessidade de enxergar as mortes a partir da disputa pela narrativa: não deixar que as histórias das vítimas sejam esquecidas e trocadas por versões convenientes pela polícia:
“As mães que já são vítimas do genocídio também lutam para que não sejam vítimas do genocídio da memória, em que querem que a gente aceite a versão que eles [autoridades] querem contar sobre as mortes, mas não podemos esquecer do que aconteceu de verdade”, alerta.
Nas redes sociais, as mães não estão sozinhas. Segundo o relatório da consultoria de pesquisa Quaelst, a repercussão dos internautas sobre a Operação Escudo tem sido muito negativa: as declarações do governador Tarcisio de Freitas geraram mais de 227 mil menções nas diversas plataformas digitais (Youtube, Twitter, Facebook, Google, Instagram) até a última terça-feira (01/08), a maioria críticas à atuação da polícia na Baixada Santista.
Um método para matar
Os relatos sobre a morte da vítima que estava com Evandro Belém seguem um padrão identificado em versões dadas sobre moradores em relação a outras pessoas: policiais estariam sequestrando e levando vítimas para serem mortas fora do seu território, buscando atrapalhar investigações e o reconhecimento das pessoas mortas. Moradores de situação de rua também estariam entre os alvos, já que muitas vezes as pessoas não conhecem suas histórias, tampouco seus nomes.
“Fazem isso pra gente não saber quem está morrendo, já que a gente só pode falar de quem morreu aqui. O Cleyton a gente sabe como morreu porque ele era da nossa comunidade, todo mundo aqui convivia com ele e sabe que [a versão policial] foi tudo encenação. Tiraram o filho dele do colo, ele foi colocado num canto e atiraram sem que ele estivesse armado”, contou uma moradora de Conceiçãozinha, que preferiu não se identificar. A morte de Clayton repercutiu entre os moradores do Guarujá pela presença dos filhos dele no momento de seu assassinato.
Moradores presentes na manifestação, de diferentes bairros do município, comentam que boa parte das mortes teriam acontecido a partir do mesmo procedimento da PM: invasão de domicílio, homens tatuados e com antecedentes criminais como alvo – mesmo quando estão seguindo suas vidas fora do crime – e encenação de um local da morte, com arma e drogas que teriam sido “plantadas” pelos policiais.
Essemodus operandijá teria chegado a Santos, maior cidade da região. Matheus Café, líder do Centro dos Estudantes de Santos e Região, falou ao microfone durante o protesto, denunciando que, na favela do Alemôa, a arbitrariedade da polícia começou bem antes dos ataques no Guarujá: no início da semana passada, ele conta que os moradores receberam os primeiros avisos de que haveria o fechamento do comércio da região por causa de uma operação da polícia contra o tráfico na Baixada. Apesar das ações não terem mortes, Matheus relata ameaças e agressões a moradores do local.
“A gente não aguenta mais projeto de genocídio da juventude. Eu não aguento mais sair da minha casa e sentir medo de ir para a universidade”, desabafou.
Advogada e doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP, Dina Alves morou durante dezessete anos no bairro do Morrinhos, no Guarujá, um dos locais em que há relatos de mortes. Para ela, o ato, mais do que um momento de visibilidade sobre a violência na Baixada Santista, também é uma oportunidade para reforçar a importância de lembrar o racismo presente nas mortes – tipo de genocídio que, para ela, é um projeto de governo.
“Essa Operação Escudo diz ser um combate à criminalidade, morreu um policial e o discurso é que é preciso combater a criminalidade, mas ela esconde um projeto de exterminio da população negra, já que o perfil do suspeito padrão e da morte no Brasil é o jovem negro periférico. Não é sobre o combate às drogas, não é porque morreu um policial no Guarujá, é porque é preciso que esse projeto de extermínio esteja em curso”, ressalta a pesquisadora, lembrando que na Bahia ações policiais também estão deixando um rastro de mortes: foram 19 vítimas apenas nesta semana.
A paz que morre na praia
O sentimento de apoio generalizado flertou, muitas vezes, com a esperança de que estivéssemos diante do início do fim da matança. Mas entre caiçaras periféricos, aquele velho medo que existe no ditado de “tentar não morrer na praia” voltou nos minutos finais da manifestação, em que todos estavam dispostos a gritar juntos por esperança e registrar uma foto coletiva: chegou aos grupos de moradores e movimentos sociais da região a informação de uma nova morte no Morro do Engenho, também no Guarujá.
A vítima teria levado nove tiros à tarde. A equipe da ouvidoria encaminhou-se imediatamente ao local, enquanto Dina Alves pegava o microfone para relatar a angústia compartilhada no momento pelos presentes:
“A gente pede, pelo amor de Deus, que retirem essa operação! Essa operação que ninguém sabe quais os objetivos e quais as finalidades”, criticou. Ela também contou que a trégua continua muito longe de terminar, graças ao aval do governo estadual e da ausência do governo federal que ainda não desceu a Serra do Mar.
“Profissionais da segurança pública não podem usar o discurso da vingança para fazer segurança policial”, ressaltou.
Mais tarde, soube-se que não houve morte no local, mas que os tiros foram disparados no Morro pela Romu(Rota Ostensiva Municipal) da Guarda Municipal do Guarujá. Dois jovens foram abordados, mas imediatamente soltos, em movimento lido como uma forma de intimidar os moradores e lembrar que está longe de acabar o fim da contagem dos atos de violência cometidos pelo Estado na Baixada.
“Qual a razão da ROMU estar estimulando o pânico num contexto já tão difícil”, questionou Dimitri Sales, advogado e presidente do Conselho Estadual de Defesa os Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo (Condepe), no Twitter:
Defensoria Pública oferece ajuda gratuita
Os defensores públicos do Guarujá, presentes no local, compartilharam um sentimento de alívio por encontrarem um momento para conhecer alguns dos familiares das vítimas. Eles contam que, apesar de a Defensoria Pública ser muito procurada pela população para diversos casos, as pessoas ainda têm dificuldade para procurar os profissionais em busca de assistência para histórias de violência policial.
Preferindo não se identificar, eles compartilham que escutam, de defensores mais velhos, que o massacre dos últimos dias só se aproxima dos Crimes de Maio – uma sensação também já mencionada por locais em diversos pontos da Baixada Santista. Mas por ora, eles preferem se amparar na impressão de que a visibilidade nacional e internacional dos casos vai ajudá-los a ter uma atuação mais efetiva para as famílias.
“É importante que a comitiva que veio de São Paulo tenha esse momento de troca com as famílias aqui, porque é importante vivenciar de fato o que estamos vivendo na Baixada. E isso nos dá mais confiança para contar aos moradores que eles não estão sozinhos, que estamos levando isso para o governo, pessoas que não são daqui e estão nos fortalecendo”, refletiu um dos defensores.
No Guarujá, a Defensoria Pública pode contribuir para ajudar famílias a ter informações sobre violências cometidas contra moradores, encontrar orientações para buscar por reparação do Estado e por proteção diante de ameaças. A Defensoria funciona de segunda à sexta, das 10h às 17h, com atendimento imediato e garantia de sigilo das vítimas. O prédio fica na Av. Ademar de Barros, 1327 – Jardim Helena Maria, Guarujá.
Escuta sem protocolo de segurança
Diante de ummodus operandide chacina que se repete de comunidade para comunidade, como garantir um registro que possa ser uma prova incontestável deabuso policial já que, aparentemente, a Operação Escudo – e, consequentemente a matança – segue nos próximos 30 dias.
Horas antes da manifestação, durante a manhã desta quarta-feira (2), um morador do bairro Conceiçãozinha se dispôs a falar, contando em detalhes a invasão da polícia a residências da região na noite anterior. Rodeado por câmeras em uma coletiva de imprensa improvisada em um beco das primeiras entradas do Conceiçãozinha, o senhor não queria aparentar medo, mas era lembrado pelo ouvidor a todo momento que falar era necessário, mas se proteger muito mais.
Mas a convicção da coragem aparece apenas em quem acredita que não tem mais nada a perder. Porque, para boa parte dos moradores, a necessidade de falar esbarra, quase sempre, nas dúvidas sobre em quem confiar. Por outro lado, quem busca documentar as histórias e os dados também não encontra asfalto confiável por onde andar nos morros em que aconteceram as mortes que já se têm notícia.
Não existe um manual para se sentir mais seguro enquanto oferece a escuta, e evitar mais espaço para a represália da polícia. Na corrida corrida contra o tempo para trazer mais relatos que possam chocar a ponto de frear a matança, os moradores mostram áudios e prints de possíveis cenas de tortura ou de assassinatos, e na rua é difícil buscar fontes que confirmem a veracidade do que chega, já que de um lado há um boletim de ocorrência tratando todos como suspeitos, e de outro há uma desinformação muitas vezes alimentada pelo medo.
Mas nem todos estavam dispostos a receber a comitiva. Apesar da presença de órgãos importantes para a proteção das denúncias das arbitrariedades cometidas pelo Estado, a atenção da imprensa local e de veículos televisionados que, em muitos momentos, registraram fotos e vídeos dos moradores, deixaram no local um sentimento conflituoso de alívio pela escuta, e medo de uma exposição que não foi consentida. Afinal, apesar do pacto coletivo de poupar a identificação das fontes, tantos flashes inesperados espantaram alguns moradores pela perda do controle de saber o destino final de tantos registros.
“Tio, aqui não tem só polícia não, o PCC também está por aqui e é difícil falar depois pra eles que a gente não está falando com policial e sim com quem quer ajudar”, reclamou um jovem que conversou com o ouvidor.
Questionados pela reportagem no momento da caminhada, assessoras de movimentos sociais e de deputadas da região conseguiram sensibilizar a equipe da Ouvidoria e dos parlamentares da capital para que tivessem mais zelo sobre o compartilhamento da escuta com os veículos, e a imprensa acabou vetada das visitas seguintes.
Mais tarde, o ouvidor das polícias defendeu a presença midiática para escutar as famílias, diante do apagão de dados da Secretaria da Segurança Pública e das intimidações quase diárias para que as comunidades não ajudem a aumentar os registros oficiais das mortes:
“Acho que muitos moradores querem falar, e a imprensa de fato está expondo essas pessoas, mas isso é relevante expor. A opinião pública, o mundo, o planeta, precisa saber o que está acontecendo na Baixada Santista, e é expondo que conseguimos mobilizar nossos sentimentos e acredito que a comunidade está precisando que a gente entregue nosso apoio”, defende.
Ativistas que pediram para não se identificar questionam se os políticos presente nas comunidades e no ato desta quarta (2) vão continuar acompanhando as famílias sobreviventes até 2024, ano das eleições municipais. E se haverá um esforço maior, da imprensa, após as histórias visibilizadas agora, em trazer nomes das vítimas e contexto real das suas mortes, ao invés de só justificá-las como “suspeitos” ou com passagem pela polícia.
Carta aberta ao ministro Flávio Dino
Diante das novas brutalidades da polícia contra negros e pobres, em três estados, tomo a liberdade de compartilhar algumas observações e propostas. Ao longo de décadas, acumulei mais derrotas que vitórias. Por isso mesmo, me permito algumas ponderações
Política agrícola: Assim o agro vampiriza o Estado
Subsídios bilionários. Isenção de imposto sobre exportação. Perdão de dívidas. Setor, que surfa no financismo, poderia viver de recursos privados – mas suga o Estado. Enquanto isso, a agricultura camponesa disputa a menor fatia de crédito
Fala xenofóbica de Romeu Zema faz lembrar observações de Dardot e Laval sobre o que torna próximas as duas correntes. Mas, se aderirem ao governador mineiro, partidos da direita “normal” correm de novo o risco de desaparecer fagocitados
Lei, que permite enquadrar movimentos sociais como “força oponente” e autoriza munições letais, quase foi a base para um golpe de direita. Poucas vozes a contestaram em 2014, quando governo Dilma a propôs. É hora de revogá-la
Quando se reúnem 600 homens armados para supostamente encontrar o assassino de um policial, não há como esperar inteligência ou eficácia. Chacina era o que se esperava da operação – planejada por um ex-PM afastado por excesso de homicídios
Os massacres simultâneos praticados pela PM em São Paulo, Rio e Bahia não são frutos do acaso. A fascistização das forças policiais, cada vez mais autônomas, é uma ameaça real. Ao cruzar os braços, o MP atira gasolina à fogueira
Vídeo: Sâmia Bomfim (PSOL) confrontou Guilherme Derrite, ex-policial da Rota, sobre a operação da Polícia Militar de São Paulo no Guarujá que já deixou 16 mortos em confrontos. A deputada chamou a operação de 'segunda maior chacina do estado de São Paulo'
O secretário de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas, Guilherme Derrite, chamou de “narrativas” as denúncias de execução e violência policial feitas por moradores atingidos pela operação vingança no Guarujá – depois estendida para a Baixada Santista e o litoral norte do estado.
Foi essa suarespostaà deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP), precedida de um preâmbulo revelador: “Achei que a senhora, como mulher, ia defender a policial que tomou tiros de fuzil pelas costas do crime organizado”, disse a Sâmia, que o inquiria como parlamentar.
Guilherme Derrite, um ex-PM que chegou a serafastado da Rota– a mais violenta força policial do estado – por excesso de homicídios, deixou evidente a motivação vingativa da Operação Escudo, que até o momento já matou 16 pessoas sob dois pretextos: o primeiro, “investigar” e “prender” os responsáveis pela morte de um policial, também da Rota; o segundo, convenientemente adicionado depois, combater o crime organizado. Cobrar o comportamento legal de agentes do Estado, pagos para exercer suas funções como funcionários públicos, e não para também agir como bandidos, não tem nada a ver com ser homem ou mulher.
Mas, na cartilha de Derrite, o papel da polícia é “tocar o terror”, prática conhecida por pretos pobres do Rio, da Bahia, de São Paulo e de onde mais houver favelas e o jogo de arreglos e acertos entre policiais e facções. Quando se reúnem mais de 600 homens armados para supostamente encontrar o assassino de um policial, não há como esperar inteligência ou eficácia. A chacina era o resultado esperado da operação planejada, patrocinada e aplaudida pelo governo Tarcísio de Freitas.
Os PMs chegaram à favela prometendo matar 60 moradores, invadindo casas de família com homens encapuzados de fuzis na mão, xingando, espancando, arrastando gente de dentro de casa para ser morta ou torturada. Gente como Felipe do Nascimento, 22 anos, garçom na praia, funcionário pontual e responsável, segundo os patrões, que foi assassinado pela polícia quando saía de casa para fazer compras. A mulher ouviu os tiros que mataram o marido quando ela estava ao lado dos filhos pequenos.
Qualquer tipo de tolerância com o uso de uma força policial do Estado para vingar a morte de um homem significa abraçar a barbárie. Travestir a chacina de combate ao crime organizado é tarefa das “narrativas” do capitão Derrite e do governador Tarcísio, que conseguiu a proeza de ser retratado como “moderado” pela imprensa que conhece sua adesão ao projeto de extrema direita do ex-presidente Jair Bolsonaro. É hora de rasgar a fantasia, sob risco de mais uma vez ser complacente com assassinatos e vendetas. A chacina do Guarujá tem nome, sobrenome e antecedentes: Guilherme Derrite e Tarcísio de Freitas são os responsáveis.
Aliás, não vamos esquecer que o machismo de homens como Derrite também mata. O mesmo estado de São Paulo que elegeu Tarcísio é campeão em número feminicídiossegundoa 17a edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Foram 195 casos em 2022, alta de 43,3% em relação a 2021, comparada a uma alta nacional de 6,6%. Não é à toa que mais uma vez o Supremo Tribunal Federal (STF) teve querejeitara validade da tese da legítima defesa da honra – a desculpa número 1 dos feminicidas. Que o mesmo seja feito em relação aos excludentes de ilicitude, sejam eles oficiais ou forjados.
Quem mata merece julgamento legal e cadeia. É o que diz a lei.
Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés.
Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.
Walter Benjamin, Sobre o Conceito de História
A definição que o filósofo e crítico literárioWalter Benjaminconferiu ao quadro de Paul Klee, na verdade um desenho a nanquim, tem assombrosa atualidade e no caso das chacinas promovidas pela Polícia Militar do Estado de S. Paulo, a descrição possui traços proféticos e realistas.
São 16 mortos contabilizados de forma oficial pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ocasionadas pela Operação Escudo, iniciada após um agente da Rondas Tobias Aguiar (Rota) ser baleado e morto durante diligência na Vila Júlia, no Guarujá, litoral paulista.
“Chegaram com sangue nos olhos. A Vila Júlia fica ali perto do túnel, na Enseada, mas saiu (polícia) matando em vários bairros. Justificam combate às drogas. Mentira. É extermínio, chacina. Os bairros estão sitiados, ameaçados”, diz morador de uma dessas comunidades que prefere não se identificar.
O Movimento Mães de Maio (leia mais abaixo) reivindica “intervenção imediata do ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino, na cidade de Guarujá, a retirada das tropas da Rota da cidade e o esclarecimento dos óbitos, justificados poruma mesma versão da PM alinhada aos termos da excludente de ilicitude.
A Operação Escudo chegou ao sétimo dia de atividades repressivas e tem previsão para durar 30 dias. O ouvidor das Polícias, Claudio Aparecido da Silva, percorreu as comunidades afetadas nesta quarta-feira (2) para começar a escutar as famílias das 16 vítimas fatais da Operação Escudo.
“Não, é mais. Esse número de vítimas é maior, mais gente morreu e pode morrer. Aparece depois, ainda mais se a pessoa morta não tem uma família pra ir lá no IML (Instituto Médico Legal) reivindicar. Vai precisar ir atrás, vasculhar”, conta outra moradora dos bairros atingidos.
Santos entra na mira da Operação Escudo
Em face da situação no Guarujá, a vizinha cidade de Santos teve duas novas mortes confirmadas nesta quarta e ainda sem identificação. Uma ocorreu no Morro da Penha. Junto com o suspeito, a polícia apreendeu “arma, drogas e apetrechos do tráfico”.
No entanto, a segunda morte confirmada foi a de um suspeito baleado na terça-feira (1) na Rua Engenheiro José Garcia da Silva, no Jabaquara, que também é um morro. A Penha e o Jabaquara se interligam, como é o caso de todos os outros morros da cidade.
E justamente para um morro, o do Marapé, o veículo com os criminosos que atiraram contra dois policiais, sendo uma agente baleada com mais gravidade, mas fora de perigo de morte, no final da madrugada desta segunda-feira (31). Após o incidente, a Operação Escudo se embrenhou nos morros da cidade.
Versão combinada: excludente de ilicitude
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contesta a versão da Polícia Militar sobre as ações da Operação Escudo que desde a última sexta-feira (28) fez ao menos 16 vítimas fatais. Para isso, a análise dos registros de ocorrências tem sido importante.
Para o coordenador do núcleo de direito antidiscriminatório da comissão, Flávio Roberto Campos, os PMs combinaram uma narrativa única de “legítima defesa” nos registros das ocorrências que terminaram em morte. Desse modo, as mortes entram na excludente de ilicitude, prevista no Código Penal desde 2019.
Os boletins de ocorrência registram sete supostos confrontos com a PM no Guarujá. Nos documentos, de consulta pública,mas com os sete supostos confrontos levantados pelo UOL, os policiais afirmam que todos os suspeitos morreram após reagirem às abordagens.
Dos sete mortos mencionados, os policiais dizem que três chegaram a disparar contra os agentes. Os outros quatro teriam apontado a arma para os PMs ou sacado a arma da cintura. Os policiais alegam ter “revidado injusta agressão” após ficarem na mira de suspeitos, exatamente o que prevê a excludente.
“São denúncias de violações de direitos humanos, tortura e execuções. Mas os policiais envolvidos nessas ações combinam a mesma versão em todas as ocorrências com morte”, disse o coordenador de núcleo da Comissão de Direitos Humanos da OAB.
Para ele, a polícia diz que está combatendo o crime organizado, “mas não há uma testemunha sequer que comprove isso. O que sabemos é que estão matando as pessoas que têm antecedentes criminais. Só queremos que a polícia pare de matar”.
Movimento Mães de Maio
O Movimento Mães de Maio, formado na Baixada Santista em face das mortes de civis como retaliação aos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), em maio de 2006, repudiou em nota a Operação Escudo e questionou a forma como ela se organizou após a morte do policial da Rota.
“Causa espanto a Secretaria de Segurança não esclarecer a morte do soldado e viabilizar o efetivo das polícias para “vingar” a morte do referido soldado. Ano passado a mesma SSP registrou 0 (zero) mortes de soldados em supostos confrontos. O que está por trás deste extermínio autorizado pelo governo fascista de São Paulo?”, diz trecho da nota.
A ONG lembra que a cidade de Guarujá foi um dos principais palcos dos Crimes de Maio, a chacina de 2006, com a atuação da polícia “nos rincões das favelas, desde o morro da Vila Baiana à Favela do Caixão. São estes os territórios criminalizados (…) habitados por parte da população”.
Tarcísio de Freitas exalta "profissionalismo" das forças policiais em operação que matou ao menos dezenove no litoral paulista - Geraldo Jr. / SSP-SP
A Defensoria Pública de São Paulo pediu à Secretaria da Segurança Pública (SSP) do estado, nesta quarta-feira (2), que os policiais envolvidos em mortes decorrentes da Operação Escudo, na Baixada Santista, sejam afastados das ruas e que haja a preservação dos locais das ocorrências para garantir a investigação. A operação já deixou, oficialmente, 16 civis mortos.
Moradores de bairros onde ocorreram as mortes, na cidade de Guarujá, no litoral paulista, relataram que policiais executaram aleatoriamente pessoas identificadas como egressas do sistema prisional ou com passagem pela polícia.
Além disso, no ofício à SSP, a defensoria solicita que sejam utilizadas câmeras corporais no uniforme de todos os policiais militares e civis envolvidos na operação, para que as abordagens sejam capturadas e passem por controle das autoridades competentes. A Agência Brasil teve acesso a sete boletins de ocorrência, com datas de 28 a 30 de agosto, com os registros de algumas das mortes e que apontam a utilização de câmeras corporais por alguns dos agentes da operação.
Chacina no Guarujá: diretora da Anistia Internacional critica 'pressa' de Tarcísio em avaliar operação
Em crítica ao governador, que não viu excesso em operação policial, Jurema Werneck demanda responsabilização por mortes
por Gabriela Moncau
Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, lamentou "a pressa do governador de São Paulo em responder se houve excesso ou não" na megaoperação policial que matou, segundo o governo paulista, 16 pessoas neste fim de semana no Guarujá (SP).
A Operação Escudo, deflagrada na Baixada Santista desde a última sexta-feira (28) e com previsão de seguir por ao menos 30 dias, acontece em resposta ao assassinato do soldado Patrick Reis, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), na última quinta (27).
Em coletiva de imprensa nesta segunda (31), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) negou as denúncias de tortura e execuções e elogiou a atuação da Polícia Militar (PM). Para ele, não houve excessos. "Estou extremamente satisfeito",declarou.
Em entrevista aoprograma Central do Brasil, Werneck ressaltou que quem deve responder se houve excessos são "a Corregedoria, a Ouvidoria das Polícias e o Ministério Público de São Paulo, que é quem tem obrigação de fazer o controle externo da atividade policial".
"É muito grave a morte de um policial, de um servidor público. Mas não se pode responder nem com mais violência, nem com essa pressa. É um caso muito sério, a Ouvidoria fala em 16 mortos, torturas, ameaças. Então é preciso que o governador lembre das suas obrigações", enfatizou a diretora da Anistia Internacional para a apresentadora Luana Ibelli.
Ao lado do governador, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), se referiu às oito pessoas mortas pelos agentes estatais como "criminosos". Em seguida, no entanto, disse que apenas quatro delas foram identificadas até o momento. Nenhuma das identidades foi revelada.
"A gente precisa saber", cobrou Werneck, que é também médica, ativista do movimento de mulheres negras e cofundadora da ONG Criola. "Quem morreu, por que morreu, quem matou, por que matou? E quem vai ser responsabilizado por isso? Quem decide as penas de qualquer pessoa é a Justiça e não existe pena de morte no Brasil", recordou.
Chacinas praticadas pelo Estado contra jovens periféricos como vingança à morte de policiais são recorrentes na história recente de São Paulo. Os chamados"crimes de maio", ocorridos em 2006 depois que ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) mataram 59 agentes da Força de Segurança, são emblemáticos. Em revide, policiais exterminaram 505 pessoas. A luta por justiça originou o Movimento Mães de Maio.
Em agosto de 2015, dias depois que um policial e um guarda civil municipal foram mortos, umachacina vitimou 23 pessoasem Osasco e Barueri, na região metropolitana de São Paulo.
A repetição de casos como esses, refletiu Jurema, acontece por uma conjunção de fatores. "É uma sequência de desrespeitos à legislação, de descontrole da atividade policial, de falhas profundas na garantia do direito à segurança pública de todos e todas", elencou.
"Por outro lado, a discriminação, o racismo e a falta de políticas adequadas nas periferias. As pessoas são tratadas como se não fosse seres humanos", descreveu Werneck. Citando os crimes de maio, a diretora da Anistia Internacional opina que "não dar resposta a estas situações de brutalidade policial contribui para isso".
Porém, defendeu ela, "uma investigação correta, rápida, com transparência, que responsabilize os envolvidos, na qual haja justiça e reparação, contribui para que isso não se repita. E é preciso chamar a responsabilidade do governador. Ele como chefe das polícias tem que garantir segurança e tranquilidade a todos que moram no estado".
“É a Alesp que tem que abrir um inquérito, um impeachment, uma investigação a respeito da atuação do governador em São Paulo”, sugeriu o jornalista em entrevista à TV 247
Em uma entrevista ao Bom Dia da TV 247, o jornalista Alex Solnik fez duras críticas ao governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, em relação à recente chacina ocorrida no Guarujá. Segundo Solnik, o governador deve ser responsabilizado pelo ocorrido.
Solnik afirmou sua preocupação com os acontecimentos e a importância de uma resposta adequada por parte das autoridades. "Tarcisio tem que ser responsabilizado pela chacina do Guarujá. Ele avalizou o massacre." Em suas declarações, Solnik defendeu a abertura de uma investigação pela Assembleia Legislativa, destacando o papel do deputado Eduardo Suplicy na Comissão de Direitos Humanos: "O deputado Eduardo Suplicy [...] já anunciou uma viagem ao Guarujá para conversar com os moradores e tenho certeza que a partir dessa ação a Assembleia Legislativa vai tomar uma atitude dura contra o governador, para que isso não mais se repita. A punição tem que ser muito grave."
Solnik completou: “Estou esperando a Assembleia Legislativa de São Paulo atuar para investigar o governador, porque ele elogiou a chacina. Ele precisa dizer qual é a posição dele a respeito da segurança pública em São Paulo. É a Assembleia Legislativa que tem que abrir um inquérito, um impeachment, uma investigação a respeito da atuação do governador em São Paulo”.
O caso em questão refere-se à Operação Escudo, desencadeada após o assassinato do policial Patrick Bastos Reis. Durante a operação, ocorreram denúncias de excesso policial, resultando em mortes de civis. Uma comissão formada pela Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo, pela Comissão de Direitos Humanos da OAB e pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana está atualmente no Guarujá para investigar as alegações de abusos cometidos durante a ação.
Em resposta às críticas, o governador Tarcisio afirmou estar "extremamente satisfeito" com a atuação da polícia em resposta à morte do policial da Rota. Ele ressaltou a importância de agir contra as agressões aos policiais e prometeu investigar os fatos.